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Ana Paula Casagrande Cichowicz

Resenha da obra A Ordem do Discurso de Michel Foucault.

Na França do ano de 1926 nasceu Paul-Michel Foucault. Herdeiro de um


sobrenome que carregava o legado de uma tradição médica, Michel renunciou os
caminhos da medicina para dedicar-se à filosofia.
Entre os anos de 1945 e 1946 entrou em contato com Jean Hyppolite, um
importante filósofo francês do pós-guerra que estudava hegelianismo. Cerca de quinze
anos após o inicio desta relação, fora o próprio Foucault quem assumiu a cadeira de
Hyppolite – que havia falecido - na disciplina Histórias dos Sistemas de Pensamento.
Como resultado da pronunciação feita na aula inaugural desta disciplina em dezembro
de 1970 no College de France temos a obra A Ordem do Discurso. É por sobre esta que
nos debruçaremos agora.
Foucault inicia referindo-se a certa ambição dos indivíduos no que concerne à
transparência do discurso; e a uma instituição de que o discurso encontrar-se-ia na
ordem das leis; sendo ambos – desejo e instituição - duas réplicas opostas a uma mesma
inquietação, qual seja, do caráter perigoso do discurso.
O autor apresenta então a hipótese de que em todas as sociedades a produção do
discurso seria “controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de
procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seus
acontecimentos aleatórios, esquivar sua pesada e temível materialidade”. (2007, p. 9).
Destarte, Foucault passa a discorrer acerca das possíveis formas de delimitação e
controle do discurso. A exclusão - enquanto exemplo de procedimento exterior -
apresentar-se-ia sob a forma de interdição, separação ou interjeição e vontade de
verdade; pondo em jogo o poder e o desejo.
A interdição abarcaria o tabu do objeto, o ritual da circunstância e o direito
privilegiado ou exclusivo do sujeito que profere. O discurso não sendo algo neutro e
transparente revelar-se-ia enquanto dotado de poder e como um “objeto de desejo”.
Como exemplo o autor cita os discursos que tangem a sexualidade e a política.
Para discorrer acerca da separação/interjeição Foucault se utiliza da oposição
entre a razão e a loucura. O discurso do louco seria aquele não circula livremente como
o dos outros; desde a Idade Média o discurso do “alienado” se constituiria como uma
espécie de ruído, isto é, “a palavra só lhe era dada simbolicamente” (2007, p. 12). Neste
ponto, cabe frisar, o autor atenta ao fato de que no período contemporâneo esta
separação não esta apagada –como afirmam alguns – mas, longe disto, que esta é
exercida de outras maneiras por meio de novas instituições.
A vontade de verdade - a separação entre o que é verdadeiro e o que é falso -
apoiar-se-ia igualmente sobre um suporte institucional (práticas pedagógicas,
bibliotecas, laboratórios); sendo reconduzida “pelo modo como o saber é aplicado em
uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído”.
(2007, p. 17). Tal vontade de verdade, segundo o autor, exerce sobre os outros discursos
um poder coercitivo, bem como legitima as outras formas de exclusão arrazoadas acima.
Além destes procedimentos de controle e delimitação dos discursos exercidos
externamente, Foucault distingue três formas que agiria internamente, ou seja,
procedimentos onde o discurso controlar-se-ia a si mesmo: o comentário, a autoria e as
disciplinas.
Acerca do primeiro procedimento citado, o filosofo francês arrazoa que

No que se chama globalmente de comentário, o desnível entre


texto primeiro e texto segundo desempenha dois papeis que são
solidários. Por um lado permite construir (e indefinidamente)
novos discursos: o fato de o texto primeiro pairar acima, sua
permanência, seu estatuto de discurso sempre reatualizável, o
sentido múltiplo ou oculto de que passa por ser detentor, a
reticência e a riqueza essenciais que lhe atribuímos, tudo isso
funda uma possibilidade aberta de falar. Mas, por outro lado, o
comentário não tem outro papel, sejam quais forem as técnicas
empregadas, senão o de dizer enfim o que estava articulado
silenciosamente no texto primeiro. Deve (...) dizer pela
primeira vez aquilo que, entretanto, já havia sido dito e repetir
incansavelmente aquilo que, no entanto, não havia jamais sido
dito. (2007, p. 24, 25)

Ou seja, através do comentário ligar-se-ia um dizer efêmero a qualquer coisa já


dita, ou a um sentido oculto, esclarecendo-o por fim. A função do comentário estaria em
“traduzir”, “interpretar” o que ficara oculto ou o que não fora compreendido em um
texto primeiro. Enfim, o comentário “conjura o acaso” fazendo com que o novo não se
situe no que é dito, mas na sua repetição.
A autoria - entendida enquanto “principio de agrupamento do discurso, como
unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência” (2007, p. 26) –
constituir-se-ia, igualmente, em um procedimento de controle interno do discurso.
Foucault reflete que enquanto na Idade Média os discursos científicos deveriam ser
atribuídos indispensavelmente a um autor – para assim atestarem sua fidedignidade -, e,
em contrapartida, os discursos da ordem literária podiam circular no anonimato; desde o
século XVII ouve uma inversão, ou seja, o princípio do autor se enfraqueceu no
discurso científico e se reforçou no âmbito das obras literárias.
Ainda no que tange à autoria, cabe ainda uma última citação. Arrazoando acerca
da faculdade do comentário e do principio de autoria em limitar o acaso Foucault
argumenta que

o comentário limitava o acaso do discurso pelo jogo de uma


identidade que teria a forma da repetição e do mesmo. O
principio do autor limita esse mesmo acaso pelo jogo de uma
identidade que tem a forma da individualidade e do eu. (2007,
p. 29).

Enquanto que o princípio de autoria mostrar-se-ia como complementar ao


principio do comentário, a organização das disciplinas se oporia a ambos; ou seja, para
que aja disciplina torna-se necessário que haja a possibilidade de formular
indefinidamente preposições novas, bem como sua validade não se liga ao “inventor” do
sistema metodológico e epistemológico do qual irá se utilizar.
Destarte, a disciplina se define “por um domínio de objetos, um conjunto de
métodos, um corpus de preposições consideradas verdadeiras, um jogo de regras e de
definições, de técnicas e de instrumentos”. (2007, p. 30). Contudo, deve-se atentar que
para que uma preposição pertença a uma disciplina, ela deve poder se inscrever num
horizonte teórico. No que tange à disciplina, cabe ainda reiterar que esta é um dos
princípios de controle da produção do discurso já que “fica os limites pelo jogo de uma
identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das regras”. (2007, p. 36).
Além destas formas externas e internas de controle, Foucault reflete ainda acerca
de uma terceira forma, ou seja, a imposição de regras e exigências para que um sujeito
entre na ordem do discurso. Aqui temos o ritual, as “sociedades de discurso”, as
doutrinas e as apropriações sociais dos discursos.
O ritual mostrar-se-ia como a forma mais evidente deste sistema de restrição.
Para o autor, o ritual
define a qualificação que devem possuir os indivíduos que
falam (...); define os gestos, os comportamentos, as
circunstancias, e todo o conjunto de signos que devem
acompanhar o discurso; fixa, enfim, a eficácia suposta ou
imposta das palavras, seu efeito sobre aqueles aos quais se
dirigem, os limites de seu valor de coerção. (2007, p. 39).

As “sociedades de discurso”, por sua vez, agiriam na produção ou conservação


de discursos com o intuito de fazê-los circular em ambientes fechados. O autor afirma
que hoje não existem tais “sociedades” aos moldes dos “rapsodos”, mas não deixa de
assinalar que continuam existindo formas de segredo e de não-permutabilidade.
Ao contrário das “sociedades de discurso”, as doutrinas tendem a se difundir.
Para tal, a condição que é requerida é a que os indivíduos aceitem certas regras de
conformidade com os discursos validados, isto é, “a doutrina liga os indivíduos a certos
tipos de enunciados e lhes proíbe, consequentemente, todos os outros.” (2007, p. 43).
Já na reflexão acerca da apropriação social dos discursos Foucault enfatiza a
questão da educação, afirmando que todo sistema de educação é um instrumento
político na manutenção ou na modificação da apropriação dos discursos, com os saberes
e poderes que levam inerentes.
Por fim, acerca deste ponto, sublimo que esses “procedimentos de sujeição do
discurso” na maior parte do tempo se ligam uns aos outros constituindo “espécies de
grandes edifícios que garantem a distribuição dos sujeitos que falam nos diferentes tipos
de discurso e a apropriação dos discursos por certas categorias de sujeitos”. (2007, p.
44).
Em seguida, Foucault passa a indagar se determinados temas da filosofia –
filosofia do sujeito fundante, filosofia da experiência originaria e filosofia da mediação
universal - não acabaram por reforças estes jogos de limitações e exclusões. Para o
autor, em tais temas o discurso é um jogo de escritura, de leitura e de troca –
respectivamente – que evidenciam os signos. Ou seja, inscrevendo-se na ordem do
significante o discurso se anularia em sua realidade.
Aqui, o que vale destacar é que para o autor existe na nossa sociedade uma
espécie de temor acerca de todos os enunciados que por ventura surjam e que sejam
pronunciados, isto é, “de tudo que possa haver ai de violento, de descontínuo, de
combativo, de desordem, também, e de perigoso, desse grande zumbido incessante e
desordenado do discurso”. (2007, p. 50).
Destarte, Foucault propõe três tarefas a ser realizada na análise de discursos: a
necessidade de se questionar nossa vontade de verdade, de restituir ao discurso seu
efeito de acontecimento e de suspender a soberania do significante.
Para tal, o autor delimita certas exigências de método: princípio de inversão (é
preciso reconhecer o jogo negativo de um recorte e de uma rarefação do discurso);
princípio de descontinuidade (os discursos devem ser tratados enquanto práticas
descontínuas que se cruzam, se ignoram e se excluem); princípio de especificidade (não
transformar o discurso em um jogo de significações prévias); e princípio de
exterioridade (não passar do discurso para certo âmago oculto e escondido). Deste
modo, quatro noções devem servir de principio regulador para a análise: acontecimento
em oposição à criação; série em lugar da unidade; a regularidade opondo-se à
originalidade e a condição de possibilidade no lugar na noção de significação.
Foucault segue discorrendo que as noções que então se impõe não são mais as da
consciência, da continuidade, do signo e da estrutura; e sim as do “acontecimento e da
série, como jogo de noções que lhes são ligadas; regularidades, casualidade,
descontinuidade, dependência, transformação (...).” (2007, p. 56, 57). Aqui o que torna-
se relevante sublinhar é a apreensão de Foucault de que é sempre no âmbito do material
que um acontecimento se efetiva; bem como a constatação da necessidade de se
elaborar uma teoria das sistematicidades descontínuas onde seja introduzida a
causalidade como categoria na produção dos acontecimentos. Destarte, o autor refere-se
às noções de acaso, de descontinuo e de materialidade como sendo aquelas que o
trabalho de elaboração teórica deverá seguir.
Seguindo por este caminho, Foucault discorre que a análise que se propõe a
fazer se dispõe segundo dois conjuntos: o conjunto “crítico” e o conjunto
“genealógico”.
O conjunto crítico abarcaria a análise das instâncias de controle
discursivo: o princípio da inversão; as funções de exclusão discorridas acima – com
ênfase na questão da vontade de verdade -; seguindo ainda os procedimentos internos de
limitação dos discursos, isto é, o comentário, o principio de autoria e as disciplinas.
O conjunto genealógico, por sua vez, apreenderia a formação efetiva dos
discursos, colocando em prática os princípios de especificidade, de descontinuidade e de
exterioridade.
Contudo, deve-se frisar que as duas tarefas apresentadas não são inteiramente
separáveis. Para Foucault
Toda a tarefa crítica, pondo em questão as instancias do
controle, deve analisar ao mesmo tempo as regularidades
discursivas através das quais elas se formam; e toda a
descrição genealógica deve levar em conta os limites que
interferem nas formações reais. (p. 66).

Deste modo, como não se diferem no que concerne ao “objeto” ou ao “domínio”,


mas apenas nas questões de perspectiva e de delimitação; a análise crítica enquanto
praticante de uma “desenvoltura aplicada” e a análise genealógica enquanto um
“positivismo feliz” devem alternar-se, apoiando-se e completando-se umas nas outras.
Por fim, Foucault reitera a posição de que a análise de discursos deve ater-se por
sobre as instâncias do jogo de rarefação do discurso, em detrimento de uma análise que
prioriza o sentido. Utilizando de suas palavras

A análise do discurso, assim entendida, não desvenda a


universalidade de um sentido ela mostra à luz do dia o jogo da
rarefação imposta, com um poder fundamental de afirmação.
Rarefação e afirmação, rarefação, enfim, da afirmação e não
generosidade contínua do sentido, e não monarquia do
significante. (p. 70).

Referências Bibliográficas

FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida


Sampaio. São Paulo: Loyola, 2007.

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