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Riscos Hidrolégicos: as Cheias Catarina Ramos Centro de Estudos Geogrficos; Departamento de Geografia da F.L-U.L., Universidade de Lisboa, email: cramos@mail.doc.fl.ul.pt Nogio de cheia e inundagao ‘A nogao de cheia varia de autor para autor e, muitas vezes, empregam-se como sin6nimos termos que ndo 0 sao, como é 0 caso das cheias e inundagées. Numa frase, podemos afirmar que todas as cheias provocam inundagdes, mas nem todas as inundages sao devidas as cheias. As cheias sao fendmenos hidrolégicos extremos devidos @ dinamica fluvial, isto é existe uma cheia sempre que o rio transborda em relagao ao seu leito ordinario. O transbordo origina, por sua vez, a inundagao dos terrenos ribeirinhos. Se 0 fundo de vale for estreito, a inundacdo ocupa uma area pequena mas a altura das aguas pode subir espectacularmente (por vezes, mais de 20m); mas, se 0 fundo de vale for amplo, a inundagao pode submergir vastas Areas, ainda que a altura das aguas seja menor. Contudo, existem inundagdes que nao so devidas aos rios, como por exemplo, as devidas a galgamentos ocednicos da linha de costa em situagées de tempestade ou as inundagées urbanas devidas & conjugagao de chuvas intensas, a impermeabilizagao das superficies construidas e a sistemas de aguas residuais e pluviais inadequados. Causas das cht As causas das cheias sao miltiplas, mas podem agrupar-se em trés conjuntos: > chuvas concentradas e intensas 1.Climaticas | - pluviais - chuvas continuas Causas - fusdo rapida da neve das - efeito combinado da chuva e da fusao Cheias 2Marinhas | - escoamento fluvial e efeito das marés escoamento fluvial e efeito storm surge 3.Obstaculos| - obstaculos transportados pelos rios e - movimentos de vertente Derrocadas| - rebentamentos de barragens As causas de natureza climatica devem-se a pluviosidade e a fusao rapida da neve. As chuvas sao a principal causa das cheias e podem ser de dois tipos: ou sao continuas € prolongadas, podendo até nao atingir grande intensidade, ou sao concentradas no tempo @ no espago, mas de grande violéncia. As primeiras so chuvas generalizadas a vastas areas e que devido a sua duragdo (semanas a meses) levam @ saturag4o dos solos, a reposic¢do das reservas subterraneas e, finalmente, a fenémenos de transbordo. Consoante a latitude, podem ser devidas a influéncia da CIT, das mongées e da frente polar. As segundas podem ocorrer apenas em algumas horas ou em menos de uma semana, mas atingem grandes intensidades. Na zona intertropical e nas fachadas orientais dos continentes banhadas por correntes maritimas quentes, so devidas a ciclones tropicais ou a perturbagdes da CIT; nas zonas temperadas s4o devidas a situagdes depressionarias de gotas de ar frio e a frentes frias muito activas. A fusdo rapida da neve deve-se a subidas bruscas da temperatura e a advecgées de ar quente vindas de latitudes mais meridionais, por vezes conjugadas com chuvas, que ajudam 0 processo de fusdo. As quantidades colossais de agua retidas no estado s6lido sao assim libertadas rapidamente levando ao transbordo dos rios. ‘As causas de natureza marinha ocorrem nos trogos terminais dos cursos de agua costeiros, aquando de situagées de escoamento fluvial abundante, mas que por si so do originam cheias, a ndo ser que coincidam com a maré cheia ou com fenémenos de storm surge (sobreelevacao do nivel do mar de origem meteorolégica), que ao elevarem o nivel do mar, exercem um efeito de tampao sobre o escoamento fluvial, obrigando ao transbordo. ‘As cheias de obstaculo ocorrem quando se interpdem ao escoamento fluvial quaisquer obstaculos que ocupam, temporariamente, o canal fluvial. Esses obstaculos podem ser transportados pelo proprio curso de agua, por exemplo, pedagos de gelo que ao passarem em estreitamentos do canal fluvial se podem colar uns aos outros formar um muro que funciona de barreira ao escoamento; ou atingirem o canal fluvial vindos das vertentes do vale (avalanchas, desabamentos, deslizamentos). ‘As cheias de derrocada acontecem devido a cedéncia do obstaculo, na maior parte das vezes, bruscamente, pelo que as aguas libertadas provocam grandes ondas de cheia. Nas cheias de obstaculo, a acumulagao da agua, e consequente transbordo, da-se a montante desse obstaculo, enquanto que nas cheias de derrocada, o transbordo se da a jusante (0 rebentamento de barragens provoca cheias desta segunda categoria) Tipos de cheias Existem, igualmente, varios tipos de cheia. Os critérios mais utilizados para a sua classificagao so os seguintes: 1. Velocidade de progresséo Fes Progressivas Critérios de_| 2. N° de pontas de cheia Simples =e classificagao Complexas das cheias | 3. Tempo de duragdo (horas, dias, semanas ou meses) 4, Poténcia (magnitude) 5, Frequéncia de ocorréncia (6poca de ocorréncia) 6. Recorréncia (periodo de retorno) A velocidade de progresséio da onda de cheia ao longo dos rios permite classificar as cheias em rapidas (flash floods) e progressivas. As cheias rapidas séo as mais Perigosas porque ocorrem de forma repentina (em algumas horas), apanhando as populagées de surpresa. Séo mortiferas, especialmente nas bacias com cursos de ‘Agua de regime irregular, onde podem ocorrer varios anos sem cheias levando ao “esquecimento” destas situagdes por parte das autoridades e das populagées. Estas instalam-se nos leitos de cheia potencializando grandes catastrofes. As cheias progressivas ocorrem de forma mais lenta, pois os rios vao aumentando progressivamente o seu caudal, dando tempo para a evacuagéo de pessoas e bens. ‘A ponta de cheia € 0 valor maximo que 0 caudal atinge durante a cheia, Esta pode-se classificar em simples, se tiver apenas uma ponta de cheia, ou complexa, se registar mais do que uma ponta de cheia (por exemplo, se a bacia hidrografica for varrida por varias chuvadas). Por definigéo, as cheias complexas duram mais tempo do que as simples. © tempo de duragao das cheias pode variar de algumas horas a meses, levando, necessariamente, a uma diferente adaptagao das actividades humanas. ‘A magnitude define a poténcia das cheias, através dos respectivos caudais de ponta. E em fungao da magnitude das cheias que se constroem as pontes, barragens, diques de proteceo, entre outras estruturas hidraulicas. Ocorréncia e recorréncia so conceitos distintos. A frequéncia de ocorréncia das cheias permite definir as areas habitualmente mais afectadas por este fendmeno, bem como a época do ano mais sensivel 4 sua ocorréncia, A recorréncia das cheias define a probabilidade de determinados caudais de ponta voltarem a ocorrer (periodo de retorno) © facto das cheias serem fenémenos extremos _néo quer dizer que sejam excepcionais. Existem regimes fluviais em que as cheias ocorrem todos os anos (pluviais tropicais e nivais de planicie), sendo, por isso, fendmenos regulares aos quais ecossistemas e actividades humanas estéo adaptados. Neste caso, a excepcionalidade de cheias reside na sua magnitude e/ou duracdo e nao na sua frequéncia. No outro extremo, esto os regimes fluviais raramente afectados por estes fenomenos. Quando ocorrem tém graves impactes socio-econémicos e ambientais, porque so fendémenos nao esperados, sendo a sua previséo complexa e dificil (sobretudo no caso das cheias). Aimportancia da defini¢4o do leito de cheia Os dados hidrolégicos, nomeadamente 0 célculo do periodo de retomo, permitem efectuar 0 ordenamento das areas ribeirinhas. Contudo, na maior parte dos casos, ou no ha dados disponiveis, ou as séries hidrométricas so exiguas, afectando a fiabilidade dos célculos. A abordagem geomorfolégica afigura-se assim indispensavel, porque as cheias deixam as suas marcas na morfologia dos fundos de vale. A definigdo do leito de cheia, a partir de critérios geomorfolégicos, marca, efectivamente, © limite da actual "area de influéncia" dos cursos de agua. Também o levantamento de campo, durante as cheias, é essencial porque permite visualizar a actual dinamica fluvial e sua influéncia na evolugdo dos fundos de vale. Nalguns casos, é possivel observar que formas consideradas como 0 “terrago baixo" continuam a evoluir actualmente, na dependéncia do curso de agua, ou seja, S80 submersas por este, durante as cheias de maior magnitude (as cheias excepcionais). Nao so assim, de facto, terragos fluviais (antigos fundos de vale), mas tao somente 0 actual leito de cheia excepcional. Este tipo de observagées tem consequéncias obvias no ordenamento das areas ribeirinhas. Factores das cheias As bacias hidrograficas comportam-se de maneiras diversas face ao fendmeno das cheias apresentando perigosidades (P) diferentes. Cada bacia hidrografica funciona como um sistema, cujas componentes, consoante as suas caracteristicas, podem ou nao intensificar as cheias. Essas componentes sdo: a area e a forma da bacia, a litologia e a estrutura, a morfologia, a rede de drenagem, 0 coberto vegetal e, quando espessos, 05 solos. ‘A acgao humana sobre essas componentes pode, também, intensificar ou, pelo contrario, jiminuir as situagdes de cheia, afectando a vulnerabilidade (V) do territ6rio. Essa ago dé-se, essencialmente, sobre a rede de drenagem (construgao de barragens, canais de derivaco, diques de protecedo, alargamento ou estreitamento dos canais fluviais), sobre o coberto vegetal (desflorestagao ou reflorestagao) e no aumento das areas construidas (impermeabilizagao dos solos) © fisco de cheia (R) numa determinada area resultara assim do produto da perigosidade pela vulnerabilidade (R = P x V). Impactes das cheias Os principais impactes socio-econémicos das cheias traduzem-se no corte em vias de comunicagao, dos sistemas de abastecimento de agua e de outros bens, na submerséo de localidades e monumentos, na deslocagéo e desalojamento das populagées, na inundagao de terras ardveis e na destruicao de estruturas hidraulicas e outras. Os impactes das cheias no ambiente natural sao variados. E durante as cheias que os rios aumentam, substancialmente, a sua capacidade erosiva e de transporte, podendo modificar por completo, em poucas horas ou dias, 0 canal fluvial e © proprio fundo de vale, através da erosio das suas margens (por sapamento lateral), do aprofundamento, nalguns trogos (por arrastamento da carga de fundo) e do assoreamento noutros (por deposicao dos sedimentos resultantes da eroséo dos sectores a montante). As aguas das cheias, ao invadirem as planicies aluviais, no s6 depositam ai grandes quantidades de sedimentos, fertilizando dos solos, mas também vao recarregar os aquiferos aluviais, contribuindo para o enriquecimento das reservas hidricas subterraneas das bacias hidrograficas. Uma parte da enorme carga sedimentar que os rios transportam, durante as cheias, chega aos mares e oceanos, ai, as correntes marinhas redistribuem os materiais arenosos ao longo da linha de costa, contribuindo para a alimentagao das praias. ‘As cheias levam também grandes quantidades de nutrientes, dos continentes para os ‘oceanos, os quais alimentam e promovem o crescimento das comunidades piscicolas que vivem na interface rio-oceano. As cheias tém, assim, nao so impactes negativos mas também positivos As medidas mitigadoras das cheias ‘As consequéncias, por vezes dramaticas, das cheias nas actividades humanas e nas vitimas mortais que provocam so, quase sempre, devidas a um mau uso do territério por parte do Homem; ou seja, ao desordenamento territorial. Existem trés tipos de medidas mitigadoras que podem ser implementadas para a resolugao deste problema: medidas de conserva¢ao, medidas de correc¢do e medidas de restauragao. ‘As medidas de conservagao visam a introdugdo de critérios de_ordenamento_do. territorio. A reflorestacao das areas mais elevadas e declivosas do sector montante das bacias hidrograficas € uma delas e tem como objectivo, diminuir a velocidade do escoamento superficial e aumentar a infiltragao, 0 que leva a diminuigao das pontas de cheia, da erosao dos solos e do assoreamento dos canais fluviais. O ordenamento das areas ribeirinhas, de fundo de vale, é também de vital importancia, pois permitem efectuar o zonamento das Areas ribeirinhas, j4 que, dentro do leito de cheia, as areas mais proxi as do curso de agua s&o as mais frequentemente inundadas (por cheias de menor periodo de retomo), enquanto as mais afastadas 56 so afectadas por cheias de maior magnitude (por cheias de maior periodo de retomo). As catastrofes (perdas de vidas e enormes prejuizos materiais) evitam-se nao construindo nos leitos de cheia. Nas dreas urbanas e suburbanas onde a presséo sobre os terrenos ribeirinhos é maior, a faixa proxima dos cursos de agua com probabilidade de ser inundada pelo menos uma vez em 50 anos, deverd ser um espago aberto de areas verdes (parques e jardins), a fim de facilitar 0 escoamento das Aguas em situagdes de cheia e de potencializar baixos prejuizos, Muitas vezes é dificil definir os limites do leito de cheia, pelo que se utilizam 0s limites atingidos pela maior cheia de que ha memoria (que alguns autores designam como a provavel cheia centenaria), néo devendo igualmente ser ai efectuadas quaisquer construgdes residenciais, comerciais ou industriais. Mesmo nos limites da cheia centendria e, por poderem ser sempre ultrapassados por cheias de maior periodo de retorno, as construgées néo devem ser muito densas e deverdo ter as necessarias adaptagdes, ‘como por exemplo, ser construidas sobre pilares, sem pisos térreos. As medidas de correccao visam a resolugdo de problemas de inunda¢ao em pontos especialmente criticos da bacia hidrografica. S4o aqui que se enquadram as obras de engenharia, como a construgéo de barragens, canais de derivagdo e diques de protecco contra as cheias, por exemplo. ‘Actualmente, comecam a implementar-se um terceiro conjunto de medidas, ditas de restauragao, em pequenas bacias hidrograficas, as quais tem por objective essencial restabelecer as caracteristicas naturais dos canais fluviais e dos ecossistemas ripicolas, ou seja, devolver aos rios 0 seu corredor fluvial, nao lutando contra eles, mas usufruindo, inteligentemente, da sua presenga Bibliografia: Herschy, RW. e Fairbridge, RW. (edits), (1998) - Encyclopedia of Hydrology and Water Resources, Kluwer Academic Publishers, Dordrecht. Leneastre, A. e Franco, F. (1984) - Ligdes de Hidrologia, U.N.L., Lisboa. Newson, M. (1994) - Hydrology and the River Environment, Clarendon Press, Oxford. Newson, M. (1995) - Land, Water and Development, 2* ed., Routledge, London. Penning-Rowsell, E. e Fordham, M. (edits), (1994) - Floods Across Europe, Middlesex University Press, London, Ramos, C. (no prelo) - A Agua nos Continentes: uma Vistio Geogréfica, Lisboa. Shaw, E.M. (1994) - Hydrology in Practice, 3* ed., Chapman & Hall, London.

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