DIRIO
Viva o Sol!
Deram-me este Dirio quando fiz anos. Tive tal desiluso quando o desembrulhei, que
me apeteceu atir-lo para o caixote do lixo.
Um livro em branco, espera que eu, que nem para ler tenho pacincia, a escreva a
minha vida. Para algum dia qualquer bisbilhoteiro ficar a saber os meus segredos mais
ntimos, se apanhar a chave. Era o que faltava!
() Abri-o. Atirei-o para o fundo da gaveta.
Hoje encontrei-o. domingo. Devia estudar, mas no estou para isso. Folheio o
livrinho em branco, imagino o que ainda est em branco na minha vida. Porque no hei-de escrever sobre mim? Quem
sabe se virei a ser uma pessoa famosa? Ainda tudo me pode acontecer.
O dirio de um super qualquer, que o meu pai tem, est recheado de altos pensamentos. To recheado que at enjoa.
Fora com os pensamentos! Viva o Sol!
Estou aqui fechada em casa com quatro dinossauros (familiares). E chove: ptimo para as alfaces, pssimo para
mim. Que hei-de fazer para sentir que estou viva, seno pr a msica no mximo?
Esqueci-me de me apresentar na primeira pgina. Mas fiz bem. Chamo-me mas vou inventar um nome falso para
mim e para todas as pessoas de que vou falar. Assim serei uma personagem irreconhecvel e no vou comprometer
ningum.
Faz de conta, portanto, que sou a Sofia, que a minha escola o Colgio Universal. O meu co ser o Pipocas. S a
minha terra permanece Lisboa. Quem me poder descobrir?
Por hoje acabo, esto a bater porta.
Lusa Ducla Soares, Dirio de Sofia e Companhia, Civilizao Ed.
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