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A subjetividade como esséncia da experiéncia humana por Ana Masia Cageiro/Fronteiras do Pensamento - 05.01.2017 | Elisabeth Roudinesco| #Culture, slistovie , #Psicandlise Sociedade en "Quanto mais o mundo unifica-se por uma economia de mercado e as ilusoes de uma universaliciade enganosa, mais a afirmagSo narcisica cresce como uma manifestacao de uma pretensao do eu a se diferenciar da massa para melhor se adaptar: movimento estranhamente paradoxal." Em artigo exclusivo 20 Fronteiras do Pensamento ‘Ana Marla Gageiro” explora as transformacoes contemporaneas e sous reflexos no individuo e na subjetividade humana. A luz do pensamento do pensamento de Elisabet! Rouclinesco, Gageiro expde a fragmentacao dos lacos sotiais, a ilusao do poder individual e da liberdade irestrita e, assim, das fronteiras que comptem a propria coletividade Na busca pela diferenciag3o em meio & cultura massificada, diz Gageiro, "cada um reivindica sua singularidade recusando-se a se Identificar com as imagens da universalidade." Assim, conclu! a psicanalista: © homem de hoje transformou-se no contrario de um sujeito." Nao perca esta leitura logo abalxo e confira também o que Ana Matla tem a dizer sobre a mais recente obra de Roudinesco, Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo. Sigmund Freud, em 1929, ao encerrar seu livro O maf-estar na cultura, nos adverte com esta frase premonitoria: “Os homens de hoje levaram tao longe o dominio das forcas da natureza que, com a ajuda delas, tornou-se--Ihas facil exterminar uns aos outros, até o altima. Eles 0 saben muito bem, e isso que explica boa parte de sua atual agitacao, de sua infelicidade e de sua angustia’” Nossa civilizacao tem experimentado a vivencia de lacas sociais fragmantados nas novas formas de retirantes espremidos por mudangas de fronteiras produzidas por guerras, catastrofes, terrorismo e tiranias Na falta de referentes simbélicos na fratria, somos lancados radicalmente na experiéncia de um narcisismo extremo. No cere deste dispositivo, cada um reivindica sua singularidade recusando-se a se identificar com as imagens da universalidade. Assim, vem-se abandonando a subjetividade pela individualidade dando a si mesmo uma ilusao de liberdade irrestrita, de uma independéncia sem desejo e de uma historicidade sem histéria. 0 homem de hoje transformou-se no contrario de um sujeito, Se 0 6dio pelo outro é, inicialmente, 0 édio a si mesmo, ele repousa, como todo masoquismo, na negagso imagindria da alteridade. 0 outro passa a ser sempre uma vitima, @ é por isso que se gora a intolerancia, pela vontade de instaurar no outro a coeréncia soberana de um eu narcisico, cujo ideal seria destrui-lo antes mesmo que ele pudesse existir. for que apsicniite?” Mal pontualmente no livro Por que a Psicanalise?, Roudinesco aponta que, ao longo de 20, anos, 0 culto de sie cuidado terapéutico se tornaram os grandes modelos de uma organizacao da sociedade ocidental que os socidlogos e psicanalistas caracterizaram como narcisica Passamos a falarde uma “cultura do narcisismo" ou da necassidade modetna da “estima de ca si", como de uma injungao ao mesmo tempo negativa e positiva. Esse culto foi acompanhado por uma explosao de terapias as mais diversas, todas como modalidades de uma afirmagao de si Observamos que, quanto mais o mundo unifica-se por uma economia de mercado e as ilusdes de uma niversalidade enganosa, mais a afirmacao narcisica cresce como uma manifestacao de uma pretensio do eu a se diferenciar da massa para melhor se adaptar: movimento estranhamente paradoxal. Esse mergulho na cultura do narcisismo foi estudado pelos sociélogos e filésofos norte-americanos, de Herbert Marcuse a Christopher Lasch, pasando por Heinz Kohut. Se 0 seculo XIX foi o da “atimacao de siv da burguesia, e, simultaneamente, 0 do enciausuramento psiquistrico que permitiu claramente definir uma “raga de excluidos, 0 século XX foi o da Psicanalise que contribulu para reintegrar, no psiquismo, a causalidade do disturbio neurdtico e, portanto, de nao exclulr os desviantes de sua cidade. Se o mal psiquico ¢ interno 20 sujeito, como sublinha Freud, os estigmas da normae da patologia se modificam no sentido de uma mudanca de posicao causada pelas frontairas antes perfeitamente definidas. Apsicandlise introduz assim uma subversao na sociedade burguesa, pois ela indica que o mal do qual sofre 0 sujeito moderno vern do interior dele mesmo. As duas disciplinas, psiquiatria e psicanalise, tem como ponto comum serem fundadas sobre uma nosografia que alia uma classifica¢o estrutural dos males da alma a uma descri¢go de sua experiéncia existencial O século seguinte é de ouro e também do esgotamento desse sistema de pensamento: rapidemente se anunciou cama o sécula das psicaterapias que nao propdern nem classificacaa nem descricao de uma experiéncis existencial, mas respondem & afirmacao de si por um reforco narcisico da soberania do eu. A afirmacao de si da burguesia e de seu elitismo hierarquizado, caracterizado por sua devocao & familia e a0 seu patrimonio transmitido, a esse culto da raca que segulu ao culto feudal do sangue, sucedeu uma sociedade de massa organizada em redes, transformando os sujeitos em individualidades multiplas, em personalidades atomizadas ou dissociadas, em mercadorias, erm corpos fatiados, breves, em sujeitos capturados pela imago do dupio no espelho. De onde emergem as navas formas de sofrimento psiquico e de novas maneiras de classificé-las, caracterizadas pela valorizac30 narcisica e pelo abandono da ideia de uma subjetividade rebelde. \Voja mais: Elisabeth Roudinesco e a “derrota do sujeito* Isso explica a proliferacao de psicaterapias efémeras ou “a la carta" parecendo adaptadas a cada individuo, a cada comunidade, a cadz grupo. Essas terapias deixam crer que a vontade individual é mais potente que o peso do passado e da genealogla e que ela determina muito mais o destino do sujeito do que a ancoragem no universo familiar, na meméria, enfim, no inconsciente no sentido freudiano, Os pacientes nao parecem mais sofrer de um recalcamento do desejo, mas de uma insatisfacao existencial, de um estado amorfo e filtil, de um vazio, de uma desilusao crénica e, sobretudo, de uma incapacidade a toda relacao de alteridade. Essas transformacoes do psiquismo e da demanda terapeutica tém a ver, em parte, com a evolucao social que conduziu a emancipacao sexual das mulheres e an declinio da farnfia autoritaria, Mas elas sao igualmente a consequéncia da maneira como a psicandlise implantou-se nos Estados Unidos. ‘Sabemos que, no inicio do século, ela foi acolhida com entusiasmo ao ponto de tornar-se um instrumento de adaptacao do homem a uma utopia da Felicidade higienica: uma boa sade mental num como sao. Ela se impde menos por seu sistema de pensamento (como na Franga), e muito menos por seu rigor clinico (como na Inglaterra), que por sua capaciciade de trazer uma solucao concretae imediata a moral sexual da sociedade liberal e puritana, Pensou-se que, gracas & psicanalise, o homem nao seria mais condenado 20 inferno de suas paixtes e que ele pudesse curar-se. Em uma palavra, sonhou-se que a psicanalise cumpriria entim, pelo conjunto da sociedade, 0 desejo de Narciso de ser liberado do desejo Ora, como sabemos, nada é mais estranho 20 pensamento freudiano que esse ideal higienista que supde uma sexualiciade doentia repousando sobre o principio da confissao, da transparencia, da condenacao de toda forma de dissimulacao em se tratando de vida privada, Freud tinha tanta consciéncia desse desvio que manifestou sempre uma violenta hostilidace a psicanalise dita americana Ao final dos anos 1970, situamos um deciinio da psicanalise nos Estados Unidos. Ela paracia nao conseguir mais responder 8 multiplicidade das demands clinicas de tipo nai co. Confira também: entrevista com Roudinesco Se a intemet é uma droga, é melhor que antidepressivo Tudo se passava como se a irrup¢ao das massas no movimento social chegasse a uma espécie de desencanto em relacao ao ideal de uma sociedade conquistadora, em que os sujeitos pudessem se identificar aos grandes heréis do cinema hollywoodiano. Apesar de sua potncia institucional e de sua expansdio em todos os setores da psiquiatria, apesar mesmo da evolugo clinica impulsionada pela terceira geragso de psicanalistas, a psicandlise foi atacada com a mesma forga com que ela foi adulada em outros tempos. Assim, 0s participantes do antifreudismo dos anos 1980-2000 utilizaram os argumentos emplticos identicos 205 argumentos ja utilizados para criticar 0s pioneiros do freudismo: recusar a cura freudiana alegando sua ineficacia terapéutica, propondo, em oposicao, as terapias biologicas, farmacologicas ou cognitivas fundadas numa concepcao experimental do homem e reduzindo o psiquismo a neurénios, e a subjetividade 2 comportamentos instintivos. Essas miltiplas terapias fazem um bom casamento entre si, pois tém come denominador comum o ideal de uma afirmagao narcisica do eu Dito de outra maneira, se a psicanalise se implantou no solo americano adotando um ideal que Freud sempre rejeitou, um ideal que prometia liberar o homem do peso de sua culpa, do sexo, de seu desejo ou de sua obsessao pela morte, a psicandlise fot rejeitada, pois nao tinha nenhuma das promessas em nome das quais ela tinha sido transformada em uma utopia da Felicidade. 0 paradoxo dessa situacao é que a psicanalise, em sua versao americana, contribuiu para sua propria derrota servindo aum ideal que nao era o seu. Segundo Roudinesco, o culto de sifoi contemporaneo a uma crise de confianca nas virtudes do sistema adaptativo nos Estados Unidos. A um florescimento do engajamento pal co (revoita do campo, guerra do Vietna), sucedeu-se um sentimento de fracasso @ a procura de noves formas de constiucao de si Anos mais tarde (1985-1990), assistimos a uma generalizacao do cuidado terapéutico como solugao de dobrar- se 20 desengajamento pol ico e 3 crenca num fim da histéria, conduzindo ao desejo de aniquilamento de si Essa busca do novo, préprio a uma gerac3o engajada na politica, depois decepcionada com 2 politica e desengajada por fim de suas proprias esperancas de mudar 0 mundo, & magnificamente contada no livro de Philip Roth, Pastoral americana (1998) at Inscrita no movimento de uma globaliza¢3o econdémica que transforma os homens em objets, a sociedade depressive nao quer mais ouvir falar de culpa nem de sentidg intimo, nem de consciéncia nem de desejo nem de inconsciente. Quanto mais ela se encerra na logica narcisica, mais foge da ideia de subjetividade S6 se interessa pelo individuo, portanto, para contabilizer seus sucessos, sé se interessa pelo sujeito sofredor para encard-lo como uma vitima. E, se procura incessantemente codificar 0 déficit, medir a deficiéncia ou quantificar o trauma, é para nunca mais ter que se interrogar sobre a origer deles. Leia entrevista com Roudinesco: "Progresso sé existe na ciéncia. Na psicandlise, existem transformacdes.” Assim, como salienta Roudinesco, o homem doente da sociedade depressiva é literalmente “possuido” por um sistema biopolitico que rege seu pensamento a maneira de um grande felticeira. Nao apenas ele nao & tesponsavel por coisa alguma em sua vida, como também jé nao tem o direito de imaginar que sua morte bossa ser um ato decorrente de sua consciéncia ou de seu inconsciente. Entretanto, ceve-se constatar que somente a psicanalise fol capaz. desde suas origens, de realizar a sintese dos quatro grandes modelos da psiquiatria dindmica que so necessarios a uma apreensio racional da loucura e da doenca psiquica. Com efeito, ela tomou emprestado da psiquiatria o modelo nosografico, da psicoterapia ‘0 modelo de tratamento psiquico, da filosofia uma teoria do sujeito, e da antropologia uma concepgao de cultura fundamentada na ideia de uma universalidade do @énero humano que respeita as diferencas. A psicandlise, portanto, nao se alinha 3 ideia hoje dominznte, de uma reducao da organizacao psiquica a comportamentas. Seo termo “sujeito" tem algum sentido, a subjetividade no 6 mensuravel nem quantificavel: ela é a prova, a0 ‘mesmo tempo visivel e invisivel, consciente e inconsciente, pela qual se afirma a esséncia da experiéncia humana

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