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24 CURSO BASICO DE PSICANALISE © Diabo como a expresso simbélica do sexual, algo pecaminoso, imundo e repudigvel. O liberalismo que se seguiu A época do Renascimento trouxe com ele um abandono do simbolismo e os estudiosos da época volta- ram a considerar 0 genital, mas focalizando 0 problema segundo um ponto de vista parcial, apenas em seu aspecto anatémico No século XVIT, o conceito amplia-se ao levar em conta as pai- xGes mas, ao mesmo tempo, € expresso de uma maior repressdo da sexualidade. O conceito é afastado entdo do genital e aproximado do sistema nervoso. ‘Cem anos depois, no século XVIII, Mesmer aparentemente se distanciou do sexual, uma vez que, segundo a sua teoria, os doentes deviam cair, para sua cura, na famosa “crise convulsiva”, que nada mais é do que um orgasmo extragenital Mas no século XIX, com Loyer-Villermay, voltou-se a dar aten- gio ao genital ¢ ao somatico. Georget aproximou-se do verdadeiro conflito ao dizer que este era psfquico, mas considerando-o uma rea- go face ao problema genital. Isso também era o que afirmava Loyer- Villermay, embora o expressasse de forma errénea. Depois, Charcot reprime o sexual (de certa forma, pelo menos em seus artigos, apesar de certa vez ter dito pessoalmente a Freud: “Sempre o sexual... sem- pre o mesmo...”, referindo-se a uma paciente histérica). Posteriormente, Breuer e Freud, como produtos de uma época de represséo, abordam a histeria no plano psicolgico (idéias, estados ‘onirdides), mas 0 tema sexual ndo assume nessa época um papel preponderante. Por tiltimo, surge de forma destacada o conflito sexual associado a0 conceito psiquico da histeria, e é entdo que Breuer nao o sustenta ¢ Freud fica sozinho. Centenas de anos foram necessérios para unir dois conceitos que, num dado momento, chegaram a ser paralelos e que, se unidos, teriam permitido compreender e tratar muito antes essa neurose. CAPITULO II DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PSICANALITICO mem de quem se pode afirmar que, antes dele, o mundo era diferente Palavras de Stefan Zweig no ato de se- ‘pultamento de Sigmund Freud, em Londres Existe um estreito paralelismo entre a evolugéo da psicandlise ¢ a vida de Sigmund Freud, a ponto de ser impossfvel empreender ‘uma histéria do movimento psicanalitico sem conhecer os aspectos mais importantes da vida do criador dese método téo divulgado nos dias de hoje. ‘Ao se completarem os 31 anos de inauguragao da primeira estra- da de ferro e 0s 48 anos de idade de Napoledo IIT, nascia na pequena aldeia de Freiberg, Morévia, no dia 6 de maio de 1856, terca-feira, as 18:30 horas, um menino destinado a ser um genio ilustre ¢ a quem © pai, o senhor Jakob Freud, deu o nome de Sigmund. O mening tinha 4 anos quando os pais o levaram para a cidade de Viena, onde se educou. Desde muito cedo demonstrou uma extraordinéria agilidade mental, o que lhe permitiu, durante os sete primeiros anos de escola, ser sempre o primeiro aluno e passar de um curso a outro, em geral, sem necessidade de prestar exames. “Em nenhum momento sentia uma inclinagdo especial pela car- reira de médico”, conta ele em suas Memeérias, “e era movido, antes, por uma espécie de curiosidade dirigida mais para o género humano do que para os objetos naturai Durante muito tempo, vacilou entre o direito e as ciéncias natu- ais; mas sua inteligéncia, pronta para a contradicao, sua facilidade de palavra e uma preferéncia pela historia geral e pelas humanidades pareciam orienté-lo para as ciéncias do espirito. J4 perto do final do curso secundirio decidiu-se, porém, pela medicina, resolugao que ele tomou, segundo parece, ao ouvir falar, numa aula, sobre o estudo incomparavel da natureza realizado por Goethe. 26. CURSO BASICO DE PSICANALISE Em 1873, quando em Paris os pintores impressionistas expu- nham seus quadros pela primeira vez, Sigmund Freud ingressou na universidade de Viena para lutar contra algo que ele néo esperava: 0 fato de ser judeu tornava-o intolerdvel para os demais, que preten- deram fazé-lo sentir-se inferior ¢ estrangeiro por sua condigao. Essa primeira impresséo deixou em Freud marcas profundas que logo revela- riam toda a sua importancia, dado que o familiarizaram com seu destino de caminhar em oposigdo e ser proscrito da “maioria compacta”, 'Nos seus primeiros anos de universidade, descobriu que certas, peculiaridades ¢ limitagées de seus dotes Ihe dificultavam os estudos em muitos ramos da ciéncia, e ele o admite em suas memérias, a0 dizer: “Assim aprendi quanta verdade existe na adverténcia de Mefis- t6feles, quando assinala que é vao saltar de ciéncia em ciéneia, pois cada homem aprende somente 0 que é capaz de aprender.” ‘O curso de medicina compreendia entao cinco anos, mas Freud realizou uma especializacao natural em que ndo puderam faltar, a0 lado dos estudos previstos no programa, os trabalhos de pesquisa, que he tomaram tempo e fizeram com que 56 13 anos depois, em 1881, saisse da universidade com seu diploma de médico. Durante seis anos, enquanto estudante, trabalhou nos labora- t6rios de fisiologia de Briicke, e em 1882, com 26 anos, ingressou como estagidrio no principal hospital de Viena. Pouco depois era promovido a médico interno, transitando de um servico para outro. Esteve seis meses no Instituto de Anatomia Cerebral, dirigido por Meynert, autor de trabalhos que muito o haviam impressionado em sua época de estudante, quando fora da psiquiatria ¢ da neurologia pouca coisa da medicina parecia interessé-lo. » O proprio Meynert foi quem propés a Freud que se dedicasse definitivamente anatomia cerebral € que assumisse as tarefas de professor, para as quais o mestre jd se sentia velho. Mas uma intuigao do seu proprio destino foi a causa que levou Freud a recusar a pro- posta. Algo o predestinava a converter-se no criador da psicandlise: sua critica implacdvel da insuficiéncia da capacidade terapéutica € jento técnico daquela época, insuficiéncia que se revelava na impoténcia e no desnorteamento diante das neuroses. _Preferiucontinuar trabalhando, ignorado, em algumas observagoes clinicas sobre enfermidades orgdnicas do sistema nervoso. Familiarizou- se com os segredos dessa especialidade a ponto de conseguir localizar ‘uma lesao do bulbo com tanta exatiddo, que os anatomopatologistas, ao redigir o informe de uma autépsia, praticamente nada acrescentavam as conclusdes de Freud. Foi o primeiro médico vienense a enviar para autépsia com diagnéstico prévio um caso de polineurite aguda. DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PSICANALITICO 27 Sua total concentragéo num aspecto da medicina fez com que Freud deixasse passar, sem reconhecer toda a sua importancia, uma descoberta médica de primeira grandeza. J4 se conheciam na Austria 08 efeitos tonificantes ¢ cuforizantes da cocaina, e Freud solicitou a companhia Merck que Ihe enviasse algumas amostras para inves- tigar suas possibilidades no psiquismo. Verificou que paciente que fazia a mastigacao apresentava logo insensibilidade na lingua e no pala- dar. Mas, como isso nao the interessava, limitou-se a entregar a Re- vista de Terapéutica de Heitler um informe relatando simplesmente o fruto de suas experiéncias pessoais ¢ sugerindo que alguns médicos se dedicassem ao estudo das aplicagées da cocaina como anestésico local. Ao ler esse artigo, um oftalmologista, Koller, entreviu a possi- bilidade de insensibilizar o olho externo com uma solugao de cocaina. Uma vez realizados os experimentos que confirmaram suas suposi- Ges, comunicou o resultado obtido ao Congresso de Oftalmologia realizado em Heidelberg em 1884. Isso foi um rude golpe para Freud, ‘eum dos seus bidgrafos, Wittels, afirma que em 1906 o genial austria~ co ainda ndo esquecera esse fato, Nessa mesma década de 80 uma circunstancia especial viria reunir os trés homens que haviam partici- pado da descoberta da cocaina como anestésico. Foi necessério pro- ceder a uma intervengdo cirtirgica no pai de Freud, que sofria de uma afeccdo ocular, ¢ durante a operagao estiveram presentes K6- nigsberg, Koller e Freud. Nesse meio tempo Freud prosseguia com suas pesquisas. Certo dia, ouviu falar das experiéncias que Jean Mar- tin Charcot realizava em Paris, e imediatamente tragou um plano de agdo. Seu primeiro passo foi conseguir a nomeagao como professor de doencas nervosas em Viena para poder continuar seus estudos em Paris. Na primavera de 1885, com apenas 29 anos, foi designado professor-adjunto de neuropatologia, cargo que obteve gracas as suas publicacées sobre clinica ¢ histologia do sistema nervoso. Posterior- mente, com 0 apoio de Briicke, obteve a bolsa que Ihe permitiu viajar para Paris no outono do mesmo ano. ‘Com emogio compreensivel e sendo apenas mais um entre tan- tos médicos estrangeiros de visita, entrou em La Sapétriére. Pela primeira vez se encontrou num ambiente cientifico em que néo se Techagava prima facie e depreciativamente a histeria, considerando-a apenas uma simulacdo. Pelo contrario, ali se chegara a demonstrar que a crise histérica e outros sintomas do mal eram consequéncias de agudos disttirbios internos e deviam ser interpretados de acordo com suas causas psiquicas. Essa postura cientifica impressionou-o muito e também deixaram profundas marcas em seu espirito algumas conversas com Charcot, a quem ouviu dizer certa vez, um tanto irrita- 28 CURSO BASICO DE PSICANALISE do, a respeito de uma paciente: “Mas... sempre o mesmo! ... Sempre a sexualidade!” Essa expresso ficou gravada na mente de Freud ¢ depois, em muitas experiéncias, ele mesmo voltaria a constaté-la varias vezes. Pouco a pouco, os vinculos entre Charcot ¢ Freud foram se es- treitando e do plano médico passaram ao fami finalmente, 0 grande mestre francés lhe propés que traduzisse suas obras para 0 alemao. 4S o O que mais impressionou Freud, que trabalhava ativamente na clinica de Charcot, foi o fato de as experiéncias que este realizava provarem plenamente a legitimidade dos fenémenos histéricos, néo $6 nas mulheres mas também nos homens, e de o aparecimento de paralisias e contraturas por sugestao hipnotica terem as mesmas ca- racteristicas que os pacientes apresentavam espontaneamente. ixar Paris, Freud considerou com Charcot a possibi idade de publicar um trabalho comparativo entre as paralisias histé- ricas e as orginicas, pois notara que as primeiras ndo obedecem a topografia nervosa anatémica mas se expressam de acordo com 0 conceito popular. Houve quem dissesse que Freud tinha aproveitado sua estada em Paris para se inteirar dos conceitos que estavam formu- lados por Pierre Janet :0 parece té-lo incomodado bastante, pois ele préprio, em sua autobiografia, afirma terminantemente que en- quanto esteve em Paris jamais viu Janet ¢ nem sequer ouviu seu nome ser mencionado. ‘Ao viajar de Paris para Viena deteve-se alguns dias em Ber! a fim de realizar alguns breves estudos de neuropediatria. Na direcao do Ambulatorium de Berlim estava entéo Kassowitz, cujas teorias e conceitos sobre a constituicdo do protoplasma tiveram influéncia sobre Freud, que os citou como base de suas afirmagées no livro Além do principio de prazer, publicado em 1920. ‘A partir de 1885, Freud escreveu varias monografias sobre a paralisia cerebral unilateral e bilateral nas criangas, fruto de seus estudos em Berlim. No outono de 1886, aos 30 anos, casou-se e radicou-se em Viena como especialista em doengas neuroldgicas € neuroses. ‘Um més mais tarde teve que comunicar a Sociedade de Medicina da Austria 0 fruto de suas observacées em Paris e seus trabalhos com Charcot. Na atmosfera de ceticismo em que fez sua exposigao, s6 encontrou zombarias ¢ incredulidade quando se referiu a histeria masculina. Além do mais, o Dr. Billroth, célebre cirurgiao da época, levantou-se em plena sessao para dizer-Ihe que nao entendia como alguém podia falar da histeria masculina, j4 que o mal era de origem DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PSICANALITICO 29 uterina, como indicava seu nome, derivado da palavra grega hisieron, que significa precisamente ttero. Billroth disse-Ihe claramente que néo observara um Unico caso em homens, com sintomas semelhantes aos descritos por Freud. Os médicos ali reunidos incitaram-no a procurar um caso que pudesse ‘qualificar-se como histeria masculina. Em vo tentou Freud fazé-lo, .dos os velhos médicos vienenses e todos os chefes de servigos lares Ihe fecharam praticamente as portas para a investigagao de casos. th ¢ seus colegas negavam um fato praticamente de- monstrado e pretendiam refutar Freud com uma s6 a etimo- logia da palavra! Embora parega estranho, foi exatamente isso que ocorreu, e s6 depois de muitos anos Freud pode compreender por que seus ex-amigos haviam adotado aquela atitude. J4 no limiar da morte, Meynert, seu ex-professor e ex-amigo, que também se alistara entre os encarnigados detratores da histeria masculina, confessou a Freud: “Sempre fui um dos mais belos casos de histeria entre os homens”, acrescentando que em sua juventude se intoxicava com cloroférmio, chegando a ser necesséri que, na real de histeria e isso os levara da sincera amizade de antes a animosidade pelas situagdes inconscientes que se mobilizavam neles. Como nao Ihe permitiam trabalhar nos hospitais, Freud resolveu buscar um his- ‘térico em algum outro lugar, e acabou encontrando um homem que apresentava o quadro clissico de anestesia histérica. Levou-o triun- falmente a Sociedade Médica, mas sua revelagao foi recebida sem maior atengio. Durante todo 0 ano seguinte, Freud no encontrou um lugar onde pudesse dar aulas. Em virtude disso decidiu retirar-se da vida académica, deixando ao mesmo tempo de freqiientar todas as socic- dades médicas. Em 1886 instalou-se em Viena como especialista em doengas nervosas. Nesse mesmo ano, causou-Ihe viva impressio 0 fracasso do método de Erb que aplicava a seus pacientes. Diz em suas Memérias que lamentavelmente jé era tarde quando se deu con- ta de que essa série de conhecimentos nao eram resultado de estudos sérios, mas uma construgao da fantasia. Quando se obtinha uma cura, esta era na verdade apenas a expresso da sugestéo que o médi- coe 0 aparelho exerciam sobre 0 paciente. Diante dessa situagao concreta, iniciou a busca de um proce mento substitutivo e lembrou-se de que em Paris se recorria ao hipno- tismo como meio para provocar sintomas. Também soube que, na cidade de Nancy, Liébault recorria com bastante éxito & sugestéo ara curar enfermidades, sem chegar em todos os casos ao estado 1 parecer mais ou menos l6gi 30 CURSO BASICO DE PSICANALISE de hipnotismo. Durante a primeira etapa de sua atividade profis- sional, e depois de ter abandonado o método eletroterdpico de Erb, Freud empregou a sugestdo como principal instrumento de trabalh Esse método, na realidade, ndo o satisfazia totalmente, pois carecia da técnica hipnética suficiente para fazer com que alguns de seus pacientes mergulhassem num sono itil; eles s6 chegavam aum estado de hipnose mediana. Abandonou entao o estudo ¢ o tratamento das doengas nervosas orgdnicas para abordar com o maior interesse as enfermidades psiquicas, que até entao ndo tinham um tratamento correto. Com 0 propésito de aperfeicoar sua técnica hipnética, aos 33 anos, passou todo 0 verdo de 1889 em Nancy, onde teve ocasiio de presenciar os trabalhos de Ligbault em mulheres ¢ criangas da classe operdria da regido. Mas impressao mais duradoura Ihe foi cau- sada pela dupla experiéncia de Bernheim. A execugao pés-hipnética de uma ordem é, por sis6, um fendmeno extremamente interessante. “Agora vocé despertard”, diz o hipnotizador, “e dentro de trés minu- tos colocard o chapéu que esté pendurado no cabide.” De volta a0 estado de vigtlia, o sujeito submetido a hipnose levanta-se, caminha até 0 cabide ¢ pde o chapéu na cabeca. Se alguém Ihe pergunta por que fez aquilo, responde qualquer coisa. Ao contrério do que cabe- ria esperar, ndo expressa ter sentido um impulso especial que 0 tenha levado a pér 0 chapéu; argumenta qualquer coisa que possa , como por exemplo que tinha de sair ou que queria comprovar se aquele chapéu era 0 dele. Esse fendmeno é conhecido como experiéncia “A” de Bernheim. Quer dizer: 0 paciente leva a efeito uma agdo sem conhecer as causas que 0 impelem e, quando se pede que justifique sua conduta, mente, mas sem saber que est4 mentindo. Tenta dar uma explica- ‘do que esteja de acordo com o meio ambiente ¢ através da qual aquilo que ele fez parega racional. Esse fendmeno recebeu na psi- candlise a denominagao de racionalizacdo. Um fato, uma represen taco ou impulso, desconhecidos em sua origem pelo sujeito, sd capazes de mol tipo, e, quando se pergunta ao paci uma razdo que conceda a sua atitude um sigi coerente € I6gico. Bernheim hipnotizava sobretudo pessoas sis, 0 que permitiu inferit que as pessoas podem agit por motivos que nao aqueles que elas proclamam conscientemente. A filosofia ja tinha preparado a derrota da teoria do livre arbitrio, e a experiéncia “A” de Bernheim era a demonstracao cabal de que nao se podia sustentar totalmente essa lei, conforme disse Wittels, DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PSICANALITICO 31 Mas a base da terapéutica do método psicanalitico encontra-se na experiéncia “B” de Bernheim, que é a seguinte: 0 homem cumpriu a ordem e entdo pergunta-se a ele, com firmeza: —Tem a certeza de que esse chapéu € seu? (De fato, ndo € dele.) — Vamos, pense... Por que 0 colocou? — Nao me lembro. — Sim... Tem que saber... pense bem... Por meio da sugestdo ¢ da insisténcia chega-se ao instante em que 0 sujeito lembra ¢ di — Sim, coloquei o chapéu porque vocé me deu essa ordem. Consegue-se, pois, num momento dado, que aquilo que ndo era consciente abandone 0 inconsciente e entre no campo da cons- Giéncia. ‘Se Freud aprendera em Paris que o estado hipnético podia ser utilizado para se produzir um sintoma histérico, em Nancy compro ‘you que, sem hipnotismo, apenas por meio da‘persuasdo e da insistén- cia, era possivel trazer de volta o sintoma as representagies ¢ afetos que o causavam. Ao regressar a Viena, Freud lembrou-se do caso de uma histérica que tinha reagido diante de uma determinada técnica. Entrou em contato com 0 Dr. Josef Breuer, famoso médico vienense, que aten- dera essa paciente, pedindo-Ihe que ampliasse os dados que lhe forne- cera anteriormente a respeito dela. A paciente era uma jovem de educagao ¢ dotes pouco comuns, que adoecera enquanto cuidava do pai, por quem sentia grande afeto. Quando Breuer estudou o caso, a doente apresentava um quadro variado de contraturas, inibigéc ¢ um estado de compulsio mental; observou, além disso, que a jovem safa de seu estado nebuloso de consciéncia quando era induzida a expressar verbalmente 0 estado afetivo ou emocional que a dominava. Diante dessa comprovacdo, Breuer obteve um novo método de tratamento. ‘Submetia a paciente a um estado de hipnose profunda, incitan- do-a a contar 0 que a perturbava. Depois de ter vencido por esse de confuséo depressiva, empregou o mesmo sistema 5 ios fisicos da jovem. Em estado de vigilia, ela nao tinha mais capacidade do que ou- tros doentes para descrever como tinham surgido os sintomas, nao conseguia descobrir relagGes entre eles ¢ os diversos acontecimentos de sua vida. Mas no estado hipndtico revelava imediatamente essa relagdo oculta. Dizia, por exemplo, que seus sintomas se apresen- taram num perfodo de profunda emogéo, durante a doenga do pai, 32 (CURSO BASICO DE PSICANALISE o que revelava que eles tinham um significado ¢ cram resfduos ou reminiscéncias de situagées emotivas. ‘Ao revelar 0 caso, Freud diz que se tratava quase sempre de pensamentos ou impulsos que ela tivera que reprimir enquanto se achava ao lado do pai enfermo, e no lugar deles, mais tarde, os sintomas de que se queixava haviam se apresentado como substitutos. ‘Nao cram o resultado de uma tinica cena traumética, mas a conse- + qiiéncia da soma de um certo mimero de situagdes andlogas. Quando a paciente recordava uma situacéo desse tipo de forma alucinatéria e, no estado de hipnose, expressava livremente 0 ato que originaria- ‘mente reprimia, o sintoma desaparecia e ndo voltava a se apresentar. Desse modo, e a0 fim de um perfodo bastante longo, Breuer conse- guiu fazer desaparecer quase todas as manifestagdes somdticas da paciente. © novo método utilizava o hipnotismo de uma forma di a hipnose consistia em sugestionar o doente contra seus sintomas. Por exemplo, a um paciente que sofria de paralisia histérica dos de- dos, afirmava-se imperiosamente, enquanto estava hipnotizado, que podia mexé-los, ¢ ordenava-se que o fizesse. Com 0 método catdrtico de Breuer, a izada para descobrir os eventos que tinham causado o sintoma, assim como a relacdo entre o incidente provocador e 0 fendmeno patolégico. Freud considerou extremamente interessantes as observagdes de Breuer ¢ comecou a pesquisar entre seus prdprios pacientes para ver se apresentavam as mesmas situagdes € se a sintomatologia se modificava pelo mesmo método, trabalho a que se dedicou durante quatro anos. Em 1893, ainda em colaboracdo com Breuer, publicou um estudo preliminar intitulado Sobre 0 mecanismo psiquico dos fendmenos histéricos, e dois anos mais tarde safam seus Estudos sobre «a histeria. Essa vitima obra ndo pretendia esclarecer ou estabelecer anatureza da histeria, mas apenas demonstrar ou elucidar, de certa forma, a origem dos sintomas, assinalando simultaneamente a impor- tancia fundamental da vida emocional e a necessidade de se conside- rar, no ambito do psiquismo, a existéncia de duas zonas, uma cons- ciente e outra inconsciente. A teoria cra revolucionéria para a medicina da época, na medida em que incorporava dois novos fatores ao conceito etiolégico da histe- ria: 0 dindmico e 0 econémico. =} 0 fator dinamico considera que o sintoma provém da represséo de um instinto ou afeto. O conceito econdmico apresenta o sintoma como um equivalente ou substituto dessa energia, que péde se expres- DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PSICANALITICO 33 sar sob outra forma. Ou seja, o sintoma € o resultado ou equivalent da energia que, se tivesse se expressado diretamente, ndo teria dado lugar a tal manifestacdo. Por outro lado, se a forca iva nao pode expressar-se diretamente, dé lugar 'a um sintoma; e, se este néo for suficiente para a descarga da energia, necessitard criar outros substitutivos. Isto deve ser levado em conta quando se procede a uma avaliagéo dos distintos métodos terapéuticos, pois muitas vezes um sintoma pode desaparecer rapidamente sem que isso signifique a cura total; em outro lugar e sem vinculagdo aparente, talvez surja © sintoma — um ou varios — equivalente a0 que desapareceu. Os resultados priticos do método catértico foram, no principio, muito bons; mas, posteriormente, comegaram a aparecer 0s defeitos comuns aos tratamentos que se baseiam na hipnose ¢ na sugestéo. O método, entretanto, foi util em sua época e ainda hoje tem algum valor, especialmente no tratamento de afecgdes agudas e superficiais. Durante a Segunda Guerra Mundial, a narcoandlise foi utilizada como método catdrtico e com excelentes resultados por L. Alexander ¢ Sargent na evacuacio de Dunquerque, ¢ por Grinker e Spiegel no norte da Africa. Mas o mesmo Alexander assinala que os vetera- nos de guerra ndo reagem com a mesma intensidade quando se encon- tram longe do campo de batalha, o que confirma que 0 método s6 € titil nos estados agudos e sempre que sejam imediatos ao trauma real. Na teoria do método catértico, o tema sexual néo tinha um papel preponderante, também ndo o tem nas historias Freud contribuiu para o estudo da histeria. Entretanto, com o tempo, diversos casos que constituiram uma auténtica experiéncia foram pro- vando a importancia do sexual. O préprio Freud diz em suas mem6- rias: “Teria sido muito dificil adivinhar nos estudos sobre a his a importancia que o fator sexual tem na et i ‘Até aquele momento, as relagées entre os dois autores tinham sido cordiais. Tudo se desenrolava dentro da maior harmoni imeira diferenga que surgiu entre eles foi quanto ao mecanismo .. Breuer inclinava-se para uma teoria fisiol6gica e queria explicar a dissoci imica que os histéricos apresentavam como uma falta de comunicagao entre as distintas zo- nas e estados do cérebro. Para Breuer, 0 processo era 0 seguinte: durante um estado especial do sujeito produzira-se uma situagao trau- mitica anulada, que permanecia enquistada, néo podendo tomar contato com as outras. Na realidade, a teoria era muito ilégica; mas Freud opunha-se a ela, pois, embora no comeco tentasse con suas idéias com as de Breuer, via que existiam outros elementos 34 CURSO BASICO DE PSICANALISE de extrema importancia, por exemplo, o fator emocional. Além di 50, suspeitava que houvesse inclinagdes, desejos e impulsos diret muito semelhantes aos da vida cotidiana. Freud sustentava —e queria persuadir Breuer disso —que aqui- ‘Jo que atuava e fazia surgir essa dissociacdo era, na verdade, o resul- ‘ado de um processo de repulsa, a que chamou primeiro mecanismo de defesa ¢ depois recalcamento. Isso produzia as dissociacdes, amné- sis © demais sintomas. Apesar de sua boa vontade, no péde conci- iar por muito tempo suas teorias com as de Breuer e, pouco a pouco, 0s dois foram se distanciando. A desvinculagéo definitiva entre am- bos produziu-se de um modo que durante muito tempo foi um verda- deiro mistério para Freud. LO que aconteceu, aparentemente, foi que Breuer sofreu um sério trauma durante o tratamento de sua famosa paciente. Essa Ihe fez uma cena de-amor que Breuer recordava sempre com desagrado; por isso, quando Freud insinuava que o sexual tinha importéncia dentro da etiolo- sia, Breuer revivia aquela situagao traumatica e rechacava imediatamen- tea teoria. Sem divida, Breuer ndo soube trabalhar na paciente a situa- gio transferencial, que na histeria é muito intensa ¢ tende a ser atuada. Freud continuou seus estudos sozinho , com 0 correr dos anos, modificou 0 método catértico, desenvolvendo outro. Em primeiro lugar, suas condicées de hipnotizador eram medio- eres; nao conseguia mergulhar no sono todos os seus pacientes, € ‘mesmo naqueles que precisava levar a um estado de sono profundo s6 conseguia induzir uma leve hipnose. Além disso, comprovou que 0s bons resultados obtides com os pacientes desapareciam quando a relagdo médico-paciente era perturbada, ou seja, quando ocorria uma falha transferencial. Sendo impossivel controlar e estudar essa situagdo transferencial pelo préprio mecanismo da hipnose, Freud lembrou-se da experiéncia “B” de Bernheim que presenciara em Nancy, em que o individuo mentia sem saber mas, quando se insistia, acabava lembrando-se da ordem hipnética. Freud pensou entdo que 0s pacientes deviam saber 0 que é que tina acontecido com cles, ¢ intuiu que, se houvesse insisténcia, possivelmente recordariam tu- do, Foi por esse caminho que orientou a sua nova técnica. ___A primeira etapa foi o método catartico; depois abandonou a hipnose ¢ recorreu a persuasdo e A sugestdo, colocando a mao na testa do paciente e assegurando-Ihe que, se pensasse.insistentemente,, poderia recordar o que tinha acontecido. Assim foi — e por isso Freud utilizou 0 método até aproximadamente o final do século. ‘A mudanga seguinte consistiu no uso da livre associagdo, que descobre o inconsciente enquanto a consciéncia continua atuando. DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PSICANALITICO 35 Foi nessa época que adquiriu importincia a@ndlise dos sonhosatravés das associagées livres feitas pelo pacienté; permitindo a0 analista informar-se de tudo 0 que ele pensa ¢ desvendar 0 elemento ou a cadeia associativa que © levard ao nuclear. Com esse procedimento, © ego continua existindo, ndo se anula, como na hipnose, permitindo assim o estudo dos mecanismos de defesa do mesmo, assim como da transferéncia. ‘Ha uma tendéncia geral para se acreditar que existe uma vincu- lagdo entre o hipnotismo, a sugestéo ¢ 0 método psicanalitico. O linico vinculo que existe atualmente é de carter hist6rico. Hipno- tismo e sugestao foram etapas que levaram a psicandlise, constituem toda uma seqiiéncia; mas nao tém relacdo direta entre si, tanto que, atualmente, entende-se que quanto mais sugestao se fez agit sobre © paciente, pior € 0 tratamento e pior o resultado final, ‘Num trabalho que publicou em 1904, Freud diz que a oposicéo entre a técnica psicanalitica e a dos outros métodos de psicoterapia € maxima. “Equivale 4 que, com referéncia as artes, foi expressa pelo grande Leonardo da Vinci, ao enunciar suas férmulas per via Ui porre e per via di levare. ‘A pintura’, diz Leonardo, ‘opera per via di porre, quer dizer, vai pondo elementos, as cores, sobre o branco da tela, onde antes nada existia. Em contrapartida, a escultura atua per vid di levare, tirando pedra da pedra, até deixar a superficie limpa da estétua, que j4 estava contida nela.’ Essa ¢ a mesma dife~ renga que existe entre a sugestéo ¢ a psicandlise. A primeira atua per via di porre, quer dizer, no se preocupa com a origem, a forca © 0 sentido dos sintomas patolégicos que € preciso suprimir ¢, por isso, s6 faz sobrepor-lhe uma dutra coisa: a sugestéo, que tera ou ndo’a forca suficiente e a persisténcia necessdria para manter oculto © sintoma, Em compensagao, a terapéutica analttica nao quer impor nada de novo mas propde-se, pelo contrério, retirar ou extrair algo. Com esse fim, investiga a origem, a génese dos sintomas ¢ suas cone- x6es com a vida patogénica que pretende fazer desaparece! ‘Apés separar-se de Breuer, Freud continuou trabalhando sozi- ho até 1903, ano em que fundou uma mesa redonda que geralmente ‘as quartas-feiras a noite e foi o micleo da futura Associagao ‘a Internacional. Foram-se juntando especialistas de diver- $08 paises ¢ finalmenteSm 1908) na cidade de Salzburgo, realizou-se 0 ptimeiro Congresso de Psicandlise em que um médico, Sadger, infor- ‘mou, pela primeira vez na histéria da medicina, sobre o tratamento cura de um caso de homossexualismo por meio da psicandlise. 'No ano de 1920 fundou-se em Berlim uma Policlinica Psicana- a com o apoio de Max Ettington, que foi também o seu primeiro 36 CURSO BASICO DE PSICANALISE diretor. A experiéncia adquirida nesse primeiro estabelecimento de- monstrou que o plano para o ensino da psicandlise devia ser estrutu- rado e efetivamente assim se fez. As normas que entdo se fixaram so as que vigoram atualmente, com algumas ligeiras variantes, em icos do mundo, e tém trés etapas funda- ino Teérico e Ensino Pratico. A psicandlise didatica efetua-se seguindo a mesma técnica da terapéu- . Sua finalidade € sondar profundamente o inconsciente do candi- datoa ‘a a fim de estabelecer se existem elementos pertur- badores. Essa prova, ao mesmo tempo, resulta num singular trabalho pratico. Na psicandlise ndo se pode, como na medicina corrente, realizar estudos em caddveres. Por conseguinte, emprega-se o material forne- cido pelo proprio estudante, que permite que ele v4 conhecendo em si mesmo 0s mecanismos psiquicos, que se conheca profunda- mente ¢ elimine toda situacdo conflitual que eventualmente exista nele, pois, se cle chegar a exercer a psicandlise e se vir diante de um caso de um conflito idéntico ao dele, como nao vé a propria © “seu” problema seria um todos os problemas semelhantes. Por essa razio, a psicandlise didatica € de importéncia fundamental na formacao de um futuro psicanalista. CAPITULO Ut TOPOGRAFIA DO APARELHO PS{QUICO A teoria psicanalttica tem a particularidade de no considerar 0s atos psiquicos da mesma maneira que o faz a psicologia cléssica. Esta os estuda como elementos justapostos, associados ¢ estaticos. A psicandlise concebe a vida psfquica como evolugao incessante de forgas elementares, antagdnicas, compostas ou resultantes, com um coneeito dindmico do psiquismo. ‘Na época em que iniciou o estudo do material acumulado, Freud deu-se conta da necessidade de criar um esboco auxiliar para tornar compreens(vel ou estruturar a sua teoria, ¢ a0 mesmo tempo manter uma ordem na investigagdo. Criou para isso a metapsicologia, estru- tura hipotética, que Ihe serviu para ir colocando num conjunto coor- denado os diversos elementos estruturais da sua teoria. ‘Como nao podia encontrar ou explicar a origem dos sintomas neurdticos sem conjeturar uma funcao determinada que se cumpritia num sistema espacial, realizou tal estruturagao ¢ concebeu esse espa- co em que atuariam dinamicamente as diferentes forgas psiquicas. A primeira vista, isso parece algo fantasioso; mas é preciso lembrar que a maioria das teorias cientfficas sempre tem algo de fantastico, ‘que é necessério ¢ pode manter-se quando retine condigdes que per- mitam conciliar as exigéncias préticas com os resultados da expe- mencionar o caso da teoria da imut dade de Ehrlich. (O sistema metapsicoldgico te6rico de Freud cumpre esses re‘ sitos. E uma topografia hipotética do aparelho ps{quico, mas neste caso hipotético nao quer dizer —e nem sequer se concebe essa possi- bilidade — que a psique esteja lida em trés planos delimitados com maior ou menor rigor. Deve-se considerar que sao forgas, inves- timentos energéticos que se deslocam de certa forma, que tém um

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