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en me Ae ae ee ue ee een Pennoni Cet Pee etry Beenie eo ener ee eee i cere an BA tamer ae eee es Ce Ona ete See Coen a Ae ine SU cnsen aera Pea tee a ae rene ees ears Po eee rs enc LS A eee ae ner SC NiCr e ee eel See ernie eed Peer rat ee recon eer neers ents estrangeiros. Como historiador @ ensaista, € eee eras eee aero eet Ne eae Peete ei ar eee Me itens Pa eee erent Soe oa Meee eee Ene Cte et Near ay SUC ome Mee ie Me Mo le pelo MDB. Como politico, jornalista ou intelec- ferrari eae cere eee NTSC ieee aba Cee oa ace) Perea ieee ee meen Screen ec eee aes Pec rr es cece! Stee eee cry afirma na contracapa da primorosa edigao da Paz Sa rc ee ree Pee AT OR nee prec ee a eee Pea en eee ait eee ear) Pee erie rarer re nee ee cont eae Mt Ae tied defendia a tese de que o desenvolvimento dos eee eC eet cs oer ee Tn crt aa ean ea kot cree See tease ene Rene enti oats ee nat) ian eet a eater ee erent eee cee ea tei acre aey pee iriees areaee eerety ere er ar ra ers ieee eee oie meee a ear rice See tee Cee epee ae eet rey arene arr Teel ert aa Seen en en SLi tare eerie eee aera tado para 0 rumo que mais convier aos. seus See eee ee See etree ee a eee PACE Cnn e e Ehren ra eet erin stay Seer ee OL ta terre Sa e i nnel tet ee ai er Terns an a ecu ere ae oO fe] Es FA 4 a fe} a) < ES a 9 7) fo} ao ii 4 rs) r4 a] [oj im a n aw g 4 3 g m7 a co} = fo} Ce ee ry nn funciona como modelo para a defesa desta tese que tem, todavia, aplicagao geral. ‘A analise histérica, a econémica e a polémica misturam-se neste livro de forma extraordina- rlamente feliz. Vazado em estilo limpido e bri- Ihante, 0 livro esta baseado em ampla pesquisa bibliogratica sobre a histéria econémica e social do Japao desde os primeiros contatos com os ocidentais, através dos navegadores, comercian- tes @ missionarios portugueses, no século XVI, até 08 nossos dias. 2. A ERA TOGUKAWA © livro comega, exatamente, com a anélise do regime social ¢ politico Japonés na época To- gukawa, quando os primeiros contatos com 0 Ocidente sao realizados. 0 Japao dessa época vivia sob um regime feudal. © imperador n&o possuia autoridade temporal, apenas espiritual. © poder estava nas m&os dos daymios, que correspondiam aos senhores feudais, sob a deranga do shogun, um daymio pertencente cla Togukawa que, pela forga das armas, con- segulra essa posicao. Os ocidentals so aceltos por algum tempo, nesse regime. Os primeiros portugueses chegam ao Jap8o em 1542. Os mis- siondrios, logo depois. Um numero consideravel de conversbes ao catoiicismo comega a ocorrer. Em breve, os Japoneses percebem que a presenca dos estrangeiros representa uma ameaga ao ser regime. A partir de 1614, 0 Japao se fecha para o Ocidente. Os missiondrios 880 deportados ou supliciados. Os convertidos tiveram que renun- ciar, entdo, & nova religi8o. O comércio com es- trangeiros @ proibido. Os japoneses que pro- curassem conhecer novas terras eram ameagados de pena de morte. Inicia-se dai uma fase de isolamento absoluto e sistematico do Japao. O comércio, mesmo com a China e as Filipinas, quando nao era proibido, era rigorosamente limitado. O Japdo, “porque se sentia mais débil 6 que se trancava, colocando ferrolnos suplementares de seguranga’’ (p. 10) (© segundo capitulo trata da triste experiéncia da China, sujeita ao imperialismo briténico. © is6dio mais terrivel & 0 da guerra do dpio, através da qual a Inglaterra se impde ao grande pals oriental. Esta experiéncia da China torna-se também uma experiéncia japonesa. Era uma ad- verténcia ou uma lig&o, que os chefes japoneses aprenderam muito bem. © Japa tinha uma vantagem sobre a China e os demais paises que caiam sob 0 jugo do im- perlalismo europeu no século passado: no pos- ‘ula matérias-primas nem terras apropriadas para ‘a organizagao de plantations. Nao era facil para a Inglaterra, portanto, organizar no Jap8o um sis: tema comercial com Importagao de produtos manufaturados ingleses @ exportagao de pro- dutos primarios. Nao obstante, as press6es dos ocidentais para a abertura comercial do Japao ‘Revita de Adminstracio de Empresas foram grandes. E durante muito tempo 0 Ja- pao resistiu firmemente. Coube afinal aos norte- americanos, apoiados pela forga de nove navios de guerra, a tarefa de abrir 0 Japio ao Ocidente. ‘Sem outra alternativa, os japoneses assinam em 1854 um tratado que abria as portas do Japao ao Ocidente ¢ o sujeitava a uma série de obrigagbes com relagao aos paises ocidentals. 3. A RESTAURAGAO MEIJI Entretanto, alguns anos depois, e em parte devido as'humithagbes a que séo sujeitos os governantes japoneses nesse processo de aber- tura & forpa de seus portos, a era Togukawa chega ao fim. Em 1868 0 imperador Meiji, Matsuhito, ap6s um processo revolucionario, “assume 0 poder temporal, obrigando o shogun Togukawa a re- tirar-se. Termina assim a era Togukawa e comega a era Meiji. © shogun entrega o poder ao im- perador. A aristooracia feudal dos daymios e dos Querreiros samurais conserva-se no poder, mas em outros termos. Uma breve luta armada marca, esta revolugao politica que, embora no mude substancialmente a classe dominante, tera um papel decisivo na histéria posterior do Japao. Nas palavras de Barbosa Lima Sobrinho: “re- volug8o politica, na divisao e distribuigdo de poderes, antes’ que propriamente revolugao social. Porque nada mudou substancialmente, na ‘ordem econdmica. Cada classe manteve seu status anterior. Os chefes de clas tornaram-se ‘governadores de provincias. Os samurais conser- varam sua posigao de relevo. Apenas os impos- tos passaram a ser devidos ao Estado @ nao ao senhor feudal, que antes os arrecadava. Os chefes de clas mais importantes tornaram-se Ministros de Estado ou empresarios. Os sa- murais passaram a receber salarios do Estado e nao dos daymios’’ (p. 35). ‘A partir da restauragao Melji tem inicio um ex- traordinario processo de desenvolvimento econémico nacional. O desafio representado pelos navios de guerra ocidentais & aceito. Um pals entdo ainda essencialmente agricola, com apenas 15% de suas terras araveis, pobre em matérias-primas, comega um processo intenso de industrializacao. A seu favor possuia uma unidade nacional sélida e poderosa, uma lideran- a politica esclarecida e modemizante e ‘'a auséncia de grupos de pressdo fundados em em- prosas controladas pelo capital estrangeir” (p. 41). Ja entre 1878 e 1900 a taxa de acumulacdo de capital representa entre 13 @ 16% da renda, e a economia entra em decidido proceso de indus- trializagao. Este proceso, todavia, n&o pode ser reduzido as etapas do desenvolvimento de Ros- tow. Na verdade, 0 desenvolvimento econémico Japonés se confunde com a deciséo politica do imperador e da classe dominante que ele re- presenta. ““O desenvolvimento econdmico do Japio 6 um desenvolvimento comandado e di- igido pelo Estado, obediente as diretrizes que ele tragava e que caracterizam em seu conjunto, 0 Period Meiji, que se iniciava em 1868” (p. 58). 4, © COMANDO DO ESTADO Cabe ao Estado o controle total da economia e da sociedade japonesa. Para Barbosa Lima S« brinho, a interferéncia do Estado foi tao ampla que 0 Jap8o pode ser considerado um caso de desenvolvimento planejado anterior ao da Unigo Sovietica. ‘A acumulagdo de capital industrial, que ent&o se iniciava, teve_ como fonte fundamental a agricultura. Em 1876, 76% da recelta tributéria do Estado provinha do imposto sobre a terra. Uma parcela insignificante desses impostos, entre- tanto, voltava @ agricultura. Os lucros dos pro- prietarios de terra, por sua vez, também nao retormavam a agricultura. Dirigiam-se, em sua maior parte, para o comércio, a indastria e os negécios bancérios. Os impostos, todavia, nao eram suficientes para o esforgo industrial do governo. Além disso, ‘este se comprometera a compensar a classe uerreira @ a nobreza pelos privilégios que haviam Perdido. Nestes termos, 0 governo, para se fi- anciar, recorreu & emissao de titulos, a um Pequeno endividamento externo e & inflacdo ocasionada pela emiss8o de moeda. ‘Alm de se responsabilizar pela captacdo da poupanga, transferida da agricultura, 0 Estado ‘sera o grande empresério da revolucdo industrial japonesa. A industria téxtil, a industria quimica, as fabricas de cimento @ de cer&mica, as usin de agicar, as fabricas de cerveja, de munigao & armamentos, 08 estaleiros, as empresas de mineragéo — tudo é iniciado empresarialmente pelo proprio Estado. No final do século XIX, 0 apo j& possula uma inddstria poderosa e diver- sificada, toda ela construida pelo Estado. Coube ao Estado Japonés no apenas a tarefa de promover diretamente a industrializagao, mas também assumir a responsabilidade pelo pro- gresso tecnolégico do pals. “No Japao, o impul- 80 inicial velo assim do proprio Estado, e nao do empresario, que Schumpeter considerava a mola- mestra do desenvolvimento econémico e produto de uma selegdo confiada & burguesia e agindo através de empresas privadas.”’ (p. 93). Para promover o desenvolvimento tecnolégico, o Es- tado japonés usou de todos os recursos pos- siveis. Deu sempre grande énfase @ educacso. Comprou patentes, estimutou a imitacao, exigiu sempre que a importaglo de maquinas fosse acompanhada por assisténcia técnica, enviou Japoneses 20 exterior, trouxe técnicos estran- geiros para trabalhar no Jap, criou instituigdes para a pesquisa e 0 desenvolvimento tecnolo- gico. Em suma, promoveu a importago maciga de técnicas estrangeiras. E neste processo, a ‘compra de patentes foi o meio mais empregado. © que comprova, observa o autor, que no & necessério 0 capital estrangeiro para que a modernizagao tecnolégica ocorra. E também nao & certo que as empresas estrangeiras no vendam suas patentes. Se elas nao tém chance de entrar no pals, vendem sua tecnologia antes que ela se tome obsoleta e portanto invendavel ‘© empresario schumpeteriano, portanto, fol inexistente ou secundario no Japao. O Estado fol © grande empresario. Coube a ele arrecadar a Poupanga, dirigir 0 processo de acumulagao, res- ponsabilizar-se pela inovacdo. Barbosa Lima ‘Sobrinho nao se dé ao trabalho de analisar a tese de Everett Haguen, segundo a qual fol a atividade ‘empresarial dos samurais — uma pequena no- breza de guerreiros desejosos de recuperar 0 status perdido — a responsavel pela restauragao, Meiji a revolugto industrial japonesa. Embora conhega 0 trabalho de Haguen @ 0 cite, 0 autor no 0 critica, provavelmente porque encontra tantos argumentos e testemunhos sobre o papel empresarial do Estado japonés, que isto nao Ihe parece necessério. 5. CAPITALISMO E MILITARISMO © Estado pianeja e executa 0 desenvolvimento industrial do Japao, mas os beneficios deste desenvolvimento. va0 logo fluir para a classe dominante que 0 Estado representa. A antiga aristocracia, que a restauragao Meiji expropriara mas indenizara amplamente, transformare-se na nova classe capitalista. Sua consolidacao de- finitiva ocorrerd no fim do século, quando o Es- tado the vende a grande maioria de suas indds- trias a pregos fortemente subsidiados. Comeca, assim, a se formar os zalbatsu (monopélios 11: nanceiros), que dominariam toda a economia japonesa. Os daymios e os samurals do velho Japao tradicional tornavam-se os empresarios do ovo Japao industrial gracas & acao do Estado. Todas as empresas lucrativas passaram para a iniciativa privada. $6 as onerosas ficaram com 0 Estado. Seria de se esperar, neste momento, que o nacionalismo japonés' arrefecesse. Quando se trata de optar entre a estatizacdo da economia ou a entrada do capital estrangeiro, os capitalistas locais “‘preferem_a solugao do capital estran- geiro”, observa Barbosa Lima Sobrinho, ‘‘por entenderem que a exploracao privada nunca thes fecha de todo as portas do lucro, mesmo quando seja estrangeira”” (p. 85). No Japéo, entretanto, isto nao ocorreu. Apesar da transferéncia, para o setor privado, das empresas estatais, a economia ‘do se desnacionalizou em seguida. Também no se liberalizou, ainda que o objetivo da venda das, ‘empresas fosse este. O governo conservou fir- memente para si o controle e a coordenagao dos grandes monopélios japoneses que entdo se for- mavam. O laissez-faire nao regulava a economia Japonesa, néo apenas devido ao predominio dos Modelo japonés monopélios, mas também devido ao controle onipresente do Estado militar japonés. Em 1894 pode-se considerar encerrada_a primeira fase de desenvolvimento econdmico do JapSo. A fase seguinte seré marcada pelas vi- torias militares, que consolidaréo 0 poderio Japonés. Primeiro, 6 a fulminante guerra contra China, cujos frutos, entretanto, as grandes pot8ncias de entao e principalmente a Inglaterra nao permitem ao Japao usufruir. Em seguida, j& em 1905, ocorre a guerra e a vit6ria do Japao con- tra a Russia. Esta vitoria de um pequeno pais contra o gigante russo projeta definitivamente 0 Japao no cenario mundial. A | Guerra Mundial leva 0 Jap8o a declarar guerra & Alemanha, em 1915. Sua participacdo na guerra 6 significativa, a0 ponto de, ao seu final, 0 tratado de Versailles. dividir a’ heranga alem& no Pacifico entre o Japao e a Inglaterra. Antes disso, a revolugao comunista na Russia, em 1917, d& oportunidade do Japio de desem- barcar em Vladivostok, com apoio de continger tes americanos, franceses e ingleses e ocupar toda a Sibéria oriental. Comega assim a aventura imperialista japonesa, produto da alianga ca- pitalista-militarista entre os zalbatsu e as forcas armadas japonesas. Esta aventura que tera desde 0 inicio.a desconfianga e a oposicao dos Estados Unidos, sera marcada pela anexagao da Mand- charia, 'transformada no protetorado de Mand- chukud, por uma nova e vitoriosa guerra com a China, © desembocaré na tragédia da ll Guerra Mundial. 6. A CONSOLIDAGAO DO DESENVOLVIMENTO Enquanto Isto, a economia japonesa continuou a desenvolver-se de forma acelerada. O comércio externo japonés crescia a um ritmo extraordi- nariamente elevado. Com base Iniclalmente na seda, as exportagdes japonesas cresceram com sua industrializagao. Ja em 1908-12, as expor- tagdes de produtos ‘manufaturados_represen- tavam mais de 70% do comércio externo japonés. Os tecidos e os produtos metaldrgicos domi- navam a pauta de exportagées, enquanto que nas importages predominavam cada vez mals as matérias-primas. Assim, o Japfo n&o passou elo modelo primério-exportador de subdesen- volvimento; no foi vitima, portanto, da divisao internacional do trabalho imposta pelos paises imperialistas aos paises periféricos, a partir de meados do século passado. "“O que vale dizer que 0 Japio néo ficava exposto a sangria per- manente de pregos balxos pagos a produgso primaria, em troca dos pregos altos dos produtos manufaturados"* (p. 114). Sela por razbes geogrificas relacionadas com 6 tipo de clima e de solo, no complementar a0 europeu, seja pelo nivel cultural relativamente elevado que j& na 6poca da restauragao Meili existia no Japao, e que se expressa no alto nivel de alfabetizacao e na produtividade relativamente Revista de Administragio de Empresas grande da agricultura, seja pela sélida unidade e Identificagao nacional que marcou a politica japonesa desde a sua abertura para o exterior, 0 fato @ que o desenvolvimento econdmico do Japao ocorreu, desde 0 inicio, em termos pa- ralelos aos das grandes nagées industrializadas. ‘As nogdes de pals perifético, semicolonial mesmo subdesenvolvido, a igor jamais se aplicaram ao Japao, embora seu desenvolvimen- to tenha sido um pouco retardado em relagiio ao, inglés, ao franc8s e ao norte-americano. J& em telagao ao desenvolvimento industrial alem&o, foi quase concomitante. Sob muitos aspectos ‘an- tecedeu ou coincidiu com o desenvolvimento in- dustrial russo, italiano e escandinavo. Nestes termos, conseguindo desde o inicio evitar a ago do imperialismo, o Japao tornou-se logo um ‘parceiro das pot8ncias imperialistas. Barbosa Lima Sobrinho assinala este fato quando observa que "0 Jap&o se tornava beneficiério de uma ordem internacional estabelecida em pro- veito dos centros industriais, a custa da eco- nomia primaria dos paises coloniais” (p. 114). (Os empréstimos internacionais que até a ulti- ma década do século haviam sido usados com grande parcimonia (apenas dois empréstimos rea- lizados, um dos quais para subsidiar os samu- rais), comegaram, a partir de ent8o, a ser usados cada vez mais intensamente. O Japao ja con- solidara seu desenvolvimento econdmico e agora podla enclvidar-se para apressé-lo. Os emprés- 108, inicialmente, destinavam-se ao_finan- clamento da guerra Ga China e depele, da guorra contra a Russia, em 1905. ‘Logo, entretanto, comecavam também a financiar a industrial zagdo. Os investimentos diretos eram delibe- radamente evitados, enquanto que os_finan- ciamentos estimulados. As amortizagoes e 0 Pagamento dos juros eram rigorosamente man- tidos em dia. Os deficits decorrentes da impor- tagao de matérias-primas e bens de capital eram cobertos por esses financiamentos. Nestes ter- mos, 0 dinheiro estrangeiro ajudava o Japso a formar seu proprio capital, sob seu comando. desenvolvimento japonés foi desde o inicio marado por uma crescente taxa de poupanga in- tera. Esta poupanca foi lograda gracas a um processo de concentracdo de renda, que manteve 08 salérios dos trabalhadores e a remunzragao dos agricultores em niveis muito baixos. A s0- briedade dos capitalistas ¢ burocratas japoneses. teve também um papel nesse proceso. O comer- cio externo, com a exportagéo de bens de con- sumo @ a importagso de bens de capital e ma- térias-primas, ajudava a compatibilizar 0 cres- cimento da demanda agregada com a concen- trag3o da renda. Da mesma forma, observa Bar- bosa Lima Sobrinho, ‘‘os empréstimos valiam como contengao na’ restriggo de importacées suntuarias"” (p. 115). ‘A produgéo industrial japonesa, que quase duplicara entre 1878 e 1900, triplicou no periodo seguinte, até 1913. De 1911-13 a 1936-38, en- quanto a produgao industrial do mundo crescia do indice 100 para o indice 185, ¢ a dos Estados Unidos para 167, a japonesa cresceu para 631. A grande depressao praticamente nao atinglu a economia japonesa. O militarismo que dominava a politica japonesa nos anos 30 facilitou o Proceso de recuperagao da economia. O éxito das guerras anteriores, inclusive a | Guerra Mun- dial, e 0 exemplo da Alemanha de Hitler esti- mularam 0 militarismo e 0 imperialismo japo- neses. Em fins dos anos 30, o Japao jé se trans- formara em uma grande poténcia industrial militar. Os militares dominavam politicamente 0 pals, vetavam ministros, impunham candidatos, eliminavam dissidentes. Os partidos politicos, criados pela lei, sem uma tradig&o que os am- parasse, eram artificiais. A Mandchdria fora anexada. Uma nova guerra contra a China era vitoriosa. O imperialismo e 0 militarismo j poneses desembocavam na il Guerra Mund 7. A DERROTA E A RECUPERAGAO AAs vitdrias iniciais e a esmagadora derrota final do Japao nesta guerra s8o relatadas e inter- pretadas por Barbosa Lima Sobrinho. Segue-se a ‘ocupagao militar norte-americana, sob a chefia do Gen. MacArthur, até setembro de 1951. Gran- de parte da economia japonesa fora destruida durante a guerra. Mais de dois milhées de poneses haviam morrido, 30% das centrais. micas, 58% das refinarias de petréleo, 30% das fabricas, 40% das habitagdes das cidades tinham sido destruldas. A recuperagdo, entretanto, foi rapida. A partir de 1947, os Estados Unidos Iniciaram um processo de aluda econdmica ao Japio. Ao mesmo tempo, MacArthur procurava implantar reformas na economia e na sociedade japonesas, de acordo com o modelo norte- americano. Declarou pena de morte aos zaibetsu, iniciou um processo de reforma agraria, procurou implantar no Japao 0 modelo da democracia liberal e do capitalismo baseado na iniciativa privada e na concorréncia. 0 impeto reformista de MacArthur, entretanto, durou pouco. A ameaga dos soviéticos somada & nova ameaca representada pela revolugso co- munista chinesa levou os Estados Unidos a reduzir suas preocupagées com as reformas, 30 mesmo tempo que aumentou seu interesse no desenvolvimento do Japéo. A resisténcia pacien- te mas deliberada dos japoneses acabou por liquidar as reformas. Em pouco tempo os nor- te-americanos perceberam que seus melhores aliados no Japao eram os capitalistas japoneses, cujos interesses era preciso, portanto, reco- nhecer. De inicio, por exemplo, estimava-se em 1 200 os zaibatsu que seriam dissolvidos. No fi- nal, apenas nove sociedades foram dissolvidas. Tem inicio, ent&o, 0 novo ‘‘milagre” japonés. ‘A economia em pouco tempo se reconstitul e vol- ta a crescer em ritmo agora ainda bem maior do que no periodo anterior a guerra. A taxa de de- senvolvimento j4 @ elevada nos anos 50. Nos anos 60, entretanto, bate todos os recordes. A acumulagao de capital gira em torno de 35% do produto, enquanto que este cresce a uma taxa ao redor de 15% ao ano. O Jap&o torna-se a terceira poténcia industrial do mundo. Os zalbatsu sao ‘substituidos por um pequeno numero de grandes bancos comerciais, que comandam 0 processo de acumulagao de capital, sob a firme coorde- nagao do governo. 8. O MILAGRE NACIONALISTA ‘Segundo Barbosa Lima Sobrinho, entretanto, ‘‘o maior de todos os milagres (do Japao) foi o de preservar o seu capital @ a sua iniciativa da agdo invasora dos capitals, que de certa torma se apoiavam na presenga, ou na influencla, de um exército de ocupagao, que durante mais de seis anos controlou de fato sua politica econémica e dirigiu sua expansgo Industrial" (p. 203). E de fato, 0 Japao, que fora provavelmente o exemplo mais expressivo de um proceso de desenvol- vimento sem a participagao de capitals estran- geiros no periodo anterior & guerra, consegulu, terminado 0 conflito, manter a mesma posicao, apesar da subordinaggo politica a que fora re- duzido. Ainda sob o regime de ocupago militar, a Dieta japonesa aprovou, em 1950, a longa & minuciosa lei que até hoje regula os investimen- tos estrangeiros. Através dessa lei, 0 Japao vol- tava a assegurar 0 seu controle sobre o capital estrangeiro. © objetivo da lei é limitar os inves: timentos estrangeiros no Japao e garantir que as areas consideradas estratégicas fiquem sob o ‘comando do capital nacional. ‘Como na época da restauragao Meiji o exemplo do imperialismo brit&nico sobre @ China servira de alerta aos japoneses, agora era a invaséo econémica da Inglaterra ‘pelos Estados Unidos Que funcionava como uma adverténcia. Ao mes- mo tempo em que um nimero crescente de atividades econémicas na Inglaterra eram co- locadas sob 0 controle das empresas multina- clonais norte-americanas, o pals perdia todos os dias n&o apenas o prestigio politico, mas so- bretudo 0 equillbrio de sua vida economica. ‘O desenvolvimento econémico japonés no pés- guerra @ assim mantido sob rigido controle Nacional. Os setores em que a entrada do capital estrangeiro ¢ livre so aqueles sem importancia econémica, ou entdo aqueles em que os japo- neses ndo receiam mais uma Invasao estrangeira, como a indéstria de bens de consumo eletro- nicos. Quando o perigo & pequeno, autoriza-se um maximo de 50% de controle estrangelto. N maioria dos casos, a proibigdo 6 de 100%. Na bolsa de valores, apenas 20% das agdes das em- presas podem ser negociadas por estrangelros. ‘Quando os japoneses tém alguma coisa a apren- der, 0 governo aceita uma participacso estran- geira, desde que seja inferior a 50%. Modelo japonts 67 Em relagdo @ tecnologia, 08 japoneses con- tinuaram com sua politica basica de compré-la, sempre que no a pudessem desenvolver. Pa- garam, entretanto, pregos balxos por essa tec- Rologia. Cada contrato de asistencia técnica, além de ser estudado pela empresa japonesa, era também analisado longamente pelo governo. E este acabava realizando uma série de imposi- ges, além de proibir a entrada do capital, que terminavam por levar as empresas estrangeiras a Ihes vender a tecnologia em condig6es muito favoraveis. Em todo esse processo, 0s japoneses apro- veitaram-se de sua situagao estratégica, do in- teresse dos Estados Unidos em manté-io como um aliado contra a Unido Soviética e a China. Es- ta alianga, todavia, € superficial e de convenién- cla. Na guerra da’ Coréia, na politica contra a China, na guerra do Vietna, 0 Japao nao se envol- yeu, Da mesma forma, a propalada americani- zagio do Japdo também nao é verdadeira. HA uma ocidentalizagao e uma modernizagao do pais, mas as suas tradigOes sfo culdadosamente preservadas. O seu sentido nacional é mantido intacto. Gragas & ocupagao norte-americana, o capital estrangelro conseguiu um relativo pre- dominio na industria do petréleo @ da borracha sintética. Nos demais setores, porém, a ocu- pagao' militar no acarretou a ocupacao eco- némica e muito menos a ocupagao cultural. Barbosa Lima Sobrinho termina neste ponto sua analise do desenvolvimento japonés. Uma anélise viva, penetrante, bem documentada e muito pessoal. Mas a andlise do Brasil, que a todo instante transparece no livro, quando ele fala do Jap&o, torna-se explicita no tltimo ca- pitulo. A infiltragao do capital estrangeiro no Pais, que ele tanto tem combatido, seja como Politico, como procurador do Estado do Rio de Janeiro, como escritor e jomalista, & novamente analisada nestas paginas do livro. Segundo sua visdo, 0 capital estrangelro desvia as poupancas nacionais para o exterior, transfere o comando da ‘economia para fora do pais. Constitul-se, geral- mente, em uma ficcdo, porque entra em quan- tidades muito pequenas, e acaba saindo do pals, de forma aberta ou disfargada, em grandes quan- tidades. Revista de Adminiragio de Empresas Barbosa Lima Sobrinho volta aqui a apresentar seu conceito de desenvolvimento econdmico, ‘como um processo de acumiulagao de capital sob ‘© comando dos nacionais do proprio pals que procura crescer. Nestes termos, afirma ele, “0 capital estrangeiro ja ndo pode iludir sendo aos que vivem a custa delé ou aos que desejam iludir- se, sob a influéncia de uma doutrinagao lucra- tiva’” (p. 273). E volta a sua tese fundamental, que foi colocada no titulo do livro: 0 capital se faz em casa. € 0 esforgo nacional que permite o desen- volvimento. © capital estrangeiro ndo passa de uma manifestagéo do imperialismo, que s6 beneficia aos nacionals do pals de que @ orig nari Barbosa Lima Sobrinho observa, entretanto, que 0 consumo de bens e servigos de luxo, por uma minoria, € 0 aspecto negativo do desenvol- vimento. Este deve ter como objetivo um opti- mum de satisfacdo social. A corregto das pro- fundas desigualdades na distribuicao da renda mais importante do que o montante da renda per capita, como solugao dos problemas politicos & sociais. E conclui assinalando que 0 modelo Japonés no estd acima de criticas ou censuras: “Ha que considerar que obedece ao processo capitalista e ndo desdenhard, por isso, empregar or conta propria em outros paises normas que no Japao nunca foram permitidas” (p. 284). Nao cabe aqui discutirmos a validade das teses de Barbosa Lima Sobrinho. Sua oposi¢zo ao capital estrangeiro as vezes extremada. Embora esteja advertido de que o ‘'modelo japonés"" nao representa realmente um exemplo perfeito a ser ‘seguido pelos demais paises e em particular pelo Brasil, deixa-se, em certos momentos, levar pelo entusiasmo que o nacionalismo japonés Ihe des- Perta. Estas observagées, todavia, nao diminui em nada a importancia, 0 brilho a profundidade deste livro. Com Japfo: 0 capital se faz em casa, Barbosa Lima Sobrinho presta mais uma con- tribuigdo, desta vez de carater universal, cultura brasileir

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