1ª CÂMARA
Vistos, relatados e discutidos os autos da prestação de contas dos Srs. Eulavio Batista da
Silva e José Francisco Régis, gestores do Convênio n.º 0161/05, celebrado em 27 de
dezembro de 2005 entre o Estado da Paraíba, através do Projeto Cooperar, o Município de
Cabedelo/PB e a Associação Comunitária dos Moradores de Jardim Manguinhos, localizada
na citada Comuna, objetivando implantar o projeto de apoio a educação e cultura nas
comunidades JARDIM MANGUINHOS, RENASCER II, MONTE CASTELO e OUTRAS, acordam
os Conselheiros integrantes da 1ª CÂMARA do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA
PARAÍBA, por unanimidade, na conformidade do voto do relator a seguir, em:
2) DETERMINAR ao atual Coordenador Geral do Projeto Cooperar, Dr. Hildon Régis Navarro
Filho, que se abstenha de afastar o dever constitucional e legal de licitar por meio da
inserção de cláusulas nos termos dos convênios firmados, realizando, portanto, as
contratações através dos devidos procedimentos licitatórios, como também atente para a
correta classificação das despesas orçamentárias quando dos repasses de recursos
financeiros aos convenentes, sob pena de responsabilidade futura.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
1ª CÂMARA
Presente:
Representante do Ministério Público Especial
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
1ª CÂMARA
RELATÓRIO
Os peritos da antiga Divisão de Auditoria das Contas do Governo do Estado IV – DICOG IV,
com base nos documentos encartados aos autos e inspeção in loco, emitiram o relatório
inicial, fls. 379/384, destacando, sumariamente, que: a) a vigência do convênio, após o
primeiro termo aditivo, foi de 27 de dezembro de 2005 a 27 de agosto de 2006; b) o
montante conveniado foi de R$ 191.710,49, sendo R$ 162.953,92 oriundos do Projeto
Cooperar e R$ 28.756,57 relativos à contrapartida da associação; c) os recursos do Projeto
Cooperar tiveram como fontes o empréstimo do Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento – BIRD, R$ 143.782,87, e o Tesouro Estadual, R$ 19.171,05; d) as
liberações dos valores originários do Projeto Cooperar somaram R$ 162.953,92; e) a
importância aplicada atingiu R$ 165.783,67, sendo R$ 163.530,84 gastos em aquisições
diversas, R$ 1.471,99 despendidos com encargos bancários, e R$ 780,84 com pagamentos
de impostos (Imposto de Renda e Imposto sobre Operações Financeiras); e f) a quantia de
R$ 83,60 foi recolhida aos cofres do Projeto Cooperar.
Já o Alcaide apresentou defesa, fls. 416/425, onde justificou, em suma, que o Município de
Cabedelo/PB atuou apenas na participação e operacionalização do subprojeto, não podendo
ser responsabilizado por qualquer conduta acerca do convênio em tela.
Ato contínuo, os inspetores da então DICOG IV, após examinarem as peças encartadas ao
feito, emitiram novo relatório, fls. 428/430, onde consideraram elidida a mácula relacionada
à ausência do plano de trabalho. Ao final, apontaram, como remanescente, a eiva relativa à
realização de despesas correntes através de dotação orçamentária indevida.
É o relatório.
VOTO
Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização dos procedimentos licitatórios exigíveis
vai, desde a origem, de encontro ao preconizado na Constituição da República Federativa do
Brasil, especialmente o disciplinado no art. 37, inciso XXI, verbatim:
I – (...)
Ademais, consoante previsto no art. 10, inciso VIII, da lei que dispõe sobre as sanções
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
1ª CÂMARA
I – (...)
O mestre Hely Lopes Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro, 28 ed, São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 386, define convênios administrativos como ajustes celebrados por
entidades públicas de qualquer espécie, ou entre estas e organizações particulares, para
realização de objetivos de interesse comum dos partícipes. Com efeito, para consecução dos
fins almejados, é necessário atentar para as normas estabelecidas no reverenciado Estatuto
das Licitações e dos Contratos Administrativos, haja vista o disposto no seu art. 116,
ad literam:
Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, aos convênios,
acordos, ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e
entidades da Administração.
In casu, constata-se que a Coordenadora do Projeto Cooperar à época, Dra. Sonia Maria
Germano de Figueiredo, repassou para a ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DOS MORADORES DE
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
1ª CÂMARA
§ 1º (...)
Entretanto, concorde nos ensina o eminente doutrinador Marçal Justen Filho, em sua obra
intitulada Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 9 ed., São Paulo:
Dialética, 2002, p. 392, a obtenção de recursos internacionais para o financiamento de
projetos de desenvolvimento não exclui a obrigatoriedade da observância dos princípios
fundamentais estabelecidos na Constituição Federal, in verbis:
1. (...)
De fato, o teor constante da cláusula terceira, inciso II, alínea b, por meio
do qual se atribui à Associação a competência para a realização de uma
simples consulta de preços junto a três ou mais firmas especializadas,
mostra-se como sendo uma forma de se burlar o comando
normativo da Lei de Licitações. Ora, não pode o Projeto Cooperar, a
pretexto de transferir uma obrigação constitucionalmente imposta, eximir-se
da realização do procedimento licitatório, sobretudo em razão de valores
altos, como no caso ora analisado, para o qual caberia uma tomada de
preços. (destaque existente no original)
que o gestor aplicou os recursos repassados pelo Projeto Cooperar na aquisição de material
de consumo, consoante estabelecido no termo de convênio. Com efeito, o que ocorreu, na
verdade, foi um erro da Gerência Financeira do aludido projeto que empenhou as
importâncias destinadas à supracitada associação como despesas de capital para aquisição
de equipamentos e materiais permanentes, fls. 11/12. Assim, é oportuno o envio de
recomendação ao atual administrador do Projeto Cooperar, com vistas à correta classificação
das despesas orçamentárias quando das transferências de recursos aos convenentes.
I – (omissis)
Ante o exposto:
2) DETERMINO ao atual Coordenador Geral do Projeto Cooperar, Dr. Hildon Régis Navarro
Filho, que se abstenha de afastar o dever constitucional e legal de licitar por meio da
inserção de cláusulas nos termos dos convênios firmados, realizando, portanto, as
contratações através dos devidos procedimentos licitatórios, como também atente para a
correta classificação das despesas orçamentárias quando dos repasses de recursos
financeiros aos convenentes, sob pena de responsabilidade futura.
É o voto.