"Vinte por cento, no mínimo, das vagas de cada partido ou coligação deverão
ser preenchidas por candidaturas de mulheres".
Dois anos depois desta primeira formulação, o Congresso Nacional aprovou a Lei 9.504, de
30 de setembro de 1997, sendo que o parágrafo terceiro do artigo 10º desta Lei ficou assim
redigido:
"Do número de vagas resultantes das regras previstas neste artigo, cada
partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de
setenta por cento para candidaturas de cada sexo".
A forma como foi estabelecida a regra de composição das vagas das candidaturas partidárias
na Lei 9.504/97 é, portanto, constitucional e pode ser justificada mesmo quando se
consideram as visões liberais de tratamento igual entre os sexos. O grande problema, tanto da
Lei 9.100, quanto do parágrafo terceiro do artigo 10º da Lei 9.504, foi o uso da palavra
RESERVA, já que os partidos ficaram obrigados a reservar as vagas, mas não preenchê-las. O
resultado foi que a política de cota no Brasil funcionou, entre 1995 e 2008, como uma reserva
vazia, onde os 30% atuaram como teto para o lançamento de candidaturas femininas pelos
partidos e não como piso.
1
(PC do B/AM) fez um Projeto de Lei alterando a palavra RESERVA, por uma nova redação
no sentido da palavra PREENCHER2.
"Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada
partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de
70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo".
A alteração parece pequena, mas a mudança do verbo "reservar" para "preencher" significa
uma mudança substancial na política de cotas, conforme havia sido proposto no projeto da
deputada Vanessa Grazziotin. Com a nova redação, os partidos ficam obrigados – no ato de
registro da lista de candidaturas no TSE - a apresentar no mínimo 30% de candidaturas de
cada sexo.
Na tabela, apresentamos, para o ano de 2010, uma projeção de candidatas eleitas para
deputadas federais e estaduais, com base em modelos estatísticos da relação entre candidatas e
2
A matéria da FSP foi feita com base no artigo “A Mulher na política e a política de cotas” de José Eustáquio
Diniz Alves (ENCE/IBGE) e publicado, em novembro de 2004, no site do CFEMEA. Disponível em:
http://www.cfemea.org.br/temasedados/detalhes.asp?IDTemasDados=78
2
eleitas, de acordo com eleições anteriores. Dependendo ainda do desdobramento das
campanhas, consideramos (com base em modelos estatísticos) que o número de deputadas
federais deve crescer em torno de 40% este ano. O número de deputadas federais eleitas em
2006 foi de 45 mulheres em 513 deputados (8,8%). Em 2010, este número deve chegar a pelo
menos 63 deputadas (12,3%). Não é muito em termos percentuais, mas será o maior aumento
absoluto (18 deputadas a mais de uma eleição para outra) e o índice mais elevado de
participação, superando a barreira dos 10%. A despeito do salto sobre a barreira dos 10%,
falta muito para o Brasil atingir a média mundial de deputadas que está em 19,1% no conjunto
dos países da comunidade internacional (IPU, situação em 31 de maio de 2010)3.
Para deputado estadual a perspectiva é que haja um aumento de pelo menos 30% do número
de eleitas passando de 124 deputadas estaduais (11,7%), em 2006, para, 161 deputadas
(15,2%), em 2010. Ou seja, maior número de mulheres candidatas implica em maior número
de mulheres eleitas. Infelizmente, o TSE não se posicionou de maneira firme no sentido de
obrigar os partidos a respeitarem a nova redação da política de cotas, embora alguns TREs
tenham se mostrado mais atuantes no sentido de garantir o percentual mínimo de 30% para
cada sexo.
O interessante é que os partidos que não preencheram as cotas passaram a ser alvo de ações de
impugnação dos partidos que cumpriram com a legislação4. O dia 04 de agosto de 2010 é o
último dia para os órgãos de direção dos partidos políticos preencherem as vagas
remanescentes para as eleições proporcionais. Isto é, os partidos precisam inscrever mais
mulheres candidatas até preencher o percentual de 30% ou retirar homens inscritos para que o
percentual de 30% seja respeitado. Os casos de não cumprimento da política de cotas serão
decididos por meio de julgamento de recursos.
Uma análise das candidaturas nas Unidades da Federação mostra com mais clareza como tem
se dado este aumento das candidaturas femininas. A tabela 2 mostra os dados das candidaturas
femininas, para deputado federal, nas eleições de 2006 e o quadro das candidaturas de 2010,
tal como disponibilizado pelo TSE no dia 26 de julho de 2010. Este quadro é provisório, pois
os partidos possuem até o dia 04 de agosto para completar a lista e a cota dos 30%. Porém, os
dados já mostram que houve um grande crescimento do número de mulheres candidatas na
maioria dos Estados do país, embora tenha até havido recuo em alguns poucos estados.
3
Inter-Parliamentary Union: http://www.ipu.org/wmn-e/classif.htm
4
Segundo o jornal O liberal, do Pará, o advogado Inocêncio Mártires, da coligação Frente Popular Acelera Pará,
protocolou dia 12/07/2010, no plantão do TRE-PA, uma ação de impugnação de registro de coligação por
violação à Lei Eleitoral 9.504, com base nos fundamentos da proporcionalidade de gênero, que pode mudar o
cenário político das eleições deste ano. Começou uma boa briga jurídica, deflagrando a batalha no Tribunal
Regional Eleitoral do Pará nestas eleições, cujo resultado vai ser o aumento das candidaturas femininas.
3
No Piauí, as candidaturas femininas a deputado federal passaram de 4 mulheres (4,8%) para
30 mulheres (26,8%), ou seja, um aumento de mais de 7 vezes. Outro estado que apresentou
grande avanço foi Santa Catarina que passou de 14 candidatas (10,7%) para 50 candidatas
(30,1%), portanto, cumprindo a cota e representando um salto de 3,5 vezes. Há que registrar
que em Santa Catarina existem duas mulheres competitivas concorrendo ao governo do
Estado. A região Sul do país foi a que apresentou os maiores aumentos de candidaturas
femininas e, provavelmente, terá um aumento significativo no número de deputadas eleitas.
A tabela 3 mostra os dados das candidaturas femininas nas eleições, de deputadas estaduais,
de 2006 e o quadro das candidaturas de 2010, tal como disponibilizado pelo TSE no dia 26 de
julho de 2010. Este quadro também é provisório, pois os partidos possuem até o dia 04 de
agosto para completar a lista e a cota dos 30%. Porém, assim como na tabela anterior, os
dados mostram que houve um grande crescimento do número de mulheres candidatas na
maioria dos Estados do país, embora tenha até havido recuo em alguns poucos estados.
4
O estado que apresentou maior crescimento do número de mulheres candidatas a deputado
estadual foi o Mato Grosso (5 vezes), passando de 13 candidatas (7,6%), em 2006, para 67
candidatas (22,9%). O estado de Goiás passou de 41 candidatas (8,6%), em 2006, para 133
(21,3%), em 2010. Santa Catarina também apresentou crescimento significativo de candidatas
femininas a deputadas estaduais, embora em menor proporção do que no caso das deputadas
federais.