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A lei de cotas e as mulheres na política em 2010

José Eustáquio Diniz Alves1

As desigualdades de gênero possuem raízes profundas na história do Brasil. Porém, as


mulheres brasileiras já conseguiram reverter diversas situações desfavoráveis em diferentes
áreas, menos nos espaços de poder. A primeira experiência de políticas de cotas para
aumentar a presença da mulher brasileira na política aconteceu logo após a IV Conferência
Mundial de Mulheres, ocorrida em Beijing, em 1995. Ainda no mês de setembro, o Congresso
Nacional aprovou a Lei 9.100, de 1995, na qual, em seu § 3º do artigo 11º, se estabeleceu o
seguinte:

"Vinte por cento, no mínimo, das vagas de cada partido ou coligação deverão
ser preenchidas por candidaturas de mulheres".

Esta redação deu margem ao questionamento sobre a inconstitucionalidade do artigo, pois


estabeleceu um tratamento diferenciado para o sexo feminino. Realmente, a forma como
estava redigida a política de cotas expressa uma visão focalizada e não universalista da
representação de gênero.

Dois anos depois desta primeira formulação, o Congresso Nacional aprovou a Lei 9.504, de
30 de setembro de 1997, sendo que o parágrafo terceiro do artigo 10º desta Lei ficou assim
redigido:

"Do número de vagas resultantes das regras previstas neste artigo, cada
partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de
setenta por cento para candidaturas de cada sexo".

Esta nova formulação abandonou a política focalizada e assumiu uma concepção


universalista, evitando questionamentos sobre a constitucionalidade da lei, já que se
estabeleceu a mesma regra de representação para os dois sexos. Ou seja, homens e mulheres
são iguais perante a lei (de cotas), sendo que o Congresso Nacional apenas formalizou uma
regra de representação que garante um mínimo e um máximo de vagas para cada sexo nas
listagens partidárias em cada pleito.

A forma como foi estabelecida a regra de composição das vagas das candidaturas partidárias
na Lei 9.504/97 é, portanto, constitucional e pode ser justificada mesmo quando se
consideram as visões liberais de tratamento igual entre os sexos. O grande problema, tanto da
Lei 9.100, quanto do parágrafo terceiro do artigo 10º da Lei 9.504, foi o uso da palavra
RESERVA, já que os partidos ficaram obrigados a reservar as vagas, mas não preenchê-las. O
resultado foi que a política de cota no Brasil funcionou, entre 1995 e 2008, como uma reserva
vazia, onde os 30% atuaram como teto para o lançamento de candidaturas femininas pelos
partidos e não como piso.

Contudo, existiam várias propostas de mudança da legislação. A partir de matéria publicada


no jornal Folha de São Paulo, tratando da redação da lei de cotas (“Só 7% das cidades
cumpriram cota de eleitas”, de Antônio Góis, 19/12/2004), a deputada Vanessa Grazziotin
1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Tel: (21) 2142 4696 ou 2142 4689
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br. Artigo publicado em 28 de julho de 2010.

1
(PC do B/AM) fez um Projeto de Lei alterando a palavra RESERVA, por uma nova redação
no sentido da palavra PREENCHER2.

Buscando o aperfeiçoamento da política de cotas, o movimento feminista e as forças sociais


que defendem uma maior equidade de gênero na sociedade se mobilizaram para promover
alterações na legislação eleitoral aplicável ao pleito de 2010 no Brasil. Depois de ampla
negociação e da participação decisiva da atual bancada de deputadas federais, da Comissão
Tripartite instituída pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), de acadêmicos e da
sociedade civil foi aprovada uma nova redação na Lei 12.034, de 29 de setembro de 2009, que
regula as eleições de 2010, e ficou assim redigida:

"Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada
partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de
70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo".

A alteração parece pequena, mas a mudança do verbo "reservar" para "preencher" significa
uma mudança substancial na política de cotas, conforme havia sido proposto no projeto da
deputada Vanessa Grazziotin. Com a nova redação, os partidos ficam obrigados – no ato de
registro da lista de candidaturas no TSE - a apresentar no mínimo 30% de candidaturas de
cada sexo.

Em julho de 2010, o TSE recebeu as inscrições de candidaturas de deputados/as federais,


estaduais (e distritais). Os dados ainda não são definitivos, pois os partidos podem completar
as listas até o início de agosto. Mas já se percebe, conforme a tabela 1, que o número de
mulheres candidatas a deputadas estaduais e federais aumentou bastante em relação às duas
últimas eleições. Por exemplo, o número de candidatas a deputadas federais, em 2002, foi de
490 mulheres e passou para 1.253 mulheres, em 2010.

Tabela 1: Número absoluto e percentual de mulheres candidatas e eleitas para deputadas


federais e estaduais (incluindo distritais) nas eleições brasileiras de 2002, 2006 e 2010.
2002 2006 2010
Candidatura
Federal Estadual Federal Estadual Federal Estadual
Total 4.296 11.975 5.797 14.159 5.841 14.744
Homem 3.806 10.200 5.060 12.164 4.587 11.519
Mulher 490 1.767 737 1.995 1.253 3.225
% Mulher 11,41 14,76 12,71 14,09 21,45 21,87
2002 2006 2010
Eleitos
Federal Estadual Federal Estadual Federal* Estadual*
Total 513 1059 513 1059 513 1059
Homem 471 925 468 935 450 898
Mulher 42 134 45 124 63 161
% Mulher 8,19 12,65 8,77 11,71 12,28 15,20
Fonte: TSE, visitado em 16 de julho de 2010 (dados não definitivos). Nota: Deputados
estaduais inclui os distritais. Os dados de eleitas de 2010 são projeções do autor

Na tabela, apresentamos, para o ano de 2010, uma projeção de candidatas eleitas para
deputadas federais e estaduais, com base em modelos estatísticos da relação entre candidatas e

2
A matéria da FSP foi feita com base no artigo “A Mulher na política e a política de cotas” de José Eustáquio
Diniz Alves (ENCE/IBGE) e publicado, em novembro de 2004, no site do CFEMEA. Disponível em:
http://www.cfemea.org.br/temasedados/detalhes.asp?IDTemasDados=78

2
eleitas, de acordo com eleições anteriores. Dependendo ainda do desdobramento das
campanhas, consideramos (com base em modelos estatísticos) que o número de deputadas
federais deve crescer em torno de 40% este ano. O número de deputadas federais eleitas em
2006 foi de 45 mulheres em 513 deputados (8,8%). Em 2010, este número deve chegar a pelo
menos 63 deputadas (12,3%). Não é muito em termos percentuais, mas será o maior aumento
absoluto (18 deputadas a mais de uma eleição para outra) e o índice mais elevado de
participação, superando a barreira dos 10%. A despeito do salto sobre a barreira dos 10%,
falta muito para o Brasil atingir a média mundial de deputadas que está em 19,1% no conjunto
dos países da comunidade internacional (IPU, situação em 31 de maio de 2010)3.

Para deputado estadual a perspectiva é que haja um aumento de pelo menos 30% do número
de eleitas passando de 124 deputadas estaduais (11,7%), em 2006, para, 161 deputadas
(15,2%), em 2010. Ou seja, maior número de mulheres candidatas implica em maior número
de mulheres eleitas. Infelizmente, o TSE não se posicionou de maneira firme no sentido de
obrigar os partidos a respeitarem a nova redação da política de cotas, embora alguns TREs
tenham se mostrado mais atuantes no sentido de garantir o percentual mínimo de 30% para
cada sexo.

O interessante é que os partidos que não preencheram as cotas passaram a ser alvo de ações de
impugnação dos partidos que cumpriram com a legislação4. O dia 04 de agosto de 2010 é o
último dia para os órgãos de direção dos partidos políticos preencherem as vagas
remanescentes para as eleições proporcionais. Isto é, os partidos precisam inscrever mais
mulheres candidatas até preencher o percentual de 30% ou retirar homens inscritos para que o
percentual de 30% seja respeitado. Os casos de não cumprimento da política de cotas serão
decididos por meio de julgamento de recursos.

Embora exista uma relação entre a quantidade de mulheres candidatas e eleitas,


provavelmente, em 2010 o aumento de mulheres eleitas nas eleições proporcionais não
ocorrerá na mesma proporção do aumento de candidatas, pois, conforme noticiado, os
partidos recorreram a candidatas pouco competitivas (“candidatas laranjas”) para preencher as
nominatas eleitorais. Também é preciso acompanhar para saber se estas candidatas vão ter
espaço na propaganda eleitoral gratuita e aos fundos partidários (conforme estabelece a Lei
12.034, de 29/09/2009).

Uma análise das candidaturas nas Unidades da Federação mostra com mais clareza como tem
se dado este aumento das candidaturas femininas. A tabela 2 mostra os dados das candidaturas
femininas, para deputado federal, nas eleições de 2006 e o quadro das candidaturas de 2010,
tal como disponibilizado pelo TSE no dia 26 de julho de 2010. Este quadro é provisório, pois
os partidos possuem até o dia 04 de agosto para completar a lista e a cota dos 30%. Porém, os
dados já mostram que houve um grande crescimento do número de mulheres candidatas na
maioria dos Estados do país, embora tenha até havido recuo em alguns poucos estados.

3
Inter-Parliamentary Union: http://www.ipu.org/wmn-e/classif.htm
4
Segundo o jornal O liberal, do Pará, o advogado Inocêncio Mártires, da coligação Frente Popular Acelera Pará,
protocolou dia 12/07/2010, no plantão do TRE-PA, uma ação de impugnação de registro de coligação por
violação à Lei Eleitoral 9.504, com base nos fundamentos da proporcionalidade de gênero, que pode mudar o
cenário político das eleições deste ano. Começou uma boa briga jurídica, deflagrando a batalha no Tribunal
Regional Eleitoral do Pará nestas eleições, cujo resultado vai ser o aumento das candidaturas femininas.

3
No Piauí, as candidaturas femininas a deputado federal passaram de 4 mulheres (4,8%) para
30 mulheres (26,8%), ou seja, um aumento de mais de 7 vezes. Outro estado que apresentou
grande avanço foi Santa Catarina que passou de 14 candidatas (10,7%) para 50 candidatas
(30,1%), portanto, cumprindo a cota e representando um salto de 3,5 vezes. Há que registrar
que em Santa Catarina existem duas mulheres competitivas concorrendo ao governo do
Estado. A região Sul do país foi a que apresentou os maiores aumentos de candidaturas
femininas e, provavelmente, terá um aumento significativo no número de deputadas eleitas.

Tabela 2: Total de candidatos, número absoluto de mulheres candidatas e percentual de


candidaturas femininas. Deputado Federal, Brasil: 2006 e 2010
Candidatos por UF Total Feminino Absoluto Feminino %
Deputado Federal 2006 2010 2006 2010 2006 2010
ACRE 50 45 7 10 14,0 22,2
ALAGOAS 82 82 10 18 12,2 22,0
AMAPÁ 65 101 9 28 13,8 27,7
AMAZONAS 78 63 10 16 12,8 25,4
BAHIA 216 278 15 35 6,9 12,6
CEARÁ 145 147 12 36 8,3 24,5
DISTRITO FEDERAL 106 117 16 27 15,1 23,1
ESPÍRITO SANTO 84 87 17 15 20,2 17,2
GOIÁS 110 143 8 15 7,3 10,5
MARANHÃO 155 170 19 21 12,3 12,4
MATO GROSSO 92 91 17 22 18,5 24,2
MATO GROSSO DO SUL 71 73 16 23 22,5 31,5
MINAS GERAIS 528 610 54 91 10,2 14,9
PARÁ 137 163 19 36 13,9 22,1
PARAÍBA 88 96 6 20 6,8 20,8
PARANÁ 258 311 26 72 10,1 23,2
PERNAMBUCO 198 193 24 14 12,1 7,3
PIAUÍ 84 112 4 30 4,8 26,8
RIO DE JANEIRO 707 883 95 252 13,4 28,5
RIO GRANDE DO NORTE 68 101 8 24 11,8 23,8
RIO GRANDE DO SUL 279 310 33 83 11,8 26,8
RONDÔNIA 70 79 11 20 15,7 25,3
RORAIMA 82 65 13 13 15,9 20,0
SANTA CATARINA 131 166 14 50 10,7 30,1
SÃO PAULO 954 1244 138 261 14,5 21,0
SERGIPE 48 65 12 11 25,0 16,9
TOCANTINS 70 46 15 10 21,4 21,7
Fonte: TSE, visitado em 26 de julho de 2010 (dados não definitivos)

A tabela 3 mostra os dados das candidaturas femininas nas eleições, de deputadas estaduais,
de 2006 e o quadro das candidaturas de 2010, tal como disponibilizado pelo TSE no dia 26 de
julho de 2010. Este quadro também é provisório, pois os partidos possuem até o dia 04 de
agosto para completar a lista e a cota dos 30%. Porém, assim como na tabela anterior, os
dados mostram que houve um grande crescimento do número de mulheres candidatas na
maioria dos Estados do país, embora tenha até havido recuo em alguns poucos estados.

4
O estado que apresentou maior crescimento do número de mulheres candidatas a deputado
estadual foi o Mato Grosso (5 vezes), passando de 13 candidatas (7,6%), em 2006, para 67
candidatas (22,9%). O estado de Goiás passou de 41 candidatas (8,6%), em 2006, para 133
(21,3%), em 2010. Santa Catarina também apresentou crescimento significativo de candidatas
femininas a deputadas estaduais, embora em menor proporção do que no caso das deputadas
federais.

Tabela 3: Total de candidatos, número absoluto de mulheres candidatas e percentual de


candidaturas femininas. Deputado Estadual, Brasil: 2006 e 2010
Candidatos por UF Total Feminino Absoluto Feminino %
Deputado Estadual 2006 2010 2006 2010 2006 2010
ACRE 299 384 50 77 16,7 20,1
ALAGOAS 208 320 26 70 12,5 21,9
AMAPÁ 229 325 40 80 17,5 24,6
AMAZONAS 391 396 60 108 15,3 27,3
BAHIA 550 676 67 112 12,2 16,6
CEARÁ 543 561 83 142 15,3 25,3
DISTRITO FEDERAL 646 855 134 220 20,7 25,7
ESPÍRITO SANTO 356 410 44 46 12,4 11,2
GOIÁS 479 625 41 133 8,6 21,3
MARANHÃO 375 416 61 61 16,3 14,7
MATO GROSSO 171 293 13 67 7,6 22,9
MATO GROSSO DO SUL 172 266 25 68 14,5 25,6
MINAS GERAIS 853 1069 100 158 11,7 14,8
PARÁ 415 588 58 142 14,0 24,1
PARAÍBA 227 312 20 68 8,8 21,8
PARANÁ 518 615 65 159 12,5 25,9
PERNAMBUCO 452 458 55 70 12,2 15,3
PIAUÍ 180 222 22 55 12,2 24,8
RIO DE JANEIRO 1379 1770 239 500 17,3 28,2
RIO GRANDE DO NORTE 156 199 15 50 9,6 25,1
RIO GRANDE DO SUL 486 615 64 166 13,2 27,0
RONDÔNIA 370 368 53 61 14,3 16,6
RORAIMA 382 408 55 98 14,4 24,0
SANTA CATARINA 301 361 39 105 13,0 29,1
SÃO PAULO 1525 1861 225 353 14,8 19,0
SERGIPE 153 140 24 22 15,7 15,7
TOCANTINS 320 231 58 34 18,1 14,7
Fonte: TSE, visitado em 26 de julho de 2010 (dados não definitivos)

Os dados provisórios mostram que a mudança da redação do política de cotas já apresentou


resultados positivos. Provavelmente, o número de mulheres candidatas vai crescer até o final
do prazo legal e são grandes as chances de aumento de vitórias femininas em outubro. Assim,
cabe às forças democráticas do país, fiscalizar o cumprimento da nova Lei, sem abandonar as
demais reivindicações para uma disputa eleitoral com maior igualdade de oportunidade entre
homens e mulheres. Desta forma, o Brasil deixará o bloco da lanterninha do ranking mundial
de participação de mulheres na política. Se forem eleitas 12,3% de deputadas (conforme o
projetado) o Brasil saltaria 25 posições no ranking mundial da IPU. Em qualquer cenário, o
Brasil ainda ficará abaixo da média mundial e distante da batalhão de frente dos países que
lideram a participação de mulheres no Legislativo. Contudo, este atraso relativo só acentua a
necessidade de tornar efetiva a política de cotas no país.

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