Anda di halaman 1dari 11
sente tém 0 maior peso, é apenas manter acesaa sua pritica,¢margem ACISMA DA POESIA BRASILEIRA: ou contra o miclea duro dos interesses contririos & cua existencia. Nec Marcos Si spe, nec metu, Sem esperanga nem medo, Bra uma das divisas de Fara Marcos Siscar Pound. E cla ainda soa bem. AHIPOTESE DA DIVERSIDADE Diferentemente dos momentos que a precederam, quando as questées poéticase polticasestavam bem defi nidas para seus atores,a poesia posterior a0 periodo militar no Brasil mantém-se sob uma luz difusa. 0 fendmeno da auséncia de“projeto coletivo’ aventado por alguns, éuma ipdtese até certo pont pertinente para explicar 0 que se ‘passa hoje, mas nao leva em consideracio as motivagies ceapecificas desse estado de coisas, Tentar compreender essas movimentagies talvez nos indique adireeio de uma otra forma de compreender o contemporineo, ‘Ao primeiro olhar, de fat, a poesia brasileira publica- daa partir dos anos 1980 apresenta, antes de mais nada, algumas marcas da auséncia de linhas de forga mestras ‘io seria incorreto coneluir que ela tem o aspecto de ‘um movimento de x -agdo ou de relluxo com relagio as tensbes das décadas anteriores, A publicagio em livro de obras produridas desde os anos 1970 tornou-se um fend: , sobretudo para os poelas da geracio da poesia marginal, associada ao etos do cotidiano a maneira coma cobberata do 2 «de Cacaso, Chacal ou Francisco Alvim, Esses textos, que circulavam geralmente em suportes frigeis, fora do circuito tradicional, apro- ‘veitam-se da retomada do mercado editorial e da abertura politica, sendo reunidos em volumes publicados ds vezes por grandes editoras Neste sentid é 0 lugar da fala que se modifica, exatamente no mo- que cla contegue fixar-se publicamente; quando a pocsia passa para o interior da formalidade do processo cultural ela comeca a abandonar as referéncias de resisténcia que a definiam, ‘Ao mesmo tempo, em movimento paralelo, a época favorece também a passagem ao primeiro plano de poetas jem atividade, mas pouco conhecidos alé enti, cujas ligages com as referéncias tradicionais da poesia brasileira néo eram muito claras. Iniciados anteriormente, alguns projetos poéticos comesam a ser conhecidos ppor um piblico maior, como os da escrita reflexiva eatormentada de (rides Fontela e da anti-retdrica visceral de Armando Freitas Filho mento ‘Ao movimento de abandono éas posicdes politicamente radicais, corresponde o intereste pela combinagio particular de matérias poéticas contrastantes.£ 0 caso, claramente, da “gramétics” natural em Manoel de Barros ("Para entrar em estado de drvore & preciso partir de um torpor animal de lagarto as 3 horas da tarde, no més de agosto’ em 0 Livro das Ignoraas 1994); éa mistica do feminino cm Adélia Prado ("HA mulheres que dizem:/ meu mar pescar, pesque,! mas que limpe os peixes/ Eu nao. A qualquer hora da noite me levanto,/ ajudo a eseamar,abri,retalhar e salger:(..] oisas prateadas espocam:/ somos noivo enoiva’,em Terra de Santa Cruz, 1981): da modEésta irdnica em José Paulo Pees ( que vos quero? [..] Se ndo pretend ia parte alguma Basta uma", em Prosas seguidas de odes minimas, 992); ou ainda da se quiser ras) para rernas?! metaflsica erdtica em Hilda Hi (Olls-me de novo, Porque esta noite/ Olhei-me a mim, como se tume othasses/...] Olha-me de novo. Com menos altivez./ Ems atento em fibilo, Meméria, Noviciado da Paixdo, 200). ‘Sete parego noturna e imperfeital Evidentemente,a suposta“retracio" das questies poético-politicas coletivas nfo resulta necessariamente em um empobrecimento da poesia, Mais particularmente, é menos exato dizer que a poesia bra- sileiraperdew alguma coisa ~ formulagdo que diz respeito muito mais ‘um julgemento de valor do que a uma proposta analitica - do que dizer que ela se tornow outra coisa, tomando sentido especifico em um novo momento histérico, Ao que me consta, seria possivel dizer que assistimos hoje a um deslocamento dos crtérios pelos quais um po: ta pode ser reconhecido como fazendo parte de uma série lteréia, de sua “tradigao" Alguma coisa esta em processo de transformagio demanda a ser compreendida, antes mesmo que se possa decidir 0 que he falta Sio talvez 0 proprios valores do modernismo brasileiro (nacionalismo, humanismo utépico, rlagio com a"modernizagio") que se abalam, que nio sio suficientes mais para suportar 0 sentido do mundo que se abre. ‘Ora, se alguns criticos preferem apontar as limitagSes culturais ¢ ideologicas da poesia contemporinea, outros diagnosticam um salto no que diz respeito & qualidade média da poesia no Brasil nunca se teria visto um nlmero tio expressive de bons potas Acre: do nesse julgamento,estarfamos a ponto de assistir a uma transformagio estrutural da eriagdo poética que, no Brasil, tratan do-se de uma manifesta modelo europeu do género postico), sempre esteve na dependéncia de empreendimentos pessoais, de um certo virtu. valor de excegio. Ascondigdes culturais teriam mudado a tal ponto? Nada menos bretudo erudita (como € 0 10 & do provivel. Eno entanto,alguma coisa acontece hoje na cultura que néo pode mais ser descrita do mesmo modo que no pastado. Destep de vista, aidéia mais ou menos corrente segundo a qual o conjunto da poesia brasileira carece de propriedades bem definidas, fazendo 1 prova da diversidade e da multiplicidade tipicas de uma “presenti- dade” geral, esquema que encontra eco na compreensio que alguns 8 “4 poetas tim da situagio atual, parece se estabelecer como confssio da falta de recursos diante daquilo que deve ser compreendido. EE preciso lembrar que a tlkima polémiea significative do século xx data de 1984. Trata-setalvex do Ultimo suspizo do cisma experiéncia ‘versus experiment emtorno do poema visual de Augusto de Campos,"Pos-tudoescito em letras maiésculas braneas sobre um fando negro. que pode ser Tido linearmente como: “quis! mudar tudo/ mudei tudo/ agora pés tudo/ extudo/ muds’ Ea época das rupturas ¢ dos projetoscoletivos que o poeta quer encerraaparentemente,embora de um modo ambivalente pois, com 6 uso da homonimia no fim do poema (hestando entre amudez €0 movimento), cl ensaia mais uma volta no parafuso da mudanga.Ni ‘mesmo ano,Haroldo de Campos publica um artigo anunciando 0 d- vento da época da poesia pés-ut6pica a poesia nio mais do presente, io na poesia brasileira. A polémica instaurou-se € sim da “presentidade’ fazendo 0 enterro do espirito aventureiro da vanguarda, aquele mesmo que os poetas do concretismo tinham encarnado como ninguém no Brasil, Embora permanesa discutivel quanto a0 diagndstico, essa tentativa de dar conta da poesia posterior As utopias coletivas nio deixa divida sobre a disposigio de deixar em aberto a compreensio das questdes do contemporineo em proveito de uma multiplicidade mais ow menos informe, Em t saio é emblematico do esgotamento dos paradigmas de uma época. Devemos simplesmente constatar esse esg; por lembrar que os discursos sobre o estado atual da poesia no Bra Al freqientemente se dividem quanto ao julgamento sobre o valor mento? Comego daguilo que acontece: ora com: ‘ora como decadéncia dos valores conquistados por esta tradigdo. De todo modo, é possivel constatar uma concordancia quanto a fato da auséncia interna de perspectiva organizada dos fenémenos poéticos, como se a dificuldade de pensar seus tragos particulates se tornasse cla mesma estrutura de compreensio. Essa tee de fundo sobre a au liberagio da tradigio modernista, séncia de signifcagao propria dos acontecimentos é0 sintoma de um rmal-estartedrico que consiste em uma indecisio quanto A natureza A situagio da poesia contemporinea, tanto mais que essa indeci- so se constitui como um sentimento compartilhado e explica, em parte, ointeresse pelas antologias e pelas resenhas periédicas sobre a“situagi’ da poesia Aesse mi ‘estar, a meu ver, corresponde a sensagio vivida pelos proprios poetas de estarem presos em uma espécie de impasse, Se valores tais como “ns alidade’, “subjetividade’,“experimentagio' nte adequads a0 sentido dos pro: jetos dos jovens potas, estes também nio estio em condigies de oferecer respostas gerais.E, no entanto, a cisma esta presente. Tomo cemprestado agui os versos de Carlito Azevedo: "Ninguém é of mes- ‘mo! depois de um/ cataclisma/ Menos que/ espasmo,/ Mais do quel smarasmo,/ Fica aquela/cisma'" (Collapsus Linguae, 1992) “novo', ete. nfo sto mais total (© IMPASSE DA MODERNIZACAO ‘Algo da ordem de um embarago marca evidentemente a poesia brasileira das duas tltimas décadas,o que nio impede evidentemente que se reconheca no tratamento desse embarago (desta crise’, como preferem alguns) uma experiéncia digna da crize que funda a poesia «da modernidade, Os acontecimentos que acionam esta cisma poética so certamente heterogéneos e é importante néo diminuir a impor- tncia nem dos fatos politicos locais (como 8 anista eo processo de redemocratizagio), nem dos fatos politicos mundiais (como a queda do conmunismo ¢, em seguida, a ocidentalizacio das relagées & qual se dé o nome de“globalizacio"). Quer seja do ponte de vista politico, quer seja da perspectiva das novas coordenadas tecnolégicas,uma ou tra situagdo cultural apresenta-se como horizonte da poesia e da ratura em geral, cujas conseqiiéncias nio sio totalmente mensuraveis. No entanto, como se sabe, as situagdes instiveis(historicamente, po 46 cticamente) sio lugares onde a poesia castuma manifestar-se e onde, de todo modo, melhor se manifesta o sentido da sua ligagio com o contemporineo, fu me limitarei, aqui, a retomar um dos dados que std em jogo nesta abertura, mais préximo dos fatos poéticos e mais préximo dos discursos que abordam a tradigio postica brasileira, ‘© modo confuso com que alguns poetas negam o vinculo com a tradicio imediatamente anterior 6,a meu ver, um forte indicio de que algo esté em jogo na relacio com aheranga poética. Essa heranga nio & sendo aquela fundada no cisma da oposigdo entre a poesia concre- tista, semiotica, tecnolégica, formalista de um modo geral, a poesia do cotidiano, a poesia que busca inspiragio na lingua e na cultura popular, marginal editorialmente, critica no que concetne a0 papel conservador da modernizacio no Brasil. Durante cerea de 30 anos, por razbes proximas politica, mas que nio se restringem & expressio dos fatos politicos, essa divisio e essa necessidade de escolha foram sendo impostas, pelo menos postas como atmosfera dentro da qual a poesia brasileira respirou. A saida desse esquema rigide no ocorre, por isso, sem dificuldade. Um jovers poeta mm concretistas de poesia visual, ao mesmo tempo em que teivindicava 0 “parentesco"afirmava recentemente em um jornal cotidiano que nio gostaria de “herdar uma discussdo que nio & (sua)”.A formulagio & simul- co préximo dos ideais surpreendente pela espontaneidade do paradoxo, afirmanc taneamente a continuidade e a ruptura da heranga, De modo an so, muitos poetas da dltima década passam por cima do passado imediato para reencontrar seus didlogos posticos no cinone modernista (Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Joio Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes etc). © que acontece quando se ignora ou quando se silencia toda a geragio pos- terior, extremamente fértil em idéias sobre poesia? Se os discursos de vanguarda ainda permanecem vigilantes, c4 ¢ li, remoendo velhos Aabitos na busca do“novo', no mesmo momento em que 0 conserva dorismo neoclissica recolhe prémios literirios reconhecidas como sérios, pade-se reconhecer na poesia bra momentos, algo como uma cima, uma hesitagdo desconfiads, uma atencio preacupada com relagio aquilo que se apresenta como refe- sncia traumatica ao passado imediato. Comparadas a essa csma,as antologiase revstas mi poesia (rarasé preciso dizer), mostram piida figura [Até por isso, é importante recordar 0 que fot a marca da ‘peda- gogia postica®concretista(teoria postica,redescoberta de poetas brasileios, trad antes, ou ainda as “cartas abertas” sobre ddos poetas estrangeiros),a partir dos anos 1950. El marcou tio fortemente um momento da poesia no Brasil que {ez estremecer no seu percurso pilares vivos da tradi {alguns dees, como Bandeira, Murilo e Drummond, nem sempre por diversio, escreveram poemas 4 maneira concretista). Seu impacto foi perturbador para um grande namero de poetas que comegaram a escrever nos anos 1960. Ao mesmo tempo, uma intelectualidade de inspiragio marxista, opondo-se &“importagio" da idéia capitalizante da técnica, manteve-se préxima de manifestagées posticas que com Sem um corpo préprio na poesia brasileira das décadas de 1960 1970,sobretudo. Ferreira Gullar, por exemplo, que inicialmente havig participado do grupo concretsta, estabeleceu seu projeto de poesia a partir de uma oposiglo muito firme ao artficalismo das vanguardas. ssa guerra poética, nunca exalamente fria, écheia de sutlezas que indo épertinente comentar aqui, Basta lembrar que ela se imps como ‘um verdadeiro cataclisma no meio do século xx, tendo consequéncias retroativamente no modo de interpretacio das poetas modernistas pois, se © modernismo inspirou algumas questies como a relagio entre técnica ¢ cotidiano, entre arti lado seu sentido atual recebeu nitidamente a marca da interpretagio posterior do problema sues teemores de terra na série poetic, com todas as suas impli cages estéticase ideoldgicas,instauraram uma dissensio a tal ponto contundente que abriu feridas no corpus poético, como se dat em io ¢ simplicidade, por outro "7 8 diante niofosse mais possvelescrever sem inseri-se em um campo cujas questics jéestivessem de antemio colocadas. Igualmente, ¢

Anda mungkin juga menyukai