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SE Uma antropologia Mameluca : a partir de Darcy Ribeiro, 1995: ‘ O Povo Brasileiro — A formagdo e 0 sentido do . Brasil. Sao Paulo: Companhia das Letras. . JOSE MAURICIO ARRUTI* Porque necesito falar tanto de mim mesmo? Vaidade, de certo, Adio : ‘com toda destagatez que govio demas de mim e que me acho admirivel (Creio mestno qu tado madesto tam razo: cada quit be de sO diabo & que ningogi me aconta as expressdes de admiragio a que Tago jus. 1 Injustigndo,entso na liga para tomar e que & meu: a admis alheia, Durey Ribera, 1990: Tstermnker ALSi2it 8 epotunidade de comentro tino livro de Darcy Ribeiro para o pblio portugues, pareceu-me interessante acrescentar ag comentario ama pequena nota intredutéria sobre o autor: No entanto, se a tarefa de propor uma leitura de O Pow: Brasileiro: A formagéa ¢ o sentido da Brasit (1995) ja se apresentava delicada, < Tusitano, que reeditou no Munde Novo as utopias Pectivas jonguinas que enlfo tomavam 0 fndio como uma espécie de cristo PANN aoe eees tempo que como matéra prima de uma nova era, Na segunda opcsico, os wtovor germinalsn fbéico © briaico, cujos estlos colonia. =, opunhi, com> © Feeectao operaso, 0 fanézico coaversor ao puritano segregucionista, o saqueador 3° Hae eee y barroco uo gético, dio origem a macro-ettias de um lado na forma de ppovos novos, de outro na forma de povos transplantados. TRecuperande nogoes jd aprescutadas em seu O Processo Civilioadri, Darcy Ribee carter ea tis processos de formagao de novos povos com decorréncis das revolusces TeeSTGeicas sun consequente expansao sobre o planta, que eonsitiriam de um to, reeor pioneiros c de outro, vasios sistemas de dominagao sobre povos esranhos: Ness= TRpundo’ caso, gue € onde cle situa os indigenas americanos © o» povos africinos sere aon 0 processo civilizatrio Wo sera vivido como a ascensio para uma out, Siaha da evolugdo humana. mas com uma dominacSo despotica, essa forma de vier thocessesivilizatrio ele d4 0 nome te «atualizagion a «incorporagohstieay, Por hosgan 4 iia de evolugdo Feta em etapus de forma enicamente sonoma, Poss seinslizagdoy seria opera em tés planos, 0 adapiativo (teenolGgico ¢ econdenico)- © carat (elagdes de parentesco, de trabalho, esraifieagdo social ¢ politica) € 0 eotégico (Ningua, religto, artes, cscita), que supantsrn 0 rompimento Jos povos ssorce com sus propris Tinhas evolutivas € consequente perds de autonomi. ! iNpresentados 6s seus portos de partda, o capitulo seguine dedica se justomene a aeriuicdo e entendimento do processo de geslagao de umd dessas novas etnias ompont da mistura de (rs matrizes éicas — a européia. a indigena ¢ « neBr Someta em que essas matrizes se desfaziam. Tal eeconstituigo entendimento sendo a reeados em Gois planos simullincos, 0 histérico, que persegue & linha singular SPehicny através da qual «chegamos a ser 0 quc somos», © o antropelogico, emt que Soca Tinka puaticulsr passa a ser vist como uma seqiencia especifien de um Processo stats geral'o da pestagio de novos povos. © gue els chama de «processo de farimerios. ie Ee jonizagao, aseim, feria existide tum primero momento Wégico © cronclépicg como am wrande enatctio de gente», em que 0s colonos lusitanos, a0 comtrsio des shpllncs endo vindo para a América sozinhos, sem Tania e sem cules coropesss, ieee nictado imediatamente uma inten troca sexual com mulheres indfgenas, Toad WGangue num primeito momento esse infercruzamento teria sido operado strés oe Pomfoimagho ene a necessidade de alangas dos colonizadores ¢ 0 do povo brasileiro, ‘Mas se 0 cunhadismo 0 porto de partida e a mestiyagem é a constante na formayéo bdtica e inica do povo brasileiro, ela sofreria mais tarde a intervengdo corretora do poder colonial que se vin ameagado pela livre produgio de afiangas. Essa estratégia mais 6a menos espontanea de colonizacio seria substituida parcialmente pela ago estatal que, através de um Governo Geral, passa a combater o cunhadisino com 0 ssistema de onatarias». Essa mudanga € acompanhada de outras que ele também descteve ‘apidamente, no plano da estratégia missiondria ¢ da apropriaedo e organizagao da mao~ “de-obra. Os missionérios iransformam 0 Tupi em lingua colonial ¢ se servem dela na e «para livrarse da ninguendade de 1io-fndios, niio-curopeus © nio-negros, que eles se Vem orgados« eriar a sua propria identidade éinica: a brasileira.» (:130). O privilfgio que da A figura do marieluco € reveladora disso. Para ele, o mameluco teria sido 6 primeiro brasileiro gestada pela expansio do dominio portuguds e, em sta versio paulita teria sido 0 major responsivel pela umpliagio das posses temitoritise gentilicas da colGnia, Recorrendo 2 origem drabe do temo, em que designava nBo una coloragdo de pele Ou uma combinaclo racial, mas aqueles eseravos que. depois de treinados, tomavamse suseranos dos priprios povos dé que haviamn sido retirados, sob as ordens do conguis. tudor. explicita 0 que a mestigayem representa para ele em termos de telagdes de pader, Rejeitado pela identidade e pela ordem social tanto do pai quanto da me, o mamelueo serta um tipo psicol6gico presente em ouiras situagdes coloniais ¢ base sobre a qual as novas identidades seriam genalas, Isso fez deles. maniehicos ou brasilindios. como também 0s chama, hev6is civilizadores, «impositores da dominagdo que os opsimia» (108), sgente recém-feits» que, em sua flexibilidade e maleubilidade. era molivel a 4ualquer circunstincia sem uma jdentidate previamente dfinida e que pelo entrechoque sangrento com contingentes indios, negros e brancos formow o pove brasileiro. Um Provesso portanto, altantente conflitivo, «praticamente um estado de guerra latente™ (C168) dando origent a um povo que possui em si tanto-o dominador quanto o dorninada ese canuteriza pelo contfito entre eles. ‘A importincia do mameluco pant © seu argumento esti também no seu papel de solu hist6rica e antropolsgica para a irredutibilidade da idenridade étnica. Para Darcy Ribetmo a globalizagio da eulura ocidental nao garamiu pelo simples contato, a passagem do ser indigena para o ser civilizado, Ainda que elu difunda tecnologias & padres de comportamento, impondo uma mudanga cultural inevitivel aos grupos Indygenas. onde «quer que o grupo tribal tenia oportunidude de conservar a comtinuidade dda pripria tradie30 pelo convivio de pats © fithos. preservar-se a identificagao én (113), Uma das idéias importantes deste raciocinio & a de distinguiros diferentes nive (ou qualidades da homogeneizayio provocada pela globulizaclo e penetragao da cultura europea, que pode converter formas culturais mas nao € capaz de destazer etnias, feitas de outro material. Com a globalizago colonial 0 que acontece € a passagem destes _2fupos da situagio de indios especfficos para a «condigio de indios genéricox, cada ver mais dculturados mas sempre indios em sua identificagio étnica» (113). A. sua conversdo para outry etna deveri passar pela destribalizagio, pela mestigagem. pelo Surgimento do mareluco tabu rasa. que construid ele mesmo sua ideatdade. s dois tltins capitulos partem dessa imagem para propunein andlises em diresdes divergentes. O terceio, sobre 0 «processo s6cio-culturals tenta fazer a conexdo entre © pevioco de «fazimento» e a atualidade, uma anualidade menos historica que enoléaicn, enquanto © quarta ¢ ultimo, sobre «os brasis na historia», o autor subordina a reconsti, {igo histérica & construgo uma tipotogia que introduziia Finalmente o tema inevitivel ‘da diversidade interna desta postulada macto-ethia, Depois da longa digressi iniial, quc cobriu wm period de us séculos, 0 capitule sobre 0 «processo sccio-cultural» tenta fazer a conexio enire este € v period dos dois séculos seeuintes, que ele distingne como um segundo momento dan transfigurag6es Ginicas. No primeiro momento, © confinemte teria assistido 2 revolucio agricola, o 308 temprezadimento colonial teria ve ongunizado em us tipos diferentes de empresas: a escravista das engenhos de agtcar. a comunitiria das missGes jesuiticas © a de subsisténcia, que se estendiam pela periferia das centros comerciais, como abastecedores dos engenhos, sempre na franja do avango colonial, realizado por mestcos livres pobres.. ‘Ainda nesta primeira fase, essas empresas colonia, na sua tarefa de incorporagao dos Contingentes populacionais decultarados, teriam encontrado resisténcias de natureza tum étnica, quanto racial ¢ classista, representadas respectivamente pela guerra dos ceabanos, pela guerra dos Palmares ¢ pela guerra de Canudas. Temos af, na énfase sobre ‘© mameluco em lugar do mulato, sobre a empresa de subsisténcia sobre os engenhos de agicar, a inversio de outra grande narrativa constimidora da ideologia brasileira, A rlagto paradigmatica nao é mais a intimidade entre venhor ¢escravo. entre a casa grande a senzafa. nem o Brisil pode ser pensado como eivilizagdo eurapeia nos trdpicas. AO feontririo, «o Brasil € a realizagio derradeira ¢ penosa dessas gentes tupis.... que ddesfeitas ¢ transfiguradas, vieram a dar no que somos: uns latinos tardios de além- mat, amoreniados na fusio com brances @ com pretos, deculturados das suas rafzes ancestrais (:130). A massa escrava. das mais diferentes origens regionais africans, deculturada pela servidio e aculturada pela necessidade do aprendizado de urna lingua nova até mesmo para conversar com sets iguais de cativeiro, cri tido pouce a contibnir substantivamente na configurigo de uma cultura especificamente brasileira. Os cativos forum também obrigados & criatividade cultural tendo com base sobre a qual produzir seus novos lagox a «protocétula Topi 'Na segunda fuse. as ransfigurag6es €tnicas so realizadas por umm neacolonialisine de carter industrial, urbanizador. que tem também o seu uso da vioKéneia © mantém um carter de «amuatizagdo histérica> que. em lugar de reverter a ordem vigente, gerd uma ‘urbanizacio caética € 9 agravamento das desigualdades regionais ¢ sociais. Para caracterizar esse segundo perfosio 0 autor trabalha quase exclusivamente com dados estatsticos, que The servem para desenvolver dua idéias distintas, A primeira, sobre a distribuigio dessas desipualdades por diferentes regides brasileiras medida através do confronto entre seus niveis de vida rural e urbano, € demonstrada com quadros, ‘elaborados no contexto de uma pesquisa organizada por ele mesmo no final da década de 1950-¢ ifeio de 60 para a Unesco. A segunda idéia relaciona desigualdades soci & preconceito racial, que estariam implicados por sua vez com o efeito de branqueanrento da populagao brasileira ness seus sucessivos censos nacionais. Um branqueamento que ele 18 no entanto, como uma tradugao idcolégica para & generalizada mestigagem que progressivamente vem homogeneizando «einicamente» a populagdo brasiteira, “Trata-se de um capitulo de consteucio diffe para © proprio autor, onde 0 atranjo da grande variedade de informagdes e idéias parece nio eaminhar num mesmo sentido © fonde 0 dado quamtitativo © as avaliagbes mais francamente politicas nao consegulem sustentar a mesma desenvoltura que a experiéncin einogeafica e o aciimulo bibliogrifico permitem para a temitica indigena, predominante na primeira parte, «Nia ¢ tarefa iil {definir o caricteratipico de nosso processo histérico, que nfo se enquacra nos esquemas cconceituais elaborados para explicar outros contextos ¢ outras sequéncius» (:247). Mas € possivel perceber ao menos uth argomento central ¢ duas consequéncias contraditérias ‘dele, que combinam consideragies sobre as opasigoes entre campo e cidade e entre elite ‘e classes populares. CO argumento central é que, por se tratar de um periodo onde os avangos civilization continuarum a ser vivides como atualizacdes histGricas — ndo responcendo portanto, a ‘uma linha de evolusdo propria —. 0 cardterdistintivo de suas sucessivas transfiguragBes a continuidade dos elementos cruciais da ordenagao social arcaiea, da dependéncia da economia c do cardter espairio da cultura, Q impacto da revolugdo industrial, por incidir sobre essas formas arcaicas, é contido na sua capacidadle de transformagio por mosses clites urbanas, que atuam mais como agentes de conservagio que de transformacio social. A primeira consequéncia deste argumento € que as formas sociais arcaicas, 10 assumirem forms ideoWigicas durdveis, geram tipos opostos como o coronel fazendciro ¢ 0 cabra, ou mais recentemente, como o gerente ¢ 0 biia fria. Tipos que em sua complementariedade, mantida com 0 largo uso da violéncia, acabam por naturalizar a subordinagiio social e conformar tipos psicolégicas. Para o subordinado, romper com ‘essa order significa fugir da natureza das coisas, altandanar o mundo rural € cair em anomia, representada de um lado pelo caos da cidade & de outra pelo banditismo rural Isso descnha um guadro extremamente pessimista, de aincompatibilidades insandveis», ‘como «ai inaptidio para criar uma cidadania live e, em consequéncia, a inviabilidade de consttuir-se uma via Jemocritica» (:219). A cidade, onde se institu: uma sociedade livre desse patio ideolbgico secular. surge como cenério em que as instituigdes polticas podem aperfeigoar-se. ‘A oulra consequéncia, em parte contraditiria com esta primeira, 6 que, se a oposigo centre rural e urbano pode ser traduzida nos fermos de una oposigao entre ancien & moderna, isso néo significa que, como € tradicionalmente afirmado, esta corresponda i ‘uma oposigio entre forgas conservadoras e modemizantes. Pelo contririo, Darcy Ribeiro ovamente inverte mais esse elemento do idesirio sobre 0 Brasil, identificando nas populagdes rurais uma grande curtosidade € vontade de coisis novas, de mucanga social, que no entanto é obstrufda pelo conservadorismo social das elites. hoje urbanizadss. Monteiro Lobato de ponta a cabega, «Empobrecido, embora. no plano cultural com relaglo a seus ancestrais europeus, afticanos e indigenas, 0 brasileiro comum se construiu como homem tébust rast, mais receptivo as inovagdes do progresso do que © ccamponés europeu cradicionaista, o {odio comunitirio ow 0 negro tribal» (249), A moderizacio se apresentando como forma secular da elte se atualizar com relacde 10s padroes europeus. enguanto no meio rural a diversidade Muanana e cultral, geraia pela viatividade de um povo que teve que adaptar-se constantemente aos diferentes € sucessivos contextos biokigicose socias, se consituiria na fonte de nossa originalidade ede nossa identidade. E justamente dessa diversidade dos «brasis» que o dltimo € maior capitulo prentende dar conta. A diversidade do Brasil do Darcy Ribeiro & basicamente rural, enquanto 0 urtxino representa as forgas de homogenizacio, Uma diversidade que ele consegue reduzir a cinco egies histérico-culturas: a crioula, acabocla a xertaneja, aeaipira e uma dea dif cilmente redutivel. que ele mantém no plural «08 brass sutinos, que retnem matatos. zatichos e gringos. O jogo entre unidade e diversdade que costura o capitulo é susten- {ado numa determinada forma de defini o énico, e numa construgio hierdrjuica de toreas, ‘© uso que Darcy Ribeiro faz das nogio de etnia subordina a nogio de raya, mas nao rompe vom ela, A necessidade de criar um tipologia representada por personagens histérico-cultarais faz com que o autor defina grupos sociais segundo a combinagio dé {ragos substantivos. mantendo-se alheio wo debate em tomo da nogio de etnia deflagrado por Frederic Barth © que, desde do inicio da déeada de setenta, tem transformado as abordagens antropoligicas, entre elas a de Roberto Cardoso de Oliveira, antigo companheiro de trabalho e polemista. Para Darcy Ribeiro. a construgao da identidadls brasileira & acima de tudo a conjuncio entre um evento biokigico. mestigagem, um evento social, © deslocamento espacial a sua consequent deculturagée (uma popalagao ctibua rasa»), e um evento psicoldgieo, em que o filho do dominador com a mulher indigena desgarrada de sua tribo se identifica com o pai, on em que © filho de eseravo, sabendo-se diferente dos negros borais. recém chegados, para fugir da sua ninguendade, constituiase num protobrasiliro por caréncia. A partir dessa etnia embrionéria. tmultiplicada e difurdida em vatios ndcleos, cada um deles singularizado pelo ajustie mento as condigées locais, ecoligicas ¢ produtivas, surgria a variedade das «ilhas-brasil> {gne, no entunto, permaneceriam «como um renovo genésico da mestma mati” (:269). 310 igo da. matriz bésiea de nossa cultura tradicional, quanto a indistingao entre os diferentes tipos de mestigagem ¢ 0 vigor a flexibilidade do povo resultante delas, permitiriam manter uma unidade étnica acima das variagies regionitis. Mas n30 6. Sobre este arquipélago, integrando socialmente ais ihas, estendiam-se como forgas unificadoras, olém da identidade étnica, 2 estrutura socio- ~econdmica colonial de cariter mercantile a progressiva inovacio teenolégica que as ia tornando mais e mais complexas e dependentes de artigos importados. E finalmente, ainda acima dessas forgas, uma iltima: a insipiente cultura erudica, de fundo religioso € issiondrio, padronizadla por imitagao, e em plena difusso. ‘Assim a mestigagem ¢ 0 vazio identitério, ambos homogenizadores. permitiram superar a diversidade ética e racial, da mesma forma que essa pirimide de fatores aglutinadores permitiam superar as diferengas regionais. Cuda uma delas por sua vez Dipartida entre cidade © campo, que por sla ver, slo estraificados em classes sociais| ‘antagénicas ¢ complementares. As descrigdes que se seguem sobre cada uma dessas regides fentam reconstituir esse jogo entre unidade € diversidade, apresentado num ‘quadro Gnico, sempre como uma narrativa hist6rica, onde progressivamente assistimos ‘20 surgimento de uma nova regio pela expansao de uma anterior: as mestigagens que ‘essa expansio favorece; & formago de seu tipo hummano bésico: & construgao de suas relagées de trabalho e dominagi; As suas principais Tutas sociais e/ou guetras étnicas. raciais e, a partir delas, & construcio das relagtes entre suas classes e seus setores rurais ‘¢ urbanos: As mudangas provocadas pelos avangos tecnol6gicos © sua conseqilente diversificago, ete. Vv Allgumas idéias se repetem por todo 0 texto, um pouco como recurso estilistico © muito como recurso retdrico que procura juntar as «pontasy nas quis © texto se abre, amarrando de forma precéria as pilastras de um edificio que nfo para de crescer deforma semi-ordenada, muitiplicando andares e pavilhdes onde uma infinidade de idéias habitam impacientes. O Povo Brasileiro é um excmplo privilesiado do que Hayden ‘White apontou como sendo a caracterisica da narradtiva histérica em geral: umm tipo de construgio argumentativa montada no sobre encadeamentos l6gicos, mas sim por conexdes tropoligicas, onde a livre associagao, a repetigo e a interferéncia direta da. vontade do autor ocupam o lugar que € dos silogismos em textos «cientficos». Algons desses textos, geralmente 08 considerados sclissicose, so to marcados por esses recursos que acaba assumindo uum carécter simbdtico au alegérico que. ext lugar de fechar problemas, de esgotar uma tematica com a clareza ¢ a coeréncia do convencimento, sua contribuigao ¢ a de abrir novas perspectivas e campos de debates. O Povo Brasileiro € uma narrativa nesse sentido, mas também num outro. ‘A importinein central dos dramas sociais na dinamica dos grupos ¢ sociedades ppassam. como apontou V. Tomer, pela sua capacidade ce transformar, através de recursos posticos teatrais, tais dramas em parimetros de comportamentos sociais futuros, fontes: rmorais para o desempenho dos aiores, reperrios de sequencias, solugdes, conceitos € papéis. para a representago de novos dramas. Quando isso acontece, esses dramas se {ransformam em narrarivas, que surgem como um tipo de conhecimento que emerge da cexperigncia, ou melhor, de uma determinada fornia de organizar a experiéacia, ¢ que pprocura rearticular valores ¢ objetivos numa estruturasignificativa capaz de servie como fionte de conhecimento para lidar com os dramas sociais ‘Ao encarar o processo civilizario operado nas Américas € wo Brasil como um drama épico, onde povas so submetidos @ uma ruptera com suns identidades anteriores. para fem seguida se aculturarem reciprocamente na formagio de um novo povo, ainda incompleta, Darcy Ribeiro esté nos propondo a histria do Brusil como umn drama social éem cuno e nos fornecendo ums narativa a partir da qual podetfamos representa-l, pensar sobre ele. Como 0 proprio autor se jusifica. x descrico do processo histérico social tinico serve como base sobre a qual ele tenta formular generalizagdes, descrigtes amplas o bastante para serem reutilizadas e produzirem sentido, jé que «nenhum povo vive sem uma teorin de si mesmo. Sendo tem uma antrapologia que proveia, improvisaca ¢ difunde-a no tolclore> (268). Sua referéncia portanto nio é a produgio cientifica e 0 que ele tem para dizer no precisa estar informado pelas dhkimas discusstes tedrieas, ou pelo us0 rigoroso dos ‘conceites, porque o que ele busea € uma narratva através da qual o caos de n0ssas Vises parciais da realidade, gara tum sentido politico ajudem a informar a ago social. Em lugar da abjerividade, ele n0s propée a teoria social como solidariedade (no semiddo que R. Rorty di a essa oposigfo), que em lugar de um othar exter, distante ¢ superior, fomeya uma narraniva que erie Jagos e identidades, que sensibilize € ajude a pensar a partir da sensibilidade. Por um Jado, se reencontra com uma forma caracterftica dh primeira produgio sociol6gica, quando ela voltava-se para o estudo reflexivo de sua prOpria saciedade assumindo a tarefa de investigagio moral, na torma da wobra militante», de que nos fala Marcio Goldman, Por outro, retomar mitas no para eliminaclos mas para nara-los de oulra forma, prodluzindo novos sentides. Remitologiza, Mas, como jd assinalamos, ao pretender eriar uma «antropologia brasileira, nos dois sentidos contidos pela expresso. Darcy Ribeiro pode ser visto partithando de umn mesmo campo de problemas trabalhados pelos antropdiogos-nativos da recente antmpologia periférica, em sea esforgo por desvencilhar-se da reprodugéo dos discursos ‘etropolitanos fundar uma visio pripris. Como nos lembra M. Peirano, falar em diferentes antropologias nacionais, como stgerem os periféricos, nfo siguilicaria negar at universidade fimdadora da proposta antropol6gica, mas eoloct-la em perspectiva. jt ‘que a afirmagio dessa incompaibitidade 36 € possivel enquanto nio nos damos conta de que © modelo de universal com que a antropologia metropolitana trabalha é ceminentemente ceidental e, no limite, é, ele mesmo, parte de ideologias nacionais ccoloniais. Nele, a8 «totalidades» remetem sempre ao ambito da nagio. Levando em conta que 0 pensamento antropologico € parte da prépria configuracio séecio-cultural dé. quc emerge, no caso dos cientistas sociais brasileira, para se falar da ‘otalidade 10 podemos supor, como nos modelos metropolitanos, que ela soja dada previamente. Nossa rcferéncia de roalidade est, ou & vista como. em plano processo de Formagio, ou nas pulavras de Darey Ribeiro, em seu fecimento. O que ele nos aprescnta nrio pode ser descartado poramto, como pega aeademicamente ulrapassada, porque 0 ‘que pretende ser é uma dupla proposta: de um lado uma nova narrativa para'o drama social brasileiro em que varios sinais aparecem invertidos, de outro, uma cincia social se matizes priprias, alenta para o fato do discurso cienttico ser também um discurso de © que na nossa relagio com nossas fontes tedricas Wadicionais existe uma assimietria cuja origem & 0 fato colonial. O dilema da atiropologia brasileira, como de outras antropologias periféricas, que tem sido expresso na dustidade entre ser antropdlogo ¢ ser native. € perfeitamente Ccorrespondente ao dilema do mameluco, como Darcy Ribeiro o definiu: aquele que € dois ¢ ainda nito & nenhum, que tendo em si teméria @ 0s gestos do dominador e do dominado, alo quer ser um e no pode ser 0 outro. Para nossa antiopologia mameluca Darey Ribeiro prope que cla abandone a aspiragio inalcangavel de ser eusopeia e se faga original. POEMAS DE MILOSZ E RAYMOND QUENEAU | 314 Ceara de Joan Granvie 1803-1847, eer cata «Wasrador franc |

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