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OS VOCABULOS TOPONIMICOS BASICOS NO “VOCABULARIO NA LINGUA BRASILICA” E SUA RELACAO GEOGRAFICA Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick* RESUMO © Vocabuiftrio da Lingua Brasflica ¢ o documento hdbil para se estudar o tupi do stculo XVI. Muitos de seus termos. ogrdficas foram empregados, mals tarde, coma topénimos, constimindo 9 que ¢} voodbulos toponmnicas bdsicas. O Presente artigo objetiva o levantamento desses designativos e sua aplicagdo na to- Ponfnia atual. Unitermos: Nocabulfrio na agua brasfica, Yocdontos toponinios bdseas,Anto~ nomdsia. Toponimizagdo de designatives comuns (campas oroninico, ltontmico, drontmico e humano). Qs tedricos da Toponfmia, enquanto estudo dos nomes de lugar, nfo a qualificam como um segmento distinto do léxico regional. Ou seja, nao ha- veria, por assim dizer, denominativos lingiifsticos especialmente designedos para exercerem o papel de top6nimos, a ponto de constitufrem uma classe gramatical mais ou menos fechada, tal qual ocotre hoje com os nomes pré- prios de pessoas. ; Na realidade, o topénimo, enquanto fato da linguagem, tem uma forma- g4o e uma fungao idéntica & dos demais voc4bulos. Tanto que Charles Ros- taing conceituou-o, formalmente, como um signo lingiifstico constitufdo de “‘vogais e de consoantes, fonemas articulados pelo aparelho fonador e trans- mitidos ao cérebro pela audig&o”.! : Para nds, a aplicagBo ou o uso que se faz desse signo da Ifngua & que © toma “especialfssimo” nas disciplinas onomasiolégicas, fazendo com que se possa incluf-lo, semanticamente, em compartimentagées distintas, as ‘“ta- * Profa. Associada do Departamento de Letras ClAssicas ¢ Vernéculas da FFLCH — USP. 1~ROSTAING, Charles—Zes nomns de liewx, Paris, Presses Universitaires de France, 1958. ° Rey. Inst. Eat. Bras., SP; 31:95-111, 1990 95 xeonomias toponfmicas”’. Estas o remetem a amplas ordens de consideragdes dentro do universo onomAstico: o campo fisico ou natural e o socioldgico ou antropocultural propriamente dito, cada um com uma seriagdo compativel com a realidade observavel (fitotopénimos, cardinotopénimos, antropotop6- nimos, luerotopénimos, etc). Dessa forma, ¢ nessa perspectiva, € que o topénimo vai se afastando, Paulatinamente, do entendimento vocabular comum, para se situar em orde- namentos préprios & uma disciplina cientifica, transformado que foi em seu objeto de estudo. . Em sua constituigéo estrutural, h4, por certo, manifestagées gramaticais que preponderam sobre outras, destacando-se no conjunto nominativo geral; enquanto os substantivos comuns exercem um papel maior na cadeia ono- méstica, os verbos, ao contrério, tém um emprego reduzido, quase como exemplos tnicos, tal qual ocorre com Amanhece, antiga estagio ferrovidria de Minas Gerais* e Veremos, um cérrego na Bahia. J4 as locugGes aparecem em nimero um pouco maior: Vamos Ver (cach. RO), Vai Volta (AH MG), Sobe ¢ Desce (r. SP; rcho. BA), Vai Quem Quer (ig. AM), Vai e Vem (c. MT), Valha-me Deus (AH MA), Se me Apanhas (AH MA) Hé Mais Tempo (AH MA).3 Como se verifica de alguns desses dirrematotop6nimos, nem sempre sua constituigéo sintagmética permite uma interpretago segura, facilmente dedu- zivel, de sua causa motivadora, ou a razdo que condicionou o denominador quanto & escolha do nome, necessitando-se, assim, de um recuo a histéria lo- cal ou ao seu passado histérico. Verdadeiro procedimento diacr6nico de pe- netragdo no Amago de sua substfincia, portanto. Dentro dessa tipologia, trés séries verbais, representadas pelos verbos ti- rar, passar e sair — quantas delas 4 cristalizadas semanticamente —, concor- rem para dinamizar um pouco o emprego gramatical: Tira Casaco (ig. AM) Tira Ceroula (rcho. MA), Tira Cerveja (AH RO), Tira Chapéu (mo. GO), Ti- xa Couro (sa. do, MG), Tira Sentido (sa. do, MT), Tira Teima (cach. AM), Passa Bem (AH RO), Passa Tempo (AH MG, rib: SP), Passa Dois (AH SC, r, PR), Passa Trés (AH RJ, rb. GO RO MG), Passa Quatro (AH MG, rb. GO, sa. GO), Passa Cinco (AH MG, c. MG, r. MT SP), Passa Dez (AH MG), Passa Vinte (AH MG, r. MT); Passai de Baixo (cach. PA), Passe (AH bre Passe Bem (AH MA); Sai Cinza (AH PA, ig. AC, i. PA); Sai de Cima (AH PD. No verbo passar est contida, sem difvida, a idéia de passagem, quer de pessoas ou de animais. Hé registro toponfmico de varias Passagens, em au- tonomia sintagmética, principalmente nos Estados do nordeste, ou com de- terminantes, como em Passagem do Bastiio (MG), ou dos Bugres (i. MT), ob dos indios (c. RO), assim como de Passos, principalmente nos Estados do sul, com excegao.daquele de Minas Gerais, em homenagem a Sfo Bom Jesus los Passos, 2~A respeito de Amanhece, Everardo Backheuser comentou o seguinte: “E todavia excesfio aber- rote guy ce ue prs gual jn nl avoids poplin” Topoai ‘Suas rogras, Sua evolugSo™. In: Revista Geogrdfica. R. Janciro, Inst. Pan-Americ. de Geogr. e His tor, n? 25 a 30, t. Xe X, 1949.0 1959, p.169, 3.5,0¢ toptnimos mencionados nesto artigo foram em VANZOLINI, P.E. ¢ PAPAVE RO,Ri fee cs poration Gado 1:1.000.000 do IBGE, S.Paulo, eT Rev. Inst, Eat. Bras., SP, 31:95-111, 1990 Backheuser j4 mencionava 0 fato, chegando & mesma conclus&o, ou seja, que “‘vaus © passagens geram topénimos. No lugar onde se situa hoje a fa- mosa cidade universitéria britfnica era o ponto pelo qual os cameiros ot as manadas vadeavam o rio, daf Oxford, de ax, boi e ford, vau. Tgualmente Frankfurt & “passagem dos Francos” e do mesmo modo os topénimos fran- ceses em wez ¢ em gud no sul, de antigas Linguas locais”.4 As vezes, porém, 0 verbo em locugio aparece consignado em posicao fi- nal no sintagma toponimico, tal qual ocorre com a paulista Santa Rita do Passa Quatro em que a expresso adjetiva foi acrescida “‘ao nome da pa- droeira em virtude de a estrada primitiva que demandava a cidade de Piras- sununga cortar em quatro pontos 0 cérrego de idéntico nome”’.5 Entretanto, € nos substantivos comuns ou nos meros designativos, que o homem encontra a maior fonte motivadora das denominagées, certamente Porque vé neies o concretismo dos objetos por exceléncia, a plend realizacao do que se continna no onoma grego, enquanto definico de um ser. Dentro de uma perspectiva lingiifstica do fato toponfmico, Dauzat remete © estudo dos topénimos oriundos de substantivos.ao campo conceitual da geografia fisica e/ou humana.® Essa atitude parte, sem difvida, da constata- gao prdtica de que nomes de lugares podem simplesmente se traduzir pelo denommativo da entidade geogréfica que identificam. Por isso, rios, lagos, yaus, montes, serras, cidades, vilas, colénias, arraiais, etc., podem ser sim- plesmente assim chamados, sem qualquer outra referéncia que lhes defina ou Precise o sentido, como acontece com Riozinho (AH AC AM, r. GO), Lago (ig. do, AP MT), Lagoa (AH BA, rib. MT), Vau (AH MG, i. do, RS, rcho. do, BA), Morro (AH MG, c. do, GO), Morrinho (AH BA MT), Montanha (i. ig. ¢ cach. PA), Monte (nb. do GO, sa. do, PB), Serra (AH AM BA, la. da PI, r. BA RO), Cidade (AH BA, i, da, PA, r. da, RJ), Vila (c. da, MG), Arraial (AH BA MA RS, c. do, GO, r. RR), Colénia (AH AC BA MT PA PE PI, ig- AM), Venda (AH BA, c. da, GO). - A Grigem do fato é simples e j4 foi por nés apontada anteriorménte: ou 0 acidente 6 tinico na localidade, dispensando um chamamento acessério para Gistingii-lo de outro ou outros nas proximidades, ou a sua prépria significa- ¢ao jocal justifica a unicidade de seu tratamento. O grupo se refere ao rio de sua regio como “‘o rio”, fala da “‘serra”’ que é a sua particular, a “cidade” é Ponto de referéncia para o morador rural, para quem ‘“‘a vila” em que mora nao tem outra que se lhe compare, por isso dispensa um nome sobressalente. E 0 fenémeno Upico da antonomAsia em Toponimia, também estudado por Backheuser que diz que os povos rudimentares dispensam “‘a designagio ex- plicita para os acidentes geogrdficos, em particular para os acidentes fisicos. © estrangeiro ignorante da lingua local, ao ouvir a palavra, considera-a’co- mo peculiar aquele dado acidente e passa assim a nomed-lo nas descrigdes € Jevantamentos. Ganha o vocdbulo bizzarros foros geogréficos. E tipico exemplo de antonomésia, figura de retérica pela qual se toma o substantivo -préprio por comum e vice-versa”’.” 4~TIbidem, p, 176 5 ~Enciclopédia dos Muntcipias Brasileiros, R Jansiro, IBGE, 1958, vol. XXX: 6—DAUZAT, Albert-Les noms de liewx. Origine et évolution, Paris, Libr, Delagrave, 1937, p. 23/25. 7~BACKHEUSER, E, = Ibidem, p. 169. Rev. Inst. Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 97 Nao apenas isso, porém, ou mais do que isso ocorre: todas essas formas de chamamento acabam por inculcar ao acidente uma denominag&o esponti- nea e natural que, aos poucos, por forga do costume e do hébito, acaba se ar- raigando no espfrito da populagio e transformando-se na tinica forma deno- minativa conhecida e aceita. Seu caracteristico é a praticidade de uma facil assimilago e ganha aspectos de uma autntica forma de nomear, das melho- Tes que se possa conceber, porque oriunda do nativo da regido. Nao lhe foi imposta nem visa homenagens a terceiros estranhos ao meio; assim sendo, nao corre o risco da impessoalidade ou da artificialidade. Serf por certo du- tadoura, porque reflete o momento criador do homem afeito ao ambiente em que o acidente est4 inscrito. Os povos em geral nao se furtam a esse procedimento, o que pode ser comprovado nas diferentes nomenclaturas. Foi assim com franceses, portu- gueses, africanos e indfgenas. Destes, o léxico tupi registrado no Vocabuld- Tio na lingua brasflica, “sem diivida um dos mais preciosos documentos pa- ra o estudo do tupi antigo”, de acordo com o Prof. Plinio Ayrosa, organiza- dor de sua primeira edigéo, acusa particularidades relativas ao que ora se analisa.' De fato, o VLB é uma compilagao jesuttica do acervo lingiifstico indfge- na de Quinhentos. E o registro do seu quotidiano, a mais fiel tradugéio de um tesouro lexicolégico voltado para os hbitos e aquisiges do falante. Nele, a geografia integra também a sua relac&o distributiva, como um dado do co- nhecimento, e a prépria toponfmia anotada reflete um modo de sentir e de perceber o lugar segundo a cosmovisao do fndio. Para se proceder A verificacao pritica da tipologia dos acidentes regis- trados no VLB e a sua conservacdo na atual nomenclatura geogréfica.brasi- leira, através de levantamentos no /ndice dos topénimos, pode-se tentar re~ parti-los nos componentes orogréficos, hidrogréficos e humanos. O campo conceitual preenchido por esses designativos incorpora o que foi por nés de- finido como vocdbulos toponimicas bdsicos, dos quais jé procedemos a um estudo dos acidentes relativos aos cursos d’4gua, razio por que nos abstere- mos de abordar novamente o problema, a nao ser aqueles casos que, por ventura, tenham deixado de ser referidos, desde que a anélise nao pretendeu ser exaustiva.9 No campo orogréfico, respeitando-se a literalidade dos verbetes, tal qual ocomem no VLB, verifica-se haver, jf no Quinhentismo, disponibilidides lexicais especfficas para certas tipologias geogréficas, nfo apenas para as mais genéricas, como morro, serra ou chéo. Comparando-se, porém, as formas lingiifsticas definidoras desses desig- nativos, nota-se que o falante servia-se de um mesmo signo da Lingua para expressar a substancia dos respectivos referenciais. E o que sé deduz do exame destes enunciados: “Serra—O mesmo que outeiro” “Morro — vide. Outeiro” ““Monte alto ou outeiro — Igbistra”” 8 — Nesto cstudo, servimno-nos da 2a. ed. do VLB, 2 vols., rev. e confr. com o Ms. fg. 3144 da Bibl. ‘Nac. de Lisboa pelo Prof. Carlos Drumond, Boi. n®s, 137 ¢ 164 da Col. Etnografia e Tupi-Guarani, N23 26, ed, Ba PRCLcuSe 1962, 1953, . Cot Pepi-G 8 Rev. Inst. Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 “Oiteiro — Ygbigtigra” “Outeiros muitos — /gbigribira’”® “Monte ou montiio de qualquer cousa — Atigra. Capod, ut. Ibigatira, i. monte de terra”. Donde se conclui que o termo portugués outeiro, forma tfpica do nomear lusitano, servia de paradigma para as elevacdes de terreno. Na toponimia brasileira atual, ainda se consignam alguns exemplos dessa modalidade, ape- sar de seu pouco emprego na Ifngua falada: Outeiro (AH MA, sa. do, BA), Outeiro de Maracé Acu (AH PA), Outeiro do Padre Nicolino (AH PA), Ou- teiro Redondo (AH MG). Na formalizacao indfgena percebe-se, nitidamente, @ aglutinagio de dois elementos, 0 que se torna claro quando se comparam os verbetes citados. O elemento bésico ou comum ¢ ibig, igbig também yby, ybi ou ibi, termo gené- rico para “chao, solum”’ ou a terra propriamente dita, e que vai proporcionar ‘uma série de composigées.' 10 A nomenclatura atual, entretanto, néo registra o voc4bulo em autonomia e sim com formantes: Ibid (“‘com. yby-d — terra er- guida, a prumo, barranco” (TS) — AH MG); Ibiagu (“terra grande” — AH BA); Tbiapaba (“‘a estfncia dos barrancos ou das escarpas; o escarpado ou alcantilado” (TS) — AH CE); Ibiapina (‘‘o monte pelado, sem vegetagao”.— AH CE); Ibicati (“‘a terra boa” — AH PE); Ibiporanga (“‘a terra bonita” — AH BA SP); Ibiquera (“‘a terra extinta, a que foi terra” — AH BA). O segundo elemento na composigaéo do outeiro, tyra ou atyra,-é que significa “‘elevagio, altura”, “‘o monte”, por assim dizer. Das duas formes, apénas Itira firmou-se na toponimia, nomeando um aglomerado: em Minas. Na vemaculizacéio,-o formante Ygbitira resultou em Ibitira (AH BA), do qual se conhecem derivagées: Ibitirama (‘‘o. monte alto, a regifio ‘das monta- nhas” (TS) — AH ES); Ibitiruna (‘‘o monte preto” — AH SP), além de Ibiti- ranga (AH PE) e Ibitirié (r. RS). Algumas das variagdes geogréficas de yby © yiyra receberam, porém, no = DICK, Maria V.P. do Amaral — “Os voesbulos 38 bfsicos ¢ sua relagko geo; ihe Papen 10 Brag. Colettnea de emidos. Sto Pano, Serv. A Ade a FELERSUSP, 1987 phen toponfmic também em SAMPAIO, Theodore — 0 ‘api na geografis grafic nacional Bisco mS Paulo awe Bt eo peniainento”, 1914, chegandote a extan Siol iembé, aha, igpin, igaapaba, igcropt, leaps, igud,ieuape, inh, ipopoca, poi i logis, lege, , tarare, itupira, tdquira get f.— Do VLB foram retirados os Xerigcoabapoam, Acoabapoana, Aci 5 mart —Ajur. Auirapu; ‘a. agoa no pogo ou 7 ecente da fauré Igevigea"s ee Madre do Rio wTigcie"s Mobasil, poe Tgccabe”; “Retoanso dagen, ou donde ella dezann ~ giebigre’ Pegi sem pee omesclah geogréfica, com excegho de Tigete ou Tieté — (aH BR SP, 10- gratis vootbulos tupis ibig, igbig, tighigtina ¢ em outros semelhantes, ada tive da 6a, vogal ty mb Gmacenn Minunabests bene cutelann na vernaculizagEo, i/u, como ocorre em /panema/Acarall. Rev. lust, Est. Bras., SP; 31:95-111, 1990 9 VLB uma significagio auténoma: Jgbigpeba (= Ibipeba, ‘‘a terra chata, pla- na”) esté consignado no verbete “‘Faldra de terra”; 0 “‘cabego ou lugar alto” 6 Jgbfttra (= Ibitiray; a ““Caverna de terra on buraco” é a Ybygcoara (= ibi- quara), da mesma forma que o termo é empregado para significar “Cour no chiio assi - se he funda” ¢ “Mina, como quer, por debaixo da terra”; j Ig- bigcoarug ou o “buraco grande”, é a “Furna na terra”. Por outro lado, ybyty empresta o seu radical para o conceito de vale ou cérrego, definido por /gbigtigoaya (= Ibitiguaia, AH MG), mas € no verbete “(C6rrego”’ que se percebe melhor a razio do emprego: “‘Aquela aberta que vai por entre oiteiros”. Por outro lado, a prépria definigéo de cérrego, ex- trafda de Dario Paes Leme de Castro!!, qual seja, ‘“pequena corrente de 4gua apertada entre margens altas”’, confirma a idéia contida no vocébulo indfge- na de abertura ou depressfo que, afinal, é também 0 conceito de vale: ‘‘de~ Pressiio de terreno entre as vertentes de duas ou mais elevagdes orogréficas”’, © mesmo acontecendo com as distingées para canal, onde a particula goa- ya transmite o sentido dessa caracteristica do terreno: ‘‘Canal no fundo — Ti- Plgoaya” ¢ “Canal ter o fundo ~ Xerigpiggoay; Xeripigoiacatu”, em que YPyg OU typyg significa “‘fundo do rio ou mar’’. De goaya provavelmente derivaram coa, goa ou gua, esta wltima forma aparecendo em um ribeiro de Goifs (Gua) e em outros elementos compostos: Paranagué (“‘seio do mar, bafa, enseada” — AH PR), Jacarepagué (“‘vale da lagoa do jacaré” ~ AH RJ) ou Jaragué (“‘vale, bafa ou enseada do senhor” — AH SP), Theodoro Sampaio refere-se também A uma outra categoria de for- mantes em gud, a que é resultante da aglutinacdo da posposicao tupi pe, cor- Tespondente ao portugués em, a, no, na: “Assim € que se diz Igoape (-god- pe), significando no seio d’4gua ou no lagamar e Marangoape (maran-goa- pe), no vale da batalha ou baixa da desordem’’!2, particula esea que, na ver- naculizagio, poderia ter sido eliminada sem perda de sentido toponfmico, desde que o topénimo propriamente dito ndo se-alteraria. J4& © genético montanha identifica-se no VLB pelo termo conceituador de “‘matos”, cad, do qual se dispdem duas especificagées: “Mato virgem q. nunca foy rogado — Cad eté” e “mato que ia foy rogado — Cépuera”. No primeiro vocébulo, cad eté, a particula eté denota o fato consagrado em intimeras outras composig6es, da legitimidade do.objeto que qualifica. E © que diz o verbete respectivo do VLB: “uerdadeira cousa, contraria de contrafeita”,-enquanto que o Pequeno vocabuldrio tupi-portugués define-a como “muito, verdadeiro, legitimo, genufno”.13 © emprego de eté era um recurso utilizado pelo fndio para enfatizar a autenticidade de um elemento dentre outros semelhantes, como ocorria com faguara (cachorro) e fa- Suar’eré (a onca verdadeira), Analisando-se as dues formas distintivas para mato, ocorre que, no cad- eté, se pressupe a: auséncia da participagio humana no resultado final do conseqilente lingilfstico, o que nfo acontece com cépuera, identificada jus- 11 ~Terminologia fisico-geogréfica do Brasil. R Janeiro, A.Coelho Branco F® (Editar), 1939. 12~SAMPAIO, Theodore —ibidem, p. 108 13 ~ BARBOSA, Ps, Antonio Lemos—Pequeno Vocabuldrio tip: ed, - 23 BARBO “equeno Vocabulirio tupi-portugués. 3.2d.., R-lanetro, Liv. 100 Rev. Inst. Est. Bras,, SP,31:95-111, 1990 tamente pela presenca do homem na atividade. Este cad-et# aparece na topo: nfmia modificado em caeté, por forca de apdcope do a ¢ abertura do e final. Como acidente humano, localiza-se (Caeté) em Minas Gerais, Mato Grosso ¢ Paré e como acidente fisico denomina alguns acidentes ao norte (PA AM AC) ¢ centro-ceste (MT); 0 compost Casté Acu esté na Bahia e a pluraliza- do Caetés, em Pernambuco. Quanto & cépuera ou képuera, o Indice dos to- Pénimos néo acusa nenhum registro, apenas a variante capoeira, que Theo- doro Sampaio faz derivar de cad-poera: “‘mato que se renova scbre-os des- trogos de uma mata primitiva”’. Capoeira, para o autor, seria o “mato extin- to”. Entretanto, Frederico Edelweiss, baseado mo VLB, explicou 0 conceito de outra forma: “‘Capueira vem de Ko-puéra, roga abandonada, da qual o mato j4 tomou conta. A troca de o para'a deve-se & influéncia da palavra mais corrente Kad-mato. Entretanto, o indio nunca chamaria 20 mato novo de um antigo rogado Kad-puéra, 0 mato extinto, quando @ capueira é, na verdade, um mato renascido”.!4 Como topénimo, 0 vocdbulo aparece no singular (Capoeira), com {ndice de plural (Capoeiras), com sufixos diminuti- vos e aumentativos (Capoeirinha — Capoeiréo), com particula tupi:(Capoei- Tana), com determinantes (Capoeira do Aigodio, Capoeira do Filipfo, Ca- poeira do Rei, Capoeira Grande). O alto, o ponto elevado, acima, est4 inscrito nos verbetes “arriba” ¢ “Alta cousa ou altura para cima”, como ¥gbaté, de que a topon{mia. fez Tbaté (AH SP) e 0 composto Ibatequara (AH AL). Este elemento final coa- ralquara aparece também em composigéo com yby, para definir, além das outras especificacées que citamos, o oposto da elevagéo, ou seja, “Buraco no cho ou coua”. As duas formas esto consignadas na nomenclatura: Ibi- coara (AH BA) e Ibiquara (ar.RS.) Em autonomia sintagmética, anotam-se os seguintes registros: Quaraf (f.RS), Quaraf Mirim (AH RI), Quaracu (AH A). Também em sentido contrério ao de buraco, esté a ponta de terra, ov Gpodlyapod, que também corresponde a “‘Lingoa de terra, 0 mesmo que pé- ta” ea “Cabo ou ponta assi no mar como fora”; dela a nomenclatura geogeé- fica ndo acusa ocorréncias em autonomia sintagmitica; apenas ém composi- g40, como ocorre em Itapua (‘‘a pedra empinada”), topénimo na Bahia e no Paré ou em Itirapua (AH MG), que Theodoro Sampaio diz ser o “morro em forma de torres que se destaca do macigo e que no sul se denomina Cuscu: zeiro”. Para “‘Barreiras”, aparece a indicagdo Jgbidma, igbiabiéma, que incor- Pora o mesmo sentido que “Ladeira” ¢, por extenséo, o “Estar em -pé” do VLB. Jé as “Barreiras que ha comiimente ao longo do mar, em terra alta”, se definem por guarapiranga, nome atribufdo a um aglomerado em Sio Paulo. Ora, estas barreiras vermelhas, como o préprio VLB diz, eram fatos conhe- cidos na regio costeira. Gabriel Soares de Sousa, por exemplo!5, cita o aci- dente junto ao rio de Camaragipe, na regio do rio Jaguaribe, entre os rios de Itacumirim ¢ o de Porto Seguro, em um riacho que se diz de Siio Francis- co. No cap. XXXI, “Em que se declara a costa e terra dela do rio de Santa 14— O tupina geografia nacional. 4a. ed. Introd. e Notas do Prof. Frederico G. Edelweiss, Salvador, Ed, Camara Municipal, 1955, p.107 note de n? 149, 15—Noticlas do Brasil. $.Paulo, Minis, da Educ. e Cult., Depart, de Assist. Cult. 1974, Rev, Inst. Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 101 Cruz até.o do Porto Seguro”, descrevendo o trecho entre o rio de Tororam e o-de Maniape, onde estiio as barreiras vermelhas, diz que elas parecem, para quem vem do mar, “‘rochas de pedra”. Chaga a falar mesmo em “rio das Barreiras”, localizando-o na costa do Espfrito Santo. Todavia, em outros momentos, refere-se a barreiras que no sfio vermelhas e, sim, brancas: “Da ponta de Curumbabo ao cabo das barreiras brancas sfio seis Iéguas até onde corre este arrecife (...) porque até ao cabo destas barreiras brancas se corre esta costa por aqui (...) (Cap.XXXVI). Também as explicita falando que, do rio de Perufbe ao de Mocuripe, so cinco Iéguas “o qual tem na boca uma barreira branca como lencol” (Cap. XXXVI). A geografia fisica as define como “‘trechos de elevagao orogréficos voltadas para o mar, constitufdas de argila vermelha ou branca e que esboroadas pela ago geolégica das vagas, forma pela sua cor, saliente contraste com o tom geral da costa, sendo natu- ralmente vis{veis ao largo”’, o que vem confirmar assim, aquilo que o VLB j4 descrevia, no século XVI. Entretanto, a geografia fisica brasileira niio as emprega, como acidente, em sua formalizaciio indfgena enquanto a topont- mia faz uso do termo portugués “barreira branca” em duas ilhas, no Pard e em Goifs. Por outro lado, h& que se considerar, ainda, o que se contém no verbete “Manta ¢ cobertor ¢ tudo o que disso serue” e que é expresso pelo termo agoyaba, do qual se originou aragayaba, “‘o amparo contra o tempo, o cha- peu, a cobertura”, e que € “nome dado a montes isolados com a forma da copa de um chapeu, A denominagao — morro do Chapeu é traducdo de ara- goyaba’’. Theodoro Sampaio interpreta 0 vocébulo agoyaba como “particf- pio do verbo agay, cobrir, vedar, proteger; portanto, coberta, veu anteparo, abrigo, protegio; altera-se as vezes para acoyd, agoyava”. A'forma simples (Aracoyaba) aparece em aglomerados no Acre e Ceard; Séo Paulo tem 0 co- posto Aracoiaba da Serra, um aglomerado, em que o determinante transmite, claramente, a idéia de elevagao. . Entretanto, o monte isolado podia incorporar, metaforicamente, o mesmo sentido percebido no voc4bulo manhana, qual seja “Espia como de guerra ou qualquer”. Em Gabriel Soares de Sousa (Cap. XX1), encontra-se a expli- cago do emprego do lexema a um monte mais alto que os outros, distancia- do deles, “da feicio de um ovo”, “pelo qual a terra é bem conhecida, por se ver de todas as partes de muito longe”. Daf o relacionamento manhna = es- pia = monte alto, Por outro lado, a “Abertura ou fenda” — ou juruboca, traz em sua for- magiio o mesmo elemento definidor de “! ”” — Juru, Entretanto, ambos os termos no figuram como designativos nas respectivas formalizagées, apenas em composigao, como € o caso de Jurumirim (“boca pequena” — AH MG SP) ou Jurucé (“boca doce” — AH SP) ou mesmo de Itaboca (“‘pedra fura- da” ou “arrebentada, pedra solapada”, AH MG, cach.PA, ig.AM, rib.GO — desde que conta, em sua formaciio, com o mesmo elemento “boca”, que apa- Tece em Juruboca, a “‘abertura’’). Do mesmo modo, a toponfmia nio fez uso de cigcaba ou xecocigcaba, termos usados para definir o “limite”, a “chegada”, em posigéo auténoma no sintagma, mas a sua presenga é confirmada em compostos como Piracica- ba (AH SP): “a colheita ou tomada-do peixe. Designa local que, por aci- dente natural do leito do rio, no deixa o peixe passa ¢ favorece a pesca” (TS). O mesmo acontece com tabebira, que o VLB interpreta sinonimica- 102 Rev. Inst. Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 mente a limite, como “Cabo do lugar”. J4 a origem ou princfpio de um ponto ou terreno seria Ygpi ou Ypig, também definindo o fundo do rio, de que po- dem ser aplicagio os topénimos Ipiagu (AH MG) e Ipipe (1a.RS). A forma semelhante igque, o “Costado ou ilharga”’, deve, Provavelmente, estar repre- sentado no topénimo Ique, denominador de dois rios em Mato Grosso Rondéui . Do ponto de vista da geomorfologia ou das formagées costeiras, 0 VLB acusa designativos que podem ser encontrados na toponoméstica, como ocor- Te com 0 jé referido gud (“‘bafa, enseada”’), donde Paranagus, ‘a grande bata que se abre ao sul de Cananea”(TS). O VLB registra este termo apenas co- mo substantivo comum, tratando-se, portanto, simplesmente, do nome do acidente por ele definido: A toponfmia é que, por antonomésia, o transfor- mou em substantivo préprio ou topénimo. Mas Theodoro Sampaio diz. que os tupis “‘confundiam” a “barra ou foz” de um rio com a “barra ou entrada de um golfo ou bafa”, chamando a ambas de pard. : No entanto, o VLB nao consigna um verbete relativo a essas expressées, falando apenas em “barra dos portos” ou Jgmbiagaba. Na Terminologia geogrdfica do Brasil, o sentido de “‘barra’, entre outras explicagdes, € mos- trado como “‘nome por extenso aplicado a entrada de certas bafas”: ‘gar- ganta aberta em terra firme por onde as 4guas de algum rio se langam no oceano”’; “lugar onde dado rio se langa em um outro”, Levando-se em conta essas significacdes € que se pode entender a inter- Penetragao do contetido de dois conceitos diferentes. Assim, com base em Sampaio, seria facil perceber como o fndio tupi interpretou o lugar da con- fluéncia de um rio com outro ou com o mar pelo préprio acidente, identifi- cando diferentes substncias por um sé lexema. Todavia, & forgoso reparer que o VLB no denominava o rio, genericamente consideado, de pard e, sim, de iggoag#. Pard, com efeito, diz o Pe. Lemos Barbosa, era a forma pa- raguaia de denominac&o do mar, enquanto o rio grande, “pariente del mar”, ¢ra parand. Mas, diz, o tupi devia conhecer o termo porque assim chamava o “Rio S. Freo. da banda do norte”, enquanto denominava o rio Maranhfio de Paraupaba, “‘porq. procede de mtas. lagoas” (upaba = “‘lagoa”).16 Theodo- ro Sampaio aventa, ainda, a possibilidade de pard ser derivado de ypard, lagoa crespa ou agitada”, que traduziria, segundo o autor, “‘uma ideia ou imagem de uma cousa familiar a0 selvagem das regides centrais”.17 A ori- gem do vacébulo, entretanto, parece ser controvertida desde que ‘Baptista Caetano o faz provir de mara, o “revolto” ou “‘desordenado”. De qualquer modo, a topon{mia do Brasil consigna o vocébilo em intimeras formagées, quer em autonomia sintagmética, quer em composic¢ao com outros lexemas: da lingua (Paracatu, Paraguari), sendo raros os formantes portugueses, como acontece em Parafba do Sul, Paraibinha, Paré de Minas ou Paré Velho. O VLB chamava o “Porto ou desembarcadouro” de peacaba, extenden- do o uso também para “‘os caminhos ¢ seruentias q.sa¥ 4 praya dos q. uiuem NO certio”. Theodoro Sampaio acompanha esta explicagao e diz que peaca- ba (ou peagd) € também o “lugar de onde vem ter o caminho, a travessia do 16—O “Vocabulério na Iffigua brasflica"", RJaneiro, Minist. da Educaglo e Sade, Serv, de Docu- mentegSo, 1948, p. 21. : 17 =Ibidem, p. 12 Rey. Inst. Est. Bras., SP, 31:95-112, 1990 . 103 ,caminho”’. Esta travessia também se expressava por Imbiagd, que é, para o autor,.o lugar “‘onde 0 caminho atravessa rio ou esteiro; 0 porto” — mesma forma que.o VLB empregava para “Barra dos portos’’. Como variante dessas expresses, Sampaio cita 0 vocfbulo piassava/peassava, que passou a desig- nar a fibra da palmeira Artalea funifera: “‘O nome piassaba, ou melhor, pea- gaba, com que vulgarmente se designa a fibra resistente e utilfssima da Adlalea funifera, palmeira abundante 1 zona quente do litoral, vem, de cer- to, do comunfssimo emprego nos portos (peagaba), das cordas tecidas com a fibra dessa palmeira. No norte do Brasil, as amarras e cordoalha das embar- cages pequenas, das jangadas e canoas eram quase que exclusivamente da peacaba. Dizer-se, portanto, cordas de peacaba, vale como se dissesse cor- das do porto ou cordas usadas nos portos.'8-Mas a toponimia guardou o Primitivo sentido do vocdbulo em nomes de localidades muito antigos como Piassaguera (AH SP), o “‘porto velho” e Piassabugu (AH AL), 0 “porto grande”. . . A toponimia quinhentista de Sio Paulo conheceu o termo sob a forma ambuacava e com ele designava a passagem ou o caminho, Era um lugar “A margem do Tieté, vizinho de Sao Paulo, onde se passava o rio na entrada do sertéo € onde se mandou levantar um forte ou tranqueira para defesa da ci- dade no século XVI'"(TS). As tranqueiras levantadas nos caminhos ou vias de passagem visavam impedir 0 ataque dos fndios do sertdo a vila. Das Aras da Cémara da Vila de Séo Paulo depreende-se que essas fortalezas cons- trufdas de taipa de pildo eram vigiadas por quinze homens, que se revezavam a cada oito dias ¢, diariamente, por duas horas. Funcionavam como “‘es- pias”, entre os quais se postavam alguns {ndios e escravos. A estratégia de sua colocagfo em ponto extremo A drea central, para oeste da vile, demons- trava o receio sentido de um ataque macigo de indfgenas: “A terra era pobre € no tinha recursos para se livrar deles, caso rompesse a barreira do forte, daf os cuidados em preparar-Ihe a retaguarda com vigias e espias para a de- fesa’’. Esta ambuagava, que deixou de ser apenas um lexema tupi para se topo- nimizar, marcava o infcio da estrada geral para Jundiaf, o velho sertio, re- duto de fugitivos da lei. Persiste ainda na toponfmia da cidade de Séo Paulo sob a forma Boagava, nome de um bairro da regio. ceste, nas cercanias do antigo local. Mas o VLB também designava o porto “onde ancorio” as canoas ou ygaras pela expresso iggarupaba ou iggarupatiba, da qual a toponimia guardou a variante Igarapava (AH SP), Para Theodoro Sampaio, o vocdbulo significaria, literalmente, ‘“‘termo ou fim de canoas” e deve ser entendido como “‘assentamento, descanso ou lugar onde se encalhava a embarcacio, deixando-a a seco”, Por sua vez, as ilhas eram denominadas de ygpai e nessa forma se dis- tingue, perfeitamente, o seu conceito de acidente rodeado ou no meio (entre, Prepos. = patie) da gua (yg). A toponfmia 36 registra o termo em compo- 18 — Edclweiis contests esse entendimento. Para ele, piagaba vem de = tecer, por causa do tecido fibroso, o espelbo que, na piacabeira, contém a fibra: “a piagaba ou piacava, como a chama~ mos na Bahia” (0 tupi na geografia nacional, 4. ed., p. 129, nota 203). 19~ DICK, Maria Viceatina de P. do Amaral —““A din&mica dos nomes na toponfmia da cidade de Sho Paulo. 1554-1897". Tese de Livre-Docéncia. FFLCH, USP, 1988. . 104 Rev. Inst, Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 sigdo: Ipamen (“entre rios” ~ AH GO), Ipaugu (‘‘ilha grande” — AH SP), Ipaupixuna (“‘ilha escura” — cach.PA). Dentro dessa linha de raciocfnio, o VLB utiliza ainda o formante pad (nhopaii), ou “Espacio entre duas cousas’’, em composigao com cad, para definir a “Ilha de mato ou campina”. De caapai, se ofiginou 0 capdo ou “Ilha de mato em campo limpo” e dele se deriva uma grande variedade de designativos, quer em autonomia sintagmética — Capao (BA GO MG. PR) ou em composigao — Capo Agi (i.AM), Capo Alto (AH MT), Capo Bonito (AH SP), Capfio da Areia (AH BA), Capo da Canoa (AH RS), Capfo.da Cruz (AH SP), Capiio da Marca (AH RS), Capdo da Volta (AH BA), Capfo de Heranga (AH RS), Capo do Jucu (AH BA), Capiio do Leo (AH RS), Capiio do Mato (AH BA), Capiio do Meio (AH BA); Capao do Tigre (AH RS), Cap&o dos Patos (AH RS), Capo Frio (AH BA), Capao Grande (AH MT), Capo Preto (AH MG), Capiio Queimado (AH BA), Capio Seco (AH MT RS), Capo Verde (AH MT). Chama a atengio o emprego quantitative do vocébulo e a disponibilidade paradigmstica dos formantes, destacando-se ‘os Estados do Rio Grande ¢ da Bahia como aqueles de maior incidéncia do- designativo. Dario Paes Leme de Castro define os baixios como uma “‘reentrancia de forma circular em terras marginais aos ris, aumentando-Ihes a largura”. Pa- mo VLB, 0 “‘Baixio do mar” € a fygpfeima, enquanto a grande.quantidade deles (os “‘Baixios muitos) € definida pelo vocdbulo reduplicado — Tigpigei- geigma, que a topon{mia ndo contempla como designativo. Note-se que, para a Terminologia geogrdfica do Brasil, o acidente (baixio) incorpora o sentido de “elevacao do fundo do mar ou dos rios, que descobre quando baixa a ma- ré ou © nfvel das 4guas do rio atinge a situago chamada vazante; so de. areia ou lama. Os bancos pelo seu crescimento natural, transformam-se.em coroas desde o dia em que a sua parte mais elevada atinge o nivel das 4guas mais baixas; quando se mantém sempre descobertas, siio “‘ilhas”. O.voc4bulo Portugués, entretanto, integra, ele proprio, o elenco onoméstico brasileiro, em duas modalidades: Baixio (AH CE MT, rcho. do, PE) e Baixio do Canto (AH CE). Também apigtera, que € a “‘Coroa de terra”, nao foi contemplada na topon{mia, mas dela pode ser exemplo, como variante, o arroio Apiteri, no Rio Grande. Do ponto de vista da natureza constitutiva do solo (yby), 0 VLB niio re~ gistra a forma genérica para barro, apenas as especi Ges: “Barro de qualquer terra vermelha - Igbipitanga’’ ; “Barro branco como cal — Tobatinga’’; “Outro amarelo com que se dé cor & louga — Tagod’’; “‘Qutro vermetho com q. se pinta — Tagoapiranga’’. Das quatro composig6es, apenas uma tem por base yby, as demais se es- truturando a partir da que poderia ser considerada como a primitiva, ou seja;: tagod, de que se fez taud ou tobd, tabd. Theodoro Sampaio a deriva de itd- guaba, “‘pedra ou argila de comer, barreiro”’. © barro branco ou a tobatinga era conhecido dos paulistas do século XVI, que o empregavam em suas construgées, ainda toscas, a ponto de So Paulo se caracterizar como uma cidade de barro. De barro branco era 0 Co-: légio dos Jesuftas, dizia o Padre Ferndo Cardim, assim como “as altas tor Rey, Inst, Eat. Bras:, SP, 3I:95-111, 1990 105 res”, “as casas térreas, os sobrados ¢... a cadeia”, segundo Benedito Lima de Toledo, estudioso da arquitetura paulista desde a €poca colonial. “Ponte grande de Tobatinga”’ ¢ “‘outeiro de Tobatinga” foram top6nimos da vila. E © caminho que levava o morador para o rio Tamanduatef, a sudeste, recebia © nome desse barreiro, a Tabatingiiera, que depois passou a denominar a rua af nascida, na atual Varzea do Glicério. O vocébulo pode ser interpretado como a pluralizagio de tobatinga — “os barreiros’ ou como Renee raneet ro”, o “barro velho”, por forga da composi¢ao com o sufixo puera (alt. ray buera, boera, uera, quera), 0 “‘velho, extinto, passado, o que ako é é nae Tabatinga, hoje, 6 topénimo no Amazonas, Maranhdo, Minas Gerais, Pa- tané, Rio Grande do Norte e Sao Paulo, além de Mato Grosso, Bahia e Piauf. A variante Taguatinga denomina uma das regides administrativas do Distrito Federal. Tagué nomeia um aglomerado na Bahia e Taguaf é acidente antrépico em Sao Paulo. Taud gera désignativos na Bahia, Cearé, Amazonas, Rondé6nia, Paré, Minas e Goifs, enquanto Tau4 Miri € aglomerado no Ama~ zonas. Tauapiranga — a toponfmia nao acolheu a forma expressa no VLB, Tagoapiranga — é aglomerado em Pernambuco, enquanto Ibipitanga (‘barro de qualquer terra vermelha”, segundo o VLB) é topénimo unico na Bahia, notando-se, ainda, que é neste Estado, juntamente com Amazonas e Minas Gerais, que se centralizam os denominativos da espécie. Todos esses exemplos demonstram fartamente como o uso transformou em top6nimo um vocébulo comum da lingua, da mesma forma qué acusam a persisténcia e a constfncia de seu emprego, continuamente, desde 0 Qui- nhentismo até os dias atuais. Dario Paes Leme de Castro diz que lama é o “‘trecho de terreno enchar- cado pelas chuvas” ou a “terra ensopada de dgua limpa”, dando como sin6-. igapd, tremedal, lezira, ipoeira, marema, puéra. No mesmo sentido, © VLB emprega as expressées /gbiguilma. Tujuca. Tujumaniina, “esta he hila muito alta em q. se atola muyto como em lagoas de agua doce”, além de Tujucuga, “Lamagal como quer”. Os mesmos tujuca e tujucuca sao utiliza- dos para definir 0 atoleiro. Theodoro Sampaio aponta para estas formas as alterag6es seguintes: ti- Juca, tujuco, tuyuca, tuyw, definindo-os como “‘l{quido corrupto ou podre, Jama, brejo, o tremedal, o charco, © paul”, Como compostos: Tuyuti (guara- ni) ou fuyutinga (tupi), “lameiro branco, o barro branco” ¢ tuyuyu (guarani) ou tuyu-tinga (tupi colonial), “Jama amarela”. As formas registradas originalmente no VLB, Tujuca e Tujnumiina, néo constam da toponimia atual, apenas as variantes mencionadas por Sam- paio: Tijuco, em sintagma simples (BA MG SP), com determinantes: Tijuco da Serra (r.BA), Tijuco Preto (AH PR SP), com sufixos: Tijucugu (AH ¢ rcho BA), Tijuquinha (AH SC), Tijucal (c. e i.PA, rib.GO), com fndice de plural: Tijucas (AH PI SC, ens. r. e sa. SC), Tijucas do Sul (AH PR). Ainda @ nomenclatura acusa estas ocorréncias: Tuiuti (AH SP), Tuiutinga (AH MG), Tuiti Mirim (c.RO), Tuiutizinho (AH MA). Um dos sin6nimos de lama, yapd, € interpretado como os: “‘alagados a margem dos grandes rios”, que Sampaio compara aos grandes banhados das margens do Amazonas e do vale do Paraguai. Aparece na toponimia em um tio do Estado do Parané. J4 a variante ygapé nomeia um aglomerado em Pernambuco. Empregava-se, porém, /gapoguac# para denominar as 4guas 106 Rev. Inst. Bet. Bras., SP, 31:95-111, 1990 vivas, enquanto as mortas foram definidas, no VLB, por /gapoigpaba, sem incid€ncias onomésticas. Relativamente 20 charco, verifica-se que € percebido pelo mesmo ele- miento significative que conforma a lagoa, ou scja, Upaba, Ignoonga. No entanto, Dario Paes Leme no aproxima os dois significados, o primeiro in- terpretando-o como uma “‘depressdo do terreno sempre alagado, com vegeta- go rasteira”, e a segunda, como uma massa d’fgua permanente, cercada de terra, de dimensGes menores que o lago e de pouca profundidade. J4 o tupi- ndlogo em que nos baseamos nesta andlise, aceita essa aproximagdo de con- terido, quando diz que upd ou upaba é a lagoa ou o lago, mas também o em- pocado, interligando, assim, as duas naturezas seminticas, Note-se, porém que, no verbete ““Brejo”, do VLB, esté consignado 0 termo uparana, que pode ser traduzido pela “falsa lagoa”, “a que parece lagoa mas no é”, idéia fornecida pelo sufixe rana, que indica sempre uma natureza ilegftima, no verdadeira. De qualquer forma, a toponfmia registra ocoréncias em upd, as- sim: Upacaraf (“lagoa sagrada”, AH RS, ar.RS), Upamirim (““lagoa peque- na”, AH BA), Upanema (““lagoa ruim, que no da peixe”, r.RN), Uparé (de “uparoba, a lagoa amarga” (TS), ar.RS), Upatininga (“‘lagoa seca’, AH PE). Nas crénicas antigas brasileiras, h4 referencias a lagoa Vupabussif, ou “lagoa grande”, descoberta em Minas Gerais por Femfo Dias, em suas en- tradas exploratérias das esmeraldas pelas quais deu a vida. O nome, porém, no esta mais registrado no fndice dos imos. © termo genérico para rocha, pedra, no VLB, € definido por itd, de que @ toponfmia acusa uma série de composigées, além do emprego do proprio elemento simples, Its (AH MT SC; ig.AM, i.MT, r.AP, tib.MT), apontando também o VLB as formas /tdtigba, para a pedreira (nome de um aglomerado em Sio Paulo) e /taguacd, para o penedo grande. Um dos nomes geogrificos comuns formados com itd e que se toponimi- zaram, € aquele constituide por itapecerica, tradicionalmente interpretada como a “lage escorregadia”, incorporando nessa formalizacio um aglomera- do em Minas Gerais ¢ um rio no mesmo Estado e outro na Bahia e, em com- posig&o, o sintagma Itapecerica da Serra (AH SP). No entanto, 0 significado que lhe confere 0 VLB é outro, isto é, “‘Agua que corre per lages e nfo em bica mas espalhado cubrindo toda a superficie”, desfocando-se, portanto, © n ulo do entendimento, da pedra para o L{quido. A respeito dessa posig&o do VLB, o Pe, Lemos Barbosa afirmara o seguinte: “Quanto aos nomes pré- prios geogréficos, apesar de nos ter conservado um bom mimero deles, Leo- nardo néo mostra grandes preocupagées etimolégicas.20 Porventura jé trope- garia com as mesmas incontéveis dificuldades na interpretagGo daquéles to- pénimos, alguns anteriores ao descobrimento, alguns talvez dados por tribos de outras Ifnguas, ¢ conservados pelos tupis, apds a conquista da costa, En- tretanto, 0 Vocabulério pelo simples fato de nos apresentar um repositério mais completo da lingua, veio abrir novas possibilidades aos estudos etimo- Idgicos. Vejam-se, entre outras, as seguintes informagées: «Aguoa que corre per lages .., — Itapecigrica’®.21 20—Trata-se do Padre Leonardo do Vale, a quem o Pe. Lemos Barbosa atribui a autoria do VLB, 21-0 ““Vocabulfrio na Itngua brasflica”, p. 27. Rev. Inst. Est, Bras,; SP, 31:95-111, 1990 107 Da mesma forma que itapecerica, outros vocdbulos indfgenas usados pa- ra designar acidentes geogrdficos, e citados também pelos antigos cronistas e viajantes, se toponimizaram Posteriormente. Foi o que aconteceu com itaipa- va: “‘estancia de pedregulho ou de seixos. E o vocdbulo indfgena para ex- primir um banco de cascalhos ou travessdo de pedras mitidas no leito dos Tios. Séo, Paulo, Rio, Parané” (TS)? (AH MA PA RJ, r.PA). Ou mesmo com itaparica, “‘cercado de pedras”, alusio, como diz Sampaio, a corda de recifes que precede certas partes da costa, esclarecendo que ‘‘a ilha grande da bafa de Todos os Santos deve o seu nome a esse fato” (AH BA, cach., i. e la.BA), ou ainda com icapara: ‘‘Canal e barra que estabelecem a comuni- cago entre a parte do Mar Pequeno com o Oceano, em Iguape. A tortuosi- dade deste canal ¢ os bancos de areia impedem que sejam grampeados pelos maritimos que preferem demandar a barra de Cananea com grande volta”,23 Como aconteceu com itapecerica, o vocdbulo itareré também apresenta um outro significado, além daquele que Ihe deu Sampaio, ou seja, “‘pedra es- cavada, conduto subterraneo, sumidouro; tubo, canal, cano”. No VLB, foi interpretado como “‘bica q. corre de sima de algu rocha ou penedia ou por ela abaixo”, o que vem a esciarecer a origem do topénimo. Todavia, a inter- pretacdo do tupinélogo foi contestada pelo Prof. Edelweiss que, em notas ao autor, diz o seguinte: ‘‘Itd-raré — canal ou rego natural, & guarani, mas nada achdmos que autorise a dar ao cano, @ calha, feitos de ferro, a mesma desig- nagao. Em tupi se diz itd-raré para os canais naturais”24, o que coincide com a grafia inscrita no.VLB, Itararé € top6nimo no Rio de Janeiro e em S40 Paulo. : Do ponto de vista dos acidentes humanos ou culturais, o VLB acusa al- guns registros. A aldeia ou povoado, a conhecida taba tupi, nao aparece na nomenclatura em autonomia sintagmética, apenas com formantes: Tabaf (“‘o tio da aldeia”, AH RS), Tabajara (“‘os aldedes, os senhores do povoado”, AH RO SP), Tabapua (“‘a aldeia elevada”, AH SP), Tabarana (“‘a falsa ta- ba” r. SP) Tabauna (“‘a aldeia preta”, AH MG). A cidade é tabucu ou tabe- te. O primeiro termo nao deixou vest{gios na onoméstica e, do segundo, hé a variante Taubaté (AH SP), “a cidade grande, considerdvel”, que nao pro- vém, assim, de taba-eté, como diz Sampaio, no que € contestado por Edel- weiss. A herdade recebia a mesma designaciio da roga, Cé; aquelas onde ha- via cagas se identificavam por Capigaba. Quanto 4 choupana ou casebre ristico, 0 VLB os identificava por Tapiya. Tejgiupaba; deste viltimo, encon- tra-se a variante Tejupd, nomeando um aglomerado em So Paulo. O VLB identifica “Beco” com “Rua estreita”, empregando, para defini- -los,o.vocabulo relativo 4 casa, oka, acompanhado do adjetivo mirim. A ma propriamente dita, ou.simplesmente nomeada, € a ocara ou ocapuct (puct = cdmprido), ou onhobaf, em cujo verbete consta esta observagao: “posto q. esta serue mais pa. o beco”’. Oca no € top6nimo em forma isolada, apenas 22~Cf. a respeito de , Relatos Mongociros ~ **Notfcia Bai. Pritica are coer d6 Culabhaog sven Preteadentes daquelas Minas”. Publ. anCom' TV Coace! ta Ciaae eS. Paulo, 1953, p. 161 ¢ 169, 23 - MARQUES, Manoel Euphrasio de de Azevedo ~. histéricos, geogrdficos, bio; €08, estatisticos e noticiosos da Provincia de S. Paulo. Publ. Com, IV Centen. da Cidade de S. 1954, Tomo, p. 320. 24—O mupina geografia nacional, 4.ed,, notal71, p. 117. 108 Rev. Last. Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 com determinantes: Ocaugu (AH SP). J4 Ocara (““praga, terreiro, largo”) € aglomerado no Cearé, Mas 0 ‘‘Sobrado” ou a “Casa alta” eram definidos, no VLB, por /gbaté, que também quer dizer “no sobrado, porg. quer seia nome quer aduerbio, que tudo tem , nao se aiunta preposic¢ao”, por compard-lo com 0 genérico “Lugar alto” ou “‘Alta cousa, ou altura para cima”. Outra explicagao para o uso do termo estd no verbete “‘Alto ser como casa, arvore, ee Os caminhos no foram contemplados na topon{mia atual, apesar de ex- plicitos no VLB. Assim, “Caminho de gente” era definido por pe ou xerape ou “‘o meu caminho, por onde eu ando”; o “Caminho maim” era peayba; o. “Caminho de lugar”, pidra; “Todo o caminho”, pepucui e a estrada, pepig- tera. Mas a Via Lactea, no linguajar quotidiano do fndio, se formou através de uma composigo com 0 designativo de caminho, donde: “Caminho de santiago no ceu, uia lactea — Tapyrape”, que identifica, atualmente, um rio e uma serra em Mato Grosso. Finalmente, o lugar deserto ou despovoado era chamado de Tatigbeima, Tabeigma, nenhum dos designativos tendo registros toponimicos, Todavia, do ponto estrito de uso denominativo, é preciso deixar claro que o VLB aponta, para certos casos, uma dupla nomenclatura indfgena e portuguesa, num tipico exemplo de superposigao lingii(stica. No final, po- rém, © que prevaleceu foi a designagao superposta, ou por desconhecimento da topon{mia anterior ou pela prépria vitalidade da Ifngua transplantada. Nao se trata, porém, do que Levy Cardoso aponta para a regifio norte, de uma tradugio fiel para o portugués dos nomes nativos, com excegdes, segura- mente, porque os conceitos séo outros; 0 que ocorreu, em tantos casos, foi a eliminago do designativo autéctone do uso corrente nacional, de que & exemplo o lago paraense Espelho da Lua, tradugdo do indfgena Jaciuarud. S4o estes os topénimos portugueses registrados no VLB ¢ seu corres- pondente indfgena: . 1 — Angra dos Reis — Ocarugu 2—Bahia de Todos os Santos ~ Quirigmure. Paraguacgu 3 —Cabo Frio — Jequei. i 4— Gauea, certo penedo do Rio de Janeiro — Metaraciga 5 — ha de Cananea — Itacoatiara 6 — ha dos Alcatrazes — Tigrigmimf 7 ~Iiha de San Sebastiio — Majepim 8 — tha dos Porcos — Amocogoaba 9 — ha das Coues — Tapepigtiga - 10- Ihha de Uictoria - Nhauiima 11- Ilha Grande — Igpaiiguagd 12- Dhha de Uillagalhio — Itamoguaya 13- Liha do Gato — Igbigcut 14— Itha de Sancta Anna — JapuguagGquegaba 15— Tha dos Frades na Bahia - Guend 16— Ihas de Maricaha — Jeruticaratiba 17- Theos, a capitania — Nhoecébé 18~ Dhaes ou ilhais dos Bois — Igquepuba 19- Morro de So Paulo — Tinharé 20- Rio da Prata—Iggoagd Rev. Inst, Eat. Bras.,SP, 31:95-111, 1990 109 21— Rio dos Patos nos.Cariyés = Jurimirf 22-Rio de S. Freo. da banda do Sul — 23-Rio Doce, junto da Capta. do Spirit bun Tegoagd |. 24—Rio das Carauellas iunto do Porto Seguro — Goaratiba 25— Rio de Janeiro — Nheteroya 26- Rio Grande de Porto Seguro — Jequitenhea 27- Rio das Contas — Joecéa 28— Rio Real — Piaguig 29- Rio de S. Freo da banda no Norte.~ Para . 30- Rio do Maranhéo — Tapucurugoaci. Em Sam Vicente. Paraupa- ba,porg. procede de mtas. lagoas. 31- Serra de Mestraluo (= de Mestre Alvaro) na Capta, do Spirito San- cto — Jacuf.25 A maioria desses nomes indfgenas hoje nfo é mais empregada como de- signativo, apenas alguns deles ainda se conservaram nos locais origindrios ou préximos a eles, como ocorre com Niterdi, no Rio de Janeiro, Guaratiba, na Bahia, Tinharé, que designa uma ilha nesse estado (26), Igoagu, no sul. Outros so aplicados em pontos distintos daqueles primitivos, de forma que no se pode vincular, hoje, o seu emprego a essa toponfmia e, sim, interpre- téslos como uma decorréncia de um fato de Ifngua, apenas. E o que transpa- rece em Paraguagu, Itacoatiara, Tbicu, Jacuf, Jurumirim, por exemplo. De qualquer'forma, porém, a toponfmia péde confirmar 0 que se posi- cionou de infcio, em relagéo a0 VLB: € ele 0 documento legitimo para 0 es- tudo do linguajar tupi do século XVI, refletido na geografia, pela antiguida- de de seus registros, retratando a tfpica cosmovisio do fndio e a sua maneira peculiar de referir-se aos fatos percebidos; 0 paralelo que se traga entre esses registros € a sua presenga na nomenclatura mostra o alcance da influéncia que o idioma exerceu no portugués, € o papel da Toponfmia como elemento conservador € preservador de uma linguagem néio mais corrente. Algumas consideragées podem ser destacadas do contexto analisado: a— Acidentes geogréficos ou nomes comuns ou simples designativos as sim tratados no VLB acabaram por se ‘firmar como topénimos, recebendo, eles préprios, em alguns casos, um complemento circunstancial. Ex: “Bahia ou enseada qualquer do mar — Paranagoa” (Paranegud, (AH AM PI PR); “Rio senérica = -plggoaed” (iguagu — AH BA MG PR RJ; Iguaguzinho — PR); b — O VLB clucida o emprego de certos termos geogrificos, que 0 uso acabou por lhes imprimir significado diferengada, o que ocorre com itararé e itapecerica, por exemplo. 25 — A respeito deste topénimo, consulte-se SOUSA, Gabriel Soares de, Nosicias do Brasil, Cap. XL1 “Em que se declara a costa do rio Doce até a do Espirito Santo” (p. 37/38). oor. 26-0 toptnimo Tinharé foi SOUSA, Gabriel Soares de-Ibidem, Cap. XXIX~“Em Guoes tarda acorrera cose cali nts doa da soe 'do Padi atf 0 rio de Camamo” (p. 28). 110 Rey Inst. Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 c —O VLB registra também uma toponfmia especffica para acidentes co- nhecidos através de outros nomes ind{genas e que foram, afinal, suplantados, muitos deles, pelo chamamento portugues, . d — A natureza de muitos dos designativos geogréficos registrados no. VLB, como j& lembrara Theodoro Sampaio ao se referir a0 contetido semfn- tico dos ‘nomes tupis, € de caréter descritivo (Paranagué, Paraguacu, Parau- paba), procurando, com certeza, evidenciar a relacéo com o referencial re- tratado, de modo a ressaltar seu aspecto mais evidente, desde que isso era? peculiar ao fndio, no tratamento dispensado aos fatos naturais, Quadro de abreviaturas AH = acidente humano ce cérrego cach, = cachoeira ens. = enseada i. = itha ig. la. lo. r. rcho. = riacho rib. = ribeirdo ‘ sa. = serra Recebido em 14 de jutho de 1989. ABSTRACT The Vocabuldrio na Ungua brastica is an feasible document in order to study the 16th. Century Tupi. Its geographic terms were. used like toponis ahi What we call basic toponitnic words, The present article is related to the listing these designatives and their aplicatioa in real toponimy. Key-words: Vocabuldrio na liigua brasfica — Basic toponimic words ~ Antonamasia a oponinisation of geographi:desinaives(oroninic, blitonimic, hidronimic and Rev. Inst, Est. Bras., SP, 31:95-111, 1990 . m

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