17 e 18 ENCONTROS
ESTUDO DE CASO (1/2)
O presente caso foi narrado no filme espanhol Mar adentro, que ganhou o
Oscar de melhor filme estrangeiro em 2005. O referido filme retrata o drama real
vivido por Ramn Sampedro.
Quando tinha 25 anos, Ramn Sampedro sofreu um acidente que o deixou
tetraplgico. Ramn conseguia movimentar apenas alguns msculos do rosto e
nada mais. O acidente no afetou seu crebro. Ele conseguia falar e at mesmo
escrever poesias com ajuda de terceiros. Era cercado de amigos e familiares, que o
apoiavam em tudo. Mas era infeliz. Sentia que sua vida era um tormento e no um
prazer. Achava que seria melhor morrer do que sobreviver daquele jeito. Portanto,
colocou na cabea que morrer era a soluo para o seu sofrimento.
Vale citar um trecho do prlogo do livro Cartas do inferno, que Ramn
escreveu para retratar seu drama:
No dia 23 de agosto de 1968 fraturei o pescoo ao mergulhar em uma praia e bater
com a cabea na areia. Desde esse dia sou uma cabea viva e um corpo morto.
Poderia dizer que sou o esprito falante de um morto. Se eu fosse um animal, teria
recebido um tratamento de acordo com os sentimentos humanos mais nobres.
Teriam posto fim minha vida porque lhes pareceria desumano deixar-me nesse
estado pelo resto da vida. s vezes um azar ser um macaco degenerado! [...]
Considero o tetraplgico como um morto crnico que reside no inferno. [...] No incio,
voc s pensa em se libertar. H somente duas alternativas: transformar-se em um
ser absurdo, ser o que no quer ser, um habitante do inferno; ou ser coerente com a
utopia da vida. Libertar-se da dor, buscar o prazer atravs da morte. Decidi-me pela
libertao, no como algo negativo, mas positivo: procurar algo melhor. A primeira
coisa que meus pais disseram quando lhes falei que queria morrer foi que me
preferiam assim, no queriam perder-me para sempre. [...] Essa foi a primeira vez
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que me deparei com o muro impenetrvel do paternalismo bem-intencionado.
1
SAMPEDRO, Ramn. Cartas do inferno. So Paulo: Planeta, 2005, p. 17-19.