Pesquisa PROTEÍNAS?
O exemplo das defensinas antifúngicas de ervilha
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A resolução (R) de uma coluna cromatográfica está diretamente relacionada com a separação obtida (S - determinada em
unidades de volume ou tempo) entre dois picos de amostra eluídas de uma coluna cromatográfica e inversamente
proporcional à largura de cada pico (L determinada em unidades de volume ou tempo). Dessa forma: R = S/L. Quando
R > 1,2, diz-se que se obteve uma separação com resolução a nível da linha de base (Janson e Rydén, 1998).
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O diâmetro molecular está diretamente relacionado com o peso molecular das substâncias, incluídas as proteínas. Para
uma proteína globular (formato mais próximo de uma esfera do que um bastão, por exemplo) de 5.5 kDa, seu diâmetro
molecular é de, aproximadamente, 30 Å.
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exemplo: sais para as
resinas de troca iôni- Durante a fase II de puri-
ca, solventes orgâni- ficação, devem-se levar em
cos para fase reversa e conta os seguintes itens: 1
solução contendo li- para uma purificação mais
gante específico para eficiente, é aconselhável a
as de afinidade). Na escolha de técnicas que ex-
Figura 4, apresenta- plorem seqüencialmente di-
mos, como exemplo, ferentes propriedades físico-
o último passo croma- químicas das proteínas; 2 a
tográfico aplicado na atividade da proteína deve
purificação das defen- ser acompanhada em todos
sinas de ervilha. Nesse os passos de purificação, as-
caso, as defensinas sim como a quantidade total
(Psd1 e Psd2) são elu- de proteína, uma vez que
ídas separadamente de esses parâmetros, em con-
uma coluna de fase Figura 5 Análise do conteúdo protéico dos passos de junto, são cruciais para a ava-
reversa por meio de liação da eficiência da purifi-
purificação de duas defensinas de ervilha (Psd1 5,5 kDa
um gradiente com cação. A atividade da proteí-
e Psd2 5,9 kDa) por eletroforese em gel de poliacrilami-
concentrações cres- na deve ser verificada pelo
centes de um solvente
da 18 %, na presença de SDS e β-mercaptoetanol (Almeida método mais simples e sensí-
orgânico (Acetonitri- e cols., 2000). As proteínas são visualizadas por incorpora- vel possível. A quantificação
la). ção de prata. Amostra 1, padrão de peso molecular; amos- protéica pode ser estimada
(III) A fase final inclui, tra 2, extrato bruto; amostra 3, fração precipitada com sul- pela absorção de luz na faixa
geralmente, um único fato de amônio F2; amostras 4 e 5, frações de proteínas de do ultravioleta (209-295 nm)
passo, que retira quais- alto peso molecular (PI) e, de baixo peso molecular (F- 4
ou através do uso de subs-
quer contaminantes PII), respectivamente eluídas da cromatografia de filtração tâncias que ou se ligam a
que porventura ainda em gel Sephadex G75 SF; amostras 6 e 7, Psd1 e Psd2 proteínas (como o corante
estejam presentes na eluídas da cromatografia de fase reversa C8 em sistema de Azul de Coomassie) ou rea-
amostra . Pode ser uma HPLC, último passo de purificação dessas defensinas gem com essas, resultando
liofilização que permi- em um produto colorido
ta a retirada de conta- (como o sulfato de cobre II
minantes voláteis sob baixas pres- pequeno diâmetro (por exemplo, presente no Reagente de Lowry). Essas
sões (em torno de 15 bar); uma 20 Å), forçada por pressão, entre duas últimas são técnicas mais específi-
diálise para excluir sais ou outras outras técnicas. No exemplo ado- cas, porém mais trabalhosas; 3 a puri-
moléculas não voláteis da solução tado as defensinas Psd1 e Psd2 ficação também pode ser acompanhada
protéica, ultrafiltração, que encer- eluídas da coluna de fase-reversa usando-se anticorpos específicos, tanto
ra o mesmo propósito que a diáli- são liofilizadas com vistas a elimi- por Dot Blotting como por Western
se, porém tem como princípio a nar a acetonitrila e o ácido trifluo- Blotting 5; especialmente no caso de
filtração da solução de proteína racético (TFA) usado no processo proteínas cuja atividade não seja co-
por uma membrana com poros de cromatográfico. nhecida, 4 o conteúdo protéico de
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Proteínas absorvem luz na faixa do ultravioleta por duas vias principais: em torno de 280 nm, ocorre a absorção por
grupamentos aromáticos presentes na cadeia lateral do triptofano, tirosina e fenilalanina e, em torno de 210 nm, ocorre
a absorção de luz pelas ligações amídicas da proteína, conhecidas especificamente como ligações peptídicas (Deutscher,
1990).
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Técnicas onde se avalia a presença de uma proteína por reconhecimento do anticorpo primário feito especificamente
para tal proteína. A revelação é feita usando-se um anticorpo secundário que reconheça a porção FAB do anticorpo primário
e que esteja conjugado geralmente a uma enzima que participe de uma reação onde um de seus produtos apresente
coloração. O Dot Blotting diferencia-se do Western Bloting, pois, no primeiro caso, a amostra a ser analisada é aplicada
simplesmente em um suporte (geralmente membrana de nitrocelulose); já no segundo caso, a amostra provém de um gel
de eletroforese, de onde as amostras são transferidas para o suporte por ação de um campo elétrico.
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Na eletroforese sob condições desnaturantes, as proteínas inicialmente são tratadas com um detergente aniônico (SDS
dodecil-sulfato de sódio), que se liga não covalentemente às proteínas tornando-as espécies negativamente carregadas,
além de desenovelá-las. Essas proteínas tratadas são então aplicadas no início de um gel (que funcionará como uma espécie
de peneira molecular) e, finalmente, submetidas a um campo elétrico que impulsionará tais proteínas através do gel.
Proteínas de grande peso molecular farão em percurso menor que proteínas de menor peso molecular. Na eletroforese
bidimensional, as proteínas são aplicadas em um gel com formato bem alongado que possua um gradiente de pH
(estabelecido por eletrólitos anfotéricos previamente submetidos à eletroforese) e submetidas a um campo elétrico que
as impulsionará até a faixa do gel que possua o pH igual ao pI (ponto isoelétrico) de cada proteína. Nesse ponto, as proteínas
pararão de migrar no gel, pois assumirão carga média nula. Finalmente, esse gel é colocado de lado no início de outro gel
para separar por eletroforese as proteínas de diferentes pesos moleculares. Em ambas as técnicas, a proteína é evidenciada,
na maioria dos casos, por coloração com Azul de Coomassie ou pela impregnação de Prata.
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Tipo de Característica da Condição Inicial Eluentes Condição Final da Custo
Cromatografia Proteína da Amostra Amostra
Gel Filtração Volume molecular Volume da amostra Qualquer solução Amostra diluída em +
<5% do volume da aquosa eluente
coluna
Troca Iônica Carga Baixa concentração Soluções salinas ou Amostra concentrada ++
iônica com pHs distintos em solução salina
da condição inicial
Interação Hidrofobicidade Alta concentração Soluções com baixa Amostra concentrada ++
Hidrofóbica de sal concentração salina em solução salina
Fase Reversa Hidrofobicidade Não pode conter altas Solvente orgânico Amostra sem sais em +++
concentrações de sais solventes voláteis
Afinidade Especificidade à Condições específicas Alta concentração de Amostra concentrada +++
ligantes para ligação ligante ou sais contendo ou não
ligante
Tabela I Classificação das técnicas de cromatografia líquida de acordo com a característica físico-química que é explo-
rada das proteínas. A condição inicial necessária para a realização da técnica, os eluentes mais comuns e as condições em
que a solução de proteína ficará após sua eluição da coluna são citados. O custo geral do processo é classificado levando-
se em conta os valores aproximados das colunas e dos acessórios geralmente empregados em cada técnica
todas as etapas deve ser avaliado por devem ser identificados apenas os sinais proteína de interesse, as propriedades
eletroforese unidimensional (Figura 5) de ressonância da proteína. da própria proteína e sua finalidade.
ou bidimensional em gel de poliacrila- Existem diversas outras técnicas ana-
mida 6. Através dessas análises é possível líticas bem mais simples e baratas para AGRADECIMENTOS
verificar se a amostra se encontra no se atestar com boa certeza a pureza da
grau de pureza desejado, ou se novos amostra. O procedimento mais comum Agradecemos a Katia S. Cabral, Luis
passos de purificação serão necessários; é a eletroforese em gel de poliacrilamida E. Diaz, Melissa A.F. Silva e Roberto P.
5 - é comum sacrificar razoavelmente a (Figura 5), que é um método rápido e Campelo por valiosas sugestões e pela
recuperação da proteína em prol de um sensível, especialmente se o gel for verificação ortográfica.
grande enriquecimento; desse modo, corado por impregnação de prata (sen-
uma boa prática é iniciar a purificação sibilidade de até 10 ng de proteína por REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
com passos simples e com menor reso- banda), porém não tão confiável, pois
lução, que geralmente são baratos e de separa as proteínas apenas por um tipo Almeida, M.S., Cabral, K.M.S., Zingali,
maior capacidade, e, no decorrer do de característica físico-química (peso R.B., & Kurtenbach, E. (2000). Cha-
processo, ir aumentando a seletividade molecular). Outro procedimento muito racterization of two novel defense
e a resolução dos passos de purificação, empregado é a eletroforese bidimensio- peptides from pea (Pisum sativum)
que são mais caros e possuem menor nal, que já é muito mais confiável, pois seeds. Arch Biochem Biophys 378,
capacidade; 6 procure manter o pro- distingue as proteínas de duas maneiras 278-286, doi: 10.1006/abbi.2000.1824.
cesso de purificação o mais simples diferentes (peso molecular e ponto iso- Almeida, M.S., Cabral, K.M.S, Medeiros,
possível, de maneira que barateiem e elétrico). L.N., Valente, A.P., almeida, F.C.L.,
encurtem o processo, além de aumenta- Adicionalmente, a pureza da amos- Kurtenbach, E. (2001). CDNA clo-
rem a recuperação da proteína em ques- tra pode ser indicada com ótima confi- ning and heterologous expression
tão. abilidade por algum tipo de cromato- of functional cysteine-rich antifun-
grafia em coluna quando realizado em gal protein Psd1 in the yeast Pichia
QUALIFICAÇÃO DA PUREZA sistemas de HPLC, que dispõem de pastoris. Arch Biochem Biophys 395,
diversos detectores altamente sensíveis doi:10.1006/abbi.2001.2564.
Para se atestar a pureza final da (como detectores tipo diode array, Deutscher, M.P. (1990). Guide to Protein
proteína, podem ser usadas várias técni- que determinam a absortividade do elu- Purification. Method. Enzymol. 182.
casque apresentem sensibilidades varia- ído da coluna em todo espectro de luz Janson, J.C. and Rydén L. (1998). Protein
das. visível e de ultravioleta). Esse último Purification Ed. Wiley-VCH. 2nd
Uma das maiores provas de que a método carrega a vantagem de poder edition.
proteína está livre de contaminantes ser um passo final da purificação da Ho, P.L., Kitahara, E., Ogawa, D.M.O.,
protéicos é obtida por seqüenciamento amostra. Silva, A.R.B.P., Ramos, C.R.R., Nasci-
peptídico automático, onde se deve Em resumo, deve-se ter em mente mento, A.L.T.O. (2000). A arte de
identificar apenas uma seqüência. Pode- que não existe um protocolo definido purificar proteínas: Uma nova tecno-
se identificar outras impurezas além das para purificação de proteínas. É neces- logia cromatográfica para uso bio-
de natureza protéica por espectrometria sário desenvolver um protocolo especí- tecnológico. Biotecnologia, 13, 24-
de massa, onde deve constar apenas um fico, utilizando-se os diversos métodos 26.
íon molecular (ou os derivados de sua de purificação existentes de uma forma Lander E.S. et al. (2001). Initial sequen-
clivagem), e/ou por ressonância mag- coerente com as características do ma- cing and analysis of the human ge-
nética nuclear de alta resolução, onde terial de onde se deseja purificar a nome. Nature, 409, 860-921.
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