Marcelo Freixo*
A cidade do Rio de Janeiro possui mais de 800 favelas, onde vivem mais de
um milho de pessoas. Em praticamente todas as comunidades existe o trfico
de entorpecentes. Exceo feita para algumas favelas na Zona Oeste, onde o
domnio feito por grupos de policiais que controlam a segurana, o transporte
alternativo, a distribuio do gs e outros servios. Por mais que menos de 1%
dos moradores esteja envolvido com o trfico, no combate a este comrcio
de drogas que podemos ver focada toda a poltica de segurana do governo
estadual. Seria este trfico o grande crime organizado do Rio de Janeiro?
Estudo do professor Igncio Cano demonstrou que 67% dos casos de auto de
resistncia a vtima apresentava tiros na nuca e disparados a curta distncia.
Os laudos no deixaram dvidas que por trs destes registros existe
mascarada a prtica da execuo sumria. Esta realidade atinge diretamente
os jovens pobres das favelas e provoca a perversa inverso do nus da prova,
pois se um jovem com estas caractersticas morto pela polcia e registrado
como auto de resistncia, cabe a famlia provar que seu filho era inocente.
Outra prtica que consolida a criminalizao da pobreza o mandado de busca
genrico ou coletivo. Contrariando a lei brasileira, estes no especificam
endereos ou pessoas, mas abrangem toda a comunidade. Este o momento
onde todos os moradores so criminalizados pela polcia e pelo judicirio.
Evidentemente estes mandados so exclusivos para as favelas, consolidando
assim o etiquetamento penal dos setores mais pobres da sociedade. verdade
que a polcia sempre invadiu as casas das favelas sem qualquer necessidade
de mandado judicial. O que assistimos, ento, a adequao da justia ao
opressora da polcia sobre os guetos. a legitimao da ao ilegal e
truculenta da polcia.