Marina V. Ferreira
marina.v.ferreira@hotmail.com
PPGMNE, Centro de Estudos de Engenharia Civil - Bloco LAME/CESEC,
Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná
Liliana M. Gramani Cumin
l.gramani@gmail.com
Departamento de Matemática - UFPR, Caixa Postal 019051, CEP 81531-990, Curitiba, PR
Eloy Kaviski
eloy.dhs@ufpr.br
Departamento de Hidráulica e Saneamento - UFPR, CEP 81531-970, Curitiba, PR
q = ρ u. (1)
∂ρ ∂ρu
Pela equação (4), pode-se dizer que o termo + é constante e representa a equação
∂t ∂x
da continuidade de um fluxo unidimensional, ou seja
∂ρ ∂ρu
+ = 0. (5)
∂t ∂x
Essa equação expressa o seguinte princípio físico: consideremos uma quantidade de pedestres
em uma via, num determinado período de tempo. A equação da continuidade diz que essa quan-
tidade é constante durante todo o percurso, ou seja, não entra e nem sai pedestres do sistema.
Contudo, neste artigo será analisada uma possível entrada de fluxo, ou seja, uma entrada
de pedestres durante o processo de caminhada. Portanto a equação (5) transforma-se em:
∂ρ ∂ρu
+ = f (x, t), (6)
∂t ∂x
onde f (x, t) é uma função que representa a entrada de pedestres no sistema considerado.
3. RELAÇÃO ENTRE VELOCIDADE E DENSIDADE
Existem diversos modelos conhecidos na literatura que fornecem a relação entre a veloci-
dade e a densidade, para que possa ser calculado o fluxo de pedestres. Virkler e Elayadath (2,
Virkler94), estudaram exaustivamente as relações analíticas entre estes três parâmetros em um
túnel pedonal usando uma gravação de vídeo em que sete modelos foram testados.
Alguns desses modelos serão usados para se fazer comparações com os resultados obtidos
com o modelo linear e com o modelo não linear resolvidos através da equação (6), com uma
entrada de pedestres.
• Greenshields (5, Greenshilds34) assume u = a1 + b1 ρ, com a1 > 0 e b1 < 0
• Greenberg (6, Greenberg59) assume u = a2 ln bρ2 , com a2 > 0 e b2 > 0
− bρ
• Underwood (7, Underwood61) assume u = a3 e 3 , com a3 > 0 e b3 > 0
A relação linear entre densidade e velocidade e a relação não linear utilizadas, com seus
respectivos fluxos, serão:
• u = a + bρ e q = aρ + bρ2 onde a e b são constantes, com a > 0 e b < 0.
• u = cρs−1 e q = cρs , onde c e s são constantes, com c > 0 e s < 0.
∂ρ
Se o valor de ρ for especificado ao longo da curva C, pode ser determinado ao longo
∂x
dessa característica pela equação (11). Para a equação (18), sabe-se que os valores das primeiras
∂ρ
derivadas de ρ ao longo das características podem ser indeterminados. Portanto, para que
∂x
seja indeterminado ao longo de C, deve-se ter
µ ¶
dx
a + 2bρ − = 0, (12)
dt
ou
x − x0 = ρ1 (t − t0 ), (18)
Nos casos em que mais de uma característica passa por um mesmo ponto (x, t), neste ponto
a solução apresenta uma descontinuidade e há a formação de um choque. Esse tipo de situação
é bastante comum fisicamente.
Admitindo dados experimentais da literatura (3, Older68) onde a = 1.4 e b = −0.35
(que serão melhor explicados na seção seguinte) e assumindo f (x, t) = 0 para t ≥ 1800,
(x0 , t0 ) = (0, 1800), obtêm-se
Os problemas que envolvem diferenças finitas necessitam que seja determinada uma lig-
ação entre o intervalo de discretização no espaço ∆x e o intervalo de discretização no tempo
∆t, como conseqüência da condição de estabilidade do esquema. Esta ligação (normalmente é
chamada de condição de Courant-Friedrichs-Lewy - CFL (8, Fortuna00)) pode ser formulada
da seguinte forma
λ≤1
onde λ é o número de Courant.
Fazendo aproximações por diferenças finitas para a equação (6) e satisfazendo a condição
de CFL , escreve-se
∂ρ ¯¯ ρk+1 k
j+1 − ρj+1
¯ = + O(∆t),
∂t j ∆t
(22)
∂q ¯¯
k+1
qj+1 − qjk+1
¯ = + O(∆x).
∂x j ∆x
Assim, substituindo a equação (22) na equação (6), escreve-se a equação geral como:
ρk+1 k
j+1 − ρj+1
k+1
qj+1 − qjk+1 k+1
fj+1 + fjk+1
+ = , (23)
∆t ∆x 2
ou
∆t
• =λ
∆x
¡ k+1 ¢ ¡ k+1
¢
∆t
• ∆x qj + ρkj+1 + ∆t
2
fj+1 + fjk+1 = Ω
Assim, a equação (24) fica resumida a:
k+1
λqj+1 + ρk+1
j+1 = Ω. (25)
Assumindo o modelo linear para a velocidade e expressando o fluxo como
q = aρ + bρ2 , (26)
a equação
³ ¡ (25) é reescrita como:
k+1
¢ ¡ k+1 ¢2 ´
λ a ρj+1 + b ρj+1 + ρk+1
j+1 = Ω
ou ainda,
onde ρk+1
j+1 = r.
q = cρs , (28)
Tendo a equação (25) e substituindo o fluxo q por (28), tem-se:
¡ ¢s
λc ρk+1
j+1 + ρk+1
j+1 = Ω
ou ainda,
λcrs + r − Ω = 0. (29)
Então, a equação (6) será resolvida numericamente utilizando as equações (27) e (29), com
os casos de relações lineares e não lineares entre a velocidade e a densidade, respectivamente.
• Deve-se observar que a equação (27) é quadrática, o que nos leva a encontrar dois valores
para r, ou seja, duas raízes, onde só se pode admitir valores positivos (r ≥ 0), pois r
está representando a densidade e esta tem que ser maior ou igual a zero. No caso que
seja encontrado duas raízes maiores do que zero, admiti-se a de menor valor, ou seja, a
solução que está mais próxima do valor do instante anterior. Além disso, pode-se fazer
algumas outras considerações. Tem-se como condição importante que
• Para a equação (28), também é necessário ser colocado condições. Observa-se que
quando a densidade ρ tende a zero, o fluxo q tende ao infinito. Assim é necessário admitir
a existência de uma densidade crítica ρcrit e também uma densidade máxima ρmax , onde
faremos:
½ (s−1)
q = ρk se ρcrit ≥ ρ e k = cρcrit
(30)
q = cρs se ρcrit < ρ ≤ ρmax
Observa-se que a equação (31) e a mesma encontrada pelo método das características (21).
Assim tem-se
Os gráficos mostrados no canto direito de cada figura são resultados comparativos obtidos
por outros autores. Lembrando que nesses outros trabalhos foi utilizada a equação (5) e neste
artigo foi utilizada a equação (6), ou seja, admiti-se entrada de pedestres.
6. CONCLUSÕES
O método das diferenças finitas (MDF) sempre foi aplicado pelos pesquisadores da área de
escoamento de fluidos. Os problemas de escoamento são altamente não-lineares. Os pesquisadores
do MDF se concentraram na tentativa de dominar as equações de não-linearidades que surgem
nesses problemas.
Em problemas com convecção dominante (15, Maliska95), o MDF produz instabilidades e
motivou a realização de pesquisas para o aprimoramento do método de volumes finitos (MVF),
no qual as equações aproximadas são obtidas através das equações de conservação das pro-
priedades envolvidas no problema.
Na solução de problemas de mecânica dos fluidos, representados pela equação de Saint-
Venant existem MDF muito testados, que solucionam uma grande variedade de problemas,
com amplas vantagens sobre os outros métodos (14, Li74).
Neste trabalho, em que representa-se o movimento de pedestres por um modelo derivado
das equações de Saint-Venant, denominado de modelo não-linear da onda-cinemática, aplicou-
se um MDF proposto por Li (14, Li74), não-linear e de primeira ordem, solucionado em cada
intervalo do espaço e instante de tempo pelo método da falsa-posição (13, Claudio89).
Verificou-se que a equação macroscópica do fluxo de tráfego de pedestres (6), tanto para
o modelo linear como para o modelo não linear e, ainda, para os modelos de Greenberg e Un-
derwood, que também foram analisados graficamente admitindo entrada de pedestres na pista,
comportou-se como o esperado e já visto em outros estudos feitos por Kerner (10, Kerner04) e
que se aproximaram muito dos gráficos apresentados por Daamen (17, Daamen05).
O MDF proposto por Li é consistente, convergente e incondicionalmente estável. Através
de testes numéricos realizados por Li verificaram-se que os máximos erros relativos, que podem
ocorrer nos valores dos fluxos máximos estimados, são sempre menores do que 0.5% (testes
realizados para 0.02 (m/s) ≤ dt/dx ≤ 2 (m/s)).
A comparação para o método das aproximações por diferenças finitas foi feita utilizando-se
o método das características, com o qual encontramos equação similar a obtida na literatura e
que foi analisada computacionalmente através do método das diferenças finitas.
ACKNOWLEDGEMENTS
Referências
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