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EMOLUMENTOS NOTARIAIS E DE REGISTRO: DESVENDANDO OS SEGREDOS DESTA ESFINGE LOS HONORARIOS NOTARIALES Y DE REGISTRO: DESENTRANAR LOS SECRETOS DE LA ESFINGE Emanuel Costa Santos RESUMO Partindo do reconhecimento da pouca dedicago dos constitucionalistas 3 tematica dos servicos notariais e de registro, objetiva este estudo fomentar seu debate pelo prisma eminentemente onstitucional, abordando mais especificamente a questo dos emolumentos devidos a notarios e registradores pela prestago de tais servigos, detectando sua destinacao e os elementos que 0 integram. Uma, ver fomecido um concejto basiar de emolumentos que; atenda 2 vontade tragada, pelo onstituinte, necessério se fara perquirir sobre sua natureza juridica, para saber se ainda ha que se falar que tal contraprestacao paga pelo usuario dos servicos notariais e de registro se insere na espécie tributaria denominada taxa, notadamente apés_ a_ Aco _Direta_ de Inconstitucionalidade 3,089, a qual foi julgada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal, que onfirmou a constitucionalidade da cobranca do Imposto sobre Servigos de Qualquer Natureza sobre os servicos notarials e de registro, Saber se na vigente ordem constitucional predomina ou nao a doutrina e jurisprudéncia até entdo dominantes, no sentido de que emolumentos se enquadram na espécie tributéria denominada taxa, constitui um dos objetivos deste trabalho. Finalmente, seré abordada a competéncia dos entes federados em matéria de emolumentos, notadamente no que tange sua competéncia legisiativa. PALAVRAS-CHAVES: Emolumentos. Servicos notariais e de registro. Notarios. Registradores. Taxa. Federacéo. Competéncia. RESUMEN Partiendo del reconocimiento de la poca dedicac3o. de los constitucionalistas a la temética de los servicios notariais y de registro, objetiva este estudio fomentar su debate por el prisma eminentemente constitucional, abordando mas especificamente la. ctiestién de los emolumentos debidos a notarios y registradores por la prestacion de tales servicios, detectando su destinagao y los elementos que lo integran. Una vez suministrado un concepto basilar de emolumentos que atienda la gana trazada por el constituinte, necesario se hara perquirir sobre su naturaleza juridica, para saber si atin hay que hablarse que tal contraprestacion paga por el usuario de los servicios notariais y de registro se inserta en la especie tributaria denominada tasa, principalmente después de la Accién Directa de Inconstitucionalidad 3.089, la cual fue juzgada improcedente por el Supremo Tribunal Federal, el cual confirmé la constitucionalidade del cobro del Impuesto sobre Servicios de Cualquier Naturaleza sobre los servicios notariais y de registro. Sepa si en la vigente orden constitucional predomina o no la doctrina y jurisprudéncia hasta entonces dominantes, en el sentido de que emolumentos se enquadran en la especie tributaria denominada tasa, constituye uno de los objetivos de este trabajo. Finalmente, ser abordada la cualificacién de los entes federados en cuestién de emolumentos, principalmente en el que tange a su cualificacién legisiativa. PALAVRAS-CLAVE: honorarios. Servicios notariais y de registro. Notarios. Registradores. Tasa. Federaci6n. Cualificacion. tapes ea 0X Carne Nara CONPED ac Fone SC non Sa 13, 416.8 8 Ons 210 sr 1, INTRODUCAO. Decorridos mais de 20 anos da promulgago da Constituigio Federal de 1988, alguns temas nela elencados no receberam da doutrina constitucional tratamento especial ou, ao menos, um pensar mais aprofundado, inviabilizando o descortinar de sua natureza juridica, com consequente repercusséo no mundo real, no plano da efetivagio de direitos. Vistos, talvez, como verdadeiros apéndices — cujo tratamento poderia se bastar em uma legislagio infraconstitucional -, slo menosprezados ou jogados na vala comum de diversos outros institutos juridico- constitucionais. Nesse sentido, vem passando despercebida pela doutrina constitucional a temética pertinente aos servigos notariais e de registro, sua fungiio scio-econdmica e sua repercussio na rotina dos cidadiios. ‘Nao precisa um olhar muito profundo para perceber sua importincia na vida das pessoas, marcando-as indelevelmente com sua presenga, desde o inicio da vida até a passagem final, literalmente falando, Desde 0 nascimento, so naqueles servigos que repousam o surgimento da cidadania, 0 direito de propriedade, a seguranga juridica, com clara repercusstio no respeito a dignidade da pessoa humana. A certeza do possuir uma personalidade, em seu sentido juridico, a fruigdo de diversos direitos decorrentes desta certeza, a obtengio, manutengio e gozo de bens caros a existéncia humana e a perpetuacio da trajetéria de vida de cada um dos nascidos neste solo e de muitos que nele residem, encontram eco nos servigos notariais ¢ de registro, sem que a grande maioria da populagiio se aperceba deste fato. Em poucas palavras, nos registros piblicos e nas notas se encontram a histéria de vida das pessoas, das familias, de uma comunidade, do Pais, assim como a trajetéria da formagio da propriedade imobilidria, consistindo-se em servigos voltados & estabilidade das relagdes juridicas, a certeza de direitos. ‘N&O bastassem para despertar o interesse dos constitucionalistas o aspecto histérico ¢ as finalidades juridico-sociais insitas aos servigos notariais e de registro, tem-se a considerar o aspectoeminentemente econdmico que exercem na sociedade, refletindo na concesso do crédito, no desenvolvimento de importantes setores econémicos ¢ na aquisigao da propriedade imobilidria, Nesse sentido, ensina Pena Quirés[1} (2001, p.490): El registro, al dar seguridade a los derechos inscritos, facilita su trafico y facilita el crédito y, sobre todo, el crédito territorial; ha contribuido, asf, al desarollo de la economia (la construccién, la agricultura, la industria), y también ha facilitado la eps nosh ox Cong Nacon oCONPED azn on Fart SC a1 4188 8 Outre de 200 so multiplicacién de los propietarios (al contribuir a la seguridad de la adquisicién de pisos y locales a plazos). (MANUEL PENA BERNALDO DE QUIROS, 2001, p. 490) Analisando-os nessa s fundamentais a existéncia e ao desenvolvimento da cidadania, necessirios 4 aquisigfio © & preservacHo de diversos direitos individuais, 0 constituinte, via artigo 236 da Constituigdo Federal, concedeu tratamento especifico a esses servigos. Porém, o desprezo da doutrina constitucional pelo estudo mais aprofundado de tal dispositivo gerou ~ ¢ gera — a sensagio que os atuais servigos notariais e de registro existentes no Brasil so idénticos aos prestados pelos “cartérios” no Brasil colonial e que ainda mantém as mesmas finalidades e 0 mesmo status juridico, No dizer de Frederico Viegas(2} (2004, p. 315), “[...Jlogo temos a impressiio de estarmos nos referindo aqueles servigos meramente copiadores e autenticadores de uma documentagdo, fundamentado em principios de direito que remontam ao Brasil Colonial." siléncio ¢ a omissio doutrinério-constitucional levam a crenga que nada mudou, fazendo com que, na pritica, em alguns recantos do Pais, nada mude, A ciitica se tora mais contundente quando se verifica que pelo sistema chancelado consttucionalmente, esti-se diante de uma atividade eminentemente juridica, a qual vem caminhando sem o cuidado doutrindrio-constitucional que merece. “Tal caracteristica de atividade juridica foi afirmada por Luis Paulo Aliende Ribeirol3] (2009, p.49), que, a0 discorrer sobre 0 regime juridico das atividades notariais e de registro, consignou que seus servigos “[..Jtém por objeto atividade Juridica, endo ‘material, razao pela qual nao se incluem em definides mals restritas de servigo piblico, 0 que ndo afetao reconhecimento de que ‘se trata de fargo pibica.” E na Constituigio Federal, e no em outro lugar que n&o seja a Carta Maior, que devem ser fincadas as bases nio s6 de interpretagao do Direito, mas também de sua aplicagio. E como interpretar os servigos notariais e de registro ainda tomando por base as regras infraconstitucionais? ‘Nessa ordem de ideias, ao considerar o atual sistema constitucional, forgoso concluir que mesmo os temas , uma vez tendo sido constitucionalizados, também devem sofrer o impacto da leitura e aplicagao igualmente constitucionais. outrora explorados exclusiva ou preponderantemente pelo legislador ordinds Versando sobre a constitucionalizagao do Direito, ensina Barroso[4] (2009, p.358): © fenémeno da constitucionalizagio do Direito tem como ponto de partida a passagem da Constitui¢do para o centro do sistema juridico, de onde foi deslocado + tmomo pated ns An o XX Carre Nacoa 0 CONPED tags Forse SCns Sa 1,16, 158 16 ce CHIH 200 so © Cédigo Civil. No Brasil, a partir de 1988 e, especialmente, nos diltimos anos, a Constituigio passou a desfrutar, além da supremacia formal que sempre teve, também de uma supremacia material, axiolégica, potencializada pela abertura do sistema juridico e pela normatividade dos principios. Compreendida como uma ordem objetiva de valores, transformou-se no filtro através do qual se deve ler todo 0 ordenamento juridico. (LUIS ROBERTO BARROSO, 2009, p. 358) E este 0 convite deste trabalho: debater o tema proposto sob o prisma eminentemente constitucional, ‘Sem embargo dos relevantes servigos prestados ao longo de décadas pelos “cartérios” e das mazelas que Ihes foram apontadas, em um sistema como o brasileiro, que possui uma Constituigtio Federal rigida, a tao- 86 adogaio de um tema no plano constitucional j4 deve ser motivo suficiente para chamar a ateng&o dos constitucionalistas. Compreender os motivos da adogo de um assunto no plano constitucional originério suas conseqliéncias € 0 caminho natural para impactar o plano da efetivagao, e a omissio leva & perpetuagio de ideias e comportamentos ja superados pelo ordenamento constitucional. 'Nesse sentido, vale lembrar o ensinamento de Barroso[] (2009, p.294 € 295): ‘cumprimento ou ndo de sua funedo social nao pode ser estranha ao seu objeto de interes e de estudo. ‘0 Direlto existe para realizar-se ea verficagao do Allbearem-se 05 consttucionalistas, tal qual o vulgo, 0 estudo — nfo preconceituoso — do sistema notarial e de registro, no viabiliza ‘um olhartécnico ¢juridico sobre o objeto de estudo que, mal ou bem, certo ou errado, est inserto na Carta Maior. E de tal estudo e observagdo certamente resultardo proficuos frutos para © proprio aperfeigoamento dos servigos¢ para o exercicio da cidadania, a efetivagdo de direitos e o respeito a elementos que compdem a dignidade da pessoa humana em diversos momentos de sia vida. 1Na pereepgo desse vazio doutrinirio-constitucional, em desarrazoada desproporgo com a jurisprudéncia da Corte Constitucional sobre o assunto, & que se insere o presente trabalho, Mais especificamente, para um assunto que influ direta ediariamente na vida de mithares de cidados: os emolumentos notariais e de registro, © foco desse trabalho nto seré analisar com profundidade cada legislagdo ordindria que verse sobre o assunto ou cada fato gerador de tis emolumentos, mas inserir © compreender o tema no plano consttucional, o que permitiré, em momento mais oportuno, © debate de temas especificos e como a tratativa do tema emolumentos pode ¢ deve servir como instrumento de efetivagio de direitos. Para Que a finalidade seja aleangada, ¢ de fundamental importincia a compreensio da temética proposta dentro do contexto de Estado Federado adotado pelo Brasil, para se delimitarem as eompeténcias de cada ente federativo no trato da matéria. Em muito restard este autor satisfelto se conseguir fincar, ainda que minimamente, um conceito basilar do que sejam os cemolumentos notariais e de registro, identificando os elementos que o compBem, sua naturezajuridicae as esferas de competénci dos entesfederados em sua disciplina, “npn nos A eX Carns Naon So CONPED lego Poni GC maa 13, Silo pressupostos basicos para, em um posterior estudo, trazer A baila temas como a opsdo constitucional pela gestio privada do exercicio dessa fungio piblica, o custo do servigo notarial e de registro no Pais e a ‘garantia do acesso & propriedade imobilidria como fonte da cidadania e dignidade da pessoa humana. Marcados tais fundamentos de ordem constitucional — significado da expresso emolumentos, sua natureza jjuridica e esfera de competéncia dos entes federados -, restaré apontado 0 norte a ser seguido pelos profissionais do Direito que se relacionem com os servigos notarié tro e assegurado aos ccidadaos bases sélidas para a busca da concretizaco de seus direitos perante tais servigos. e de rej 2. EMOLUMENTOS: CONCEITO E fato que Brasil nto ess amplamenteacosturado ao que denomino de viverconstitucional, podendo, mesmo, afimar-se que 0 Estado Consttcional brasileiro ainda ext em fase de frcesimento de suas bases. Como ensina Lénio Luiz Steck{6] (2002, p.185), 0 Brasil eraé) scostumado a viver com 0 fendmeno da. “baixa consitucionalidade”, em quadro onde, no conffonto das normas constitucionais infraconsttuionas, estas guardam prevaléneia no atuar evondmico, juridico e social E Streck{Z] (2002, p.185) quem lembra que “[..Jas Constituigdes brasileiras, até 0 advento da atual, sempre haviam deixado para o legislador a tarefa de fazer efetivos os valores, direitos ou objetivos materiais contidos no texto constitucional”. Constata-se 0 aludido fendmeno da “baixa constitucionalidade” tio somente para recordar que a premissa deste trabalho € trilhar o caminho inverso, ou seja, fixar conceitos eminentemente de ordem constitucional, na crenga de que sempre serio estes os norteadores de qualquer interpretago de norma infraconstitucional. Nesse sentido, cabe detectar e enquadrar constitucionalmente, para o que importa ao trabalho, a forma da contraprestagfio paga pelos utentes dos servigos notariais e de registro. A propria Constituigao Federal, antes que qualquer outro instrumento, dita que os notirios e oficiais de registro percebem emolumentos ¢ que estes se vinculam a pritica dos atos préprios do oficio daqueles, preceituando seu paragrafo 2° do artigo 236 que “Lei federal estabeleceré normas gerais para fixago de ‘emolumentos relativos aos atos praticados pelos servicos notariais e de registro.” Nao sendo a aniilise ¢ estudo dos servigos notariais ¢ de registro 0 objeto deste estudo, mas sim a conceituagaio dos emolumentos percebidos por seus delegados, sua natureza juridica e a competéncia federativa em tal matéria, prossegue-se no sentido de atingir o primeiro desiderato deste trabalho, respondendo fundamental questdo: 0 que sto emolumentos notariais ¢ de registro? “an psd A eX Congest Racin do CONPED rds on Fost SC nda 1, 4,186 6 Cue S200 soot Note-se que aqui ndo se esti ainda a cogitar de sua natureza juridica, mas tio somente conceituar esse termo pouco estudado, © que faz. com que, no raras vezes, a ele seja atribuido conceito alheio, como se conceituagao propri no tivesse, ou agregado valores que nao Ihe so proprios. De Placido e Silva{8] (2004, p.519) teve a oportunidade de conceituar: Emolumento. Pela CF/88, & a remuneracio que os notérios e 0s oficiais registradores recebem pela contraprestagio de seus servigos; custas ¢ a remuneragio devida aos escrivaes, oficiais de justica e demais auxiliares da justiga; a taxa judicidria é o tributo correspondente 4 efetiva utilizagao dos servigos judiciais ou do Ministério Pablico (este, por exemplo, para a aprovagio ¢ controle das fundagdes privadas). (DE PLACIDO E SILVA, 2004, p. 519) De fato, a Constituigio Federal de 1988 somente contempla a contraprestago via emolumentos na atividade notarial e de registro, criando uma espécie que realmente se distingue das custas e das taxas Jjudicidrias. Porém, com o devido respeito ao renomado dicionarista, tomar a expresstio emolumentos como representativa da “remuneragido” dos notarios ¢ registradores nfo parece adequado, pois conduz a interpretagdo equivoca de serem os emolumentos 0 proveito pessoal integral dos titulares de tal funcdo publica. Na verdade, os emolumentos no possuem fungiio exclusivamente remuneratoria dos notérios registradores, mas consiste em valor destinado a cobertura do custo total dos servigos, administrados e gerenciados de forma absolutamente privada, destinados precipuamente a manutengio dos servigos, pagamento de despesas de pessoal e despesas de custeio, Fruto da administragdo de tais emolumentos, em simples céleulo de receita deduzida de despesas, obtém- se o valor a ser auferido pelo delegado do Poder Pablico, como resultado de sua atividade desenvolvida em caféter personalissimo. Estudioso dos Registros Piblicos, Cenevival9] (2006, p.33 ¢ 34) explicita tal entendimento, com peculiar maestria, a0 comentar a expressio “a titulo de remuneragio” constante do caput do artigo 14 da Lei Federal n° 6.015/1973: A expresso “a titulo de remuneragio” afronta a realidade cartoréria brasileira, quanto aos oficios privados. A reposig&io de custas ndo remunera o oficial Remuneragdo & palavra que tem definigfio legal conhecida: além do salério pago pelo empregador, como contraprestagio de servigo, as gorjetas que o empregado receber. Em direito administrativo designa retribuig&o que o funcionario recebe pelo efetivo exercicio de seu cargo, compreendendo uma parte fixa e uma varidvel. Isto é, 0 micleo de seu significado se relaciona com a contraprestag0 proporcional ‘tans pete noe i 3Cyl eCONPED! wala om otandpts 6 dt 19, 4158186 Cane de 20 one ao valor do servigo prestado. (WALTER CENEVIVA, 2006, p. 33 ¢ 34) Com efeito, e dando supedineo ao pensar de Ceneviva, o administrativista Diogenes Gasparini{10} (1995, p.126) esclarece que a expressio remuneragdo “[..Jsignifica a somatéria de todas os valores percebidos ‘pelo servidor, quer sejam pecuniérios, quer ndo. Assim, abrange o vencimento, as vantagens e as quotas de produtividade.” Estando em consondncia com a Constituigdo Federal de 1988 e jé levando em consideragdo a Emenda Constitucional n° 19, pontua Di Pietro[L1} (2005, p.459) a existéncia de dois sistemas remuneratérios para 9s servidores: [...Jo tradicional, em que a remuneragdo compreende uma parte fixa e uma varidvel, composta por vantagens pecuniérias de variada natureza, € 0 novo, em que a retribuig%io corresponde ao subsidio, constituido por parcela dnica, possibilidade de percepso de vantagens pecuniérias variéveis. O primeiro sistema é chamado, pela Emenda, de remuneracio ou vencimento e, 0 segundo, de subsidio. (MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, 2005, p. 459, destaques da autora) que exclui a Caracterizado, pois, que os emolumentos no se enquadram no conceito restrito de remuneragao e que nio servem apenas para remunerar, stricto sensu, 0 tabelidio ou oficial de registro pelos servigos que prestam, cumpre compreender sua destinagdo, visando dar uma segura conceituagdo — ainda que criticével e passivel de aperfeigoamento. que os emolumentos foram eleitos pelo constituinte como forma de contraprestago paga pelos usudrios em decorréncia da efetiva utilizagao dos servigos notariais e de registro e que serve seu produto precipuamente para viabilizar e manter a prestagdo dos servigos, 0 que denomino de condigdes necessidades primarias do servigo, e cobrir despesas de pessoal ¢ despesas de custeio, retribuindo, com seu remanescente, 0 esforgo profissional de seu destinatario, antes de conceitui-los, cumpre distinguir, ainda que brevemente, os elementos que o integram. Viabilizagdo dos servigos notariais e de registro significa Ihos tornarem aptos a ser prestados ¢ ser usufruidos de forma permanente. Como pressuposto légico de sua prestagio, mister que sejam atendidas algumas condigées ¢ necessidades primarias do servi¢o, dentre as quais, de plano, sua instalag&io em uma edificagtio, a qual deve estar apta a atender a comunidade a que se destina, guardados preceitos de segirranga de livros, documentos e arquivos em midia eletrdnica e facilidade de acesso aos usuérios do servigo, incluindo-se, neste item, a garantia de acessibilidade para as pessoas com deficiéncia, Nevessério, ainda, que referido prédio esteja dotado de méveis e equipamentos que permitam o desenvolvimento do servigo a ser prestado, como, por exemplo, mesas, cadeiras, armarios, sistema de "raat putas At do XX age Nao CONFED eked om Poser SC re 13, 1, 1301 Otro cn 210 oss {elefonia, impressoras, computadores, os quais no se limitam aos hardwares, mas necessariamente deve. ser dotados de softwares titeis ou necessérios ao desempenho da atividade Todos esses gastos com méveis, equipamentos, sistema de telefonia, computadores, impressoras, softwares, sio de responsabilidade do proprio delegado, e, salvo hipétese de locagio, nao consistem em despesas dedutiveis[12], integrando tais bens o acervo de seu patrim6nio pessoal, assim ocorrendo também quando 0 prédio em que instalado 0 servigo é proprio do delegado. Neste primeiro rol de gastos ~ exceto se todas as condigdes necessidades primérias do servigo forem locadas, 0 que consiste em excesdo -, nfo hé que se falar em emoluments como fonte direta de pagamento de tais dispéndios, posto que de responsabilidade pessoal do delegado. Indiretamente sim, na medida em que criam —ou deveriam criar — condigdes para que o notério ou registrador, com sua receita iquida, com o valor que efetivamente aufere, introduza e mantenha tais condigdes € necessidades primirias do servigo. Portanto, de regra, € o prestador da atividade notarial ou de registro que, com recursos proprios, suporta os gastos para garantir tais condigdes ¢ necessidades primarias do servico. O Estado, assim tido como Poder delegante, no sistema adotado pelo constituinte, no softe qualquer impacto financeiro de tais obrigagdes, as quais devem ser cumpridas rigorosamente pelos delegados dos servigos notariais e de registro. Sem 0 atendimento dessas condigdes ¢ necessidades primérias do servico, este nfo se realiza ou mesmo mantém, posto que necessério, de tempos em tempos, mudanga de prédio ow sua reforma, renovagtio no mobiliério ou em materiais integrantes do patriménio pessoal do delegado, adaptagdo a novas tecnologias, ida_aos destinatarios dos sob pena de se descurar da continua qualidade do servigo a ser disponibi servigos: 0s usuarios. Jé nas despesas de pessoal, devem ser incluidas as remunerages dos prepostos, tanto o salirio, propriamente dito, como outros gastos integrantes da yerba salarial, como, por exemplo, plano de satide, ‘odontol6gico, bolsa estudo, vale-transporte ¢ apoios de cunho alimentar, como vale-refeigio e cesta-basica imentago, Além disso, relacionados com as despesas de pessoal, hi os desembolsos de ordem previdenciiria, tributiria ¢ fundidria decorrentes da relagdo empregaticia, como repercussio direta da contratagio de pessoal de apoio para o desenvolvimento dos servigos prestados. ou val Por outro lado, despesas de custeio silo aquelas destinadas tanto a viabilizar a prestagio dos servigos, quanto a manté-la. Aqui, tanto podem ser computadas integral ou parcialmente aquelas condigdes ¢ necessidades primarias do servigo, como serio computadas as despesas cotidianas do servigo, Assim, no caso das condigées € necessidades primarias do servigo, clas integrario as despesas de custeio de forma integral quando tudo for locado, desde 0 prédio aos computadores e softwares, hipdtese fem que néo se falaré em patriménio pessoal do delegado, ¢ de forma parcial quando apenas parte dos elementos que integram aquele rol for objeto de locagio, 0 que ocorre comumente com o prédio ¢ os "tas pds not i XK Capua Nano CONPED etn om tune m0 a 13415 18d onto de 010 wu softwares, permanecendo o restante como investimento de cunho pessoal e permanente do titular do servigo delegado. Por sua vez, as despesas cotidianas do servico integrantes das despesas de custeio so aquelas vinculadas aos materiais de consumo, despesas de conservagdo e gastos com atendimento necessérios & prestagtio rotineira dos servigos, incluindo-se, a titulo de exemplo, materiais graficos, de impressio, arquivamentos de microfilmes e midias eletrOnicas, manutengao de livros, despesas com telefonia e manutengao de sitio nna Internet. Possivel também visumbrar como integrantes das despesas de custeio os chamados desembolsos institucionais, como associativos ¢ de participago em seminérios, palestras, cursos ¢ congressos, necessérios & constante atualizagao e ao aprimoramento do delegado e seus prepostos, desde que, evidentemente, vinculados com a finalidade da atividade notarial ¢ de registro, Explicitadas, assim, as chamadas condigdes necessidades primarias do servico, as despesas de pessoal € as despesas de custeio, podendo estas incluir, além das despesas cotidianas do servigo © os desembolsos institucionais, as condigdes € necessidades primérias do servico, quando locadas, possivel apontar, dentro dos emolumentos, em que consiste a renda auferida pelo notario ou registrador. A renda auferida pelo notirio ou registrador consiste na receita liquida, obtida pelo seguinte céleulo: receitas advindas dos emolumentos pagos pelos utentes em virtude do servigo notarial ou de registro prestado menos despesas de pessoal, incluindo os desembolsos de ordem previdencisri: fundiéria decorrentes de relagdo empregaticia, despesas de custeio, nestas inclusas as despesas cotidianas do servico, os desembolsos institucionais e, eventualmente, gastos com as condigdes € necessidades primérias do servigo, desde que locadas, normalmente ingressando estas ditimas apenas parcialmente no célculo das despesas. tributéria e Interessante notar que a renda auferida pelo notirio e registrador, por forga do sistema de gestdo privada adotado, nao reverte, via de regra, integralmente em favor do delegado, mas este deve (re)investir parte dessa renda para a continua manutengio das condigdes € necessidades primérias do servico, sobremaneira daquelas nfo passiveis de dedugdo enquanto despesas. Cumpre anotar, finalmente, que em alguns Estados da Federago os emolumentos sfo do tiponio puro, a dizer, constituem-se também por parcelas que, em esséncia, nfo o caracterizam, Conquanto tenha sido consignado na Ementa da Ago Direta de Inconstitucionalidade 3.643[13] 0 posicionamento do Supremo Tribunal Federal pela constitucionalidade da “f...)destinagdo do produto da arrecadagdo da taxa de policia sobre as atividades notariais e de registro, ora para tonificar a musculatura econdmica desse ou daquele drgdo do Poder Judicidrio, ora para aportar recursos Jfinanceiros para a jurisdicdo em si mesma”, ressalvou a Corte Constitucional Maior, conforme se verificada da Ementa do Acérdio resultante do julgamento da Agio Direta de Inconstitucionalidade atop ros Ant o XX ange Nana CONPED ead om Poa SC ro a1, 1, 501 Ob 210 soos 3.660L14]. que “[..Jid manifesto, por diversas vezes, 0 entendimento de que é vedada a destinagao dos valores recolhidos a titulo de custas e emolumentos a pessoas juridicas de direito privado”, situagio esta {que vez ou outra ainda ocorre. ‘Tal nota é feita apenas com o intuito de viabilizar a conceituagiio dos emolumentos, de forma tal a tornar inequivocos seus sentido e contetido, dele excluindo valores que nio Ihes so préprios. ‘Assim, partindo da andlise de seus elementos, afirma-se que emolumentos consistem no valorpago pelo usuario do servigo notarial e de registro ao tabelidio ou registrador, em virtude da efetiva utilizagio por aquele do servigo prestado em cariter pessoal por este, suficiente para que, mediante gestdo privada, 0 delegado do servigo arque com as despesas de pessoal e as despesas de custeio, nestas eventualmente inclusos, parcial ou integralmente, os gastos com as condigdes e necessidades primérias do serviso, fazendo jus 0 delegado a auferir o valor liquido apurado, deduzidas tais despesas. Nos casos em que os emolumentos so descaracterizados por outros componentes que no Ihe sto proprios, interessante anotar, como acréscimo, que também tais componentes serio deduzidos para fim de apuragiio da renda auferida pelo notario ou registrador. Em verdade, visando amoldar o desvirtuamento da legislago ordinéria ao sentido constitucional, sequer sio escriturados como receita tais valores no componentes da esséncia dos emolumentos, destinados que sto a finalidades distintas da prestagto da atividade notarial ¢ de registro, atuando o notirio ¢ registrador como mero depositario de tais verbas, procedendo, sequencialmente, o repasse correspondente ao érgio ou entidade indicado pela legislagao infraconstitucional. Importante frisar que a solugdo do constituinte pétrio no ¢ inovadora e encontra amparo no Direito ‘Comparado, notadamente no Direito espanhol. artigo 294 da Lei Hipotecéria(L5] espanhola expressamente prevé 0 pagamento de valores fixados no imposto, pelo Ministério da Justiga espanhol, e que devem ser suficientes para cobrir os gastos como funcionamento e conservacao dos registros. Por sua vez, 0 item 216] da nota de rodapé 38, referida no aludido artigo 294 da Lei Hipotecéria da Espanha, é ainda mais claro, ao especificar que o nivel do imposto deve ser suficiente para cobrir os gastos com o funcionamento, inclusive retribuigdo profissional, com a peculiaridade de que o imposto a ser pago por ato lé — tal qual 0 sio os emolumentos aqui -, também € fixado sobre 0 valor fiscal do fato,ato ou negécio juridico ou sobre o valor declarado pelas partes. Analisando a realidade organizativa dos diversos sistemas de titulagao da propriedade existentes no mundo, Benito Arrufiada[1Z] nao se furtou a anilise desse pagamento direto feito pelo usudrio em decorréncia do servigo de registro prestado, identificando como vantagens de tal pagamento o + monn putas nos Aro XCar Nien CONPED eta wm rangle Sra 114 150188 ud de 10 som autofinanciamento do sistema, 0 no sobrecarrego do aparato estatal e, sobremaneira, a redugdo do risco da diluigto e expropriagao da retribuigao diferida, vislumbrando, ainda, vantagem quanto ao afastamento de discusses politicas sobre as remuneragdes de funciondrios piblicos (BENITO ARRUNADA, 2004, p. 395). Feita esta brevissima nota de direito comparado ¢ adotado um conceito de emolumentos, formado a partir dos seus elementos integrantes, deve-se, agora, indicar sua natureza juridica, buscando identificar se ainda perdura seu enquadramento como taxa, conforme histérica € majoritiria jurisprudéncia, ou se, tual painel constitucional, trata-se de uma nova espécie de contraprestagdo, ainda ndo explorada, analisada, compreendida como tal. inte do 3. EMOLUMENTOS: NATUREZA JURIDICA Poder-se-ia afirmar, sem maiores consideragbes ¢ embasado em razodvel doutrina ¢ farta jurisprudéncia do Excelso Supremo Tribunal Federal, mesmo posterior 4 promulgagio da Carta atual, que os emolumentos pertinentes a atividade notarial e de registro consistem na espécie tributdria denominada taxa. ‘Sem diivida, seria um caminho cémodo, tranquilo © menos tortuoso, posto que plenamente sustentivel se afirmar que os servigos notariais e de registro se constituem em servigos pill prestados ou disponibilizados a0 utente, de utilizagio efetiva ou potencial, preenchendo-se, assim, os requisitos da espécie tributaria denominada taxa, em sintonia perfeita com o disposto no inciso II do artigo 145 da Constituigdo Federal. cos especificos e divisiveis, Sua caracteristica de servigo piblico, Jato sensu, decorre, nesta hipétese, nfo da forma de exercicio da atividade, que € privada, mas da origem de sua delegagao, assentada no Poder Pablico, consoante o caput do artigo 236 do Estatuto Constitucional. ‘Nao obstante, analisando-se a Constituigiio Federal enquanto sistema, indaga-se: na atual ordem constitucional os emolumentos realmente se enquadram na espécie tributéria denominada taxa? Observe 0 leitor que até aqui nio se esté a afirmar ou negar a doutrina e a jurisprudéncia até entio reinantes; no se esté, tfo pouco, cogitando do acerto ou desacerto de legislagdes estadual ou distrital que, eventualmente, enquadrem expressamente os emolumentos notariais ¢ de registro como taxa. Apenas se cogita de discutir o tema sob o prisma que marca esse trabalho: o olhar constitucional, Respondida positivamente a questo, a dizer, na vigente ordem constitucional os emolumentos se enquadram na espécie tributdria denominada taxa, de pronto restara definida a natureza juridica dos emolumentos. * tn patron An eK Congo Neo CONPED etd rent 8 oe es 1, 115018 Oat 010 sor Entretanto, antes de optar por — ou negar ~ esta natureza juridica, cabe tecer algumas consideragdes. ‘Ao versar sobre a diferenga entre imposto taxa, ensina José Afonso da Silvd18] (2009, p.707) que “[..Jo fato gerador da taxa é uma situacdo dependente da atividade estatal: 0 exercicio do poder de policia ow a oferta de servigo piiblico ao contribuinte." Partindo dessa premissa — taxa como dependente da atividade estatal e de servigo piblico disponibilizado a0 contribuinte —, no € de todo desarrazoado se perguntar: a utilizago do servigo notarial e de registro depende de uma atividade estatal, propriamente dita? O destinatirio dos servigos notariais ¢ de registro é 0 ‘mesmo contribuinte indicado no inciso II do artigo 145 da Constituigaio Federal? ‘A Constituigiio Federal cuidou de entregar 0 exercicio da atividade notarial ¢ de registro ao particular, pessoa natural, que a exerce em cariter privado, notadamente quanto sua forma de gestio, por delegagiio do Poder Paiblico, sendo este particular selecionado por concurso piiblico de provas ¢ titulo, nos exatos termos do artigo 236 da Constituigdo Federal, caracterizando-se aqui, de um lado, a natureza publica da fungi notarial e de registro, e, por outro, a vedagao de exercicio direto pelo Estado de tal fungio. Versando sobre o tema, Aliende Ribeiro consignou (2009, p.53): ‘A imposigtio do regime privado de execugo, vedada expressamente a atuagio estatal direta, caracteriza o exercicio privado de funcdo piiblicae acrescenta um dado a mais para a demonstragio de que a atividade notarial e de registros apresenta peculiaridades que a diferenciam de quaisquer outras, singularidade que emerge do estudo mais detalhado dessas profissdes oficiais ou profissdes piiblicas independentes. (LUIS PAULO ALIENDE RIBEIRO, 2009, p. 53) Porém, apenas consignar que a atividade notarial ¢ de registro nfio possa ser exercida diretamente pelo Estado, ndo a descaracteriza como estatal. Entretanto, um caminho seguro para saber se a atividade notarial ¢ de registro é uma atividade estatal, em seu sentido estrito, em outras palavras, esti vinculada as finalidades préprias do Estado, o qualdeve envidar esforgos para realiza-las, € a andlise da competéncia material dos diversos entes federados. Ensinam Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Jinior[19] (2008, p.263): ‘A repartigio de competéncia entre as vontades do Estado, como elemento caracterizador da descentralizagao politica, nfo vem, contudo, despida de qualquer ide, Ela deve ter sede constitucional, tornando-se parte de sua esséncia, Nao se pode pensar em uma divisto de competéncias que nao esteja estampada no formalii ‘raat ptcas non Ra dX Cangas Nace CONFI ete en adel 9 0 as 13, 1, 15 18 Go 010 on texto constitucional, jé que, como visto, nesse ponto reside talvez a t6nica mais original do Estado Constitucional (LUIZ ALBERTO DAVID ARAUJO e VIDAL SERRANO NUNES JUNIOR, 2008, p. 263) Realmente 0 constituinte de 1988 atuou repartindo expressamente as competéncias dos entes federados. Tratou de dedicar exclusivamente o Titulo III da Carta Magna a organizagao do Estado, ali elencando sua organizago politico-administrativa, os bens © competéncias material ¢ legislativa dos diversos entes federados, versar sobre os Territérios, as hip6teses de intervengao e sobre a administragao publica. Nesse miicleo da Constituigo Federal o legislador constituinte tratou dos assuntos que so préprios atividade estatal, stricto sensu. Nesse sentido, ensina Fernanda Dias Menezes de Almeida{20} (2007, p.67) que “Cada entidade federativa recebe da Constituicéio, além da competéncia legislativa, outras competéncias que as credenciam ao desempenho de diferentes tarefas e servicos.” E a que entidade da Federagio esse nucleo constitucional da organizagao estatal atribui a competéncia ide pela atividade notarial e de registro? material pela responsabi A tal indagagio responde 0 eminente Ministro Carlos Ayres Britto{21J, em seu voto na Ago Direta de Inconstitucionalidade 3.089{22}, da qual foi relator origindrio: -Janoto que as atividades em foco deixaram de figurar no rol dos servigos plblicos que sto préprios da Unido (incisos XI e XII do art. 21, respectivamente) ‘Como também nfo foram listadas enquanto competéncia material dos Estados, ou dos Municipios (arts. 25 e 30, respectivamente). L..Jtém o seu regime juridico centralmente estabelecido pelo art. 236 da Lei Republicana. [.-JAtividades, enfim, que nfo se remunera por “tarifa” ou prego piblico, mas por uma tabela de emolumentos que se pauta por normas gerais estabelecidas em lei federal. Caracteristica de todo destoantes daquelas que sto inerentes ao regime dos servigos piiblicos. Numa frase, entio, servigos notariais ¢ de registro so tipicas mas niio sio servigos piblicos, propriamente. [.Jse traduzem em atividades juridicas do Estado, sem adentrar as fronteiras da prestago material em que os servigos piblicos consistem. (CARLOS AYRES BRITTO, 2006, destaques do autor) jades estatai E se nio estio no rol de competéncia material da Unidio, Estados, Distrito Federal e Municipios ¢ se nfo silo servigos piblicos, em sentido proprio, o que sio, entdo, os servigos notariais ¢ de registro? E também o Ministro Carlos Ayres Britto, na sequéncia de seu voto, que bem caracteriza a peculiar natureza dos servigos notariais e de registro: an osc ns Amis ox Cngees Race 9 CONFED arco a Fare -8C on da 1, 4,158 1668 ARB 2010 son Em palavras outras, assim com 0 inquérito policial ndio & processo judicial nem processo administrativo investigatério, mas inquérito policial mesmo (logo, um tertium genus); assim como 0 Distrito Federal nao é um Estado nem um Municipio, mas to-somente o proprio so mais uma entre tantas outras modalidades de servigo piblico, mas apenas servigos forenses em sua peculiar ontologia, ou autonomia entitativa, também assim os servigos notariais e de registro sto servicos notariais e de registro, simplesmente, e no qualquer outra atividade estatal, (CARLOS AYRES BRITTO, 2006, destaque do autor) istrito Federal; assim como os servigos forenses no De forma singela, mas absolutamente original, demonstra que se esta diante de uma atividade completamente peculiar, desgarrada das competéncias materiais dos entes federados e, ao mesmo tempo, predestinada 4 consecugio de importante atividade juridica do Estado, que deve obrigatoriamente entregar 6 seu exercicio a um particular, pessoa natural aprovada em concurso piblico de provas e titulos. Feitas tais consideragdes, possivel agora responder negativamente a indagag’io outrora formulada — se a izagdo pelo destinatirio do servigo notarial e de registro depende de uma atividade estatal propriamente dita. ul ‘No entanto, ainda que possivel fosse superar esse obstaculo — auséncia de dependéncia de uma atividade componente do niicleo material de competéncia do Estado — para buscar o enquadramento dos emolumentos como taxa, compete ainda avaliar, sempre sob o prisma da Constituigao Federal de 1988, se © destinatério dos servigos notariais e de registro é o mesmo contribuinte elencado no artigo 145, i da Carta Magna. No prosseguimento do julgamento da referida Agdo Direta de Inconstitucionalidade 3.089, 0 eminente Ministro Marco Aurélio de Mello[23) (2008) sublinha suas reservas quanto a natureza juridica dos emolumentos notariais e de registro como sendo taxa, langando novas luzes (ou diividas) sobre o tema: ‘Num primeiro passo — & uma idéia que ainda seré objeto de reflexio -, quandoa Constituigaio Federal, no artigo 145, se refere a taxa, ela o faz quanto a uma cobranga direta ~ é a regra, pelo menos -, efetuada pela pessoa juridica de direito piiblico. No caso, a atividade ¢ exercida em cardter privado, ¢ 0 numerétio satisfeito por aqueles que buscam o servigo piblico nao é recolhido aos cofres piiblicos. Dai, por exemplo, a incidéncia do imposto de renda. (MARCO AURELIO MENDES DE FARIAS MELLO, 2008) Seguido a este comentario, anotou o Ministro Carlos Ayres Britto[24] (2008): aan pent nos Ant XX Cong Nao do CONPED ed on Poni SC on 18 418 8 18 et 2010 war E 0 nico caso em que um tributo é recolhido pelo particular em beneficio do particular, 0 que faz parte do regime juridico da atividade notarial ¢ de registro. Trata-se de uma atividade to peculiar que até nisso se distingue de qualquer outra, sobretudo do servigo pablico. (CARLOS AYRES BRITTO, 2008) De fato, tanto o Ministro Carlos Ayres Britto esté certo, ao anotar a completa peculiaridade dos servigos notariais e de registro, como a formar um organismo proprio dentro da Constituigao Federal, 0 que torna mais justificavel a critica quanto ao desprezo e/ou omissiio doutrinério-constitucional pela matéria, quanto de Mello em possuir dividas quanto & natureza tributiria dos correto esti 0 Ministro Marco Aurél emolumentos Nao ha justificativa aparente, sendo o apego a uma jurisprudéncia historica, em muito fincada na superada ordem constitucional, para atribuir aos emolumentos notariais ¢ de registro, nos dias atuais, a natureza Jjuridica de taxa, Realmente so bem fundadas as diividas do eminente Ministro Marco Aurélio de Mello, sobretudo & consideragio de que a Constituigio Federal nfo atribuiu a nenhum ente da Federagio, dentre suas competéncias materiais, a exploragio da atividade notarial e de registro, Em assim sendo, parece crivel mesmo que a intengfio do constituinte fora reservar a aplicagdo do artigo 145, inclusive seu inciso Il, diretamente aos entes federados referidos em seu caput, 0 que retiraria dos emolumentos sua natureza Juridica de taxa. Porém, se nio so taxas, 0 que so entio os emolumentos? Parafraseando 0 Ministro Carlos Ayres Britto, que chegou a conclusio que “...0s servigos notariais e de registro sio servigos notariais e de registro, simplesmente, ¢ nao qualquer outra atividade estatal” (CARLOS AYRES BRITTO, 2006, destaques do autor), possivel concluir que emolumentos notariais ¢ de registro so emolumentos notariais e de registro, simplesmente, ¢ nio qualquer outra espécie tributiria, tarifa ow prego, com a nota de que seu pagamento é efetuado pelo utente do servigo notarial ou de registro, e ndo pelo contribuinte, tomado este termo em sua acepgao eminentemente tributiria, Partindo dessa premissa, possuem os emolumentos natureza juridica de emolumentos: nada mais, nada ‘menos. Caracterizam-se pela imposigao legal de seus valores, pelo seu percebimento direto pelo notirio ou registrador, mediante pagamento feito por usuério do servigo notarial e de registro, em contraprestagdo de servigo efetivamente prestado, e sujeitos ao gerenciamento privado, sem outra intervencao estatal que ndo aquela decorrente da elaboragaio legislativa de suas bases. 4. COMPETENCIA FEDERATIVA EM SEDE DE EMOLUMENTOS. “opts nox a o XX Cares Nacon CONPEDI etn om orange Sra a 131 15618 Ont ge 210 =n Nao pretende este tépico esgotar o tema do federalismo em matéria de emolumentos notariais e de registro, mas apenas indicar que entes federativos possuem competéncia para legislar sobre o tema. Igualmente, no pretende exaurir dois assuntos importantes, cujo discorrer fica entregue para momento jistem as normas gerais em matéria de emolumentos, sua extensdo ¢ limites, e mais oportuno: em que cor a quem compete a iniciativa de propositura de lei que sobre eles verse. Restou constatado que 0 constituinte de 1988 ndo optou por incluir a prestagdo dos servigos notariais e de registro no rol material das competéncias de quaisquer dos entes federativos, o que no resolve, entretanto, ‘a questilo afeta a competéncia legislativa em matéria de emolumentos. Reconhecido o sistema notarial e de registro como um “ser” dotado de qualidades préprias, distinto dos organismos estatais proprios ¢ dos servigos piblicos em sentido est encontra exaustivamente tratado no artigo 236 da Constituigdo Federal, é nele, endo em outro dispositivo constitucional, que se encontra o ponto de partida para o deslinde da questio. , © que seu regime juridico se De fato, © parigrafo 2° do artigo 236 da Carta Maior determina que “Lei federal estabelecerd normas _gerais para fixagdo de emolumentos relativos aos atos praticados pelos servigos notariais e de registro. Porianto, a competéncia legislativa no plano federal esti bem definida pelo proprio constituinte: estabelecimento de normas gerais. Estas se situam no plano da uniformizagao minima necesséria em Ambito nacional, em criar pardmetros obrigatérios para orientar o tragado de normas especificas a tratar do assunto. Porém, voltada que ¢ a dar um panorama pouco aprofundado sobre 0 tema emolumentos, no se imiscuindo em detalhes que ndo so de sua competéncia, tal lei federal prevista na Constituigdo Federal carece, por um lado, de suficiente contetido para tornar 0 exercicio da atividade notarial e de registro exequivel — sem a contraprestagao dos emolumentos, ndo se atingem os fins a que estes se destinam - e, Por outro, no habilita o usuario a ter a necesséria publicidade do valor a ser por ele despendido. Bem pontua Fernanda Dias Menezes de Almeida{2S} (2007, p.128): grande problema que se coloca, a propésito, é o da formulagao de um conceito de normas gerais que permita reconhecé-las, na prética, com razodvel seguranga, jé que a separago entre normas gerais e normas que nfo tenham esse cariter é fundamental. De fato, no campo da competéncia concorrente néio-cumulativa, em que hé definigdo prévia do campo de atuagio legislativa de cada centro de poder em relagdo a uma mesma matéria, cada um deles, dentro dos limites definidos, deveré exercer a sua competéncia com exclusividade, sem subordinagio hierérquica, (FERNANDA DIAS MENEZES DE ALMEIDA, 2007, p. 128) ‘Tatars pcs oe rato 1K Conga Nc oCONPED| alas om Faigle BC naa 841 18 sade 200 wn Entretanto, tal definigfo clara de distribuigtio de competéncia legislativa em matéria de emolumentos no resta expressa diretamente no texto constitucional, no que atine aos servigos notariais e de registro. ‘Tais circunsténcias — de se ter o regime juridico de notirios e registradores condensado no artigo 236 da Constituigio Federal ¢ de este se referir apenas a normas gerais, de manejo por lei federal — levam a uma dificuldade de prosseguir no trato da questo de competéncia, no que tange As normas especiais, fineado somente no aludido artigo. Porém, tal dificuldade & apenas aparente € superada pelo contexto do proprio artigo 236, que jé em seu parégrafo 1° informa que “ei” —e ai nio especifica que necessariamente seré federal ~ tratard da organizago do servigo, da definigdo da responsabilidade civil e criminal de notérios, registradores ¢ seus prepostos e disciplinard a fiscalizagio de seus atos pelo Poder Judiciério. Ora, o Poder Judiciério somente se desenvolve em dois planos: o federal e 0 estadual. Se quisesse se referir a0 plano federal, 0 constituinte tanto teria se referido no parégrafo 1° inequivoca e exclusivamente a lei federal, quanto no pardgrafo 2° que as normas ditadas por lei federal seriam gerais e especiais. Partindo desse suposto entendimento, resta por concluir que a competéncia legislativa no tocante as normas especiais se desenvolve no plano estadual. Uma leitura, agora sim, sistemtica da Constituigdo Federal, também permite chegar a esta conclusio, A expressa opsio do constituinte para que a legislagio federal se encarregue de versar as normas de carater geral em matéria de emolumentos, revela seu desejo de criar um mbito de competéncia legislativa concorrente, no que andou bem, posto que as peculiaridades locais e os fins a que se destinam os emolumentos, notadamente quanto ao custo de sua viabilizag4o, manutengo ¢ despesas, demandam um olhar mais consentineo com a realidade local. Entende Michel Temer{26] (2008, p.89) que “Concorrente ¢ a competéncia do Estado exercida ao lado da Unido e do Distrito Federal. E competéncia que visa a edigdo de leis sobre as questdes elaboradas no art. 24.” Dentre as matérias elencadas no artigo 24, em seu inciso IV se encontra a competéncia concorrente da Unido, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre custas do servigo forense e, com algum esforgo, poderia tal dispositivo ser utilizado, por empréstimo, como arrimo para demonstrar a competéncia concorrente estadual para legislar também sobre emolumentos notariais ¢ de registro, notadamente ante 0 ‘Supremo Tribunal Federal entender, ainda nfo em sede de mérito, os servigos notariais ¢ de registro como espécies de servigos auxiliares do Poder Judicidrio, nos termos do artigo 96, inciso I, letra “b”, da Constituigdo Federal{27} * atin pba nose o XX Congres Nao CONPED eta om tape Cre es 114, 18 18d Oat d 010 on Nao fosse suficiente o argumento de se aplicar, pelo contexto dos posicionamentos preliminares da Corte Constitucional, a hipétese prevista no inciso IV do artigo 24 da Constituigo, de igual forma competiria & legislagaio estadual versar sobre normas especiais de emolumentos, com base agora na sua competéncia residual. Nesse sentido, bem lembrar Temer{28] (2008, p.87) que “O artigo 25, § 1°, confere aos Estados ‘as competéncias que nao thes sejam vedadas por esta Constituicdo’. Desse dispositivo se extrai a ideiade que as competéncias dos Estados nao estdo enumeradas no texto constitucional." Ferindo o tema, Manoel Gongalves Ferreira Filho[29] (2008, p.69) ¢ claro: “Nao é necessdrio repetir que esses Estados 18m uma competéncia prépria, a que resta apés excluir-se 0 que cabe a Unido ou aos Municipios (art. 25, § 19). Conclui-se, portanto, pela competéncia da legislagao federal em tratar das normas gerais pertinentes aos emolumentos notariais e de registro, os quais devem ganhar tratamento especial por lei estadual ou distrital, cuja competéncia se reconhece, quer pelo reconhecimento da atividade notarial e de registro como auxiliar do Poder Judiciario, fazendo incidir a competéncia concorrente, em virtude do inciso IV do artigo 24 ce artigo 96, inciso 1, letra “b”, ambos da Constituigio Federal, quer tdo-s6 e simplesmente pela competéncia residual reservada aos Estados e ao Distrito Federal, este dltimo por forga do pardgrafo 1° do artigo 32 da Constituigao Federal. 5, CONCLUSAO. Em sintese, do estudo se verifica que o constituinte de 1988 introduziu, em verdade, um regime juridico proprio (microssistema) aos notirios e registradores, regime esse que encontra seu niicleo no artigo 236 da Constituigio Federal, motivo pelo qual se torna cada vez mais cogente o aprofundamento dos estudos de is servigos pela doutrina constitucional. Manter a leitura da atividade notarial e de registro sem admitir seu estudo sob 0 enfoque constitucional é trilhar © caminho do equivoco, mantendo vigentes padrées © interpretagtes que no encontram consonfineia na Carta Magna. Para o que se propds 0 presente trabalho, importante distinguir emolumentos como uma espécie de

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