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0 SC'SEX'S'ZZSTER ELA AACE AONE, MAX WEBER ‘ CIENCIA E POLITICA Duas Vocagées Preficio de ‘Manost. T. Beruanox (Professor Adjunto de Sociologia da Escola de Administragio de Emprésas de S. Paulo, da Fundacio Gettlio. Vargas) Traducio de Leontnas Heorwsers © Ocray Stuvetes pa Mora EDITORA CULTRIX Sio Pauto se encontrem na situacio que se descreve na bela cangio de exilio do guarda edomita, cangao que foi incluida entre os oré- culos de Isaias: “Perguntam-me de Seir: “Vigia, que € da noite? “Vigia, que € da noite?” O vigia responde: “Vern a manha ¢ depois a noite. Se quereis, interrogai, Convertei-vos, voltai!”” © povo a que essas palavras foram ditas nfo cessou de fazer 2 pergunta, de viver a espera hd dois mil anos, ¢ nés Ihe conhe- cemos 0 destino perturbador. Aprendamos a ligéo! Nada se féz até agora com base apenas no fervor e na espera. E preciso git de outro modo, entregar-se a0 trabalho ¢ responder is exi. géncias de cada dia — tanto no campo da vida comum, como no campo da vocacio. Esse trabalho serd simples e féci, xe cada gual encontrar e obedecer a0 deménio que tece as test de sua vida, 52 A POLITICA COMO VOCAGAO Esta CONFERENCIA, que os senhores me pediram para fa- zer, decepcionaré necessitiamente e por miltiplas razées, Numa palestra que tem por titulo a vocasio politica, os senhores hio de esperar, instintivamente, que eu tome posicio quanto a pro- blemas da’atualidade, Ora, a tais problemas eu s6 me refetirei 0 fim de minha exposigéo © de maneita puramente formal, quando vier a abordar certas questdes que dizem respeito & significagio da atividade politica no conjunto da conduta hu- mana. Excluamos, portanto, de nosso objetivo, quaisquer in- dagagBes como: que politica devemos adotar? ou gue contet dos devemos emprestar a nossa atividade politica? Com efeito, indagasées dessa ordem nada tém a ver com o problema geral que me proponho examinar nesta oportunidade, ou seja: que é A vocagio-politica ¢ qual o sentido que pode ela revestit? Pas- semos 40 assunto, Que entendemos por politica? © conccito € extraordin’- riamente amplo e abrange tédas as espécies de atividade direti- va auténoma. Fala-se da politica de divisas de um banco, da politica de descontos do Reichsbank, da politica adotada por um sindicato durante uma greve; e & também cabfvel falar da politi- ca escolar de uma comunidade urbana ou rural, da politica da diretoria que esté 4 testa de uma associagio ¢, até, da politica de uma espésa hdbil, que procura governar seu matido, Nao darei, evidentemente, significacao tio larga a0 conceito que ser- vitd de base as reflexdes a que nos entregaremos esta noite, Entendetemos_por_politica_apenas_a_direcio do agrupamento Politico hoje denominado “Estado” ow a influéncia que se ex ce_em tal sentidk Mas, que € um agrupamento “politico”, do ponto de vista de um socidlogo? O que € um Estado? Socioldgicamente, 0 oD SS ———————————————————————_—————_—_—_ LL Estado nao se deixa definir por seus fins. io . Em verdade, ace ai fe i Ge 2 les ae re = baja cctnado alguma vez; de outre lado, nio é ssivel referir tarefas i enbarn Bre sido sid, com usoidede sos aphianentes pole Beas hoje chamados Estados ou que se comstcakam, histéret- mente hes preraneres do Esato’ wollen Socaltgamere, © Estado nfo se.deixa definir ano ser pelo especifico me the € peculiar, tal como ¢ peculiar_a todo outro agruy pis aki eee “Todo Estado se funda na f6r5a", ciais de que a viol teria_também_desap: do préprio- da. palava,se-denomina “anara no 6, evidentemente, o tnico instrumento de vale 0 <_Batado — fo aja 4 rxpeito quilquer divide © aims 6 oe —binstrumento especifico. _Em_nossos_dias, a relagao entre o Es ado ea violéncia & particularmente fotima. Em todos os tem os oF agrupamentos polices mas diversos — a comesar pela familia — recorreram 4 violéncia fisica, tend is ment soa do poder. Em nossa Gn, catrctuto, devenoe conceber 0 Estado contemporineo como uma comunidade hu- sana que, dentro des limites de determinado terrt6vio — a ni fo de trio comesponde a um dos elementos exes oS sun ~ mivinin o manoplio do ae lego da vl 2.8, com ele propio de nossa ges nfo reconhecer em sclagdo «qualuet outro grupo ot sor indviuce, 0 diteito ae wo do vlc, 0 ser nos casos em auto Estado g gels; o Esado se wansforma, portano, nn dia fonts do zeito” & violéacia, Por politica entenderemos, conseqiente- ea conto esforos feito com vistas 1 pater, do oder ou a influenciar a divisio do i seja no interior de um tinico ane Se Em térmos gerais, essa. defini , essa definigso corresponde 90 uso cor- rente do vocibulo, Quando de uma aula o dk 06 4 9s litica’ "quando se diz de um ministro ou funcionério ae ‘siio “po. leas, quando edi de un decisio que foi determinads pea politica”, é preciso entender, no primeiro caso, que os interés- 56 ses de divisio, conservaio ou transferéacia do poder sio fs. tores essenciais para que se possa esclarecer aquela questo; 20 segundo caso, impoese entender que ‘aquéles mesmos fatbres sea poam a esfera de atividade do funcionério em cause, 2 can ea po timo caso, determinam a decisio, “Todo homes que se entrege & politica, aspira 20 poder — seja porque 0 con ee plnstrumento a serigo da consecugao de outros fn’, sidere como atts, seja porque deseje © poder “pelo podet’s ina ovat do eentimento de prestigio que éle confere, ‘Tal como todo: 0s agrupamentos politicos que histbriés- precederam, 0. Estado_consiste em uma relagio de do- ae omem”sobre-o-homem, fandada_no instrument fa violéacia legitima (isto é, da violéncia considerada como le- Ge tan), © Estado 26 pode exists, portant. sob_condic® de ares homens dominados se submeiam 3 autoridade. contin Gee os evindicada pelos dominadores. Colocam-se, em conse” Thencia, as indagasbes seguintes: Em que condisées s¢ subme- dienes e por qué? Em que justificagdes internas ¢ em que fneios externos se apdia essa dominagao? Existem em principio — ¢ comegaremos por aqui — és razSes internas que justificam a ‘dominacio, existindo, conse- Glontemente, tée fondamentos da legitimidade, | Anics de tudo, a autoridade do“ passado_ eterno”, isto. é, dos costumes santifi- 2 aetor et valder imemoril ¢_pelo_hibito, enraizado_nos ‘ho: mens, de respeité-los. Tal é o “poder tradicional”, que 0 patri- aero senhor de terras, outrora, exercia, Exist £m $860" ip lugas, a autoridade. que se funéa em dons Hadrios de-um-individuo (carisma) — devosdo_e-¢ cinerea pesoais. depositadas_em_alguém_que.se_singulatics rdudlidades_prodgiosas, pot_heroismo ou por-outra dus Fades exemplares-que-déle-fazem_o.chefe. i eats” exercido pelo profeta ou — no dominio, politico ~~ Pulp digigente guerreiro eleito, pelo soberano escolhide através 4s plebscto, pelo grande demagogo ou pelo dirigente de vm furtido politico. —Existey-por-fim,_a_autoridade. que, se Imps Per razio. da "egalidade”, em ravio da crenga na valiez de um sarctaro legal e de uma ‘‘competéncia” positiva, fundada em regras racionalmente estabelecidas ou, em outros ‘térmos, @ auto- ToT fondada na obediéncia, que reconhece obrigasées confor 7 mente de uma vinganga é Rue o nga das poténcias magicas ou dos detentores do pe ae ae de uma Tecompensa nesta terra ou et pore amundo. A obedincia pode, igualmente, ser condiciones ee rerésses € muito variados. A tal assunto vol! od inecentto £m pouco, Seia como fér, cada ver que se treats dtu eee dos fundamentos que “legitimam” rae encontramse, sempre e sem qualgu estago, essas ‘és formas "pura" que acabamos de indian, SS” 8 ssas representagées, bem como sua cen de grande. importincia Para cor a da dominacio. -Certo-€ que, na tealidade, a6 cra to-€ que, ade, 36 : mente se encontam éssescpos putos, Hoje, comnidor geo a combresees —CiPOr, €M pormenor, as variedades, transiges € cembinasSes extremamente complexas que ésses tos senrccme io dessa ordem entra no quadro de uma “ ao enw 4 uma “‘teoria geral do No momento, voltatemos a atengdo, 9 segundo tipo de lgiinidade, ou sie eek te ‘ane ras aopa Catsma” puramente pesoal do “chef Base tipo seus tags ma caractencon Se gma OE entrance yumas pessoas se al um to tim do protta, do chele-de tempo de hace Guero eee? FYE oPEtA no seio da ecclesia ou do Palamento, Aetbo pattt GUE Bes passam por estar Interiormente “cha. Teac tt © papel de concutores de homens ¢ que’ é, Gf obedlitncia fo por costume ou devido a uma lei, ma ve néles se deposita fé: E, se ésses homens forem imag PoE Frnt pts Hyco, fer i Duos, ds segues, dis mers cae se et te 7 militantes orienta-se_exclusiv; att 4 pssoa © para as qualidades do chefe. A Hincas meme Pipes) Ss ete ‘surgem em todos os dominios e em ‘ode # Revestiam, entretanto, © aspecio de duas figures 58 le se essenciais: de uma parte, a do mégico e do profeta ¢, de outra parte, a do chefe escolhido para ditigir a guerra, do chefe de grupo, do condottiere. Proprio do Ocidente € entretanto — ¢ isso nos interessa mais especialmente — a figura do livre “de- magogo”. Este sé triunfou no Ocidente, em meio as cidades in- dependentes e, em especial, nas rezides de civilizagio mediter- rinea, Em nossos dias, ésse tipo se apresenta sob 0 aspecto do “chefe de um partido parlamentar”; continua a s6 ser encont do no Ocidente, que € 0 Ambito dos Estados constitucionais. Esse tipo de homem politico “por vocasio”, no sentido proprio do térmo, nfo constitui de maneira alguma, em pals algum, a tnica figura determinante do empreendimento politico c da luta pelo poder. O fator decisivo reside, antes, na natureza dos meios de que dispem os homens politicos. De que modo conseguem as fércas politicas dominantes afirmar sua autotidade? Essa indagacéo diz respeito a todos os tipos de dominacio ¢ vale, conseqiientemente, para tédas as formas de dominagio po- litica, seja tradicionalista, legalista ou carismaética. Téda emprésa de domina¢fo que reclame continuidade ad: ministrative exige, de um lado, que a atividade dos stididos se oriente em fungio da obediéncia devida aos senhores que pre- tendem ser os detentores da forca legitime e exige, de outro Jado e em virtude daquela obediéncia, contréle dos bens mate- que, em dado caso, se tornem necessitios para aplicagio da {orca fisica. Dito em outras palayras a dominagao organiza da, necessita, por um Tado, de um estado-mator administrativo e, por outro lado, necessita dos meios. materiais de gestio. © estado-maior administrative, que representa externamen- te a organizagio de dominacio politica, tal como aliés qualquer outta organizagio, nfo se inclina a obedecer ao detentor do poder fem tazio apenas das concepsies de legitimidade acima discuti- das. A obediéncia funda-se, antes, em duas espécicis de motivo ‘que se relacionam a interésses pessoais: retribuicéo material e prestigio social, De uma parte, « homenagem dos vassalos, a prebenda dos dignitérios, os vencimentos dos atuais servidotes piblicos e, de outra parte, a honra do cavaleiro, os privilégios das ordens e a dignidade do servidor constituem @ recompensa ‘esperada; ¢ 0 temor de perder 0 conjunto dessas vantagens € a razio decisiva da solidariedade que liga estado-maior admi- 59. rc a nistrativo aos detentores do poder. Eo mesmo corre nos ca- sos de dominasio carismética: esta proporcions, aos soldades figis, a gléria guerreirae as riquezas conquistadas e proporcions, a0s sequidores do demagogo, os “despojos”, isto € 2 explorasio dos administrados gracas a0 monopélio dos tributes, as peque. nas vantagens da atividade politica © as recompensas da vatdede, Para assegurar estabilidade a uma dominagio que se ba. scia na violéncia fazem-se necesstrios, tal como em uma empresa de cardter econdmico, certos bens materiais. Désse ponto de vista, € possivel classiicar as administrages em duas categori A primeira obedece ao seguinte principio: o estado-maior, os fun. cionérios ou outros magistrados, de cuja obediéacia depende o detentor do poder, sd0, éles préprios, os proprietitios dos ins. trumentos de gestio, instrumentos ésses que podem ser recursos financeiros, edificios, material de guerra, parque de velculos, cavalos etc. A segunda categoria obedece a principio oposta: o estado-maior € “tprivado” dos meios de gestio, no mesmo sen. tido em que, na época atual, © empregado e 0 proletitio sio “privados” dos meios materiais de producto numa emprésa cs. pitalista. E, pois, sempre importante indagar se o detentor do poder dirige © organiza a administragio, delegando poder exe. cutivo a servidores ligados a sua pessoa, a empregados que ad- mitiu ou a favoritos ¢ familiares que no s4o proptietétins, isto & que nfo sio possuidores de pleno direito dos meios de gestae ou se, pelo contrétio, « administrasio esta nas maos de pessoas econdmicamente independentes do poder. Essa diferenga € ilus- trada por qualquer das administragoes conhecidas, vemos © nome de agrupamento organizado “segundo 0 principio das ordens” 20 agrupamento politico no qual es meics materiais de gestio sio, total ou parcialmente, propriedade do estado-maior administrative, Na sociedade feudal, por exemplo, © vassalo pagava, com seus préprios recursos, as despesas de administragéo © de aplicacéo da justica no territério que Ihe havia sido confiado ¢ tinha 2 obrigagio de equiparse ¢ spro. visionar-se, em caso de guerra. E da ‘mesma forma procediam os vassalos que a éle estavam subordinados. Essa situacio tinha alguns efeitos no que se refere ao exercicio do poder pelo suze. Fano, de vez que 0 poder déste fundava-se apenas no jaramento pessoal de fidelidade © na circunstincia de que a “legitimids, 60 | de’ da posse de um feudo honra social do vassalo derivavam do suzerano. 5 a Contudo, encontrase também disseminado, mesmo entre as formagées politicas mais antigas, 0 dominio pessoal d — Busea éste transformarse no dominador da administra ent do-a a siditos que a le se lignm de maneira pesol, a es Pe, aisevoie protegidos, a favoritos ta trae £0 = ‘le ase jura vantagens em dinheiro ou em espécie. fe en- see ius dm ee istibuindo as rendas que seu patiménio proporcione ee aero gue, depends clasvamene de 3 ju Gade pessoal, pois que & equipado e suprido por suas cli, rmazéns e arsenals, No primero caso, 20 caso, aa pamento etotrade em “Estados, 0 soberano 66 eanseqie Near com 0 atzclio de uma aristocracia independent 6) om feo isso, ela tha do poder. No sé lo a seeciatea ines nie oni pees as dictamente dependen- tes ou em plebeus, isto é, em camadas sociais desprovias de fortuna e de bone social prépia., Consaientemente, tes in fo ito de vista material, dependem aa Si ee, ‘nfo encontram apoio em neahom = dei le OFS 20 tra eapcie de poder exper de contraporse 20 do soberan,, To ipos de poder patriarcal e patrimonial, 20 des- totane de um ole c os Esai de crows Eri iam-se a essa titima espécie — ¢ insisto muito particularmente a tad burocriieo por ser Ele 0 que melhor caracteriza 0 de seavolvimento racional do Estado modesno. De modo geral,o desenvolvinento do Estado modern tem or ponto de paride 0 desjo de o principe expropriat os pode res “privados” independentes que, a par do seu, dete force dninistratia, isto é todos os proprieisos de meios de pes tio, de recuros finaneios, de instrumentos. militares ¢ ruaisquer espécies de bens suscetiveis de utilizagio para aS Ge cardter politico. Esse processo se desenvolve em pat ef erfeito com o desenvolvimento da emprésa capitalista que do- fina, 2 pouco © pou, os produtores Independentes,E nottse im que, no Estado modemo, o poder que dispoe a SE Ritcuarpoltiow de getae wade reise sb mio inica. Funciondrio algum permanece como proprictério pes- 61 soal do dinheiro que éle manipula ou dos edifiios, re miquinas de guetra que éle conttola. O Estado inoderma = ¢ isto € de importincia no plano dos conceitos — consegui, portanto, ¢ de maneita integral, “privar” a ditegso adminieeat, 1a, 0 focondvos ¢ stabalhadores burocrticos. de quisqur 5 de gestio. Note-se, a essa altura, o surgi process inédito, que se desentola ¢ nosson alhoe © are sega expropriar do expropriador os meios politicos de que éle die Poe € o seu poder politico. Tal & ao menos aparentemente, ¢ conseqiiéncia da revolucio (alema de 1918), na medida om cus novos chefes substitufram as autoridades estabelecidas, em ae © apossaram, por usurpagio ou eleigio, do poder que. conte © conjunto administrativo e de bens materiale e na'medids ene que fazem deriva — poued importa com que direito = « leah timidade de seu poder da vontade dos governados. Gabe, ton ttetanto, indagar se ésse primelro xito — 20 menos aparente — permitird que 4 revolugio alcance 0 dominio do aparelho econdmico do capitaismo, cuja atividade se orienta, escenci, mente, de conformidade com leis inteicamente diversas das que Te a administragio politica. Tendo em vista meu objetivo, imitar-me-ei a registrar esta constatacio de ordem puramente conceital: © Estado moderne é um agrupamento de dominagio ue apresenta caréter institucional e que " 10) monopolist, nos limites de um texiténo, « vclecen fey legitima como instrumento de dominio © que, tendo ésse ob, tio, seuniu nas méos dos dirigentes os meios materais de pee bn Equivale ‘isso a dizer que o Estado modetno expropriou todos os funciondrios que, segundo 0 principio dos “Berelecs disounham outrors, por dircito préprio, de meios de mest mbeiinindos @ tais funciondtios, inclusive no t6po da hi ties, +a dessert Processo de expropriacio que , ito lor ou menor, em todos os pafs fo,giste, goose 9 aparecimento de ume ova epee &e pe ‘icos profissionais”, Trata-se, no caso, de uma tegoria nc que vermite define 0 segundo sentido dessa expresso, Venn -los, de inicio, colocarem-se a servico dos principes. Nao tinhucs a ambicio dos chefes carisméticos e nfo buscavam transformer i gm seohores, mas empenhavam-se na lata politica pers ve carem 4 disposicio de um principe, na gestao de cujos in. terksses politicos encomtsavam ganhapio e contedido motal para 62 suas vidas. Uma vez mais, € s6 no Ocidente que encontramos essa categoria nova de politicos profissionais a servigo de podé- tes outros que nio o dos principes. Nao obstante, foram éles, fem tempos passados, o instrumento mais importante do poder dos principes e da exptopriagio politica que, em beneficio dés- tes, se processava. "Antes de entrar em pormenores, tentemos compreender claramente, sem equivocos € sob todos os aspectos, a significa: S40 do aparecimento dessa nova espécie de “homens politicos Profissionais”. Si possiveis multiplas formas de dedicagio 4 politica —e € 0 mesmo dizer que é possivel, de muitas manei- fas, exercer influéncia sébre a divisio do poder entre formagées politicas diversas ou no interior de cada qual delas. Podese exercitar a politica de mancira “‘ocasional”, mas é igualmente possvel transformar a politica em profissio secundéria ou em profissio principal, exatamente como ocorre na esfera da ativi- ade econémica. ‘Todos exercitamos “ocasionalmente” a politi ca a0 introduzirmos nosso voto em uma urna cu ao exprimir- os nossa vontade de mancira semelhante, como, por exemplo, rmanifestando desaprovagio ou acérdo no curso de uma reuniio “politica”, promunciando um discurso “politico” etc. Alids, para numerosas pessoas, 0 contacto com a politica se reduz a ésse géneto de manifestacées. Outros fazem da atividade politica a profissio “‘secundétia”. ‘Tal é 0 caso de todos aquéles que de- Sempenham o papel de homens de confianga ou de membros dos partidos politicos e que, via de regra, s6 agem assim em caso de necessidade, sem disso fazerem “vida”, nem no sentido material, nem no sentido moral. Tal é também o caso dos integrantes de conselhos de Estado ou de outros érgios consultives, que 36 exercem atividades quando provocados. Tal é, ainda, 0 caso de ‘numerosissimos. parlamentares que s6 exercem atividade politica durante 0 periodo de sessics. Esse tipo de homem politico era ‘comum outrora, na estruturagio por “ordens”, prépria do anti- go regime. Por meio da palavra “ordens”, indicamos os que, por direito pessoal, eram proprietitios dos meios materials de gestio, fOssem de cardter administrativo ou militar, ou os be- neficidtios de privilégios pessoais. Ora, grande parte dos mem- bros dessas “‘ordens” estava longe de consagrar totalmente, ou ‘mesmo precipuamente, a vida a politica; & politica s6 se dedi- ‘eavam ocasionalmente, Nao encatavam suas prettogativas sendo 6 como forma de assegurar rendas ou vantagem pessoal. No in- tertor de seus proprios agrupamentos, sé desenvolviam ativida- de politica nas ocasioes em que seus suzeranos ou seus pares Ines dirigiam souicitasao expressa. Eo mesmo se dava com relaco @ uma importante fragio das forgas auxiliares que o principe colocava a seu servigo, para transformé-la em instrumento’na luca que éle travave com 0 tito de constituir uma organizagio poll Hea a de pessoalmente devotada. Os “conselhetros. privatios” integravam-se a essa categoria, bem como a cla também se in- tegrava, remontando no tempo, grande parte dos conselheizos Que se assentavam nas curias ou em outros érgios consultives a setviso do principe. Evidentemente, entretanto, ésses. auxi liates que s6 ocasionalmente se dedicavam & politica ou que nel viam tiosdments uma atividade secundatia estavam longe de bastar ao principe. Nao lhe restava, portanto, outra alterna. tiva senfo a de buscar rodear-se de um corpo de colaboradores inteita ¢ exclusivamente dedicados & sua pessoa e que fizessem da atividade politica sua principal ocupacio, Naturalmente que ; politica da dinastia nasceate, assim como a fisionomia da civilizagio examinada, dependerd muito, ‘em todos os casos, da camada social onde © principe vd recrutar ‘seus agentes. Eo mesmo cabe dizer, com mais forte taziio, dos agrupamentos politicos que, apés a abolicio completa ou a It mitasio considerdvel de poder senhorial se constituam pollti cemente em comunas “livres” — livres no no sentido de fuga a0 dominio através de recursos a vi léncia, mas no sentido de auséacia de um poder senhorialligitimado pela tradigio e, muito freqiientemente, consagrado pela. religiio e considerado como fonte tnica de qualquer autoridade. Historicamente, essa co. unas s6 se desenvolveram no mundo ocidental, sob a forma primitiva da cidade erigida em agrupamento politico, tal como vemos surgir, pela primeira vez, no ambito da civilizagio me diterrinea, * Fld suas maneitas de fazer politica, Ou se vive “para” a politica ou se vive “da” politica. Nessa oposicio no ha nada de_exclusiiio.~ Muito ao contrério, em geral sé fazem uma e outra coisa ao mesmo tempo, tanto idealmente quanto na pre tica, Quem vive “para” a politica a transforma, no sentido 64 mais profundo do térmo, em “fim de sua vida", seja porque encontra forma de gézo na simples posse do poder, seja porque © exercirio dessa atividade Ihe permite achar equilibrio interno exprimir valor pessoal, colocando-se a servigo de uma “causa” que da significacio a sua vida, Neste sentido profundo, todo homem sétio, que vive para uma causa, vive também dela, ‘Nossa distingZo assenta-se, portanto, num aspecto extremamente impor- tante da condigio do homem politico, ou seja, 0 aspecto econd- mico, Daquele que vé na politica uma permanente fonte de rendas, diremos que “vive da politica” e diremos, no caso con- trétio que “vive para a politica”. Sob regime que se funde nna propriedade privada, € necessétio que se retinam certas con- digies, que os senhores poderio considerar triviais, para que, no sentido mencionado, um homem possa viver “para” a poli- tica, O homem politico deve, em condigdes normais, ser econd- micamente independente das vantagens que a atividade politica Jhe possa proporcionar. Quer isso dizer que lhe € indispensével possuir fortuna pessoal ot ter, no ambito da vida privada, si- tuagio suscetivel de the assegurat ganhos suficientes. Assim deve ser, pelo menos em condigdes normais, pois que os segui dores do chefe guerreiro dio tio pouca importincia as condi ses de uma economia normal quanto os companheiros do agite- dor revolucionitio, Em ambos os casos, vivese apenas da pré- sa, dos roubos, dos confiscos, do curso forcado de bénus de pa- gamento despidos de qualquer valor — pois que tudo isso é, no fundo, a mesma coisa, Tais situacdes sGo, entretanto, necesst- riamente excepcionais; na vida econdmica de todos os dias, s6 a fortuna pessoal assegura independéncia econdmica, homem politico deve, alm disso, ser “econdmicamente dispontvel”, equi- valendo a afirmacio a dizer que éle nfo deve estar obrigado a consagrar téda a sua capacidade de trabalho ¢ de pensamento, constante © pessoalmente, & consecucio da propria subsisténcia, Ora, em tal sentido, o mais “disponivel” € o capitalista, pessoa que recebe rendas sem nenbum trabalho, seja porque, A seme- Ihanga dos grandes senhores de outrora ou dos grandes proprie- titios e da alta nobreza de hoje, éle as aufere da exploricio imo- bilidtia — na Antiguidade © na Idade Média, também os escra- ‘vos e servos tepresentavam fontes da renda —, seja porque as aufere em razio de titulos ou de outras fontes andlogns. Nem © operdrio, nem muito menos — e isso deve ser particularmen- 3 65 ee Te te sublinhado — 0 moderno homem de negécios e, sobretudo, © grande homem de negécios s40 disponiveis no sentido men: cionado. © homem de negécios esté ligado a sua emprésa ¢, portanto, no se encontra dispontvel ¢ muito menos disponivel esté 0 que se dedica a atividades industriais do que 0 dedicado a atividades agricolas, pois que éste é beneficiado pelo carter sazonal da agricultura. Na maioria das vézes, 0 homem de ne- gécios tem dificuldade para deixar-se substituir, ainda que tem- poririamente. © mesmo ocorre com relagio a0 médico, tanto menos disponivel quanto mais eminente e mais consultado. Por motivos de puta técnica profissional, as dificuldades ja se mos- tram menotes no caso do advogado, o que explica a circunstin- cia de éle ter desempenhado, como homem politico profissio- nal, papel incomparivelmente maior ¢, com freqiiéncia, prepon- derante. Nao se faz necessério, entretanto, estender ainda mais esta casufstica; mais conveniente & deixar claras algumas conse: giiéncias do que se acabou de expor. 0 fato de um Estado ou de um partido serem ditigidos por hhomens que, no sentido econémico da palavca, vivam exclusiva. mente pata a politica e no da politica significe, necessiriamente, que as camadas ditigentes so recrutadas segundo critério “plu. tocrético”.Fazendo essa assercio, ndo pretendemos, de manei- 1a alguma, dizer que a ditegio plutocrética nio busque tirar van- tagem de sua situagio dominante, com 0 objetivo de também viver “da” politica, explorando essa posicéo cm beneficio de seus interéses econdmicos. Claro que isso ocorre. Nao hf ca: madas dirigentes que nfo tenham sido levadas a essa explora. so, de uma ou de outra maneira. Nossa asserglo significa sim- plesmente que os homens politicos profissionais nem sempre se véem compelidos a reclamar pagamento pelos servigos que em tal condigio prestam; ao passo que o individuo desprovido de fortuna esta sempre obrigado a tomar ésse aspecto em considera- io. De outra parte, nio & de nossa intengZo insinuar que os ho- mens politicos desprovidos de fortuna tenham como vinica preo. cupasio, durante 0 curso da atividade politica, obter, exclusiva. mente ou mesmo principalmente, vantagens econdmicas ¢ que éles nfo se preocupem ou nfo considerem, em primeito lugar, a causa a que se dedicaram. Nenhuma afirmecio seria mais falsa que a feita em tal sentido, Sabese, por experiéncia, que a preocupagio com a “seguranca” econémica é, com efeito — 66 mancita consciente ou nfo — 0 ponto cardial na orientagio da vida de um homem que j& possui fortuna. O idealismo politico, que nao se detém diante de nenbuma consideragio e de nenhum principio, € praticado, se nfo exclusivamente, 20 menos princi- palmente, por individuos que, em razio da pobreza, estio a margem das camadas sociais interessadas na manutengio de cer- ta ordem econémica em sociedade determinada. Eo que se nota especialmente em perfodos excepcionais, revolucionétios, ‘Tudo que nos interessa realcar é entretanto o seguinte: 0 recru- tamento no plutoeritico do pessoal politico, sejam chefes ou seguidores, envolve, necesstriamente, a condigio de a organiza- fo politica assegurarlhe ganhos regulates e garantidos. Nunca existem, portanto, mais de duas possibilidades. Ou a ativida- de politica se exerce “honorificamente” ¢, nessa hipétese, sd- mente pode ser exercida por pessoas que sejam, como se’ cos- tuma dizer, “independentes”, isto é por pessoas que goram de fortuna pessoal, traduzida, especialmente, em tétmos de rendi- mentos; ou as avenidas do poder sfo abertas a pessoas sem fortuna, caso em que a stividade politica exige remuneracio. © homem politico profissional, que vive “da” politica, pode set um puro “beneficiério” ow um “funcionério” remunerado. Em outras palavras, éle receberd rendas, que sio honorfrios ou emolumentos por servigos determinados — nfo passando a gor- jeta de uma forma desnaturada, irregular ¢ formalmente ilegal dessa espécie de renda — ou que assumem a forma de remune- ragio fixada em dinheiro ou espécie ou en ambos, ‘20 mesmo tempo. O politico pode revestir, portanto, a figura de um “em- Pecpeleel % saprttey te neiactoes, vara, oor prador de carga ou revestir o aspecto de boss norte-americano que encara suas despesas como investimentos de capital, que le transforma em fonte de lucros, mereé da exploracio de sua influéncia politica; ou pode ocdrcer que éle simplesmente rece- ba uma remuneracio fixa, tal como se di com 0 redator ou se- crétario de um partido, com o ministro ou funcionério politico modernos. A compensagao tipica outrora outorgada pelos prin- cipes, pelos conquistadores vitoriosos ou pelos chefes de par- tido, quando triunfantes, consistia em feudos, doagio de terras, prebendas de todo tipo e, com o desenvolvimento da economia inanceira, traduziu-se, mais particularmente, em gratificagSes. Em nossos dias, sto empregos de toda espécie, em partidos, em o7 jornais, em cooperativas, em organizagées de seguro social, cm rmuniepalidades ou na administragio do Estado — distribuidos pelos chefes de partido a seus partidétios, pelos bons ¢ leais ser vigos prestados, As lutas_partidérias. nt ortanto, apenas (0 $80, Jutas_para_consecucio de_metas_objetivas, mas_s40,_a_par_disso, ¢ sobretudo, rivalidades para controlar a distribuicio de empregos. Na Alemanha, t6das as lutas entre as tendéncias particula- istas ¢ as tendéncias centralistas giram, cambém e principalmen- te, em térno désse ponto. {Que podésesinio_coniralat a dis- sribuicto-de empregos. — os im_ou,_a0_contrétio,os_de Munich, de Karlsruhe ou de Dresde? Os partidos se irtitem muito mais com arrankbes ao direito de distribuigio de empre gos do que com desvios de programas. Na Franca, um movie mento municipal, fundado nas forcas respectivas dos partidos politicos, sempre foi considerado perturba¢io mais importante do que uma alteracio no programa governamental e, com efeito, suscitava agitagio maior no pats, dado que, geralmente, 0 pro: ‘grama de govérno tinha significagto apenas verbal. Numerosos pattidos politicos, notadamente nos Estados Unidos da Amética do Norte, transformeramse, depois do desaparecimento das ve- Ihas divergéncias a propdsito de interpretagio da Constituicio, em organizagdes que s6 se dedicam a caga aos empregos e que modifica seu programa concreto em funcio dos votos que haja por captar. Na Espanha, pelo menos até os tiltimos anos, os dois partidos se sucediam no poder, segundo um principio de alternncia consentida, sob a cobertura de cleigdes “pré-fabrica- das” pelas altas direcSes, com o fim de permitir que os partidé- rios dessas duas organizagbes se beneficiassem, alternadamente, das vantagens propiciadas pelos postos administrativos, Nos ter ritérios das antigas col6nias espanholas, as ditas “‘eleig6es” ¢ as ditas “revolugdes” ndo tiveram outro objetivo se no o de dis- por da vasilha de manteiga de que os vencedores esperavam servirse, Na Suica, os partidos pacificamente repartem entre si os empregos, segundo o principio da distribuigio proporcio- nal, Alias, mesmo na Alemanha, certos projetos de constitui- fo ditos “revolucionérios” como, por exemplo, o primeio pro jeto elaborado em Baden, propdem estender o sistema suigo a distribuicgo dos cargos ministeriais ¢, conseqiientemente, consi- deram o Estado € os postos administrativos como instituigSes destinadas a simplesmente proporcionar prebendas, Foi espe- 68 a ees cialmente 0 partido do Centro que se entusiasmou com proje tos désse tipo e, em Baden, chegou a inscrever em seu progr ma a aplicagio do principio de distribuigfo proporcional de car- ‘gos segundo as confissées religiosas, sem se preocupar com a capacidade politica dos futuros dirigentes. Tendéncia idéntica se manifestou em todos os demais partidos, com 0 aumento crescente do nimeto de cargos administrativos que se deu em conseqiiéncia da generalizada burocratizagio, mas também se deu por causa da ambicio crescente de cidadios atrafdos por uma sinecurd administrativa que, hoje em dia, se tornou espé- cie de seguro especifico para o futuro. Dessa forma, aos olhos de seus aderentes, os partidos aparecem, cada vez mais, como uma espécie de trampolim que lhes permitird atingir éste obje- tivo essencial: garantir 0 futuro. _A essa_tendéncia_opde-se, entretanto, 0 modem da-fungio_piblica que, em nossa & ‘pode trabalhadores_intelectuais_especi ficados e que se_preparam, ao-longo-de-anos,-para_o_desempe- ‘take de sua_tarcfa_profissional,_estando animados_por_um_sen- to desenvalvido de’ honra_corporativa, onde se_acen- spftulo-da integridade, Se tal sentimento de honra nao fexistisse entre os funcionétios, estariamos ameagados por uma corrupsio assustadora ¢ nfo escapariamos ao dominio dos filis- teus. Estaria em grande perigo, ao mesmo tempo, o simples rendimento téenico do apatelhamento estatal, cuja importincia econdmica se acentua crescentemente € nfo deivart de ctescer, sobretudo se consideradas as tendéncias atuais no sentido de so- Cializagio. Mesmo nos Estados Unidos da América do Norte, onde, em épocas passadas, se desconhecia a figura do funcioné- rio de earreita e onde o diletantisma administrativo dos politicos deformados permitia que, em fungio do acaso de uma eleicio presidencial, fOssem substitufdas vérias centenas de milhares de funcionérios, mesmo nos Estados Unidos da América do Norte, repitamos, a antiga forma de recrutamento foi, de hé muito, superada pela Civil Service Reform Na origem dessa evolucio, encontram-se exigéncias imperio- sas, de ordem técnica exclusiva. Na Europa, a funcao piblica, ‘organizada segundo 0 principio da divisio do trabalho, desen- volveu-se progressivamente, ao longo de processo que se esten- 69 de por meio milhar de anos. As cidades ¢ condados italianos foram os primeiros a tomarem por essa via; e, no caso das mo- narquias, ésse primeiro lugar foi tomado pelos Estados conquis- tadores normandos. © passo decisivo foi dado relativamente a gestio das finances do principe. Os obstéculos surgidos quan do das reformas administrativas levadas a efeito pelo Imperador Max permitem-nos compreender quanto foi diffcil para os fun- cionérios, mesmo sob pressio de necessidade extrema e sob ameaga turca, privar o soberano da gestéo financeira, embora ésse campo seja, sem dvida, © menos compativel com 0 dile- tantismo de um principe que, por aquela época, aparecia, ainda € antes de tudo, como um cavaleiro, Razao idéntica fazia com que 0 desenvolvimento da técnica militar impusesse a presenca de um oficial de carreira © 0 aperfeigoamento do processo judi iftio reclamasse um jurista competente, Nesses trés dominios — 0 financeiro, o do exército e o da justiga — os funcionfrios de catreira triunfaram definitivamente, nos Estados evolufdos, ‘du: rante o século XVI. Dessa maneita, paralelamente ao fottale- cimento do absolutismo do principe em relacio 3s “ordens”, ocorren sua progressiva abslicaco em favor dos funcionétios que haviam, precisamente, auxiliads principe a alcangar vitérie s- bre as “ordens”, A par dessa ascensio de funciondrios qualificados, era pos- sivel constatar — embora com transigGes menos clatas — uma outra evolusio envolvendo os “dirigentes politicos”. Desde sem- pre ¢ em tados os paises do mundo, houve, evidentemente, com selheiros reais que gozaram de grande autoridade. No Oriente, a nevessidade de reduzir tanto quanto possivel a responsabilida. de pessoal do sultéo, com 6 fito de assegurar o éxito de seu rei- nado, conduziu a criecio da figura tipica do “grio-vizit”. No Ocidente, a0 tempo de Carlos V — que foi também o tempo de Maquiavel — a influéncia que, sabre os circulos especialiaa. dos da diplomacia, exerceu a leitura apaixonada dos relat6rios de embaixadores transformou a atividade diplomatica numa arte le Connoisseurs. Os aficcionados dessa nova arte, formados, em sua majoria, dentro dos quadros do humanism, conside- ravam-se como uma categoria de especialistas, 4 semelhanca dos letrados da China do beixo petiodo, 0 perfodo da divisio do pals em Estados miltiplos. Foi, entretanto, a evolusio dos re. gimes politicos no sentido do constitucionalismo o que permi- 70 tiu sentir, de mancita definitiva e urgente, uma orientagio for- malmente unificada do conjunto da politica, inclusive a politica interna, sob a égide de um sé homem de Estado. Sempre hou- vve, por certo, fortes personalidades que ocuparam a posi¢io de conselheiros ou — em verdade — a de guia do principe. Nio obstante, a organizagio dos podéres piiblicos havia, primitive, mente, seguido via diversa daquela que acabamos de assinalar, tendo ocorrido ése fato mesmo nos Estados mais evoluides. Nota-se, com efeito e desde logo, a constituigao de um corpo administrative supremo, de cardter colegiado. Em teoria, embo- ra com freqiiéncia cada vez menor na prética, ésses organismos teuniam-se sob presidéacia pessoal do principe, tinico a tomar decisdes. Através de tal sistema, que deu origem as propostas, contrapropostas € votos segundo o principio da maioria e, a par disso, devido ao fato de que 0 soberano, além de recorrer as supremas instancias oficiais, apelava a homens de confianga, a Ale pessoalmente ligados — 0 “‘gabinete” —, por cujo inter- médio tomava decisées em resposta as resolugées dos Conselhos de Estado ou de outros érgios da mesma espécie (sem importar © nome que recebessem) — o principe, que se colocava cada vez mais na posigio de um diletante, julgou poder escapar a importancia inexorivelmente crescente dos funciondtios ‘especia- lizados e qualificados, retendo em suas maos a diresao mais alt Percebe-se, por téda parte, essa luta Iatente entre os funcioné. ios especializados ¢ a autoctacia do principe. Bsse estado de coisa 86 se alterou com o surgir dos parla mentos e das aspiragies politicas dos chefes dos pattidos par. Jamentares Embora as condigses désse ndvo desenvolvimento féssem diferentes nos diferentes pafses, conduzitam, nfo obstan. te, a um resultado aparentemente idéntico. Com algumas nuan 28, € certo. Assim, em todos os lugares onde as dinastias con seguiram conservar um poder verdadeito — na Alemanha, no- tadamente —, 0s interésses do principe se aliaram aos dos’ fim. ciondtios, contra as pretenses do Parlamento ¢ suas aspiragies 40 poder. Os funcionitios tinham, com efeito, interésse na pos. sibilidede, aberta a alguns, de ascender a postos do executivo, inclusive os de ministro, que se transformavam, désse modo, em posigio superior da catreira, De sua parte, o monarea tinhs interésse em poder nomear os ministros a seu bel-prazer e de es- colhé-los entre os funcionérios a éle devotados. E havia, enfim, 71 a esses tum interésse comum dessas partes no assegurar unidade de di- segio politica, vendo surgirem condiges de enfrentar 0 Parla- mento sem ciséo interna: tinham essas partes interésse, portan- to, em substituir 0 sistema colegiado por um chefe de gabinete que exprimisse a unidade de vistas do ministério. Acrescente- -se que, para manter-sc ao abtigo das rivalidades entre partidos e dos eventuais ataques désses partidos, o monarca tinha neces- sidade de contar com um responsivel vinico, em condigses de Ihe dar cobertura, isto é com um homem que pudesse dar ex- plicagées aos parlamentares, opor-se aos projetos que éstes apre- sentassem ou negociar com os partidos. Todos ésses diversos interésses agiram conjuntamente e num mesmo sentido, con- duzindo & autoridade unificada de um ministro-funciondrio. O proceso de desenvolvimento do poder parlamentar teve, contu- do, conseqiiéncias ainda maiores no sentido de unificagdo quan- do, como na Inglaterra, 0 Parlamento conseguiu sobrepor-se a0 monarca. Em tal caso, o “gabinete”, tendo 4 frente um dirigen- te parlamentar tinico, o “lider”, assumiu a forma de uma comis- so que se apoiava exclusivamente em sea proprio poder, de- tendo, no pafs, uma {rca real, embora ignorada nas leis, a sa- ber, a orca do partido politico que, na ocasiio, contava com maioria no Parlamento. Deixaram, portanto, os organismos co- legiados oficiais de ser érgio do poder politico dominante — que havia passado aos partidos — e, conseqlientemente, nfo po- diam permanecer como reais detentores do govérno, Para ter condigées de afirmar sua autoridade interna e de orientar a po- Iitica exterior, 0 partido dirigente necessitava, antes de tudo, de um 6rgio diretor composto dnicamente pelos verdadeiros dirigentes do partido, a fim de estar em condigées de manipular confidencialmente os negécios. fsse Grgio era, precisamente, 0 gabinete, Contudo, aos olhos do piblico e, em especial, aos olhos do piiblico parlamentar, havia um chefe tinico responsé- vel por tédas as decisdes: o chefe do gabinete. Sdmente nos Estados Unidos da América ¢ nas democracias por éles influen- ciadas € que se adotou sistema totalmente diverso, consistente ‘em colocar 0 chefe do partido vitorioso, eleito por sufrégio uni- versal direto, 4 frente do conjunto de funciondrios por éle no- meados, dependendo da autorizago do Parlamento apenas em matéria de orgamento ¢ de legislagio. 72 ‘A evolugo, 40 mesmo tempo em que transformava 4 po- Iitica em uma “emprésa”, ia exigindo formagio especial daque- Jes que participavam da luta pelo poder ¢ que aplicavam os mé- todos politicos, tendo em vista os prinefpios do partido moderno. ‘A evolugio conduz, assim, a uma divisio dos funcionérios em dduas categorias: de um lado, os funcionérios de carreira e, de ‘outro, os funcionatios “politicos”. Nao se trata, por certo, de tuma distingdo que faga estanques as duas categorias, mas ela 6, io obstante, suficientemente nitida. Os funciondrios “politicos”, fo sentido proprio do téxmo, sio, regra geral, reconhectveis ex- temamente pela circunstincia de que € possivel deslocitlos & vontade ov, pelo menos “‘coloci-los em disponibilidade”,, tal como acorte com os préfets em Franca ou com funcionérios do mesmo tipo em outros paises. Tal situacio € radicalmente versa da gue tém os funciondrios de carreita de magistratura, Estes “inamoviveis”. Na Inglaterra, € possivel incluir na cate- goria de funcionirios politicos todos os que, por orca de con- Nengio estabelecida, abandonam seus postos, quando tem lugar ‘uma altera¢io da maioria parlamentar ¢, por conseqiéncia, uma reforma do gabinete, Assim ocorte, habitual ¢ especialmente, fem relacio aos funciondrios cuja incumbéncia é a de velar pela “gdministragio interna’, que é, essencialmente, “politica”, im- portando, antes de tudo, em manter a “ordem”” no pafs €, por- tanto, em manter o existente equilfbtio de fércas. Na Prissia. apés © ordenamento de Puttkamer, os funcionétios, sob pena de serem chamados & ordem, eram obrigados a “tomar a defesa da politica do govérno” e, & semelhanca dos préfets em Franca eram utilizados como instrumento oficial para influenciar as clei- goes, No sistema alemio, contudo — contririamente 20 que Se di em outros pafses — a maioria dos funcionsrios “politicos” ficava submetida a uma regra que se aplicava a0 conjunto de funcionfrios, ou seja a de que o acesso as fungées administrati- vvas est sempre ligado a diplomas universitétios, a exames pro- fissionais e a estigio preparatério, Essa caracteristica especifica dos funciondtios modernos nio tem vigincia, na Alemanha, no gue se tefere aos chefes da organizagio politica, isto €, aos m- nistros, Sob o regime antigo, {4 era possivel, na Prissia, que alguém se tornasse ministro dos cultos ou da instrugio, sem ter jamais freqiientado um estabelecimento de ensino superior, 30 73 basso aus, em prin, a pita de consti especial * 6 va quem houvesse obtido aprovaci prescrites. Um chefe de divisio administrative ministerial. ou °s Iministratiy nis conalsiro epaial ecavam, porarto ¢ ceeninene = Ne tempo em que Althoff ocupavaa pasta da Blasio na Prisia muito mais bem informados do que os chefes de Departamen. to acerca dos problems ténicos canereos, afetos a Ese ae tamento. E mio era diferente o estado de coisas ne Inglaterra Tal a tarfo por que o funcionitio expedalizado €'a mais pode- fora peionagem no que diy respito os tabahos em cus Fo verdade, uma situnsio desas naa tem, por sf met, de nc nistro é, acima de tudo, 0 representante da cor ‘cleo pols intaada no poder; cibehe, portant, por em © PIO constelagio de que faz parte, julgan cm fungio de tal programa, as propostes que the sic, ee pelos funcioniriosespeialzados ov dando a seus subordind as Hee politicas conformes a linha de seu partido, es lama emprésa privada, tudo se passa de maneira s te, O verdaeio soberina, ou tj assemble de oom a a ame ee privada, to desprovida de influéncias sé. re ae ed Siege quanto um “povo” dirigido por fun- telcos ene ads As pessoas que tém poder de decisio a 8 politica da emprésa, isto é, os membros “conelno de administioso", dominadas pelos tee on ie gem mals que tragar as cirtivas econdmias e designar quem = ‘ompetente para dirigit a emprésa, pois que clas prdprias nfo tim aidfo para geils steicamente, “Dessep mo te sta, € evidente que nfo constitul novidade alguma a est scl do Estado revolac ono, que ote a directo. adnini- lilctantes, apenas porque és lispdem ae ‘metrathadoras, e que nfo vé nos ptm Meer mis que simples agentes executives, Nio 6, portant, poe eas lado, mas por outo gue se impbe buscar as casas das dificulda- po i ae pelo sistema atual. Nao temos intengdo, entre- , de abordar ésse problema em nossa palestra de hoje. * * No original Voréragender Ret, alto fancionéei repido NO inal Voriratender Rat, so fanciontio mineral enc rgde oe reienacio pein de reais acter dit adder do 74 Convém, agora, dirigit nossa atengio para os tragos pat- ticulares dos politicos protissionais, tanto os que detém posicio He chefia, quanto seus seguidores. Aquéles tragos se tém al terado com 0 decurso do tempo ¢, ainda hoje, apresentam ma- tizes. variados. Como jé fizemos notar, os “politicos profissionsis” surgi- tam, outrora, da luta que opunha o principe is “ordens” € logo cemolocaram a servigo do primeiro. Examinemos, brevemente, 0s principais tipos. Para Jutar contra as ordens, 0 principe buscou apoio nas ‘camadas sociais politicemente disponiveis © nfo comprometidas Som'as mesmas ordens. A essa categoria pertenciam, em primei- sor lugar, os clérigos, tanto nas {ndias orientais como nas oci- Zentais, na China e Japio, na Mongélia dos Lamas ¢ nos paises SHstsoe da Tdade Média. Havia, para isso, uma razéo técnica: Glataverse de pessoas que sabiam escrever. Recorreuse aos bré- hanes, aos sacerdotes budistas, aos Lamas ou aos bispos € s4- Cerdotes, porque néles se encontrava um pessoal administrative potencial capaz de expressarse por escrito ¢ suscetivel de ser PUlizado pelo imperador, pelos principes ou pelo khan na hia fque travavam contra a aristocracia. © sacerdote, ¢ muito par: Teslarmente 0 sacerdote celibatério, colocavase & margem da agitago provocada pelo chogue de interésses politicos e econdm{- os proprios da época e, sobretudo, nio estava tentado, como S vaccalo, 2 conquistar, em detrimento de seu senhot € no in- Revésse de seus descendentes, poder politico préprio. Por sua Eondiglo social, 0 sacerdote estava “>privado” dos meios de ges- tio, dentro do sistema administrative do principe. ‘A segunda categoria veio a ser constitufda pelos Jetrados ‘com formacgo humanistica. Foi um tempo em que, para, aspi- far B posigao de conselheira do principe e, er especial, de histo Hgrafo’ do principe, aprendiase a fazer discursos em latim pomsias em grego. Foi a época de floracio inicial des escolas fomanisticas ¢ da fundacio, pelos teis, das cétedras de “poéti- car epoca tipidamente ulteapassada entre nés. Teve, sem dik Sida influéncia duradoura sébre nosso sistema escolar, mas, em Verdade, nio dew lugar a conseqtiéncias significativas no campo Yo politica, Coisa diversa, entretanto, ocotren no Extremo- Oriente. O mandatim chinés é, ou melhor, foi, em sua origem, oD

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