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Dinheiro e diversao x patriménio e identidade Aencruzilhada dos museus na nova ordem liberal ‘ero Antonio Fonseca de Almeida* s noti jas recentemente veiculadas sobre a implantagio de uma filial do Guggenheim no Rio de Janeiro, inaugurando no Brasil a era dos museus de franquia, tornaram piiblicos os debates, até entao restritos a especialistas, so- bre os novos paradigmas dos museus no mundo contemporanco. O apoio financeiro prometido pela Prefeitura Municipal, na ordem de 150 milhdes de délares', beneficiando uma tinica empresa privada, ¢ 0 perfil do projeto — uma mistura de parque ter toes fundamentais nesse debate: os privado no tocante a pre: Dinhciro e diversao x patrimOnioe identidade ‘A cncruzilhada dos museus na nova ordem liberal Cicero Anténio Fonseca de Almeida A partir das noticias sobre a implantacao de uma filial do Guggenheim no Rio de Janciro, © autor discute os novos paradigmas dos museus no mundo contemporineo. Duas questdes sio fundamentais nesse debate: os conflitos entre o interesse piiblico ¢o privado no tocante a preservacao ea promogio do patriménio cultural ea transformagao dos ‘museus em instituicoes “transnacionais”, cada vez mais mercantilizadas, Suas anilises partem de um hist6rico dos museus do século XIX, articulados a formacio dos Estados nacionais, € vio até os dias de hoje. Levando em consi- deracio uma nova ordem politica ¢ economi- ca que postula a supremacia dos aspectos eco- némicos na reonganizagao das sociedades. Resumo / Abstract *Musedlogo. Pesquisador do IPHAN. Profess RIO, atico com shopping center—, revelaram duas ques- ‘onflitos entre o interesse publico eo ervacao eA promogao do patriménio cultural ea Money and amusement versus heritage and ‘museums at a erossraads inthe new liberal oder Cicero Antinio Fonseca de Almeida Following the news about the settlement of a Guggenbeim branch in Rio de Jancir, the author analyzes the new paradigms of Museums in contemporary world. Two are the fundamental ‘questions: the conflts between public and private interest regarding the preservation and promating ‘the cultural beitage and the transformation of museums in “transnational” institutions more cand mare conomerciall minded. Hisanabss will start with an bistory of museums in the XIX century, in connection to the shaping up of national states, until our days, trying to identify the change in values and museum's aims, The article includes the question of dominance of a ‘new worldwide political and economic order, that claims the sovercinity of economic aspects in the reorganizing of societies. 1 da Escola de Museologia da UNI- 265 transformagao dos museus em instituicdes “transnacionais”, cada vez mais metcantilizadas. Por essas ra7es,a criagao de um muscu no Brasil nunca foi tio noticiada, ¢ deslocou-se dos cadernos de cultura para as paginas de politica cde economia, figurando ao lado da coragao do délar ¢ das bolsas de valores. Talvez, para os mais otimistas, isso demonstre que os museus estdo em evidéncia, ocupando um lugar especial na vida culeural brasileira. Mas uma andlise mais criteriosa pode revelar que os museus estiio atravessando uma crise de valores, especialmente com a incorporacao de mecanismos normal- mente usados no mercado de bens de consumo as aces ligadas a divulgacio ¢ 4 valorizagio do bem cultural, Esse “novo” museu evidencia a supremacia da ordem econémica neoliberal, onde tudo pode ser convertido por um valor de “troca”, organizado hipoteticamente por uma mercado repulador. Para se compreender 0 que chamamos aqui de crise de valores ou mes- mo de nowos paradigmas, basta analisarmos a trajet6ria dos museus a pattir de sua instituctonalizagao definitiva, como resultado do surgimento dos Estados nacionais europeus (século XIX). Neste momento inicial, os museus foram reconhecidos como espacos de legitimagio de um “patriménio nacional”, con- sagtados 4 reuniao dos fragmentos que constituiam o sentido da nacionalida- de. Nesse contexto, ganharam impulso nas primeiras décadas do século XX como estratégias de afirmacio dos Estados totalitérios que emergiram no pe- riodo entre-guerras ¢, assim como as instituigdes de defesa e protesao do patriménio cultural, cumpriram especial papel no conjunto das politicas pii- blicas de definigao das “identidades nacionais”. Nas décadas de 60 ¢ 70, esse paradigma do museu “catedral” da Nacio edo oficialismo passow a ser contestado. As demandas especificas das popu- lagdes no tocante a insersaio dos museus no ambiente politico e social come- saram a ser levadas em conta. Foi emblematica, principalmente para a museologia latino-americana, a “Mesa Redonda de Santiago do Chile” (1972) c seu conceito de “Museu Integral”, ou seja, um museu preocupado com a totalidade dos problemas da sociedade, com a incluso cada vez maior da diversidade das expressdes culturais ¢ dos problemas sociais em suas rotinas. Resgatando as teses de Santiago do Chile, nos anos 80 foram formula~ dos conceitos como “museologia comunitiria”, “museu aberto”, “museu de vizinhanga” ou “ecomuseu” — que refletiam o que se convencionou chamar de “nova museologia’”—-, que buscavam aptofundar ainda mais a aproxima- cio dos museus com a sociedade. © museu rompeu com a imagem do prédio que servia de abrigo ¢ conservacio de colegées e passoua se preocupar coma 266 “musealizagio” como uma qualidade distintiva dos testemunhos materiais da humanidade, preservados ou nfo dentro de suas salas. A preocupagio da Museologia deslocou-se do “objeto” para 0 “sujeito” e a sociedade a qual ele pettence, valorizando a cultura ndo apenas entendida como trago de erudigao, mas como marca da trajetdria humana, transformacao continua da realidade, registro elogiiente de identidade dos povos. No inicio dos anos 90 encontramos também o que Michael Kimmelman? denomina de “novos teatros da consciéncia”, citando os museus de Robben Island (uma antiga prisio politica na Africa do Sul), do Holocausto em Wa- shington ¢ o Museu Judeu em Berlim. Segundo Kimmelman, “servem de memotiais para o sofrimento, lugares onde vamos pata contemplar nossos pecados e até mesmo derramar uma lgrima enquanto admiramos a arquitetu- ra”. Esse “teatro-museu” revalorizou a arquitetura como forma de expressio, levando, em certos casos, o prédio a se tornar 0 elemento central, em detri- mento até mesmo da existéncia de colecdes. A preocupagio com o acervo passou a ser resolvida através de empréstimos temporarios ou mesmo aluguel de objetos. Muitas foram, evidentemente, as situacdes vividas pelas instituigdes museolégicas, principalmente nos iltimos 30-ou 40 anos, e mo seria o caso de inventarid-las neste momento. Muitas dessas novas experiéncias no foram bem-sucedidas, ou nao foram bem aplicadas, tornando-se, portanto, efémeras. Outras foram bem adaptadas a determinadas realidades, mas no lograram 0 mesmo éxito em contextos diferenciados. No entanto, 0 que se observa atual- mente é algo distinto; trata-se do crescimento de uma tendéncia baseada na massificagio e na monetarizacio das atividades desenvolvidas pelos museus, presente na midia e nos debates profissionais. E o Guggenheim torna-se, nes- tas circunstancias, um fendmeno exemplar. Cada vez mais, os eventos organizados pelos museus assumem a totina dos shopping centers, onde tudo é passivel de consumo; se nao podemos com- prar um Monet original, levamos seus quadros para casa através de psteres, calendatios, chaveiros, lépis, camisetas, porta-copos etc. No fim de cada gale- ria ou corredor nos deparamos com lojas de so #venirs, bistrds, butiques e ma- quinas de refrigerantes. Outra marca desse movimento de massificagio pode ser verificada pela ptoducio ¢ pela citculagio de referéncias culturais “transnacionais”, clevadas A categoria de grifes do mercado cultural. Assim, vemos proliferar em diversos museus pelo mundo temas muito semelhantes, vendidos em pacotes por 267 curadores independentes, versando sobre civilizages antigas—com destaque para o Egito dos faraés -, “tesouros” do impressionismo, do expressionismo, do surrcalismo, da moda e do design nos anos 70 ete. No Brasil, ainda que as grifes do mercado de atte internacional tenham atraido grande quantidade de publico a determinados museus, pois que estio sempre associadas 4 uma grande divulgacio, este fendmeno nio tem alterado © comportamento geral do publico em relagio aos museus no pais. Mesmo na temporada de grandes eventos, a visitagio das exposigdes degadgets nao tem gerado interesse do mesmo publico em conhecer as demais. Na verdade, per- cebe-se que a questio crucial sobre a criacao de um publico potencial cada vex mais amplo para os museus, em substitui¢io ao modelo conservador — no qual estas instituicdes serviam apenas aos iniciados ~, nao esté sendo devida- mente contemplada. E mesmo curioso observar que no relatorio do Museu do Louvre de 1999 foi totalizada a presenga de 67 mil brasileiros’, o que revela que as nossas elites ainda estZio mais preparadas pata compreender o fenéme- no do muscu fora do Brasil que em seu prépzio pais. Mas 0 que ocorteu ac longo dos ultimos anos para que os museus se ttansformassem tio radicalmente? Sera este um fendmen: circunscrito numa conjuntura mais ampla? E, diante disso, quais sao as pers- pectivas de atuacio dos museus para o novo milénio? Para ensaiat respostas, é necessdria uma anilise do momento atual que leve em consideragio a hegemonia de uma nova ordem politica e econdmica, de abrangéncia mundial, que postu- laa supremacia dos aspectos econémicos na reorganizagio das sociedades. olado ou esta A panacéia do “mercado” como solugao de todos os males Para refletirmos sobre o que chamamos de tendéncia mercantilista dos museus, devemos necessariamente reconstituit os caminhos nao apenas da cultura, mas da economia e da politica mundiais, particularmente nas \iltimas duas décadas. Desde a queda do regime comunista no leste europeu, sobretudo na antiga Unido das Republicas Socialistas Soviéticas, o mundo foi varrido pela idéia de que nao restava nenhum caminho que nao fosse a alternativa liberal ou propriamente neoliberal. As principais poténcias capitalistas invocaram um programa politico baseado na diminuigio da participagio dos Estados nacionais, para que os mesmos se concentrassem, quando muito, em atividades consideradas tipicas de Estado, como educacio, satide e seguranca, retirando-se do papel de regulador do mercado. Caberia 268

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