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As cadeias de produgao agroindustriais: uma perspectiva para o estudo das inovagées tecnolégicas Mario Otavio Batalha A tecnologia desempenha papel cada vez mais importante como fator explicativo das estruturas industriais e do comportamento com- petitivo das empresas. Pode-se observar, ao longo dos iltimos anos, uma exploséo no nimero de produtos disponiveis aos consumidores em todos os setores de atividade. Lanbin (1991) afirmou que, em ‘empresas de sucesso, de 40% a 60% do faturamento sao realizados por produtos que ha cinco anos inexistiam no mercado. Este fato evidencia a importancia de integrar 0 estudo das inovacdes tecno- lagicas 20 conjunto das aces de reflexdo estratégica das firmas, ‘A utilizac3o de inovagées tecnolégicas como forma de gerar novos produtos é cada vez menos ditada pelo acaso. E necessério que as empresas desenvolvam mecanismos de andlise que permitam avaliar 0 impacto das inovacées tecnolégicas sobre suas atividades as da concorréncia. Do ponto de vista da competitividade, 0 desenvolvimento ou a implantago de uma nova tecnologia sé faz sentido se aumentar de alguma forma a capacidade da firma em ermanecer no mercado em condicdes consideradas satisfatérias. Tentando avangar nessa discussao, procura-se explorar neste ar- tigo as potencialidades do conceito de cadeia de producdo para o estudo da influencia das inovagdes tecnolégicas no proceso com- petitivo das firmas agroindustriais. Para tanto, inicia-se com a ca racterizagao tedrica de uma cadeia de producdo agroindustrial e algumas indicagdes necessérias & construcao do espago analitico por ela delimitado. Nesta etapa, argumenta-se que a arquitetura da representacao do sistema é resultado do encadeamento das ope- ragées técnicas (de jusante a montante) que refletem a seqiiéncia de transformacao das matérias-primas em produtos finais. A seguir, a0 feitas algumas consideracées sobre o meio ambiente concorren- cial no qual as cadeias de producdo agroindustriais estao inseridas, ressaltando a importancia desta andlise e as dificuldades inerentes & definigao da fronteira e dos contornos desse meio ambiente. Na liltima parte do texto, demonstra-se que as cadeias de producso podem ser utilizadas como espaco legitimo na andlise das inovagdes tecnolégicas. Alem disso, sao feitas algumas reflexées sobre os dois principais tipos de inovacao tecnolégica, technologie push e mar keting pull, no ambito dessa analise. Recebido em setembro!95 Maro Otavo Batana, Engenheio Quiico, este em Engenharia de Pradurdo e Doutor em Engenharia de Sstemas Industri, 6 Professor Adunto do Departamento de Engenharia de Produ (OEP) e do Programa e Pés-Gratuagdo om Gest da Produglo € Cocrdenador do Grupo de Estudos Pesquisas ‘Aagoindustiais do DEP da Universidade Fedral e S80 Carlos (UFSCar) E-mail: dmab@powerufsar br Revista de Adminis, So Paulo 90, n4, 94350, oboldezembro 1885, “8 Mério Otévo Bataiha © CONCEITO DE CADEIA DE PRODUGAO AGROINDUSTRIAL’” Algumas definig cial Uma cadeia de producéo agroindustrial possui duas caracteristicas teéricas importantes, as quais devem ser ressaltadas antes que os aspectos ligados & sua metodologia de construcao e & sua utilizacao como ferramenta de anélise das inovagoes tecnolégicas, com as conseqlientes implicagées estratégicas, possam ser abordados. A primeira delas diz respeito ao espaco de andlise que ela delimita. Uma anélise em termos de cadeia de produgao agroindustrial esta situada entre os dois grandes corpos da teoria econémica: a anélise micro- econémica (estudando as unidades de base da econo- mia) e a andlise macroecondmica (estudando os gran- des agregados econémicos). Assim, como metodolo. gia de analise dedicada a problematica da organizacao industrial, ela estaria preocupada com as andlises es- trutural ¢ funcional dos varios setores da economia, no caso especifico do assunto deste artigo, e com a analise dos varios agentes econémicos relacionados ao sistema agroindustrial. No entanto, vale destacar que, embora conceitualmente apta a empreender ané- lises setoriais como as comumente efetuadas pelas ferramentas analiticas classicas da organizacao indus- trial, a andlise em termos de cadeia de producéo é especialmente adaptada a problematica do sistema agroindustrial (Batalha, 1993). Ela permite, através de cortes verticais, uma segmentacio fina do sis tema agroindustrial, de tal forma que o espaco de analise observado possa efetivamente corresponder 0 campo privilegiado da acao estratégica da empresa, da qual fazem parte as acdes estratégicas ligadas & tecnologia. Esta visdo mesoanalitica, proporcionada pela cadeia de producdo agroindustrial, foi definida por Arena (1983) como a “andlise estrutural e fun- ional dos subconjuntos e de suas interdependencias dentro de um conjunto integrado”. As idéias subja- centes a essa definig&o remetem diretamente a um pensamento sistémico, © qual corresponde & segunda caracteristica tebrica que seré abordada nesta parte inicial do trabalho. Pelas suas caracteristicas, uma cadeia de producso agroindustrial pode ser vista como um sistema aberto (Batalha, 1993). Esta idéia, desenvoivida inicialmente no campo da biologia, esté centrada no estudo das relagées entre o organismo (empresa) e 0 seu meio ambiente. A permeabilidade do sistema as influéncias externas coaduna-se, perfeitamente, com 0s novos paradigmas do pensamento estratégico, 0s quals pro- pugnam a interagéo constante da firma com o meio ambiente em que ela se insere, como forma de ge- rantir o seu sucesso em face da concorréncia. E in- teressante sublinhar que esta observagio dos fatores externos no diminui a importancia de uma boa ges- to estratégica, tatica ¢ operacional das funcées ge renciais internas a firma, As andlises interna e exter- na, fatores presentes em praticamente todas as me- todologias classicas de planejamento estratégico, so complementares e igualmente importantes. O que me- rece ser destacado € que a divisio da firma em sub- sistemas funcionais (marketing, produgio, vendas, P&D etc.) nao permite compreender adequadamente © comportamento global da empresa e, ainda menos, a maneira como ela se insere em seu meio ambiente concorrencial. O encadeamento desses subsistemas, de forma a representar o conjunto de atividades per- tinentes localizadas a montante ¢ a jusante da ativi- dade principal da firma, revela-se de dificil utiizacao pratica Grosso modo, uma cadeia de producao agroindus- trial pode ser dividida, quando percorrida de jusante ‘a montante, em trés macro-segmentos(2). Em muitos casos praticos os limites dessa divisdo n&o sao facil- mente identificaveis. Além disso, ela pode variar mui to, segundo o tipo de produto e o objetivo da anélise. Os trés macro-segmentos propostos sio: ‘* Comercializagéo — representa as empresas que esto em contato com o cliente final da cadeia de produgao e que viabilizam 0 consumo e 0 comércio dos produtos finals (supermercados, mercearias, res- taurantes, cantinas etc.). Podem ser incluidas neste macro-segmento as empresas responséveis somente pela logistica de distribuicao. Industrializacéo — representa as firmas respon- sdveis pela transformacio das matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor. Neste caso, © consumidor pode ser uma unidade familiar ou uma outra agroindastria. Produgao de matérias-primas — reiine as firmas fornecedoras das matérias-primas iniciais para que coulras empresas avancem no proceso de produgso do produto final (agricultura, pecuéria, pesca, pisci- cultura etc.) Na figura a seguir estéo representas, esquematica- mente, duas cadeias de produgio agroindustriais (CPA) quaisquer. Ambas s0 nao-lineares, visto que ‘a operacso 7 pode ser seguida das operacdes 9 ¢ 12 ou da 10, as quais darao origem, conforme 0 caso, “4 Revista de Admnsragto, Sto Pauo v20,n4, 94350, oubdezembro 1995 AS CADEIAS DE PRODUGAO AGROINDUSTRIAIS: UNA PERSPECTIVA PARA O ESTUDO DAS INOVAGOES TECNOLOGICAS a0 produto 1 ou ao produto 2. Em geral, isto ocorre nna maioria das CPA, podendo uma operacso a mon- tante alimentar varias outras situadas a jusante, Neste caso, pode-se falar de ligacdes divergentes. Con- tudo, existem também ligagdes convergentes, nas quais vérias operacées a montante darao origem a rntimero menot de operagies a jusante. No exemplo apresentado na figura, as operagies 4, 5 e 6 dardo origem & operagao 8 ou a 7. Nao é raro encontrar no interior das CPA mecanismos de retroalimentaco; pode ocorrer que um produto oriundo de uma etapa intermedidria alimente, na mesma CPA, outra opera- 0 situada a montante da etapa intermediéria em uestao. PAA cPA2 Produgéo de Malérie-Prima Industiaizngdo opera Sistema de Produgao Composto por Duas Cadeias de Producao Agroindustriais (CPA) As operagdes representadas na figura podem, do Ponto de vista conceitual, ser de origem técnica, lo- gistica ou comercial. No entanto, a representacao gré- fica de uma CPA com esse nivel de detalhe seria de dificil execugao pratica, com duvidosos ganhos de qua- lidade de informacao em termos de visualizacao. As- sim, propde-se que a representacao seja feita seguindo © encadeamento das operagdes técnicas necessérias & elaboracéo do produto final (Batalha, 1993). Os aspectos tecnolégicos assumem, neste caso, papel fundamental. O esqueleto da CPA seria, entéo, com- posto pela sucesso de operagées tecnolégicas de pro- ucao, distintas e dissociavels, associadas @ obtencdo, de determinado produto necessirio & satisfacao de um mesmo segmento de demanda. Estando estabele- cido 0 flow chart de produgio, deve ser arbitrado 0 grau de detalhe da representacio. Todas as operacées de produce devem, necessariamente, ser repre- sentadas? Em geral, nao ¢ dificil decompor um processo in- dustrial de fabricacao segundo algumas etapas princi- pais de producao. Assim, seria razoavel considerar ue, apés passar por varias operagdes de fabricacéo, um produto possa alcancar um estado intermedié- rio de producao (Parent, 1979; Floriot, 1986; Bi- dault, 1988). Vale lembrar que o termo intermedia- tio diz respeito ao produto final da CPA. A producto de dleo refinado de soja, por exemplo, poderia ser considerada um estado intermedirio de producao na fabricacao de produtos finais como margarina e maio- nese. O produto desse estado intermediario de produeao cevera ter estabilidade fisica suficiente para ser comercializado, além de, evidentemente, possuir valor real ou potencial de mercado. A existéncia desses mercados permite @ articula- ‘640 dos varios macro-segmentos da CPA, bem como das etapas intermediérias de producdo que os com poem. Dentro de uma cadeia de produgo agroindus- trial tipica podem ser visualizados, no minimo, quatro mereados com diferentes caracteristicas (Batalha & Silva, 1994) entre 08 produtores de insumos € os produtores + entre os produtores rurais ea agroindiistria; + entre a agroindéstria e os distribuidores ou entre as agroindéstrias; * entre os distribuidores e os consumidores finais. A légica de encadeamento das operacdes elemen- tares de base (OEB), como forma de definir a estrutura de uma CPA, deve se situar sempre de jusante a montante. Esta logica assume, implicitamente, que as condicionantes impostas pelo consumidor final so as pprincipais indutoras de mudancas no status quo do sistema. Cabe ressaltar que as CPA nao sto estanques entre si, Determinado complexo agroindustrial pode apre- Revista de Adriaan, Sao Paulo ¥.30, n4, e450, uutroidezerbo 1896 6 Mério Otévo Bataine sentar OEB ou estados intermedisrios de producao comuns a varias CPA que o compéem'3), Neste caso, pode ocorrer 0 que sera chamado de operagdes-n6. Estas operagées so muito importantes do ponto de vista estratégico, pois representam lugares privilegia~ dos para a obtencdo de sinergias dentro do sistema, alem de funcionarem como pontos de partida eficien- tes para a diversificagao das firmas. Concluindo, pode-se dizer que o sistema produtivo associado a uma CPA teria como unidades basicas de andlise e de construgdo do sistema as varias OEB que definem © conjunto das atividades no qual a firma esta inserida, estando as operagdes técnicas de pro- dugdo responséveis pela definicao da arquitetura do sistema. Na verdade, @ 0 formato destes caminhos tecnolégicos que determina, em grande parte, a via~ bilidade e a oportunidade do aparecimento das ope- rages logisticas e de comercializacio. O posiciona- mento da firma dentro do sistema, assim como o da concorréneia, ¢ facilmente identificével atraves da ob- servacéo das operacdes pelas quais a firma & respon s4vel no conjunto das atividades necessérias & elabo- ragao do produto final. A cadela de producio agroindustrial eo seu meio ambiente concorrencial A dinamica de funcionamento de uma CPA nao ditada somente pelo tipo e pela forma de encadea- ‘mento das OEB que a formam. Todas essas operacées evoluem em um meio ambiente condicionado por fa- tores de origens diversas. A delimitacao do meio ambiente concorrencial de uma firma representa um dos grandes problemas de qualquer avaliagSo.estratégica (Crozier & Friedberg, 1977; Denis, 1990). Crozier & Friedberg definiram como “meio ambiente pertinente” da firma “o con- junto de atores sociais cujos comportamentos condi- cionam de forma mais ou menos direta a capacidade desta organiza¢ao para trabalhar de maneira satisfa- téria e atingir seus objetivos...”. Esta definicao coloca algumas questées importantes. Quais séo esses atores sociais? Sobre quais varidveis eles agem? Qual a im- portancia dessas variaveis para a firma? Como definir a fronteira entre a firma e 0 seu meio ambiente? Essas dificuldades s80 maiores quando 0 nivel de anélise passa da firma para a CPA. A multiplicidade de atores participantes do sistema, os seus interesses distintos e os seus diversos papéis de atuacao com- plicam ainda mais © problema. No entanto, por mais complexo que seja ele, um estudo em termos de CPA Bo pode se escusar de, sob o risco de falsear com: pletamente suas conclusdes, tentar identificar quais as principals variéveis externas que agem sobre 0 sistema e qual a importancia relativa de cada uma delas, tanto para a dinémica de funcionamento do sistema como um todo como para os seus agentes econdmicos em particular, Visando sistematizar esse procedimento, propoe-se neste artigo 0 agrupamento desses fatores em cinco grupos principais: fatores tecnologicos, fatores eco- nomicos e financeiros, fatores socioculturais, fatores politicos e fatores legais ou Juridicos. A representacio grafica do meio ambiente concorrencial da CPA nao @ simples. No entanto, pode-se imaginar uma matriz, ‘em que as colunas seriam representadas pelas OEB @ as linhas pelas diversas influéncias externas vindas do meio ambiente. Evidentemente, a importancia des: ses fatores evolu conforme a OEB considerada e, mantendo-se a abstracdo inicial, alauras das inter- secgées entre linhas e colunas seriam desprovidas de sentido ou insignificantes do ponto de vista de suas conseqtiéncias para 0 funcionamento do conjunto, Ainda no sentido de sistematizar a busca das con- seqiiéncias dessas varidveis externas para o funciona- mento do sistema, algumas questdes podem ser co- locadas para cada grupo de fatores citado. A lista de questées no esgota, necessariamente, a problematica do assunto, mas pode funcionar como ponto de par- tida para futuras andlises. A titulo de exemplo, e como 8 fatores tecnolégicos esto mais proximos dos ob- jetivos deste artigo, constam no box da pagina se- guinte algumas dessas questées para o meio ambiente tecnolégico no qual a CPA evolu A construgao de uma cadeia de producéo agroin- dustrial, nos moldes descritos, representa uma ferra- menta de anélise poderosa para a identificacéo e 0 estudo das opgées tecnolégicas das firmas. A CADEIA DE PRODUGAO AGROINDUSTRIAL (COMO FERRAMENTA DE ANALISE DAS MUDANGAS TECNOLOGICAS Pode-se dizer que, de maneira geral, a literatura referente ao estudo das inovagées tecnolégicas segue dois caminhos diferentes. O primeiro, centrado em estudos empiricos, baseia-se na anélise de varios ca: 808 para, a partir dessas andlises, propor uma gene- ralizagao de métodos e resultados. O segundo, com arcabougo tedrico mais bem-definido, apdia-se na conceituagio, na anélise do processo de inovagao na valorizacao da tecnologia como arma competitiva Este tltimo approach propde um quadro teérico geral, buscando sistematizar as anélises que ligam os pro- cedimentos de gestao a tecnologia. Esse quadro ted- rico é representado, principalmente, pelos trabalhos 6 Revista de Adminsvapto, Sto Paulo v30,n4, 94350, cubotezembeo 1995 AS CADEIAS DE PRODUGO AGROINDUSTRIAIS: UMA PERSPECTIVA PARA O ESTUDO DAS INOVAGOES TECNOLOGICAS Questdes para o Meio Ambiente Tecnolégico da Cadeia de Produgdo Agroindustrial © Quais séo as teenologias de base ulizadas nos process prod- vos da CPA? + Essas teonlogias esto patenteadias? ‘+ Quem séo os proprictirios das patentes? Esses propritrios con- ‘rbuem diretamente na CPA (asseguram algum estado interme clio de produpso) ou fomecem para todas asfrmas concorentes dda mesma CPA? ‘sistem auras teoologias csponive's para contomar essas pa fenles? Eles so acessiveis? «+ Como séo desenvelvides as avidades de P&D dento da CPA? «Extrem, utinement, inovegSes tecnotgicas importantes deni ho sisema? Quai foram as conseqiénces para a sua dndica e unconamenio? + Exist a posstiidade de transfréncia de tecnologia de ovras PA? ‘ Quais 5200s tps de emresas (ede quai otros sefores) que sizam tecnologia promas aquelas usadas na CPA? Séo pos- ‘ives aiangastecnolgicas com esses empresas? * Qual é a lgica de produgdo das empresas da CPA? Els taba Iham sob encomenda ou para estoque? Qual 6 a provide, roducdo de massa com produtcs nao ferenciados ou pros Gversiicados? * Como e quai inovages tecncgicas transversais poveriam afe- taro sistema? seminais de Schumpeter (1934, 1939, 1943) e de outros autores que, inspirando-se em suas idéias, pro- curaram explicitar melhor os mecanismos inerentes a0 proceso de inovacdo tecnolégica (Dosi, 1982; Freeman, 1982; Nelson & Winter, 1982; Tiralap, 1990) ‘A nogéo de cadela de producao tem sido utilizada por varios autores para estudar © processo de inova $80 tecnolégica. A inovaco tecnoldgica, enquanto varivel suscetivel de dinamizar a concorréncia no in- terior de uma dada cadeia de producéo, aparece em varios trabalhos (Floriot, 1980; Marchesnay, 1983 Garrouste, 1984; Guidat, 1984; Kliemann, 1985; Ba- talha, 1993) Para Schumpeter, 0 papel da empresa inovadora € contestar continuamente © equilbrio das estruturas industriais, por meio da modificag3o das regras do jogo concorrencial, entre outras. Segundo Tarondeau (1982), "0 empreendedor-inovador modifica @ situa- 80 estabelecida com o objetivo de obter lucros su- plementares e, desta forma, estimula imitadores e/ou outras inovacées a jusante ou a montante da pertur- Revista de Administ, So Paulo v30,n4, 4340, ouibléerembro 1985, bagao criada pela inovagao inicial”, Para Schumpeter, a economia & um sistema dinamico que modifica de ‘maneira continua suas estruturas sob a pressio da concorréncia. Por sua vez, a anélise em termos de cadeias de producdo objetiva, justamente, a observa- ‘a0 das firmas (mesoanilise) dentro de uma dtica sis temica de acdo e reacéo dos agentes econdmicos que as influenciam de maneita direta ou indireta, o que se ajusta perfeitamente as idéias de Schumpeter. Além disso, seria razoavel pensar que um sistema tecnico, neste caso uma cadeia de producéo agroin- dustrial, seguiria um ciclo de vida anélogo ao ciclo de vida dos produtos. Assim, esse sistema acabaria por atingir uma fase de declinio que assinalaria a sua substituicgo por outro mais eficiente. Este novo sis tema seria tributério de novas tecnologias. bem como de uma nova rede de relagées técnicas, logisticas comerciais. A representagao de um sistema produtivo em ter- mos de cadeia de producao adapta-se muito bem como ferramenta de estudo para identificer, por exem- plo, as perturbacdes criadas a montante @ a jusante da inovacao original. Esse tipo de analise pode ir ainda mais longe, na medida em que permite avaliar as conseqiléncias das inovagdes nao somente no in- terior da cadeia de produgao, delimitada como espaco analitico inicial (andlise vertical), mas também junto as outras cadeias de produgao que com ela se inter conectam (anélise horizontal). Neste caso, pode ser utilizada a nocdo de operagdes-né. No entanto, alguns autores (Tournemine, 1991) Ultrapassaram as idéias de Schumpeter para tentar cexplicar com maiores detalhes os mecanismos do pi 2850 de inovacao tecnolégica. Assim, os desequili- brios estruturais ocasionados pelas inovagées tecno- lagicas seriam o resultado de trés fatores principais. rocesso acumulativo (os mecanismos de feedback conduziriam & melhoria continua e cumulativa do savoir faire cientifico e técnico e das capacidades organizacionais ¢ de gestao), institucionalizacdo da pesquisa no interior das firmas e interagao entre mer- cado ¢ tecnologia. essa forma, anélises baseadas somente em siste- mas técnicos (ligages entre operacées técnicas, se- gundo uma rede hierarquizada que evolui, progressi- vamente, ao longo do tempo) no seriam capazes de contemplar os pressupostos evocados acima. Esta cri- tica, no caso das cadeias de produgao agroindustriais, pode ser facilmente contornada por meio das idéias 8 apresentadas e que contemplam analises comple- mentares oriundas de fatores econémicos e financei 105, fatores socioculturais, fatores politicos ou, ainda, fatores legais ou juridicos. Mério Otévio Bataina Uma inovagao tecnolégica pode ser classificada conforme a “natureza intrinseca da idéia inovadora” (Lanbin, 1991; Tournemine, 1991). Essa classificacao origina inovagdes de cardter predominantemente tec nolégico (technologie push) ou de cardter predomi- nantemente mercadolégico (marketing pull). Uma fir- ma que adota uma estratégia tecnolégica do tipo tech nologie push prioriza agdes de desenvolvimento de novos processos de fabricacao, novas matérias-pri- mas, produtos de concepeéo inovadora etc, Empresas voltadas para estratégias tecnolégicas do tipo market- ing pull s80 orientadas diretamente pela demanda, ‘ou seja, as inovagdes s80 resultados diretos da obser- vvacao dos mercados. Neste caso, elas estéo relacio- nadas a atividades como novas formas de distribuigao, rnovas formas de embalagem, reposicionamento do marketing de um produto, novo modo de pagamento ou financiamento do consumidor etc. Esse tipo de inovacdo representa, em geral, investimento menos importante e, por conseqéncia, com menor risco para a firma, No caso das firmas agroindustriais, e principalmente no das firmas agroalimentares!!, a maioria das inovagées € do tipo marketing pull, sen- do 0s novos produtos, sobretudo, o resultado de novas formulacées ou novas embalagens. As inovagées, quer sejam do tipo technologie push, quer sejam do tip marketing pull, néo devem se tornar assunto exclusive de engenheiros e técnicos. Os profissionais de marketing s80 indispensavels nos processos de andlise ¢ de lancamento de novos pro- dutos ou de novas tecnologias. Assim, uma reflexao fem termos de cadeia de producao seria interessante para harmonizar os interesses, por vezes discordantes, das reas de marketing, producdo e P&D. Uma re- flexdo nesses moldes permitiria apresentar as opera ges técnicas ao lado das comerciais e logisticas, de forma a ser muito mais facil para as partes envolvidas exprimirem e argumentarem suas idéias em face de uma visio de conjunto ‘As operagbes técnicas de uma cadeia de produgao podem ser distribuidas em trés classes distintas, se- gundo seu contetido tecnolbgico (Maisseu & Le Duff, 1991), Sao elas: + Tecnologias de base — operacées necessarias & atividade principal da cadela, porém facilmente dis- poniveis e, portanto, sem impacto competitivo im: portante. * Tecnologias-chave — operagées determinantes do ponto de vista do impacto concorrencial. Essas tecnologias estéo associadas as operagées-cha- vel®) da cadeia de producao. + Tecnologias emergentes — operacées ligadas as tecnologias importantes do ponto de vista da evo- luo futura do sistema, Assim, tanto a importancia da tecnologia como a das inovacées tecnolégicas deve ser ponderadas conforme @ presenca, na cadeia de producéo, dos tipos de tecnologias apresentadas acima. Uma cadeia de producao formada por um sistema técnico com- posto por tecnologias de base, e no qual a presenga atual ou futura de tecnologias-chave ou emergentes & negligenciével, ter poucas condicionantes tecnolégi- cas que possam influenciar a concorréncia. Este € 0 caso de grande parte das cadelas de producio agroin- dustriais que utiliza processos de fabricacao larga- mente conhecidos e disponiveis para as empresas. Cabe ressaltar que as inovagdes tecnolégicas so cada vez menos especificas a uma cadeia de producso linica. Elas vem assumindo um cardter transversal, por atingirem varias cadeias de producéo ao mesmo tempo. As transformacées tecnolégicas impostas a0 sistema s80, na maioria das vezes, de origem externa as atividades consideradas inicialmente. Este é, em particular, 0 caso das cadeias de produgdo agroindus- triais que encontram em outros setores da economia suas principais fontes de inovacao tecnolégica (emba- lagens, aditivos, equipamentos, insumos etc.). O setor agroindustrial é tradicionalmente, em todo o mundo, um dos que menos investem em P&D. Uma inovagao tecnolégica pode ser classificada segundo 0 grau de perturbacao que ocasiona & cadeia de producdo. Assim, & possivel distinguir dois tipos principais de inovacao tecnolégica, descritos a seguir * Inovagao tecnolégica com tecnologia especi- fica e efeitos locais — inovagées tecnolégicas com conseqiiéncias que repousam quase que exclu- sivamente sobre determinada cadeia de producdo. Este @ 0 caso, por exemplo, do processo de ultra- filtracao do leite, realizado na propriedade rural. + Inovagao tecnolégica com tecnologia de efei- to difuso — inovacées tecnolégicas com capacida- de de alterar a dinamica concorrencial de varias cadeias de produgao ao mesmo tempo. Os avancos na rea da microinformatica so um bom exemplo dessas inovagées, Empresas que adotam uma estratégia do tipo tech: nologie push tém interesse no desenvolvimento de tecnologias de efeito difuso, 0 que garante maior nti- mero de usudrios para elas a diluicao dos custos 8 Revista de Administra, Sto Paulo v30,n4, 94250, oubrodecembro 1995 [AS CADEIAS DE PRODUGKO AGROINDUSTRIAIS: UMA PERSPECTIVA PARA 0 ESTUDO DAS INOVAGOES TECNOLOGICAS das pesquisas. Por outro lado, 0 desenvolvimento de inovagées tecnolégicas com efeitos locais pode pro- porcionar controle mais estreito de uma dada cadeta de producéo agroindustrial, 0 que, conforme a atra- tividade dos mercados a ela ligados, também pode significar uma boa estratégia concorrencial. CONCLUSAO principal objetivo neste trabalho foi apresentar © conceito de cadeia de producao agroindustrial & criticé-lo em funggo de sua maior ou sua menor apli- cabilidade ao estudo das inovagdes tecnolégicas. Pode-se concluir, pelo exposto ao longo deste tex- to, que as anélises proporcionadas por um approach em termos de cadeia de producao agroindustrial, acrescido de estudos complementares relativos a0 meio ambiente concorrencial no qual essa cadeia de produgo evolui, permitem compreender adequada- mente o impacto das inovacées tecnolégicas sobre os agentes que a compéem, bem como sobre a dindmica de funcionamento do conjunto. (1) As idéias apresentadas nesta parte do traba- Iho, e que iro permear o restante deste ar- tigo, esto diretamente relacionadas com a nocéo de fillére. A andlise de fillére é uma das ferramentas privilegiadas daquela que po- deria ser chamada escola francesa de Eco- rnomia Industrial. Assume-se que, embora sa- crificando algumas nuangas menos relevantes para 0 assunto deste artigo, a palavra filiére possa ser traduzida pela expresso cadeta de producao. NOTAS (2) Na divis8o proposta neste texto, o setor de producéo de insumos agropecuérios nao fot considerado como um dos macro-segmentos principais da cadela. Os argumentos para ‘esta consideragao fogem ao escopo deste tra- balho. No entanto, isso nao diminui sua im- portancia como fator indutor de mudangas na dinamica de funcionamento do sistema agroindustrial como um todo. (3) Os termos Sistema Agroindustrial, Complexo Agroindustrial e Cadeia de Produgo Agroin- dustrial nao so sinénimos. Apesar de muitas vezes serem usados na literatura de maneira ‘Alem disso, esse tipo de anélise permite elaborar estudos prospectivos em relago as possiveis mudan- «as tecnolégicas que venham a modificar as condigSes concorrenciais do sistema. A empresa pode apostar em determinado cenario tecnolégico para o futuro € orientar suas acdes no sentido de concretizé:lo. E evidente que esse cenério, do qual fazem parte as variaveis tecnolégicas, deve ser coerente com os ob- jetivos globais da empresa. No entanto, alguns problemas importantes perma- necem. Algumas inovacdes tecnolégicas de caréter transversal s80 de dificil previs8o. A delimitac3o dos contornos da CPA (em profundidade e em largura) continua sendo um problema maior que, na maioria dos casos, é arbitrado pelo bom senso do analista. © processo de difuséo tecnolégica ao longo de uma cadeia de producéo ou dentro de um sistema mais am- plo, composto por varias cadeias de producdo interco- nectadas, merece ser melhor estudado. As dificuldades de representacao do sistema, bem como as de suas inter-relagées, crescem rapidamente, & medida que as cadeias de producéo perdem sua linearidade, @ (4) a © impropria, uma discusso aprofundada sobre 05 limites de cada um deles nao cabe neste artigo. Contudo, convém esclarecer, para 0 entendimento deste trabalho, que o Sistema Agroindustrial pode ser visto como formado por Complexos Agroindustriais que, por sua vvez, so formados por Cadeias de Produgao Agroindustriais. Maiores esclarecimentos sobre os outros gru- pos de fatores, assim como sobre 0 conjunto dos procedimentos, podem ser obtidos em Batalha (1993), Neste artigo, as firmas agroalimentares s80 consideradas como um subconjunto das fir- mas agroindustriais Uma operacao basica elementar (técnica, co- mercial ou logistica) pode ser considerada chave quando influencia de maneira impor- tante a dinamica de funcionamento de uma dada cadeia de producéo agroindustrial, con- dicionando sua forma e/ou a intensidade das trocas ocorridas no exterior ou no interior dos seus limites. Revista de Admins, Sto Paso v30,n4, p43 $0, oubrodezentro 1955 * Mério Otévio Botatha 10 RESUM Palavras-chave ABSTRACT Discute-se neste artigo a utilizacao do conceito de cadeia de producdo agroindustrial (CPA) como ferramenta de andlise das inovagées tecnolégicas no sistema agroindustrial. Algumas consideracdes teéricas relativas as CPA sto apresentadas, juntamente com aspectos relacionados ao meio ambiente ‘no qual elas evoluem. Finalmente, discute-se e critica-se a aplicabilidade desse conceito & analise das mudangas tecnolégicas no sistema agroindustrial cadeia de produgio agroindustrial, agribusiness, inovagao tecnolégica This paper discusses the employment of the agroindustrial production chain (APC) concept as a analysis tool to evaluate technological innovations in the agribusiness system. Theoretical considerations on the APC’s are presented, altogether with characteristics related to their environment. Finally, the paper criticizes the applicability of that concept to analyze technological changes in the agribusiness system. Uniterms: agroindustrial production chain, agribusiness, technological innovation. RAFICAS REFERENCIAS BIBLIOG! ARENA, R. Méso-analye et thre de feconomi indus tele: Economie Indust, Pats, Fanga, ADEFI, 1968 BATALHA, MO. 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