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AVANÇO À AÇÃO INTERSETORIAL: PRODUÇÃO DE SAÚDE MENTAL NA ESCOLA

Caroline Zamboni de Souza1

No Brasil, as três primeiras Conferências Nacionais de Saúde Mental marcaram a trajetória


da luta antimanicomial por consolidarem processos vitoriosos de superação de preconceitos e
provocarem avanços na atenção à saúde da população, na organização do processo de trabalho e da
rede de atendimento aos usuários articulando saberes científicos e ação política. A quarta
Conferência convoca-nos a ampliar o desafio: discutir saúde mental a partir de uma perspectiva
intersetorial, ou seja, extrapolar o campo e a linguagem da saúde e comprometer outros fazeres e
saberes. A discussão se amplia e problematiza os entendimentos socialmente construídos do que é
saúde mental. Neste texto desejamos instigar o pensamento dos leitores e leitoras sobre a escola
como interlocutora e parceira da promoção de saúde mental a partir da lógica da intersetorialidade.
Geralmente, a saúde mental aparece na escola pelo seu avesso: a doença mental, o
sofrimento psíquico e as dificuldades de relação entre as pessoas. O saber biomédico aliado as
mídias hegemônicas2 apresentam aos educadores, profissionais da saúde, estudantes e familiares um
vocabulário repleto de diagnósticos de doenças para fazer uma leitura destas situações: depressão,
déficit de atenção, bipolar, síndrome do pânico, entre outros. Estes diagnósticos amplamente
divulgados, são questionáveis quando utilizados para rotular pessoas e comportamentos, quando
encontram-se descomprometidos de um processo de superação da situação de sofrimento.
Lembremos que atualmente, a mídia hegemônica assume um lugar paralelo ao da ciência na
modernidade e ao da religião na idade média, ao que se refere à construção de verdades, mas tem
uma ação muito mais rápida. Fala-se muito sobre o que é normal e o que é patológico na escola,
mas será que tudo que é dito, pela mídia hegemônica, ajuda na prática de profissionais da educação
e saúde?
Vivemos um momento histórico em que se busca uma solução rápida para tudo que causa
preocupação, tristeza e sofrimento. Práticas de educação e de saúde não costumam gerar mudanças
instantâneas, são efetivadas a partir de processos e, neste sentido, são um contraponto para as

1 Psicóloga, mestre em Psicologia Social e da Personalidade, especialista em Saúde da Família e Comunidade,


consultora da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura) no Ministério da
Educação - Programa Saúde na Escola – caroline.souza@mec.gov.br

2 Mídias que estão a serviço da criação de imaginários e sentidos coletivos que contribuem com a manutenção das
relações sociais que sustentam o capitalismo. Hegemonia é uma relação de força da sociedade que se dá pela criação
de discursos e práticas que são divulgados como verdade sobre a realidade social. Produz sentidos coletivos que
impedem as mudanças nas relações sociais .A contra-hegemonia é a relação das forças sociais que busca gerar
visões diferentes do mundo, a possibilidade de uma visão coletiva que não compartilha da manutenção das relações
sociais baseadas no capitalismo (SADER, 2005).
soluções imediatistas, que oferecem teorias pedagógicas, psicológicas, diagnósticos e remédios que
transformam comportamento e sentimentos indesejados pela escola. As mídias comprometidas com
esta lógica oferecem um vocabulário à população que banaliza a capacidade dos processos
educativos em lidar com a diversidade dos saberes, comportamentos e histórias de vida das pessoas
e comunidades. O fazer da educação e da saúde na contemporaneidade vem se tornando cada vez
mais complexo, pois vem tendo que assumir um lugar de resistência a lógica individualista do medo
do sofrimento, do que é diferente e da normatização da vida e da sociedade para gerar necessidades
de consumo.
O diálogo caracteriza-se por um processo onde as pessoas traçam idéias e vão transformando
práticas ao longo do tempo, não traz mudanças instantâneas e neste sentido é um contraponto para
as soluções imediatistas muito divulgadas pela mídia hegemônica. A mídia apoiada em saberes
hegemônicos, que entendem saúde exclusivamente como ausência de doença e como algo
individual e biológico divulga os remédios como solução para os problemas das pessoas e as
categoriza quando apresentam comportamentos diferentes. O número de crianças, adolescentes e
jovens com diagnósticos de doença mental vem aumentando e tem criado uma cultura do uso de
remédios controlados. Medicaliza-se a diferença, normatiza-se a vida. Isto não significa dizer que os
remédios não ajudam, mas é preciso pensar em que momento eles podem fazer diferença. Pensemos
na quantidade de diagnósticos de doenças que utilizamos em nosso vocabulário diariamente.
Pensemos em quantos dos nossos estudantes são medicados regularmente. Que tipo de relação de
aprendizado e desenvolvimento estas práticas produzem?
Uma importante manifestação do avesso da saúde mental é a dificuldade de convivência
pela não aceitação da diferança. Interessa-nos, então, despertar alguns questionamentos sobre
relação da escola com a promoção da SAÚDE. Vamos utilizar a palavra SAÚDE, escrita em letra
maiúscula, para chamar a atenção dos leitores e leitoras. Provocar, pelo olhar, a compreensão de
SAÚDE mental e não de doença mental, pois como mencionamos antes, ao falar do tema, tendemos
a pensar em sofrimento psíquico.
À escola não cabe mais a função de repassar informações, mas acolher e proporcionar
reflexões, sensações e práticas que possibilitem as pessoas viver com dignidade e usufruir de todo
seu potencial de criação. A escola parceira da SAÚDE mental aposta na sua capacidade de propor
relações educativas que estejam comprometidas em produzir autonomia e protagonismo a partir de
vivências coletivas. Ao longo dos últimos anos a função da escola na sociedade vem se tornando
mais complexa, especialmente quando pensamos na construção de educação integral, comprometida
com a cidadania. A escola é fundamental na promoção da SAÚDE mental a superação da lógica
hegemônica individualista da sociedade do capital que esforça-se para suprimir as diferenças
transformando em doença o que não está adequado a normalidade das práticas hegemônicas.
Para dialogar com a SAÚDE mental e educar integralmente a escola sente-se convocada a
problematizar a relação da saúde com os processos educativos, procura superar o entendimento que
saúde significa, apenas, ausência de doença ou a capacidade de seguir as normas. Para isso discute
uma dimensão diferente de saúde, inspirada na Constituição Brasileira, fruto da luta da reforma
sanitária3. Ela diz que a saúde acontece quando temos condições dignas e justas para viver: água,
alimentação, transporte, moradia, lazer, saneamento e inclusive educação (BRASIL, 2010). Assim
como não existe saúde que não seja SAÚDE mental, pois há um componente subjetivo associado a
toda e qualquer manifestação de saúde, “às vezes atuando como entrave à adesão a práticas
preventivas ou” na produção “de vida mais saudável. Poderíamos dizer que todo problema de
saúde é também – e sempre – de saúde mental, e que toda saúde mental é também – e sempre –
produção de saúde” (BRASIL, 2005, p.33).
A escola promove SAÚDE mental quando discute no seu cotidiano as relações que
estabelece e as diferenças que se evidenciam entre as pessoas e organizações com quem trabalha.
Isto vale para a relação entre educadores, entre educandos, educandos e educadores, e de todos com
as famílias, comunidade e instituições locais. O exercício do diálogo é fundamental para promover
SAÚDE mental. Os conflitos e as diferenças não podem ser negados, a escola pode cumprir um
papel significativo na criação de estratégias de convivência com o outro. Certamente esta não é uma
tarefa fácil, mas as discussões que antecedem a IV Conferência de Saúde Mental - Intersetorial
devem nos provocar a pensar: que recursos são necessários à educação e saúde para promover
práticas dialógicas4comprometidas com a produção de SAÚDE mental?
O exercício de ações intersetoriais pode contribuir significativamente para qualificar o
trabalho dos educadores e dar a tranqüilidade necessária para acolher as realidades dos estudantes e
da comunidade superando a prática de buscar rótulos/diagnósticos para lidar com o que é diferente.
A medicalização das diferenças, as relações desiguais, injustas, violentas ou desrespeitosas não
acontecem somente no interior da escola, o que acontece lá está em toda sociedade também. Porém
a discussão cotidiana sobre a convivência com a diferença promove uma democratização da escola
e produz um movimento de reorganização das relações que estabelece como instituição com o
território que habita, com a comunidade a que pertence. À medida que a escola avança no processo

3 A Reforma Sanitária e a Reforma Psiquiátrica são contemporâneas no Brasil, são lutas do povo brasileiro por
mudanças no modelo de atenção e gestão da saúde visando o acesso universal, a equidade e a integralidade das ações de
saúde, assim como, uma participação efetiva dos trabalhadores e usuários do sistema de saúde (BRASIL, 2005).

4 A educação e a saúde comprometidas com a transformação do mundo num lugar mais justo e digno está
baseada no encontro entre diferentes saberes. Não há numa relação de aprendizagem em que um sabe mais e outro sabe
menos, as pessoas sabem coisas diferentes e precisam produzir encontros entre as diferenças para que possam aprender
uma com a outra. As relações promotoras de saúde são mediatizadas pelo diálogo. A atitude dialógica está baseada no
entendimento de que todas as pessoas são capazes de refazer, criar e recriar a realidade (FREIRE, 1987).
de diálogo questões que não são tradicionalmente tidas como sua vão aparecer e para tratar delas
consideramos importante a constituição de parcerias com instituições e organizações que
compartilham o mesmo território. Exercitar o diálogo intersetorial é uma tarefa extremamente
complexa e conhecer a realidade dos estudantes pode contribuir significativamente para incorporar
esta prática ao cotidiano tratando de questões relevantes para a comunidade . O processo de diálogo
mobiliza todos que participam dele. Pensemos então: que estratégias precisamos desenvolver para
fomentar ações intersetoriais?
Quando a escola está sozinha na tarefa de dialogar com a realidade e as diferenças trazidas
pelos estudantes pode temer o tamanho do desafio de acolhe-los integralmente em seu processo de
aprendizagem e desenvolvimento. A complexidade do diálogo com o saber do outro muitas vezes
gera tensões que produzem no educador a busca por respostas e as mais acessíveis são as propostas
pelo status quo da sociedade. Porém diagnosticar doenças e desvios não resolve a situação.
Precisamos nos perguntar sobre o que faz sofrer e cada um dos envolvidos na situação: educadores,
estudantes, familiares e profissionais da saúde. Diagnósticos, muitas vezes colocam uma lente de
aumento sobre os problemas e as faltas e deixam de lado as potencialidades que também se fazem
presentes em todas as pessoas. Eles contribuem com a produção de saúde, aprendizagem e
desenvolvimento quando acompanhados de diversas estratégias para produzir mudanças em uma
situação de sofrimento. A parceria da escola com a equipe de saúde que atua no mesmo território é
uma estratégia interessante para compreender e acompanhar aquelas crianças, adolescentes, jovens
e famílias que preocupam a escola. A ação intersetorial pode contribuir com a diminuição do uso
indevido dos diagnósticos, provocados, muitas vezes, pela lógica do encaminhamento que transfere
a uma outra instituição a responsabilidade pelo cuidado com os processos de desenvolvimento e
aprendizagem dos estudantes. Compartilhar as preocupações e as possíveis soluções pelo diálogo,
como já referimos, potencializa o trabalho do profissional da educação e do profissional da saúde.
Perguntemo-nos: que estratégias precisamos construir para que a escola e a equipe de saúde possam
assumir seu papel no cuidado com a pessoa que tem um sofrimento psíquico, sem corroborar com a
lógica da medicalização da diferença?
É importante destacar que escola e equipe de saúde participam do mesmo contexto dos
estudantes, pois compartilham o mesmo território. A contextualização da pessoa no seu ambiente
social é fundamental para produzir compreensões contra-hegemônicas sobre o que faz sofrer
estudantes, educadores e comunidade. O trabalho com a realidade local pode nos instigar a
potencializar a ação em saúde a partir de projetos educativos e de cuidado a saúde que envolvam a
pactuação entre profissionais, família, estudante e comunidade. O encaminhamento e o diagnóstico
não ajudam a trabalhar o sofrimento psíquico quando não estão comprometimentos com um plano
de atenção à saúde que envolva todos os setores da vida daqueles que estão sofrendo. Geralmente
associamos diagnósticos a uma solução medicamentosa, sem levar em consideração outras
possibilidades de terapêutica que instiguem mais a autonomia do usuário. O diagnóstico de um
sofrimento psíquico não pode servir para desresponsabilizar a pessoa que o recebe, mas para
aprofundar, com ela, possibilidades de transformação da sua vida. A centralidade da escola na vida
das pessoas e das comunidades provoca a fazer parte do processo de SAÚDE daqueles que nela
convivem, pois tem potencial para compor uma rede de atenção e proteção na comunidade.
Como interlocutora e parceira da SAÚDE mental a escola pode participar de todos os
momentos do cuidado com os estudantes. A inclusão de pessoas com sofrimento psíquico no âmbito
escolar é um desafio para muitos educadores. As políticas públicas avançaram nos últimos anos e as
escolas vêm ampliando o acesso e acolhendo a diversidade. Porém, entendemos que há uma
necessidade permanente de construir espaços de formação e discussão sobre o tema. O exercício do
direito de participar da escola provoca um tencionamento na dificuldade que nossa sociedade tem
de se relacionar com a diferença e, neste sentido, quando a escola assume um lugar social
potencializador da ampliação das oportunidades educativas a partir da acolhida das diferenças,
promove SAÙDE, pois provoca ruptura na normatização da vida cotidiana.
O desafio de discutir e fazer acontecer a SAÚDE mental intersetorialmente é grande.
Levantamos, neste texto, alguns pontos para provocar o debate sobre a relação da escola com a
SAÚDE mental. Porém esta discussão não se encerra aqui. Que outras questões são pertinentes para
serem discutidas na IV Conferência de Saúde Mental –Intersetorial para que a escola amplie sua
parceria e capacidade de promover SAÚDE mental?

Referências Bibliográficas

BRASIL. Constituição. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/constitui%C3%A7ao_compilado.htm. Acesso
em 25 de maio de 2010.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde
Mental. Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil. Documento apresentado à
Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas.
OPAS. Brasília, novembro de 2005. Disponível em http://74.125.113.104/search?q=cache:
ZpDLcRqAfQ8J:portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Relatorio15%2520anos%2520Caracas.pdf
+reforma+psiqui%C3%A1trica+sa%C3%BAde+mental&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br, acesso
em 20 de outubro de 2008.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.

SADER, Emir. Hegemonia e Contra-Hegemonia em CECEÑA, Ana Esther.(org.) Hegemonias e


Emancipação no Século XXI. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales-
CLACSO, 2005. Disponível em http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/grupos/cece2PT/hege
monias%20final.pdf#page=15. Acesso em 20 de maio de 2010.

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