Anda di halaman 1dari 5
o sistema escolar contribui para o aumento da de. sigualdade social para o deserédito da escola e do ‘exerciclo da cidadania, E levantamos a seguinte ques. ‘G0: Podem os educadores propor agées construtivas, gus revertam a sitvagdo da exclusao @ desigualdade | social no cotidiano da escola? REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BORDENAVE, Juan E. D. 0 que é panicipagéo. Sto Paulo: Bra sllonse, 1983, (Coleco Primelros Passos) COSTA, Jurandir Freire, Violdnsia @ psicandiise, Rio de Janeiro: Graal, 1984, ESCOLA do Simarya volla ds auas com 50% do KoqUéncia. © Estado de $. Pauio, S80 Pavlo, 18 jun. 1951. Seqdo Po. lial, p14 ESTUDANTE baleada mone @ tam gos doados. O Estado do S. Paulo, S80 Paulo, 11 jun, 1991, Seco Policia, p12. FERREIRA, Flosa M. Fischer. © direto da populagdo & segu- renga cidadania e violBncia urbana. Petépole: Verse, CEDEC, 1986, FLEURY quer contratar § mil PMs para escolas, Falha de Séo aul, Séo Paulo, 13 jun. 1991, Cad. Cotdano, Sacdo Po. lia, p8. FUKUI, Lia (coord) Seguranga nas oscolas astaduais da Grande ‘Sfo Paulo: um estido de caso. So Paulo: FDE, 1991, FUNDAGAO IBGE. Panicipacao poltice-social, 1968: Brasil @ ‘grandes regiGes. v.1. Rio de Janeiro, 1980. FUNDAGAO SEADE. Ragicas homogénaas: um estudo da si- {waco educacional no Estado de Sao Paulo; relatixio interno. Sao Paulo, 1969. MAGNANI, José Guiorme C. Festa no pedago: cultura e fazer fa eidade, S40 Paula: Brasifonse, 1984, A SOCIALIZACAO INCOMPLETA: OS JOVENS DELINQUENTES EXPULSOS DA ESCOLA* Sérgio Adorno do Nuclso de Estudos da Violéncia e Departamento de. Sociologia/USP Nos itimos vinte anos, as administragées péblicas das grandos cidades brasilsitas vém se mostrando In. capazes de debelar seus principais problemas, Aqui @ acolé acumulam-se insatisfagdes de todas as or- dens, que tornam a vida coletiva nas grandes metro- oles incuportavel. Nao é necessdrio ativar a imagh ago para listar os problemas que habitam com fre. gUéncia as conversas nas ruas, nos bares, nos escri- trios, nas fabricas, as tomadas de cena da midia im. pressa @ eletténica, os debates académicos: baixa oforta e precariedade das habitagSes; insuficiéncia de transportes coletivos; ma consorvagéo des servigos urbaros piblicos, transito violent e congestionamen- to a qualquer hora do cia tornando a circulagao da Pessoas morosa 9 dispendiosa: indicadores alarman- tes de qualidade de ar, de poluigio sonora ¢ de rios: surtos epidémicos de dooncas (para as. quais jé exis. tem paradoxalmente recursos. proventives de larga aceitagao); faléncia da rede de aiendimento médico clinica’ @ hospitalar pablicos, enchentes com graves on vcs sage tomas desonvctidos anteronments em texto preparado Golo avioe para uma coletnea tara {120%b) © sua voreio brasileira (19812) rajuizos para © patiiménio pablica e privado © nas uais sobretudo a populac&o de baixa renda é vitimi- zada do mittiplas formas (desde a perda de sous par. 20s pertences mobilérios até & contaminagao por do- engas transmissiveis que afloram nossas circunstin- cias); insufciente oferta do creches © de vagas nas escoies, estas por sua vez caracterizadas por um en. sino deficitéro, nada estimulante © pouco adequado 4 realidade social a sor entrentada por seus egrassos, resultado do descaso com que as autoridades publi. cas lidam com @ educagao, cortamente um dos capt- tulos essenciais em qualquer sociedade que apontou Para um take-off desonvolvimentista 8 democratico Esso quadro, cortamente impressionista, diz ras- psito ndo apenas & descrenga da populagéo na ca Pacidade das autoridades pdblicas, eleitas’ por sutra gio universal, em gestar programas econémico-sociais adequados © eficazes 30 escopo dos problemas ur. banos, mas — sobretudo — a um quadro de insegu.- ranga, exparimentado quer em sua dimensao objetiva, quer em sua dimenséo subjetiva. © medo constitui ho. Je um componente essencial da ‘personalidade urba- na’. Em principio, qualquer espago, o privado das ca~ ‘sas e dos ambientes paticulares, ¢ o piblico das ruas © dos lugares de visibiidade das gentes, pode sor ob- jete de inseguranga. A inseguranca perpassa os mais diferentes planos ¢a existéncia colotiva. Esta presente "ra expeciativa sempre possivel da perda do emprego, na probabiidade de despejo ou na incapacidade de saldar dividas contraldas com a aquisigéo da casa répria, na iminancia de ser vilma de uma queda, de um acidente de trabalho, dé um atropelamento ou grave colisto de veicules, na vis afotive © da perda de entos qui que nunca —no medo de contrair 0 temivel virus da AIDS. Esse sentimanto de medo o inseguranga, prego que se paga pela vida nas grandes cidades, tom sido exacerbado pela expectativa, cada vez mais provavel, ge qualquer cidadao, independente de raga, class cultura, credo ou origem étnica ou regional, sar vitim de ofensa criminal, Frents a probabiidade de tor a vi- da em petigo @ de tor coniiscados bens maleriais, muitas vezes conquistados pelo cispéndio violonto ¢ sofride de horas de energia humana que produz valor, @ populapao se *arma” 9 se defende a seu modo jd. ‘que, nese terrono, também descré da intervangao saneadora do poder piblico. E no parece infundado 2380 sentimenio. As estatisticas oficiais de criminal dade esto indicando 0 crescimento de todas as mo. Jalidades delituosas, sendo corte que crascem mais rapidamente os crimes que envolvem a prética de vio léncia, come os homicidios, os assaltos, os estupros, 98 seqiestros. A epifemiologia da violancia criminal sugere que no apenas cresce, em razéo progressiva, a massa de delitos praticados nas metropolos brasi. leiras — como S80 Paulo, Rio de Janeiro @ Bolo Ho- fizonte —, come também se alteraram os padrées convoncionais. Lado a lado a criminosos soltétios e sotumos, hoje assiste-se A emeigéncia da criminal. dade organizada, muitas vezes até sob mokies em- Prosarials. Esta af 0 trético do drogas para nao des_ Cad. Posq. 1.79, nov. 1994 mentir ninguém. Essa epidemjologia sugere igualmen- te a crescente pariicipagao te criangas @ adolescen- tes na delinguéncia, © debate acerca da violéncia criminal urbana 6 apaixonado, Nele se desenham diferentes repre- sentagGes socials 0 culturais sobre agressores @ suas vitimas @ sobre 0 modo pelo qual 0 poder ptiblice de- ve se compertar na contengao da ctiminafidade. A despeito da variada gama de associagées possiveis enire ossas representagées, ha pelo menos dois con- Juntos que se revelam com maior nilidez. © primeiro funda-se em uma visio dicot6mica da sociedade que estratiice seus cidadaos em criminosos @ homens de bom. Uma sociedade assim constitulda reclama uma sorte de ‘profilaxia morat’: diante da ousadia dos cr- minosos, reclamam-se punigdes exemplaras, repara- Ges liquidas @ certas, eliminagdo fisica dos agrosso- Tes, daqueles que no conseguom se conduzir segun- do padrées *civiizados" entendidos como adequados 4 uma convivéncia social harmoniosa. Na sequéncia, nao hd como deixar de justificar a ago policial vio lenta, as torturas, as préticas convencionais de inves. tigago policial ao arrepio das leis, a violéncia que Subjaz A vida nos cércores, @ até a pena de morte. Segurdio, o conjunto que se inspira no pressupos- to da desorganizagao social. Este conjunto acupa-so (om oferecar & opiniéo publica uma imagem dos agres- sores criminals como vitimas da saciedade. Carontes sociais, esses agrassores encontrariam na criminalida- de a Unica altemnativa para a sobrevivéncia. Trata-se de um conjunto de reprosentagées que se apsia no modelo econémico-social vigents, gorador de desequi- Niorios @ de justigas sociais como causa fundamental da criminalidade Violenta. Sob essa ética, identiica-se © olonco de “fatores” ostimulantes da elevada incidén- sia de crimes: migragéo desordenada para os centros urbanos; desintagragao cultural @ familiar, matiz do problema do ‘mener abandonado” @ infrator; m& dis- {ribuigao da renda, responsével tanto pola’ pobreza quanto pela polarizagao das classes médias; elavacso das taxas de desemprego; caréncia @ precariodade das politicas sociais (de satde, educacao, assisténcia ® protegao social). Esse conjunto supée, por conse- guints, que os agentes da criminalidade procedem das classes populares; logo, as causas da oriminal- dade se situam nas distorgoes da astrutura s6cio-e00- némica da sociedade, Nessa ordem de reprosentagées, identiicase com freqiiéncia a responsabilidade das escolas. Tanto ‘N0 senso comum quanto na fala de autoridades pi- blicas @ até mesmo de cortos segmentos intslectuais, ‘esse estado de “anomia social" se deve & baixa asco. laridade da populagao brasileira. Afirma-so quo a ma- ior parte das criangas @ adolescentes, desprovidas de amparo escolar ou expulsas das escolas, néo tom ‘outro caminhe Sendo detingdir. Nao estando nas esco- las, encontram-se nas rvas, vagando, estabolecends contatos com estranhos, vivenclando ‘modes de vida estranhos & experigncia infantil, acquirindo hébitos pouco compativeis com o metodismo e regularidade da vida social moderna. As ras apresentam-se como nn RNS iS CEN SE RRR CT RI © contraponte das escolas. Naquelas, 0 desejo corre solto, 0 vicio tansveste-se de virtude, o tempo nao obedece & regularidade disciplinar dos rolégios, os ‘espagos nfo conhecem frontoiras, as regras no se fundam em outra auteridade que nao soja a da von. fade pessoal. Pensa-se, uma ordem baseada na loi do astalto somente pode subsistir & custa de uma. guerra de todos contra todos, Portanto, cortar 0 mal pela raiz requer, antes de tudo, confinar as criangas e adolescentes nas escolas, ccupélos em lampo socialmento dtl, no aprendizado ordeiro @ disciplinado das regras que devem presicir uma ordem social justa, harm@nica, democratica, Tra- ta-se de uma verdadeira cruzada civilizatéria que tem por alvo reliréos das rvas, reparando e sulurando ‘uma ordem social em ebulicéo permanente. Outro no parece ser o espirito quo anima os ClEPs — Centros Integrados de Educagao Publica, a politica de aumon. to da jornada escolar, os programas de suplementa- Gao alimentar nas escolas © outras diretrizes que po- voam o imaginario daquoles aos quais se incumbo a ingrata larefa de formular politicas piiblicas. Nada disso parece em principio reprovavel. Exce- to quando se indaga se as escolas, de fato, oxercom e580 papel para os segmentos das classes populares fem cujas fisitas S40 prelerencialmento recrutados os candidates @ consirugao de uma blografia na deli quéncia. Para estes, a escola so fixa na meméria de dois modos: pola auséncia, ou pela exclusio violenta. Nesse dominio, a experiéncia precoce da punicgao no suscita inceriezas, A escola é um horizonte distanto © ao mesmo tampo familiar. Distante porque nunca se ‘constitui em espago efetivo de realizag&o social. A lu. ta pela sobrovivéncia cotidiana néo comporta investi. mentos em um futuro incerlo nao sabido. Familiar, Porque espago de aprendizado da violéncia. A escola brasileira expulsa seus tutolados através do sutis, po- 16m poderosos mecanismos. Suas préticas, néo aro, se mostram incompaliveis com o universo cultural de criangas @ adolescentes insubmissos. Constitulda om ‘espaco sdbrio, destituide de emogbes © de atragdes légicas, espago desinteressante © desmotivador. ola contrasta com um universo cultural no qual os desa- fos, os confrontos, as {utas, 0 mundo do téte-2-16te, ‘a vida eminontemente feita de pessoas @ nao de abs. {ragdes constituem seus tragos mais significativos. © que reprosentou a escola na vida daqueles que enveredaram pela delingdéacia? Que memérias Ihes deixaram os bancos escolares? Lugar de contort emocional, apéndice das familias? Esso elenco de Perguntas esteve prosente em pesquisa na qual me ocupei do abordar trajetérias de criangas que passa- Tam pela experiéncia precoce da punigao. Trata-se de criangas duplamente punidas. Por um lado, pela ad. versidade das condigées materiais de existéncia, Co. mo tantas outras, carentes de alimentagéo, de habi- ago, do sade, de escolarizagto © de lazer, enfim destituidas dos direitos que daviam fazer de seu uni- verso um mundo eminentemente infantil, um mundo onde a tealidade @ 0 cardter lidico da’ convivencia Som os outros se encontram entralagados em uma 738 Unidade indissociavel, Por outro lado, punidas pola eri- ‘minalizagéo de seu comportamento, Aquolas que so fencontram nessa condigao sfio emourradas para o mundo adutto na medida em quo so responsabilza das pela incidéncia crescente de crimes © de dalios de toda espécia, no obstante o discurso assistoncia- lista dos cédigos @ das agéncias de amparo 6 proto. $0 pretenda cissimular esse cardter. Criminalizadas, deixam @ condig&o de criangas para se inscroverem ‘na ordem social como “menor”. Cuidei de observé-tas, no entanto, de um modo particular. Através da me. méria daqueles que, encarcerados, cumprindo pena sentenciada pela justiga em algum estabslecimento penitenciério, foram algum dia crianga. Através da mo- méria, sondei 0 passado, @ subjetividade da punigdo que so esvai no tempo. Busquisi recuperar a crianga que se esconde no menor. ‘Ao resgatar a crianga quo se esconde sob o me- ‘nor encontrei o eotidiano de parcolas significativas de familias cuja vida permanece muito préxima dos limi- tes da pobreza absoluta, sem qualquer probablidade do ver, ao menos, minimizados sous problemas mais imediatos: a fome, a precariedade das habitagdes, desomprego erénico, a vulnerabllidade face as epid mias © endemias. Como vém demonstrando nao pou- £08 levantamentos @ pesquisas socials, 0 agravamer to da desigualdade social deita sous elsitos mais du- Tamente sobre 0 segmento jovem da populagio, so- brotude as criangas de 0 a 9 anos. Nao 6 de hoje que a situacio da infancia pobre ‘no Brasil 6 alarmanta, Embora reconhecida, a prote- 0 dispensada pelo poder piiblico a esses segmon- tos jovens sob a forma de politicas sociais muito pou- 0 tom contribuldo para debelar a subnutrigdo, para diminuir os indices de mortalidade infantil, para coibir @ oxploragao do trabalho infantil, para erradicar 0 analfabetismo e reduzir as taxas de evasdo escolar 0u do baixa ascolaridade. Os problemas acumulam-se em espiral, crescendo em razo goométrica, tornando 8 programas e diretrizes implementadas inécuos em aquenc lapso de tempo. A sitvago de pauperizagio crescente que empurra grandes contingentes do ctian- gas @ adolascentes de encontro ao munde do traba- tho, em condicées brutais de exploragso, produz 0 pa- radoxo da sobrevivéncia gatantida. Os mais jovens submetém-se ao mercado de trabalho em condigdes as mais desfavordvels: inserom-so nas piores posi- Bes ocupacionais, onde os randimentos sf mais baixos © onde a intermiténcia e a inseguranga cons- tituem desafios a serem constantomenie entrentados, Desde cedo, parcelas desses jovens véom-se cons: ‘rangidos a abandonar 0 lar de origem, a furtar-se da vigiancia doméstica, a constluir novos agrupamentos familiares em que se tornam provedores. Nossa con- digdo, a escolarizagio 9 a profissjonalizago ficam ir fomediavelmente bloqueadas, contriouindo para pro- duzir a ilusdo do trabalho infanti: a incomoragio pro- Goce ao mercado de trabalho, longe de amenizar a pobreza, cumpre perversamenta o papel de proservécla, A sociaiizagao incompleta... No perfodo de 1981 @ 1988, os dados estatisticos dispeniveis' sugerem persisténcia de elovada propor. ‘G20 de famfias com nivel do rendimento situado aba x0 das chamadas linhas de pobreza. Em 1988, 30,6% de criancas @ adolescentes de 0-17 anos pertenciam 4 familias com renda mensal familiar per capita de até 14 do salério minimo. Nesse mesmo pertodo, 54% dossas criangas pertenciam a familias com ‘ronda mensal per capita de até 1/2 salario minimo. Entre os jovans de 7-14 anos, 72,5% dos pertencentes a fa- rmitias com renda mensal per capita da até 1/4 do salério minimo manifestavam as taxas de escolariza- glo mais balxas, A evasao @ tepoléncia escolar so fondmenos freqdentes. Desde 1984, as taxas de ova. sao imediata giram em tomo de 13%. Em rolaglo a Fepeténcia, a taxa 6 de 20%, desde 1985, parao con- junto do pats, Os dados relatives ao analfabetismo in- dicam que se verificou sua diminuigo, em 1988, com- Parativamente ao iniclo da década, em todos os gru- Pos etarlos. Assim, em termos absolutes, o Brasil con- fava, em 1987, com 17,5 milhdes de pessoas analfa- betas. Se mantide o ritmo de redugSo do anaifabetis- mo, a5 projegdes indicam 6,3 milhéas de jovens entro 7 @ 14 anos, nao escotarizades, para o ano de 1990. E levade © numero de jovens que associam 0 ‘#esludo ao'trabalho, Os dados disponivais indicam que @ populagio jovem da classo trabathadora esta Inse rida no mercado de trabalho. E de 18% a participagao das criangas © adolescentes na faixa etdtia oniro 10 014 anos. Enire os adolescentes de 18-17 anos, essa Participagao 6 mais elevada (50,2%). Ao que tudo pa- rece indicar, existe intensa utilzagao de forga de tra batho juvenil, com uma jornada de 40 horas ou mais or semana, sobretudo entre aquoles de 15-17 (83% na Nordeste © 66,8% no Sudeste). A maior parte des. 8a populagao jovem esté desprovida de divcitos tra. balhistas @ previdenciérios. Do total de criangas © adolescentes quo parlicipam da PEA — Populagao Economicamente Ativa, apenas 10,7% possuem car- teira assinada na faixa etaria entre 10 8 14 anos, pro- Porgao que se eleva para 32.6% entre os jovens no grupo etério de 15-17 anos. Vale notar que, no con- junto, a propergae de jovens no mercado formal de \tabaiho € pequena (9,9%), 0 que suger que a maior arte dessa populagao esté alocada no chamado m ado informal, para o qual inexistem estalisticas of cies, Por suposto, nem todas as criangas. submatidas 1 iguais condigoes de pauperizagao reagem do mos. mo modo. Muitas resignam-se diante do seu destino. Aceitam as regras do mundo adulto e perseguem sua ‘rajotéria de trabalhadores obedientes. Outtas mani- festam comportamento arradio, indisciplinado, Entre essas, encontram-se aqueles que optam por construir uma carreira na delingléncia. Dijerentemente de seus Iguais, essas criangas encontram diante de si uma multiplicidade de contates, de pessoas e agéncias, que abro para elas a oportunidada da se converterem ‘9m “menor, de inscreverem sua histéria ao lado da histéria das agéncias de controle de ordem péblica. Cad. Pesa. 7.79, nov. 1991 Nao ha uma trajetéria biogrétioa tipica que derive para a delingiéncla, a0 contrério do que epregoam cortas tendéncias na Iteratura, Inspiradas om teses criminolégieas ciscutiveis, que olegem a desorganiza 0 familiar, @ pobreza, a baixa oscolaridade, a falta de profissionalizagao, a intermiténcia no trabalho co- mo estimulos & construgao de uma carreira no crime. De fato, a derivagae para a delingiéncia pode estar ascociada a tais situagios, estar associada a algumas delas combinadas entre si, ou a nenhuma delas. Ha, em verdade, uma mirlade de “derivagées", que nao se ‘raduzem necessariamonte em abandono radical do todas as relagdes que constituem a ordem social do- minante, AAs trajetérias biograficas observadas sugerom 0 funcionamento de um duplo mecanismo, que opera si multaneamente ora em confront entre si, ora em adequacdo: “desterritoraiizagao" o “reterttorializagdo” De um lado, abandono progressivo de espacos insti tucionais da ordem moral ¢ familiar dominante; de ou- tro, inscrigéo dos sujeitos em microtertiérios, solo no ‘qual consiraom 0 essencial de suas existéncias, Esse abandono realizase em elapas, & baso de enscios pessoais de éxitos @ fracassos, cujas saldas so ma- rifestam: inioialmente pelo afastamento da constetagao familiar, pela fuga e evasio da escola, pola intermi- \encia da alividade ocupacional, pela elternancia ontre trabalho © delingiéncia, Trata-se de um duplo moca- nismo que pode assumir diferentes formas e implicar diversas dorivagdes para a delingléncia. Nao signifi ca, de imediato © do modo inexcrével, a ruptura de todos os liames com 0 univorso “normal” ¢ a insergtio om linhas de sociabildade complementamente auté- nomas. Via de regra, esse processo materializa-se em uma sucassée de agées que habifla 0 acesso de stiangas @ adclescentes em microtorriterios plenos de aventuras e de fortes emogSes. Essa rainscrigao em linhas de fuga e de solidariedade paralelas ¢ simul- aneas 6 alcangada pela evaséo escolar. Na memoria dos biografados, a evaso epresen- tase como possibilidade segura, seja dianto da con. ‘ingéncia econdmica, seja devido ao cardter monstono @ nada estimulante da aprendizagem oferecida. Al ‘uns param do estudar efetivamente movidos por ox- Presses econdmicas. Desde os 7 ou 8 anos tém quo Irabalhar, auxilar no sustento da familia. No enianto, mesmo entre esses, nao hA times conviegbes a pro. pésito da utlidade da escola. Esta é vista de forma ogativa psla imposigso de um aprendizado ostranho a0 seu universo cultural, pelo soquestra do tempo que Seria dedicado ao lidico, as brincadairas @ aos fol. ‘quedos, pela vigiléncia alroz que exacerba sentimen- tos de rebelgia © de desobodiéncia as suas normas, “Cabular aula" adquiro o sentido da aguisigéo de li berdade, de um tempo que & gorido pela propria von- tade, polo prazer que corre sotto ia companhia de pa- tes cujas normas de convivéncia sée pactuadas fora 1. Fontes consulladas: Fundacko IBGE, 1990a, b,c; 1989; 1981 19072, b; Fundagio IBGE » UNICEF, 1500, do mundo adulta no livre jogo de influéncias de uns sobre outros. A meméria da escola 6, na verdado, a moméria de sua auséncia, daquilo que se passava fo- fa de seu muro durante as fugas © cébulas as aulas, E a moméria das travessuras infantis, das peladas ‘nos campos abortos, da natag&o nes riachos 9 lagos, do trepar nos pomares para furlar frutos. No limite, & também a meméria de uma violéneia incontida que somonte pods resultar em respostas violentas, em um aprendizado que @ escola pretende justamente negar ¢ conter. Mais do que qualquer ou- to espago institucional, a escola se aprosenta a es- sas criangas © adolescentes como uma ospécie de castige modelar do comportamento. Um castigo que deve sar softide com resignagéo. Nao so poucas as queixes. O aprendizado imposto que nada diz respeito a9 mundo préximo e conhecido. A humilhaggo a quo so submetidos palo nao-saber, pela auséncia de tra: digko de lreqdéncia escolar na familia, palas origens populares. AS provas que se sujeitam para confir- mar 0 pertencimento ao género humano @ a recusa de um estaluto de anti-socialidede. A violéncia que subjaz as relagées sociais © que exclul 0 didlogo 0 @ compreenso, Autoritérlas, essas rolagdos nao dis- simulam as formas agressivas de presorvagao da dis- cipina, através das exigéncias de bom comportamen- to © desompenho » a iniolerancia que educadores manifesiam diante do fracasso escolar. Nesse univer- ‘80, a baixa escolaridade © a evas&o escolar, antes de serom caractoristicas peculiares de jovans @ etian- nn Lee lr a a8 que tilham a delingiéncia, 6 0 produto do fun- cionamento do aparolho escolar. E nesse horizonte que se pode falar em sociali- zagao incompleta, cujo efelto 6 desequilibrar o curso regular da formagéo do caréter @ da identidade de jo- vens. A insargao precoce no mercado de trabalho, 0 afastamonto progressive da constolagéo familiar, a ‘evasdo escolar, a descoberta da rua como espaco de tealizago social concorrem para exacerbar @ ampliar potenciaidades © capacidades cuja maturidade se ‘espora da vida adulta ©, em contrapartida, para repri- mir energias préprias a fase infantil da existéncia. Em- bora jovens sejam convocados para assumir rospon- sablidades adultas — seja polo imperative da sobre- vivencia familiar, soja devido & opressio a que so submetem no mundo adulto da delingiéncia — per- manecem atacios ao mundo infantil. Isto 6, mantém-se infantiizados no mundo adulto. Nao poucas criangas socializadas na rus, que consiroem sua experiéncia na delinguéncia, revelam uma compreensfo adulta do mundo, na medida em que inserem o trabalho, a pro- fisso, a escolarizagdo como olementos estruturado- ras da existéncia de si ¢ dos outros. Ao mesmo tom- po, revolam dificuldades de abstragao, de comprean- 880 dese mesmo mundo por outras mediagées que nfo sejam a da busca imediata de solugdes para pro- blemas cotidianos, do enfrentamento dos outros por outra linguagem que néo seja e da violancia como modo de ser. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ADORNO, Sérgio. A exporiénoia precoce da puniglo. In: MAR- TNS, J. 8. (org) O massacre dos inocantse, S80 Paulo, Hu cotve, 19918. p.181-208, La precoca esperianza della puniziona, Ia: MARTINS, 4S (og,) Linfanzia negata. Chiet Scalo: Vecchia Faggio, ‘916. AMARAL SOBRINHO, J0s6.-A educagio @ at polticas de ajusta. ln: CRISE e inféncia no Brasil: 0 impacto das palficas do ‘justamanto econdmies. S40 Paulo: IPE; UNICEF, 1988, 389-401 ARRUDA, Finale. Pequenos bandlides, Sao Patio: Global, 1983, CHAIR, Miguel. © jovarn no mercado de trabalho, In: FUNDA. GAG SEADE. © jovam na Grande Sta Pauie. Sé0 Paulo, 1988. p 201-47. FOE — FUNDAGAO PARA © DESENVOLVIMENTO OA EDU- CACAO. Anatiabetisma: 0 grande nia. Séo Paulo, 1990. FERREIRA, Rosa M. Fischer, Maninas 09 rus: valores © expec. ‘ativas de menoras marginalzados em Slo Paula, S40 Paul: CEDEC: Comissio Justa » Paz, 1978 FUNDAGAO IBGE, Anuitio Estatisico do Brasil 1980, Rio da aneico, 19900. Griangas @ adolescentes:indicadoras sociai. Pio da Ja- i, 1980. 2v. - Educagdo: indieadores sociais, v.1. Rio 45 Jancio, 1084 @ 19878. Familia incicadores socisis, v1. Flo do Janeiro, 1981 a 18870. Partipagio poltico-social 1988. v.1, Rio do Janciro, 8900) __. PNAD 1988. v.12. Ria de Janeiro, 19906. FUNDAGAG IBGE, UNICEF. Peril ostatstco de criangas & ‘mes no Brasi sistema de acompanhamanto da situagho s6- ‘io-econfmica de crlangas @ adoloscentes em 1987. ¥.1: Flo a Janeiro, 1990, PERLONGHER, Nostor. © negdcio do miché, Sto Paulo: Gra silense, 1987. QUEIROZ, José. © mundo do menor inrator. Seo Paula: Cortex; Autoros Associados, 1984 SADER, Emir. A quostio do manor. In: BRANT, V. C. et a. So Paulo, trabalho viver, S50 Paul: Brasliense, 1989, p.167- 33. VIOLANTE, Ma, Livia, © difema do daconte malandro, 20d, ‘io Paulo: Cortez; Autores Associados, 1983, 80 A socializagao incompleta...

Anda mungkin juga menyukai