Anda di halaman 1dari 16
FUNGAO PATERNA E MASCARAS DA MORTE: CRITICA ANTROPOLOGICA E GUINADA LACANIANA A PROPOSITO DE UM COMPLEXO POLEMICO™ Jost Franco Miguel Henriques Bairnto Introdugao © Complexo de Edipo estd entre as ideias da psicanilise que mais fizeram correr tinta, tanto sob a pena de Freud e de outros psicanalistas, como no campo das ciéncias humanas intetessadas em debater com a psicanalise. Quase sempre ivel defender tem sido entendido como um conceito nuclear, que seria impresc intransigentemente ou bastaria demolir para comprometer 0 edificio conceitual da disciplina. Criticou-se especialmente a sua dependéncia de um modelo de familia historicamente datado. Sob forte pressio da critica antropol6gica, a geragio de psicanalistas que sofreu 6 seu impacto, na qual avulta Lacan, viu-se instada a repensar 0 conceito. Sem abdicar de lhe conferir papel de regulador das Funcées que possam garantir a preservagao da especie, mediante a tipificacio cultural de papéis de péncro com pativeis com esta exigéncia, esse psicanalista centa resolver o problema pelo des- locamento do papel do pai para o de uma fungio simbdlica que, nessa qualidade, do dependeria de um modelo sociocultural de familia empitica, mas admiciria vatiagdes, sempre subordinadas & garantia de transmissio ¢ fixagao culeural de priticas sociais ¢ sexuais compativeis com a reprodugio da espécie ¢ a decorrente preservasio étnica, ‘Aula Eansse © CNPa, 408 O tegramento da reprodugio sexuada, levando & assungio mais ou menos bem-sucedida dos comportamentos ideais de género em cada cu aa fune admissio Edipo. O seu pano de fando, a implici precipua do Complexo da finitude humana (caso particular da condicéo moral dos seres sexuados) sublinharia 0 estacuto do pai com a condigto da morte, desejada nto processo psiquico, dramatizada no mito grego ¢ reiterada pela rese freudiana (ow mito modero, para acan) do assassinate do pai pela horda primitiva to elemento do Complexo 2 apresentara morte como um qu de Edipo, Também reforca a tese da existencia de uma co-pertenga estrutural en- ee uni pai e morte, med alidade da produgio de nce mengdes & ancigu .ento dematcatia a fronteita entre 0 animal © 0 humano, ¢ que interpreta como indicativa do valor simbélico, para além da vida, do ancestral morto. Ou sea, © lugar do pat empirico, em iiltima instincia, dependeria estrururalmence do estatuto do (pai) ancestral e, portanto, do morro, O verdadeiro horizonte da regulagio da vida sexual por rogras de parentesco, @ ctiagio de linhagens ¢ filiagdes, se consumaria com a subjetivagio da Finitude & 4 insctigio da mone seria consubstancial 20 simbélico, Poderia a figura do pai -¢ como umn anteparo contra 0 sem sepresentagio desvao residir a verdadeira universalidade do complexo? Perseguindo essa hipdtese, ensaia-se uma andlise, i hur da explicita inversio da telagao entee figura efuando entre pai (esexualidade) e morte, da que sucederia € como poderiam ser retomadas as clissicas polémicas sobre a naturera e univer de Eipo, tra fadas por psicanalistas e por antropélogos Historia e epistemologia da psicandlise E indiscutivel a relevncia da histéria de uma ciéncia para uma precisa delimitagio e andlise da sua problemética epistemolbgica. Dilicilmer ¢ pode- ria exag mportincia em filosofia do trabalho preliminar da reconstrugio da histéria conceitual de uma disciplina ¢ dos processos de constituigio do seu objeto. O que nao € tio certo é que possa haver uma unanimidade quanto & concepeio de hist cou recorte decidide que possa favorecer o melhor aprovei- tamento desse esforgo, Uma importance rradigio, comum entee nds, tem priorizado a exclusiva se intratextual, combinada a recortes temporais cxeges ores a elaboragio dos conecitos. Esse tipo de procedimento permite um certo tipo de rigor, necesséro, mas que mal interpretado pode facilmente fazer coro com a tendéncia entre psi aafun- uados), aplexo veal en- io de inimal ém da sco, a tude e do pai canalistas para lidar com os cextos fundances da sua disciplina como se fossem uum espécie de escrituras sagradas, nas quais de uma vee por todas alguma verdade abscondita tivesse sido cifrada, al estcarégia, embora itil, em absoluto precisa ser tinica. Pode deixar listas e com intelectuais de outros campos, com escapar 0 debate entre psi resultados desfavoriveis do ponto de vista da anilise epistemoldgica. Acima de tudo, rende a obscurecer o cunho ensaistica e frequentemente polémico dos tex tos psicanaliticos: 0 seu cunho processual ¢ de obra em aberto pode nao reccber 0 devido destaque, ignorando que psicanalisas como Freud, para nio falar em Lacan, provocaram debates com interlocutores de outros campos, “invadindo” ‘outras praias para criarem conceitos ou fundamentarem Dar vor ao contraditério na reconstrugio histérica ¢ epistemoldgica de teses psicanaliticas pode deixar ma mas ¢ des seu témpo, subsidiaram a construgéo da teoria, Entre as mais polémicas, a titulo de exemplo, pode apontar-se a problematica da sexualidade feminina ¢ 0 debate em torno do Complexo de Edipo. Vou deter-me no segundo © apoiar-me num debate clissice quanto 20 Complexo de Edipo, travado principalmente enere antropélogos c psicanalisas, rio obstante as pole 38 a seu respeito se tenham generalizado e tornado bas- tante renhidas, canto entre os primeiros como entre os segundas, diluindo-se a filiagdo disciplinar. Esp rente ao estatuto do pai em psi almente para 2 andlise de um aspecto da tearia como esse, perti- , 2 meu ver & necessitio deslocar o foco de anilise da estrta conexio légica dos argumentos presentes iva bibliografia psicanalitica sobre o assunto, para inclu 0 debate ener essa lverarurae a critica antropolégica, partindo do pressuposto de que as mudaneas ¢ ransformacbes de énfase ou mesmo de postulados psicanaliticos podem estar explicita ou implici- tamente dando resposta a criticas ou levando em conta argumentos relevantes de incerlocurores nem sempre mencionados, mas assumidos, Do lado da psicanslise, nesse campo nem todos seguiram a diregio defen siva de um Jones (1925). Lacan ({1956] 1966) ea sua psicanslise ~ que, se nos ativermos estritamente aos seus textos, parecem consteuit-se em divergéncia com Freud, pelo menos no atinente & jungio entre castragio ¢ Edipo em particular ¢ a desvinculagio da fungio patctna do pai empitico e da lei do modelo de f burguesa— podem ter atendido a uma necessidade de responder de maneira menos refletiram preciria, ou pelo menos de levar em conta, criticas de interloctstores teses psicanaliticas porque textos como Tatem ¢ Tabu os convocatam a iss. As severas titicas que essa obra suscitou por parte de antropé por mi-fé poderiam ser reduidas a resistencias Vertentes da critica antropologica a formulagao inicial do Complexo de Edipo No atinente is suas referéncias antropolégicas, Freud parece ter sido um pouco extemporanes. Foi imediatamente lido por uma geracao de antropslogos Ge, so conteiro das suas referéncias, no mais eram antropélogos de gabinete, whem evolucionistas propensos a sistematizagdes abarcantes, ¢ sim uma nova ge- ragio de profissionais, com uma grande preocupasio com a observagio in loo € euidadosos com grandes generalizagies Para esses leitores, aproximagbes entre criangas civiizadas ¢ povos “primi sivos, por exemplo, io poderiam ter passico em branco, nem certs asungoes Jizantes sobre o totemismo. Freud nio respondeu diretamente as suas critics, ou melhor, persistia em reiterar em obras posteriores a sua erenga em fatos historicos incomproviveis, © voube a tarefa de responder As critcas, ou até mesmo de repensar 2 teoria psica makitica levando-as em conta, a alguns de seus seguidores, podendo destacar-se Rohgim (1950), Jones (1924) e Lacan (1953] 1980), "A critica antropolégica ao Complexo de Edipo e em particular i teses de Fovem e Tabu rais como apresentados por Freud ({1913] 1976), a largos tragos seguits duas verrentes. Lima delas, por assim dizer empirica, formulou-se come contestagso & unt vetsalidade do Complexo de Edipo tal como & descrito por Freud ¢ foi inaugurada por uma provocagio de Malinowski (1927), Fundamentada na interpretagéo dos eus dados de campo obtides encre os “selvagens” das ilhas Trobriands. A segun- da segun uma orientacio mais propriamente epstemoldgica, contestatéria da fanddamentacéo ¢ encadeamento das teses defendidas por Freud em Totem ¢ Tabu CCampre nao obstante fazer a ressalva de que, apesar da severidade extica dos antropdlogos contemporineos de Freuh os seus rebeldesfilhos ainda dialo- gam com 2 psicandisee alguns tomaram mesmo o partido de Freud. © debate persist e prolongou-se ao longo dos anos (Kuz, 1993). copélogos apenas arece ter sido umn » de antropdlogos logos de gabinete 4 in loco wservagaio as e povos “print a certas assungoes sIhor, persisti ¢ incomproviveis. asar a teoria psi dendo destaca rticular As tes 6)y a largos ss -contestacio id e foi inaus \incerpretac obriands, 1, contestat dem Toren v severidlad filhos ain ¢ Freud. O) Contestaciio empirica A partir da sua experincia nas Ilhas Trobriands, caso tornado clissico da variabilidade cultural das acicudes sexuais e agressivas das eriangas para com os seus cuidadores, em dois livros sueessivos (Matawowski, 1927; 193 guais responde a Jones, Malinowski vai mostrar que o interdito nessa | no segundo dos ciedade € a relagio entre irmaos ¢ © motivador de ddio é 0 itmao da mie. Afirma ai desconhever-se 0 papel do pai na concepgio (0 que posteriormente foi contes- tado) ¢ que em ver da mae sio as irmas que sio amadas co rival é 0 tio materno, Com base nesse suposto contraexemplo, Malinowski contesta a universa- lidade do Complexo de Eidipo. Nas Trobriands, em ver da constelago edipiana, haveria um complexo nuclear macrilinear. Logo na altura o fiel escudeiro Jones respondeu em termos analiticos, ar- guindo que os processos descritos por Malinowski seriam a face manifesta, cons- ciente, dos verdadeiros processos psiquicos, inconseientes, inacessiveis & andlise cetnolégica. Enfim, o velho argumento da especialidade da psicandlise. Segundo Anne Parsons (1969), Jones repudiou, mas nunea discutiy em detalhe 0 argumento de Malinowski, Por sua vez a réplica deste, que se tornow a segunda parte de Sexo e Represséo, ataca 0 evolucionismo de Jones, mas no coca rho que pata este seria © ponto crucial, o fato do Complexo de Edipo se desenvol- ver em idade mais precoce do que a relativa aos seus dados de campo. Mas é discutivel o argumento que afirmaria que a vivéncia do Edipo infantil demais para se estudar em idades mais temse em fases posteriores da vida humana, e de certa forma reencontré-los que se fiz numa andlise. Boa parte dos dados clinicos em funcio dos quais se for- mulou a nogio de Complexo de Eidipo certamente sc basearam em dados obtidos fangadas. Tragos do infantil repe- ‘em faixas etdtias posteriores as dos jovens selvagens observados por Malinowski. Em apoio a Jones, mais recentemente, Melford Spiro (1982) revé os dados de campo de Malinowsky para agregar que nas Trobriands nao apenas hé um Complexo de Edipo segundo o modelo estritamente frewdiano, como também cle é particularmente feroz. Seria a forsa dos impulsos amorosos e ferozes que levaria a uma deflexio dos scus destinatirios verdadeiros. Recusa a possibilidade de com tais dados propor um complexo nuclear matrilinear, que vineularia 0 irmao & irma, ¢ seria interditado pelo tio materno (para Jones haveria aqui um deslocamento de algo mais antigo ¢ originério, o verdadciro Edipo). Vai dizer que © complexo nao apenas ocorre, mas ocorre de maneita mais forte do que no Oci- dente, com consequéncias para a vida adulka. E acusa Malinowski de confundir te. Subjacente 2 irmé, estaria a n fantasia consciente com inconsci Porém por sta vez ral argumentasao nio esté infensa a um tipo de eric que aponea o distanciamento da sua anslise do que seriam propriamente dados clinicos ¢ sempre remanesce o problema de que as interdiges sociais reportam-se O fato é que, de qualquer modo, nao obstante 2 defesa de Jones, de Mel: ford Spiro, e de uns tantos outros, para sempre a inocéncia do Edipo enguanto instincia psicoldgiea, baseada num modelo “natural” de Familia e universalizavel tornou-se um problema. A contestagio pscudocmpirica a contracxemplos etnolé- _gicos, com hase no acesso a mecanismos inconscientes mais primétios, soa fragil. A debilidade desse tipo de argumento podera ter contribuido para a guina dla estruturalista lacaniana, que vai supor posigdes simbélicas, ¢ nao estritamente relagdes empiricas entre pais filhos bioldgicas, como o verdadeiro amago do Complexo de Edipo. Critica epistemolégica Na altura da sua publicagio, Tatem ¢ Tabu pretextou uma artilharia pelo nos em parte motivada por ajustes de contas internos entre correntes antropo: lagicas ¢, segundo Spiro (1992), Malinowski inaugurou geragSes de relativismo cultural, o que deix: que as polémicas entre antropélogos a propésito da psicanilise também sio internalizadas pela sua disciplina a servigo de batalhas Luminares da antropologia (como Meyer Fortes ¢ Kroeber), que eles pr6 prios, por assim dizer, haviam matado e devorado os pais da sua disciplina aos quais Freud se reporta (Frazer, por exemplo), vio contestar; de mancira devasta- dora, as reses de Totem e T. Denere eles, para ser conciso, seleciono a péssima recepsao da obra por parte de Kroeber (1920). publicada na forma de resenha, que a reduz. (na opiniéo de Freud) a uma historia (na acepgao ficcional do termo). Retomo a reconstrugio krocberiana do argumento freudiano, aproximadamente parafrascando 0 modo Preliminarmente, Kroeber preocupa-se com a possivel influéncia de tal obra em cftculos intelectuais, pela forga da psicandlise, inclu sive em cfrculos aneropolégices Descreve a tese freuiana como a afirmagio de que os comegos da religid ética, arte esociedade comegam com 0 Complexo de Eadipo. 3. A partir de uma ese de Darwin, desenvolvida por Adkinson, se- gundo a qual as primitivas comunidades humanas se constituisiam de um macho ¢ algumas fémeas ¢ erias, ¢ de uma observacio de Robertson Smith, segundo a qual o sacrificio no altar, seguido da ingestio do sacrificado, é 0 mais essencial dos culto sntigos, € que ‘animal sacrificado cstaria ligado a tabus alimentares €associagbes clanicas com ancestrais (interpretado como o assassinate ¢ degus ‘ago de um animal ligado a um deus ¢ "parente”), Froud derivasia que do Complexo de Edipo se pode deduzit, por assim dizer, a armadura civilizacional 4. O essencial da civilizagio, a partir dessas duas hipdreses, seria expli- ado pelo Edipo. Da forma sabida, os filhos expulsos matam o pai, devoram-no ¢ incorporam com a sua carne a culpa pelo ato, 0 que introduzitia leis de interdicdo do incesto. 5. Segundo Kroeber, a mera exposicio da tese freudiana deve ser su- ficiente pata prevenit a sua accitagio, mas afitma que, ainda assim, uum exame formal é just: a} A suposigio de Darwin/ Atkinson € apenas hipotética b) A alegagio de Robertson a respeito da centralidade de sacrificios de sangue vale para um determinado perfodo das culturas medi- no sendo universal terrinicas ou influenciadas por el ©) Eno minimo problemitico afirmar que sacrificios de sangue se vinculam a observagdes torémicas 4) Voltando & principal afirmativa Freudiana, setia meramente hi potético que os filhos tenham morto ¢, sozinhos, devorade o pai ©) O fato (dinico) de que por vezes uma crianga desloca 0 pai odiado para um animal ~e ndo érelatado por Freud em que percentagem isso ocorte — no prova que os membros da horda primitiva o tenham feito f) Mas se efetivamente procederam a esse deslocamento, entio 0 dio a0 pai nao se teria evaporado? Como se mantém? E se se mantém, entéo porque se mantém o deslocamento? Sarcistico, afirma que psicanalistas podem manter concomitantemente as duas posigdes, mas a comunidade cientifica nao costuma ser tio

Anda mungkin juga menyukai