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Estrelas da tecnologia: paradigmas tecnológicos

da industrialização e sua influência na produção de


conhecimento no campo do design

Technological paradigms in industrialization and their influence in


the design field.

Kosminsky, Doris; Mestre em Design pela PUC-Rio;


doriskos@uol.com.br

Resumo

O presente trabalho se propõe a contribuir para a definição de uma


epistemologia do design, a partir da compreensão do papel exercido
pelas tecnologias e sua influência nas relações que envolvem o campo do
design. Delimitando-se três períodos de industrialização, considerou-se
uma tecnologia marcante de cada momento, respectivamente o ferro, a
eletricidade e o microchip. A utilização destas tecnologias foi analisada,
considerando-se sua influência no campo do design e a articulação social
estabelecida.

Palavras Chave: tecnologia, design, epistemologia

Abstract

In this work, we intend to contribute to the definition of an epistemology


of design, including an understanding of the role of technology and
its influence in the field of design. We’ve considered three industrial
periods, choosing the most relevant technology of each, in our opinion:
iron, electricity, and the microchip. Then, we try to establish the effect
on industrial design and the consequent social impact.

Keywords: technology, design, epistemology

7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design


Estrelas da tecnologia: paradigmas tecnológicos
da industrialização e sua influência na produção de
conhecimento no campo do design

“Nenhum conhecimento é fato isolado, produto de um ato individual, mas


sim relativo a uma comunidade, que, como outra qualquer, se encontra
sujeita a fenômenos de coletividade que a sociologia estuda” (Martino in
Lopes, 2003:77).

A aplicação de conhecimentos científicos em práticas capazes de gerar


mudanças sociais permanentes através da produção de informação e/ou
bens materiais, tem sido observada desde o século XVIII. A utilização
destes conhecimentos tecnológicos, de maneira reproduzível, por
sociedades que se organizam através da aquisição de equipamentos e do
desenvolvimento de capacitações, é o que caracteriza a industrialização.

O mundo ocidental atravessou diversos períodos de industrialização


marcados por tecnologias específicas. No entanto, não existe um consenso
na demarcação destes diversos processos e do impacto gerado por cada um
deles. Esta divergência inclui a própria nomenclatura utilizada. Em alguns
círculos, por exemplo, evita-se a expressão “revolução industrial” por
sugerir, acredita-se, erroneamente, a idéia de uma ruptura com o quadro
anterior, quando, de fato, observa-se que as etapas de industrialização
são processos lentos e gradativos1. Para Castells, a introdução de um
novo paradigma tecnológico é capaz de instituir, com grande rapidez,
uma descontinuidade nas bases materiais da economia, da sociedade e
da cultura. Embora, para este autor, os novos paradigmas tecnológicos
funcionem como pontuações em meio a períodos mais ou menos estáveis,
ele não se opõe a utilização do termo “revolução” para caracterizar a
penetrabilidade das novas tecnologias que alteram processos nos diversos
domínios da atividade humana, além de gerar novos produtos.

Apesar da idéia de ruptura sugerida pelo termo “revolução”, em muitas


situações, a tecnologia propulsora das mudanças, encontrava-se disponível,
décadas antes do início do processo de reconfiguração das condições
sociais existentes. Em verdade, as alterações desencadeadas por uma
nova tecnologia demandam, dentre outras coisas: um determinado estágio
de conhecimento; um ambiente institucional e industrial específico;
disponibilidade de talentos; certa mentalidade econômica e grupos
sociais capazes de absorver a produção gerada. Em resumo, “a inovação
tecnológica não é uma ocorrência isolada” (Castells, 2000:55).

Neste contexto, pode-se considerar três períodos marcados por mudanças


nas tecnologias empregadas no processo de produção de bens de consumo,
além de um período anterior, pré-industrial.

O período pré-industrial foi marcado pelo artesanato e pela indústria

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manufatureira. O produtor (artesão) possuía os meios de produção, era
o proprietário da oficina e das ferramentas. De maneira geral, o mesmo
indivíduo concebia e executava totalmente o artefato, do preparo da
matéria-prima até o acabamento final. Não havia especialização e divisão
de trabalho como a concebemos hoje, embora houvesse uma hierarquia
dentro das corporações de ofício, com destaque para o mestre da oficina.

O primeiro momento da industrialização, ou primeira revolução industrial,


ocorreu a partir do século XVIII com a substituição das ferramentas manuais
pelas máquinas. Foi o início da indústria mecânica, com o emprego da
máquina a vapor. Marca a introdução de várias etapas na fabricação de
um único objeto.

O segundo período da industrialização, ou segunda revolução industrial,


ocorrido a partir do final do século XIX é caracterizado pela disseminação
da energia a vapor nos transportes, pela utilização do ferro somado a
diversas ligas metálicas, da energia elétrica, de produtos químicos com
base científica e pelo início das tecnologias de comunicação, como o
telefone e o telégrafo. A partir da divisão de trabalho iniciada no período
anterior, surgem - o que hoje poderia ser compreendido como – os primeiros
designers atuando na confecção de padrões ornamentais para a indústria
têxtil. Observa-se um aumento nas escalas de produção com a ampliação
de mercados, muitas vezes distantes do centro fabril. Para atender a estes
novos mercados, as oficinas e fabricas se expandem, recebendo maiores
investimentos de capital em instalações e equipamentos. A divisão de
tarefas, através da separação entre planejamento e execução, torna-se
mais nítida. A mecanização é intensificada, trazendo como conseqüência
imediata uma menor variação individual entre os produtos.

Finalmente, o período pós-industrial, considerado por alguns autores


como a terceira revolução industrial, iniciado no final do século XX, é
baseado na indústria eletroeletrônica. Este período é caracterizado pelas
tecnologias da informação, considerando o núcleo de tecnologias baseadas
na microeletrônica e computação, que abrange desde as telecomunicações
à engenharia genética. A característica marcantemente revolucionária
desta tecnologia é a interface estabelecida entre os diversos campos
tecnológicos através do emprego de uma linguagem digital comum na qual
a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida
(Castells, 2000:50).

Embora não tenhamos a pretensão de demarcar as tecnologias analisadas


em momentos históricos rigidamente específicos, a nossa abordagem
procurará identificá-las como um fio condutor na revelação de articulações
sociais relativas ao campo do design.

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A tecnologia é a estrela

As transformações ocorridas no primeiro período da industrialização


geraram mudanças de ordem social através do surgimento de uma nova
organização do trabalho, com o crescimento da divisão de tarefas. A
produção e distribuição também foram afetadas em forma e volume,
trazendo como conseqüência direta o aumento no tamanho das oficinas
e fábricas. A medida em que a produção foi se tornando mais seriada,
pode-se verificar uma menor variação individual entre os produtos.
No entanto, o final do século XIX, chamado de segundo momento da
industrialização, é fundamentalmente um período de “grande aceleração
das transformações”2 e foi marcado pela introdução de novas tecnologias
extensivas aos meios de transporte e comunicação. Surgiram neste período
a fotografia, as estradas de ferro, o telégrafo e a navegação a vapor. Novas
tecnologias de impressão, ao lado da introdução da litografia e da gravura
em metal foram capazes de disseminar informação através de textos e
imagens. Cartazes e rótulos passaram a ser impressos com uma freqüência
nunca vista, enquanto gravuras e impressos ilustrados eram vendidos a
preços populares, dando partida ao que veio a ser chamado de indústria
cultural.

É importante ressaltar que a difusão das ferrovias foi fundamental na


criação de um novo estilo de vida e de produção. Alguns autores as
consideram a principal responsável pela transformação do trabalho e da
vida no século XIX (Heskett, 1998:29). Exageros à parte, não há dúvida
de que o seu desenvolvimento tenha permitido, de um lado, o surgimento
de grandes indústrias para construção de locomotivas e aparatos e, de
outro, uma maior circulação de matérias-primas, mercadorias acabadas,
pessoas e idéias.

As conseqüências da introdução destas novas tecnologias de comunicação


e transporte foram sentidas diretamente no surgimento de novas formas
de relacionamento. George Simmel no começo do século XX, escreve
que “as relações recíprocas dos seres humanos nas cidades se distinguem
por uma notória preponderância da atividade visual sobre a auditiva.
Suas causas principais são os meios públicos de transporte. Antes do
desenvolvimento dos ônibus, dos trens, dos bondes do século XIX, as
pessoas não conheciam a situação de terem de se olhar reciprocamente
por minutos, ou mesmo por horas a fio, sem dirigir a palavra umas às
outras” (Benjamin, 2000:36).

Nesta época, a tecnologia torna-se a grande estrela, que ainda é hoje.


Observa-se um grande aumento na freqüência das feiras mundiais
e exposições internacionais, que tinham como principal objetivo a
divulgação da última novidade tecnológica. Na Grande Exposição de
1851, apresentou-se o “sistema americano” de fabricação, desenvolvido
na indústria de armamentos, e que consistia na produção em larga escala de
produtos padronizados, com partes intercambiáveis, utilizando máquinas-

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ferramentas, numa seqüência de operações mecânicas simplificadas.

Dentre tantas estrelas tecnológicas surgidas no final do século XIX,


destacamos o emprego do ferro nas construções. A Torre Eiffel, que foi
construída para a Exposição Universal de 1889, transformando-se em um
dos mais importantes cartões postais de Paris, é o melhor exemplo do
sucesso do ferro. Walter Benjamin apresenta no seu Projeto das Passagens
uma citação contemporânea à festividade de 1889, onde se “celebrou,
acima de tudo, a glória do ferro” (Benjamin, 2002:167). Duas inovações
nas indústrias do vidro em fins do século XIX (a técnica de soprar em
moldes e a técnica de prensagem em vidro, utilizando moldes de bronze
ou ferro) somaram-se ao vigor do ferro para produzir, não uma nova
tecnologia, mas um novo espaço de articulações dentro da cidade. Em
Paris, ferro e vidro moldaram as galerias - áreas cobertas onde se podia
passear com calma, literalmente a passos de tartaruga.

“A respeito dos boulevards internos” fala o Guia Ilustrado de Paris, um


retrato da cidade ao redor do Sena e de seus arredores no ano de 1852,
“mencionamos por diversas vezes as arcadas que se abrem para eles.
Estas arcadas, uma recente invenção do luxo industrial, têm telhado de
vidro e corredores de mármore, estendendo-se por blocos de edifícios,
cujos proprietários se juntaram para este empreendimento. De ambos
os lados destes corredores, que recebem a luz de cima, se encontram as
mais elegantes lojas, de modo que a arcada é uma cidade, um mundo em
miniatura […], onde os fregueses encontrarão tudo o que precisam. Na
eventualidade de uma chuva, as arcadas são o lugar de abrigo daquele que
foi pego de surpresa, para quem oferece um passeio seguro, com restrições
– passeio do qual os negociantes também se beneficiam.” (Benjamin,
2002:31).

Estas galerias parisienses, também chamadas de arcadas ou passagens,


podem ser consideradas os primeiros shopping-centers. Neste espaço, se
evidenciou a ascensão da promessa de valor de uso, a partir da exposição
pública da mercadoria, desequilibrando a relação entre valor de troca e
valor de uso. Pelas galerias caminhavam os parisienses com a intenção
de ver e ser vistos. Mas, também nelas, era possível verificar que alguns
objetos saiam de circulação rapidamente, sendo substituídos por outros
mais novos, tornando-se “fantasmas”, assombrados pela perda da
dimensão utilitária.

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“Eletricidade, o combustível do futuro”

Em 1881, a energia elétrica chegou à Inglaterra, mas foi apenas em 1890


que entrou em uso para a iluminação de ruas, residências e empresas,
embora tenha sido utilizada anteriormente, em 1885, “de forma a duplicar
o dia de trabalho”, na construção do Hotel du Louvre, em Paris (Benjamin,
2002:167). Apesar de apresentar algumas vantagens sobre a utilização
do gás para a iluminação de ruas, residências e empresas, graças à sua
limpeza e brilho, em seu início, a eletricidade encontrou alguns problemas
de produção. A demanda exclusiva para iluminação era limitada às horas
de escuridão, de modo que o fator de carga necessário à produção de
energia permanecia inativo ao longo do dia. Em outras palavras, os custos
de capacidade de geração de energia para o pico da carga, localizado
principalmente à noitinha e no começo da manhã, fazia com que a
eletricidade atingisse um alto custo, dificultando o seu consumo. A solução
para este problema não parecia impossível – era evidente a necessidade
de se criar outros usos ao longo do dia. Em 1891, o engenheiro da estação
de força Kensington Court afirmava a importância de se encorajar à
população a fazer uso da eletricidade para o aquecimento e o preparo de
alimentos; para tanto, devia-se tornar evidentes as vantagens de seu uso,
desenvolvendo-se dispositivos para este fim. Ou seja, clamava-se pela
criação de artefatos que fizessem uso da eletricidade.

Por volta de 1900, o uso da energia elétrica era mais freqüente na industria
e tração, mas a demanda permanecia baixa à noite e nos finais de semana.
Até o início da Primeira Guerra Mundial seu uso doméstico era ínfimo.
Ao final do conflito, as mesmas dificuldades continuavam presentes. A
maior parte dos produtos domésticos que conhecemos hoje foi inventada
naquela época, ao lado de vários outros produtos que não se mostraram
viáveis, como chaleiras elétricas e esterilizadores de leite. Mas, o principal
obstáculo para a utilização da eletricidade continuava sendo o alto custo.
Havia um círculo vicioso: a energia elétrica era cara e por isso pouco
utilizada; por ser pouco consumida, continuava cara. Além disso, havia
outras dificuldades: era necessário levar cabos elétricos para dentro de casa
e pelos diversos aposentos. Por outro lado, a eletricidade encontrava terreno
fértil para superstições: seus pressupostos eram pouco compreendidos, e
ainda podia ser fatal em caso de mau uso. Finalmente, o gás continuava
sendo mais eficiente e barato. Dois recursos foram considerados para
mudar este quadro: a eficiência dos artefatos, ressaltando a importância
do design, e a utilização de propaganda. Neste contexto, a eletricidade
chegou a ser tratada como “o maior presente da ciência para o mundo”
e o “combustível do futuro”. As noções de modernidade e progresso,
sugeridas a partir da aliança com novas descobertas científicas, passaram
a ser aplicadas ostensivamente no design de produtos elétricos, após a
Segunda Guerra, utilizando-se referências explícitas a carros e aviões.
Atualmente, mesmo com o avanço de novas tecnologias, o domínio da
energia elétrica continua predominante. Mesmo o último laptop necessita,
em algum momento, ser recarregado na tomada. A presença da eletricidade

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é intensa no nosso cotidiano e, quando falta energia elétrica, muito pouco
funciona em uma residência.

No Brasil, a introdução da energia elétrica encontrou as mesmas dificuldades


inicias, mas a principal diferença pode ser encontrada na total inexistência
de artigos elétricos, que durante muitos anos, foram importados. As
primeiras experimentações aconteceram no período imperial embora a
disseminação tenha ocorrido apenas nos últimos anos do século XIX, sob
o regime republicano. No entanto, poucas companhias de eletricidade
demonstraram investimentos no sentido de tentar ampliar o consumo. A
Central Elétrica Rio Claro, localizada no interior de São Paulo é um destes
exemplos. Esta empresa incluía a revenda de lâmpadas, ventiladores,
fusíveis, lustres e motores nos seus negócios. Em 1910 passou a vender
campainhas de porta e ferros elétricos de engomar e, em 1920, geladeiras.
A AMFORP, Companhia Central Brasileira de Força Elétrica, localizada
no Espírito Santo no final da década de 1920, vendia a crédito nas
dependências de seus escritórios, produtos elétricos importados. Assim,
até 1930 embora se observasse um crescimento da capacidade instalada,
a produção de equipamentos elétricos era virtualmente inexistente. Deste
modo, embora o desenvolvimento da eletricidade tenha encontrado no
Brasil os mesmos obstáculos da Inglaterra, não se tem notícia de nenhum
investimento específico na criação de produtos que pudessem expandir o
consumo, muito menos de sinais do papel que o design teria a desempenhar
nesse processo.

A atitude pós-moderna da tecnologia

“Todo negociante imita os materiais e métodos de outros e pensa que


realiza um milagre do gosto [...]. Nesta arena surge também o confeiteiro
– aparentemente esquecido do seu domínio e da pedra de toque do seu
gosto – aspirando ser um escultor e arquiteto”. Jacob Falke, Geschichte
des modernen Geschmacks, (Leipzig, 1866) p. 380. Esta perplexidade
deriva em parte da superabundância de processos técnicos e de novos
materiais, que de repente se tornaram disponíveis. O esforço de assimila-
los completamente conduz a erros e falhas. Por outro lado, estas tentativas
vãs são a mais autêntica prova de que a produção tecnológica, em seu
início, se encontrava no controle dos sonhos. (Não somente a arquitetura,
mas toda tecnologia é, em certos estágios, a evidencia de um sonho
coletivo) (Benjamin, 2002:151,152).

Embora o primeiro computador tenha aparecido após a Segunda Guerra


Mundial, pode-se considerar que o passo decisivo da microeletrônica foi
dado em 1957 com a criação do circuito integrado. Em 1971, um engenheiro
da Intel inventou o microprocessador, “o computador em um único chip”
(Castells, 2000:59). A partir daí, a capacidade de processar informação
pôde ser levada para qualquer campo ou lugar e, desde então, a informação
tem se transformado na matéria prima fundamental do nosso tempo.

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Mas, até o presente momento, o seu processamento está concentrado nas
pastilhas de silício, o chip. Assim como a energia elétrica, que nos seus
primórdios tinha uso concentrado em certos períodos do dia, o microchip
encontra limites para o seu uso. Embora esteja presente em diversos
produtos - de computadores a torradeiras, passando por aviões e celulares,
o microchip é usado, predominantemente, em países desenvolvidos ou
nas regiões mais desenvolvidas dos demais países.

A Intel, empresa que se encontra na origem desta tecnologia, tem investido


no sentido de disseminar o chip em outras áreas e continentes. Para isto,
tem se proposto a estudar os fatores culturais, sociais, geográficos e de
impacto tecnológico de diversos mercados globais. Deste modo, trabalha
com equipes compostas por cientistas, designers e engenheiros com o
objetivo de entender as relações de outras culturas com a tecnologia, de
forma a poder oferecer mercadorias atraentes para estas populações. No
estudo divulgado no site da empresa, é descrita uma pesquisa realizada
em sete países asiáticos – Índia, Malásia, Singapura, Indonésia, China,
Coréia e Austrália. Algumas destas análises servirão de base para o
desenvolvimento de novos produtos, que venham a utilizar o chip Intel.
Uma importante observação foi feita em relação à maneira como as culturas
asiáticas se relacionam com a questão do individual e do social. Enquanto
a maioria das culturas ocidentais vê com naturalidade o uso individual
de produtos tecnológicos: computador, celular, iPod e, mesmo, televisão,
algumas culturas asiáticas enfatizam o aspecto comunitário como um bem
social. Deste modo, não se concebe, nestes países, a utilização individual
de certos produtos. Um computador será considerado um bem de uma
família, como uma mesa ou um sofá e será utilizado por diversas pessoas,
sem necessidade de proteção de senha. A própria distribuição de canais a
cabo sofre influência desta visão de mundo. Os consumidores de classe
média, que vivem em bairros densamente povoados têm que se contentar
com os canais que são oferecidos ao prédio. A infraestrutura tecnológica
de apoio aos canais a cabo foi criada levando em consideração blocos
de apartamentos e não unidades individuais, como acontece no ocidente.
Assim, um consumidor individual pode não ter acesso a HBO, se a decisão
do condomínio não for favorável.

Outras questões analisadas foram: a capacidade de obter energia para suprir


a demanda de equipamentos tecnológicos em diversas regiões e o papel que
a espiritualidade desempenha nestas culturas. Alguns resultados práticos
foram apresentados como, por exemplo, o celular, desenvolvido pela LG
Eletronics que indica a direção da Meca, para orientar os muçulmanos nas
suas preces realizadas em diversos momentos do dia. Outro produto que
considera necessidades espirituais é o forno desenvolvido pela empresa
General Electric para os judeus praticantes que preservam o sábado. No
modo Shabat, o forno tem timer sem sinalizador sonoro e não apresenta
ícones, podendo ser usado nestas datas sem restrições.

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Conclusão

A análise das três tecnologias destacadas – o ferro, a eletricidade e o


microchip – desenvolvidas ao longo de pouco mais de cem anos, evidenciam
algumas articulações entre o campo do design e as relações sociais. Em
primeiro lugar, podemos destacar a urgência ao estímulo do consumo. O
ferro forjou o primeiro templo do consumo - as galerias, consideradas
precursoras dos shopping-centers. A eletricidade, que hoje nos parece
essencial à vida moderna, requisitou “estímulos” ao seu consumo através
do desenvolvimento de objetos que funcionassem baseados neste tipo de
energia. Alguns destes produtos, em um primeiro momento, funcionavam
melhor com outra energia ou eram mesmo completamente desnecessários.
Estas observações evidenciam o processo de criação de uma necessidade.
Não estaria algo semelhante se reproduzindo neste momento com o
microchip? O fato é que, fundamentalmente, uma tecnologia não surge
como conseqüência “natural” do aprimoramento de algum artefato e nem
é criação de um gênio, mas está diretamente relacionada às condições
econômicas, sociais e culturais de uma determinada época. Investe-
se no desenvolvimento de uma tecnologia e ela terá que “pagar” este
investimento.

Um outro ponto importante que é sugerido pela análise destas tecnologias


é o encaminhamento, paulatino, do coletivo para o individual. O ferro
foi aplicado em finalidades coletivas: estradas de ferro e construções,
com destaque para sua utilização em estruturas. A eletricidade é uma
tecnologia que avançou do coletivo para o individual. Começou-se pela
iluminação das ruas até envolver completamente os espaços individuais
dentro de cada casa. De certa forma, o microchip permitiu a repetição
deste processo do coletivo para o individual. Os primeiros computadores
eram equipamentos empresariais e hoje estão em quase todos os lares. Os
preços se encontram em queda e, cada vez mais, existem microchips em
objetos de uso individual.

Deste modo, consideramos que a tecnologia além de moldar novas


articulações sociais é capaz de colaborar na produção de outras formas
de ver e se relacionar com o mundo. O design, muitas vezes, se articula
aliado à tecnologia, na busca por preencher expectativas, desejos e valores
culturais dos usuários, atuando diretamente na construção da materialidade
do nosso tempo.

Referências

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2ª reimpressão

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CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A era da informação:


economia, sociedade e cultura. Vol. 1. São Paulo: Editora Paz e
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DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São


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A energia elétrica no Brasil – da primeira lâmpada à Eletrobrás


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MARTINO, Luiz C. As epistemologias contemporâneas e o lugar da


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The role of ethnographic research in driving technology innovation:


lessons
from Inside Asia. http://www.intel.com/research/print/overview_
insideasia_lessons.pdf. Acessado em 28 de novembro de 2005, às
17:45 hs.

(Footnotes)
1
Cf. “industrialização” e “revolução” em OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do
Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1996.
2
A “grande aceleração das transformações”, período que vai de 1890 a 1914, é considerado final
do século XIX pelos autores. In BAYLY, Christopher, The Birth of the Modern World, apud BURKE,
Peter em Origens distantes da globalização. Mais. Folha de S. Paulo, 11 de julho de 2004. p. 7.

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