Embaixador
debate a Alca
e a “periferia”
Douglas ‘Bob’ Furiatti
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães es- embaixador se posiciona contrariamente à entrada indireta. “Quais são as
tará em março em Foz do Iguaçu para discutir o do Brasil na Área de Livre Comércio. Em 2001, características da colô-
Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Área de suas opiniões sobre o acordo lhe renderam a exone- nia? Não pode ter armas,
Livre Comércio das Américas (Alca). O diploma- ração do cargo de diretor do Instituto de Pesquisas não pode ter política
ta vai debater as conseqüências dos blocos para o em Relações Internacionais do Itamaraty. externa, não pode ter
Brasil e outros países sul-americanos, já nítidas na “Os americanos já propuseram uma área de políticas econômicas
crise da Argentina, seja sob os aspectos político, livre comércio com os europeus, já propuseram o internas, não deve ter
econômico ou social. mesmo para os japoneses, e ninguém aceitou. Por moeda”, afirmou o em-
Guimarães dará ênfase à influência que a atual quê? Porque sabem que saem perdendo na disputa baixador.
situação do país vizinho exerce com os Estados Unidos, dadas as Com vistas a um melhor entendimento des-
sobre o Brasil, bem como ou- condições do sistema america- sas políticas internacionais e uma integração en-
tros aspectos relacionados à po- Para Samuel Pinheiro no, tão poderoso que detém a tre os jornalistas e comunidade, a delegacia sin-
lítica e às relações internacio- Guimarães, a Alca é a moeda de reserva universal, o dical de Foz contatou o diplomata brasileiro,
nais. Promovido pela Delega- recolonização da dólar, tem todos os meios de que aceitou o convite para vir à fronteira. O
cia de Foz do Sindicato dos Jor- periferia, transformando pressão, é o único país que tem evento tem apoio da Varig, Acifi, Hotel Rafain
o Brasil em colônia realmente empresas multina- Centro, Instituto Maurício Grabóis e UDC.
nalistas Profissionais do Paraná,
o evento será realizado no pró- cionais em todo o mundo, uma Esta é a primeira promoção do ano da Dele-
ximo dia 26, terça-feira, às 20h, na UDC. capacidade tecnológica extraordinária, investe em gacia de Foz do Iguaçu do Sindicato dos Jornalis-
Com 38 anos de carreira, passagem por ór- tecnologia o tempo todo através do sistema mili- tas Profissionais do Paraná, que reserva também
gãos como Sudene e Embrafilme, e cargos diplo- tar”, disse à revista. futuras palestras nas áreas de jornalismo fotográ-
máticos exercidos na França e Estados Unidos, Para o autor do livro Quinhentos Anos de fico, cinematográfico e impresso, além de outros
Samuel Guimarães se mostra um ferrenho crítico Periferia, a aliança econômica com os EUA é um benefícios em prol dos profissionais que atuam no
à Alca. Em entrevista à Revista Caros Amigos, o processo de recolonização da periferia, de forma mercado local e regional.
Os magnatas da comunicação se es- Alexandre Palmar Essa situação está perto de tornar-se
forçaram para alterar a Constituição e
permitir a entrada de capital estrangeiro
nas empresas nacionais, até o limite de
O presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) prepara mais um duro golpe contra os
realidade. Durante o segundo semestre de 2001,
a Central Única dos Trabalhadores (CUT), parte
do movimento sindical e várias entidades
30% do controle acionário. trabalhadores. Depois de inúmeras investidas tentaram brecar o andamento da matéria na
Os donos das empresas — com um visando diminuir os direitos trabalhistas, FHC Câmara Federal. Somente na quarta tentativa,
gordo olhar nos “doletes” de outros can- resolveu mostrar suas garras, impondo o projeto em 4 de dezembro, o governo reuniu votos
tos — alegam dificuldades financeiras e de lei 5.843/01, que altera o artigo 618 da suficientes: 264 a favor, 213 contra e 2
sustentam que os investimentos serão Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). A abstenções. Agora, o governo FHC pode bater o
apenas no setor comercial, não interfe- medida permite, de forma simpática e perversa, martelo, com a proposta sendo votada em breve
rindo no projeto editorial das tevês, rádi- que o negociado prevaleça sobre o legislado. no Senado.
os e impressos. A proposta soa como uma piada num quadro Ciente do problema, a CUT está convocando
Para a alteração do projeto, FHC mo- nacional de desemprego acentuado. É fácil prever os trabalhadores brasileiros para um greve geral
bilizou sua renca de deputados, após ter que não haverá equilíbrio nas negociações diretas no dia 21 de março. Sob o slogan “Só depende de
se reunido com chefões da mídia nacio- entre trabalhadores e sindicatos. Em pouco nós”, o movimento grevista quer dar um basta à
nal. Os representantes do Fórum Nacio- tempo, as empresas cortarão o direito do ofensiva governista contra a classe operária
nal pela Democratização da Comunica- trabalhador em tirar férias por 30 dias, as mulheres iniciada em 1990, com o início dos governos
ção que solicitavam audiência com o pre- podem ter a licença-maternidade reduzida de neoliberais. A central já organiza plenárias,
sidente da República para tratar do as- quatro meses para alguns dias, a licença-paternidade inclusive no Paraná, para definir os detalhes da
sunto nem foram recebidos. Como se poderá ser extinta e o 13º salário pago em até 12 paralisação. Trabalhadores de Foz do Iguaçu
nota, o tema foi conduzido de forma bas- meses. Isso para ficar em alguns exemplos. também estão discutindo a participão na greve
tante democrática. Com o desemprego batendo à porta, os geral (ver texto na página 3).
A questão que se coloca é de extre- patrões iriam pressionar diretamente seus Onde os jornalistas se encaixam nesse
ma gravidade. Sem a participação estran- funcionários para eliminar esses direitos. “Os cenário? A categoria demonstra pouco interesse
geira, pelo menos oficialmente, a grande sindicatos possivelmente seriam obrigados a por questões trabalhistas, em parte, porque a
mídia já atende aos interesses dos anun- assinar contratos inferiores, perdendo direitos maioria se considera profissional liberal. Este
ciantes e do poder. Pior será agradar anun- históricos. Eles serão empurrados a isso pelos pensamento é equivocado. Basta lembrar da
ciantes, poder local e governos e empre- próprios trabalhadores que almejam preservar os escravidão nas redações e recordar que o piso
sários forâneos. Pior porque isso com- seus empregos”, afirma o economista Marcio muitas vezes é o teto salarial, apesar dos direitos
prometerá a produção e a cultura nacio- Pochamnn, professor livre-docente da Unicamp previstos na CLT e convenção coletiva. Esta aí
nal. Será o auge dos “enlatados”, pois e secretário do Desenvolvimento, Trabalho e uma oportunidade para começar a reverter esse
sem dúvida as tevês aproveitarão os pro- Solidariedade do Município de São Paulo. comportamento apático.
gramas de fora que já estão prontos, ou
melhor, fabricados.
A banalização e a parcialidade da in-
formação são fatos bastante sentidos por
todos. O pacto que FCH e seus amigos da
comunicação agora selaram visa entregar
a choupana para quem tem a grana, como
nos ensina a sabedoria popular.
(Fonte: Jornal Movimento, edição
número 1)
5 Prensa
trabalho
“Negociado sobre o legislado”
Governo quer
lhistas paternidade poderá ser eextinta
xtinta e o
13º salário pago em até 12 meses
Paulo Stocker/Caros Amigos
acabar com a
unicidade sindical
Conceitos neoliberais Fim da limitação pode gerar
quebradeira das entidades
Política neoliberal trabalhista baseada em 3 eixos
O pacote de mudanças na legislação traz
1 – As pessoas estão desempregadas porque não têm qualificação necessária. De a gana do governo em quebrar a unicidade
1995 a 2000, cerca de 10 milhões de brasileiros foram “qualificados” nos cursos sindical, caracterizando mais um golpe con-
profissionalizantes. Nem por isso o desemprego diminuiu. Mas o desemprego persiste tra as entidades. A unicidade sindical é de
suma importância, pois garante um sindicato
nesta idéia, como se existissem vagas esperando as pessoas qualificadas.
por categoria em cada cidade. O fim da limi-
2 – O segundo prioriza o microcrédito. O governo diz que se o desempregado quiser tação possibilitaria vários sindicatos atuar
ser dono do seu próprio destino, basta tomar um empréstimo e montar o seu pequeno numa mesma base territorial, isto porque de-
negócio. Como se fosse simples competir com as multinacionais subsidiadas; sapareceria a própria delimitação de catego-
3 – O terceiro diz que o trabalhador está desempregado porque não aceita trabalhar ria profissional.
A modificação pretendida através de Pro-
com custos menores. Daí as medidas voltadas à flexibilização trabalhista.
posta de Emenda Constitucional 623 (PEC)
Fonte: Revista Debate Sindical, novembro 2001 resultaria, num primeiro momento, na cria-
ção de mais sindicatos. Surgiriam entidades
Estratégia para o desmonte iguais, apenas com nomes diferentes. Diga-
mos que, por algum motivo, funcionários do
1 – Flexibilização dos direitos sociais; jornal xis, dáblio ou zê resolvam montar um
2 – Implantação do contrato coletivo do trabalho; sindicato. É provável que nasçam entidades
3 – Redução dos encargos trabalhistas; frágeis, ocasionando, num segundo momen-
4 –Redução do acesso à Justiça do Trabalho; to, o fechamento de grande parte delas.
Para o deputado federal Aldo Rebelo
5 – Fim da contribuição sindical; (PCdoB/SP), “sempre que se propõe alte-
6 – Introdução do pluralismo sindical. rar a atual forma de organização sindical, a
Fonte: Revista Debate Sindical, novembro 2001 intenção do governo é a mesma: reduzir
o poder dos sindicatos, limitando sua re-
presentação apenas aos associados; ins-
Articulação em Foz tituir o sindicato por empresa, para que
as negociações trabalhistas sejam feitas
Os trabalhadores iguaçuenses programam a realização de forma pulverizada, o que vai contri-
de atos públicos no dia 21 de março contra a proposta de buir ainda mais para diminuir a forma da
flexibilização das leis trabalhistas. Membros do Fórum pressão dos trabalhadores; por fim, asfi-
Popular por Terra, Trabalho e Soberania planejam uma xiar financeiramente as organizações de
passeata, distribuição de panfletos e até um arrastão de trabalhadores e desmontar os direitos co-
conscientização. O calendário das atividades para greve letivos dos assalariados”.
nacional deve ser fechado na primeira quinzena de março. Dentro desse quadro, vale lembrar um
discurso do senador Darcy Ribeiro em 1996.
“A unicidade sindical dá possibilidade da clas-
Daniela Valiente
se operária ter atuação política, de estar pre-
sente no quadro nacional. (....) É uma coisa
criminosa, que se deve à inspiração estran-
geira, ao pluralismo sindical dos financiadores
do movimento sindical no mundo, os alemães,
os franceses, os norte-americanos. E adotar
isso no País é como se jogar fora o nosso
passado e adotar o passado norte-america-
no, o passado inglês.” (A.P.)
6 Prensa
opinião
Uma pausa
para reflexão
da participação, do grau de envolvimento com as Terreno Minado
causas da categoria a que pertencemos.
Infelizmente, em Foz esse parece ser um as-
A desunião clara em torno de assuntos que
sunto sem importância para a maioria dos profissi-
permeiam a vida profissional, e se refletem dire-
onais que atuam no mercado local. E esta afirma-
tamente na vida pessoal, faz com que percamos
ção posso fazer sem medo de generalizar, o que em
terreno. Assim as negociações a respeito de salá-
muitos casos provoca injustiças. Mas não na im-
rios, condições de trabalho e qualidade de vida
Douglas ‘Bob’ Furiatti prensa de Foz. As reuniões realizadas pelo sindica-
ficam cada vez mais difíceis; como ocorreu no
to mobilizam invarialmente quase sempre o mes-
A exemplo do que ocorre em todo o mo grupo de pessoas.
final do ano passado.
O Sindicato Patronal bateu o pé e dificul-
Brasil, algumas classes do movimento Um argumento muito usual, fraco e que não
tou ao máximo a manutenção de um diálogo.
sindical dão sinais momentâneos de en- isenta de responsabilidade, como prevê a própria
As discussões aconteceram em um terreno
fraquecimento no Paraná. Um exemplo Constituição, é o desconhecimento de causa. Po-
minado, em que qualquer deslize poderia acar-
disto está bem próximo de nós jornalis- rém, nos eventos idealizados pela delegacia de Foz,
retar perdas para nossa categoria profissio-
tas, cujo trabalho diário está pautado na a divulgação é feita com insistência. Faxes são
nal, principalmente porque a representação
cobertura de fatos, apurados a partir da emitidos às redações, mensagens eletrônicas são
dos patrões esteve irredutível em sua posi-
informação, nossa matéria-prima. passadas aos endereços pessoais dos jornalistas,
ção. Assim o novo piso dos jornalistas do
Ao partir desse pressuposto, saberia telefonemas confirmatórios são dados, além do tra-
Paraná é R$ 1.184,63.
você, colega e leitor, responder quais fo- dicional boca à boca feito quando os profissionais
O quadro é este, e diante dele estamos nós
ram as condições de negociação no últi- encontram-se em campo ou mesmo fora do horá-
com contas para pagar e com dificuldades estru-
mo acordo coletivo assinado entre o Sin- rio de trabalho.
turais, as quais em muitas empresas afetam a
dicato dos Jornalistas Profissionais do Iniciativa em vão? De forma nenhuma, afinal
qualidade da atividade jornalística. No Brasil é
Paraná e o Sindicato dos Proprietários de poucos ainda têm a noção da relevância da repre-
notório que a tomada de consciência tenha como
Jornais e Televisão? Acredito que não. sentação da classe, além da
ponto de partida, em muito ca-
Sem muita reflexão, é possível apontar coragem e competência
sos, o bolso. Então jornalista, es-
alguns motivos para isso, mas para saber o para desenvolver as ativi-
pecialmente você que recebe o
principal deles é necessário fazer uma dades relativas aos postos
salário mínimo profissional da ca-
autocrítica e questionar como vai seu in- que ocupam. Muito tem a
tegoria, o piso (ou piso-teto), re-
teresse em buscar informações a respeito se fazer, embora passos im-
flita se não valeria a pena envol-
de um tema cujos reflexos vão recair dire- portantes já tenham sido
ver-se com as questões inerentes
tamente sobre você, sobre nós. Trata-se dados em âmbito local.
à profissão que escolheu.
Daniela Valiente
7 Prensa
carteirinha Reconhecimento