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TELEOLOGIA E METODOLOGIA HISTORICAS EM TACITO* Fabio Duarte Joly** Resumo Este artigo analisa 0 modo como Técito, em seus Annales, concede 0 principio de verdade de sua narrativa histdrica e as relagoes que este guarda com a pocsia, sobretudo a tragédia discutida por cle no Dialogus de oratoribus. Palavras-chaves: Historiografia, verdade, postica, Técito, Ao finalizar 0 breve proémio de seus Anais, Técito expoe como teleologia de sua narrativa histérica a assergio da verdade: De Tibério, Caio, Cliudio e Nero, enquanto vivos 0 medo no deixou falar com verdade; depois de morios, 0 ddio recente falseou as narrativas. Bis porque empreendi narrar, de Augusto pouco e seu fim, ¢ depois o principado de Tibério e os seguintes, sem ira nom afeig&o, pois destas causas mantenho distincia, (Ann.,1,1) Bile antigo deriva de um trabatho de conclusfo do curso "Meméria Histérica e Narra- tiva Historiografica”, misistrado pelo Prof. Dr. Francisco Murari Pires (FFLCH/USP) ‘no primoizo semestre de 1999, Resulta também de pesquisa de mastrado sobre Téct realizada sob orientagio do professor Dr. Norberto Luiz. Guarinello, com financiamen- to da FAPESP, © Mestte em Histéria Econémica pela USP. Estas consideragdes “metodoldgicas” tendem a ser, em maior ou menor grau, entendidas pela critica moderna como uma proposis de que a narrativa taciteana pretende ser uma reconstituigdo verdadeira Go passado, nos moldes da formula rankeana de relatar Yo que realmente aconteceu” (wie es eigentlich gewesen) (BacHA, 1906; GoopvEaa, 1983; Lastzr, 1977; Baver, 1996).! Constatando que, 20 longo da obra, tal concepgao de verdade nio se realiza, os estudiosos, sejam historiadores sejam criticos literésios, atribuem a impossibilidade de sua realizagio, por um lado, a um vigs parcial de Tacito sobre o passado, como se negasse a proclamacio de imparcialidade do proémio, e, por outro, 20 papel da retérica em sua narrativa. Enquanto os historiadores alegam que, para fazer a verdade dos fatos emergir, é necessério desconsiderar 08 julgamentos dos fatos por Técito ¢ a apresentagao retsrica dos mesmos (Maxsu, 1931, p.6), 08 criticos literdrios, devido a esta retérica do discurso hist6rico, descartam mesmo qualquer possibilidade de se depreender algo de verdadeiro nos escritos de Técito, Em ambas as abordagens, é, portanto, nitida 2 oposigao entre retdrica e verdade, conseqiiéncia da heranga epistemol6gica positivista do século XIX, acompanhada de uma descaracterizagao da retorica antiga que eclipsa sua fungdo de pesqui da verdade ao associd-la exclusivamente composigao estilistica (Woopman, 1998a, p. 6-18; 1998d, p. 236). Neste sentido, a questo que se formula ¢ a da delimitagao do conccito de verdade esbogado por Técito, no contexto da esiruturacao retérica de sua narrativa, que nao o (pré)definido pela convengao posi- tivista. Com 0 intuito de apresentar uma reflexdo sobre esta proble- mética, delineamos um percurso que inclui alguns passos de uma anilise do proémio dos Anais, procurar-se-4 comentar o princfpio teleclégico ncle exposto, no caso, a projegdo da verdade como meta da narrativa hist6rica. Esta questo desdobra-se em outra, a da metodologia da narrativa taciteana, ou seja, os preceitos pelos quais fundamenta a veracidade de sua composigao. Esta discussio serd conduzida com outras passagens relevantes dos Anais, relativas a sua critica das tradigoes, orais e escritas, sobre o passado (principalmente Ann., TV, 10-11) e & retSrica de seu método af operante (Ann., XIV, 43-44). A questtio da verdade tratada nestes pontos conduz, por sua vez, estando ela inclusa, A utilidade da historia como critien da sociedade presente por sua comparagio ao passado (Ann., IV, 32-33). Ao final, uma andlise da 26 Jour, Fabio Duarte, Teleologia ¢ metodologia histéricas em Tacito teleclogia poética, como apresentada no Didlogo dos oradores, obra anterior aos Anais, tem por objetivo demonstrar como a teleologia hist6rica de critica social representa, de certa forma, um desdobramento dela. Uma arqueologia do principado A principio foram reis os que governaram a cidade de Roma. L. Bruto instituiu © consulado e a liberdade. As ditaduras eram tempordrias; e 0 poder dos decénviros no durou mais de dois ‘anos, nem por muito tempo o dos tribunos militares. Foi curta a dominagao de Cina, como tambérn a de Sila; e 0 poder pessoal de Pompeu e Crasso passou logo para César, como também as armas de Lépido e Antonio foram suplantadas pelas de Augusto, quem aczitou 0 govemo, sob o nome de principe, cansados que estavam todos das discsrdias civis. (Ann., 1, 1) Na primeira parte do proémio dos Anais, Técito, com singular concisdo, oferece ao leitor uma seqiiéncia progressiva de acontecimentos que antecedem 0 fato a ser narrado, o estabelecimento do principado, indicando, ao final, sua causa, Ao declarar 0 pinc{pio arqueoldgico, simultancamente, encadeia com um principio etiol6gico. Inicialmente, enumera eventos politicos da histéria de Roma em ordem cronolégica, tripartinda-a segundo as trés formas de gaverno que definem sua evolugao politica, a saber, monarquia, repiblicae prineipado. O eixo a partir do qual apresenta esta seqiiéncia é o tema do poder (reges, consulatum, dictanurae, potesias, dominatio, potentia, arma, imperium), 0 qual, por sua vez, é subdividido em duas categorias, lega- lidade (consulatum, dictaturae, potestas, consulare ius, imperium) e ilegalidade (dominatio, potentia, arma). Funcionatios do Estado (decemviralis, tribuni militum, dictator) exercem os poderes legais, enquanto os ilegais so detidos por particulares (Cinna, Sulla, Pompei Crassique, Lepidi atque Antoni). ‘As frases em que estes termos aparecem nao esto subordinadas entre si por relagées de causalidade, Técito apenas registra cada evento politico nfo indicando ao leitor as razées da extensGo temporal (ad tempus, neque ultra biennium, neque dist, non longa, cito) dos poderes Hist6ria Revista, 6 (2) : 25-50, jul/dez. 2001 27 gue se sucederam, Seu objetivo é 0 de tdo somente mostrar que a histéria de Roma, até a ascensio de Augusto, que entao estabeleceu um regime permanente (Jens, 1956, p. 346), caracterizou-se por uma alternéncia entre legalidade e ilegalidade. ‘Nesta “arqueologia do principado”, portanto, est subjacente 0 tema do poder. As disputas pelo poder politico em Roma culminaram nas guertas civis do final da Republica, conflito que éa causa factual do principado: qui cuncta discordiis ciuilibus fessa nomine principis sub imperium accepit. Se, contudo, é clara nesta frase a definigao da causa Go principado, nfo 0 € 0 julgamento que Técito tece sobre este regime, pois uma apresentagio dual do principado estd implicita nela. A frase acima pode ser lida de duas maneiras (Burst pe Lava, 1996, p. 5). Por um lado, significa que Augusto aceitou, dos que estayam fatigados pelas guerras civis, todos os poderes (cuncta accepit) sob um imperium (Murari Pines, 1999, p. 147-276; Nescnke, 1978, p. 49). Porém, cuncta ndo € apenas complemento do objeto dircto de accepit mas também sujeito légico de fessa, Ou seja, tarubém pode ser entendido que Augusto accitou, sob um imperium? todas as pessoas fatigadas pelas guerras civis (Woopman, 1998c, p. 66; Berancux, 1977, p.332; Marincos, 1997, p. 143). Esta dupla apresentago do Principado deve ser compreendida tendo em vista a economia do proémio, ou soja, relacionada com sua segunda parte, que aborda a questo da verdade na narrativa hist6rica. Ao justapor duas visdes, uma positiva e outra negativa, sobre este imperador, Técito introduz a questdo das interpretagdes usualmente polarizadas acerca do regime imperial, fator, segundo ele, que dificulta a apreensio da verdade sobre o passado jilio-claudio. As temporalidades da verdade Mas os antigos feitos do povo romano foram j& narrados por ilustres eseritores, assim como para 0 governo de Augusto no faltaram, até que a adulag&o crescente fosse corrompendo os mais formosos talentos. De Tidétio, Caio, Claudio e Nero, enquanto vivos o medo nao deixou falar com verdade; depois de mortos, 0 6dio recente falscou as narrativas, Eis porque empreendi narrar, de Augusto pouco ¢ seu fim, ¢ depois 0 principado de 28 Jour, Fébio Duarte. Televlogia e metodologia histéricas em Téctto ‘Tibério c os seguintes, sem ira nem afcig&o, pois destas causas mantenho distancia. (Ann. I, 1) Neste trecho Técito distingue trés temporalidades do passado. Uma primeira, anterior ao principado de Augusto, circunscrita pelo que denomina de “antigos feitos do povo romano”, Uma segunda ¢ delineada pelo perfodo de Augusto, enquanto uma terccira abarca os scus sucessores, de Tibério a Nero. Segundo Técito, cada uma delas foi objeto de narrativas histéricas, as quais, contudo, comparativamente diferenciam- se quanto ao grau de veracidade. As narrativas referentes aos principa- dos de Tibétio, Caio, Cléudio e Nero, sdo classificadas em sua totalidade como falsas por Técito. Logo, em contraponto a estas, sugere gue as narrativas dos tempos antigos primavam pela veracidade c dai a qualificagdo positiva dos que as conceberam, Uma posigio intermediaria 6 ocupada pelas narrativas relativas ao principado de Augusto. Sobre estas diz que, por um momento, representaram uma continuidade com suas predecessoras, decaindo a seguir, fato que persistiu doravante, Mas com qual argumento endossa este comentario acerca da impossibilidade de se constituir um saber sobre o principado? No tocante & historiografia imperial Tacito aventa o fato de 0 historiador ser um personagem do periodo hist6rico que narra como um elemento que oblitera a verdade de seu discurso. Enquanto os que escreveram sob Augusto, falsearam suas narrativas para clogid-to, aqueles que compuseram suas obras sob os imperadores jilio-claudios tenderam a falsificd-las devido ao medo de serem punidos ¢, mesmo findos tais imperadores, tal falsificagdo persistiu, resultado de ddios pessoais, por injuirias sofridas. Técito também aponta a adulagdo como um elemento que produz uma navrativa parcial, Com a finalidade de agradar 0 imperador, 0 historiador elabora um relato de cunho positivo, ausente de criticas$ Para Técito, entio, a verdade configura-se como uma categoria dependente da historicidade do historiador, reflexdo fundada em uma relagao entre historiografia e sistema politico. As narrativas dos historiadores que escreviam sob a Republica, ¢ que tinham por objeto os feitos do povo romano, podiam almejar a verdade ja que ndo havia o monopélio do poder por um indivfduo. Deste modo, ao fixar uma ruptura com seus predecessores no campo da historiografia imperial Técito sugere Historia Revista, 6 (2) + 25-50, julfdex. 2001 29 ‘uma continuidade com estes representantes da historiografia republicana, 0s quais qualifica de magna ingenia e clari scriptores. Coloca-se como herdeiro do principio teleolégico destes, deslacando-o para a tematica do principado, para os feitos dos imperadores. No entanto, com esta problemética das temporalidades da verdade, Técito também esté a sugerir uma aporia informativa que Ihe € conseqiiente. Como oferecer uma narrativa que tenha a verdade como meta se ele, TAcito, depende da consulta as narrativas falsas, pois distorcidas pela parcialidade dos que esereveram durante ¢ logo apés os imperadores juilio-cldudios? Uma solugdo para esta aporia é apenas delineada no protmio, Diz’Tacito que iré narrar os principados de Tibério a Nero “sem ira nem afeigao” (sine ira et studio), “mantendo distancia dostas causas” (quorum causas procul habeo) (Ann., 1, 1). Como notou A. J. Woodman, causas procul habeo nao 6 equivalente a nullas causas habeo, como tendem a compreender a primeira expressio aqueles estudiosos que projetam uma postura “positivista” a Técito. Segundo esta corregao, a idéia presente ao final do proémio no é a de que a narrativa taciteana est4 completamente ausente de visdes parciais sobre os imperadores, mas que estas nao tem como fonte Técito, pertencendo 2quelas narrativas que o historiador consultou sobre o periodo jjtlio-cléudio, O que Técito, ao final do proémio, afirma ao leitor, é que esté ciente da parcialidade das versdes sobre o passado, por vé-las com, um olhar distanciado (Marixco.a, 1997, p. 252.). 0 historiador sugere que nao iré aceité-las acriticamente, mas que sua narrativa pautar-se-d por um jutzo eritico, que possibilite uma apreensao do passado. © método da narrativa: a critica das tradigdes Um dos procedimentos taciteanos de afirmagao da veracidade de sua narrativa consiste no recurso & contraposicao entre o julgamento do historiador sobre um acontecimento e as tradigées concementes a0 mesmo, sejam escritas sejam orais. Nao que Tacito descarte todas as tradigdes por ele recolhidas, mas seleciona-as de modo que determina quais sio dignas de credibilidade e que, portanto, podem ser transmitidas, e quais devem ser abandonadas, visto que revelam um conhecimento insuficiente dos fatos (Woopmax, 1998b, p. 22) 30 Jou, Fabio Duacie, Teleologia € mesodologia hisiéricas em Técito Quanto &s tradigdes de cunho oral, um dos motivos pelos quais ‘Técito as vé com reticéncia é o fato de, segundo cle, originarem-se, sobretudo, nas camadas subalternas da sociedade romana. Populus, plebs © wulgus sio termos que freqiientemente acompanham a apresentagio de rumores por Tacito. Tais grupos sao caracterizados como carentes de sabedoria e avessos & elaboragao de um jufzo eritico que almeje a verdade.* O apego ao fabuloso ¢ a tendéncia ao engrandecimento dos fatos também so marcas negativas das tradigdes orais epontadas por Técito (Mariscot, 1997, p. 93) Poreste motivo, advoga a necessidade de avalié-las criticamente antes de aceité-las e continuar sua transmissao. Tal exemplo deste seu método encontramos na andlise que faz de uma determinada tradigao oral, a concernente & morte de Druso, filho do imperador Tibério (Ann., IV, 10-11). A relevancia deste episédio reside no fato de apresentar a0 leitor a metodologia taciteana de averiguagao das versdes sobre o passado. Narrando a morte de Druso, segui a maior parte dos autores e os ‘mais fidedignos, mas ndo devo omitir um rumor muito propalado entio € que até hoje no perden de todo o crédito. Constou que estando j4 Livia seduzida para 0 ctime, Sejano ligara a si por impudico comércio o eunuco Ligdo por sua idade e beleza muito caro ao senhor ¢ predileto entre seus escravos: depois, quando ficou entre os ctimplices combinsdo tempo e lugar do crime, chegou-se a audécia de inverter as coisas, avisando ocultamente Sejano a Tibério que no jantar em cesa do filho evitasse a primeira bebida a ele oferecida, como suspeita de conter veneno, ¢ que o pai assim enganado, logo no principio do banquete, dera a Druso a taga recebida, ¢ tendo ele sem desconfianga e inconsidera- dameate bebido, deu forga & suspeita, parecendo que por medo ou vergonha voltasse contra si o atentado que preparara para 0 pai. Isto se disse enure o vulgo, mas no foi confirmado por nenhum eutor fidedigno e facilmente podem refuté-lo, pois ninguém de medfocre bom senso, quanto mais Tibétio, to atilado ¢ experiente, daria por sua prépria mao a morte ao filho sem primeito ouvi-lo, cortando de um golpe toda a possibilidade de arrependimento. Poria antes a tratos 0 portador do veneno, indagaria 0 autor do crime, ¢ entdo que se tratava de seu tinico filho, munca dantes suspeitado de culpa, usaria de sua natural contemporizagao, praticada até com os estranhos. Mas como Histéria Revista, 6 (2) : 25-50, jul /dez. 2001 31 Sejano era tido por maquinador de todos os atentados por causa de sua intima ligacdo com César ¢ 0 ddio geral contra ambos, adquiriram crédito os rumores mais fantasticos € monstruosos, aerescendo ainda que a voz piblica é sempre cruel para explicar a morte dos poderosos. Mas plano do crime foi depois exposto por Apicaia, esposa de Sejano, e comprovado por Eudemo Ligdo submetidos a torturas; e nenhum dos historiadores que tudo perquiriram e exageraram, houve tio inimigo de Tibério que o culpasse. Este rumor eu lembro e refuto somente para condenar com um exemplo clara as falsas atoarcias e pedir aqueles a cujas mios chegar este nosso trabalho, que as narragées veridicas simples nunca prefiram histérias extranaturais, avidamente accitas pelo vulgo, (Ann. IV, 10-11) Técito inicia contrastando 0 rumor, uma tradigao oral ainda persistente na época em que escreve, com uma tradigio escrita. Diz desta tiltima gue, por ter sido transmitida por muitos autores de maxima credibilidade, era a mais digna de confianga, tanto que a seguiu em sua propria narrativa, Segundo esta verso, o eunuco Ligdo teria envenenado diretamente Druso, a mando de Sejano, chefe da guarda pretoriana ¢ homem préximo ao imperador (Ann. IV, 8). Contudo, a permanéncia de um rumor, incluindo Tibério no assassinato, requeria exame a fim de tejcité-lo como fonte digna sobre um fato passado, pois derivada do vulgo, Técito, ent&o, no intuito de provar sua falsidade, procura demonstrar que tal tradigZo baseia-se em indicios equivocados, Em primeiro lugar, afirma que reflete uma ignoréncia a respeito da personalidade de Tibério, Colocando-se como conhecedor deste detalhe, ‘Técito argumenta que a natureza do imperador nio lhe permitiria agir da maneira que o rumor supde. Além do mais, a culpa de Sejano foi testemunhada por sua prépria mulher ¢, sob tortura, pelos cunucos envolvidos, Como indicio conclusive afirma que a inocéncia de Tibério é atestada até por aqueles historiadores que eram contrérios ao imperador que, portanto, estariam inclinados a denegrir sua imagem. Técito, com esta inquirigao, demonstra ao Ieitor que néo accita de imediato qualquer tradi¢Zo, sem antes colocé-la a prova. Jéa opiniio do vulgo repousa em uma falsa indugio, corroborada pelo viés parcial que tem do episddio. Da proximidade entre Sejano e Tibérie deduziu-se a cumplicidade do imperador no crime, versio construida e propagada 32 Jour, Fabio Duarte, Televlogia ¢ metodotogla histSricas em Ticito devido ao édio que muitos votavam a estes personagens. Esta tradic0, por sua vez, perpetuou-se, apoiada no erréneo senso comum, que, voltado para o fabuloso, tende a descrever de forma crucl toda morte de individuos poderosos. Em contraposigio a este raciocinio, antes fundado na crenga do quena ponderagao critica, ‘TAcito firma o método de sua narrativa histérica © a autoridade da mesma, pois transmite apenas 0 que é consensual entre os escritores consultados e ndo € afeito a versées fabulosas, falsas por sua parcialidade e deficionte saber. A utilidade de sua narrativa revela-se assim por indicar a seus leitores um outro modo de pensar gue 0 do vulgo, pois, como bem observou Patrick Sinclair, © uso por Técito da primeira pessoa do plural ao final do episédio (nosso trabalho) estabelece uma comunidade de pensamento entre o historiador e seu publica s Apesar de Tacito enfatizar que se deteve no episédio acima para ilustrar seu método inquiritivo, sugerindo assim a permanéncia deste no restante da obra, é comm lermos na critica modema indagacées sobre a pequena quantidade de semelhantes observacdes metodolégicas por parte do historiador (SwatzMan, 1974, p. 551), De fato, nos Anais, mengSes sobre a concordancia, ou no, em relagdo as fontes utilizadas sao numericamente escassas tendo cm vista a extensao da obra; em apenas dois episédios, excetuando-se o acima analisado, Tacito se detém na critica & parcialidade dos historiadores que o precederam. Assim, no episédio da morte de Popéia, esposa de Nero, escreve: Depois de terminados os jogos, morreu Popéia, vitima de fortuita irascibilidade de seu esposo que a atingira com um pontapé, estando ela gravida. Nao creio tivesse morrido envenenada, embora alguns historiadores aarrem, pois acho que assim 0 fizeram, levados mais pelo édio que pela verdade, porquanto Nero desejava muito ter filhos ¢ vivia dominado pelo amor de sua mulher. (Amn., XVI, p. 6) ‘TAcito comenta neste trecho como a parcialidade dos historia- dores deturpa a verdade de um acontecimento histsrico. No seu enten- dimento, 0 ddio dos escritores com relagao a Nero fez. com que transmi- tissem uma verso da morte de Popéia desfavordvel ao imperador, ou seja, ade que voluntariamente a perpetrou pelo veneno. Diz que esta Hist6ria Revista, 6 (2) : 25-50, julfdez, 2001 33 tese € inverossimil, pois Nero descjava ter filhos ¢ amava sua mulher ¢, portanto, apenas um acesso de cdlera poderia explicar seu comporta- mento, Ainda com respeito & questo da parcialidade, contrasta as verses sobre a reacdo de Nero diante de um suposto cnvolvimento em uma conspiragio do prefeito da guarda pretoriana, Afrénio Burro: Conta Fabio Rustico ter sido enviada por escrito a Cecina Tuseo uma ordem para que assumisse 0 comando das coortes pretorianas, ¢ que s6 por conselho de Séneca fora Burro conservado. Piinio e Ciivio referem que nenhuma suspeita pairou sobre a lealdade do prefeito. verdade que Fabio tende alouvar Séneca, pois ascenden por sua amizade. E meu costume seguir a runanimidace dos historiadores e, quando diverge, nerrar os fatos sob a autoridade de cada um com a citagio de seus nomes. (Ann., XIII, 20) ‘Técito Langa dividas sobre a versdo de Fabio Ruistico pela ligacao pessoal que cle possufa com Séneca, 0 que poderia té-lo incitado a inttoduzir na narrativa uma provavel interferéncia do filésofo a fim de elogié-lo. Finaliza com uma observagdo metodolégica que, nos Anais, aparece aplicada apenas uma vez, quando comenta sobre um provavel incesto entre Nero e sua mae, Agripina (Ann, XIV, 2) (Swvccair, 1995, p. 76). Todavia, estes raros comentarios inseridos na narrativa taciteana, ao invés de serem interpretados como uma deficiéncia metodolégica, Gevem ser compreendidos como uma estratégia retérica que visa confirmar precisamente a exceléncia da narrativa, confirmando sua credibilidade e autoridade, Revelariam que Técito superou o obstéculo colocado pela parcialidade das versdes que recolheu, compondo uma narrativa uniforme ¢ veraz. Esta postura do historiador & esclarecida mediante um paralclo com a leitura do eélebre discurso de Caio Cassio, sobre 0 assassinato do prefeito da cidade de Roma por um de seus escravos cm 61 d.C. Esta comparagdo permite-nos sugerir uma explicagiio sobre 0 sil€ncio metodolégico taciteano no contexto da elaboragao retérica de sua obra. Bis 0 contexto do discurso, Segundo Técito, em 61 4.C., 0 prefeito da cidade de Roma, Pedanio Secundo, foi morto em casa por um de 34 Joex, Fabio Duarte. Teleologia © metedalogia histéricas em Técito seus escravos. As razdes apontadas foram duas: ou © senhor recusara a liberdade ao escravo apés jd ter combinado o prego, ou rivalizavam pelo amor de um rapaz (Ann., XIV, 42, 1). A pena prevista em lei para uma ocorréncia deste tipo previa a execugao de todos os demais escravos que estivessem na casa no momento do crime. Como eram 400 no total, houve uma comocao tanto dentro do Senado como entre a plebe. Seguiti- se, entdo, um discurso do senador C. Cassio Longino, defendendo a aplicag&o da pena: Muitas vezes, padres conscritos, fui presente a esia assembléia em ocasides em que se pedia revogacdo de leis ¢ praticas institufdas por nossos maiores, e no fui contrario, néio porque duvidasse que sobre todos os negécios cles soubessem prover melhor ¢ com mais acerto € que as inovagdes costumam ser prejudiciais, mas apenas para nao parecer que, por muito amor a08 costumes passados, estivesse eu a fazer ostentagio de meus estudos. Ao mesmo tempo julgava que nfo devia diminuir, em fregilentes contestagdes, a pouca autoridade que tivessem minhas opinies, reservando-a para momentos em que minha colaboragiio pudesse ser vitil ao estado. B isto que hoje acontece, ‘Um varao consular € morto em sua casa por um escravo: nao houve quem denunciassc ou impedisse a perpetragao do crime, sabido, como 6, que por um senatus-consulto é cominado 0 suplicio a toda a familia. (Ann., XIV, 43, 1-3) orador inicia explicando as suas poucas intervenges na arena politica e a razio de sua manifestagao no presente caso. Diz. que mesmo sendo de opinido contréria a daqueles que defendem a reforma da legislacao promulgada pelos ancestrais evitava scus protestos por dois motivos. Em primeiro lugar, para nfo parecer que suas manifestagdes tivessem por objetivo a sua mera promogao individual, ou scja, a utilizagio do senado como paleo para exibigéio de seus conhecimentos jurfdicos, sua area de estudos (Ann., XII, 12). O segundo motivo revelado pelo orador ¢ ainda mais relevante. Diz. que evitou freqtientes intervengées para niio abalar sua autoridade, preservando-a para questdes oportunas e-que lhe parecessem fundamentais para o Estado. A autoridade é, assim, entendida como eficaz e persuasiva quando explicitada esporddica e calculadamentc. Quando a ocasido se apresenta justifica-se a interven- Hist6ria Revista, 6 (2) : 25-50, jul /dez. 2001 35 0, a qual, contudo, deve revelar uma capacidade critica de andlise do caso em debate. O orador demonstra isto ao rebater as alegagdes dos que eram contrarios & execugio de todos os escravos: Se tivéssemos de deliberar agora pela primeira vez acereade um caso igual, credes vés que um escravo conceberia o plano de ‘matar seu senhor, sem deixar escapar uma palavra de ameaga ou nao caisse em alguma leviandade? Suponhamos que teve a maior discrigdo e conseguiu trazer ocultamente a arma: mas, ainda assim, como iludir as sentinelas, abrir a porta do quarto, levar luz, cometer © crime, sem que ninguém 0 soubesse? Muitos indicios antecedem aos crimes (Ann., XIV, 44, 1-3). O orador para refutar a versao de seus oponentes elenca indicios que comprovem que 0 escravo no poderia ter agido sozinho, Reconstitui 0 fato passado, 0 assassinato, argumentando sobre a impossibilidade de uma ago isolada do escravo. Como se vé, igual procedimento utiliza Tacito na demonstragao da falta de coeréneia de certas tradigoos hist6ricas, pois o historiador contrapSe a estas os indicios que julga convincentes para a reconstituigao do fato hist6rico. Assim como a inquirigo do passado pelo historiador tem por objetivo formular um esquema cognitivo, uma forma de pensar, para seus leitores, tal como exemplifica o episédio da monte de Druso, o orador também visa esta finalidade, conforme demonstra a parte final do discurso de Céssioz Caso 0s escravos denunciem, podemos ser poucos dentre muitos, todos eles estando inquietos; enfim, se tivermos que perder a vida, 0s culpados no ficardo impunes. Nossos antepassados no confiavam na lealdade dos escravos, ainda mesmo dos naseidos em suas propriedades ¢ em suas casas, criados no afcto dos senhores. Hoje que temos em nossas familias servis pessoas de nagSes diversas, de varios ritos, de religides diferentes ou de nentuma, 66 medo pode ser coergdo para esse entulho. Objetar- se-6 que muitos morrerdo inocentes. Sim, mas quando se dizima um exércitoe cada décimo soldado € castigado, « sorte cai também sobre os valorosos. Todos os grandes exemplos trazem consigo alguma iniguidade contra individuos, porém esta redunda em utilidade publica. (Ann. XIV, 44) 36 Jour, Fébio Duarte. Teleologia € metodologia hist6ricas em Técito Da argumentagao sobre indicios particulares, restritos ao contexto da morte do prefeito, Cassio passou a uma de cardter mais geral, Transforma o exterminio de todos os escravos em um exemplo a ser sempre seguido em ocasides semelhantes. Como a desconfianga é inerente relagao escravista, sejam os escravos nascidos no espaco domeéstico sejam oriundos de terras estrangeiras, a estratégia de controle a ser legitimada é a da promogdo do medo, argumento que encontra justificagdo em uma sententia: todos os grandes exempios irazem consigo alguma iniquidade contra individuos, porém esta redunda emutilidade publica, A transcendéncia desta conclusio para 0 episédio em questa jé 6, alias, percebida na comparagiio entre escravos & soldados, mas tal sententia também encerra uma forma de pensar a intervengio estatal na sociedade. Como demonstrou Heinz Bellen, a formula do discurso de Céssio remete a um dos prineipios programéticos Go principado, segundo 0 qual a utilitas publica deve prevalecer sobre a utilitas singulorwn (Marmns, 1994, p. 200; Vow AtBaecat, 1995, p. 1107).* Cassio conclui seu discurso com uma orientagao politica para 0 presente (Scitetinase, 1976, p. 142). Portanto, orador e historiador adotam uma similar metodologia, sugerindo uma aproximagao entre retérica ¢ histéria. A investigagao do passado a partir de uma argumentagao fundada em indicios provaveis visa estabelecer a verdade, nfo somente para esclarecer 0 proprio pasado, mas também, ¢ principalmente, os parametros de intervengao no presente, Esta teleologia da narrativa taciteana é detalhada em uma digressao no livro IV dos Anais. O presente pasado: a critica sécio-politica na narrativa historica Esta digressdo estrutura-se a partir de um contrast com a historiografia republicana ¢ pode ser dividida em duas partes. Uma primeira parte versa sobre a axiologia histérica e sua relacZo com a gldria do historiador (Ann. IV, 32). A segunda parte (Ann., IV, 33) trata da teleologia historica, respectivamente, da histéria enquanto pedagogia ética e da fungdo hedonistica da narrativa histérica, Na primeira parte (Ann., IV, 32), Técito esclarece a axiologia de sua narrativa. Ao contrério da historiografia republicana que tem a seu dispor feitos grandiosos (no plano externo, guerras, conquistas de cidades, Hist6tia Revista, 6 (2) » 25-50, jul dex. 2001 37 morte e captura de reis; em Roma, conflitos politicos entre a plebe, ou sens representantes (tribunos da plebe) ¢ a aristocracia), ele, Técito, apresenta apenas feitos menores, insignificantes mesmo, se comparados a0 de seus predecessores, pois predomina a paz e nfo a guerra e apenas fatos tristes na cidade, como 08 jé mencionados. Ao discorrer sobre tal seletividade, Técito, portanto, relaciona sistema politico ¢ atividade historiografica. As possibilidades de o historiador almejar a gldria com sua narrativa sdo diretamente proporcionais ao grau de conflito politicos ¢ belicosos proporcionado pelo sistema politico vigente. Deste ponto de vista, o Prineipado é diametralmente oposto & Reptiblica, logo, cabendo pouca gloria a Técito, Todavia, ao final desta argumentagio Técito reverte esta negatividade da restrigdo axiolégica, epontando para um aspecto positive da mesma, 0 deslocamento que faz para a questo da utilidade da hist6ria: Contudo nio terd sido sem utilidade perscrutar aqueles feitos aparentemente insignificantes @ partir dos quais muitas vezes 0 motivo de grandes feitos tem origem. Todas as nagies ¢ cidades so regidas ou pelo povo ou pelos principais cidadios ou por um s6. Uma forma de governo escolhida ¢ composta a partir cestas € ais fécil de ser louvada do que produrida, on, caso venha a ser, no pode ser duradoura. Pois entio que a plebe era forte, que os senadores tinham poder, deviam ser conhecidas a naturcza do vulgo e por quais modos, com moderagio, fosse tratado; os que sabiam com perfeigo 0 cardter dos senadores € principais cidadios, eram considerados experientes conhecedotes dos tempos. Como na situagao inversa Roma nao € outra coisa que se um imperasse, esta busca e transmissdo (erd sido de interesse, pois poucos por prudéncia as coisas honestas das més, as dteis das prejudiciais discernem, a maioria é ensinada pelo que aconiece £20 OUIOS. (Afi IV, 33, 1-2) Assim como a respeito da axiologia da narrativa hist6rica, Técito estabelece uma conexao entre historiografia e regime politico. A stividade do historiadoré determinada pelo regime politico que Ihe é contemporanco, ‘na medida cm quc este traga os limites epistemolégicos que conformam anarrativa hist6rica. Esta deve se adaptar a vigente distribuigao do poder politico, Neste sentido, Tacito inicia descartando a teoria da constituigao mista de governo —a combinaciio de democracia, aristocracia e monarquia 38 JoLy, Fabio Duane. Teleologia € metodologia hisidricas em Taco — como um modelo politico que deva ser incorporado pela narrativa hist6rica (BrtieN, 1982, p. 454-455; Gappa, 1995, p. 333ss).8 Nao é factfvel, embora louvavel. Também descarta 0 modelo republicano, fundado na existéncia do povo e do senado como agentes politicos. No principado, diz Técito, estes grupos nao mais estdo no centro do campo politico, agora monopolizado pelo imperador. Ciente desta ruptura, 0 historiador defende uma narrativa compativel com o regime imperial, tendo por fungao a transmissio de preceitos para a conduta nesse regime, Com esta argumentagao, Tacito formula a telcologia de sua obra. Ao historiador cabe fornecer a seus leitores agdes de personagens histéricos que primam tanto pela grandeza positiva quanto pela negativa, a fim de que tenbam referenciais para suas proprias ages, Ao elencar excmplos de conduta que scjam malignos ¢ prejudiciais, espera que 0 leitor adote a postura contréria, © caminho do bom e do honesto. Por sua vez, ao tragar como limites conceituais de sua teleologia hist6rica as categorias éticas do itil e do honesto, Técito alinha-se com © pensamento filosdfico da Nova Academia e seu desdobramento na retérica. Filiagao ja esbogada nos termos em que, no Didlogo dos oradores, apresenta a relagdo entre retérica e verdade, No discurso do orador Messalla, que faz a apologia da ret6rica ciceroniana, é proclamada como fungao do orador praticar, no férum, uma “verdadeira eloquéncia” (uera eloquentia, Dial., 34, 4), a0 contririo do que ocorre nas escolas de retorica onde as declamagées versam sobre casos ficticios, que se afastam da verdade (abhorrenti a ueritate, Dial, 35, 4). Dat 0 oredor objetivar a verdade através do seguinte proceso: Examinar 0 que € bom © mau, honesto ¢ torpe, justo ¢ injusto; esta é a matéria que eabe ao orador dissertar. Pois nos discursos judicidrios normalmente sobre a eqiiidade, nos deliberativos sobre a utilidade, nos elogios sobre a honestidade dissertamos. (Dial., 31,12) Estabelecer a verdade € dever do orador, através do tratamento do que ¢ titi] e honesto e da eqilidade entre estes conceitos. A verdade ¢ assim uma categoria dependente do juizo critico do orador no contexto da causa que esta a defender. Similar esquema aplica-se ao historiador, como sugere a digressaio dos Anais, pois este, tomando como ponto a defender a inevitabilidade do Principado, também pondera sobre as ages Historia Revista, 6 (2) : 25-50, jul/dez. 2001 39 humanas passadas — uiteis, honestas ¢ seus opostos ~ a fim de indicar. a partir de seu julgamento, um conhecimento a seus Icitores, orientando- ‘08 no plano ético presente. No entanto, desta redefinigao da utilidade da hist6ria ‘Técito extrai duas conseqiiéncias. Por um lado, a diminuigao da funcdo hedonfstica da narrativa hist6rica, Por outro, a conjungao de temporalidades que sua narrativa opera ao pressupor que seus leitores tragam paralelos entre 0 presente eo passado, Estas duas conseqiiéncias so expostas na parte final da digressfio em que a redugao axioldgica é aqui tratada do ponto de vista do puiblico leitor: Logo, estas coisas devem ser de proveito, ainda que tragam 0 minimo de doleite: pois « situactio de povos, variedades de combates, ilustres mortes de chefes retémn ¢ restauram a dispo- sigo dos que Iéem. Nas, ordens cruéis, acusagées consecutivas, amizades falazes, a raina de inocentes e mesmas causas de seus fins, fatos ébvios quanto A semelhanga ¢ quantidade, Entdo para os antigos escritores nao havia um raro detrator, ¢ nem interessava qual dos exércitos, pénicos ou romanos, com mais ardor tivesse elevado. Mas de muitos que de Tibério, enquanto reinava, sofreram punigo ou infamias, permanecem descen- dentes. Mesmo que as préprias familias j4 estejam extintas, encontrarés os que pela semelhanga dos costumes julgam os maus feitos alheios imputados @ si. Até para a gléria ¢ 0 que € virtuoso hé inimigos, pois parecem condenar ages contrérias quando a elas comparadas. Se para o historiador hé uma diminuico de sua gldria, para 0 publico, significa uma perda de prazer na leitura da narrativa histérica (Csapeerta, 1997, p. 138). Sendo um de seus objetivos entreter pela variedade factual, esta é negada pelo relato de eventos similares, 0 que, contudo, como vimos, é justifieado pela utilidade que a histéria adquire como manancial de exemplos. Outro impediment a realizagio da fungao hedonistica 6, diz Técito, a permanéncia de individuos com vinculos familiares no passado. A transmisstio da meméria de feitos dos antepas- sados que nao comportam distinc positiva repercute no presente, tempo de seus descendentes. Além desta, outra categoria de conjungio de temporalidades presente e passada € indicada por Técito como fator de 40 Jour, Fabio Duarte. Teleologia ¢ meiodologia hisidricas em Taco repulsa da narrativa por seus leitores. Mesmo aqueles que néo tém vinculos familiares com 0 pasado, rejeitam a obra do historiador por empreenderem uma leitura especular da mesma, ou seja, comparam-se com personagens histéricos de comportamentos similares. Ao realizarem esia operagdo cognitiva entendem a narrativa como uma fonte de erfticas indiretas a si prdprios. A narrativa do passado apresenta-se, portanto, como uma rezlaboragio discursiva a partir do presente, ou seja, os agentes hist6ricos retratados pelo historiador remetem a tipos sociais de validade temporal. De fato, um dos recursos retéricos mais freqiientes nos Anais & a criago de esteredtipos a partir de descrigGes de individuos determi- nados. Um caso paradigmiitico desta metodologia é 0 da figura do delator: Pouco tempo depois Cépio Crispino, questor de Granio Marcelo, pretor da Bitinia, fez contra este acusagao de lesa-majestade, de comum acordo com Romano Hipo; e foi assim que ele criow uma forma de vida que depois a miséria dos tempos e a audacia dos homens tornaram vulgar. Pobre, desconhecido, irrequicto, insinuando-se por libelos secretos na maldade dos principes, pondo em risco homens ilustres, conseguindo influéncia junto a um, mas a odiosidade de todos, deu o exemplo, que seguiram muitos, de pobres tornados ricos, de desprezados, temidos, cavando a perdigdo dos outros ¢ a sua propria, (Anm., 1, 74) Os delatores so apresentados como almejando exclusivamente a ascensio social, ¢ @ sententia que sintetiza esta estratégia € que perecem pelos préprios meios que utilizam para avangar. Observe-se que no texto aciima nao interessa a’Técito as personalidades individuais tanto que nao esclarece a quem se refere o pronome “ele” (Cépio ou Hipo’) que inicia a caracterizagdo do delator. A preocupagio de Tacito €a de ressaltar que tais individuos histéricos personificam uma “forma de vida” (fermam uitae), um “exemple” (exemplum) (Luce, 1993, p. 13). A generalizagao indutiva a partir da mengdo de uma realidade passada 6, portanto, um recurso retérico de Técito que funda sev pensamento politico na empiria histérica, Esta dualidade da narrativa taciteana — afirmar como teleologia acritica do presente por meio de sua sobreposigdio com 0 passado e, 20 faz6-lo, abrir espago para uma reacdo negativa de determinado publico Historia Revista, 6 (2) 25-50, jul/dez. 2001 4 ~ encontra, por seu turno, um paralelo na apresentag3o que faz Tacito da teleologia postica no Didloga dos oradores. O Didlogo dos oradores ¢ a teleologia poética Apesar de o tema declarado desta obra ser 0 declinio da clogiiéncia (Woonman & Kraus, 1997, p. 93), é2 poesia, mais do que a prépria oratéria, 0 centro do debate entre os interlocutores'” (Stvct ATR, 1995, p. 11-12). A questo da oratéria emerge apenas, ¢ como que acidentalmente, a partir da discussao sobre uma tragédia recitada por Curidtio Materno (Syms, 1967, app, 90). Técito situa temporalmente didlogo no dia seguinte a recitagi No dia seguinte a que Curiétio Materno recitou seu Cato, 0 quel, dizia-se, tinka ofendido 0 animo de poderosos, pois nesta wagédia cogitay: os de Cato, sendo isto por toda cidade motivo de conversas, “Materno recebeu a visita de Marco Aper e Jélio Seeundo, entao (os mais renomados talentos de nosso férum. (Dial.,2, 1) e que havia misturado seus argumentos com Com esta cena inaugural Técito introduz o tema que seré objeto da discussio entre Secundo, Aper e Mateo, a saber, a questo da interpretago da tagédia no que se refere & identidade entre poeta ¢ personagem tragico: Secundo Ihe disse: "Nio te causam medo, Materno, as estories gue propagam as més pessoas, pois, apesar das ofensas, ames teu Catio? Ou, por ventura, pegaste este livro, para revisé-lo com diligéncia, ¢ suprimido o que possa dar azo a interprotagécs isformes, publicar nio um Cato melhor, porém mais seguro?” Entio ele: “Lerds 0 que Materno pretendia, e compreenderas 0 gue ouvir. Se Cato omitiu algo, na recitagio seguinte Tiestes 0 ind, pois esta tragédi ja esbocei e compus em minha mente. Se ‘me apresso a acabar a edigdio deste livro, ¢ para me liberar por inteiro para 0 outro trabalho.” “Logo nio te saciastes destas tregédias”, replicou Aper, “que, negligenciando 0 estudo dos discursos causfdicos, dedique tempo entéo a Medéia, agora a Tiestes, enquanto as causas dos amigos, a clientela das colénias e municipios te chamam ao forum, 42 JoLy, Fabio Duarte, Teleologla © metodoiogia histéricas em Técito os quais dificiimente apoiarias, ainda que nifo tivesses outro negécio, como um Domicio ou um Catdo, isto é, nossas histérias, e nomes romenos combinas com est6rias gregas.” (Dial.,3, 2-4) Secundo inicia exortando Materno a modificar o contetido da uagédia na sua versdo escrita, pois a recitagdo oral havia gerado interpretagdes distorcidas, ou seja, determinados individuos a conside- raram como uma ofensa a si préprios. Isto porque entenderam a tragédia como uma forma discursiva das opinides pessoais do pocta. A resposta de Matemo concorda com esta constatagdo, mas anuncia sua intengiio de prosseguir na atividade poética. Diz ele que pouco importa 0 personagem, Cato ou Tiestes, dird o que pensa. A intervengéio de Aper aprofunda esta questéo da identidade entre poeta € personagem considerando-a a partir da relagio temporal nela implicita. Comparando a tragédia com a oratéria judiciévia, caracteriza a primeira segundo a temporalidade de seus temas: personagens histéricos de um passado distante, a Reptiblica romana, ou de um tempo miftico. O orador, pelo contrario, versa sobre individuos que Ihe so contemporaneos ¢ com quem mantém relagGes sociais, sejam de amizade, sejam de patronato. Técito estabelece, poxtanto, uma contraposi¢ao entre orador € poeta segundo a temporalidade do objeto tratado por ambos. Enquanto o primeiro disserta sobre individuos com existéncia presente, o segundo trata de personagens sem manifestagdo fenoménica neste tempo. Este contraste determina o modo de recep¢ao pelo public da tragédia e da oratéria, como demonstra o final do discurso de Aper a Matemno, no qual defende a utilidade da orat6ria: Transborda a forga de sua admirdvel natureza, nZo para causar ofensa por um amigo, mas por Cato, o que é mais perigoso. Nao pode se desculpar pelas obrigagées do oficio, pela lealdade de advogado, ox pelo smpeto ce um falar inesperado ¢ Fortuito. Parece que escolheu com meditagio um personagem notével e com discurso de autoridade. Sei o que podes responder: que ele causa centusiasmo, sendo aplaudido pelos que freqtientam as leituras © Jogo todos esto a comenté-lo. Mas esqueca este pretexto de. isolamento € seguranga, pois procuras um adversério que € superior ati, Que a nés seja suficiente atuar em causas particulares € deste século, nas quais se for preciso ofender os ouvidos de Historia Revista, 6 (2) : 25-0, jul dez. 2001 43 poderosos por um amigo em perigo, quea lealdade sejaaceitaca Iiberdade justificada. (Dial, 10, 5-8) ‘A exortagdo de Aper inicia com a constatagao de que o discurso postico é mais propicio a causar uma reac&o negativa no puiblico do que © discurso judiciario. Neste, possiveis afensas padem ser justificadas pelo comprometimento profissional do orador com seu cliente. Por tratar de questées contemporaneas que envolvem individuos particulares, a oratéria judiciéria abre espago para retratagZo. Para 0 poeta, todavia, no cabe uma tal justificativa. O personagem que escalhe nao existe enquanto individuo, mas ¢ atualizado pelo poeta na representagio trégica. Nao por acaso Aper afirma que Materno escolheu Catdo, uma pessoa (persona) de notabilidade e autoridade de discurso, Como se sabe, persona, em seu sentido original, é a méscara que usa o ator teatrel. Cato 6 precisamente isto para Materno, uma mascara que 0 poeta usa para expressar suas opiniées pessoais. Ele nao fala por outrem, como 0 orador, mas por si, Esta identificagiio da figura do poeta com ade seu personagem é decorréncia justamente de a tragédia, ao contrério da oratéria, ser um discurso que nfo remete a individuos particularizados do presente, mas revestir-se de um caréter atemporal. Caracteristica, contudo, que Ihe permite ser um instrumento de eritica deste mesmo presente. Esta conjuncaio de passado (histérico ou mitico) ¢ presente conforma assim a teleologia tragica e remete a uma semelhanga com a teleologia da narrativa histérica, tal como formulada por Técito na digressdo do livro IV dos Anais, Ambos os discursos surtem um efeito sobre o piiblico pela critica indireta, inserida na representagao de uma realidade passada, Este paralelo entre o agir do historiador e do poeta é ainda ressaltado no discurso com que Matemno responde a Aper, negando a inutilidade da poesia, Ao final exclama: “Feliz. aquele outro, ¢ para falar do nosso modo, século dureo" (HemLMANN, 1989, p.390) que, ausente ce oradores e crimes, abundava em poetas € oréculos, que cantayam os bons atos ¢ niio defendiam os maus perpetrados” (Dial., 12, 3). ‘Aludindo a um passado mitico Materno deriva as categorias adequadas para 0 tempo presente, histérico. Esta tarefa do poeta, a de cantar os bons feitos ¢ néo defender os maus, como observou Willibald Heilmann, “leva-nos a pensar no Técito historiador, Para 0 poeta como 44 Jovr, Fabio Duarte, Teleologia © metodolegia histéricas em Técite para o historiador, o objetivo de seus tabalhos ¢ 0 conhecimento das condutas corretas, 0 que Técito entende por rectum, isto 6, honestum”. ‘Também significativo € 0 fato de Tacito encerrar 0 Didlogo com um discurso de Materno cujo contetido ¢ similar ao que ele apresenta na digressZo dos Anais: o reconhecimento da inevitabilidade do Principado € a conseqtiente necessidade de adequagao a ele, O discurso inicia com aafirmagdo de que a elogiéncis republicana € discipula da licenga (est magna illa et notabilis eloquentia alumna licentia, Dial., 40, 2), fundada em um regime politico sem direga Também nossa cidade, entao errante, com facgdes, dissensdes € discdrdias a consumindo, nenhuma paz no forum, nem consenso no senado, nem regras diante do tribunal, nem respeito aos superiores, nem limites aos magistrados, produzia, sem diivida, uma elogiéncia vigorosa, (Dial., 40, 4) O conflito 6 0 material da elogiiéneia, mas o custo politico disto 6 um Estado instdvel.!? Sendo 0 Principado o reflexo invertido da Repiiblica (HeiMann, 1989, p. 389), ele deve ser aceito, ¢ dai o consetho que Materno dirige aos presentes na conclusio de seu discurso: Aoreditem, grandes homens e hébeis no falar, se v6s nos séculos anteriores ou aqueles homens, aos quais nos voltamos, neste século tivessem nascido, e um deus mudasse os periods de vvossa vida, nem v6s teriam fallado aquele sumo louvor € gloria ng elogliéncia nem 2queles medida e temperamento; contudo, jé que ninguém pode, ao mesmo tempo, obter grande renome e trangtilidade, o seu bom século quem quer que seja pode aproveitar, sem denegrimento dos outros. (Dial.. 41, 5) Parafraseando Horacio," Materno nega a possibilidade da coexisténcia, dentro de uma mesma forma de governo, de conflitos politicos ¢ estabilidade estatal (ninguém pode, ao mesmo tempo, obter grande renome ¢ trangiilidade). Optando por esta sitima, Materno apregoa a necessidade de aceitapao do Principado mesmo que este tenha como efeito perverso a climinagio da gldria do orador. Em linhas gerais, é mesma argumentagao de Tacito, nos Anais, com relacdo & escrita da historia. Os conflitos da Repablica romana permitiram ao historiador Histétia Revista, 6 (2) : 25-50, jul dee. 2003 45 obter gléria, Mas o principado, ao promover a paz politica, encerrou este quadro, redirecionando a fungaio da histéria para a indicagto de uma ética de participagdo neste regime. Portanto, podemos dizer que da poesia (em particular, a tragédia) ahistéria taciteana herda seu prine(pio teleoldgico de critica do presente por meio da comparacao com o passado, porém com uma diferenga’ no mais 0 passado republicano é seu parametro, mas © passado imperial. Eserevendo seus Anais na primeira metade do século II, Tacito remete ao principado jtilio-cldudio elaborando um espelho critico de sua realidade contemporanea. Abstract This article analyses Tacitus’ conception of historical truth in the Annales and its relations with tragedy as discussed by him in the Dialogus de oratoribus Key words: Historiography, ruth, poetics, Tacitus. Notas 1. Esta perspectiva, apresentada na forma de uma oposigtio entre Técito historiador c Técito eseritor, 6 encontrada em muitos estudiosos. Contudo, € no uso que fez Max Weber (1996) da expressao taciteana sine ira et studio que encontramos 0 melhor exemplo de como cla foi crigida cm sindnimo de impessoalidade e imparcialidade. 2. Também o termo imperium comporta uma dupla leitura, Termo ambiguo devido & sua diversidade semantica, imperium tanto designa as competéncias legais ordindrias das magistaturas romanas como denomina um poder de cunho pessoal, @ dominagdo exercida por um individuo (Beranore, 1977, p.332, 334). Deste modo, a0 referir-se ao poder de Augusto to somente com esta palavra Técito sintetiza no principado aquela dicotomia legelidade e ilegalidade que pexpassa a arqueologia, 3. E dificil precisar a quais autores Técito se refere pois da historiografia imperial pouco se preservou, Porém, € poss{vel contextualizar a sua critica a histéria como elogio, tomando como referéncia « Histéria Romana, de Veleio Patéreulo, a0 que tudo indica, uma das fontes consultadas por Técito, 46 Jour, Pébio Duarte. Teleologia © metodalogia histéricas em Tibco Nesta obra, que chegou a nds incompleta, Veleio freqiientemente insere informag6es sobre sie sua familia (MaRicoLa, 1997, p. 143), Homo nowus, oriundo de uma aristocracia municipal, da Campania, faz questo de marcar as ctapas de sua promoeao social ¢ politica pelo imperador, de modo que entrelaga sua histéria de vida com a do principado. Memorando, por exemplo, a campanha de Caio César na Siria e seu encontro com o rei dos, partas, esereve: “Nesta missio, sua conduta foi to variada que oferece material abundante para seu elogio, escesso para seu vitupério, Teve um encontro com o rei dos partas, um jovem excelentissimo, em uma itha do Enfrates, sendo igual de ambas as partes os cortejas. Este espetéculo espléndido de dois exércitos face a face, 0 dos romanos de um lado, o dos partas de outro, enquanto se encontravam os dois eminentes chefes que dominavam os impérios e homens, me foi possfvel contemplar (uisere) a0 comeco de minha carreira como tribuno militar” (101, 1-2). O historiador tem credibilidade pelo fata de narrar o que viu pois era um ppersonagem préximo ao imperador e subordinado acste, j4 que exercia um cargo no exército. Esta sua posi¢o interfere na mancira como seleciona a ‘memiéria a ser transmitida por sua nasrativa. Apesar de dizer no infcio que também havie material para criticar a conduta de Caio, no o usa, privilegiando o que Ihe confere elogio, 0 que enfatiza o lado positivo das, ‘agbes imperiais 4. O distancia mento que Técito advoga 20 final do proémio com a expresso sine ira et studio, segundo A. Dihle (1971, p. 32), € uma apropriagao da idgia epicurista segundo a qual a posigao divina diante da sociedade humana é de charis orgés kai chéritos. Per uulgum, cui minor sapientia, Ann., 14, 60; neque illis (i. c. plebs) judicium cut ueritas, quippe eodem die diuersa pari certamine postulaturis, Hist., 1,32 (Suarauan, 1974, p. 552). 6 J4no século XVI, Scipione Ammirato, pocta e genealogista de Lecce, chamava a ateng&o para a celevancia politica desta m4xima taciteana. Nos seus Discorsi sopra Cornelio Tacito, obra publicada em 1594, relacionava- a idéia de “razio de Estado” (Scunciutase, 1976, p. 142). 7. A quel, alids, jé fora delineada no inicio de sua fala, Sua intervengio no senado visava nao um interesse particular, sua mera promogéo social, mas © interesse do Estado. & Tcito expe aqui a triparti¢ao ciceroniana dos genera dicendi c os respectivos conceitos éticos que abordam, como se depreende a partir de uma andlise conjugada do De officiis e das Partitiones Oraioriae, Como demonstrou Angélica Chiappetta, “os deveres relativos ao honesto Historia Revista, 6 (2) : 25-50, jul dea. 2001 47 10. IL 1B. aparecem no livro I, do De officiis, divididos em quatro partes: 0 conhecimento do verdadciro, a manutengao da sociedade entre os homens, a formagao de um animo robusto a conveniéncia no agir e no dizer. Destas quatro partes, sai o material para o clogio ¢ o vitupério. Ao tomar uma decisio, objetivo do discurso deliberativo, o fim observado deve ser a utilidade, discutida no livro II do De officiis. J4 no discurso judicidrio, o fim a sor observado & a eguidade, presente no livro III, do De officiis” (Cuuarrerta, 1997, p. 138). Conforme o proémio: Saepe ex me requiris, Juste Fabi, cum priora saecula tot eminentium oratoram ingentis gloriague floruerint, nostra potissimum aetas deserta et laude eloquentia orbata uix nomen ipsum oratoris retineat, Dial.,1, 1, O declinio da eloquéncia 6, alias, um topos da literatura. ‘imperial: Veleio Patérculo (1, 16-18), Séneca, 0 Velho (Controuersia 1, praef. 6-10), Petrénio (B8, 1-2), Séncca (Epistulae 114, 1-2), Plinio, 0 Velho (Naturalis Historia, 14, 1, 3-7), Quintiliano (Institutio Oratoria, 8, 6,76), Plinio, o Jovem (Episnilae, 2, 14) (cf. Luce, 1993, p. 13). Quatro so os interlocutores: Curidtio Materno, Marcos Aper, Jilio Secundo: ¢ Vipstanio Messalla. Sobre o primeiro pouco se sabe. E certo que era um senador, mes sua origem & duvidosa (ver Syme, 1967, app. 90). A expresso “século dureo” (aureum saeculum) € uma alusao a Virgilio, 2 idade de ouro sob o reinado de Saturno, como aparece nas Gedrgicas (II, 532-540), cf. Heilmann, 1989, p. 390. Matorno retoma argumentas do discurso precedente de Secundo. Este explica o declinio da elaquéncia como resultado do estabelecimento do Principado, Segundo cle, a Repiiblica caracterizou-se por ter sido um periado de perturbatio ¢ licentia, o que contribufa com material para o orador (Dial., 36, 3). Na auséncia de um individuo moderador (cum...moderatore uno carentibus, Dial, 36,2, ou seja, falta de um imperador), era 0 orador quem persuadia o povo errante (erranti populo persuaderi poterat, 36,2), Girigindo a cle também ao Senado (ef. Dial. 36, 5: cum et populum et senatum consilio et auctoritate regerent). Disto decorria o actimulo de honras (Dial., 36,4) e aumento de influéncia (Diai., 36, 4). Secundo reconhece que 0 regime instaurado por Augusto, ao estabeleeer a paz (Dial, 38, 2), aearretou 0 declinio da eloguéncia, mas afirma que foi melhor assim, pois restabeleceu a ordem (Dial, 37, 5). Cf. Dial., 41, 4; “Por que dissertar longamente no senado, se os melhoces logo chegam a um consenso? Para que muitos discursos diante do povo, se sobre 0 Estado ndo muitos imperivos deliberam, mas aquele que é o mais sdbio [i.¢. imperador]?”. bio Duarte, Teleologia ¢ meiodologia histdrieas em Técito ‘feréncias aarion, Etienne. Uhistorien Tacite face a 1’ évolution des jeux et des autres stacles, In: Branppor®, J. (Ed.). Theather und Gesellschaft im Imperium manuim. Mainz: Francke Verlag, 1990. p. 197-211. cua, %. vor, J, Littérature Latine, Paris: Armand Colin, 1996. 1upn, Heinz. Antike Staaisrason: Die Hinrichtung der 400 Sklaven des nischen Stadiprafekten L. Pedanius Secundus im Jahre 61 n. Chr. Gymnasium, 39, 1982, p. 449-467. anger, J. 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