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Notas sobre Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de

Holanda e Teoria do Medalhão, de Machado de Assis.

Éder Silveira1

E esta é a pior hipocrisia que entre eles encontrei: que também


os que mandam simulam as virtudes dos que servem.
“Eu sirvo, tu serves, ele serve”- assim reza, aqui também, a
hipocrisia dos dominantes – e ai, quando o primeiro
senhor é somente o primeiro servidor.
Friedrich Nietzsche 2

Resumo

Neste artigo busca-se problematizar alguns aspectos atinentes a duas


construções de identidade do ser brasileiro, através de um estudo comparativo
entre a concepção de “Medalhão“, expressa no conto do escritor carioca Machado
de Assis (1839-1908), A Teoria do Medalhão, e aquela de “Homem Cordial”,
desenvolvido pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) na obra
Raízes do Brasil.

Palavras-chave: Literatura brasileira, historiografia brasileira, identidade nacional.

Resumé

Mon but avec cet article, est de demontrer quelques aspects liés à deux
constructions de l´identité brésilienne. Il s´agit de mettre en évidence quelques
points de repère entre le conte de l´écrivain carioca Machado de Assis (1839-
1908), A Teoria do Medalhão, et la définition de « l´Homme cordial » développée
par l´historien Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) dans son livre Raízes do
Brasil.

1
Mestrando em História na PUCRS. eder@viavale.com.br
2
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Civilização Brasileira, 2000, p. 205.
A busca da psique

Dado enfatizado por diversos comentadores 3 da obra do historiador paulista


Sérgio Buarque de Holanda: um dos principais objetivos de Raízes do Brasil era
delinear uma ‘psicologia’ do povo brasileiro, em algumas de suas principais
nuances. Da mesma forma, Machado de Assis, em vários momentos de sua obra,
recorreu à sensibilidade de zonas mais sombrias da cultura brasileira para
detectar sentimentos e formas da “psique” do brasileiro. Acaso de encontro entre a
história do Brasil e sua literatura em diferentes gerações? Parece a constatação,
em diferentes tempos, de uma certa ética que se forma na maneira de ser destas
gentes debaixo da linha do Equador. Não um acaso histórico; ocaso civilizatório,
talvez.

Controvertido e polêmico conceito, a noção de homem cordial merece, de


antemão, esclarecimentos. Mas antes, lançar-se-á mão de uma parábola. Diz-se
que um velho funcionário público carioca, ante a mínima menção à literatura
brasileira, teimosamente afirmava a superioridade de Lima Barreto sobre Machado
de Assis. Acintosamente desafiava quem dissesse o contrário, disparando que
somente um débil, um estúpido, não reconheceria a superioridade de Lima sobre
Machado, o qual cobria de impropérios, bem como aquele que ousasse defendê-
lo, por mais discreta que fosse essa defesa. Os anos passaram, o funcionário
público cada vez mais se indispunha com as pessoas que o rodeavam e cada vez
mais se isolava. Diz-se que as suas últimas palavras, à beira da morte, doente e
cansado, foram uma espécie de murmúrio, dizendo algo como: que Lima é maior
que Machado; ninguém duvida, ...no entanto, não li nenhum dos dois...4

Essa negação a priori e radical da noção de Homem Cordial creio partir de


uma postura similar à do rabugento funcionário público quanto à dicotomia
Machado/Lima. Se por bom tempo os ensaístas brasileiros, principalmente a
“geração” de 1930, foram tomados como “criadores de mitos”5, verifica-se que o
os anos 90, com a quebra dos paradigmas rigidamente científicos, fez com que a
academia passasse a olhar com mais simpatia para a intuição e brilho das
análises desses ensaístas. Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Paulo Prado, para
citar apenas alguns, são todos atualmente relidos, no mais das vezes com um
olhar mais generoso do que o de outrora, quando uma geração de intelectuais
radicados majoritariamente na USP6 buscou “enterrar” esses autores, alguns com

3
DeDECCA, Edgar Salvadori. Teoria e Método Históricos em Raízes do Brasil. In: PESAVENTO,
Sandra Jatahy. Leituras Cruzadas. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2000. P. 169 a 190.
REIS, José Carlos. Sérgio Buarque de Holanda. A Superação das Raízes Ibéricas. In: As
Identidades do Brasil, De Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999, entre outros.
4
MERQUIOR, José Guilherme. Gilberto e depois. In: Crítica, 1964-1989. Ensaios sobre Arte e
Literatura. São Paulo: Nova Fronteira, 1990, p. 343.
5
DaMATTA, Roberto; Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. São Paulo: Rocco,
1982, ou, SKIDMORE, Thomas. O Brasil Visto de Fora. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
6
Ainda que Sérgio Buarque lecionasse na USP e fosse um intelectual que mantinha uma atitude
militante, ainda que não no campo marxista, há indicações de um semi-ostracismo do mestre. Ver:
mais intensidade (G. Freyre, Paulo Prado), outros com certos cuidados (Sérgio
Buarque)7.

Mas, buscando entrar na discussão mais diretamente, onde está o cerne da


noção de homem cordial? Sérgio Buarque afirma de antemão, buscando evitar
más compreensões: a referida “cordialidade” não se trata, necessariamente, de
um referência direta ao significado literal da expressão. Na realidade, ao referir-se
à cordialidade, Sérgio Buarque busca enfatizar uma característica marcante do
modo de ser do brasileiro, segundo sua lupa: a dificuldade de cumprir os ritos
sociais que sejam rigidamente formais e não pessoais e afetivos e de separar, a
partir de uma racionalização destes espaços, o público e o privado. Mais do que
uma espécie de indivíduo, a cordialidade perpassa, em maior ou menor escala, a
todos os atores sociais no Brasil. Afirma Buarque de Holanda:

A lhaneza no trato, a hospitalidade, e generosidade, virtudes tão gabadas


por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço
definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece
ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano,
informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas
virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes de tudo
expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e
transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo – ela pode
8
exprimir-se em mandamentos e sentenças.

Consiste, então, a cordialidade dos gestos largos, deste espírito aparentemente


folgazão, que têm como marca o uso exagerado dos diminutivos, visando,
justamente, a quebra da formalidade da relação que deve estar se estabelecendo,
para que esta passe a se tornar uma relação de “amigos”, para que passe a
imperar a máxima, dito popular que se torna regra de conduta e ‘verdade’
sociológica: “Aos inimigos, a lei; aos amigos, tudo!”9 Quer dizer, é preciso dominar
as regras do trânsito facilitado pelas esferas do poder, que se estabelecem, por
laços pessoais, em microrelações que se desdobram ad infinitum. Uma vez
quebrada a formalidade, a relação assume sua proximidade e dá vazão aos
necessários desdobramentos de uma relação de “amigos”. Por isso, por exemplo,
pôde assinalar Buarque de Holanda o fato de pertencer “À mesma ordem de
manifestações certamente a tendência para a omissão do nome de família no
tratamento social.”10

Logo, pode-se dizer que toda esta parafernália de sentidos, de aparências e


de minúcias presentes diariamente nas relações pessoais/públicas, trata-se

VASCONCELLOS, Gilberto Felisberto. O Xará de Apipucos. Um ensaio sobre Gilberto Freyre. São
Paulo: Casa Amarela, 2000.
7
Entre outros, citaríamos: MOTA, Carlos Guilherme; FERNANDES, Florestan; BASTOS, Élide
Rugai e ORTIZ, Renato.
8
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Let ras, 1999, p.
141.
9
DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis. Para uma sociologia do dilema brasileiro.
São Paulo: Rocco, 6ª ed., 1997, p. 24.
10
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Op. Cit. p.
apenas de aparente gentileza e afetuosidade, sendo, efetivamente, uma cápsula
protetora, uma estratégia tanto de ascensão quando de “sobrevivência” em
sociedade. Todas essas questões acerca da cordialidade explicitam a essência,
da cordialidade; uma norma de conduta estruturante, sendo que não há um
homem cordial, pois, em maior ou menor escala, todos brasileiros são cordiais.

Tal forma de identidade faz com que Sérgio veja este indivíduo como uma
figura diluída na massa. Buscar-se-á em Nietzsche, seguindo a pista deixada pelo
próprio Sérgio, a caracterização desse indivíduo. Ao afirmar que: “Mais antigo é o
prazer pelo rebanho do que o prazer pelo eu; e, enquanto a boa consciência se
chama rebanho, somente a má consciência diz: ‘Eu’.”11 Quer dizer, esta crítica ao
ideal cristão do amor ao próximo é também uma crítica à forma através da qual
manifesta-se a individualidade, pois, como afirma Ernani Chaves, “evidencia-se
portanto, para Nietzsche, a ambivalência do ‘amor ao próximo’, na medida em que
ele nada mais seria, em princípio, do que a forma socialmente aceitável para que
o “eu” pudesse se manifestar.”12 Assim, este homem cujos movimentos na
sociedade estão condicionados a relações sobre as quais ele deixa de ter pleno
controle, pois são partilhadas, meticulosamente tramadas como os laços de uma
rede, faz com que ele se desindividualize, passando a não ser socialmente um,
mas vários, pois todas as suas relações são definidas a partir de trocas e de
susceptibilidades que não podem ser feridas. Talvez por isso, no Brasil, como já
acentuou Da Matta, seja impossível negar uma gentileza a um ‘amigo’.

Por essa impossibilidade de afirmar-se por suas próprias forças como


indivíduo, passa, em meio a esta teia de relações “a viver nos outros”13. Noção
esta que têm outras implicações, como o gosto pelo perdulário, pelo saber
meramente “bacharelesco” e de adorno, povoado pelas máximas e frases de
efeito, em uma relação “esquizofrênica”, que em muito remete ao conto d’O
Espelho14, de Machado de Assis, em que, sem sua trupe de bajuladores, o velho
alferes não podia se reconhecer, não podia ver sua imagem refletida no espelho,
pois ela existia apenas na medida em que era sustentada pela horda que o
rodeava. Ou seja, voltando a Nietzsche “Não vos suportais a vós mesmos e não
vos amais bastante: então, quereis induzir o próximo a amar-vos, para vos
dourardes com seu erro.”15

Culto aos símbolos e estratégias

Para compreender-se melhor os aspectos referentes às estratégias de


ascensão social permeadas pela cordialidade, buscar-se-á introduzir na discussão
o conto de Machado de Assis. Em “A Teoria do Medalhão”, presente na coletânea
de contos Papéis Avulsos, lançada em outubro de 1882, Machado de Assis
11
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p.
86.
12
CHAVES, Ernani. Raízes do Brasil e Nietzsche. In: Revista Cult, Nº 37, agosto de 2000. P. 54.
13
HOLANDA, op. Cit., p. 147.
14
ASSIS, Machado de. O Espelho In: Contos. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 26 a 43.
15
NIETZSCHE. Op. Cit, p. 87.
imagina um diálogo entre pai e filho, no dia do aniversário deste último, que estaria
completando 21 anos. Desta forma, o primeiro ponto sobre o qual busca-se lançar
luzes é a idéia de rito de passagem. Assim como o personagem-autor de O
Ateneu, que, na primeira frase do referido romance assevera: “Vais encontrar o
mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”16 Assim,
Pompéia marca o sentimento da passagem do protegido mundo do interior dos
sobrados para o mundo exterior, onde o menino de onze anos precisaria de
coragem para enfrentar todas as agruras que o destino certamente este lhe
reservaria.

O conto machadiano, por seu turno, retrata o momento do ingresso do filho


na maioridade, para o qual o pai busca dar-lhe os conselhos certos, estimando
que este possa vencer na vida, com galhardia e rasgo. Mas vê-se no conto de
Machado de Assis, em uma sutileza, a marca das águas que se dividem neste
momento de passagem ao mundo dos “homens”. Ante um comentário do pai, em
tom memorial, em que frisa lembrar-se bem do dia em que o filho nasceu, e hoje o
vê homem feito, de “bigodes e namoros”, o filho replica com um tratamento um
tanto açucarado: “papai....” sendo que o pai lhe responde imediatamente: “Não te
ponhas com denguices e falemos como dous amigos sérios.”17 Além disto
acentuar a importância dada pelo progenitor ao assunto, mostra que esta
conversa era, como tanto ouve-se no dia-a-dia, nas máximas populares, de
homem para homem. É mister observar que o tom das intervenções de Janjão, a
partir deste momento se altera. Passa a tratar sempre seu pai como “Senhor”.

Passa então a se desenrolar a conversa. O pai passa a examinar o que


possivelmente o futuro reserva ao filho. Vislumbra uma série de possibilidades de
carreira profissional, todas abertas diante do rebento: ”Vinte e um anos, algumas
apólices, um diploma, podes entrar na indústria, no comércio, nas letras ou nas
artes. Há infinitas carreiras diante de ti.” Mesmo percebendo que várias são as
possibilidades de carreira que o filho dispõe, o único desejo verdadeiro do pai é
que este se “faça grande e ilustre” ou, pelo menos “notável”. Aspira que o filho se
erga “acima da obscuridade comum.”18 A questão centra-se não em vocações,
mas em posição social.

A crítica endereçada por Machado de Assis nesta passagem deixou poucos


homens públicos do Séc. XIX impunes. O bacharelismo19 grassava nos mais
variados campos da vida social brasileira, onde raramente alguém seguia uma
carreira de acordo com sua formação acadêmica. O título era uma chave, que
além de servir para abrir as portas para a ascensão social, era usada largamente

16
POMPÉIA, Raul. O Ateneu. Rio de Janeiro: O Globo, 1997, p. 11
17
ASSIS, Machado. A Teoria do Medalhão. In: Papéis Avulsos I, São Paulo: Globo, 1997, p. 65
18
ASSIS, Machado. Idem.
19
Gilberto Freyre analisa a figura do Bacharel no Brasil com vagar em Sobrados e Mucambos,
mais especificamente no capítulo entitulado Ascensão do Bacharel e do Mulato, onde busca
investigar as implicações deste título em uma sociedade (o Brasil do Segundo Reinado), que
chegou a chamar de Reinado dos Bacharéis. Ver: FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. São
Paulo: Record, 2000.
para compor a figura do medalhão. Como assevera Sérgio Buarque de Holanda,
visando pontuar a presença de resquícios senhoriais nesta valorização do título:
“Numa sociedade como a nossa, em que certas virtudes senhoriais ainda
merecem largo crédito, as qualidades do espírito substituem, não raro, os títulos
honoríficos, e alguns dos seus distintivos materiais, como o anel de grau e a carta
de bacharel, podem equivaler a autênticos brasões de nobreza.”20 Além disso, é
preciosa a interpretação de Buarque de Holanda do fato acusado por Machado de
Assis em Teoria do Medalhão, quando o historiador paulista afirma que

...as atividades profissionais são, aqui, meros acidentes na vida dos


indivíduos, ao oposto do que sucede entre outros povos, onde as próprias
palavras que indicam semelhantes atividades podem adquirir acento quase
religioso. Ainda hoje são raros, no Brasil, os médicos, advogados,
engenheiros, jornalistas, professores, funcionários, que se limitem a ser
21
homens de sua profissão.

Sendo o sonho do pai ver o filho tornar-se aquilo que não foi, ele passa a
aconselhá-lo passo a passo sobre as minúcias desta fórmula mágica: como tornar-
se um medalhão. O fato de ser uma conversa de pai para filho remete,
imediatamente, para um momento de Raízes do Brasil, em que Sérgio Buarque
menciona a dificuldade de romper-se com a imbricação entre público e privado no
Brasil atendo-se a comentários sobre a educação dos filhos. Afirma o historiador
paulista que esse tipo ambiente familiar, pintado com tanta maestria por Machado
de Assis, voltado para a criação de um microcosmo ao mesmo tempo
superprotetor e deformador de personalidades, acaba circunscrevendo “os
horizontes da criança dentro da paisagem doméstica”, formando assim uma
verdadeira escola de “inadaptados e até de psicopatas”22

A primeira prevenção do pai é afastar o filho das idéias e de toda e qualquer


manifestação de originalidade. Diante da afirmação peremptória do pai de que
deveria sofrear com todas as forças as ‘idéias’, o filho expõe sua aflição, pois esta
parece-lhe uma tarefa difícil. Mas o pai tranqüiliza-o, há uma forma de deter a
erupção das idéias: matá-las. Para isto, o filho deve “lançar mão de um regímen
debilitante, ler compêndios de retórica, ouvir certos discursos, etc. “23 Sugere-lhe,
igualmente, embrenhar-se caminhando entre as pessoas, para que possa saber
como todos pensam. Porém, adverte para que se afaste da solidão, que é solo
fértil para o aparecimento das idéias, bem como das livrarias. Porém, quanto a
estas, há exceções. Passagens por livrarias podem ser importantes para a
formação do medalhão, porém nunca “às ocultas”, mas sempre “às escâncaras”24
Pois o objetivo destas idas, eventuais e espalhafatosas, não é a busca pelos
livros, mas sim uma conversa, deve ir...

20
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Op. Cit., p. 83
21
Idem, p. 156.
22
Idem, p. 145.
23
ASSIS, op cit, p. 68.
24
Idem.
...ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de
uma calúnia, de um cometa, de qualquer cousa, quando não prefiras
interrogar diretamente os leitores das belas crônicas de Mazade; 75 por
cento destes estimáveis cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões, e
25
uma tal monotonia é grandemente saudável.

Ou seja, eis aí a caracterização do típico bacharel que ocupará cargos


como funcionário público, visto em Raízes do Brasil por Sérgio Buarque com
muitos dos traços os quais o pai roga ao filho. Agarrados ao símbolo, ao título que
confere distinção, raramente passaram estes letrados de ventrílocos. “ainda
quando se punham a legiferar ou a cuidar de organização e coisas práticas” afirma
Buarque de Holanda, “os nossos homens de idéias eram, em geral, homens de
palavras e livros; não saíam de si mesmos...”26 Eram os beletristas, portadores de
títulos que nada além de posição social lhe conferiam, pois, certificavam um
conhecimento que não era real, antes fruto de um amor bizantino aos livros, que
eram pouco mais que um adorno nas paredes dos sobrados.

Existe também nestas passagens da “Teoria do Medalhão uma crítica


endereçada por Machado de Assis, sempre de forma sutil, ao personalismo dos
polemistas da época, alguns dos quais, ainda que em vão, buscaram desafiá-lo.
Roberto Ventura, em Estilo Tropical, ao analisar a polêmica entre Silvio Romero e
Machado de Assis, verificou que, a partir de 1875, Machado passa a
progressivamente se afastar da crítica literária, evitado envolver-se em disputas.
Todavia, a ponderação de Ventura torna-se ainda mais atraente na medida em
que este ventila a possibilidade de, por um lado Machado de Assis realmente estar
assumindo uma posição blasé em relação à bile e ao personalismo de
contumazes polemistas, como Silvio Romero e, por outro, buscando “evitar
inimizades que pudessem dificultar sua ascensão social e literária”, além de, é
claro, refletir-se em um já bastante acentuado ceticismo de sua parte quanto às
possibilidades e à eficácia da intervenção social e cultural.27

Ironia e chalaça

Justamente sobre o humor reside uma das mais pungentes recomendações


expressas pelo pai zeloso a seu filho, para que este seja mestre em pensar o
pensado, em repetir com garbo o ululante, enfim, para que se torne um medalhão:
os cuidados com o riso. O filho, preocupado com qual deveria ser a sua atitude
ante a vida e diante das pessoas que o rodeiam, pergunta ao pai:

- Também ao riso?
- Como ao riso?
- Ficar sério, muito sério...

25
Idem, p. 69.
26
HOLANDA, op cit, p 163.
27
VENTURA, Roberto. Estilo Tropical. História Cultural e Polêmicas Literárias no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000, p. 105.
- Conforme. Tens um gênio folgazão, prazenteiro, não hás de sofreá-lo
nem eliminá-lo; podes brincar e rir alguma vez. Medalhão não quer
28
dizer melancólico.”

Porém eis aí um dado importante a ser realçado. Diante do impasse do filho


sobre o riso, o pai imediatamente afirma que ele não precisa ser grave a todo
momento, porém chama-lhe atenção para um cuidado importante que o filho deve
ter ao rir. Que este riso venha aberto, espontâneo e despreocupado, que venha
sob forma de chalaça, “a nossa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem
biocos, nem véus...” O filho poderia, seguramente, lançar mão dela, mas nunca da
ironia29, desta ele deveria se afastar sem pestanejar, pois a ironia, “esse
movimento ao canto da boca, inventado por algum grego da decadência, contraído
por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos céticos e
desabusados.”30

Ou seja, deve ser o Medalhão, como descrito por Machado de Assis, cordial.
Deve saber habilmente ser bem quisto por aqueles que o rodeiam, homem de
inteligência tacanha, não agredindo ninguém por suas idéias, não mantendo
nenhuma posição política firme, nem mesmo uma posição filosófica, aliás, da
filosofia interessava apenas os discursos metafísicos e incorpóreos, sem
preocupações verdadeiras e palpáveis, além de suas próprias estratégias e
relações para que possa ter uma profissão para a velhice31.

Porém, a esta altura da argumentação, cumpre diferenciar pontualmente os


conceitos com os quais se joga. Como afirmado acima, deve o medalhão,
segundo Machado de Assis, saber com precisão usar da simpatia e da
cordialidade, da “nossa” chalaça amiga, quer dizer, usar-se habilmente da
cordialidade, inata ao ‘caráter’ nacional. É interessante perceber como este
‘diálogo-receita’ se trata da exposição minuciosa pelo pai de uma estratégia de
ascensão social recomendada ao filho, que, como é possível perceber, imbrica-se
e principalmente alimenta-se deste escudo socialmente aceito no Brasil e próprio,
segundo o autor de Raízes do Brasil, aos brasileiros: a cordialidade, ou lançando
mão de uma expressão de Antônio Candido, da “mentalidade cordial”; que se trata
de uma forma espontânea de manifestação própria ao temperamento do brasileiro,
mui habilmente canalizada pelo progenitor para servir como veículo de navegação
social no conto machadiano. A espontaneidade da cordialidade é explicitada por
Sérgio Buarque quando este afirma que:
Ela (a polidez ) pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a
atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica
deliberada de manifestações que são espontâneas no “homem cordial” : é

28
Idem, p. 74.
29
Para uma análise mais sistemática sobre o papel do humour em Machado de Assis, ver: MOOG,
Vianna. Heróis da Decadência. Petrônio, Cervantes e Machado de Assis. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1964.
30
Idem.
31
Idem, p. 63
a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez
é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. 32

Como a leitura paralela de Machado de Assis e Sérgio Buarque aponta,


este jogo de sociabilidade têm suas regras, forma uma espécie de circulo vicioso.
Em Raízes do Brasil, seu autor busca, dado o olhar negativo que lança sobre
estes fenômenos, propor uma saída para este dilema, a qual interessará, a seguir,
ser compreendida, “temperando” a discussão com alguns diálogos políticos
presentes em Machado de Assis.

A moral das senzalas e a razão utópica

Dado pouco enfatizado sobre Raízes do Brasil, obscurecido em grande


parte pela análise tipológica weberiana33, é o apelo político que fecha a obra, em
tom quase didático, buscando alinhar os próximos passos em busca de um
saneamento deste personalismo e desta falta de ordenação e racionalização
quanto à gestão da res publica, que não consegue desligar-se destes vícios
senhoriais, frutos, na análise de Buarque de Holanda, dos resquícios daquilo que
ele irá chamar de moral das senzalas, que consiste em uma avaliação do quanto a
formação, ao longo da maior parte da História do Brasil, de uma sociedade
patriarcal e escravocrata foi contaminada por um sem número de vícios.

Sinuosa até na violência, negadora das virtudes sociais, contemporizadora


e narcotizante de qualquer energia realmente produtiva, a “moral das
senzalas” veio a imperar na administração, na economia e nas crenças
religiosas dos homens do tempo. A própria criação do mundo teria sido
entendida por eles como uma espécie de abandono, um languescimento
34
de Deus.

São estas marcas profundas de segregação e do fortalecimento do


desprezo ao trabalho manual no imaginário nacional que se convertem no dilema
apontado por Buarque de Holanda. Arrastando-se desde o começo da formação
do Brasil, esta instituição tratou de contaminar sobremaneira a forma mentis
nacional, viciando-a de uma forma tal em preconceitos e à uma ética peculiar.
Nesta relação entre os proprietários de escravos e seus cativos, não há
necessariamente uma vitória por parte dos senhores, uma vez que saem desta
relação impuros, pois o mundo que criaram pela dominação também os dominou,
tornando-os uma casta de inadaptados aos novos processos sociais, como o da
urbanização rápida e progressiva, que acabou rendendo-lhes a imagem que os

32
HOLANDA, op cit, p. 147.
33
É importante salientar que, mesmo sendo tido como dado por boa parte dos comentadores de
Raízes do Brasil sua forte vinculação aos modelos teóricos weberianos, há autores que discordam
desta postura, como Maria Odila Leite da Silva Dias e Raymundo Faoro, colocando em xeque
análises como a de José Carlos Reis e Edgar De Decca.
34
HOLANDA, S. B., Op. Cit. p. 62
eternizou na arte, a do sinhozinho boçal que sobrevive apenas pela força dos seus
jagunços e de suas sórdidas jogadas políticas.

Obviamente não há, em nenhum momento, a pretensão de afirmar nem


mesmo sugerir que sejam os índios e negros os culpados por esta ‘moral’,
contaminando os senhores de engenho luso-descedentes. A rigor, e esta
afirmação pode ser buscada em Sérgio Buarque, foram estes antigos senhores de
engenho carrascos e vítimas de uma lógica que lhes é mais própria do que aos
demais povos, pois “é curioso notar como algumas características ordinariamente
atribuídas aos nossos indígenas e que os fazem menos compatíveis com a
condição servil – sua ‘ociosidade’, sua aversão a todo esforço disciplinado, sua
‘imprevidência’, sua ‘intemperança’”, antes de serem características próprias aos
povos indígenas, “ajustam-se de forma bem precisa aos tradicionais padrões de
vida das classes nobres.”35

Ante a constatação da sociedade brasileira posta nestes termos, vítima de


uma estrutura arcaica, que segundo Sérgio Buarque é a culpa maior de sua
“insuficiente modernidade”, busca o autor uma saída para esta situação, vista por
ele na radical ruptura com a tradição36. Se o núcleo da tese de Sérgio Buarque
está justamente na argumentação deste de que a maior parte dos problemas
nacionais assenta-se nos resquícios senhoriais e nas antigas tradições luso-
brasileiras que em grande parte ainda imperam na organização e imbricação do
público e do privado, como busca Sérgio Buarque romper com esta lógica, no
fechamento de Raízes do Brasil? Segundo o autor:

Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado


e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível,
recrutável e responsável, antes as leis da Cidade. Há neste fato um triunfo
do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato
sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva, uma espiritualização de
formas mais naturais e rudimentares, uma procissão de hipóstases, pra
37
falar como na filosofia alexandrina.

Seria este o ideal de construção da República, a partir da idéia de que se


deveria respeitar os limites entre o público e o privado, racionalizando assim as
atividades administrativas da máquina burocrática. Entretanto, o fato com o qual
Buarque de Holanda se depara no Brasil é com um languescimento das formas
institucionais, que não chega a separar de forma estanque, na prática, o público
do privado, sendo, justamente, a esta frouxidão dos laços institucionais que se
dirige sua crítica à lógica que organiza as relações entre as esferas pública e
privada. Uma vez que a imbricação entre elas seja total e/ou ao menos crescente,
passam a dominar as relações pessoais, o cumpadrio, o “jeitinho” e a troca de
favorecimentos, tornando impossível a realização do processo de racionalização
35
Idem, p.56.
36
Ver SILVA, Mozart Linhares. A modernidade Luso Brasileira, entre o Logos e o Mithos. Revista
Ágora, no prelo, texto gentilmente cedido pelo autor.
37
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.
141.
que deveria dar origem ao Estado de Direitos, ao invés do Estado de Privilégios.
No entanto, parece importante apontar para o caráter híbrido deste Estado;
nominalmente, secular, racionalizado e de Direito, todavia, formando um sistema
entendido pelo autor como imperfeito, onde, pelas suas ranhuras, escorrem
privilégios e vantagens para os grupos que se colocam estrategicamente em
relação a este.

Sérgio Buarque de Holanda constata nossa incapacidade de fazer uma


ruptura radical, afirmando que não desejamos “o prestígio de país conquistador e
detestamos notoriamente as soluções violentas”, po isso buscamos “ser o povo
mais brando e o mais comportado do mundo.”38 Nossas saídas políticas são
pacíficas, negociadas, sendo, para Sérgio Buarque de Holanda, a abolição da
escravatura a nossa única revolução social, sabidamente mansa e calma. Se isto
tem certa positividade, pois nos leva, por exemplo, a ser um dos primeiros países
a abolir a pena de morte na legislação, ainda que já estivesse havia muito abolida
na prática, por outro lado, possui um aspecto entendido por Sérgio Buarque como
perverso, uma vez que essa feição do nosso aparelhamento político “se empenha
em desarmar todas as expressões menos harmônicas de nossa sociedade, em
negar toda a espontaneidade nacional.”39

Como afirma Mozart Linhares da Silva, “o que está em jogo, na visão de


Buarque, assim como em grande parte de nossa historiografia, é a mística da
modernidade inacabada, agrilhoada por uma tradição que pode ser reportada ao
escolasticismo lusitano que condicionou a intelligentsia colonizadora a partir da
segunda metade do século XVI.”40 Ou seja, Sérgio Buarque entende que a nossa
“insuficiente modernidade”, fruto da colonização lusa, uma vez que, para ele,
Portugal, quando do descobrimento não havia ingressado na modernidade, gerou
um “atraso” civilizatório que deveria ser reparado. A saída para que se repare este
“mal” seria, na visão de Sérgio Buarque de Holanda, a racionalização do Estado e
da vida política em geral.

Neste ponto, ainda é preciso ter cuidado, pois a racionalização deste


Estado, como a quer Sérgio Buarque de Holanda em Nossa Revolução, último
capítulo de Raízes do Brasil, deve ser cautelosa, uma vez que o autor nos previne
sobre as saídas caudilhescas, tipicamente latino americanas. Estar-se-ia, assim,
substituindo uma forma de personalismo político por outra. Ponderação que se
entende tranqüilamente levando em conta o período em que Sérgio Buarque de
Holanda escreve Raízes do Brasil: os anos 30, em meio às turbulências da subida
de Vargas ao poder. Nas palavras de Buarque de Holanda, seria preciso vencer-
se, definitivamente a “antítese liberalismo-caudilhismo”, sendo que, para o autor:

Essa vitória nunca se consumará enquanto não se liquidem, por sua vez,
os fundamentos personalistas e, por menos que o pareçam, aristocráticos,
onde ainda assenta nossa vida social. Se o processo revolucionário a que

38
HOLANDA, Op. Cit. 177.
39
Idem.
40
SILVA, Mozart Linhares da. Idem.
vamos assistindo, e cujas etapas mais importantes foram sugeridas nestas
páginas, tem um significado claro, será este o da dissolução lenta, posto
que irrevogável, das sobrevivências arcaicas, que o nosso estatuto de país
independente até hoje não conseguiu extirpar. Em palavras mais precisas,
somente através de um processo semelhante teremos finalmente revogada
a velha ordem colonial e patriarcal, com todas as conseqüências morais,
41
sociais e políticas que ela acarretou e continua a acarretar.

Em grande parte parece que, movido por sua estada na Alemanha e sua
ligação às teorizações de mestres alemães como Max Weber e Georg Simmel,
Sérgio Buarque de Holanda se frusta ao perceber o quanto o Brasil ainda era
tributário de uma estrutura de fundo “sumamente arcaico”, em grande parte ainda
regida pelos mesmos senhores de engenho de quatrocentos anos de história,
ainda que se apresentassem em outros trajes e termos. Continuava a imperar a
mesma moleza, a mesma “suavidade dengosa e açucarada”, que, segundo o
autor “invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial”42 Esta frustração de
Buarque de Holanda aparece em passagens como esta, onde assevera que:
Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se
naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até
onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade
incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo
tratar com familiaridade os governantes. A democracia no Brasil foi sempre
43
um lamentável mal entendido.(grifo meu)

Na realidade, se a constatação do problema feita por Sérgio Buarque de


Holanda é primorosa, a permanência de ranços relativos ao patrimonialismo e a
imbricação entre o público e o privado demonstra que a sua utopia racionalista
segue em aberto, uma vez que parece posto com clareza que, adentrando o
Século XXI, a forma mentis brasileira permanece, em espírito, marcada pela
cordialidade e pelo jeitinho como, por exemplo, buscaram sistematicamente
demonstrar os estudos do antropólogo Roberto Da Matta44. Esta cordialidade,
estruturante das relações de sociabilidade dos brasileiros, esta forma de
identidade nacional vista como arrevesada por Sérgio Buarque e esta falta de uma
separação do público e do privado que tanto prejudicam a política e a vida
nacional sejam algo impossível de extirpar, justamente por pertencerem a uma
lógica civilizatória diferente. Dadas as devidas proporções e ponderações, o Brasil
não “racionalizou-se totalmente”, estando, para usar uma expressão do crítico
literário indo-britânico Homi Bhabha em uma “região liminar”, neste “espaço
intersticial entre identificações fixas” que, ainda segundo este autor “abre a
possibilidade de um hibridismo cultural que acolhe a diferença sem uma hierarquia
suposta ou imposta.”45

41
HOLANDA, Op. Cit., p. 180.
42
Idem, p. 61
43
Idem, p. 160.
44
Ver Carnavais, Malandros e Heróis, A Casa e a Rua, O Que Faz o Brasil brasil, entre outros.
45
BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Editora UFMG: Belo Horizonte, 1998, p. 22.
O sutil pessimismo com que Sérgio Buarque de Holanda observava a vida
política nacional parece ter se confirmado. A “Nossa Revolução”, como chamava
Sérgio Buarque o processo crescente de racionalização do Estado e de
transformações sociais que o autor identificava a partir da Abolição da Escravatura
parece ter se estendido, usando palavras suas, apenas até o “epidérmico”, não
movendo, como gostaria, as estruturas mais profundas da sociedade. Os
brasileiros continuam ‘cordiais’. Da mesma forma, em outros termos e movidos por
outros símbolos, continuam os medalhões descritos por Machado de Assis à proa
de nossa história. Desde aquele diálogo entre pai e filho, parecem ainda vagar
pelo ar as palavras finais do progenitor a Janjão: “Rumina bem o que te disse,
meu filho. Guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o Príncipe, de
Machiavelli.”

Considerações Finais

Buscando colocar vis à vis a palavra do historiador Sérgio Buarque de


Holanda com a do escritor Machado de Assis, tentou-se, ao longo deste artigo,
mostrar como se usa, segundo a leitura machadiana, o medalhão da carapaça que
é a cordialidade, é ardil importante, próprio dos brasileiros, segundo Buarque de
Holanda, para sobre ela construir sua estratégia de navegação social.

Tratou-se de uma tentativa de propor o diálogo entre a história e a literatura,


na verdade, entre a análise psicológica de Sérgio Buarque com o impiedoso
retrato pintado por Machado de Assis. Diálogo este que, dado o espaço de tempo
entre o nascimento de Machado de Assis, 1839 e a morte de Buarque de Holanda,
1982, a seu jeito, antes de buscar inferir uma imutabilidade ontológica dos
brasileiros, buscou deixar uma pista para a leitura da permanência de uma
estrutura mental de longa duração, bem como uma rede de sociabilidade que
seguem presentes no Brasil.

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