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walter MURCH Jorge Zahar Ealitor ‘Rode Janeiro Prepare ete Rone Tes To gina Inked A ye (A Penpece onl Eng) Tia sina da segunda go srteameriana bled em 0 per Sima ames Pes, Teor Angle tao ad Cay ©1905, 200, Wer rch Capi ge es potas © 20 Iogear sri ru Mey 3 sobre osLt44 Bo dno, 8) eR) 1) 82125 a eer combe vie wm aahacombr Taos ov Si rade A repo esti dos i300 ta cn emp cn ode ets a 91098 Cap Sei Campane Ftd apa Soe Hone © Gt nas CAP-Bri Catsgason ore Sina Nac is Ets de ao Mach Wa, 11 Moen Nam ocd oa ai de lesa ice den mete! ‘Wale arch doco Jame Lis Rio de Jao fore Zahar a, 2004 “Tah dente Bink an ea pret 4 Fl iting) aN SEATON 1. Cinema LTH Sumario Apresentagao, por Francis Coppola Prefdcio 2 segunda edigio 9 Preficio& primeira edigdo 11 Cortese falbos cortes 15, Por que os cortes fancionam? 17 “Cortando pedagos ruins” 22 © maximo com o minimo 2 Aregra de seis 28 Pista falsa 32 Extrapolando os limites do quadro +4 Sonhando em dupla 57 ‘Trabalho em equipe: vrios editores 39 © momento decisive 12 Métodos e maquinas: mérmore e barro 49 Projegdesteste: a dor reflexa 57 Nao se preocupe, é apenas um filme 62 “Dragnet” 09 Uma galéxia de pontos piscantes 75 Posficio: Feigao digital de filmes: pasado, presente e futuro imaginstio. 79 sa trang evita de a pales sobre ego defies pro- fesida por Walter Murch na sala de mixager da Speer Fils, em Sidney, Austin, rm outubro de 198, integrando uma sie de ple teas onanizadas pela Comisso Anstaliana de Filmes Algunstrechos da patra tami foram ncados em una apre- sentago feta em fevereto de 1990 para os anos de ego dos pro- Fesores Barba e Richard Marks como pare do coma de graduagio da Escola de Testo, Cinema e Televish da Universidade da Califia (uct Ei 195, ofl eis inchs um posico para comple rmentar eaprofndar alguns tpios do testo origina. ‘© capil inal dese lio, "Gesamtkusthino, fl rginalme te publicado na seg “As and esses” do New York Time, em 2 de rmaia de 1999 Em 2001, posicio fe resto, a fim de efeitos xanga ee Tzados campo da ego digital. Apresentacao raves Conror, Napa, 1995 Pensar em Walter Murch me faz sori. Nao tenho muita cer- teza do motivo. Talvez pela combinacao de sua personalidade singular com a seguranga inspirada por sua competéncia, bondade e sabedoria.F um Gerald MacBoingBoing” cresci- do, ainda brincalhao enigmatico, mas dotado de grande inteligncia, Pde se também porque ele tenha sido um colaborador ‘esencial naqueles que fram prosavelmente os melhores fk mes em que trabalhci: A eonversagdo e © paderos chefio (parte 1). Guardo um carinho especial poressas obras, tam bbém por Caminhos mattragados, porque foram aquelas em ‘que consegui chegar mais perto do objetivo que tnhaestabe Tecido para mim mesmo quando jover: escrever apenas angumnentose rtetos originals. so foi algo que Walter sern- ‘pre me incentivon a fazer e que foi melhor alcangado quan- do trabalhei com ele. Maso proprio Walter & um objeto de cstudo: fldsofo € teérico do cinema ~ um diretr talentoso por mérito pessoal, o que se pode comprovar no belo (O mundo fantastico de Oz. Nada € to fascinante quanto pas- * Gent MacBoigBng¢ vn penonagen de deenbo ata.) mpc doe sar horas ouvindo as teorias de Walter sobre a vida eo cine ‘ma, além das insimerasparticulas de sabedoria que cle deiva pelo camsinho, como as migalhas de plo de Jo20 ¢ Maria: or entadorase nutiivs. Sortio, além disso, po semos to diferentes um do outro. Enquanto tomo decides instantineas baseadas apenas na ‘emogo ena intuigdo, Waller é ponderado, cuidadoso, meté- dco em cada paso que dé. Enquanto oscilo, como uma cor- rentealtemada de Tesla, entre 0 éxtase eo eeticismo, Walter 6 sensato,afetuoso, confiznle, THe genioso e intutivo quanto eu, é também equilibrado. ‘Walter é um pionciro como eu gostaria de ser, 0 tipo de pessoa que se deve ouvir com atengio e disso tirar proeito, Por tantas coisas, imagino,voc€ deve achar que eu gosto rex peito muito Walter Murch. Poistenha certeza disso. Prefdcio 4 segunda edigao ‘© ano de 1995 fai um divisor de guns para a edigdo de filmes, Foio tltimo ano em que o nimero de filmes montados meca- nicamente se igualou ao daqueles editados digitalmente. Er todos os anos subseqientes, a quantidade de filmes editados em sistemas dgitas eresceu, enquanto a montager mecini- ca foi proporcionalmente diminuindo, Até 1995 nenhum filme com edo digital havia ganhado um Oscar de melhor cedigio. No entanto, desde 1996 todos os vencedores foram ccitadosdgitalmente, com a notivel excegio de O regate do soldado Ryan em 1998. Aquele também foi o ano do langamento de Num piscar de olhos nos Estados Unidos, com um postico sobre a edigio digital na época, Fstava claro para mim ento que a comple- ta digtalizagdo do processo de edigao de imagens era inevitie vel, mas ainda ndo era dbvio quando iso aconteceria e eu ali- rmentava sentimentos ambigues a respeit da situaglo. (Na- ‘quela época me faltava experigncia com edigio digital, Eu havia editado pequenos filmes no Avid, mas ainda ndotinha’ feito um longs-metrager). Isso mudou no ano seguinte: comecei a editar O pacien: te inglés mecanicamente mas, por razbes que serio explicadas a0 longo deste listo, durante a produglo migramos para edie : 4 i «io digital, E todos os filmes em que tabalhet desde entio, incluindo a restauraga de Apocalipse Now € A marea da mat: dade, frat editados usando o sistema digital Avid _Dois anos e meio representam uma geragio na evolugdo dos computadores. Mais de duas desas geragdes eletrnicas se passaram desde 1995, ¢ ento achei que j era tempo de reavaliae 0 panorama do cinema digital, em particulara ed «digital de filmes, Conseqientemente, para esta nova ccisio do livo reeserevi completamente ¢ ampliei considens- velmente o posfcio sobre edigio digital, incluindo minhas experiéncias pesous ao fazer a transicio do processo mecaii- co para o digital e algumas premonigées téenicas ¢ para o segundo século do cinema ‘Warren Mune Toronto, juno de 2001 Prefacio a primeira edi¢ao Tape Suvi dora dar eceits ¢ esreveu bastante sobre ate deinterpeta. Como tisha um uledo dente dle, no era de speeder que exotase os otos 25 Aoinarer. Renita: oxmaztos edocs ler ¢ oncodiar, eo qe ie kam ra 3 gl de ogo ‘ner, erica baa ei eegeceram de qe Aeviam doranarse Enqunt iso aoa, Stains. qe ‘mca seg ot prio conselo, dng sn Apollon Munagt oro fone da atoria um Tehakoas, A «quem inka aprenddo alga 56 esta oui e pasa lant magia, gar Bergman Amaia das psoas busca ~conscente ou inconscentemen- te~etabelecer com o mundo um grade equilib harmo- nia inlerie. Caso constate, como Stavnsy,aexiséna de umn vuleodento desi, id compenséo por um certo comedimen- to-Pela mesina lia, alguém que abrigue una geleiradento de si pode precisir entegarse 8 emogio. O perio, alerta Beaguan,€ que wa pesonlidade glacial carente de emogao, poder er Stans er al apenas comestimento “Muitas das idias que se seguer, apesar de apresentadas sob a forma de palesta, so na verdade anotagies pessoais, métodos de trabalho que desenvols para lidar com meus pré- pros vuledese geleras. Como tas, so insights de uma pes- soa em busca de equilfrioe talver seam mais ineressantes, pelos lampejos dessa busca do que pelos métodosespcificos por ela produzidos. Gostaria de agradecer Ken Salons por colocar minha lsposigloa tanscrgio da palesta orginal e pela oportnida- de de divulgsta para um pablico mis amplo, Fiz agumas reviades meramente esliticas e acrescente’ algumas nots pars o que era, em grande parte, um dislogo extemporineo ene itn e meus alunos, quem agradeco pelo interes e patcipagdo. Tambérm atualzealgumas questes Unica € acrescenei um posicio que tata do impacto que a edigdo digital notinear exe no proceso de ealizagio de um fle Queria agadecer especialmente a Hilary Furlong (oa goa, da Comisso Anstaliana de Cinema), rsponsivel pela ‘minha ida 3 Aus, onde originalmente foi dad ea ples ‘Warren Mut Roma, agosto de 1995 Cortes e falsos cortes Muitas vezes oes extrema que mas nos ensinam sobre os estados intermedi: glo vapor nos revelam mais sobre a natura da dgua do que a propria gua verdade que qual quer fine que merega set eto vai ser nico que as eond- Bez nas ss lee realiza so to varies que seria um equ ‘000 falar em “ondiges noma"; Apacaipse Now fi, por qualquer eitéio quese tome ~cronograms oxgamento, amb io atsica, inovagoteenogia ~ 0 equitalente cinemato src do vapor e do glo. Considerando apenas o tempo que Jevou para ializaro file eu eii* a imagem durante wm, ano e pase ais wm ano preparando e mando o som), esa {oi a pieprducto mais longa de ur filme no qual ab talvez isso ajude a exclarecer umm pouco a idéia do que signif ‘cam ou podem significar “condigdes noma" en ngs, se 0 mes vero, oe, prs designa una eo de ‘mages ets ern computador un nota de neste. Empat ‘fen do noncclais, potnt blareos ag oer eda “Sificndo otal de grr ages, independetemente do proces sets (ST) "exelent ade no roe Richie Ma «Jy Greenberg cig eltande ava move nes qu te oles, em gta de 197, lar es dep de nce lage Tbalhac tn ge jr st na inves de 178 Richie en conti ago com (Slab de Ls Fructan ae que comecs a taalhar no som {Um dos motivos dessa demora fi simplesmente a quan- tidade de material flmado: 1.250.000 pés, o que significa um pouco mais de 230 horas. O filme pronto tem 2 horas © 25 ‘minutos de duragdo, portato, temos af uma escala de 95 para 1, islo 6, 95 minutos “nao exibidos” para cada minuto que ‘entros no produto final, A ttulo de comparagao,a mesa em files comercais € de 20 para | Transitar por este universo de 95 para I era como avan- sat lentamente por utna Mloresta dense, encontrar algumas clareiras, para, e em seguida penetrar de novo na mata. Em alguns casos, como nas seqiigncias dos helicépleros, havia ‘muita imagem de cobertura,e em outas cenas, comparativae mente, muito pouca, Acho que s6 as cenas do Coronel Kilgore davam mais de 220 mil pés. Como els representam 25 minutos do produto final, a scala af € de 100 para umn ‘Mas muita das cenas deligagdo tinham apenas uma toma Francis tinha gusto tanto negativo ¢ tempo nos grandes even tos que compensou fazendo 0 minimo de cobertura ‘Vamos pegar uma das grandes seqiéncias como exem- plo: o ataque de helicéptero em Charlie's Point quando toca A valqutria, ce Wagner, foi encenada como um acontecimen- to rel e portant flmado como dacumentiti,e n3o como tama série de cenas seguidasfitas especialmente para o filme Era uma coreografia em grande escala de homens, mquinas, cimerase cenérios~algo como um bringued diabdico que funciona sozinho depois que se aperta um botio. Asim que Francis dizia “acio", a filmagem parecia umm combate rea: ito eimeras rodando sin © (algumas no solo, ‘utras em helicdpters), cada uma carregadla com rolos de mil pés (11 minutos) Rana NNo final, nao havendo nenhum problema aparente, 4 pesigdo das cameras era trocada € repeliase a operacio, mais uma ver, e outa, Elescontiouavam até, imagino eu, acharem que tinham material suficient, cada tomada geran- «do em tomo de oito mil pés (uma hora e mela). Nenbuma tomada era igual 8 outta ~ muito semelhante ao processo de ‘uma filmagem documenta Finalmente, quando filme estava a salvo nos cinemas, sente’e calculi o mimero de dias que nds (os editores) inhi- ‘mos trabalhado. Dividi este timero pelo miimero de cores existentes no produto final e cheguei 4 médla de cortes, por editor, por dia: 147! Isso quer dizer que se soubéssemasexatamente para onde ‘stivamos indo desde o prinespio, teriamos chegado li gastan- do.o mesmo tempo se cada um de nds tvese feito menos de E tado no men banquinho de manhs, feito um corte, pensado ro préximo corte, ido para cas, vltado no dia seguinte, feito ‘corte no qual tinha pensado na véspera, feito mais um corte e votado para cas, levaria @ mesmo ano que efetivamente Tevei para editar a minha parte do filme. Visto que se leva menos de dee segundos para se farer wm corte © meio, © caso reconhecidamente especifico de Apo- calipe Now nos proporciona wma grande sensacio de alvio por confirmar hipétese de que, mesmo num filme dito “nor. ‘mal, 0 trabalho de edigio nao € tanto o de colar pedagas, ‘um corte e meio por tras paras, se eu tvesse sen- Anu de compar, mn Secon fem mt eres ord, caf ots ‘mas muito mais o de ackar 0 eaminho, de modo que um ed tor gasta muito pouco do seu tempo cortando € colando. CObviamente, quanto mais material houver para tabalhar, ‘nas alternativastém de ser consideradas, uma vez. que um 3 Teque de opgdes exige naturalmente mais tempo de consideragdo, Iso é verdade para qualquer filme com uma smédia alla de material filmado, mas no caso particular de ‘Apocalipse Now o problema foi maior em fungio da temstica dlicada de que tratava, de uma esiutura cuidadosae orig nal, das inovagées tecnologicas em todos os campos e da obri- gio que todos ot envolvides sentiam de fazer 0 melhor tae batho de que eram capazes. Etalvez,acima de tudo, pelo ato de se tratar, para Francis, de um filme pessoal, apesar do orga- mento caro e do amplo alcance do tema. Inflizmente pour os filmes retinem tais qualidades e aspragées. Para cada corte no filme fnalizado, houve provavelmente 15 faloos cores conte ets, consderados e depois desfetos ov retirados do filme, Mesto assim rstaram 1 horas € 58 mime tos dirias dedicadas a atividades que, das mais diversas mane ras, seriram para clareareiluminaro caminho 3 ness rete: projta, discutir,rebobinar, proetar de novo, reuir,elaborar cronogramas, fazer reajustes, tomar nota, cataloga,além de tefltr rite, Um trabalho enorme de preparaglo para chegar a0 breve momento da aco decisiva: 0 corte - 0 momento de transigdo de um plano para seguinte ~ algo que, por defini- ‘ao, devia, por ss, parecer simples e feito sem esforgo (sto, no caso de chegara ser percebid) Por que os cortes funcionam? Apocalipse Now, assim como qualquer filme de fiegao (2 excegio, talvez, de Festin diac, de Hitchcock), fi feito com a jungdo de muitos pedagos diferentes de filme, for- ‘mando um mosaica de imagens. O intrgante € que a jun- ho desses pedagos — 0 “corte” [eu], na tenminologia ameri- canal — parece realmente funcion: meso representando ‘um total einstantineo deslocamento de um campo de visio para outro (deslocamento este que, 3s vezes, aeareta un plo para frente ou para tris no s6 no espago, como tam ‘bem no tempo} ‘Funciona, nas poderia muito bem ser de outra maneira Nada er nossa experigncia de vida parece nos preparae para tal cosa. Ao contririo, do momento em que acordamos de. ‘mana até fecharmnos os olhos 3 nite a realidade visual que percebemos é um fluxo continuo de imagens interlgadas. De le copa pr dz sei, ca com rag de de ar c inperceptelnense colada pat das ops Je que mo have fe [Eenpoetupscala sen des em cone étude de um lao Syience "Faldo com la asain pce una stl eng em nos sg Now tum le € eta" que eliza separa ds pes, Na Res es Cri Btn ic a’ eis ang a fato, por mithdes de anos - derenss, centenas de miles de anos ~a vida na Terra transcorreu desta forma. Ent, de tepente, no comego do séeulo XX, os seres humanos foram Confrontados com algo diferent: o filme editado. [Nesas circunstincias, no sera de estranhar descobit mos que nossas mente foram levadas pela evolugdo e pela experiéncia a rejitar a edigao de filmes. Fosse esse 0 e280, 0 padrio seria os filmes em plano seqiiéncia dos irmos Lumitre, ou filmes como Festin diabico, de Hitchcock, Por imimeras razbes priticas (também artistas), ébom que ndo sein assim Averdade 6 que um filme est sendo efetivamente “corta- do” 24 veres por segundo, Cada quatro € um deslocamento do anterior. Acontece que num plano continuo, 0 deslocamen- to espagoltempe de um quadro para © outro & Ho pequeno (20 ‘ilésimos de segundos) que o pilico 0 vé como uma conti nuidade dentro de um mesmo contexto, em vex de 24 conter- tos diferentes por segundo. Por outro lado, quando o desloca- mento visual 6 suficientemente grande (como no momento do cote), somes forgados a reavaliar a nova imagem como ‘um context diferente, Milagrosamente, na maioria das vezes, ‘io tems dificuldade em faz, (O que nos parece cifcil de acetarsio 0s deslocamentos {que io sao nem suts nem gritantes: por exemplo,o corte de tum plano de corpo inteiro para outro un poueo menor emt que 05 atores estio enguadades do tomozelo para cima, Neste cas0, 0 novo plano ¢ diferente o bastante para assinalar que algo mudon, mas no 0 suficiente para nos fazer reavalan 0 seu contexto, O deslacamento da imagem no € continso, mas também no é uma mudanga de contewo, A colsdo des: sas das idéias produz uma confusto mental ~ um pulo—que, ‘comparativamente, toma-se incémodo.* De todo modo a descoberta, no inicio do séeulo XX, de «que alguns tips de corte “funcionavam’ levou-nos quase ime. diatamente 3 descoberta de que os filmes poderiam sr filma dos descontinuamente, 0 que foi o equvalente cinematogra 0 da descoberta do v6o. Na pritica, 0s filmes no seria mais (delimitados pelos flores tempo e espago. Se s6 pudés- semos fazer filmes juntando todos os elementos simultane mente, como no teatro, a gama de assuntos possves seria comparativamente menor. Entretanto, hoje a descontinuids- de impera: 6 o panto central na etapa de produgio de um filme e, de uma forma ou de outa, quase todas as decisdes to relacionadas a ela ~ como superar as dficuldades impostas por elaelow melhor aproveitar as vantagens que ela oferece® ‘Outro fator a ser considerado € que mesmo que tudo est- ves 8 disposcio ao mesmo tempo, sera muito cf mar * Ayactemente uma clmcia poe st movie Sm por it sem ue abe the fg deena pela anit Sunpesndenement, quo a ‘acon é mov Sms shea ids conmegem vena Hee em Fangio do tl elecaent do seu arb oad ent verdes de drei eo fazer cers. No eto, se cans or ovida {pena 2m a alas nance conden. O abet na Bee eee, cl nose wore e,cseqienerete,n ecenhe ‘lm pip cones ao vole das por alien «Be ag flocspge mio cde ein clea qu ase nce sapere bh "Quando Stanley Kabrck dig O imine, qa lr sm contin dete tds eee ates is don temp od. les poe ‘ode patente td 0 eto em Ele (Land) onto oro ‘cor smutaeent eo main l com stan promt, pelo Tempo qe foe necenir O lumina cot aseruma eco est sed scotia por qe or soe fc Tongos planos seqiénciae fazer com que todos os elementos fancionassem a cada vez, Os cineastas europeu tendem a fil ‘mar planos mais complicados que os americanes, mas, ‘mesmo em se tratando de wm Ingmnae Bergroan, ha um lie te para o que se consegue controlar: no finalzinho algum efi- to especial pode falar, alguém pode esquecer uma fla ou 0 fasvel de uma lampada pode queimar ea coisa toda tem de ser refeita. claro que, quanto maior 6 plano, maiores as chances de erro Ha portanto um grande problema logistco em juntar tudo ao mesmo tempo, e também uma difculdade séia fazer com que tudo “Funcione” todas as vezes. O resltado € que, por razbes priticas, nfo seguimos os padrées dos innios Lummigre ou de Fetim diabslico Por outro lado, além das questdes de conveniéncia, a des continsidade também nos permite escalher o melhor angulo da cimera para cada emogio e para cada momento da histé- ria, € esses planos, quando ealitados, provocardo um impacto crescente. Difcil seria fazer iswo se estivéssemos limitados 2 uma sucessdo conta de imagens; os filmes também nao seriam to precisos e aprimorados como slo.” A descontiiae vin, ¢ no fempor 2 caleriscs mas ines sunt cd ptr do Ea aio, Cada parte dcp humane ett for ‘1 dng mar crctetca «rela a cabs de pelo oc de ‘rae, bor pens de elo oe de ee endo ea jute age pots uma tesa ge. Hoe com ns prec ese eds {Lpenpestna sonra daguel pena rn parece crac “nas E posi qe num fat eto nes files, em 58 combina {es de Snguls frente cad i ma verelade”pr en cbt far eal, pregin eics€tots quant. FEstrapolando essas consideragdes, corar € mais que um nétodo conweniente de tomar continua a descontinuidade. em si, pela forga de sia paradoxal subitaneidade, uma influencia postiva na eriagdo de um filme. Usariamos 0 cote ‘mesmo que a descontinuidade nio fesse to dtl por sua prax ticidade, fato central de tudo isso € que os cores funciona. Mas a questio permanece: por qué? Acontece algo parecido ‘com 0 peixesaadr, que nao deveria voar mas voa ‘Voltaremos a ese mistéio dentro de instante “Cortando pedacos ruins” Ha ruitos anos, no nesoprimeio aniversro de easment, exe minha mulher Angie votamos a Inglaterra (ela € inge- sa, emboratenhaas nos casado nos EU) e pude eonhecer alguns de seus amigos de infinca “O que voce fz?” pergunton um dees, ao qu respond que tava estudandoedigio de les. "Ah, ego" die ele, quando se cortam os pedagos ruins” E elaro que figui (educadamente)enfarecido: "Frito mais que iso. Baiga0 € est a cor, a dindmica, a manipulagdo do tempo, todas essas cosas ete. ee..." O que ele tinha em mente exam filmes caeiros: “Opa, ese pedao ests ruim, vamos cortilo fora e colar o rest.” $6 agora, com 25 anos de estrada, pase arespeitar essa ingénwa sabedoria Porque, de cera forma, editar € mesmo cortaros pedagos ruins; 0 problema & 0 que é um pedlago nim? Quando voce st fazendo ur video casero a cimera treme, esse pedago € obviamente ruim € certamente voc’ vai cortélo fora. O objetivo de urn video cascto em geral € muito simples: ma gravacao de eventos desordenadas em tempo continuo. ‘objetivo dos filmes de narrativa € muito mais complex, tanto pela estrutura de tempo fragmentada como pels necessidade de teproduzir estados de espirito, de modo que se torna pro- Porcionalmente mais complicado identilicar que & um “pedag mim que im ex wm ile pode see bom ¢m outro, De so, uma das mancirs dese encaa proces s0 de eliza de um fie € pensar nele como uma busea para identicar~no filme em questo ~0 que € um “pedago rim’, Assim, o editor empenhse na busca para identicar cesses pedagose cots for, cwidando para que, 20 fré40, rio desta aestutura dos "pedagos bons” restates. (© que me leva aoe chimpanzés Hi uns 40 anos, depos de decoberta a etrtura de dhpllice do DNA, es idlogosacharam que tnhamy ua copécie de mapa para a aguteua genética de cada organs mmo, Faro qe nfo espera que a estatura do DNA se parecese com o orgs quc etvam etudando (ain como o mapa da Inglaterra se parece com Ingles), m «que cada ponto do organi, de cea forma, corespondes se um pontoequvalente no DNA ‘of o que descobriram, Quando come com ros fear surpresos ao descobrir que o DNA dos hua nas ¢ dos chimpanzéseram incivlmentepareids. Tanto aque ~ 99% idéntcos —eram inadequados para explicar as hv cferengs ent Ent, de onde vm a ifeenga? 0s bidlogos foram finamenteforgdos a rconhecer «que deveria her lguna outa cis ~ ands cm dacs que as hho DNA eran atsadas € orto com que es informagzo cm atvada a medida que o organism crea ‘Nov estigos niiais do desenvolvimento fetal € dif cstabelecr a diferenga ele embrides humanos € os de chimpans. Amid qe erescem chegim a um ponto em controlsse a ordem na qual as wirias informagées gu B ora pa que diferengas se tomam visives e, desse ponto em dante, cada ver mais claras. Tomemos como exemplo a excolha do {que vem primeir, cérebro oo eranio, Nos seres humans a prioridade € dada ao cérebro porque a enfase est em maxi- mmizaro seu tamanho, Podemos ver nutn recém-nascido que seu cxtnio nao esté totalmente fechado em volta do eérebeo que ainda esti creseendo, ‘Com os chimpanzés a priordade se inverte: primeiro o cnio e depos o eéebro, por razdes que provavelment ‘aver com o ambiente hostil em que nascem. O comando da seqiiéncia dos chimpanzés & "Preencha esse espago vazio ‘com o maximo de cérebro que puder” Hé um espa limi- tado a ser preenchido com cérebro pois, de qualquer ponto de vista, parece mais importante para o chimpanzé nascer ‘com uma cabeca resistente do que com um grande eérebro, Huma celagdo similar em uma lista infindivel: 0 polegar & os outros dedos, a postura do esqueleto, alguns ossos que se de um certo desenvolvimen- formam completamente an to muscular ete. Meu argumento é que a informagao do DNA pode ser ‘comparada a um filme e 0 misterioso c6digo seqiencial, a0 ceaditor. Voce pode sentar numa sala com uma pilha de eopides outro editor sentar em outta com exatamente @ mesino material: 08 dois far filmes diferentes. Cada um far esco- thas diferentes sobre como estraturslo, isto &, quando e em que onder soltar a vias informages, ‘Um exemplo: sabemos que a arma esti cartegada antes dde Madame X entrar em seu carr ou 36 ficamos sibendo clisso depois que ela esti no carto? Cada escolha cra um sen tido diferente para a cena. E 20 proceder assim vamos empi- Thando uma diferenga em cima da outra, Revetendo a com- paracio, podese olhar para seres humanos e chimpanzés ‘como diferentes filmes editados com 0 mesmo copiio™ Nao estou aqui atribuindo valores a um chimpanzé ow a ‘um ser humano, Digamos apenas que ambos estio adequados 0s seus respectivos ambientes: eu estaria desconfortivel balangando num galho no meio da floestae urn chimpanzé tara desconfortivel eserevendlo este lvto. A questio nda é 0 valor intrnseco dos dos, mas o fito de ser desaconselhivel mudar de idéia durante o processo de eriagio de um dos dois [Nao comece a fazer um chimpanzé e depois decida fazer dele um ser humano. lo produz um Frankenstein, uma colagem, € todos nés jd vimos seu equivalente no cinema o filme °X teria sido um filminho ber legal, totalmente adequado a0 seu “ambiente”, mas no meio da produgdo alguém superesti- ‘mou suas possibilidades e 0 resultado foi um filme chato & pretensioso, Era um filme-chimpanré que alguém tentou transformar em um filmeser humano ¢ que acibou no viranda nem urn nem out. (Ou entio o filme “Y", que era um projeto ambicioso que tratava de questes complenas edelicadas até que a produgao cordenou uma filmagem adicional repleta de acio e sexo e, como resultado, © grande potencial foi reduzido a algo ‘menor, nem humana, nem chimpaneé. * Segunda mesma Tags, 5 dhmpanns ea rats sfonde “copier aieenies “oan psig % O maximo com o minimo Nunca se pode jugar a qualidade de wma mixagem de som pela simples quanta de canis usados para prod, J foram prodidas miagens deplorveis a pari de 100 nai, Da mesa forma, misagens maavlhosas foam eliza das com apenas ts canis, Td depende das escohas ini cis que foram feta, da qualidade do som, eda capidade da mistradesses sons de despetar emogSes oc no cos <0 do pblico.O principio hisico €tenta sempre fazer 0 Iniximo con o nim (com énfse note") Vo? poe tio conseguirsempye, mes ete produc os mores eos ta caheca do esectaor com o menor nimero de cosas na tela, Por ue? Po ara conqustar imaginasio do publico~a sugesto sem pre mais efcente que a expoigo, Passa um cet pont, quanto mais voces xorg para ceric os detahes, mais encorja 0 piblico a ser espectador em vee de partcipante (mesmo pinipio se aplca para as wri teas de producio de um fine: tres, diego de ate, fotografia, ia, ig tino B, € claro que se aplica também ego. No xd de tlie que foi bem edad porque tem mito cots E pre ciso mais taba € mas dicerimento para deci onde do cotatningué tem que cortar apenas porque et sendo 1e voce quer fazer apenas © necesirio igo paraiso. O editor esti senda pago para tomar decisbes| , quunto a cottar ou nio,esté de fato tomando 24 decisdes por segundo: “no, 0, nlo, m0, mo, 0, io, no, no, Um editor hiperativo que muda de corte com freq 6 com um gi detrismo que no conse parade apn tar coisas. e ali em cima esti otto da Capel Sisina,€ aqui a Mona Lisa. Por flr nso, olher estes szlejos ¥ claro que quem participa de uma excarso quer justamen- te no, mass vezes a pesion que dar uma voltae decidir por si mesma 0 que oll. Seo guia, ito &, oer no etver sufcicntemente seguro para dear que, de ver em quando, a pessoas escolham o que querem ver, ou para debaralgue ‘mas coisas a cargo da imaginagio dela, ele estarétentando aleangar um objetivo (o controle absoluto} que acaba fr cassando, Em algum momento a pessoas se sent ppladase ieatdo resentidas com a pressio das mas suas eabegas is de Bom esl ier paar o min com omni fica a perguna: hi alguma forma dese descobce qual te minimo? pose tar da uma cone leg, pore aburdae dizer "no corte nad is que volamor20 nso primeio problema: fies so editads (codon) por tans pias também porque cova esa sdb treo dh veaiade~ pode ser uma erament i, Se aintengo€ cortar menos pose, quando teas que fe core, 0 que az dle um bom cote? A regra de seis A primeira coisa que se diseute em aulas de ediglo de filmes 6 algo que vou chamar de continuidade tridimensional: no plano A um homem abre uma porta ¢ anda até a metade da sala, Cotta para 0 plano B, que pega © homem do mesmo pponto e o acompanha até o fim da sala, onde ele se senta na sua escrivaninha, ou algo do genet. Por muitos anos, partcularmente no inicio da produgao de filmes sonorizads, a negra era esta, Era preciso fazer de tudo para preserar a continidade do espago tridimensional, «endo conseguilo era considerado fila de preciso e habilida de” Simplesmente nao se usava "pular” as pessoas no espace, exceto talver em situagdes extremas como lutas ou terremo- tos, quando havia muita acdo violenta Eu, na verdade, coloco a continuidade tridimensional no final de wma lista de seis eritérios que definer um bom corte Encabegando a lista ests a emogo, a tltima coisa da qual se fala em aulas de edigio (quando se fal, porque € coisa mais (0 proble deve rasoinapae evo ma lenis cn pie sie (Gasca iis cinern Conn ca eo guna saneaene erect sempre “sore no que di rope 3 oni el {cgi de com oo, lan tao eres ruins seo fo temp, dliicil de se definir lidar). O que vooe quer que 0 pibico sinta? Se cle sente exatamente 0 que voce queria durante todo mo que poderia fazer. O que ser ler: bradlo nao seré a ediglo, a clmera, as atuagBes ou mesmo 0 cenredo, mas como o piblic sent tudo iso. filme, wood fez 01 (O corte ideal (para mim) obedece simultaneamente aos seis eritrios que se seguem: 1) reflete a emogdo do momen to; 2) far o enredo avancar; 3} acontece no momento “certo”, i ritmo; 4) respeita 0 que podemos chamar de “alvo de ima- ‘gem (eve trace) ~ a preacupacio com o faco de interesse do espectador e sua movimentaglo dentro do quadro; 5) respei- ta a “planaridade” —a gramtica das tres dimens®es transpos- tas para duas pea fotografia (a questio da lina de exo, stage Tine, ec): €6)respeita a continuidade tridimensional do pré- pio espago (onde as pessoas esto na sala e em relagdo umas ‘com as outa) 1) ergo sie 2) emredo Be 3) sito oe 4) alo de imager % 5) plano bidimensonal da tela 5% 6) espaco tridimensional da acto * A emosio, no alto da lista, 60 que se deve tentarpreser vara tod custo, Se achar que deve saerificar uma dessas ses coisas para fazer uin corte, fag de aivo para cima, item por item. Por exemple vac estéconsiderando um Teque de pos siveis cortes param momento particular do filme e descobre 8 reg dese {que determinado corte transmite a emogio cera e faz 0 enre- do avangar ¢ €saisaério ritmicamente e respeita 0 alvo de imagem ea dimensdo dos planos, mas quebraa continuidade do espace tridimensional, este 6, certamente, o corte que deve ser feito, Se nenhum dos outs corts transmite a emogio cert, vale mais a pena sierfieat a continuidade espacial ‘As percentagens que colaquei depois de cada item 30 pouco precisas, mas node todo infundadas: os dois primeitos itens da lista (emog30. entedo) valern muito mais que os que tno ltimas (ritmo, alva de imagem, dimensio de planos e continsidade espacial) e, olhando com cuidado, vése que a cemogiio, que encabega a lista, vale mais que 05 outros cinco juntes. Na verdade, hi uma questo pica que é a seguinte: se ‘a emogio ests adequada,o enredo andou para fente de wma forma originale interessante no ritmo cert, 0 pblico tende «nao perceber (ou ignorar) problemas de edigdo de menor Jmpottincia tis como alvo de imagem, linha de exo, conti- ‘uidade espacial ete. O prineipio geral € que, stisfazendose (06 eritérios dos primeiras itens da lista, os problemas dos demas tendem a ser ofuscados, endo que oinverso nao 6 ver- dadeito, Pr exemplo: se o nvimero 4, avo de imagem, estver axdequado, isso vai minimizar © problema com o mimero 5 (linha de exo), masse 0 imero 5 (linha de exo) esiver cor eto e 0 miimero + (avo de imagem) nao for levado em consi: deragdo, 0 corte nao sers bemsucedido. [Na petica 0 tes primeirositens da lista ~emogao,ente- do ertino~ estiointimamenteligados, As forgas que os man- ‘tém unidos sko como a ligagdo dos protons © néutrons no rnicleo de um stoma, Essas so, de Tonge, as ligagBes mais coesas, ea forca que conecta os outros tr vai diminmiindo 3 medida que se desce a lista. [Na maioria das vezes conseguese stistazer as seis rit ¥ios:espaco tridimensional, plano bidimensional da tela, li ‘nha do olhar, itm, enredo e emogio vio se acomodar. Ese, € clato, € 0 objetivo sempre que pessivel ~ mines aceite menos quando € posivel conseguir mais. (© que estou sugerindo & uma escala de priordades. Se tiver que abr mao de alguma coisa, nunca abra mao da emo- ‘glo em beneficio do enredo. Nio abra mio do enredo em beneficio do ritmo, no abra mio do ritmo em beneficio do alvo de imagem, no abra mao do also de imagem em bene ficio dos planos e ndo abra mao da dimensio dos planos em bbeneficio da continuidade Pista falsa Reforgando essas consideragdesestéo que devera sera prin- ‘Spal preocupagio de um diretor: colocarse no lugar do pico. © que o pablico estaré pensando em determinado ‘momento? Para onde iri olhar? O que vocé quer que ele pense? Em que precisa pensar? E, é claro, o que voee quer {que ele sinta? Se voc® tive isso em mente (e essa a preocu- pagio de todo mégico) estars sendo uma espécie de migico. Nao no sentido sobrenatural, apenas alguém que trabalha com isso no dina ‘Atarela de Houdini era despertar curiosidade mas, para falo, precisava que ninguém olhasse para ali (2 ditita) ‘onde ele estava se soltando das correntes, tna de achar um ito de fazer as pesoasolharem para ld (@ esquerda). Recorria ‘eno 3s “pista falas’, como dizer os magicos, fazendo com ‘que 99% das pessoas olhassem para onde ele queria. Um edi- tor pode e deve fazer isto. No entanto, as vezes voeé pode ficar preso a detalhes e perder a visio do toro. Geralmente, quando iso acontece ‘comigo, & porque estava vendo a imagem como a {que é na sla de edigao em ver de pensar na parede em que se transforma quando projetada nas salas de cinema. Umi ‘coisa que fz com que voc® volte a tera perspectva correla & imaginarse bem pequeno ¢ a tela bem grande, fingindo que nia ‘st assitindo ao filme naizado nur cinema de wil lugares Jotado e que ndo hs mais nenhuma pesibilidade de mever no resultado. Se ainda assim, voce gosta do que est vendo, pro- ‘vavelmente est tudo bem. Caso contro, éprovivel que iso the dé una idéia mais clara de como contig o problema, sea cle qual fr. n dos pequenostruques que uso para me ate dara ating esa perspectiva € recrtar bonequinhos de papel umn homem e uma mulher = colocar um de cada lado da tela de edigootamanho dos bonecos (de apenas alguns cen- timetos) 6 proprcionalmente coeto pata fuera tela pate- cer ter nove metros de lng pata Extrapolando os limites do quadro cet é uma das poucas pessoas que trabalha na produgio| de um filme e na sabe as condigdes exatas nas quais ele fo filmado (ou tem a eapacidade de nfo sabe tempo, exerce enorme influencta sobre filme. Se 0 editor esteve no set @ maior parte do tempo ~ como cativeram os ators, o produtor,o dretor, o eimera, 0 diretor de arte ete. ~ pode se deixar envolver pelos aspects priticos “sangrentos” da “gestag2o"e do “part”. Quando, entdo, asi te a0 copito, no consegue deixar de ver, com 0 olho da mente, @ que extrapola 0s limites do quadro ~ 20 contro, consegue recapitular tudo 0 que estava acontecendo, tudo 0 ue, fisica e emacionalmente, estava além do que foi efetiva- mente flmado. “Trabalhamos pra caramba para filmar esa cena, ela fem «que eta no filme.” Nese caso o diet estéconvencido de que conseguit 0 que queria, mas pode ser que esteja fazendo um ceforgo para achar iso por tercustado tanto ~ em angst, tempo e dinheiro — para chegar I ‘Da mesma forma o dietor também pode mio gostar de algo que flmou, quando todos estayam de mau humor, ¢ dizer sob protests: "Tado bem, vamos fazer isso, pegar esse close e papo encertado.” Tempos depos, ao olhar para a cena, sé consegue lembrar do péssimo momento em que fo filma da, Nesse caso, pode deiuar de ver 0 potencial da cena em: ‘outro context. editor, no entanto, deve tentar ver apenas 0 que esté na tela, asim como o pablicao fark. Este €0 tinico jito de dex vincular as imagens do contexto de sua eriagi0. Mantendo o foco na tela, & ito pasivel que o editor utilize os momen tos que dever ser utilizados, mesmo que tenham sido filma dos sob presso, descarte momentos que devem ser descar- tados, mesma que tenham custado uma enor dinheito esofimento, Tenho a impressio de estar advogando pela presersagio cle uma certa pureza, Nio se deixe impret ade em desnecessariae ‘mente pelas condigbes de filmagem. Mantenhase a par do ‘que esti acontecendo, mas tente fcar 0 mais ditante possive de problemas especfics, pis, em siltima anal, o pubblico iio sabe nadia sobre isso e voo8 € 0 ombudsman do piilico. Certamente, 0 ditor € quem mais tem famliaridade com tudo o que aconteceu durante a filmagem, sendo por tanto.o mais afetado pelo excesto de informagio que extapo- 1a os limites do quadro, Depois de encerradas as flmagens € antes de o primeito corte estar pronto, a melhor coisa que © diretor pode fazer pelo filme é dizer tchau para todos e dese parecer por duas semanas ~ ir para as montanhas, para a praia, para Marte, para qualquer lugar ~ e tentar descarregar Onde quer que ese deve tentar, na medida do posvel, tenham absolwtamente nada a ver com 0 filme. F dificil, mas necessirio, eiar uma barreira, construir um moro intransponivel entre a flmager e a edi «io. Depois das filmagens Fred Zinnemann costumava esca- pensar em cosas que i i lar os Alpes apenas para se colocar numa situacio de risco de vida em que fos obrigado a estar ali, evtando assim deva nea sobre os problemas do filme. asadas algumas semanas, descia dos Alpes e punha de ‘nove os pés no chio; entava sorinho numa sala escua,lga- va oprojetor easistia a seu filme, Continaava a caregar com sigo aquelas imagens que extrapolam os limites do quadro (um ditetor no seré rumea verdadeitamente capaz de esque cE as), mas, se ivesse ido dizeto da filmagem paraaedicio, a cconfusio sera pior e ele teria definitivamente misturado os dois diferentes processos de flmagem e de edi, aga o que estiver ao seu alcance para ajudar o direlor a cexguer esa bartcira para si mesmo a fim de que, quando asis- tir ao filme pela primeita ver, ele pasa dizer: “Bor, vou fine gir que nio tive nada a ver com esse filme, Hi muito trabalho pela frente, vejamos o que precisa ser fit, Assim, voeé fard © possivel para separar 0 que deseja daquilo que de fato existe, munca abandonando seus sonhos ‘mais ambiciosos para o filme, mas se esforgando a0 méximo para ver o que eftivamente esti 2 tela Sonhando em dupla Um editor de filmes desempenha, sob vitios aspectos, 0 ‘mesmo papel para o diretor que o editor de texto para o escri- tor de um livto ~ encoraja algamas atitdes, desaconsetha ‘oultas, discute a possbiidade de incluir wm material espect Fico no trabalho terminado ou a necessidade de se actescen- {armaterial novo, Mas, em iltima intincia 60 escritor quer poe as palavras em order, Em um filme, porém, 0 editor tem de ato a responsabil- ddade de juntar as imagens (quer dizer, as “palavras") nur certa ordem e num certo rtm, Nesse caso cabe a0 dretor aconselhar do meso jeito que fra para um ator interpretar tum papel. Parece entio que a relagdo ene o editor eo dice: tor de um filme varia durante o projelo, o mamerador se trans- formando em denominadore vicevers [Na terapia através dos somos hi uma técnica em que o paciente, aguele que sonha, tabalha em dupla com alguém ‘que owe o sono, O mais ripido possvel depois de acordar, 0 sonhador se junta ao ouvinte para contaro sonho da véspera, Matas vezes nfo hi nada, ou apenas a lembranga de uma imagem decepcionante, mas iso € 0 suficente para comegat ‘ processa. Uma ver desrita a imagem, 0 trabalho do ouvine te € sugerie uma seqiéncia imag baseada naquele fragmento, Se, por exen de acontecimentos so, aTembranga se resume um avido,o ousinte sugere imediatamente que deve ter sido um avi de passageiros sobrevoando o Tait carreg do de bolas de golfe a caminho de um tomeio na Indonesia, Assim que the 6 oferecida esa desrigdo, 0 sonhador retruca: "Nao, era um bimator,sobrevoando os campos de batalha da Franga,e Anibal estaa atirando neleflechas de sua lego de clefantes” Em outras pala, o sonho, oculto na meméria, aparece em defesa propria revelando-se quando se é ammeaga do por outra versio, Essa revlacio sobre bimatorese elefan- tes pode levar 0 ouvinte a elaborar ma nova improvisaci, que levard a outro aspecto do sonho encoberto, ¢ asim por lante até que transparega o maximo de informacio possivel A elagio entre odiretor eo editor éparecida, consideran- dose que o diretor & geralmente o que sonha € 0 editor, 0 fouvinte, Mas mesmo para o dietor mais bem preparado hi Timites para a imaginagio ¢ a meméria, particularmente no nivel das minicias. E portanto trabalho do editor propor ‘oper altemativas como iscas a fim de estimular 0 sonho adormecidoa se erguer em defesa propria erevelarse em sua plenitude. Essas opedes podem desdobrarse em grandes pro- porgdes (seri que tal etal cena devem ser retiradas do filme para o bem do conjunto?) ou no detalhe mais espectfico (sera ‘que esse plano deve tenminar nesse quad ou no seguint, 1124 de segundo depois). Porém, s vezes o editor € 0 sonha- ore diretor é 0 onvinte, aquele que joga isa para instigar 0 sonho coletiv a tevelar mais des. Pergunte a qualquer pescador e le dei que a qualidade da isca determina o tipo de peixe que voce pega, Trabalho em equipe: varios editores ceitor nao colabora apenas com o dtetor. Freqientemente dois ou mais editorestrabalham a0 mesmo tempo, as vezes, ‘com a mestna autoridade. sso pode parecer estranho para muita gente, jd que o mesmo nao acontece com dietores de fotografia ou arte. Numa produgio € comum a contratagio de varios editors e isso tem dois motives: primeire 0 perfil soliditio dos editres¢, segundo, o ato dos prazos de pi-pro- ‘duglo no serem to impl ‘quanto durante a produgio, Em is nas suas conseqincias ros filmes taba, e gos tei da experigncia, com a colaboragio de outros editors: Acorersapao, Apocalipse Now, A insustentave leveza do sere ppoderoso chef (parte I) A principal vantagem de se trabllar em eqipe é a rapi- er; 0 principal risco &a falta de coeréncia. Quando se tem, mais de 350 mil pés de material filado (65 horas, € preciso comer esse isco € ter dos eitores ou, pelo menos, mais um editor tabalhando sob supervsto. Problemas podem sot ro caso de se ter apenas um eiitor ¢ ele desenvalver wna visio intransigente acerca do material so ¢ partcularmente problematico quando ditetor e editor nunca trabalharam jun- tose nao tém tempo de desenvolver una linguagem comin, Neste caso também pode nilo ser ma idéia considera taba tha com wtioseditores 0 poderaso chefdo foi o primeito filme no qual Francis trabalhow com dois editores. Originalmente havia um $6, ‘mas o problema da intransigencia se agravou e 0 editor foi dispensado depois de virios meses. Tomouse a decisto de reconstituir 0 que tinha sido feito até enldo e recomecar Porém, como aqueles meses haviam sido efetivamente perdi dos, parecendo que o filme ficaria com quase tes horas de dduragdo e havia um prazo inadivel,fazia sentido contratar dois editors. O filme ainda estava endo rodado e ji ha snuito trabalho a ser feito: cada editor tina o equivalente a 90 minutos de filme para terminar em 24 semanas. Dife- renlemente de O poderoso chef (pate Il) e de Apocaipse, ‘ trabalho foi efetivamente dvidido pela metade. Bll Rey- nolds editou a primeira pare ¢ Peter Zinner, a segunda, Hi ‘um momento especifico onde termina a parte de Bill € co- mega a de Peter. [No Pederaso chefo (parte I), apesar dea responsabilida- de pela ediglo ter sido dividida como num tabuleiro de sadrez, 2s cenas exam inicialmente trabalhadas pela mesma pesca” Quando Francis eomecou a brinear com a estrutura do filme, as pessoas se viram mexendo no que outos jé haviam editado, CO ucro de um filme de 25 miles de dares € de cerea de 250 mil por més. Se ter dois eitores pode ajudaro filme a set langado um més antes, eles trdo pago boa part, se no 4 soma total, de seus salirios pelo trabalho no filme inti. "Os eto de O pad chef pte fram Pee Zine Bary Malin Rnd Ma A questio é simplesmente aonde se quer chegar no tempo ‘que se tem dsponivel. Terminar com ma média de 147 corte por dis, como fizemos em Apocalips, significa que mie tas avenidas foram exploradas antes de se chegar ao produto Final. Se € isso que voce quer fazer, é provivel que precise de mais de um editor 2 © momento deci: Quando Phil Kanfinan estvaflmando A insustentave levera do ser na Franga, eu estavaeditando em Berkeley, California =a 9.500km de distinc, A cada duas semanas, aproximada- mente, eu tecebia 0 copido, sentava eassistia a de horas de filme, fizendo anotagies, vetificando se estava sineronizado, decupando o material ete. Além do procedimento normal, ainda selecionava pelo menos win quadeo representativo de cada posigdo de cime- ra fotografavao. Em seguida fotos num laboratério “I hora", como se fosser fotos de familia, ea colocivames em painéis de acordo com a cena, ndavamnos revelar ess Sempre ue os planostinham uma encenagio mais comple- xa on uma cdmera em movimento, ea preciso tar mais de tuna flo (acho que o maximo que ite para A insustentavel foram sete para uma cena de festa muito eomplicada) ~ eralmente trava tes, mas, na maioia das vezes, apenas “Tinhamos que usar um negative especial para fze esas fotos porque © negative normal prodz muito contaste. A relocidade do filme ¢ lenta ~ ASA 2 mais ou menos ~ € 0 tempo de exposiao tem de ser grande, mas funcionava ben as flos eam bastante pednimas em cores e contest em ela ao file As fotografia so de grande aud nas acu poste tes com odrtor sobre o que fade e como, slicionane do rpidament ee tipo de discus, Serem também como regis de alguns dtalhes que dkesafiam a habilidade do melhor contin particular des do cote decabelo de um ator, alguma pcularidade do fgurno, ocolainho que sbe ou desce, 0 qo res ests a pele de alm, urna marca na esa que aparceu quando se fron um chapéu ~ esse tipo de coisa, ‘So também uma ima font de ecuss para a dvulg- <0 on par alguém que ene nomena capa posterior 2flimagem, Voce pode ohare cna refeéncas dos persone gens nos mais diversas estadosemocionais e compa a fo- sai, o guna eo endo, Alem dso, em nga a forma em que so dispostas, s fotografia se relacionam ente si de forma interesante, Em A itt! aos, gars, 16 pain de fotos, 130 fo tosem cada pane cada painel foi ongmizado com a pi rade um io: as fotos da esque era “Tid” pra act tae depois, na linha segint, ds exquerda para a dita de ovo et, exataente como na Feta de wet, ane do se chegiva ao final de um panel, voc ia pars 0 alo do sequinte ina prime linha ete. A jungio entre ess pang cea coi interesante dese er porque jstapaha cenas Ge apesar de munca fren sidopensadas juntas, etavar a, Jado a ado, Ar veres surgi da gums idea, o que nos leva pensar em algunas cots, pulos de dio, nos quis do terms pensao sem ese ses. “Mas para mim o trunfo das fotos era que elas se transfor- ‘mavatn em hierdglifs para a linguagem das emogbes Que palavraexpressria 0 conceito de raivairinica com uma ponta de melancolia? Nao hi palavra pata isso, pelo mens no em ing] fica representada nama fotografia mas € posiel ver esa emogo expect Afoto pore também representar um tipo de antecipacao rneross: a personagem esté amedontads, ao mesmno tempo cexcitada € confuss porque sente desejo por outra mulher. E esta mulher esti dormindo com 0 marido dela, O que isso significa? Seja 0 que for, eta li, na expresso dela, no angulo da cabeca com o cabelo eo pescaco e ra tensio dos muscles, nna posiglo da boca e nos olhos dela, Basta apontar para a expressio do rosto de um ato estardo superadas as dificulda- des da linguagem ao lidar com a sutileza dessas emogdes intraduziveis. O editor eo diretor podem dizer. “Esso que ew quero, AseqQncia na qual estamos trabalhanndo deve ter mais diso aqui entendeu? Quero que ela incorpore as indefinives, porém ber conhecias, emogdes que veja nessa fotografi A pati dat o trabalho do eto serio de esclher as ima gens certas e colocas em sequéncia na medida certa para ‘expressr algo semelhante a que fo captado naquels fotografi Ao escolher um quadro tepresentatvo, que se est pro- crurando & uma imagem que sintetize a essencia dos milhares de outros quadros que formar a tomada em questo, Eo que CartiesBresson — referindose & fotografia — chamou de ‘momento decisivo”. Acho ents que, na maior das vezes, {imagem que escotho acaba entranda no filme e, na grande ‘maori das vezes, bem perto do ponto de corte ‘Quando se assist an copido, hd uma armadilha parecida com uma na qual se pode cair durante os testes de elenco, ois quaos de Tees (alte Binoche) em A insistetivelleveza do sex. Ornmer det digas embuito 2 eguerda 20,296) rere asp de mer do plano de nde fos tad 0 ime 1 retngul adjacent ao 620 identifi laa dewe quad guacho mua ride des, Daas quai de Sabina (Lea Ola) em A insustentivelleveza dose (sisters manic aqui 0 memo das feted Tess. Ambo os qu rs forum tides da egéeia que mods a eto imprvisaa de fotos de Sabina e Teresa Dit quados de Terese A insustentivel Ievera do er. No caw cdo miner 2, um qua fo sfcente pra dar ma ida compet do rc de ts ote — das quai eta & segunda ~ om virude ds noturececomplesa do plano, Este vem da plano, No entanoo miner 6 ‘mesma cena da foto 6 de Sabina os dois quao xe sonal do fle. sam pti ol pe qi nnd pl pt, te ded (Caconanems enue cew apni oet£

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