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Artigo

SACARIFICAÇÃO DA BIOMASSA
LIGNOCELULÓSICA ATRAVÉS DE PRÉ-HIDRÓLISE
ÁCIDA SEGUIDA POR HIDRÓLISE ENZIMÁTICA:
UMA ESTRATÉGIA DE “DESCONSTRUÇÃO” DA
FIBRA VEGETAL
RESUMO
Larissa Canilha,
Adriane M. F. Milagres,
A presente revisão procura abordar, de forma objetiva, os principais aspectos en- Silvio S. Silva,
volvidos na sacarificação da biomassa lignocelulósica por meio de pré-hidrólise João B. Almeida e Silva,
Maria G. A. Felipe,
ácida da hemicelulose seguida por hidrólise enzimática da celulose. Esta estratégia George J. M. Rocha,
de “desconstrução” da fibra vegetal é amplamente reportada na literatura científica André Ferraz e
e apresenta potencial para aplicação em escala industrial na produção de diversos Walter Carvalho*
produtos a partir de materiais lenhosos como o bagaço de cana-de-açúcar. Universidade de São Paulo,
Escola de Engenharia de Lorena,
Palavras-chave: materiais lignocelulósicos, pré-tratamento com ácido diluído, hi- Departamento de Biotecnologia

drólise enzimática *Autor para correspondência:


Estrada Municipal do Campinho, s/n
SUMMARY Caixa Postal 116
CEP 12602-810. Lorena. SP
Fone: (12) 3159-5129
This review intends to address, in an objective way, the main aspects involved Fax: (12) 3153-3133
E-mail: carvalho@debiq.eel.usp.br
in the saccharification of the lignocellulosic biomass by acid pre-hydrolysis of the
hemicellulose followed by enzymatic hydrolysis of the cellulose. This strategy of
“deconstruction” of the plant fiber is widely reported in the literature and shows
potential for application in industrial scale in the production of several goods from
woody materials such as the sugarcane bagasse.

Keywords: lignocellulosic materials, pre-treatment with dilute acid, enzymatic


hydrolysis

INTRODUÇÃO

A autossuficiência energética é tida como pré-requi- uso do etanol, produzido a partir do caldo da cana-de-
sito fundamental para a segurança de uma nação. Por açúcar, como combustível veicular. O desenvolvimento
exemplo, a crise do petróleo deflagrada na década de tecnológico gerado dentro deste programa alçou o país
70 acarretou em prejuízos marcantes à economia glo- a uma posição de destaque no cenário mundial.
bal devido à vaidade e onipotência dos dirigentes de Pode-se dizer que a queda do preço do petróleo na
nações produtoras de petróleo localizadas no Orien- década de 80 desestimulou fortemente o desenvolvi-
te Médio. Desde então, diversas nações situadas em mento de processos industriais baseados na utilização
todos os continentes do globo deram início a progra- de matérias-primas renováveis para a produção de bens
mas de pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de de consumo. Assim, embora sejam notórios os avanços
se tornarem autossuficientes em termos energéticos. conseguidos pelo Brasil na produção de etanol a partir
No Brasil, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), do caldo de cana-de-açúcar (etanol de primeira gera-
instituído pelo Governo Federal em 1975, fomentou o ção), pouco se investiu no desenvolvimento de tecnolo-

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gias para a produção de etanol também a partir do ba- ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA
gaço de cana-de-açúcar (etanol de segunda geração). BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA
Se as usinas sucroalcooleiras utilizassem não somente
o caldo, mas também o bagaço da cana como fonte Os materiais lignocelulósicos representam a fração
de carboidratos, seria possível aumentar significativa- mais expressiva da biomassa vegetal, a maior fonte de
mente a produção de etanol sem aumentar a demanda compostos orgânicos da biosfera. São constituídos por
por uma maior área de plantio da cana. Neste cená- três frações principais que, juntas, perfazem mais de
rio, a queima da palha, atualmente deixada no campo, 90% da massa seca total. São elas: celulose, hemice-
poderia suprir, pelo menos em parte, as necessidades lulose e lignina (1).
energéticas das usinas de processamento. A celulose, constituinte mais abundante da parede
Nos últimos anos, tem-se observado um aumento celular vegetal, é um homopolissacarídeo constituído
gradual no preço do petróleo, determinado pela redu- por unidades de D-glucose unidas entre si por ligações
ção na oferta prevista para médio e longo prazo. Além glicosídicas β(1→4), apresentando um grau de polime-
disso, o aquecimento global do planeta, determinado rização de até 10.000. A estrutura linear, conferida pela
pelo acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera, configuração das ligações glicosídicas, possibilita a for-
é uma realidade que impulsiona o desenvolvimento de mação de ligações de hidrogênio intra e intermolecula-
processos industriais à base de matérias-primas reno- res e acarreta na agregação das cadeias celulósicas em
váveis. Seguindo a tendência mundial, a indústria su- “fibrilas elementares” com alto grau de cristalinidade.
croalcooleira brasileira tem manifestado interesse em Estes agregados conferem elevada resistência à ten-
tecnologias sustentáveis que possam ser agregadas à são, tornam a celulose insolúvel em um grande número
sua cadeia produtiva. Por exemplo, enquanto o caldo de solventes e explicam, pelo menos em parte, a sua
da cana é utilizado para a produção de açúcar e etanol, resistência à degradação microbiana (2,3).
a cogeração já permite que a queima do bagaço seja A hemicelulose é um heteropolissacarídeo comple-
aproveitada também para a produção de “bio” eletri- xo composto por D-glucose, D-galactose, D-manose,
cidade. Esforços estão atualmente sendo direcionados D-xilose, L-arabinose, ácido D-glucurônico e ácido
para incluir também a palha (deixada no campo) no ci- 4-O-metil-glucurônico. É ramificada, apresenta um grau
clo de produção. Tal façanha permitirá que o bagaço de polimerização inferior a 200 e pode ser acetilada.
seja então utilizado para a produção de etanol (de se- Nas madeiras de coníferas (softwoods), galactogluco-
gunda geração) e de outros insumos renováveis através mananas e arabinoglucuronoxilanas são os principais
de rotas baseadas na alcoolquímica e na sucroquímica. constituintes hemicelulósicos. Por outro lado, 4-O-
Benefícios econômicos, sociais e ambientais são espe- metil-glucuronoxilanas e glucomananas são os princi-
rados como consequência. pais polissacarídeos encontrados na hemicelulose das
Um dos principais problemas que limitam o apro- madeiras de folhosas (hardwoods). As gramíneas, por
veitamento dos açúcares contidos no bagaço de cana sua vez, apresentam as glucuronoarabinoxilanas como
para a produção de etanol diz respeito aos elevados principais constituintes hemicelulósicos (4-7).
custos envolvidos no condicionamento da matéria-pri- A lignina é uma macromolécula complexa, formada
ma. Os açúcares do bagaço, assim como aqueles de pela polimerização radicalar de unidades fenil-propano
qualquer outro material lignocelulósico, encontram-se (álcool p-cumarílico, álcool coniferílico e álcool sinapí-
na forma de polímeros (celulose e hemicelulose) asso- lico). Constitui a fração não polissacarídica mais abun-
ciados entre si e recobertos por uma macromolécula dante da lignocelulose. Envolve as microfibrilas celu-
aromática complexa (lignina), formando a microfibrila lósicas, conferindo proteção à degradação química e/
celulósica. Esta, por sua vez, constitui a parede celular ou biológica, e pode formar ligações covalentes com a
(fibra) vegetal, uma estrutura recalcitrante difícil de ser hemicelulose. Enquanto as paredes celulares de gramí-
desestruturada e convertida em monossacarídeos fer- neas apresentam os menores teores de lignina, aquelas
mentescíveis. de madeiras de coníferas (softwoods) são as mais ricas
Na presente revisão, procuramos sumarizar alguns neste componente (5).
dos principais aspectos envolvidos na sacarificação da Do ponto de vista tecnológico, os açúcares conti-
biomassa lignocelulósica através de pré-hidrólise ácida dos nas frações celulósica (glucose) e hemicelulósica
seguida por hidrólise enzimática, uma das estratégias (xilose, arabinose, glucose, manose e galactose) repre-
que podem ser utilizadas para a “desconstrução” da sentam os substratos que podem ser utilizados para
fibra vegetal. a produção de etanol por via fermentativa. Entretanto,

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conforme ilustrado na Figura 1, a íntima associação en- dos para solubilizar a hemicelulose e/ou a lignina e, assim,
tre as três frações principais (celulose, hemicelulose e aumentar a porosidade da matriz (13,14). Pré-tratamentos
lignina) é tal que impõe dificuldades para a recuperação puramente físicos também podem ser utilizados para au-
dos açúcares constituintes na forma de monômeros mentar a reatividade do material pré-tratado frente às enzi-
com elevado grau de pureza (8). mas hidrolíticas. Por exemplo, a redução da granulometria
do material de partida por moagem (cominuição), embo-
CONVERSÃO DA BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA ra altamente desfavorável do ponto de vista de consumo
EM AÇÚCARES FERMENTESCÍVEIS energético, aumenta a área superficial disponível e diminui
a cristalinidade da celulose, favorecendo a sacarificação
Diversas estratégias para a conversão de materiais enzimática (15). Pré-tratamentos biológicos, com fungos e
lignocelulósicos em açúcares fermentescíveis têm sido bactérias que promovem a degradação seletiva da lignina
demonstradas em escala laboratorial e piloto. O con- e/ou da hemicelulose, representam outra opção, entretan-
ceito geral envolve pré-tratar a matéria bruta para, en- to as velocidades de biodegradação são lentas (16).
tão, submetê-la à hidrólise enzimática (9). Pré-tratamentos que combinam princípios físicos e
Embora o pré-tratamento possa ser conduzido por químicos representam as melhores opções para fracio-
princípios bastante variados, tem por finalidades alterar nar a biomassa lignocelulósica (17), sendo que o pré-
ou remover a hemicelulose e/ou a lignina, aumentar a tratamento adequado deveria idealmente: 1) maximizar
área superficial e diminuir o grau de polimerização e a a digestibilidade enzimática, 2) minimizar a perda de
cristalinidade da celulose, o que acarreta em aumento açúcares, 3) otimizar a produção de subprodutos (ligni-
na digestibilidade enzimática e, consequentemente, no na, por exemplo), 4) não requerer a adição de reagentes
rendimento em açúcares fermentescíveis (10-12). que venham a inibir as enzimas hidrolíticas e os micror-
Para que a sacarificação enzimática da celulose seja ganismos fermentativos, 5) minimizar o uso de energia,
eficiente, é necessário que as enzimas consigam “chegar” reagentes e equipamentos, e 6) permitir a transposição
até ela. Entretanto, a parede da célula vegetal é imperme- para escala industrial (18).
ável a grandes moléculas, incluindo proteínas como as ce- Dentre os diferentes métodos de pré-tratamento, a
lulases. Para superar esta barreira, reagentes que incluem hidrólise dos açúcares presentes na fração hemiceluló-
(mas não se restringem a) ácidos e bases devem ser utiliza- sica de materiais lignocelulósicos com ácidos diluídos,

Parede celular

Microfibrila

Célula vegetal Hemicelulose

Lignina
Fibrila elementar

Celulose

Glicose

Figura 1. Arquitetura da parede celular vegetal (Adaptado da referência 55)

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seguida ou não por descompressão súbita (explosão), lósica internamente de maneira aleatória, e 3) 1,4-β-D-
tem se mostrado bastante eficiente, sendo também rá- glucosidases (EC 3.2.1.21), que promovem a hidrólise
pida e simples (17,19). Esta técnica apresenta vanta- da celobiose em glucose e podem também clivar unida-
gens como minimização da formação de produtos de des glucosídicas a partir de celuoligossacarídeos. Co-
degradação e aumento da susceptibilidade da celulo- letivamente chamadas de celulases, atuam em sinergia
se à hidrólise enzimática subseqüente, desde que as para hidrolisar a celulose criando sítios acessíveis umas
condições de hidrólise sejam otimizadas (20). Trata-se para as outras e aliviando problemas de inibição pelos
de uma tecnologia amplamente reportada na literatura, produtos (26,27).
testada em escala piloto e com potencial de aplicação Dependendo do tipo e das condições empregadas
em escala industrial (9). durante o pré-tratamento, parte da hemicelulose pode
Durante a hidrólise com ácidos diluídos, o material permanecer no material pré-tratado e prejudicar a hi-
lignocelulósico é misturado com um ácido (H2SO4, ti- drólise enzimática da celulose. Neste caso, a hidrólise
picamente) diluído em água - catalisador - e aquecido eficiente do material pré-tratado requer, em adição às
por certo tempo. Grupos acetil ligados à hemicelulose celulases, o emprego de hemicelulases (9).
são clivados e também atuam como catalisadores da O sistema hemicelulolítico requerido para a hidró-
hidrólise. Conforme ilustrado na Figura 2, grande parte lise da hemicelulose é mais complexo que o sistema
da hemicelulose é removida. Por outro lado, a remoção celulolítico, já que a hemicelulose apresenta natureza
da lignina ocorre de maneira bastante limitada. Embo- heterogênea. Inclui, entre outras enzimas: 1) endo-1,4-
ra haja fusão e despolimerização desta fração durante β-D-xilanases (EC 3.2.1.8), que hidrolisam ligações gli-
o pré-tratamento, também há repolimerização e redis- cosídicas internas aleatoriamente na cadeia de xilana,
tribuição superficial intensas. Estas reações acarretam 2) 1,4-β-D-xilosidases (EC 3.2.1.37), que “atacam” xi-
em alterações radicais na estrutura da parede celular looligossacarídeos a partir das pontas não redutoras
vegetal, favorecendo a acessibilidade das enzimas para da cadeia de xilana liberando xilose, 3) endo-1,4-β-D-
a hidrólise subseqüente da celulose (21-25). mananases (EC 3.2.1.78), que clivam ligações internas
Três classes de enzimas constituem o complexo na cadeia de manana, 4) 1,4-β-D-manosidases (EC
celulolítico: 1) exo-1,4-β-D-glucanases (EC 3.2.1.91), 3.2.1.25), que clivam manooligossacarídeos em mano-
que hidrolisam a cadeia celulósica a partir de suas se, e 5) enzimas que removem os grupos substituintes
extremidades liberando celobioses, 2) endo-1,4-β-D- laterais (ramificações), como α-D-galactosidases (EC
glucanases (EC 3.2.1.4), que hidrolisam a cadeia celu- 3.2.1.22), α-L-arabinofuranosidases (EC 3.2.1.55), α-D-

Lignina
Celulose

Pré-tratamento

Hemicelulose

Figura 2. Alterações estruturais na microfibrila celulósica determinadas pelo pré-tratamento com ácido diluído, seguidas pela hidrólise enzimática
da celulose (Adaptado da referência 55)

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glucuronidases (EC 3.2.1.139), acetil xilana esterases Do ponto de vista de utilização dos hidrolisados
(EC 3.1.1.72) e feruloil esterases (EC 3.1.1.73) (28,29). enzimáticos como substratos em processos fermenta-
A maior parte das enzimas envolvidas na hidrólise tivos, pode-se afirmar que o uso de hidrolisados com
de carboidratos são proteínas modulares, constituídas elevadas concentrações de açúcares fermentescíveis
por um módulo catalítico e por um módulo de ligação permite a obtenção de caldos fermentados com altas
a carboidratos (MLC). A função do MLC é promover o concentrações de produto, o que reduz os custos de
contato íntimo entre o substrato e o módulo catalítico da separação e purificação. Entretanto, a condução da
enzima, assegurando a orientação correta entre ambos hidrólise enzimática na presença de elevadas concen-
(30-32). Entretanto, quando o substrato é um material trações de substrato (celulose) apresenta duas grandes
lignificado, a lignina pode promover intensa adsorção limitações:
inespecífica das enzimas utilizadas para a hidrólise da • Concentrações de glucose relativamente baixas
celulose e/ou da hemicelulose. A fração de celulases e (1-14 mM) acarretam em inibição das β-glucosidases,
hemicelulases tornadas improdutivas devido a esta ad- levando ao acúmulo de celobiose no meio reacional.
sorção pode chegar a 70% do total adicionado (33-34). A celobiose, por sua vez, é um potente inibidor das
Isto inclusive impede a reciclagem das enzimas, uma celobiohidrolases, resultando em limitações severas
estratégia que tem um grande impacto na viabilidade na hidrólise da celulose (43-46). Para superar esta li-
econômica do processo (35-38). Para superar esta li- mitação, a sacarificação enzimática (da celulose em
mitação, outras proteínas (albumina, por exemplo), glucose) e a fermentação (da glucose em etanol) de-
surfactantes não iônicos (Tween 20, por exemplo) ou vem ser processadas simultaneamente (SFS) de for-
polímeros (polietilenoglicol, por exemplo) têm sido adi- ma a evitar o acúmulo de glucose no meio (47,48).
cionados à mistura reacional com a finalidade de mini- A utilização de concentrações de substrato (celulose)
mizar adsorções indesejáveis (39-41). Pré-tratamentos superiores a 15 % acarreta em viscosidade excessiva, di-
direcionados à solubilização da lignina com reagentes ficultando a mistura (homogeneização) e aumentando o
apropriados (NaOH, por exemplo) também têm sido consumo de energia (49,50). Para contornar este proble-
propostos. Além de minimizar a adsorção improdutiva ma, a SFS deve ser operada em modo batelada alimenta-
das enzimas, estes pré-tratamentos geralmente acarre- da. Inicia-se a hidrólise com uma concentração de subs-
tam em aumento na acessibilidade à celulose (42). trato inferior a 10 % e, na medida em que há liquefação da

5 6

Lignina
Celulose

4 3 Hemicelulose

Celobiohidrolase

Endoglucanase
Celobiose 1

Celobiohidrolase
β-glicosidase
Glicose

Figura 3. Visão simplificada dos principais mecanismos que limitam a hidrólise enzimática da celulose: 1) Inibição da β-glicosidase e da
celobiohidrolase pelos produtos (glucose e celobiose, respectivamente); 2) Adsorção improdutiva da celobiohidrolase à celulose; 3) Obstrução
do acesso das celulases à celulose pela hemicelulose; 4) Obstrução do acesso das celulases à celulose pela lignina; 5) Adsorção inespecífica
das enzimas à lignina; 6) Perda da atividade enzimática (Adaptado da referência 9).

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celulose e redução na viscosidade do meio, adiciona-se mete soluções para os problemas evidenciados pelas
mais substrato de forma gradativa (51,52). rotas concorrentes, ou seja, faz uso de catalisadores
A Figura 3 apresenta uma visão simplificada dos prin- específicos e ambientalmente amigáveis que operam
cipais mecanismos que limitam a hidrólise enzimática da sob condições amenas de pH, temperatura e pressão.
celulose. Conforme abordado nos parágrafos anteriores, Entretanto, para que a sacarificação enzimática seja efi-
a compreensão destes mecanismos tem permitido o de- ciente, é preciso que as enzimas tenham amplo acesso
senvolvimento progressivo de estratégias para superar ao substrato. Em outras palavras, é necessário “abrir” a
as limitações. Assim, embora a utilização de enzimas em estrutura da fibra vegetal de forma a permitir uma rápi-
escala industrial ainda seja economicamente proibitiva, os da digestão da celulose na presença de baixas concen-
prognósticos apontam para um futuro promissor. trações de enzimas que, idealmente, possam ser utili-
zadas repetidamente (54). Conforme apresentado nesta
CONCLUSÃO revisão, a pré-hidrólise com ácidos diluídos é uma entre
as muitas opções de pré-tratamento disponíveis.
Sabe-se que a hidrólise total dos polissacarídeos
lignocelulósicos (hemicelulose + celulose) com ácidos AGRADECIMENTOS
diluídos é problemática em termos de degradação de
açúcares. A hidrólise com ácidos concentrados, embo- Os autores agradecem o apoio financeiro recebido
ra permita a obtenção de rendimentos de sacarificação da FAPESP, CNPq, CAPES e USP para o desenvolvi-
próximos ao teórico, implica em custos e riscos eleva- mento de projetos de pesquisa relacionados com a te-
dos (53). Neste contexto, a hidrólise enzimática pro- mática da presente revisão.

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54 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


Artigo

AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA 5220 D. Closed


Reflux, Colorimetric Method PARA
DETERMINAÇÃO DA DEMANDA QUÍMICA DE
OXIGÊNIO (DQO) EM EFLUENTE LÁCTEO
RESUMO
Rodrigo F. S. Salazar¹*,
André L. C. Peixoto²e
A demanda química de oxigênio (DQO) é amplamente utilizado como indicador e me- Hélcio J. Izário Filho³
dida da biodisponibilidade do carbono em águas. DQO é definida como a quantidade
¹Departamento de Química (DQ),
equivalente consumida na oxidação química da matéria orgânica por um forte agente Universidade Federal
oxidante. Recentes trabalhos sobre DQO relatam sobre interferências e sinergismos de São Carlos
que influenciam a resposta; porém pouco se discute sobre a validade, calibração e fai-
²Departamento de Engenharia
xas de linearidade dos métodos empregados. No presente trabalho fez-se a otimização Química, Escola Politécnica,
de metodologias espectrofotométricas para determinação de DQO, em duas diferentes Universidade de São Paulo
faixas de concentrações (200 e 2000 mg O2 L-1, respectivamente baixo e alto teor), por
Departamento de Engenharia
³

análises comparativas. Através de análises estatísticas obtiveram-se valores de repe- Química (DEQUI), Escola
tibilidade e reprodutibilidade de 3,75% e 9,01% e de 3,56% e 8,55%, para DQO com de Engenharia de Lorena /
Universidade de São Paulo
baixo e alto teores, respectivamente.
*Autor para correspondência
Palavras-chave: efluente lácteo, demanda química de oxigênio (DQO), teste-t pa- Rod. Washington Luís, Km 235
Caixa Postal 676
reado, Lei de Beer-Lambert, equivalência química CEP: 13565-905
São Carlos. SP
Fone: (16) 3351-8058
SUMMARY
E-mail: r.f.s.salazar@gmail.com

The chemical oxygen demand (COD) is widely used as a surrogated measure for carbon
bioavailability. COD is defined as the equivalent amount of oxygen consumed in the
chemical oxidation of organic materials by a strong oxidant. Recent researches on COD
related some interferences and synergisms influencing the response of COD, but few
things are discussed about the expiration, calibration and “work band” of the methods
applied. In this work, optimization of colorimeter methodologies for COD determination
in two work bands with the use of a comparative analysis was related. Through expe-
rimental and statistical analysis, a linear limit of the two work bands was obtained as
follows: from 0 to 200 mg L-1 and 200 – 2000 mg L-1 for COD “low level” and “high level”,
respectively. And the efficiency of these methods (statistical analysis of repeatability and
reproducibility) was reported as 3,75% and 9,01% for COD “high level”, and 3,56% and
8,55% for COD “low level”, accordingly.

Keywords: dairy effluent, chemical oxygen demand (COD), test-t paired, Beer-
Lambert’s Law, chemical equivalence

INTRODUÇÃO

A demanda química de oxigênio (DQO) é um parâme- triais. A DQO é definida como a quantidade equivalente
tro indispensável e exigido nos estudos de caracterização de O2 consumido na oxidação química da matéria orgâ-
físico-química de esgotos sanitários e de efluentes indus- nica por fortes oxidantes. Dentre os métodos otimizados

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 55


Artigo

e validados deve-se destacar os métodos titulométricos PARTE EXPERIMENTAL


e colorimétricos, bem como, metodologias mais recentes
baseadas em digestão por microondas e/ou por reagentes Neste procedimento a amostra é aquecida por duas
que não gerem resíduos perigosos (1,2). horas com um forte agente oxidante, dicromato de po-
A DQO é muito útil quando utilizada juntamente com a tássio (K2Cr2O7), em frascos com rosca esmerilhada (16 X
DBO para observar a biodegradabilidade de despejos (2). 100 mm) para DQO em sistema fechado. Compostos or-
Sabe-se que o poder de oxidação do dicromato de po- gânicos oxidáveis reagem, reduzindo o íon dicromato para
tássio é maior do que a que resulta mediante a ação de íon crômico de cor verde. Quando o método espectrofo-
microrganismos, exceto, raríssimos casos, como hidro- tométrico para DQO baixo teor é usado, a quantidade de
carbonetos aromáticos e piridina. Desta forma, os resulta- íon dicromato restante é determinada. Quando o método
dos da DQO de uma amostra são superiores aos de DBO. espectrofotométrico para DQO alto teor é usado, a quan-
Como na DBO mede-se apenas a fração biodegradável, tidade de Cr3+ reduzido é determinada. O reagente para
quanto mais este valor se aproximar da DQO, significa que DQO também contém prata (H2SO4 / Ag2SO4) e íons mer-
mais facilmente biodegradável será o efluente (2,3,4). cúrio (Hg2+). Prata é um catalisador, pois facilita a completa
Atualmente, a maior parte dos estudos e pesquisas degradação dos compostos orgânicos, e mercúrio é usa-
referentes a DQO buscam determinar as interferências do para controlar interferências de cloreto (2).
e sinergismos causadas por compostos inorgânicos e
pela oxidação incompleta das matrizes orgânicas sobre Coleta de amostra, preservação e estocagem
a resposta da DQO (2). Recentes estudos desenvolvi-
dos por Aquino et al. (2006) investigaram a influência As amostras do efluente lácteo foram coletadas em
dos íons cloreto, amônio, ferro e sulfeto presente em frascos de vidro de uma estação de tratamento lácteo, se-
águas residuárias bem como resultados comparando diado em Guaratinguetá. Homogeneizaram-se as amos-
os métodos colorimétricos e titulométricos para a de- tras compostas, para assegurar a sua representatividade.
terminação de DQO. Porém pouco se reporta sobre a
repetibilidade e reprodutibilidade dos métodos padrões Preparo dos reagentes
ou em desenvolvimento, que, conseqüentemente, pode
haver divergências quanto aos valores dos limites de H2SO4 / Ag2SO4: este reagente foi preparado com áci-
detecção para um mesmo procedimento, conforme en- do sulfúrico concentrado (0,67% m/v). Portanto, para cada
contrado em literaturas recentemente (1,2,4). litro de H2SO4 P.A. - Dinâmica (95 – 97% m/m) dissolvia-
A quimiometria é a área especificamente destinada à se 6,7 g de Ag2SO4 (Vetec) em sistema ultrassônico. Após
análise de dados químicos de natureza multivariada. É preparo da solução, a mesma repousou por 24 horas para
possível, também, a identificação de problemas eventu- garantir dissolução completa do sal e estocou-se em fras-
ais com linha base ou interferentes nas amostras usadas co âmbar.
na calibração e nas novas amostras de previsão (5,6). Soluções de K2Cr2O7 0,1 e 1,0 eq L-1: primeiramente
Frequentemente o analista químico deseja saber se secou-se o sal de K2Cr2O7 (Vetec) a 105ºC por 2 horas
há diferenças entre resultados obtidos usando proce- e condicionou-o em dessecador. Com base na pureza
dimentos diferentes, ou avaliar a robustez de um mé- do sal como sendo (99,9% m/m), pesou-se 49,0790 g e
todo frente a diferentes analistas. No teste t, em que a 4,9079 g para o preparo das soluções de dicromato 1,0
comparação é feita para uma série de replicatas com eq L-1 e 0,1 eq L-1, respectivamente. Após dissolução com
diferentes analistas e um único procedimento, é classi- água deionizada, transferiu-se quantitativamente para ba-
ficada como teste t pareado (7). lões volumétricos de 1000,0 mL, e completou seu volume
No presente trabalho, fez-se a avaliação da robus- com a mesma água.
tez de metodologias espectrofotométricas para deter- Água deionizada: resistividade de 18,2 mΩ cm obtida
minação de DQO, para alto e baixo teores, em elfuente por um sistema Millipore, modelo Simplicity.
lácteo, devido a sua matriz altamente complexa e in- Para determinar a exatidão do método utilizou-se como
terferente. Posteriormente, utilizou-se a metodologia amostra padrão uma solução padrão de biftalato de potás-
para determinações de demanda química de oxigênio sio (Vetec) com concentração de 850 mg L-1. Esta solução
em amostras reais de efluentes lácteos, com valores de deverá apresentar uma DQO de 1060 mg L-1.
DQO já conhecidos e atestadas por laudos laboratoriais A Tabela 1 representa o esquema de adição dos re-
obtidos de laticinista fornecedora do efluente em estu- agentes, quantidades e comprimentos de onda utiliza-
do, com objetivo de avaliar a eficiência da mesma. dos na determinação da DQO.

56 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


Tabela 1. Relação de reagentes e condições operacionais para o Avaliação da metodologia 5220
preparo dos frascos para análise de DQO D. Closed Reflux, Colorimetric Method
DQO DQO
Reagentes (Alto teor) (Baixo teor) Para a elaboração da curva de calibração e valida-
HgSO4 40 mg 40 mg ção do método, primeiramente determinou-se as faixas
H2SO4 / Ag2SO4 2,5 mL 2,5 mL de concentração nas quais a Lei de Beer - Lambert se
H2O (deionizada) 0,3 mL 0,3 mL mantém linear. Deste modo, mediu-se a absorbância
K2Cr2O7 1,0 eq L- 0,5 mL -- de uma série de pontos com diferentes concentrações
de biftalato de potássio (KBH). Foram empregadas 17
K2Cr2O7 0,1 eq L -
-- 0,5 mL
concentrações para as DQO alto e baixo teor, conforme
Amostra 2,0 mL 2,0 mL
mostrado na Tabela 2.
Comprimento 640 nm 420 nm
de onda
Seleção dos comprimentos de onda
para as determinações de DQO

Alguns cuidados foram necessários para este pro- Através do espectro de varredura da Figura 1, para
cedimento: o íon Cr3+ (dicromato reduzido), foi possível selecionar
1) a adição dos reagentes foi feita em ordem decres- o comprimento de onda com melhor absorbância para
cente até a adição final da amostra do efluente; esta espécie de coloração verde.
2) homogeneizaram-se bem os tubos digestores an- Observa-se que o λ de 620 nm possui uma boa sen-
tes e durante a digestão; sibilidade (ξ = 27,8 L mol-1 cm-1), sendo este compri-
3) quando necessário, manteve-se os tubos guarda- mento de onda selecionado para as medidas espectro-
dos em lugar adequados e protegidos de luz devido fotométricas de DQO de alto teor.
à fotossensibilidade do dicromato de potássio.

Procedimento estatístico para a


análise dos resultados Tabela 2. Valores de DQO adotados em função da concentração de
biftalato, para estimar a faixa de linearidade das curvas de calibração

Para verificar a eficiência do método aplicou-se o tes- Concentração de KBH (mg Concentração de O2 a ser
L-1) contida nos frascos expressa (mg L-1)
te-t pareado. Esta análise permitiu verificar a repetibilidade
e reprodutibilidade do método, empregando-se diferentes DQO DQO DQO DQO
(Alto Teor) (Baixo Teor) (Alto Teor) (Baixo Teor)
analistas. Verificou se a ferramenta estatística adotada é
robusta à influência do ruído (variáveis aleatórias), e se ten- 0,0 0,0 0,0 0,0
de à normalidade (8). O desvio padrão adotado foi de 0,2 125,0 12,5 156,60 15,66
e a largura da especificação adotada foi de 0,5, ou seja, 250,0 25,0 313,10 31,31
com confiança de 95%. Os cálculos foram efetuados em 375,0 37,5 469,70 46,97
Planilha Excell (Pacote Office, 2003). 500,0 50,0 626,20 62,62
625,0 62,5 782,80 78,28
RESULTADOS E DISCUSSÃO
750,0 75,0 939,30 93,93

Os resultados sobre calibração e validação metodo- 875,0 87,5 1096,40 109,64


lógica, bem como, resultados de caracterização obti- 1000,0 100,0 1253,00 125,30
dos são apresentados nos subtópicos a seguir: 1125,0 112,5 1409,60 140,96
• Determinação dos comprimentos de onda mais sen- 1250,0 125,0 1566,10 156,61
síveis para as determinações de DQO; 1375,0 137,5 1722,60 172,26
• Determinação das faixas de linearidade das curvas 1500,0 150,0 1879,20 187,92
de calibração para DQO alto e baixo teores; 1625,0 162,5 2035,30 203,53
• Otimização e Validação das metodologias pelas fer-
1750,0 175,0 2182,40 218,24
ramentas estatísticas (ANOVA, teste-t pareado);
1875,0 187,5 2338,20 233,82
• Utilização do método para análise de amostra real
(efluente lácteo) 2000,0 200,0 2494,10 249,41

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 57


Artigo

Determinação das faixas de linearidade das


 &XUYDGR(VSHFWURIRWRPHWURGR&U curvas de calibração para DQO alto e baixo teor
$OWR7HRU
 Para a validação do método, cada curva de calibra-
ção de DQO (alto e baixo teores) foi preparada com 17
$EVRUEkQFLD


pontos, a partir de diluições da solução padrão de bif-
talato de potássio a 2000 mg L-1 e 850 mg L-1, respec-
tivamente. A Tabela 2 contém os valores empregados

para a elaboração das curvas analíticas.
Após a digestão e análise espectrofotométrica,

construíram-se os gráficos com as médias das replica-

tas dos valores de absorbância, cujos perfis são mos-
&RPSULPHQWRGHRQGD QP trados nas Figuras 3 e 4.
O comportamento descendente para DQO baixo teor
Figura 1. Espectro de absorção do íon Cr3+ empregando-se
biftalato de potássio (2000 mg L-1) como amostra
e ascendente para DQO alto teor eram previstos, pois
quando o método espectrofotométrico para DQO baixo
teor é usado, a quantidade de íon dicromato restante é
O mesmo procedimento foi realizado para plotar o
espectro de varredura do Cr6+ (DQO baixo teor). Através
do espectro de varredura da Figura 2, para o Cr6+ (íon 

dicromato), foi possível selecionar o comprimento de
onda com a melhor absorbância para esta espécie de 
coloração laranja.       
$EVRUEkQFLD V 

Observa-se que o λ de 420 nm possui uma boa sen- 

sibilidade (ξ = 235,3 L mol-1 cm-1), sendo este compri-



mento de onda selecionado para as medidas espectro-
fotométricas de DQO de baixo teor. 
Comparando-se os valores obtidos dos espectros
de absorção com os valores de referência segundo o 

Standard Methods, que admite comprimentos de onda



otimizados de 640 nm para DQO de alto teor (determi-
&RQFHQWUDomRGHR[LJrQLRHVWLPDGD PJ/
nação de Cr3+ formado) e de 420 nm para DQO de bai-
xo teor (determinação do Cr+6 restante), os resultados Figura 3. Perfil entre os valores de DQO para baixo teor com
mostraram-se concordantes. a média das replicatas (n=4), para determinação da faixa de
linearidade

 &XUYDGR(VSHFWURIRWRPHWURGR&U 


%DL[R7HRU
 
$EVRUEkQFLD V 

 
$EVRUEkQFLD

 







       

&RPSULPHQWRGHRQGD QP
&RQFHQWUDomRGHR[LJrQLRHVWLPDGD PJ/

Figura 2. Espectro de absorção do íon Cr6+ empregando-se Figura 4. Perfil entre os valores de DQO para alto teor com a média
biftalato de potássio (850 mg L-1) como amostra das replicatas (n=4), para determinação da faixa de linearidade

58 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


determinada. Neste caso, a quantidade do íon dicroma- Em que:
to restante é inversamente proporcional à concentra- C: concentração de O2 (mg L-1);
ção de biftalato de potássio, o que resulta numa curva m: massa de oxigênio obtida do cálculo de equiva-
analítica com coeficiente angular negativo. Quando o lência química (g);
método espectrofotométrico para DQO alto teor é usa- f: fator de conversão (neste caso é igual a 1000).
do, a quantidade de Cr3+ reduzido é determinada. Este V: volume de amostra contida no frasco de DQO (L).
valor é diretamente proporcional, pois quanto maior a
quantidade de biftalato de potássio, maior é a oxidação Deste modo, pode-se observar nas figuras
pelo dicromato de potássio, que, conseqüentemente, 3 e 4 que nas regiões acima das concentrações má-
ocorre a formação de íons Cr3+ (forma reduzida) que são ximas de degradação equivalente ao dicromato, não
quantificados, resultando numa curva analítica de co- há mais linearidade com o conjunto de pontos res-
eficiente angular positivo. Genericamente, o mecanis- tantes, bem como, a não obediência a Lei de Beer-
mo de oxidação da matéria orgânica pode ser descrito Lambert. Calculando-se as curvas analíticas, obede-
conforme a semirreação da equação 1. cendo-se os limites superiores teóricos, tem-se as
equações lineares com as significativas correlações
  (Figuras 5 e 6).
 $J  62 
62
+ 
  o  ž & (1)
2 2



Fazendo-se o cálculo de equivalência química tem-  


se (Eq. 2 e 3):


QH

.  &U  2
QH 2
(2)

$EVRUEkQFLD V 



§P·
1 u9 ¨ ¸
©(¹ (3)
.  &U  2 
2 \ [
5 

Em que:
nex: número de equivalente (eq); 

N: normalidade das soluções de K2Cr2O7 utilizadas      
&RQFHQWUDomRGHR[LJrQLRHVWLPDGD PJ/
(eq L-1);
V: volume de K2Cr2O7 pipetado nos frascos (L); Figura 5. Curva analítica para alto teor de DQO,
E: equivalente grama (EO2 = 8) (eq-g); compreendido entre 0 a 2000 mg L-1 de O2

m: massa (g) de O2 consumida na oxidação (da onde


provém a palavra demanda).
 
A partir destas equações, calculou-se a massa de
O2 máxima, proporcional à degradação do dicromato 

presente no tubo, determinando-se os limites teóricos      

como sendo iguais a 0,004 g e 0,0004 g de O2, refe- 


$EVRUEkQFLD V 

rentes as soluções de 1,0 eq L-1 e 0,1 eq L-1, respecti-



vamente. Com a equação 4, calcularam-se as concen- \ [

trações de O2 para ambos os valores dos padrões de



5  

dicromato de potássio, que equivalem ao limite teórico
de concentração na qual a lei de Beer-Lambert deve 

ser respeitada, sendo iguais a 200 mg L-1 e 2000 mg L-1,


respectivamente para baixo e alto teor de DQO. 
&RQFHQWUDomRGHR[LJrQLRHVWLPDGD PJ/
 P2 u I
(4)
&2 
Figura 6. Curva analítica para baixo teor de DQO,

9 compreendido entre 0 a 200 mg L-1 de O2

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 59


Artigo

Otimização e Validação das metodologias de Tabela 3. Análise de Variância dos resultados das curvas analíticas de
DQO alto teor
DQO alto e baixo teor – teste-t pareado
FV1 Gl2 SQ3 MQ4 F5 P6
Para validar os métodos de análise para DQO alto e Amostra 9 0,730812 0,081201 1786,716 0,000
baixo teores, fez-se um estudo estatístico empregan- Analista 1 2,25E-07 2,25E-07 0,004951 0,945
do-se análise de variância (ANOVA) e teste-t pareado. Interação 9 0,000409 4,54E-05 0,895953 0,546
Avaliou-se a robustez da metodologia de determinação Repet. 20 0,001015 5,07E-05    
de DQO com dois analistas e duas medidas por analis- Total 39 0,732235
ta para 10 valores de concentração pré-determinados, 1
fatores variáveis; graus de liberdade; 3soma dos quadrática; 4média
2

num total de 40 medidas. O desvio padrão do processo quadrática; 5Fator F; 6grau de confiança
foi de 0,2 e a largura da especificação adotada foi de
0,5 (o mesmo que 95% de confiança).

Validação da metodologia para Tabela 4. Resultados da Análise de Medição (teste-t pareado) dos
dados das curvas analíticas de DQO alto teor
DQO alto teor (200 a 2000 mg L-1)
  Var % Desvio
Aplicando-se a técnicas de análise de medição por RR total 0,000051 0,249389 0,007122
variável cruzada sobre os resultados das determina- Repetibilidade 0,000051 0,249389 0,007122
ções de DQO alto teor, obtém-se os resultados apre- Reprodutibilidade 0,000000 0,000000 0,000000
sentados nas tabelas 3 e 4. Operador 0,000000 0,000000 0,000000
A partir da análise de variância dos resultados ob- Interação 0,000000 0,000000 0,000000
tidos (Tabelas 3 e 4) pode-se observar que a maior Amostra 0,02029 99,750611 0,142439
variância foi em relação a amostra (padrões), prova-
Total 0,020340 100,00 0,142617
velmente devido as diversas etapas de preparação
intrínsecas ao procedimento experimental (± 99,75%),
provavelmente sendo às várias medidas com volumes
pequenos e diferentes o fator que veio a influenciar
Tabela 5. Análise de Variância dos resultados das curvas
mais sobre os resultados. Em contrapartida, observa- analíticas de DQO baixo teor
se a repetibilidade dos resultados, com um percentual
FV Gl SQ MQ F P
de aproximadamente 0,25%, mostrando significativa
precisão do método, pois este resultado diz respeito ao Amostra 9 0,458881 0,050987 958,37208 0,000
controle sob os erros sistemáticos e minimização sob Analista 1 0,000035 0,000035 0,65827 0,438
os erros aleatórios. Em função destas análises, obteve- Interação 9 0,000479 0,000053 0,94412 0,530
se um percentual de repetibilidade de 3,56% e repro- Repet. 10 0,000564 0,000056    
dutibilidade de 8,55% para esta metodologia, valores Total 29 0,459958
considerados satisfatórios analiticamente. 1
fatores variáveis; graus de liberdade; 3soma quadrática; 4média
2

quadrática; 5Fator F; 6grau de confiança.


Validação de metodologia para
DQO baixo teor (0 a 200 mg L-1)

Tabela 6. Resultados da Análise de Medição (teste-t pareado) dos


Aplicando-se as mesmas ferramentas estatísticas dados das curvas analíticas de DQO baixo teor
adotadas anteriormente para os resultados experimen-
tais de DQO baixo teor, obtêm-se os resultados das   Var % Desvio
Tabelas 5 e 6. RR total 0,000051 0,330805 0,007507
A partir da análise das informações contidas nas tabe- Repetibilidade 0,000051 0,330805 0,007507
las 5 e 6 pode-se observar um comportamento de vari- Reprodutibilidade 0,000000 0,000000 0,000000
ância similar aos obtidos à interpretação dos resultados Operador 0,000000 0,000000 0,000000
da metodologia para alto teor de DQO, onde a variância
Interação 0,000000 0,000000 0,000000
da metodologia foi principalmente à natureza da amostra/
Amostra 0,02029 99,669195 0,130299
padrão (variância de ± 99,67%), seguido da variância na
Total 0,020340 100,00 0,130515
repetibilidade dos resultados, com um percentual de apro-

60 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


ximadamente 0,33%. Também se observa que a variância metodologia para a determinação da DQO em efluente
devido a fatores de interação e questões operacionais não lácteo verificou-se que a média encontra-se compre-
influenciaram sobre os resultados. Em função destas aná- endida na faixa de valores no qual esta unidade fabril
lises foi obtido um percentual de repetibilidade de 3,75% e costuma encontrar em suas análises.
reprodutibilidade de 9,01% para esta metodologia, sendo
considerados satisfatórios analiticamente. AGRADECIMENTOS
É importante ressaltar que o efluente empregado
para a este estudo apresentava elevados teores de óle- Ao Eng. Antônio Rodriguez de Lima, responsável
os e graxas (em torno de 4000 mg L-1). Os teores de só- pela estação de tratamento de efluentes da DANONE,
lidos totais, bem como o teor de óleos e graxas podem unidade Guaratinguetá, e ao Prof. Ms.C. Gerônimo V.
interferir em uma série de análise físico-químicos como Tagliaferro, pelo fornecimento de amostras de efluente
DBO, DQO, fósforo, nitrogênio orgânico e amoniacal lácteo da Yakult empregadas neste projeto. À Coorde-
(9,10,11). Entretanto, a metodologia mostrou-se robus- nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
ta o suficiente para minimizar possíveis interferências rior (CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado e
desta matriz láctea. pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa.

Determinação da DQO em
amostra real (efluente lácteo)

R efer ê ncias
Ao analisar algumas amostras de efluente lácteo,
amostrado do decantador da estação de tratamento de
1. APHA, AWWA, WEF. Standard Methods for the Examination
efluentes, obtiveram-se valores de DQO em torno de of Water and Wastewater. 19ch Edition. American Public Health
7207,5 ± 603,5 mg L-1 (n = 6). Segundo laudos desta Association, Washington, DC, 1998 (CD-ROM).
2. HU, Z.; GRASSO, D. WATER ANALYSIS / Chemical
mesma unidade, a demanda química de oxigênio do Oxygen Demand. In: p. P. WORSFOLD & C. POOLE (eds).
efluente que sai da linha de produção e, então, sofre di- Encyclopedia of Analytical Science second edition, 7, Elsevier
Academic Press, p. 325 – 330, 2005.
luição antes de ser lançado no decantador possui uma 3. PIVELI, R.P.; MORITA, D.M. Caracterização de Águas
DQO compreendida entre 6000 a 8000 mg L-1 (no de- Residuárias / Oxigênio Dissolvido e Medidas de Matéria
cantador), por batelada produzida de leite pasteurizado Orgânica. 1996, 52p. (apostila).
4. AQUINO, S.F.; SILVA, S.Q.; CHERNICHARO, C.A.L.
e/ou outros produtos lácteos. Considerações práticas sobre o teste de demanda química
de oxigênio (DQO) aplicado a análise de efluentes anaeróbios
(nota técnica). Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 11, p. 295 –
CONCLUSÕES 304, 2006.
5. FERREIRA, M.M.C.; ANTUNES, A.M.; MELGO, M.S.; VOLPE,
P.L. O. Quimiometria I: calibração multivariada, um tutorial.
O efluente lácteo apresenta matriz altamente interfe- Química Nova, n. 5, v. 22, 1999.
rente sobre o sinal de resposta da DQO, podendo acar- 6. HOPKE, P.K. The evolution of chemometrics (Review).
Analytical Chimica Acta, n. 500, p. 365-377. Jul. 2003.
retar em valores superestimados. Em função deste fato 7. CHRISTIAN, G.D. Analytical Chemistry fifth edition. New York,
torna-se necessário o emprego de ferramentas para a Wiley & Sons, INC. 1994
análise e correta interpretação dos dados obtidos nes- 8. BARROS NETO, B.; SCARMINIO, I.S.; BRUNS, R.E. Como
Fazer Experimentos/ Pesquisa e desenvolvimento na ciência e
te. A partir das análises estatísticas baseadas em teste-t na indústria. Campinas: Ed.: Unicamp, 2003.
pareado pode-se validar e otimizar a metodologia pro- 9. FARIA, E.A.; RODRIGUES, I.C.; BORGES, R.V. Estudo do
impacto ambiental gerado nos corpos d’água pelo efluente
posta para determinação de DQO em efluente lácteo. da indústria de laticínio em Minas Gerais. Monografia para
A partir dos mecanismos fundamentais de oxidação Especialização em Engenharia Sanitária e Meio Ambiente,
Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais,
de matéria orgânica nas condições adotadas e de cál- Belo Horizonte, Brasil: 74 p, 2004.
culos de equivalência química pode-se verificar a rela- 10. MENDES, A.A.; PEREIRA, E.B.; CASTRO, H.F. Biodegradação
de Águas Residuárias do Laticínios Provenientemente Tratadas
ção e influência da concentração e volume utilizados da por Lipases. Brazilian Journal of Food Technology, v. 9, n. 2, p.
solução de K2Cr2O7 e volume de amostra adotados sob 143-149, 2006.
o limite superior no qual a curva de calibração tende a 11. SALAZAR, R.F.S.; CARROCCI, J.S.; ANDRADE, T.K.;
MARCIEL, R.F.; BRANDÃO, J.J.; GUIMARÃES, O.L.;
ser linear conforme prediz a Lei de Beer. IZÁRIO FILHO, H.J. Validação do método fenantrolina para
Para as condições adotadas pode-se estabelecer determinação de íon ferroso em efluente lácteo por análise
comparativa. Em: VIII ENCONTRO LATINO AMERICANO DE
as faixas de detecção ideais para a determinação de PÓS GRADUAÇÃO. 2008. Anais, São José dos Campos, SP,
DQO(baixo teor) entre 0 – 200 mg L-1 de O2; e para DQO(alto 2008 (CD-ROM)

teor)
entre 200 – 2000 mg L-1 de O2. Quanto a utilização da

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 61


Artigo

SISTEMA DE BAIXO CUSTO PARA A PRODUÇÃO


DE MICROESFERAS DE QUITOSANA

RESUMO
Alexandre G.S. Prado*,
Igor C. Pescara,
Foi desenvolvido um sistema de baixo custo para obter microesferas de quitosana. Rômulo D.A. Albuquerque,
As microesferas obtidas por este sistema apresentou altas m. A microesferas mor- Fernando N. Honorato e
Claudio Magalhães de Almeida¹
fologia homogênea com diâmetro médio de 183µm superfície total de quitosana foi
de 4,2 m2g-1, o que aumenta para 14,1 m2g-1 para microesferas de quitosana. QuiCSI Team, Instituto de
Química, Universidade de Brasília
Palavras-chave: quitosana, microesferas, sistema de baixo custo ¹Depto. de Biologia, UnUCET,
Universidade Estadual de Goiás
SUMMARY
*Autor para correspondência
Caixa Postal 4478
A low-cost system to obtain microspheres of chitosan was developed. The micros- CEP: 70904-970
Brasília. DF
pheres obtained by this system presented high homogeneous spheres morphology E-mail: agspradus@gmail.com
with medium diameter of 183µm. The surface area of chitosan was 4.2 m2g-1, which
increases to 14.1 m2g-1 for chitosan microspheres.

Keywords: chitosan, microspheres, low-cost system

INTRODUÇÃO

Em 1811, Henri Braconnot isolou uma substância é obtida pelo processo de desacetilação do polímero
presente em fungos e logo percebeu que se tratava primário, via tratamento alcalino ou via hidrólise enzi-
de um material diferente daquele encontrado nas ma- mática. Em 1859, C. Rouget foi o primeiro cientista a
deiras (celulose). Em 1823, A. Odier observou que as relatar sobre este polímero (1-2).
carapaças dos insetos continham uma substância inso- Diferentemente da quitina, a quitosana não é tão
lúvel, a qual acreditou ser a matéria-prima básica para abundante na natureza, sendo encontrada em alguns
a formação do exoesqueleto de todos os insetos, e a microrganismos. Desta forma, a quitosana é obtida em
denominou “quitina”, que em grego significa cobertura, maior escala via desacetilação da quitina, ainda assim
túnica ou envelope. Porém, apenas em 1843, Anselme sendo considerada um biopolímero natural (1,2).
Payen detectou a presença de nitrogênio na estrutura Ao contrário da quitina, a quitosana é solúvel em
da quitina (1,2). muitos ácidos orgânicos diluídos, mas também é in-
A quitina é o segundo biopolímero mais abundante solúvel em solventes orgânicos e em soluções ácidas
na natureza, sendo sintetizada por um grande número com pH maiores que 6,5. A solubilização da quitosana
de organismos vivos, ficando atrás somente da celulo- ocorre devido à protonação do grupo amina (1,4).
se. Este material ocorre naturalmente em formas crista- A matéria-prima mais barata para a produção da
linas e é o componente majoritário do exoesqueleto dos quitina e quitosana tem sido os rejeitos de crustáce-
artrópodes, presente também nas paredes celulares de os, entre eles os caranguejos, camarões e lagosta (1,4).
alguns vegetais. Para alguns seres vivos, a quitina é Atualmente, o Brasil gera uma grande quantidade de
sintetizada em locais onde é necessário algum reforço rejeitos de frutos do mar, o que potencializa o país a
estrutural (1,3). se tornar um grande produtor de quitina e quitosana ao
Alguns derivados da quitina são obtidos por meio de reaproveitar este tipo de refugo. Algumas vantagens da
transformações simples, sendo a quitosana o derivado quitina e da quitosana é que são biopolímeros extraí-
mais estudado. Ela é o principal derivado da quitina, e dos de rejeitos industriais, possuem fontes renováveis,

62 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


não-tóxicos, são inertes no trato gastrointestinal dos deste trabalho é o desenvolvimento de um sistema sim-
mamíferos, são facilmente biodegrados, disponíveis ples e de baixo custo para a obtenção de microesferas
em diversas formas (pó, grão, membrana, esponja, al- de quitosana.
godão, fibra, fios e géis) e apresentam sítios doadores
de elétrons (5). PARTE EXPERIMENTAL
Estas características possibilitam a aplicação da
quitosana em diversas áreas da ciência e tecnologia. Reagentes e materiais
Ela é muito aplicada na adsorção de cotaminantes
inorgânicos e orgânicos, em sistemas de pré-concen- Quitosana (Polymar), ácido acético (Vetec), hidróxi-
tração, na liberação controlada de drogas, em catálise do de sódio (Vetec) Glutaraldeído (Vetec), Caneta esfe-
heterogênea, no desenvolvimento de novos materiais, rográfica (Bic), agulha hipodérmica 13x0,45 mm (Injex),
cosméticos etc. (6,12). Compressor de ar 12 V (Carrefour), bomba submersa
A quitosana em sua forma pó ou de flocos tem sido de aquário (Boyu).
extensivamente utilizada em processos de adsorção
de contaminantes. Porém, estas formas apresentam Confecção do sistema para
algumas desvantagens como a baixa área superficial obtenção de microesferas
e a solubilidade em meio ácido, bem como o difi-
culdade de empacotamento em sistemas em fluxo. A preparação das microesferas de quitosana foi re-
Assim, o desenvolvimento de microesferas de qui- alizada conforme adaptações do método proposto por
tosana, bem como a sua reticulação, melhoram as Rorrer e Hsien (17). O sistema de gotejamento utilizado
qualidades do material, como tem sido apresentado foi uma adaptação do sistema proposto por Dias e co-
na literatura (5,13). laboradores (5).
Na literatura, existem diversos métodos de obten- O sistema de gotejamento (Figura 1) foi construído
ção de microesferas tais como: atomização, emulsão e utilizando-se partes de uma caneta esferográfica (tubo
inversão de fase (5,14-16). Porém, os custos para a ob- externo, tubo da carga e tampa) e uma agulha de insu-
tenção de microesferas ainda é alto. Assim, a proposta lina (0,45 mm Ø; 13 mm).

Figura 1. Esquema do sistema de gotejamento

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 63


Artigo

Uma solução de quitosana 10% (m/v) foi preparada RESULTADOS E DISCUSSÃO


em ácido acético 10% (v/v) e, com o auxílio de uma
bomba de aquário, foi gotejada a um fluxo de 0,5 mL A solução de quitosana apresentou uma alta visco-
min-1 em uma solução coagulante de hidróxido de só- sidade e coloração castanha escuro. Com um fluxo de
dio 12% mantida sob leve agitação. Para a dispersão ar ideal de 5,0 mL min-1 passando pelo sistema de go-
da gota foi utilizado um fluxo de ar proveniente de um tejamento construído, Figura 3 e 4, a solução de quito-
compressor portátil de ar para pneus, como mostra a sana, ao chegar à ponta da agulha, formava gotas com
Figura 2. Em seguida, as microesferas gelificadas foram aproximadamente 1 mm de diâmetro.
enxaguadas com água deionizada até pH 7,0. Ao entrar em contato com a solução de hidróxido de
Depois de neutralizadas, as micro-esferas gelifica- sódio, a gota de solução de quitosana é neutralizada e
das foram reticuladas em uma solução 25% de glutaral- em alguns segundos a quitosana assume um formato
deído, sem agitação por 2h. Posteriormente, as micro- esférico gelificado.
esferas reticuladas foram filtradas e lavadas com água A Figura 5 mostra as imagens das microesferas re-
deionizada em excesso, para retirar qualquer resíduo ticuladas, as imagens óticas e por varredura eletrônica
de glutaraldeído não reagido. Ao término do enxágüe, mostraram que a quitosana apresentou morfologia de
as microesferas foram imersas em acetona por 2h e de- microesferas, as quais estavam muito homogêneas e
pois secas a temperatura ambiente (18,19). uniformes com diâmetro médio de 183 ± 27 µm, com-
provando o sucesso do sistema de baixo-custo para a
Caracterização das microesferas obtenção de microesferas de quitosana.
Para observar o efeito na área superficial do mate-
As imagens das microesferas foram obtidas de três for- rial a partir da organização da quitosana em microes-
mas distintas: i) utilizando uma câmera fotográfica digital feras foram realizadas isotermas de adsorção-dessor-
Sony DSC H10, ii) em um microscópio ótico trinocular aco- ção de N2, Figura 6. Todos os materiais apresentaram
plado com câmera fotográfica Vision Plus L2000C, iii) e por curvas típicas de materiais microporosos, pois se ob-
microscopia eletrônica de varredura em um microscópio serva uma total ausência de histerese, comprovando
Zeiss EVO50, com as amostras recobertas com carbono apenas a presença de poros com diâmetros inferiores
em um metalizador Bal-Tec SCD-050. a 2 nm (20). A partir da aplicação da equação de BET
As áreas superficiais das amostras de quitosana nos dados das isotermas foram obtidos os seguintes
(quitosana em pó, microesfera de quitosana sem reti- resultados para área superficial: a quitosana em pó
culação e microesfera de quitosana reticulada) foram apresentou uma área de 4,2 m2 g-1, as microesferas de
obtidas por meio da isoterma de adsorção de nitrogê- quitosana sem a reticulação apresentaram uma área
nio usando a equação de BET em um analisador Quan- superficial de 14,1 m2 g-1, e as microesferas reticula-
tachrome Nova 2200. das apresentaram uma área de 9.2 m2 g-1. O aumento

b
c

Figura 2. Esquema do sistema de obtenção das microesferas contendo uma bomba de aquário (a), um compressor de ar (b), um sistema de
gotejamento (c) e a solução de coagulação (d)

64 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


Figura 3. Imagem do sistema de obtenção das microesferas
contendo uma bomba de aquário, um compressor de ar, um sistema
de gotejamento e a solução de coagulação

 
   $     %  
Figura 4. Detalhamento dos materiais usados no sistema de
obtenção das microesferas, no qual a bomba de aquário ficou
imersa na solução de quitosana (a), e o sistema de gotejamento (b)

da área da quitosana para a microesferas deve-se ao


fato da reorganização da estrutura da quitosana em
esferas de diâmetros inferiores resultando no aumen-
to da área superficial. A reticulação das microesferas
causa uma diminuição da área devido à formação das
ligações cruzadas entre camadas, as quais bloqueiam
a passagem do gás, conseqüentemente, resultam em
uma diminuição da área superficial.
Atualmente, as microesferas têm sido obtidas por
atomização por spray-drying (14,15), os resultados ob-
tidos por essa técnica são muito bons. Porém, o custo
desse aparelho gira em torno de R$ 50 mil no merca-
Figura 5. Imagens das microesferas de quitosana reticuladas
do nacional. Alguns trabalhos propuseram o desenvol- obtidas por máquina fotográfica (a), microscópio ótico (b) e por
vimento de sistemas muito interessantes de menores microscopia eletrônica de varredura

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 65


Artigo

custos para a obtenção de microesferas de quitosana. as microesferas se apresentaram muito homogêneas


No trabalho de Luz e colaboradores (21) foi proposto com um diâmetro médio de 183 µm. Também pode ser
um sistema de atomização ultrassônica baseado em observado que a organização da quitosana em micro-
vaporizador, um forno mufla circular, e uma bomba de esferas resultou em um aumento substancial na área
vácuo. O sistema mostrou-se de excelente qualidade. superficial das mesmas.
No entanto, o custo de um forno mufla circular ainda é
alto para diversos grupos de pesquisa emergentes, o CONSIDERAÇÕES FINAIS
que está em torno de R$ 15 mil. Outro sistema muito
interessante e de baixo custo foi proposto por Rorrer O sistema desenvolvido apresenta baixíssimo custo
e colaboradores (17) e adaptado por Nascimento e co- (menos de R$ 100), o qual pode ser reproduzido em
laboradores (5). Este sistema produz as microesferas qualquer laboratório de pesquisa. O sistema mostrou-
pelo método de inversão de fase, o qual necessita de se eficiente para a obtenção de microesferas com diâ-
uma bomba peristáltica e um compressor de ar, a so- metro médio de 183 µm. A área superficial aumentou
matória dos dois equipamentos custa em torno de R$ substancialmente de 4,2 m2g-1 para 14,1 m2g-1 com a
6 mil. O sistema proposto neste trabalho usa materiais organização da quitosana em microesferas. Este sis-
de baixíssimo custo, o que permite a obtenção das mi- tema vem sendo empregado na rotina do grupo para
croesferas sem quaisquer problemas financeiros, pois a obtenção de microesferas de quitosana para serem
o sistema foi feito usando um compressor de ar de 12 V aplicadas nas mais diversas linhas de pesquisa.
para encher pneu de carro com o custo de R$ 36, uma
bomba de aquário de R$ 29, uma caneta de R$ 1, uma Agradecimentos
agulha hipodermica de R$ 0,40. Além de apresentar um
custo muito baixo, o que permite a realização da ciência A FAPDF pelo apoio financeiro, ao CNPq pelas bol-
em laboratórios menos abastados, os resultados foram sas concedidas e ao Jonas Pertusatti pelas valiosas
muito bons e condizentes com a literatura, visto que discussões e pela revisão do manuscrito.

&

J
 


9ROXPHDGVRUYLGR FP

%


 $



     
3UHVVmR5HODWLYD 33R
Figura 6. Isotermas de adsorção-dessorção de nitrogênio para as amostras: quitosana (A),
microesferas de quitosana reticulada (B) e microesferas de quitosana (C)

66 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


R efer ê ncias

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Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 67


Artigo

SÍNTESE DE BIODIESEL
EMPREGANDO ÓLEO DE ABACATE
RESUMO
Manoel Lima de Menezes*,
Luis Fernando da Silva Lopes e
O biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em motores ciclo- Juliano Passaretti Filho
diesel automotivos (de caminhões, tratores, camionetas, automóveis etc.) ou estacioná-
Departamento de Química,
rios (geradores de eletricidade, calor etc.). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel Faculdade de Ciências,
em diversas proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada Universidade Estadual Paulista –
de B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100. UNESP

Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser *Autor para correspondência
obtido por diferentes processos tais como o craqueamento, a esterificação ou pela tran- Av. Luiz Edmundo Carrijo
sesterificação. Pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais, Coube, 14-01
CEP: 17033-360
existindo dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem ser utilizadas, tais como Bauru. SP
mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja, dentre ou- E-mail: menezes@fc.unesp.br
tras. Dentro deste contexto, o desenvolvimento deste projeto de pesquisa avaliou a
potencialidade de empregar o óleo extraído de polpa de abacate na síntese de biodie-
sel. De acordo com os resultados obtidos, todos os parâmetros determinados estão
em conformidade com a ANP-42. É importante ressaltar que o biodiesel obtido com o
óleo de abacate, apresentou características muito próximas ao biodiesel obtido com o
óleo de soja, destacando-se a viscosidade cinemática, resíduo de cinzas de carbono,
ponto de fluidez e congelamento. Os métodos analíticos avaliados para efetuar a carac-
terização do biodiesel de óleo de abacate apresentaram bons resultados, permitindo a
avaliação de conformidade com a norma ANP-42, do novo produto sintetizado.

Palavras-chave: biodiesel, abacate, óleo de abacate, caracterização

SUMMARY

Biodiesel substitutes total partially or the oil diesel of oil in cars engines cychlodiesel
(of trucks, tractors, light trucks, automobiles, etc) or stationary (generating of electricity,
heat, etc). It can used pure or be mixed to diesel in diverse ratios. The mixture of 2%
of the biodiesel to diesel of oil is called B2 and thus successively, until biodiesel pure,
called B100. Biodiesel is a biodegradável fuel derivative of sources renewed, that it can
be gotten by different processes such as the craking, the esterification or for the tran-
sesterification. It can be produced from animal fats or of vegetal oils, existing sets of ten
of vegetal species in Brazil that can be used, such as castor oil plant, palm, sunflower,
peanut, tame nut and soy, amongst others. Inside of this context, the development of
this project of research evaluated the potentiality to use the extracted pulp oil of avoca-
do in the synthesis of biodiesel. In accordance with the gotten results, all the definitive
parameters are in compliance with the ANP-42. It is important to stand out that biodiesel
gotten with the avocado oil, very presented characteristics next to biodiesel gotten with
the soy oil, being distinguished it viscosity kinematics, carbon leached ashes residue,
point of fluidity and freezing. The analytical methods evaluated to effect the characteri-
zation of biodiesel of avocado oil had presented good resulted, allowing the evaluation
of conformity with norm ANP-42, and the new synthesized product.

Keywords: biodiesel, avocado, oil of avocado, characterization

68 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS

O biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo Reagentes


diesel de petróleo em motores ciclodiesel automoti-
vos (de caminhões, tratores, camionetas, automóveis, Os solventes hexano, heptano e o etanol anidro
etc) ou estacionários (geradores de eletricidade, calor (grau CLAE) foram adquiridos junto a Mallinchrodt
etc.). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em (Mallinchrodt Baker Inc., USA). Os ácidos acético,
diversas proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao clorídrico, sulfúrico, fosfórico, fosfato ácido de sódio
diesel de petróleo é chamada de B2 e assim suces- (p.a), solução de Wijs, iodeto de potássio foram ad-
sivamente, até o biodiesel puro, denominado B100. quiridos junto a Merck (Merck-E, Merck RgaA, Ger-
Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de many). Os padrões de estearato de etila,linoleato,
fontes renováveis, que pode ser obtido por diferentes palmitato de etila e oleato de etila, monoleína, dio-
processos tais como o craqueamento, a esterificação leína, trioleína, tricaprina, butanotriol e MSTFA (N-
ou pela transesterificação. Pode ser produzido a partir methyl-N-trimethylsilyltrifluoroacetamide), foram
de gorduras animais ou de óleos vegetais, existindo adquiridos junto a Sigma-Aldrich, (Sigma-Aldrich
dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem Chemical Company, USA). O óleo de abacate em-
ser utilizadas, tais como mamona, dendê (palma), gi- pregado para a obtenção do biodiesel foi extraído e
rassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja, den- purificado previamente.
tre outras (1).
Neste contexto, o abacate apresenta-se como uma Síntese do biodiesel de óleo de abacate
oleaginosa promissora para a produção de biodiesel.
O abacateiro é cultivado em quase todos os Estados A reação de transesterificação foi realizada de acor-
do Brasil. Trata-se de uma planta frutífera das mais do com o protocolo de FERRARI (5). O biodiesel obti-
produtivas por unidade de área cultivada (2). Um gran- do foi caracterizado quanto aos aspectos químicos e
de número de variedades de abacate é encontrado físicos. Os resultados obtidos foram apresentados na
nas diversas regiões do território nacional, cujos frutos Tabela 7.
apresentam composição química muito variável. Estu-
do anteriormente realizado com algumas variedades Preparação das Soluções-Padrão de ésteres de
cultivadas no Estado de São Paulo mostrou grande ácidos graxos
variação quanto aos teores de lipídeos na polpa dos
frutos (5,3 a 31,1% m/m), (3). Frutos que apresentam As soluções-padrão foram preparadas, dissolven-
altos teores de lipídeos na polpa poderão constituir- do-se quantidade conhecidas de linoleato, palmitato e
se em uma matéria-prima importante para obtenção oleato de etila, em heptano, obtendo as concentrações
de óleo. Considerando-se a quantidade de óleo que de 0,25; 0,50 e 1,0 g L-1, respectivamente.
pode ser obtida por unidade de área cultivada, a qual,
de acordo com estudos comparativos realizados por Preparação das Soluções-Padrão de glicerina,
Canto e colaboradores com algodão, amendoim e butanotriol, mnoleína, dioleína, tricaprina e
soja, é bem mais elevada do que de qualquer dessas trioleína
sementes oleaginosas cultivadas (4). Além do que, tra-
ta-se o abacateiro de uma planta perene, podendo ser As soluções-padrão foram preparadas, dissol-
cultivada em áreas de topografia acidentada, e o óleo vendo-se quantidade conhecidas de glicerina, buta-
de seus frutos apresenta interessantes características notriol, monoleína, dioleína, tricaprina e trioléina, em
químicas (2). piridina. Preparou-se 10,0 ml de uma solução con-
Enfim, dada à multiplicidade de matérias-primas tendo as seguintes concentrações de: 2,04, 4,08,
que hoje existe para a produção de biodiesel, é plausí- 8,16, 10,2 e 20,4 mg L-1 para glicerina, 5,0; 10,0;
vel dizer que somente através do conhecimento pleno 20,0; 25,0 e 50,0 mg L-1 para monooleína, dioléina
das propriedades se determinam os padrões de iden- e trioléina e, 18,5 mg.L-1 e 40,0 mg.L-1 para as so-
tidade do biodiesel no qual será possível estabelecer luções de padrões internos butanotriol e tricaprina,
parâmetros de controle. Desta forma será possível respectivamente. É importante enfatizar que estas
garantir a qualidade do produto a ser incorporado na determinações foram efetuadas de acordo com a
matriz energética nacional. norma ASTM D 6584 (6).

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 69


Artigo

Preparação das Soluções-padrão estoque de Determinação da corrossividade ao cobre a 50ºC


etanol, metanol e isopropanol
Este ensaio foi realizado em um equipamento de-
As soluções-padrão foram preparadas, dissolvendo-se nominado de Copper Strip Corrosion Apparatus, reco-
quantidade conhecidas de etanol, metanol e isopropanol mendado pela ABNT – NBR – 14359, adquirido junto a
em 10,0 mL de heptano, contendo as seguintes concen- Petrotest Instruments, GmbH & Co, Alemanha.
trações: 1,25; 2,5 e 5.0% (m/v) para o etanol e metanol res-
pectivamente. A concentração do isopropanol foi de 2,5 Determinação potenciométrica da acidez
%(m/v). Este álcool foi empregado com padrão interno de
acordo com a norma da ANP 42, usando um sistema de Esta foi realizada em um sistema potenciométrico equi-
cromatografia gasosa equipado com headspace. pado com um eletrodo de referência e um eletrodo de pra-
ta, cloreto de prata, adquirido junto a Methrohm AG (Swit-
Preparação da derivatização zerland), de acordo com a norma ABNT – NBR – 14448.
do biodiesel com MSTFA
Determinação do ponto de névoa e fluidez
Volumes de 10,0; 20,0; 40,0; 80,0 e 100 µL das solu-
ções-padrão foram transferidas para cinco vials com ca- Este ensaio foi realizado em um Mini Pour /Cloud
pacidade de 2,0 mL, 20,0 µL da solução de padrão interno Point Tester, modelo MPC-102L, adquirido junto a Ta-
contendo o butanotriol e tricaprina, seguido pela adição de naka Scientific Limited, Japan. Esta determinação foi
100,0 µL de MSTFA. Estas misturas foram mantidas sob realizada de acordo com a norma ANP – 42.
agitação por 20 minutos, em temperatura ambiente. Após
este tempo os volumes foram completados para um mL Determinação da viscosidade cinemática a 40ºC
com heptano, seguido pela injeção 1,0 µL de cada solu-
ção-padrão no cromatográfo gasoso. Este ensaio foi realizado de acordo com a norma
ABNT-NBR-10441, com auxílio de um viscosímetro
INSTRUMENTAÇÃO digital, adquirido junto à Quimis Aparelhos Científicos
Ltda, São Paulo.
Sistema de cromatografia gasosa

Para efetuar a determinação dos ésteres de ácidos


graxos, glicerina livre, monoleína, dioleína, trioleína e
etanol foi empregado um sistema de cromatografia ga- Tabela 1. Condições cromatográficas empregada para a separação
dos ésteres de ácidos graxos presentes no biodiesel de óleo abacate
sosa, equipado com headspace, autosample, detector
de ionização de chama, uma coluna Elite-Wax (30m x Parâmetros cromatográficos
0,25mm DI x 0,25μm), injetor split/splitless e headspa-
Equipamento CG - Clarus 600, Perkin Elmer
ce para a determinação de etanol. A determinação dos
ésteres graxos e os demais componentes foram efe- ZB-5HT (15m x 0,32mm x
Coluna capilar 0,25μm), com um guard column
tuados com injeção on-colunm-PSSO, em uma coluna de 5 m
cromatográfica Elite -5HT de 32 m (DI 0,32mm x 0,25µm
Gás de arraste Nitrogênio (2,0 mL min-1)
de filme), conectada a uma coluna de proteção de 5m
x 0,53mm DI. E seringa de injeção com capacidade de Modo de injeção On column-PSSO
5µL com agulha de 0,47mm DI. O sistema de cromato- Volume de injeção 1 µl
grafia gasosa modelo Clarus 600, foi adquirido junto a
Detecção Ionização de chama
PerkinElmer, (Waltham, MA, USA).
Temperatura detector 380ºC
Determinação do ponto de fulgor Temperatura injector
Programável de acordo com a
programação do forno.
Este ensaio foi realizado em um equipamento de 50ºC/1min, 15ºC/min a 180ºC,
programação do forno 7ºC/min a 230ºC. 30ºC/min a
determinação de Ponto de Fulgor recomendado pela
380ºC/4,20min
norma ABNT – NBR – 14598, adquirido junto a Quimis
Tempo final 26 min
Aparelhos Científicos Ltda, São Paulo.

70 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


Determinação do teor de resíduo de carbono A otimização cromatográfica empregada para efetu-
ar a determinação dos ésteres de ácidos graxos, pre-
Este ensaio foi realizado em um “Micro Carbon Resi- sentes em óleo de abacate foi realizada de acordo com
due Tester”, adquirido junto à Tanaka Scientific Limited, as condições cromatográficas apresentadas na Tabe-
Japan. Esta determinação foi realizada de acordo com la 1, empregando à técnica de padrão externo. Após
a norma ASTM B – 4530. a injeção de 1 µL das soluções-padrão de ésteres de
ácidos graxos, estes permitiram calcular as equações
MÉTODOS de reta e os respectivos coeficientes angulares, como
poder observado na Tabela 6.
Determinação potenciométrica do índice acidez
Condições cromatográficas para a determinação
Este ensaio foi realizado em conformidade com a dos teores de etanol e metanol presentes no
norma ANBT – NBR – 14448. O resultado obtido está biodiesel de óleo abacate
apresentado na Tabela 7, (7).
A otimização cromatográfica empregada para efe-
Determinação do índice de iodo (Método de Wijs) tuar a quantificação de etanol presente no biodiesel foi
realizada de acordo com as condições cromatográficas
Este ensaio foi realizado de acordo com a norma EN apresentadas na Tabela 2, empregando a técnica de
14111. O resultado obtido está apresentado na Tabela 7, (7). padrão externo com auxílio do headspace. Após a inje-
ção de 20 µL dos vapores das soluções-padrão de eta-
Determinação de cinzas sulfatadas nol e metanol, estes permitiram calcular as equações
de reta e os respectivos coeficientes angulares, como
Este ensaio foi realizado de acordo com a norma da poder observado na Tabela 4.
ABNT NBR – 6294. O resultado obtido está apresenta-
do na Tabela 7.
Tabela 2. Condições cromatográficas empregadas para determinação
Determinação da massa específica de etanol presentes no biodiesel de óleo abacate

Parâmetros cromatográficos
Este ensaio foi realizado empregando um densíme-
tro de vidro com auxílio de uma proveta de 100mL. O CG – Headspace - Clarus
Equipamento
600, Perkin Elmer
resultado obtido foi apresentado na Tabela 7.
Elite Wax (30mm x 0,25mm
Coluna capilar
x 0,25μm) polietileno glycol
Determinação de água e contaminação total
Gás de arraste Nitrogênio (1,0 mL min-1)

Este ensaio foi realizado de acordo com a norma Modo de injeção Split 1:20
ASTM D 6304, onde uma alíquota de 15mL da amostra Volume de injeção 1 μL
de biodiesel foi submetida a centrifugação a 4000 RPM
Detecção Ionização de chama
por 20 minutos. O resultado obtido está apresentado
na Tabela 7. Temperatura detector 300ºC
Temperatura injector 120ºC
Avaliação do Aspecto
Temperatura isotérmica 70ºC/3min

Uma amostra de biodiesel foi transferida para uma Programação de temperatura do Headspace
proveta de vidro e de 250 ml e está foi observada quan- Agulha 120ºC
to ao aspecto físico e quanto a presença ou não de ma- Temperatura de transferência 120ºC
terial particulado. O resultado obtido foi apresentado na
Temperatura do do forno 77ºC
Tabela 7.
Tempo de termostatização 20 min
Condições cromatográficas para determinação Pressurização 20 psi/2min
dos ésteres de ácidos graxos, presentes no
Volume de injeção 20µL
biodiesel de abacate

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 71


Artigo

Condições cromatográficas para a determinação Tabela 4. Curvas analíticas obtidas para a determinação de etanol e
metanol presentes na amostras de biodiesel
dos teores de glicerina livre, monoleína, dioleína
e trioleína presentes no biodiesel de abacate Componente Curva Analítica R2

A otimização cromatográfica empregada para a Etanol Y= 5033,865 + 2198713,30X 0,9945


quantificação dos componentes presentes no biodiesel
Metanol Y= 898993,907 + 1824681,4X 0,9897
de óleo de abacate foi realizada de acordo com as con-
dições cromatográficas apresentadas na Tabela 3, em-
pregando a técnica de padrão externo. Após a injeção Tabela 5. Equações das curvas analíticas obtidas para os
componentes determinados em amostras de biodiesel
de 1 µL das soluções-padrão de glicerina, monoleína,
dioleína e trioléína, estes permitiram calcular as equa- Componente Curva Analítica R2
ções de reta e os respectivos coeficientes angulares, Glicerina Y= 1715,50 + 19045,00X 0,9996
como poder observado na Tabela 5.
Monooleína Y= -6726,36 + 8596,89X 0,9992
Dioleína Y= -13037,77 + 6782,22X 0,9929
Tabela 3. Condições cromatográficas empregada para a determinação Trioleína -11719,76 + 3175,53X 0,9838
dos teores de monooleína, dioleína, trioléina e glicerina presentes no
biodiesel de óleo abacate

Parâmetros cromatográficos
Equipamento CG - Clarus 600, Perkin Elmer o aspecto do óleo de abacate fosse límpido, mas não
ZB-5HT (15m x 0,32mm x 0,25μm), foi possível observar mudanças na coloração no início
Coluna capilar
com guard column de 5m. e término da reação. O biodiesel obtido apresentou-se
Gás de arraste Nitrogênio (2,0 mL min-1) límpido e com uma coloração esverdeada, caracterís-
tica do óleo de abacate. De acordo com os resultados
Modo de injeção On column-PSSO
obtidos na determinação dos ésteres formados, pode-
Volume de injeção 1 μL se inferir que a reação ocorreu com um rendimento de
Detecção Ionização de chama 84%. Cabe ressaltar que a coloração observada não
Temperatura detector 380ºC
resultou em aumento nos teores de cinzas sulfatadas e/
ou teor de resíduo de carbono, como pode ser obser-
Programável de acordo com a
Temperatura injector
programação do forno
vado na Tabela 7.
50ºC/1min, 15ºC/min a 180ºC,
programação do forno 7ºC/min a 230ºC. 30ºC/min a Otimização cromatográfica para a determinação
380ºC/4,20min dos teores de etanol e metanol presentes no
Tempo final 26 min biodiesel de óleo de abacate

A quantificação do etanol presente no biodiesel foi


RESULTADOS E DISCUSSÃO efetuada empregando o auxílio do headspace, com
calibração externa. O emprego de 1,0 mL da amostra
Obtenção do biodiesel a partir de óleo de abacate simplificou a metodologia analítica, uma vez que não
observou-se efeito de matriz. A temperatura de 70ºC
De acordo com os relatos de alguns pesquisadores, e tempo de termostatização de 20 minutos foram sufi-
o tempo reacional para realizar a reação de transesterifi- cientes para ocorrer os equilíbrios entre a fase gasosa e
cação, empregando o óleo de soja é muito rápido. Pois, a matriz de biodiesel. A Figura 1 apresenta a o croma-
a conversão de ésteres etílicos atinge o seu valor má- tograma obtido após a injeção de 20 µL de vapores da
ximo com apenas 10 minutos de reação, estabilizando- amostra de biodiesel.
se em um tempo entre 20 a 30 minutos. No caso da sín- Observando-se o coeficiente de correlação (r2 = 0,9945),
tese do biodiesel de soja, pode se observar a variação apresentado na Tabela 4, permite inferir que o método
de coloração quando inicia e quando termina a reação, apresentou uma excelente linearidade.
(5,8). Na reação de transesterificação, empregando o De acordo com a Figura 3, observou-se que as de-
óleo de abacate e álcool etílico anidro, fixou-se o tem- terminações de etanol ou metanol foram efetuadas sem
po de 60 minutos e uma temperatura de 60ºC. Embora interferentes.

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400

350

300

250

200

150

100

50

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2.0 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9
Tempo (min)

Figura 1. Cromatograma obtido após a injeção de 20 µL de vapores de uma amostra de biodiesel, para a determinação de álcool empregando o
headspace. Os picos 1, 2 e 3 são referentes ao metanol, isopropanol e etanol respectivamente

950
900
850
800
750

700
650

600
550
500 5
450
400
350
300 3
250
200
6 7 8
150
1 2
100

50 9
4
0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Tempo (min)

Figura 2. Cromatograma obtido após a injeção de 1,0 µL de uma solução- padrão contendo os seguintes componentes de acordo com os picos
cromatográficos: 1- glicerina, 2-butanotriol (padrão interno), 3-palmitato de etila, 4-oleato de etila, 5-linoleato de etila, 6- monooleína, 7- tricaprina
(padrão interno), 8- dioleína e 9- trioleína

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 73


Artigo

Otimização cromatográfica para a determinação xos, monoglicerídeos, diglicrídeos e triglicerídeos, estes


dos teores de glicerina livre, monooleína, dioléina e não são vaporizados na forma inatura, dentro da coluna
trioleína presentes no biodiesel de óleo de abacate cromatográfica, por possuírem pontos de ebulição rela-
tivamente altos. Neste caso, a injeção de uma amostra
Estas determinações foram realizadas empregando a de biodiesel na coluna cromatográfica ZB –5HT, sem a
técnica de injeção on column-PSSO, para garantir a deter- prévia derivatização com MSTFA, poderia ocorrer adsor-
minação de todos os componentes presentes na amostra. ções irreversíveis na coluna cromatográfica, diminuindo
Para empregar está técnica foi necessário diluir o biodiesel a sua eficiência de separação e conseqüentemente al-
em solvente, afim de não saturar a coluna. Este processo terando os tempos de retenções dos componentes em
permitiu a análise de todos os componentes de interesse, estudo. Objetivando evitar danos maiores à coluna cro-
uma vez que o solvente não coeluiu com o álcool e com a matográfica, minimizar o consumo do reativo MSTFA e
glicerina (9). Nestas determinações, após a derivatização empregar a mesma coluna cromatográfica empregada
com MSTFA, as soluções-padrão, bem como as amostras para as determinações de monooleína, dioleína e triole-
foram diluídas com heptano. A injeção on column a frio ína, nas determinações dos ésteres de ácidos graxos,
(60ºC), com a temperatura do injetor programável, permitiu fez-se necessário otimizar esta metodologia analítica. É
a eluição de todos os compostos, evitando que ocorresse importante ressaltar que a coluna cromatográfica Elite
a decomposição de algum componente a ser determinado. Wax é específica para as determinações de ésteres de
A eluição da glicerina e butanotriol (padrão interno), ácidos graxos. Neste caso, para empregar a coluna cro-
ocorreram em 5,6 e 6,3 minutos, e os demais componentes matográfica (ZB-5HT) nas determinações de ésteres de
monooleína, dioléína e tricaprina e trioléina foram eluidos ácidos graxos presentes no biodiesel, fez se necessário
em 17,7; 19,7; 21,08 e 24,01minutos, respectivamente. As preparar uma nova curva de calibração com concen-
Figuras 2 e 3 apresentam os cromatogramas obtidos após trações de ésteres variando de 0,2 a 1,0 g.L-1 e, efetuar
a injeção de 1,0 µL se solução-padrão seguido pela inje- a diluição 1/100, da amostra previamente derivatizada
ção de 1,0 µL da amostra de biodiesel em estudo. com MSTFA. Este procedimento foi realizado para ga-
A Tabela 6 apresenta as equações de reta para a glice- rantir que não haveria adsorções irreversíveis na referi-
rina, monooleína, dioleína e trioléina, obtidas após a obten- da coluna cromatográfica de diferentes componentes
ção da curva analítica. presentes na amostra. Estas determinações foram rea-
lizadas empregando as programações de temperaturas
e técnica de injeção como descritas na Tabela 1.
Tabela 6. Equações das curvas analíticas obtidas para os As Figuras 4 e 5 apresentam os cromatogramas
componentes determinados em amostras de biodiesel
obtidos após a injeção de 1,0 µL da solução-padrão
Componente Curva Analítica R2 dos ésteres de ácidos graxos (palmitato, linoleato e
Linoleato de etila Y= 8371,64 + 800087,09X 0,9972 oleato de etila), e após a injeção 1,0 µL da amostra
derivatizada com MSTA diluída 1/100. Como podem
Oleato de etila Y= 3630,88 + 451457,04X 0,9976
ser observadas, as determinações foram efetuadas
Palmitato de tila Y= 12442,03 + 880616,59X 0,9969 sem a presença de interferentes e os picos obtidos
estão bem definidos. Pode-se observar também que
os resíduos de monooleína, dioleína e tricaprina fo-
De acordo com as equações de retas obtidas e os ram eluidos da coluna cromatográfica. A trioleína não
respectivos coeficientes de relação (r2), apresentados foi detectada devida a diluição da amostra efetuada
na Tabela 5, permite inferir que o método cromatográ- previamente.
fico otimizado mostrou-se adequado para efetuar as A Tabela 6 apresenta as equações das curvas
determinações destes componentes, de acordo com a analíticas, obtidas para os ésteres de ácidos graxos
norma ABNT-NBR – 15341 e 15344. presentes no biodiesel de abacate. De acordo comas
equações das curvas analíticas e os respectivos co-
Otimização cromatográfica para a determinação eficientes de correlação (r2), apresentados na Tabela
dos ésteres de ácidos graxos presentes no 6, permite inferir que esta metodologia mostrou-se
biodiesel de óleo de abacate adequada para efetuar as determinações quantitativas
dos ésteres de ácidos graxos presentes em amostras
Considerando-se que em uma amostra de biodiesel, de biodiesel de óleo de abacate, em conformidade
eventualmente poderá haver a presença de ácidos gra- com a norma ANP 42.

74 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


3 5 7

450

400

350 6

300

250

200

8
150

100

50 2
9
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Tempo (min)

Figura 3. Cromatograma obtido após a injeção de 1,0 µL de uma amostra de biodiesel contendo os seguintes componentes de acordo com os
picos cromatográficos: 1- glicerina, 2-butanotriol (padrão interno), 3-palmitato de etila, 5-linoleato de etila, 6- monooleína, 7- tricaprina (padrão
interno), 8- dioleína e 9- trioleína. A Tabela 6 apresenta as equações de reta para a glicerina, monooleína, dioleína e trioléina, obtidas após a
obtenção da curva analítica

240

220

200

180

1
160
3
140

120

100

80 2

60

40

20

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Figura 4. Cromatograma obtido após a injeção de 1,0 µL de uma solução-padrão contendo os ésteres palmitato
de etila (1), oleato de etila (2) e limoleato de etila (3)

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 75


Artigo

450

400
1

350

300

250

200

150

100

50 3
4 5

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Figura 5. Cromatograma obtido após a injeção de 1,0 µL de amostra de biodiesel derivatizada com MSTFA, diluída 1/10. Os picos 1, 2, 3, 4 e 5
correspondem ao palmitato, linoleato de etila, monooléina tricaprina e dioleína, respectivamente

Especificação do biodiesel de óleo de abacate densidade e a temperatura máxima de destilação de


50% (v/v) do biodiesel, pode-se inferir que pode ter
As características de qualidade do biodiesel obti- ocorrido uma variação na medida desta temperatu-
do foram apresentadas na Tabela 7, onde os parâme- ra, uma vez que o termômetro empregado não foi
tros determinados foram comparados com a especi- aferido, bem como a pressão de da bomba de vácuo
ficação da ANP-42/ Resolução nº 7 de 19/03/2008 e empregada.
o biodiesel obtido com óleo de soja (10). Quanto ao resíduo de carbono, que representa a
O número de cetano representa uma propriedade tendência de formar carvão na câmara de combus-
importante do diesel automotivo e seu aumento ge- tão (11), pode se dizer que este é um parâmetro de
ralmente resulta em redução da emissão pela exaus- grande importância na análise de combustíveis, pois
tão, diminuindo o consumo de combustível e redu- há uma correlação entre o conteúdo de carbono do
zindo o barulho do motor (9). Como as equações, combustível e a formação de depósitos no injetor
para predizerem o número de cetanos não se aplica (12). Como pode se observar no biodiesel obtido a
ao biodiesel, um parâmetro alternativo adotado para partir de óleo de abacate, os valores são inferiores
o biodiesel é o índice de cetano, calculado a par- aos valores recomendados pela ANP-42. É impor-
tir da equação [IC=454,74 –1641,416D + 774,74D2 tante salientar que a presença de clorofila, caracte-
– 0,554B + 97,803 (logB)2], onde D é a densidade do rística esverdeada do referido biodiesel, não propor-
biodiesel e B a temperatura da destilação de 50% cionou alterações neste parâmetro.
do produto em ºC. Observa-se que o valor obtido Os teores dos ésteres etílicos de ácidos graxos
foi de 37 e, o índice de cetano pela ANP-42 sugere do biodiesel produzido, apresentados na Tabela 7,
apenas anotar. Considerando-se que este cálculo foi são maiores de 96,5% (m/m), como recomendado
efetuado levando-se em consideração os valores de pela norma ANP-42. As quantidades determinadas

76 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


Tabela 7. Resultados obtidos nas determinações ensaiadas para o biodiesel de óleo abacate, comparados com resultados de biodiesel de óleo
soja e a Norma ANP-42/ Resolução:(Resolução nº 7 de 19/03/2008 – DOU – 20/03/2008)

Limite Biodiesel
Característica Unidade
ABNT/NBR Abacate Soja5,28
Aspecto - LII (1) Límpido Límpido
863,7
Massa específica a 20°C kg/m3 850 - 900 877

Viscosidade Cinemática a 40ºC km2/s 3,0 – 6,0 4,8 5,0


Teor de Água Max. (2) mg/kg 500 ND ----
Contaminação Total máx. mg/kg 24 ND ------
Ponto de Fulgor, mín. (3) ºC 100,0 179 170
Teor de éster, mín. % massa 96,5 99,3 97,5
Resíduo de Carbono (6) % massa 0,050 0,0014 0,14
Cinzas sulfatadas, Max. %massa 0,020 0,001 0,006
Enxofre total,Max. mg/kg 50 ----- 75,0
Sódio + Potássio, Max. mg/kg 5 ----- ---
Cálcio + Magnésio, Max. mg/kg 5 ----- ----
Fósforo, Max. mg/kg 10 ------ -----
Corrosividade ao cobre, 3h a 50ºC, Max. ----- 1 1 -------
Número de Cetano (7) ---- Anotar 38 57,8
Ponto de entupimento de filtro a frio, Max. ºC 19 (9) ----- ----
Ponto de névoa e fluides ºC Anotar 14 e -2,0 ----
Índice de acidez, Max. mg KOH/g 0,50 0,82 0,5
Glicerol livre, Max. %massa 0,02 0,005 0,0109
Glicerol total, Max. %massa 0,25 0,625 ---
Mono, Di, tricilglicerol (7) % massa Anotar 0,62 ---
Metanol ou Etanol, Max. %massa 0,20 0,0001
Índice de iodo (7) g/100g Anotar 99,63 104,4
Estabilidade à oxidação
H 6 --------
a 110ºC, min. (2)

dos ésteres no biodiesel de óleo de abacate somam ferentes espécies. No caso do óleo de abacate pre-
98% (m/m), sendo que 28% (m/m) referem-se ao domina-se a presença de ácidos oléico e palmítico
palmitato de etila, originado de ácidos graxos satu- e, no óleo de soja a ocorrência dos ácidos linoleíco e
rados. palmítico são mais pronunciados. Os resultados de-
Claramente pode-se observar que os resultados monstram que os produtos obtidos não diferem em
são muito semelhantes, comparando-se o biodiesel sua qualidade como poderia de se esperar, uma vez
obtido a partir de óleo de abacate e biodiesel sinte- que tratam se de óleos vegetais de espécies diferen-
tizado a partir do óleo de soja. Pequenas diferenças tes de oleaginosas.
são encontradas, possivelmente devido à diferença De acordo com os valores determinados de glicerina
na composição de ácidos graxos existentes nas di- livre, bem como os teores de ésteres e os demais parâ-

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 77


Artigo

metros apresentaram-se em conformidade com a ANP- CONCLUSÕES


42, porém o teor de glicerina total e a acidez, observou-
se valores acima do determinado pela ANP-42. Neste Considerando-se as reais necessidades nacio-
caso o mais adequado será efetuar uma avaliação do nais, na busca de novas fontes energéticas para a
tempo para realizar a reação de transesterificação e produção de biocombustíveis renováveis e sustentá-
efetuar mais uma vez a lavagem do biodiesel de óleo veis, o desenvolvimento deste projeto de pesquisa,
de abacate. De acordo com os resíduos de glicerina, permitiu concluir que:
traços de álcool, bem como os demais parâmetros de-
terminados, cujos, valores estão em conformidade com • O óleo de abacate apresentou como uma excelen-
a ANP-42, pode-se inferir que as metodologias empre- te matéria-prima para a obtenção do biodiesel,
gadas, segundo o protocolo de FERRARI (5), são ade- • As propriedades físico-químicas dos produtos
quadas para realizar a síntese deste produto. obtidos estão em conformidade com a ANP-42,
Os teores de fósforo, enxofre, sódio e a estabili- na maioria dos parâmetros determinados,
dade a oxidação a 110ºC, não foram avaliados, mas • O tratamento dos resíduos, tais como o caroço
os demais parâmetros avaliados estão em conformi- de abacate, permitiu a obtenção de álcool etílico,
dade com a norma da ANP-42. Assim, pode-se dizer como uma segunda matéria-prima para a obten-
que a similaridade encontrada entre os parâmetros ção do biodiesel.
obtidos no biodiesel de óleo de abacate, comparado
aos parâmetros do biodiesel de óleo de soja, conclui- AGRADECIMENTOS
se que o biodiesel obtido a partir do óleo de abacate
é mais um produto que poderá somar as matrizes Os autores agradecem a FAPESP pelo suporte fi-
energéticas nacional. nanceiro.

R e f er ê ncias

1. http://www.biodiesel.gov.br/, acessado em 10/11/2009.

2. TANGO, J.S.; TURATTI, J.M. Óleo de abacate. In: ABACATE – cultura, matéria-prima, processamento e aspectos econômicos. Campinas:
ITAL,. p. 156-192.,1992.

3. TANGO, J.S.; COSTA, S.I.; ANTUNES, A.J.; FIGUEIREDO, I.B. Composition du fruit et de l’huile de différentes variétés d’avocats cultivés
dans l’Etat de São Paulo, Fruits, Paris, v. 27, p. 143-146, 1972.

4. CANTO, W.L.; SANTOS, L.C.; TRAVAGLINI, M.M.E. Óleo de abacate: extração, usos e seus mercados atuais no Brasil e na Europa.
Estudos Econômicos. Campinas: ITAL, 1980. 144p. (Alimentos Processados, 11)

5. FERRARI, R.A; OLIVEIRA, S.V; SCABIO, A; Quim.Nova. 28(1), 19-23, 2005.

6. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Resolução ANP- nº7, de 19/03/2008, DOU 20/03/2008, Consulta ao site:
www.petrobras.com.br, em 27/09/2008.

7. Standard test method for determination of free and total glycerin in B-100 biodiesel methyl esters by chromatography, ASTM – Designation: D
6584-00, Annual Book of ASTM Standards, 2005.

8. AOCS,1999,Brasil,2005,http://www.fcf.usp.br/Ensino/Graduacao/Disciplinas/Exclusivo/Inserir/Anexos/LinkAnexos/Aula%20Lipides%20
2007.pdf.

9. SERDARI, A; EURIPIDES, L; STOURNAS, S. Ind. Eng. Chem. Res. 38, 3543, 1999.

10. REZENDE, D.R; ALVES, M.I.R; FILHO, A.R.N. Biodiesel

11. DORADO, M.P; BALLESTEROS, E; ARNAL, J.M; GÓMEZ, J; JIMENEZ, F.J.L. Energy Fuels. 17, 1560, 2003.

12. FREEDMAN, B; PRYDE, E.H; MOUNTS, T.L. J. Am. Oil Chem. Soc. 61, 1638, 1984.

78 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


CONSUMO DE CORANTES ARTIFICIAIS
EM BALAS E CHICLETES POR CRIANÇAS
DE SEIS A NOVE ANOS
RESUMO
Ana Paula da Silva Oliveira,
Gabriela Ferreira Jacques,
Um questionário foi elaborado com o objetivo de identificar as balas e chicletes Vinicius Vaz Cabral Nery e
mais consumidos, suas respectivas marcas e os corantes nestes utilizados, Shirley Abrantes*

por crianças de 6 a 9 anos, no período de uma semana. Este questionário foi INCQS-FIOCRUZ
aplicado em escolas particulares, considerando a norma de amostragem por
atributos ISO 2859-1 (NBR 5426). Foi escolhido o bairro de Del Castilho no *Autora para correspondência:
Av. Brasil, 4.365
Município do Rio de Janeiro. Das 12 escolas foi feita a amostragem representa- CEP: 21045-900
tiva de três escolas, contabilizando 640 questionários distribuídos, deste total Rio de Janeiro. RJ
Shirley.abrantes@incqs.fiocruz.br
somente 51 foram respondidos corretamente. Considerando os dados obtidos,
os corantes: vermelho 40, azul brilhante, indigotina e amarelo crepúsculo são
os corantes mais presentes nas balas e chicletes e que 88% das crianças con-
somem mais de 35 balas por semana e 45% consomem aproximadamente 20
chicletes por semana.

Palavras-chave: corantes artificiais, crianças, inquérito

SUMARY

A questionnaire was developed to identify the most consumed candy and


chewing gum, their markings and colors used in, for children 6 to 9 years in
the period of one week. This questionnaire was applied to private schools, was
used the standard sampling by attributes ISO 2859-1 (NBR 5426). Del Castilho
neighborhood was chosen in Rio de Janeiro. A representative sample of three
schools was sampled from twelve schools, 640 questionnaires were distribu-
ted, a total of 51 were answered correctly. Considering the data obtained, the
colors: allura red A C, brilliant blue FCF, indigotine and sunset yellow are pre-
sent in most candies and chewing gum and that 88% of children consume more
than 35 candies per week and consume about 45% 20 gums per week.

Keywords: artificial coloring, children, investigation

INTRODUÇÃO

A cor é associada a muitos aspectos da vida e in- nos alimentos e bebidas, seja na forma natural ou ar-
fluencia bastante as decisões do dia-a-dia, incluindo tificial.
aquelas que envolvem os alimentos. A aparência e as A prática de colorir alimentos vem dos povos anti-
características sensoriais de um alimento na hora da gos. Egípcios retiravam da natureza substâncias, como
compra é o que determina se o consumidor irá ou não especiarias e condimentos, para essa finalidade (PRA-
levá-lo. Portanto se pode afirmar que a aceitabilidade DO, 2003).
dos alimentos é diretamente afetada pela cor e por esse Muitos alimentos industrializados originalmente
motivo cresce cada vez mais a utilização de corantes não apresentam cor, em outros casos, a coloração é

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 79


Artigo

alterada ou destruída durante o processamento e/ou intensas e muitas vezes são menos onerosos (UFRGS,
estocagem. Sem valor nutritivo, os corantes são uma 2004).
classe de aditivos, introduzidos nestes alimentos com Muitos estudos vêm tentando demonstrar as razões
o intuito de conferir, intensificar, restaurar e/ou unifor- adversas que os corantes podem causar assim o mo-
mizar sua cor, tornando estes mais atrativos (FIOCRUZ, nitoramento dos teores destes em alimentos tem con-
2005). Aditivos são substâncias químicas adicionadas tinuamente contribuído para alertar o consumo cons-
aos alimentos para proporcionar determinadas carac- ciente desses produtos (PRADO, 2003)
terísticas aos mesmos. Dentre os aditivos permitidos e No Brasil, a regulamentação do uso de aditivos
utilizados nos alimentos os corantes oferecem um fator para alimentos, inclusive corantes, é de competência
determinante para induzir o consumidor a adquiri-los. da ANVISA.
Os alimentos vistosos introduzem um conceito de que O decreto nº 50.040 de 24 de janeiro de 1961, do
alimentos coloridos, atraentes só podem ser deliciosos Ministério da Saúde, foi a primeira norma técnica de
(PRADO, 2007). Em geral, a importância da aparência regulamentação do emprego de aditivos químicos em
do produto para sua aceitabilidade é a maior justificati- alimentos. Esta determina quais os alimentos em que
va para emprego de corantes. Entretanto, a única fun- podem ser empregados cada corante e seus limites
ção dos corantes alimentares é conferir cor ao alimento máximos permitidos. O artigo nono descreve que os
não oferecendo nenhum valor nutritivo a este. corantes tolerados para serem introduzidos na fabri-
Apesar da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância cação de alimentos e bebidas são: corantes naturais,
Sanitária) permitir o uso dos corantes artificiais, estes caramelos e corantes artificiais (BRASIL, 2009 1º).
têm como matéria prima a anilina que possui um grande Na resolução nº 44/77 da CNNPA (Comissão Nacio-
potencial carcinogênico já estabelecido, portanto, faz- nal de Normas e Padrões para Alimentos), do Ministério
se necessário o controle da utilização desses corantes da Saúde (BRASIL, 2009 2º), os corantes permitidos
no alimento uma vez que a maioria dos alimentos colo- para uso em alimentos e bebidas são classificados da
ridos é destinada as crianças e não é raro o relato de re- seguinte forma:
ações alérgicas sofridas por estas substâncias. Como a) Corante Orgânico Natural – aquele obtido a partir de
exemplo pode-se citar a tartrazina que causa alergia vegetal, ou eventualmente, de animal, cujo princípio
a algumas crianças (CUNHA, 1998). De acordo com a corante tenha sido isolado com emprego de proces-
pesquisa feita pelo pesquisador Stevenson et al. (2007), so tecnológico adequado.
crianças hiperativas, submetidas à administração de b) Corante Orgânico Sintético – obtido por síntese or-
corantes artificiais durante cinco dias, mostraram pre- gânica mediante o emprego de processo tecnológi-
juízo no desempenho em testes de aprendizados. co adequado.
A manutenção da cor natural no alimento constitui- b.1) Corante artificial – é o corante orgânico sintético
se em um fator fundamental para o comércio do produ- não encontrado em produtos naturais.
to, em face da primeira avaliação do consumidor. Antes b.2) Corante sintético idêntico ao natural – é o co-
do paladar os alimentos coloridos seduzem as pessoas rante orgânico sintético cuja estrutura química
pela visão (PRADO, 2007). é semelhante à do princípio ativo isolado
A aceitação do produto pelo consumidor é sem de corante orgânico natural.
sombra de dúvida o maior motivo que faz as indústrias c) Corante Inorgânico – aquele obtido a partir de subs-
alimentícias a usarem corantes. Essa prática vem au- tâncias minerais e submetido a processos de elabo-
mentando cada vez mais, para ocultar a falta de cor em ração e purificação adequados a seu emprego em
alimentos industrializados, e também para minimizar as alimentos.
alterações ou destruição da coloração que pode ocor- d) Caramelo – o corante natural obtido pelo aqueci-
rer durante o processamento e/ou estocagem (ALVES, mento de açúcares à temperatura superior ao ponto
2004). Porém o uso indevido desses corantes pode de fusão.
mascarar ou disfarçar o consumo de alimentos mal pro- e) Caramelo (processo amônia) - é o corante sintético
cessados ou deteriorados (PRADO, 1998). idêntico ao natural obtido pelo processo amônia,
A preferência pelo uso de corantes artificiais é de- desde que o teor de 4-metil, imidazol não exceda no
finida pelas vantagens apresentadas em relação aos mesmo a 200 mg/kg (duzentos miligramas por quilo).
naturais, pois estes são sensíveis a luz, ao calor, ao oxi- Atualmente, a legislação brasileira, permite apenas
gênio ou a ação das bactérias. Consequentemente não o uso de onze corantes artificiais, sendo eles: amaranto,
são estáveis. Além disso, os sintéticos propiciam cores amarelo crepúsculo, azorrubina, azul brilhante, azul pa-

80 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


tente V, eritrozina, indigotina, ponceau 4R, verde rápido, • Categoria CI – Dispõem de dados detalhados relativos
vermelho 40 e tartrazina. O uso permitido desses corantes a ensaios em animais com relação à toxidade prolon-
artificiais não anula a possibilidade de efeitos adversos à gada.
saúde. • Categoria CII – Não existe dados relevantes sobre a to-
A resolução 387, de 05 de agosto de 1999, do Minis- xidade prolongada
tério da Saúde, aprova o regulamento técnico que esta- • Categoria CIII – não dispõem de dados que indiquem a
belece o uso de aditivos alimentares, descriminando suas possibilidade de efeitos prejudiciais.
funções, a ingestão diária aceitável (IDA) e seus limites má- • Categoria D - não dispõem de dados sobre sua toxi-
ximos para a categoria de alimentos 5: balas, confeitos, dade.
bombons, chocolates e similares (BRASIL, 2009 4ºa). • Categoria E – São prejudiciais e não devem ser usados
Na Tabela 1 estão descritos os nomes comerciais, os em alimento, como os corantes amarelo sólido, azul in-
códigos de identificação utilizados no Brasil, a cor referente dantreno, laranja GGN, vermelho sólido e escarlate GN
a cada corante, a ingestão diária aceitável segundo a FAO que tiveram seus usos banidos pela portaria nº 02 de
(Food and Agriculture Organization) e a OMS (Organização 1987 do Ministério da Saúde.
Mundial da Saúde) e os limites máximos permitidos para Na Tabela 2 encontram-se descritos os nomes dos
balas, confeitos, bombons, chocolates e similares descrito corantes artificiais permitidos, sua origem, sua aplicação,
na resolução nº 387 do Ministério da Saúde. suas vantagens e desvantagens e seus possíveis efeitos
Segundo a ANVISA é considerado corante toda a adversos em relação à saúde.
substância que confere ou intensifica a cor dos alimentos O objetivo deste trabalho é de avaliar o uso de coran-
(BRASIL, 2009 1º). Os corantes artificiais são obtidos atra- tes artificiais em balas e chicletes mais consumidos por
vés de síntese orgânica, estes não são encontrados em escolares de seis a nove anos na região norte do municí-
produtos naturais (BRASIL, 2009 2º). Suas principais van- pio do Rio de Janeiro e reunir informações a respeito dos
tagens em relação aos corantes naturais são: estabilidade, benefícios e malefícios do uso dos corantes artificiais em
melhor poder fixação nos alimentos e menor custo, pelo relação à saúde.
seu preço direto e também por necessitar de uma menor
dosagem devido a sua intensa cor (PRADO, 2003). MATERIAL E MÉTODOS
Segundo Carvalho (2005) os corantes artificiais podem
ser classificados nas seguintes categorias: Material
• Categoria A – uso permitido em alimentos.
• Categoria B – são corantes que dispõem de poucos Questionário desenvolvido pela equipe de pes-
estudos para incluí-los na categoria A. quisa do setor de Migrantes Orgânicos do Instituto

Tabela 1. Nomes, cor, IDA e limites máximos dos corantes artificiais

IDA
Nome Código Cor Limite máximo mg/100g
(mg/kg de peso corpóreo)
Amaranto E123 Magenta 0,50 10,0
Amarelo Crepúsculo E110 Laranja 2,50 10,0
Azorrubina E122 Vermelho 4,00 5,00
Azul Brilhante E133 Azul turquesa 10,0 30,0
Azul patente V E131 Azul 15,0 30,0
Eritrosina E127 Pink 0,10 5,00
Indigotina E132 Azul royal 5,00 30,0
Ponceau 4R E124 Cereja 4,00 10,0
Verde Rápido E143 Verde mar 10,0 30,0
Vermelho 40 E129 Vermelho alaranjado 7,00 30,0
Tartrazina E102 Amarelo limão 7,50 30,0

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 81


Artigo

Nacional de Controle e Qualidade em Saúde (INCQS) Metodologia


da Fundação Oswaldo Cruz. Pesquisa bibliográfica
Balas de diferentes marcas (total de nove marcas)
nos sabores: morango, cereja, framboesa, menta, O desenvolvimento do trabalho iniciou-se com a
tutti-frutti, maçã verde e melancia. leitura e fichamento de obras e textos referentes ao
Chicletes de 8 (oito) diferentes marcas nos sabo- assunto em questão. Essencialmente a primeira parte
res: morango, uva, framboesa, menta, tutti-frutti. da pesquisa, foi desenvolvida com a leitura crítica das

Tabela 2. Características dos corantes artificiais utilizados no Brasil.

Nome*1 Amaranto Amarelo Crepúsculo Azorrubina Azul Brilhante Azul patente V Eritrosina

Origem (Síntese) *2 Alcatrão Tinta do alcatrão — Tinta do alcatrão — Tinta do alcatrão


de carvão de carvão de carvão de carvão
Cereais, balas, Cereais, balas, Cereais, balas,
Aplicação*2 xaropes, laticínios, xaropes, laticínios e — laticínios, queijos e — Pós para gelatina,
geléias, sucos goma de mascar. gelatinas. refrescos e geléias.
em pó.

Vantagem*3 Boaestabilidade Boa estabilidade a Boa estabilidade — Boa estabilidade a —


a luz, calor e ácido. luz, calor e ácidos. a luz, calor e ácidos. luz, calor e ácidos

Descolore
em presença Descolore em
de agente redutor Descolore em Razoável presença de
como, ácido presença de agente É proibido estabilidade a luz, agente redutor Insolúvel em pH
Desvantagem*3 ascórbico. redutor como ácido nos EUA calor e ácidos e como ácido abaixo de 5
É proibido nos ascórbico. baixa estabilidade ascórbico.
EUA (dificulta a oxidativa. É proibido nos EUA
exportação de
produtos)

Estudos relatam Possível associação


a capacidade com tumores na
Efeitos Efeito carcinogênico Alergia, angiodema Seu metabolismo de causar Seu metabolismo tiróide, pela provável
Adversos*3 em estudo e problemas ainda esta sendo hiperatividade em ainda esta sendo liberação de iodo no
gástricos. estudado crianças, eczema e estudado organismo. Porém
asma. estes estudos não
foram concluídos.

Nome*1 Indigotina Ponceau 4R Verde Rápido Vermelho 40 Tartrazina

Origem (Síntese) *2 Tinta do alcatrão Tinta do alcatrão — Sintetizado quimicamente Tinta do alcatrão
de carvão de carvão de carvão

Aplicação*2 Goma de mascar, iogurte, Frutas em calda, xaropes


de bebidas, balas e —
Cereais, balas, xaropes,
laticínios, geléias, —
balas, sucos em pós. refrigerantes. sucos em pó.
Boa estabilidade a luz, calor
Vantagem*3 — Boa estabilidade a luz, — e ácidos. É o corante mais Boa estabilidade a luz,
calor e ácidos. estável para bebidas na calor e ácidos.
presença do ácido ascórbico

Baixa estabilidade a luz, Descolore parcialmente


calor e ácidos, baixa em presença de Descolore em presença
Desvantagem*3 estabilidade oxidativa e agente redutor como — — de agente redutor como
Descolore em presença ácido ascórbico. ácido ascórbico.
de agente redutor como È proibido no EUA e tem
ácido ascórbico. uso limitado na Inglaterra.

Estudos metabólicos
Poucos estudos Não há mostram que é pouco Alergia, asma e de 8 a
Efeitos Alergia e problemas relevantes sobre sua estudos absorvido pelo organismo. 20% das pessoas sensíveis
Adversos*3 respiratórios. toxidade significativos. Em relação a mutagenicidade a aspirina são também
não apresentou potencial sensíveis a tartrazina.
carcinogênico.

Dados segundo: *1 resolução nº. 44/77 da CNNPA / *2 UFRGS, 2004 / *3 PRADO, 2003.

82 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


obras, alem de coleta de dados fundamentais para o tilho. Para escolha das escolas, foi preciso comparecer
trabalho. à região administrativa do bairro de Del Castilho e atra-
As pesquisas bibliográficas foram feitas no perío- vés desta visita contabilizou-se o total de escolas situa-
do de fevereiro de 2008 a maio de 2009, através de das nessa região e assim, de acordo com a ISO 2859-1
periódicos disponíveis no site “Portal Capes”, arti- (NBR 5426) determinou-se a amostragem. O número
gos publicados no sitio “Science Direct”, na revista estabelecido da amostragem foi de três escolas, já que
eletrônica “Scielo” e também na literatura disponível o total de escolas situadas nessa região eram 12.
em biblioteca. O inquérito alimentar foi realizado no mês de no-
vembro de 2008, o público alvo foi crianças de seis a
Elaboração e aplicação do questionário nove anos de idade tanto do sexo masculino quanto do
feminino. O questionário foi aplicado nas crianças que
Em junho de 2008 foi elaborado um questio- trouxeram devidamente preenchido o termo de com-
nário com o objetivo de identificar as balas e chicletes promisso, estas respondiam questões que relatavam o
mais consumidos, suas respectivas marcas e os co- consumo semanal de balas e chicletes e suas respecti-
rantes nestes utilizados. Este passou pela avaliação do vas cores e marca.
comitê de Ética da Fundação Oswaldo Cruz e foi apro- O total de crianças nas três escolas somava
vado em 23 de julho de 2008. 640, porém as entrevistadas foram 51 devido à não au-
Antes da aplicação do questionário, as crian- torização dos pais para as demais.
ças recebiam um termo de responsabilidade contendo
informações que esclareciam aos responsáveis o obje- RESULTADOS E DISCUSSÃO
tivo e como seria feito a pesquisa e, também, um termo
de autorização que deveria ser assinado pelo respon- A partir da análise dos questionários foi possí-
sável legal da criança. vel identificar a cor, a marca e os sabores de balas
Este questionário foi aplicado em três diferen- e/ou chicletes mais consumidos. Em relação à cor
tes escolas particulares (Centro Educacional Oliveira observou-se que as mais consumidas eram aqueles
Rocha, Escola Alberto Monteiro de Carvalho, Instituto que apresentavam a cor vermelha e rosa, como é
Educacional Nova Vida) situadas na região de Del Cas- demonstrado na Figura1.

500
Total Consumido

404
400 367
Vermelha
300 213
Rosa
202
Roxo
200
78 Verde
100 52
22 Laranja
0 Azul
Amarelo
Cor
Figura 1. Consumo de balas e chicletes por crianças de seis a nove anos de idade na região de Del Castilho (RJ)

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 83


Artigo

Sabendo-se quais marcas eram mais consumidas, tituto Adolfo Lutz, onde foram analisadas 58 amostras
foi possível analisar os rótulos destas balas e/ou chicle- de produtos importados, constituídas de 35 balas e 23
tes, identificando assim o perfil de corantes presentes chicletes, que tinham o corante vermelho 40, como o
na produção destes produtos. corante mais encontrado (MARSIGLIA et al, 1999).
Foram analisados os rótulos de nove diferentes mar-
cas de bala, nos sabores cereja, morango, framboesa,
menta, maça verde, melancia e tutti-frutti e oito diferen- Tabela 4. Informações contidas nos rótulos dos chicletes analisados
tes marcas de chicletes, nos sabores framboesa, uva, CHICLETES
morango, menta e tutti-frutti.
Ao analisar os rótulos das balas constatou-se que, Sabor Cor Coorantes Intorduzidos
predominantemente, as balas de coloração vermelha Menta Azul Azul Brilhante
apresentam em sua composição o corante vermelho Tutti-frutti Rosa Vermelho 40
40, as balas de coloração rosa e roxa também apresen-
tam o vermelho 40, porém associado, invariavelmente, Morango Vermelho Vermelho 40
a outros corantes, como o azul brilhante, a indigotina Vermelho 40
e amarelo crepúsculo. Outro dado observado foi que Uva Roxo Indigotina
somente uma marca apresentou em sua formulação Vermelho 40
corante natural conforme descrito na Tabela 3. Ordem Indigotina
Tutti-frutti Rosa
de Consumo Amarelo crepúsculo
Vermelho 40
Não definido Azul brilhante
Tabela 3. Informações contidas nos rótulos das balas analisadas no rótulo Roxo Tartrazina
Indigotina
BALAS
Vermelho 40
Não definido
Sabor Cor CoorantesIntorduzidos Amarelo crepúsculo
no rótulo Laranja Tartrazina
Morango Vermelha Vermelho 40
Vermelho 40
Framboesa Azul
Vermelho 40 Azul brilhante
Framboesa Rosa Azul brilhante
Vermelho 40
Cereja Rosa Indigotina
Considerando os dados obtidos, os corantes:
Ordem Menta Azul Azul brilhante vermelho 40, azul brilhante, indigotina e amarelo
de Consumo Tartrazina crepúsculo são os corantes mais presentes e tendo
Verde
Menta Azul brilhante em vista que 88% das crianças consomem mais de
Tutti-frutti Rosa Vermelho 40 35 balas por semana e 45% consomem aproxima-
Tutti-frutti Rosa Vermelho 40 damente 20 chicletes por semana, segundo informa-
ções contidas no questionário, que também informou
Indigotina
Maça verde Verde o teor dos mesmos, uma vez que há estudos que
Tartrazina
Melancia Verde Clorofila (natural) relacionam o alto consumo de corantes artificiais a
alergia (CUNHA, 1998), hiperatividade e déficit de
atenção (LANCET, 2007).

Nos rótulos dos chicletes, apresentados na Tabela CONCLUSÃO


4 verificam-se que das oito marcas analisadas, só uma
não apresenta o corante vermelho 40 em sua compo- É relevante dizer que a maioria das crianças en-
sição e nenhum apresenta corante natural. Além disso, trevistadas pode estar excedendo a ingestão diária
uma das marcas encontra-se fora dos padrões esta- aceitável para os corantes vermelho 40, amarelo cre-
belecidos pelo Ministério da Saúde, que estabelece no púsculo e indigotina, uma vez que a exposição não
decreto nº. 50.040 de janeiro de 1961, o uso de no má- é somente dada pelo consumo de balas e chicletes,
ximo três corantes artificiais no mesmo alimento e este mas também pela totalidade do consumo de outros
contém em sua formulação quatro corantes artificiais. alimentos e bebidas como constatam o estudo feito
Os resultados obtidos na análise dos rótulos são no hospital Gafrée Guinle com 150 crianças (Schu-
compatíveis com os obtidos na pesquisa feita no Ins- mann et al., 2008).

84 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


R e f er ê ncias

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para a categoria de alimentos 16. Bebidas-subcategoria 16.2.2-bebidas não alcoólicas gaseificadas e não gaseificadas. nº151, p. 47, 9 de
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Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 85


Artigo

desenvolvimento de metodologias para


a quantificação de componentes em
cerveja através do sistema FT-NIR Antaris II
RESUMO
Kelly Mayumi Narimoto* e
Álvaro Modesto de Oliveira
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o sistema FT-NIR no desenvolvi-
mento de metodologias para a quantificação de componentes em cerveja e de- Charis Technologies, Vinhedo (SP)
monstrar a viabilidade da técnica sobre outras técnicas convencionais. A coleta *Autor para correspondência:
espectral foi realizada por transflectância e levou em torno de 25 segundos por R. dos Cardeais, 78 - cjto. 06
amostra, não necessitando de qualquer tipo de preparo. Foram desenvolvidos mo- Jd. Itália
CEP: 13280-000
delos de calibração utilizando a regressão por mínimos quadrados parciais (Partial Vinhedo. SP
Least Square, PLS), sendo que cada componente utilizou diferentes regiões es- Fone: (19) 3836-3110
pectrais. As calibrações foram desenvolvidas para os componentes: álcool, extrato Fax: (19) 3836-3109
E-mail: aplic@charistech.com.br
original, extrato aparente e extrato real. No geral, foram obtidas calibrações de
alta qualidade com excelentes coeficientes de correlação e baixos erros de previ-
são, mostrando que a técnica é capaz de predizer com precisão componentes em
amostras desconhecidas, além da rapidez com que se obtém os resultados e sem
a necessidade de preparo das amostras.

Palavras-chave: FT-NIR, cerveja, transflectância, calibração multivariada, álcool,


extrato real, extrato aparente, extrato original

SUMMARY

This study objective to evaluate the FT-NIR system in the development of metho-
dologies for the quantification of components in beers and demonstrate the feasi-
bility of the technique over other conventional techniques. The spectral collection
was performed by spectral transflectance and took around 25 seconds per sam-
ple, not requiring any preparation. Calibration models were developed using partial
least squares regression (Partial Least Square, PLS), and each component used
differents spectral regions. The calibrations were developed for the components:
alcohol, original extract, apparent extract and real extract. In general, calibrations
were obtained for high quality with excellent correlation coefficients and low errors
of prediction, showing that the technique is able to predict with precision compo-
nents in unknown samples, and the speed with which results are obtained without
no samples preparation.

Keywords: FT-NIR, beer, transflectance, multivariate calibration, alcohol, real ex-


tract, apparent extract, original extract

INTRODUÇÃO

A cerveja é uma bebida produzida da fermentação Uma cerveja é qualquer variedade da bebida al-
de cereais, especialmente cevada maltada e, acredi- coólica produzida pela fermentação de cereais ou
tava-se que tenha sido uma das primeiras bebidas derivados de cereais ou de outras fontes vegetais.
alcoólicas a ser desenvolvidas pelo homem. Pequenas mudanças no processo de fabricação,

86 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


como diferentes tempos e temperaturas de cozimen- o que consume grande quantidade de tempo, exige
to, fermentação e maturação (1). esforços e é caro (4).
Devido aos ingredientes usados para fazer cerve- A técnica do infravermelho próximo (FT-NIR) vem
ja diferirem de acordo com a localização, as carac- sendo amplamente empregada em diversas áreas,
terísticas (tipo, sabor e cor) variam amplamente em devido às suas vantagens em relação a técnicas
relação ao tipo de cerveja. convencionais. A rapidez com que se obtém os re-
Uma cerveja pura espera-se que seja feita de sultados e a não necessidade de preparo da amos-
água, cevada maltada, lúpulo e levedura de cerveja tra, com a qual se reduz gastos com reagentes e,
a menos que claramente identificados de outra for- consequentemente, não gera resíduos, são as prin-
ma, como a cerveja de trigo. A adição de outros con- cipais provas de que análises por FT-NIR são supe-
dimentos ou outras fontes de açúcar também pode riores sobre outras técnicas. Somada à calibração
ocorrer, de acordo com o tipo, a tradição ou a pre- multivariada, a técnica de FT-NIR é capaz de prever
ferência local (2). A cevada é a matéria-prima princi- múltiplos resultados simultaneamente mantendo a
pal. O lúpulo é responsável pelo amargor e aroma da mesma precisão, eficiência e a confiabilidade das
cerveja, sendo parte essencial no impacto sensorial metodologias convencionais.
total do produto (1). A levedura é usada no processo O trabalho teve como objetivo o desenvolvimento
de fermentação, o qual metaboliza o açúcar extraído de metodologias analíticas designadas ao controle
dos cereais, produzindo muitos compostos, incluin-
do a água e o dióxido de carbono.
A água representa a maior parte da cerveja em
torno de 90% exercendo grande influência sobre
o tipo e a qualidade da mesma, influenciando, por
exemplo, o sabor. Ela deve ser potável, transpa-
rente, incolor, inodora, neutra, sem sabor e cumprir
as necessidades específicas para assegurar o bom
andamento do processo de produção da cerveja e
obtenção do produto acabado desejado (1). Muitos
estilos de cerveja são influenciados e determinados
pelas características da água da região.
A cerveja tende a ter entre 4% a 5% de álcool,
apesar de poder variar consideravelmente depen-
dendo do estilo e cerveja. De fato, há cerveja com
2% de álcool para mais de 20%. Figura 1. Sistema FT-NIR Antaris
Existem diferenças entre as cervejas que vão II MDS Thermo Scientific
desde a cor, passando pelo aroma, teor alcoólico e
sabor, até o clima certo para ser consumida (1).
Análises de cerveja representam um significante
desafio analítico em diversos aspectos. A cerveja é
uma amostra muito complexa contendo uma larga
escala de componentes incluindo vitaminas, amino-
ácidos, proteínas e ácidos amargos, todos transmi-
tindo propriedades organolépticas peculiares para a
bebida. A presença e qualidade de certos compos-
tos são monitorados para assegurar a consistência
do produto (3).
Para a análise da cerveja, convencionalmente é
requerido um equipamento para cada componente.
Por exemplo, para a análise do conteúdo de álcool é
usada a cromatografia, enquanto a gravidade espe-
cífica é medida por um hidrômetro. Normalmente, as
amostras necessitam ser preparadas para a análise, Figura 2. Coleta espectral por transflectância

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 87


Artigo

de qualidade da cerveja, utilizando FT-NIR e regres- paro da amostra. O sistema Antaris analisa espectros
são por mínimos quadrados parciais (PLS). FT-NIR na região entre 12.000 e 4.000 cm-1. Os parâ-
metros da coleta de dados se encontram na Tabela
PARTE EXPERIMENTAL 1. Os espectros foram coletados utilizando software
de análise RESULTTM. Um espectro representativo da
Os espectros FT-NIR foram coletados em 27 amos- amostra de cerveja, acompanhado de sua primeira de-
tras de cerveja, produzidos em concentrações cres- rivada está apresentado na Figura 3.
centes para os diversos componentes. As análises As calibrações foram construídas para os com-
foram realizadas no sistema FT-NIR Antaris II MDS ponentes: álcool, extrato original, extrato aparente
Thermo Scientific (Figura 1), o qual acopla sistema e extrato real. Extrato Original é a quantidade de
de fibra óptica e possibilita realizar análises no modo extrato antes de iniciar o processo de fermentação
transflectância (Figura 2), capaz de analisar múltiplos originado no começo do processo de cozimento. O
componentes em uma simples leitura, podendo anali- extrato real é medido pelo suave aquecimento da
sar o material diretamente sem a necessidade de pre- amostra de cerveja para eliminar o álcool, adicionan-
do água destilada para retornar ao volume original,
e então obter a gravidade específica da amostra re-
Tabela 1. Parâmetros utilizados na coleta de dados
constituída. Isto contrasta com o extrato aparente,
Região espectral 10.000 to 4.000 cm-1 o qual é a gravidade específica da amostra sem a
Resolução 8 cm-1 primeira remoção do álcool.

Varreduras 32 RESULTADOS E DISCUSSÃO


Background Spectralon® reference
A capacidade universal da técnica FT-NIR é base-
ada na quimiometria, e isso permite estabelecer uma
correlação entre os espectros e as suas proprieda-
1.1
des físicas e químicas.
1.0 Para o controle de qualidade da cerveja foram de-
0.9
senvolvidas algumas metodologias para a determi-
0.8

0.7
nação quantitativa do teor de álcool, extrato original,
0.6 extrato aparente e extrato real (Figura 4).
0.5
Os quatro componentes analisados foram preditos
Abs

0.4

0.3
usando um simples espectro FT-NIR para cada amos-
0.2 tra. O tempo de coleta de dados para a previsão de
0.1 uma simples amostra foi em torno de 25 segundos.
0.0

-0.1
O desenvolvimento das calibrações foi realizado no
-0.2 software TQ AnalystTM para análises quantitativas. As
-0.3
10000 9000 8000 7000 6000 5000
quatro metodologias foram desenvolvidas utilizando
cm-1 modelo PLS.
0.005
0.004
0.003
0.002
0.001
0.000
-0.001
Tabela 2. Resumo dos parâmetros aplicados na construção das
-0.002 curvas analíticas
Abs

-0.003
-0.004
-0.005
Componentes Região espectral Tratamento espectral
-0.006
-0.007
-0.008 Álcool 5.500 – 4.000 cm-1 1º Derivada
-0.009
-0.010
-0.011 Extrato original 7.000 – 4.000 cm-1 -
10000 9000 8000 7000 6000 5000
cm-1
10.000 – 5.400 cm -1
Extrato aparente -
4.700 – 4.100 cm-1
Figura 3. Espectro representativo da amostra de cerveja padrão 10.000 – 5.400 cm-1
obtido por transflectância, e espectro da primeira derivada, Extrato real -
4.700 – 4.100 cm-1
respectivamente

88 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


Tabela 3. Resultados das calibrações
4.7

14
Álcool Extrato original
Componentes Coef. Corr. RMSEC RMSEP RMSECV VL

Álcool 0,99886 0,0430 0,0247 0,383 7


Calculated

Calculated
Extrato
0,99215 0,328 0,351 0,659 6
original
Extrato
0,99950 0,0173 0,0206 0,0639 8
1.9

6
aparente
1.9 Actual 4.7 6 Actual 14
Extrato real 0,99959 0,0270 0,0247 0,0885 8
2.8

5.0

Extrato aparente Extrato real


Calculated

Calculated

rápida em relação às técnicas convencionais e possi-


bilitando leitura direta na amostra sem a necessidade
de qualquer tipo de preparo. A técnica é capaz de ana-
1.1

2.0

1.1 Actual 2.8 2 Actual 2.8 lisar múltiplos componentes simultaneamente levando
Figura 4. Calibrações utilizando modelo PLS para quantificação de em torno de 25 segundos para cada análise.
componentes em cerveja Os quatro componentes analisados foram conte-
údo de álcool, extrato original, extrato aparente e ex-
trato real. As análises quantitativas foram realizadas
Para a construção de cada metodologia foi sele- utilizando modelo PLS. Os resultados da calibração
cionada a melhor região espectral (Tabela 2). Para apresentados a partir dos coeficientes de correlação
todos os espectros foi necessário aplicar a corre- e baixos erros quadráticos médios indicam que o
ção do espalhamento do sinal multiplicativo (MSC) modelo é apropriado e robusto.
e apenas para a calibração do álcool foi aplicada a De modo geral, foi possível observar que a técni-
primeira derivada. Em todos os casos os espectros ca FT-NIR apresentou um bom potencial para esta
foram centrados na média. Não foram detectadas aplicação, podendo fornecer rapidamente resulta-
amostras anômalas em nenhum dos casos. dos confiáveis.
No conjunto de calibração foram obtidos excelentes A implementação da técnica FT-NIR pode levar
coeficientes de correlação e baixos erros, assim como ao um aumento na eficiência, melhoria de processo
ausência de amostras anômalas no conjunto de amos- e controle de qualidade nas cervejarias.
tras utilizadas no desenvolvimento dos modelos.
Para avaliar o desempenho do modelo foram cal-
culados os erros quadrático médio de calibração
(RMSEC – Root Mean Squares Error of Calibration),
de previsão (RMSEP - Root Mean Squares Error of
R e f er ê ncias
Prediction) e de validação cruzada (RMSECV – Root
Mean Squares Error of Cross-Validation). Os núme- 1. JORGE, E.P.M. Processamento de cerveja sem álcool. 2004.
ros de VL foram definidos através da validação cru- 73p. TCC - Universidade Católica de Goiás. Goiás, 2004.
zada empregando amostras do próprio conjunto de
2. MONTEIRO, A. Curso Operador Cervejeiro. Companhia
calibração. Os resultados de RMSEC, RMSEP, RM- Brasileira de Bebidas. Goiânia. 2001. 155p.
SECV e VL estão listados na Tabela 3.
Os resultados mostrados na Tabela 3 indicam um 3. SCIGELOVA, M.; KLAGKOV, K.; WOFFENDIN, G. Analysis of
Beer Using a High Speed U-HPLC Coupled to a Linear Ion
modelo quimiométrico robusto e capaz de predizer
Trap Hybrid Mass Spectrometer. Application note: 30143.
com precisão amostras desconhecidas. Thermo Fisher Scientific, Hemel Hempstead, UK.

CONCLUSÃO 4. BUDINOVA, G.; DOMINAK, I.; STROTHER, T. FT-NIR Analysis


of Czech Republic Beer: A Qualitative and Quantitative
Approach. Application Note: 51702. Thermo Fisher Scientific,
Este trabalho mostrou a viabilidade e as vantagens Madison, WI, USA.
da técnica FT-NIR na análise de cerveja, sendo mais

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 89


Resumo de tese

ESTUDO ANALÍTICO E OLFATOMÉTRICO DE ÓLEO


DE ALGODÃO E OLEÍNA DE PALMA UTILIZADOS
EM FRITURA DE PRODUTOS CÁRNEOS
RESUMO
Cibele Cristina Osawa¹* e
Lireny Aparecida Guaraldo
Pretendeu-se através deste estudo levantar dados sobre frituras, em colaboração Gonçalves²
com agências fiscalizadoras das boas práticas de frituras. Estudou-se o grau de 1
Doutoranda em Tecnologia de
conhecimento de manipuladores de alimentos de 13 estabelecimentos comerciais Alimentos, bolsista do CNPq.
de Campinas/SP, quanto às boas práticas de frituras, e avaliou-se a qualidade Laboratório de Óleos e Gorduras,
Departamento de Tecnologia
do óleo usado, através de métodos analíticos. Simulou-se, em triplicata, a fritura de Alimentos, Faculdade de
descontínua de alimentos cárneos empanados em fritadeira com capacidade de Engenharia de Alimentos,
Universidade Estadual de
28 L, utilizando dois tipos de óleos vegetais isentos de gorduras trans e disponí- Campinas (UNICAMP).
veis comercialmente: óleo de algodão e oleína de palma. Adotou-se temperatura
²
Docente e orientadora da tese.
de 182ºC e fritura por 4,5 minutos. Por vez, fritaram-se 400-500 g de alimentos. Idem. Email: lireny@fea.unicamp.br
Ao longo do dia, realizaram-se três operações de fritura em horários estratégicos
*Autora para correspondência
e a fritadeira permaneceu ligada a 182ºC por 8h. Não houve reposição com óleo R. Bertr0and Russell, s/n,
fresco, nem filtragem do óleo. O tempo total de estudo variou de 6 a 17 dias de Cidade Universitária
“Zeferino Vaz”
fritura, sem a troca do óleo e o final dos experimentos foi definido pela avaliação
CEP: 13084-970
dos óleos usados com testes rápidos. Monitoraram-se os óleos de fritura através Campinas. SP
de análises físico-químicas: teor de ácidos graxos livres, compostos polares to- Fone/Fax: (19) 3289-1186
Email: cibele_osawa@yahoo.com.br
tais e compostos poliméricos, cor Lovibond, dienos conjugados, composição em
ácidos graxos, estabilidade oxidativa e testes rápidos para avaliação da qualidade
de óleo usado. Embora fossem adotadas as mesmas condições experimentais,
mesma fritadeira e mesmo tipo de alimento frito e tipo de óleo, constatou-se que
não há reprodutibilidade do processo de fritura. Os alimentos foram avaliados ana-
liticamente e verificou-se perda de umidade, incorporação de óleo nos alimentos,
pequenas alterações na composição em ácidos graxos e formação de quantidades
desprezíveis de trans, podendo ser rotulados como alimentos zero trans. Estudou-
se Testo 265, Viscofrit e Fri-check, testes rápidos de avaliação da qualidade do
meio de fritura, utilizando 59 amostras de óleo de fritura. Testo 265 e Viscofrit são
alternativas viáveis, se respeitadas suas limitações. Requerem-se estudos mais
aprofundados com o Fri-check. Realizou-se, ainda, análise sensorial olfatométrica,
na oleína de palma usada na fritura de frango empanado, com quatro julgadores
treinados, em quadruplicata, utilizando o método desenvolvido na Universidade
Estadual de Oregon (OSME). Os julgadores detectaram e descreveram odores de
135 compostos voláteis presentes no óleo usado de fritura. Trinta e um deles foram
identificados por cromatografia em fase gasosa com detector de massas. Dentre
eles, compostos não reportados anteriormente na literatura, demonstrando inedi-
tismo do trabalho.

Palavras-chave: fritura, fritura por imersão, óleo de fritura, oleína de palma, óleo
de algodão, testes rápidos, controle de qualidade, descarte, olfatometria, OSME,
análise sensorial.

90 Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro2010 • Nº44


summary

This study intended to raise data about frying to contribute with supervisor
agencies of good practices of frying. The level of knowledge of food mani-
pulators from 13 commercial establishments at Campinas city/SP was stu-
died, in relation to good practices of fryings, and the quality of used oils was
evaluated by analytical methods. It was simulated the discontinous frying of
meat products with flour coating with a fryer of 28 L-capacity in triplicate,
using two types of commercially available zero-trans oils: cottonseed and
palm olein oils. The temperature of 182ºC and frying during 4.5 minutes were
adopted. Each time, 400-500 g of food samples were fried. During the day, 3
frying operations were strategically performed and the fryer remained on at
182ºC for 8h. There was neither oil replacement, nor filtering. The total time
of study varied from 6 to 17 days of frying, without oil exchanging and the
end of the experiments was determined by the oil evaluation using fast tests.
The frying oils were monitored through physico-chemical analyses: free fatty
acids content, total polar compounds and polymeric compounds, Lovibond
color, conjugated dienes, composition of fatty acids, oxidative stability and
fast tests for evaluation of the quality of used oils. Although the same expe-
rimental conditions, the same fryer and the same types of fried food and oil
were adopted, it was observed that there was no reproductivity in the frying
process. The foods were analytically evaluated and loss of humidity, oil in-
corporation on foods, small changes in fatty acids composition and minimal
amounts of trans-fatty-acid formation were verified, which enables to label
them as zero trans food. Testo 265, Viscofrit and Fri-check, fast tests for eva-
luation of frying fat quality were studied, using 59 samples of frying oil. Testo
265 and Viscofrit are feasible alternatives, if their limitations are respected.
Further studies with Fri-check are required. It was still performed olfactome-
try sensory analysis in the palm olein used in frying chicken breast with flour
coating, through the Oregon State University method (OSME), with 4 trained
judges, in quadruplicate. Judges detected and described odors of 135 volatile
compounds present in the used frying oil. Thirty-one of them were identified
by gas-chromatography equipped with mass detector. Among them, it was
found compounds not previously reported in the literature.

Keywords: frying, deep fat frying, frying oil, palm olein oil, cottonseed oil, fast tests,
quality control, discharge, olfatometry, OSME, sensory analysis

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos seguintes colaboradores no do estudo de campo. Ao CNPq pela concessão do


estudo: Sr. Antonio Castellón (Viscofrit), Agropalma, auxílio-pesquisa em nível de doutorado (Processo:
Braslo, Cargill, Central Analítica do IQ/Unicamp, 140387/2005-6). À FAPESP pelo auxílio-pesquisa de
Frais Filtercorp, Laboratório Central Instrumental iniciação científica, concedida ao aluno de graduação
do DEPAN, McDonald’s, Testo do Brasil e estabe- da FEA/Unicamp Fábio Mincaucaste Mendes, cola-
lecimentos comerciais de Campinas participantes borador deste estudo (Processo: 2007/01364-5).

Revista Analytica • Dezembro 2009/Janeiro 2010 • Nº44 91

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