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TRADUZIDO POR ALAN CRISTIE PARA DEUSEMDEBATE.BLOGSPOT.

COM

O PROBLEMA DO MAL
VINCENT CHEUNG

CONTEÚDO
O PROBLEMA ................................................................................................................................. 1
LIVRE ARBÍTRIO ............................................................................................................................ 2
SOBERANIA DE DEUS ..................................................................................................................... 4
A SOLUÇÃO ................................................................................................................................... 9
OUTRAS VISÕES DO MUNDO ....................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO1

Uma das mais populares — mas superestimada — objeções contra o Cristianismo, é o então
chamado ―problema do mal.‖ A objeção alega que o que o Cristianismo afirma sobre Deus é
logicamente irreconciliável com a existência do mal. Aqueles que fazem esta objeção alegam
saber por certo que o mal existe, e uma vez que isto é incompatível com o Deus cristão, então
segue-se que não há Deus, ou isso pelo menos mostra que o que o Cristianismo afirma sobre
Deus é falso.

Usando o problema do mal, os incrédulos têm conseguido confundir muitos cristãos professos, e
parece que muitos daqueles que alegam ser cristãos são perturbados pela existência do mal, ou a
quantidade de mal neste mundo. Alguns crentes conseguem fornecer respostas plausíveis que
não são totalmente convincentes, ao passo que muitos outros simplesmente chamam a existência
do mal um mistério. Contudo, à medida que a Escritura aborda o tema — para que isso seja algo
que foi revelado — os cristãos não têm o direito de chamar de mistério no sentido de algo que
foi escondido. Só por não entendermos tudo sobre a existência do mal, não significa que deve-
mos ignorar que a Escritura revela nitidamente a respeito disso.

Por outro lado, respostas meramente plausíveis são insuficientes quando a Bíblia fornece uma
resposta infalível e uma defesa invencível. A seguir, veremos que a existência do mal não ofere-
ce nenhum desafio ao conceito cristão de Deus, ou a qualquer aspecto do Cristianismo. Em vez
disso, são as visões não cristãs do mundo que não podem encontrar sentido na existência do mal
— se elas conseguem ter qualquer conceito de mal.

O PROBLEMA

Os cristãos afirmam que Deus é onipotente (todo-poderoso) e onibenevolente (Deus de amor).


Nossos oponentes argumentam que se Deus é todo-poderoso, então ele possui a habilidade para
exterminar o mal, e se ele é um Deus de amor, então ele deseja exterminar o mal;2 no entanto,

1
A menos que seja indicado, as citações da Escritura foram extraídas da Bíblia Sagrada, Nova Versão
Internacional.
2
Algumas vezes o argumento inclui o fato de que os cristãos afirmam que Deus é também onisciente
(todo-conhecimento) — se Deus sabe tudo, então ele sabe como destruir o mal.
uma vez que o mal ainda existe, isso significa que Deus não existe, ou pelo menos significa que
as coisas que os cristãos afirmam a respeito de Deus são falsas. Ou seja, mesmo que Deus exis-
ta, já que o mal também existe, ele não pode ser todo-poderoso e Deus de amor, mas os cristãos
insistem que ele é todo-poderoso e Deus de amor; portanto, o Cristianismo deve ser falso.

Aqueles que usam esse argumento contra o Cristianismo podem formulá-lo de maneiras diferen-
tes, mas a despeito da forma precisa que o argumento toma, o ponto é que os cristãos não po-
dem afirmar todos os atributos divinos bíblicos, pois fazê-lo seria logicamente incompatível
com a existência do mal. E se este é o caso, então o Cristianismo é falso.

Apesar de os cristãos terem agonizado sobre este então chamado ―problema do mal‖ por sécu-
los, o argumento é extremamente fácil de refutar; é uma das mais estúpidas objeções que eu já
vi, e mesmo quando criança eu achava um argumento tolo. Muitas pessoas têm dificuldade com
a existência do mal não por ele apresentar qualquer desafio lógico ao Cristianismo, mas porque
elas estão sobrepujadas pelas emoções que o tema gera, e essas fortes emoções efetivamente
incapacitam o mínimo nível de julgamento e inteligência que elas normalmente apresentam.

Ora, uma vez que os oponentes do Cristianismo alegam que o problema do mal é um argumento
lógico contra o Cristianismo, em resposta nós precisamos apenas mostrar que a existência do
mal não contradiz logicamente o que o Cristianismo ensina a respeito de Deus. Embora a Escri-
tura também responda suficientemente os aspectos emocionais deste tema, não é nossa respon-
sabilidade apresentar e defender estas respostas no dentro do contexto de um debate lógico. De
fato, os problemas emocionais que as pessoas têm com a existência do mal e sua falta de respos-
tas a estes problemas, são perfeitamente consistentes com o que a Escritura ensina. Portanto,
vamos focar em responder à existência do mal como um desafio lógico.

LIVRE ARBÍTRIO

Muitos cristãos professos favorecem a ―defesa do livre arbítrio‖ ao responder o problema do


mal. No contexto das narrativas bíblicas, esta abordagem atesta que quando Deus criou o ho-
mem, ele quis garantir-lhe o livre arbítrio — um poder para tomar decisões independentes,
mesmo para se rebelar contra seu criador. É claro que Deus estava ciente de que o homem peca-
ria, mas esse é o preço de garantir ao homem o livre arbítrio. Ao criar o homem com livre arbí-
trio, Deus também criou o potencial para o mal, mas conforme a defesa do livre arbítrio segue,
uma vez que o homem é verdadeiramente livre, a realização desse potencial para o mal pode ser
responsabilidade apenas do próprio homem. Aqueles que usam a defesa do livre arbítrio adicio-
nariam o potencial ou mesmo a realização do mal não é um preço muito alto para garantir ao
homem genuíno livre arbítrio.

Embora muitos cristãos professos usem a defesa do livre arbítrio, e para algumas pessoas a ex-
plicação possa soar razoável, se trata de uma teodiceia irracional e antibíblica — ela falha em
responder o problema do mal, e contradiz a Escritura. Primeiro, esta abordagem apenas adia a
resolução do problema, em que transforma o debate de ―por que o mal existe no universo de
Deus‖ em ―porque Deus criou um universo com o potencial para tão grande mal.‖ Segundo, os
cristãos afirmam que Deus é onisciente, então ele não criou o universo e a raça humana perce-
bendo apenas que eles tinham o potencial de se tornarem maus; mas sabia por certo que haveria
mal. Portanto, diretamente ou indiretamente, Deus criou o mal.3

3
A doutrina do ―livre arbítrio‖ é anti-bíblica e herética, e alguns têm até seguido a doutrina até seu pró-
ximo passo lógico ao dizer que se o homem foi feito para ser realmente livre, então Deus não pode de fato
saber por certo o que o homem faria, negando então a onisciência de Deus. Mas mesmo assim, Deus sabia
que era possível ao livre arbítrio produzir um mal extremo e horrendo, então o mesmo problema persiste.

2
Podemos distinguir entre mal moral e mal natural — mal natural inclui desastres naturais como
terremotos e enchentes, enquanto que mal moral se refere a ações perversas que criaturas racio-
nais cometem. Ora, mesmo que a defesa do livre arbítrio forneça uma explicação satisfatória
para o mal moral, ela falha ao tratar adequadamente o mal natural. Alguns cristãos podem alegar
que é o mal moral que leva ao mal natural; no entanto, somente Deus tem o poder de criar uma
relação entre os dois, de forma que os terremotos e enchentes não têm necessariamente nenhu-
ma conexão com assassinatos e roubos a menos que Deus faça haver — ou seja, a menos que
Deus decida causar terremotos e enchentes por causa dos assassinatos e roubos cometidos por
suas criaturas. Portanto, Deus novamente parece ser a causa final do mal, quer seja natural ou
moral.

Mesmo que o pecado de Adão tenha trazido morte e queda, não apenas para a raça humana, mas
também para os animais, a Escritura insiste que nem um pardal pode morrer à parte da vontade
de Deus (Mateus 10:29). Ou seja, se há qualquer conexão entre o mal moral e o mal natural, a
conexão não é inerente (como se qualquer coisa fosse inerente à parte da vontade de Deus), mas
antes soberanamente imposta por Deus. Mesmo aquilo que for aparentemente insignificante não
pode ocorrer sem, não meramente a permissão, mas a vontade ativa e o decreto de Deus. Cris-
tãos não são deístas — nós não cremos que o universo funciona por um conjunto de leis naturais
que são independentes de Deus. A Bíblia nos mostra que Deus está agora conduzindo ativamen-
te o universo, de forma que nada pode acontecer ou continuar à parte do poder ativo e do decre-
to de Deus (Colossenses 1:17; Hebreus 1:3). Se de alguma forma devêssemos usar o termo, o
que chamaríamos de ―leis naturais‖ seriam apenas descrições de como Deus regularmente age,
apesar de não estar ele de forma nenhuma sujeito a agir daquelas formas.

Os cristãos devem rejeitar a defesa do livre arbítrio simplesmente porque a Escritura rejeita o
livre arbítrio; antes, a Escritura ensina que Deus é o único que possui livre arbítrio. Ele diz em
Isaías 46:10: ―Meu propósito permanecerá em pé, e farei tudo o que me agrada.‖ Por outro lado,
a vontade do homem está sempre escravizada, tanto pelo pegado quanto pela justiça: ―Mas,
graças a Deus, porque, embora vocês tenham sido escravos do pecado, passaram a obedecer de
coração à forma de ensino que lhes foi transmitida. Vocês foram libertados do pecado e torna-
ram-se escravos da justiça‖ (Romanos 6:17-18). O livre arbítrio não existe — é um conceito
assumido por muitos cristãos professos sem fundamento bíblico.

Outra suposição popular é que a habilidade moral é o pré-requisito para a responsabilidade mo-
ral. Em outras palavras, a suposição de que se uma pessoa é incapaz de obedecer às leis de
Deus, então ele não deveria ser moralmente responsável por obedecer tais leis e, portanto, Deus
não deveria e não o puniria por desobedecer tais leis. No entanto, assim como a suposição de
que o homem tem livre arbítrio, esta suposição de que a responsabilidade moral pressupõe a
habilidade moral também é antibíblica e injustificada.

Referindo-se aos incrédulos, Paulo escreve: ―A mentalidade da carne é inimiga de Deus porque
não se submete à Lei de Deus, nem pode fazê-lo‖ (Romanos 8:7). Se é verdade que a responsa-
bilidade moral pressupõe a habilidade moral, e Paulo afirma que o pecador carece dessa habili-
dade, então segue-se que nenhum pecador é responsável por seus pecados. Ou seja, se um peca-
dor só é pecador se ele tiver a habilidade de obedecer mas se recusa a obedecer, uma vez que
Paulo diz que o pecador realmente carece da habilidade de obedecer, então segue-se que um
pecador não é um pecador. No entanto, isto é uma contradição, e é uma contradição que a Bíblia
nunca ensina.

A Bíblia ensina que o não cristão é um pecador, e ao mesmo tempo ensina que ele carece da
habilidade de obedecer a Deus. Isso significa que o homem é moralmente responsável mesmo
que ele careça de habilidade moral; ou seja, o homem deve obedecer a Deus mesmo que ele não
possa obedecer a Deus. É pecaminoso para uma pessoa desobedecer a Deus quer ele tenha a
habilidade de fazer o contrário ou não. Assim, a responsabilidade moral não está fundamentada
na habilidade moral ou no livre arbítrio; antes, a responsabilidade moral está fundamentada na

3
soberania de Deus — o homem deve obedecer aos mandamentos de Deus porque Deus diz que
o homem deve obedecer, e o fato de ele ter ou não a habilidade de obedecer é irrelevante.

Em primeiro lugar, o livre arbítrio é logicamente impossível. Se retratarmos o exercício do livre


arbítrio como um movimento da mente em certa direção, a questão é o que move a mente, e
porque ela se move em tal sentido. Dizer que o ―ego‖ move a mente é uma resposta evasiva, já
que a mente é o ego, e assim, a mesma pergunta permanece.

Por que a mente se move em certa direção ao invés de outra? Se pudermos ligar a causa de seu
movimento e direção a fatores externos à própria mente, fatores que marcam a si mesmos na
consciência externa e assim influenciando ou determinando a decisão, então como este movi-
mento da mente é livre? Se pudermos ligar a causa às disposições naturais da pessoa, então este
movimento da vontade ainda não é livre, uma vez que ainda que estas disposições naturais in-
fluenciem decisivamente a decisão, a própria pessoa não escolheu livremente estas disposições
naturais em primeiro lugar.

O mesmo problema persiste se dissermos que as decisões de uma pessoa são determinadas por
uma mistura de suas disposições naturais e influências externas. Se a mente toma decisões base-
ada em fatores não escolhidos pela mente, então essas escolhas nunca são livres no sentido de
que elas não são criadas à parte do controle soberano de Deus — elas não são criadas livres de
Deus. A Escritura ensina que Deus não apenas exerce controle imediato sobre a mente humana,
mas Deus também soberanamente determina todas as disposições naturais e fatores externos
relacionados à vontade humana. É Deus que forma uma pessoa no útero, e é ele que organiza as
circunstâncias extrínsecas por sua providência.

Portanto, apesar de podermos afirmar que o homem tem uma vontade como uma função da
mente, de forma que a mente de fato faz escolhas, estas não são escolhas livres, porque tudo o
que tem a ver com cada decisão é determinado por Deus. Uma vez que a vontade nunca está
livre, nós nunca deveríamos usar a teodiceia do livre arbítrio quando tratamos do problema do
mal.

SOBERANIA DE DEUS

Muitos cristãos professos estão desconfortáveis com o ensinamento bíblico de que o homem não
tem livre arbítrio, uma vez que parece fazer Deus ―responsável‖ pela existência e continuação
do mal. Então, nesta seção, vamos fornecer uma breve exposição sobre o que a Escritura ensina
sobre o tema, mostrando que para confirmar a Escritura é rejeitar o livre arbítrio.

A Escritura ensina que Deus irá determinar todas as coisas. Nada existe ou acontece sem que
Deus, não meramente permita, mas ativamente deseje que isso exista ou aconteça.

Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá. Digo:
Meu propósito permanecerá em pé, e farei tudo o que me agrada. (Isaías 46:10)

Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão
sem o consentimento do Pai de vocês. (Mateus 10:29)

Deus controla não apenas eventos naturais, mas controla também todas as decisões e assuntos
humanos:

Como são felizes aqueles que escolhes e trazes a ti, para viverem nos teus átrios! Trans-
bordamos de bênçãos da tua casa, do teu santo templo! (Salmo 65:4)

4
O Senhor faz tudo com um propósito; até os ímpios para o dia do castigo. (Provérbios
16:4)

Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus pas-
sos. (Provérbios 16:9)

Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor. Como poderia alguém discernir o seu
próprio caminho? (Provérbios 20:24)

O coração do rei é como um rio controlado pelo Senhor; ele o dirige para onde quer.
(Provérbios 21:1)

Os dias do homem estão determinados; tu decretaste o número de seus meses e estabe-


leceste limites que ele não pode ultrapassar. (Jó 14:5)

Todos os povos da terra são como nada diante dele. Ele age como lhe agrada com os e-
xércitos dos céus e com os habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão ou
dizer-lhe: ―O que fizeste?‖ (Daniel 4:35)

Mas, ao partir, prometeu: ―Voltarei, se for da vontade de Deus‖. Então, embarcando,


partiu de Éfeso. (Atos 18:21)

Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa
vontade dele. (Filipenses 2:13)

Ouçam agora, vocês que dizem: ―Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade,
passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro‖. Vocês nem sabem o
que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece
por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: ―Se o Se-
nhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo‖. (Tiago 4:13-15)

―Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque crias-
te todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas‖. (Apocalipse 4:11)

Se Deus de fato determina todos os eventos naturais e assuntos humanos, então segue-se que ele
também decretou a existência do mal. Isso é o que a Bíblia explicitamente ensina:

Disse-lhe o Senhor: ―Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem
lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o Senhor?‖ (Êxodo 4:11)

Quem poderá falar e fazer acontecer, se o Senhor não o tiver decretado? Não é da boca
do Altíssimo que vêm tanto as desgraças como as bênçãos? (Lamentações 3:37-38)

Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a desgraça; eu, o Senhor, faço
todas essas coisas. (Isaías 45:7)

Quando a trombeta toca na cidade, o povo não treme? Ocorre alguma desgraça na cida-
de sem que o Senhor a tenha mandado? (Amós 3:6)

O maior ato de mal moral e injustiça na história humana é dito ter sido ativamente executado
por Deus através de agentes secundários:

Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma
como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade
do SENHOR prosperará nas suas mãos. (Isaías 53:10)

5
De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com o povo de Israel
nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o
que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse. (Atos
4:27-28)

Em todo caso, Deus decretou a morte de Cristo por uma boa razão, a saber, a redenção de seus
eleitos. De igual forma, seu decreto para a existência do mal é para o digno propósito de sua
glória. Os eleitos e réprobos são ambos criados por esta razão:

Direi ao norte: Entregue-os! e ao sul: Não os retenha. De longe tragam os meus filhos, e
dos confins da terra as minhas filhas; todo o que é chamado pelo meu nome, a quem cri-
ei para a minha glória, a quem formei e fiz. (Isaías 43:6-7)

Nele fomos também escolhidos tendo sido predestinados conforme o plano daquele que
faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, a fim de que nós, os que primei-
ro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória. (Efésios 1:11-12)

Então endurecerei o coração do faraó, e ele os perseguirá. Todavia, eu serei glorificado


por meio do faraó e de todo o seu exército; e os egípcios saberão que eu sou o Senhor...
(Êxodo 1:11-12)

Pois a Escritura diz ao faraó: ―Eu o levantei exatamente com este propósito: mostrar em
você o meu poder, e para que o meu nome seja proclamado em toda a terra.‖ E se Deus,
querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciên-
cia os vasos de sua ira, preparados para a destruição? Que dizer, se ele fez isto para tor-
nar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de
antemão para glória... (Romanos 9:17, 22-23)

Baseados nas passagens acima, chegamos à seguinte conclusão: Deus controla tudo o que existe
e tudo o que acontece. Não há sequer uma coisa que aconteça sem que ele tenha ativamente
decretado — nem mesmo um único pensamento da mente do homem. Uma vez que isso é ver-
dade, segue-se que Deus decretou a existência do mal; ele não meramente o permitiu, como se
qualquer coisa possa nascer e acontecer fora de sua vontade e seu poder. Uma vez que mostra-
mos que nenhuma criatura toma decisões completamente independentes, o mal nunca poderia
ter começado sem o decreto ativo de Deus, e não pode continuar por mais um momento sequer
fora da vontade de Deus. Deus decretou o mal definitivamente para sua própria glória, ainda que
não seja necessário saber ou expressar esta razão para defender o Cristianismo do problema do
mal.

Aqueles que veem que é impossível desassociar Deus totalmente da origem e continuação do
mal, todavia tentam distanciar Deus do mal dizendo que Deus meramente ―permite‖ o mal, e
que ele não o causa. No entanto, uma vez que a própria Escritura declara que Deus ativamente
decreta tudo, e que nada pode acontecer fora de sua vontade e seu poder, não faz sentido dizer
que ele meramente permita algo — nada acontece pela mera permissão de Deus.

Uma vez que ―nele vivemos, nos movemos e existimos‖ (Atos 17:28), num nível metafísico, é
impossível fazer qualquer coisa independentemente de Deus. Sem ele, uma pessoa sequer pode
pensar ou se mover. Como, então, pode o mal pode ser desenvolvido e cometido em total inde-
pendência dele? Como pode alguém sequer pensar no mal fora da vontade e do propósito de
Deus? Em vez de tentar ―proteger‖ a Deus de qualquer coisa que ele não precisa ser protegido,
deveríamos alegremente confessar com a Bíblia que Deus ativamente decretou o mal, e então
lidar com o assunto neste fundamento.

6
O censo de Israel feito por Davi fornece um exemplo de mal decretado por Deus e executado
por agentes secundários.

Mais uma vez irou-se o Senhor contra Israel e incitou Davi contra o povo, levando-o a
fazer um censo de Israel e de Judá. (2Samuel 24:1)

Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do povo.


(1Crônicas 21:1)

Estes dois versículos se referem ao mesmo acontecimento. Não há contradição se a visão aqui
apresentada for verdadeira. Deus decretou que Davi pecaria fazendo o censo, mas ele induziu
Satanás a executar a tentação como um agente secundário.4 Mais tarde, Deus puniu a Davi por
cometer este pecado:

Depois de contar o povo, Davi sentiu remorso e disse ao Senhor: ―Pequei gravemente
com o que fiz! Agora, Senhor, eu imploro que perdoes o pecado do teu servo, porque
cometi uma grande loucura!‖ Levantando-se Davi pela manhã, o Senhor já tinha falado
a Gade, o vidente dele: ―Vá dizer a Davi: Assim diz o Senhor: ‗Estou lhe dando três op-
ções de punição; escolha uma delas, e eu a executarei contra você‘‖. Então Gade foi a
Davi e lhe perguntou: ―O que você prefere: três anos de fome em sua terra; três meses
fugindo de seus adversários, que o perseguirão; ou três dias de praga em sua terra? Pen-
se bem e diga-me o que deverei responder àquele que me enviou‖. Davi respondeu: ―É
grande a minha angústia! Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois grande é a sua miseri-
córdia, a cair nas mãos dos homens‖. (2Samuel 24:10-14)

Ainda que o mal do qual estamos falando seja de fato negativo, o fim principal, que é a glória de
Deus, é positivo. Deus é o único que possui valor intrínseco, e se ele decide que a existência do
mal irá derradeiramente servir para glorificá-lo, então o decreto é, por definição, bom e justifi-
cado. Aquele que pensa que a glória de Deus não vale a morte e o sofrimento de bilhões de pes-
soas tem uma opinião muito elevada sobre ele mesmo e sobre a humanidade. O valor de uma
criatura pode apenas ser derivado de e dado por seu criador, e na luz do propósito para o qual o
criador o fez. Uma vez que Deus é o único padrão de medida, se ele pensa que algo é justifica-
do, então é, por definição, justificado. Os cristãos não deveriam ter problema algum em afirmar
isso tudo, e aqueles que acham difícil de aceitar o que a Escritura explicitamente ensina, deveri-
am reconsiderar seu comprometimento espiritual para ver se estão verdadeiramente na fé.

Muitas pessoas desafiarão o direito e a justiça de Deus em decretar por decretar a existência do
mal para sua própria glória e seu próprio propósito. Ao discutir a divina eleição, na qual Deus
escolhe alguns para a salvação e condena a todos os outros, Paulo antecipa uma objeção seme-
lhante, e escreve:

Mas algum de vocês me dirá: ―Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste
à sua vontade?‖ Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que
é formado pode dizer ao que o formou: ‗Por que me fizeste assim?‘ O oleiro não tem di-
reito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?
(Romanos 9:19-21)

Com efeito, Paulo está dizendo: ―É claro que o criador tem o direito de fazer o que quer que ele
queira com suas criaturas. E quem são vocês para fazer tal objeção, em primeiro lugar?‖ Algu-
mas pessoas argumentam que o homem é maior que um ―vaso de barro‖; eu já vi um escritor
cristão professo fazer esta objeção fútil. Primeiro, esta é uma analogia bíblica, e um verdadeiro

4
O próprio Satanás é uma criatura, e portanto não tem livre arbítrio. Todas suas ações e decisões são
controladas por Deus.

7
cristão não a desafiará. Mas se alguém a desafia, então se torna um debate sobre a infalibilidade
bíblica, o qual precisa ser esclarecido antes de retornar a esta analogia. Uma vez que eu estabe-
leci a infalibilidade bíblica em outro lugar, negar a infalibilidade bíblica não é uma opção aqui.
Segundo, se o homem é mais que um vaso de barro, então Deus é também mais que um oleiro
— ele é infinitamente maior que um oleiro. A analogia é adequada quando entendemos o que
ela realmente quer dizer, ou seja, Deus como criador tem o direito de fazer o que quer que ele
deseje com suas criaturas. ―Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a
quem ele quer‖ (Romanos 9:18).

Uma pessoa ter dificuldade em aceitar que Deus decretaria a existência do mal indica que ela
acha algo ―errado‖ em Deus fazer tal decreto. No entanto, qual é o padrão de certo e errado pelo
qual esta pessoa julga as ações de Deus? Se há um padrão moral superior a Deus, para o qual o
próprio Deus deva prestar contas e pelo qual o próprio Deus é julgado, então este ―Deus‖ não é
Deus nenhum; antes, esse padrão superior é que seria Deus. No entanto, o conceito cristão de
Deus se refere ao mais elevado ser e o mais elevado padrão, então, por definição, não há nada
mais elevado. Em outras palavras, se há algo maior que o ―Deus‖ que uma pessoa está contra-
argumentando, então esta pessoa não está de fato se referindo ao Deus cristão. Uma vez que é
este o caso, não há padrão mais elevado que Deus para o qual o próprio Deus deva prestar con-
tas e pelo qual o próprio Deus seja julgado. Portanto, é logicamente impossível acusar Deus de
fazer qualquer coisa moralmente errada.

Jesus diz que somente Deus é bom (Lucas 18:19), para que toda a ―bondade‖ em outras coisas
possa ser apenas derivativa. A natureza de Deus define a própria bondade, e uma vez que ele
―não muda como sombras inconstantes‖ (Tiago 1:17), ele é o único e constante padrão de bon-
dade. Não importa o quão moral eu seja, ninguém pode me considerar o padrão objetivo de
bondade, uma vez que até mesmo a palavra ―moral‖ não tem sentindo a menos que seja usada
com relação ao caráter de Deus. Ou seja, o quão moral uma pessoa é, refere-se ao grau de con-
formidade de seu caráter com o caráter de Deus. À medida que uma pessoa pensa e age de acor-
do com a natureza e as ordens de Deus, ela é moral. Caso contrário, não há diferença moral
entre altruísmo e egoísmo; virtude e vício são conceitos sem sentido; estupro e assassinato não
são crimes, mas eventos amorais.

Contudo, uma vez que Deus chama a si mesmo de bom, e uma vez que Deus determinou bon-
dade por nós ao revelar sua natureza e suas ordens, o mal é, portanto, determinado como qual-
quer coisa que é contrária à sua natureza e suas ordens. Visto que Deus é bom, e uma vez que
ele é a única definição de bondade, também é bom que ele tenha decretado a existência do mal.
Não estamos afirmando que o mal é bom — isso seria uma contradição — mas estamos dizendo
que o decreto de Deus para a existência do mal é bom.

Hebreus 6:13 diz: ―Quando Deus fez a sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior
por quem jurar, jurou por si mesmo.‖ Em outras palavras, não há ninguém para culpar a Deus, e
não há tribunal para o qual alguém possa arrastá-lo a fim de oprimi-lo com acusações. Ninguém
julga a Deus; antes, cada pessoa é julgada por ele. Outras passagens bíblicas relevantes incluem
as seguintes:

Ainda que quisesse discutir com ele, não conseguiria argumentar nem uma vez em mil.
Sua sabedoria é profunda, seu poder é imenso. Quem tentou resistir-lhe e saiu ileso? Ele
transporta montanhas sem que elas o saibam, e em sua ira as põe de cabeça para baixo.
Sacode a terra e a tira do lugar, e faz suas colunas tremerem. Fala com o sol, e ele não
brilha; ele veda e esconde a luz das estrelas. Só ele estende os céus e anda sobre as on-
das do mar. Ele é o Criador da Ursa e do Órion, das Plêiades e das constelações do sul.
Realiza maravilhas que não se pode perscrutar, milagres incontáveis. Quando passa por
mim, não posso vê-lo; se passa junto de mim, não o percebo. Se ele apanha algo, quem
pode pará-lo? Quem pode dizer-lhe: ‗O que fazes?‘ (Jó 9:3-12)

8
―Aquele que contende com o Todo-poderoso poderá repreendê-lo? Que responda a
Deus aquele que o acusa!‖ Então Jó respondeu ao Senhor: ―Sou indigno; como posso
responder-te? Ponho a mão sobre a minha boca. Falei uma vez, mas não tenho resposta;
sim, duas vezes, mas não direi mais nada‖. Depois, o Senhor falou a Jó do meio da tem-
pestade: ―Prepare-se como simples homem que é; eu lhe farei perguntas, e você me res-
ponderá. Você vai pôr em dúvida a minha justiça? Vai condenar-me para justificar-se?‖
(Jó 40:2-8)

Ai daquele que contende com seu Criador, daquele que não passa de um caco entre os
cacos no chão. Acaso o barro pode dizer ao oleiro: ‗O que você está fazendo?‘ Será que
a obra que você faz pode dizer: ‗Você não tem mãos?‘ Ai daquele que diz a seu pai: ‗O
que você gerou?‘, ou à sua mãe: 'O que você deu à luz?' Assim diz o Senhor, o Santo de
Israel, o seu Criador: A respeito de coisas vindouras, você me pergunta sobre meus fi-
lhos, ou me dá ordens sobre o trabalho de minhas mãos? (Isaías 45:9-11)

Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis


são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! ―Quem conheceu a mente do Se-
nhor? Ou quem foi seu conselheiro?‖ ―Quem primeiro lhe deu, para que ele o recom-
pense?‖ Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!
Amém. (Romanos 11:33-36)

Visto que de Deus derivamos todo o nosso conceito e definição de bondade, acusá-lo de mau
seria como dizer que o bom é mau, o que é uma contradição.

A SOLUÇÃO

Tendo demolido a defesa popular, porém, irracional e antibíblica do livre arbítrio, vamos agora
examinar a resposta bíblica para o problema do mal. Vamos repetir o argumento do incrédulo:

1. O Deus Cristão é todo-poderoso e um Deus de amor.


2. Se ele é todo poderoso, então é capaz de findar todo o mal.
3. Se ele é um Deus de amor, ele quer findar todo o mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, o Deus cristão não existe.5

O argumento se depara com um obstáculo insuperável assim que atingimos a premissa número
3, a saber, o não cristão não pode encontrar uma definição de amor que sustente esta premissa
sem destruir o argumento. Ou seja, por qual definição de amor nós sabemos que um Deus de
amor quereria destruir o mal? Ou, por qual definição de amor nós sabemos que um Deus de
amor teria destruído o mal?

Se essa definição de amor vem de fora da Bíblia, então porque a visão bíblica do mundo deve
responder a isso? Criar um argumento usando uma definição antibíblica de amor tornaria o ar-
gumento irrelevante como um desafio ao cristianismo. Por outro lado, se tomamos a definição
de amor da Bíblia, então aquele que usa este argumento deve mostrar que a própria Bíblia defi-
ne o amor de uma forma que requeira que um Deus de amor destrua o mal, ou que tenha destru-
ído o mal. A menos que o não cristão possa defender com sucesso a premissa número 3, o ar-
gumento do problema do mal falha antes mesmo de terminarmos de lê-lo.

5
Obviamente, pessoas diferentes podem apresentar formulações diferentes do problema do mal, mas
minha refutação se aplicará a todas elas.

9
Ora, se o não cristão usa uma definição antibíblica de amor na premissa número 1, então o ar-
gumento é uma falácia grosseira desde o início. Mas se o não cristão usa a definição bíblica de
amor na premissa número 1, e então substitui por uma definição antibíblica na premissa número
3, então ele comete a falácia do equívoco. Sendo assim, o máximo que seu argumento cumpre é
apontar que ele tem uma definição antibíblica de amor, mas esta seria completamente irrelevan-
te como um desafio ao cristianismo.

Por outro lado, se ele tenta usar a definição bíblica de amor, para que seu argumento seja rele-
vante, a própria Escritura teria de definir o amor de uma forma que requeira que Deus destrua o
mal ou, ou que já tenha destruído o mal. No entanto, embora a Escritura ensine que Deus é a-
mor, também ensina que há mal neste mundo, e que esse mal está, no fim das contas, sob o
completo e soberano controle de Deus. Portanto, a própria Escritura nega que haja qualquer
contradição entre o amor de Deus e a existência do mal.

Para que o argumento do problema do mal se sustente, o não cristão deve estabelecer a premis-
sa: ―O amor de Deus contradiz a existência do mal,‖ ou algo com este efeito. Mas a própria
Escritura não afirma esta premissa, e se o não cristão tenta argumentar a favor desta premissa
com definições de amor e mal encontradas em sua própria visão antibíblica do mundo, então
tudo o que ele consegue mostrar é que a visão bíblica do mundo é diferente da visão antibíblica
do mundo. Isso nós já sabemos, mas o que aconteceu com o problema do mal? O não cristão
aponta para o ensino escritural sobre o amor de Deus, e então contrabandeia uma definição anti-
bíblica de amor que requer que Deus destrua o mal, e depois disso, estupidamente ostenta a
contradição que produziu.

Se um indivíduo quer desafiar a Bíblia ou manter a Bíblia responsável por aquilo que ela diz,
então ele precisa primeiro deixá-la definir seus próprios termos; de outra forma, ele pode estar
apenas desafiando o que a Bíblia não diz, o que faz a objeção irrelevante. O não cristão deve
demonstrar por que o amor de Deus necessariamente implica que ele deve ou que ele deseja
destruir o mal, ou que necessariamente implica que ele deve ter ou deseja já ter destruído o mal.

Para responder com algo como: ―Pois um Deus de amor quereria remediar o sofrimento,‖ não
ajuda de forma nenhuma, visto que isso apenas reafirma a premissa em palavras diferentes para
que a mesma questão permaneça. Por que um Deus de amor deve desejar remediar o sofrimen-
to? Como alguém define o sofrimento, em primeiro lugar? Se o não cristão não pode definir
nem o amor nem o sofrimento, ou se ele não pode impor suas definições no cristão, então sua
premissa equivale a dizer que um Deus com um atributo indefinido X deve desejar destruir ou
ter destruído um indefinido Y. Mas se ele não pode definir nem o X nem o Y, então ele não tem
premissa inteligível pela qual possa construir um argumento inteligível contra o Cristianismo.

Outro tipo de resposta pode ser: ―Pois Deus quereria triunfar sobre o mal.‖ Novamente, qual a
definição de ―triunfo‖? Se o próprio Deus é a causa derradeira do mal, e se Deus exerce total e
constante controle sobre ele, então em qual sentido ele está sequer ―perdendo‖ para o mal? En-
tão o que quer que o não cristão diga, ele se depara com o mesmo problema, e é impossível para
ele estabelecer que o amor de Deus contradiga a existência do mal.

Antes, visto que a Bíblia ensina tanto sobre o amor de Deus quanto a realidade do sofrimento, é
legítimo concluir que, da perspectiva bíblica, o amor de Deus não implica necessariamente que
ele deva destruir o mal, ou que ele já o deve ter destruído. É claro que isto pode não ser assim da
perspectiva antibíblica, mas novamente, isso apenas mostra que a visão bíblica do mundo dis-
corda das visões antibíblicas do mundo, o que nós já sabemos, e a qual é a razão do debate. Mas
o não cristão ainda não nos deu uma objeção real e inteligível.

Enquanto o não cristão falha em estabelecer a premissa número 3, que o amor de Deus contradiz
a existência do mal, o cristão não está sob nenhuma obrigação de tomar seriamente o problema
do mal como um argumento contra o Cristianismo. Na verdade, uma vez que o não cristão falha

10
em definir alguns dos termos chave, logicamente ninguém pode sequer entender o argumento —
não há argumento, e não há objeção real para responder.

Se pararmos aqui, nós já teremos refutado o chamado problema do mal, tendo mostrado que não
há problema nenhum. Contudo, só para que a discussão possa continuar, vamos permitir a pre-
missa por agora; isto é, em favor do argumento, vamos assumir que o amor de Deus de alguma
forma contradiz a existência do mal, enquanto manteremos em mente que isto é algo que a Es-
critura nunca ensina, e que os não cristãos nunca conseguiram estabelecer.

Ora, o não cristão argumenta que dada a existência do mal, o Deus cristão não pode existir logi-
camente. Em resposta, nós já mostramos que o não cristão não pode estabelecer a premissa de
que um Deus de amor deva necessariamente destruir o mal ou desejar destruir o mal. Tendo dito
isto, prosseguimos agora em indicar que as premissas do argumento não necessariamente levam
à conclusão do não cristão em primeiro lugar; antes, conclusões muito diferentes são possíveis:

1. O Deus cristão é todo-poderoso e um Deus de amor.


2. Se ele é todo-poderoso, então ele é capaz de findar todo o mal.
3. Se ele é um Deus de amor, então ele quer findar todo o mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus tem um bom propósito para o mal.

1. O Deus cristão é todo-poderoso e um Deus de amor.


2. Se ele é todo-poderoso, então ele é capaz de findar todo o mal.
3. Se ele é um Deus de amor, então ele quer findar todo o mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus irá no devido tempo destruir o mal.

Sem afirmar imediatamente se pensamos que os dois argumentos acima são válidos ou inváli-
dos, o ponto é que em um argumento válido, as premissas devem levar necessariamente e inevi-
tavelmente à conclusão. No entanto, no argumento do problema do mal, as premissas de for
alguma leva necessariamente e inevitavelmente à conclusão. Portanto, o argumento do problema
do mal é inválido.

Ao invés de usar a realidade do mal para negar a existência de Deus, as duas versões revisadas
acima vêm a duas diferentes conclusões. Novamente, eu não disse que se estas duas versões
revisadas são bons argumentos, e eu não disse que as premissas necessariamente e inevitavel-
mente levam a estas duas conclusões; antes, tudo o que estou tentando mostrar é que as premis-
sas não necessariamente e inevitavelmente levam à conclusão do não cristão, e isto é o suficien-
te para mostrar que o argumento é inválido.

Alguns não cristãos dizem que se os cristãos alegam que Deus tem um bom propósito para o
mal, então os cristãos devem também declarar e defender esse propósito. O debate é sobre se as
premissas dadas necessariamente e inevitavelmente levam à conclusão do não cristão. Se há ou
não um bom propósito para o mal, e se os cristãos podem ou não declarar e defender esse pro-
pósito, é completamente irrelevante. De certa forma, a Escritura realmente explica ao menos
parte do propósito de Deus para o mal, mas novamente, isto não é logicamente necessário ou
relevante para o debate.

Há mais. Ora, o não cristão argumenta que Deus não existe porque o mal existe, e a este ponto
nós já refutamos o argumento. Contudo, podemos adicionar que a existência do Deus cristão é
de fato o pré-requisito lógico para a existência do mal. Isto é, o mal não tem sentido e é indefi-
nido sem um padrão objetivo e absoluto de certo e errado, bom e mal, e este padrão apenas pode
ser o Deus cristão.

11
Quando o não cristão afirma que o mal existe, o que ele quer dizer com ―mal‖? Ele pode estar se
referindo a ganância, ódio, homicídio, estupro, terremotos, enchentes e seus semelhantes. Po-
rém, com qual base e por qual padrão ele chama estas coisas de mal? Ele chama estas coisas de
mal apenas porque ele as desaprova? Qualquer definição ou padrão de mal que ele dá sem recor-
rer ao Deus cristão e à Escritura cristã será malsucedida e facilmente derrotada.

Por exemplo, se o não cristão alega que o homicídio é errado porque viola o direito de viver da
vítima, nós só precisamos perguntar por que a vítima tem qualquer direito de viver? Quem dá a
ela esse chamado direito? O não cristão? Quem diz que existe algo como um direito, em primei-
ro lugar? Os não cristãos têm tentado vários argumentos, mas todos eles têm sido expostos co-
mo tolos e injustificados.6

Por outro lado, o cristão afirma que o homicídio é errado, imoral e mal porque Deus proíbe o
homicídio. ―Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque
à imagem de Deus foi o homem criado‖ (Gênesis 9:6); Deus explicitamente o reprova quando
diz: ―Não matarás‖ (Êxodo 20:13). É compatível com a visão cristã do mundo dizer que o ho-
micídio é mal e que o homicida deve ser responsabilizado, mas o não cristão nunca pode justifi-
car a mesma alegação. Ele não pode sequer autoritariamente definir o homicídio.7

O não cristão alega que o mal existe, e a partir desta base, avalia o que o Cristianismo diz a res-
peito de Deus. Ele usa algo que ele alega ser óbvio para refutar algo que ele alega não ser óbvio.
Contudo, a existência do mal não é nem um pouco óbvia a menos que haja um padrão moral
absoluto, objetivo e universal, e que nós de alguma forma conheçamos este padrão, para que
avaliemos a partir dele. Visto que o não cristão falha em estabelecer tal padrão, e que falha em
estabelecer como ele conheceria tal padrão, suas referências ao mal não têm sentido e são ininte-
ligíveis, e seu argumento do problema do mal não tem efeito contra o Cristianismo. De fato, na
base de sua visão do mundo, ele sequer sabe o que seu próprio argumento significa.

Se uma pessoa nega a existência de Deus, ela não tem base racional para afirmar a existência do
mal; por necessidade lógica, nossa recognição de Deus precede nossa recognição do mal. A
menos que o Deus cristão seja pressuposto, o mal permanece indefinido. Quando o não cristão
argumenta contra o Cristianismo usando o problema do mal, ele se torna um terrorista intelectu-
al, para que rapte a moral absoluta do Cristianismo durante o processo de argumentação contra o
Cristianismo. Todavia, ele não pode referir-se a qualquer mal natural ou moral sem implicita-
mente admitir um padrão pelo qual deva julgar algo como mal. Se ele admite a existência do
mal, então ele deve primeiro admitir a existência de Deus, mas se ele já admite a existência de
Deus, então o argumento do problema do mal não tem propósito.

Naturalmente, o não cristão não pode imediatamente se render a essa altura; antes, ele irá tentar
oferecer alguma definição viável de mal para resgatar seu argumento. Eu não posso listar todas
as possíveis definições que ele pode tentar propor, mas forneci informação o suficiente aqui
para que qualquer um possa refutar qualquer definição não cristã proposta. Se o cristão consis-
tentemente exigir justificação para as alegações e definições do não cristão, ele sempre frustrará
com sucesso qualquer tentativa de construir um argumento a partir do problema do mal contra o
Cristianismo.8

6
Para mais informações, veja meus escritos sobre apologética e ética.
7
Por exemplo, o não cristão nunca pode justificar a definição de homicídio para incluir a morte de huma-
nos, mas excluir a morte de bactérias. Obviamente, alguns defensores dos direitos animais consideram
assassinato abater animais, mas não bactérias; contudo, eles nunca podem justificar a inclusão dos ani-
mais ou a exclusão das bactérias.
8
O argumento irá, no final das contas, se tornar um amplo debate pressuposicional. Para mais informa-
ções sobre isso, veja meus Confrontos Pressuposicionais. [No original, Presuppositional Confrontations.
N. do T.]

12
Alguns não cristãos vieram a perceber que o argumento do problema do mal não é estritamente
válido, para que embora continuem a desafiar o Cristianismo baseados na existência do mal,
―suavizaram‖ suas alegações. Ou seja, eles dizem que ainda que a existência do mal não contra-
diga logicamente a existência de Deus, a existência do mal ao menos fornece uma forte evidên-
cia contra a existência de Deus, ou a probabilidade da existência de Deus. Assim, ao invés de
chamar seu argumento de uma justificativa lógica contra a existência de Deus, chamam de uma
justificativa evidencial contra a existência de Deus.9

Mas isso é absurdo — é apenas uma forma enganadora de dizer que eles não têm argumento. Na
verdade, todos os problemas que eu apontei com a justificativa ―lógica‖ permanecem na justifi-
cativa ―evidencial‖. O argumento ainda falha em estabelecer que o amor de Deus contradiz a
existência do mal, ou que o amor de Deus requer que ele destrua o mal, ou que tenha destruído o
mal. Ainda falha em definir termos cruciais. O que é amor? O que é mal? De fato, o argumento
torna as coisas piores ao adicionar o conceito de ―evidência‖ ao debate, e agora exijo ao menos
algumas coisas adicionais: Uma definição para evidência, um padrão para determinar o que
constitui evidência a favor ou contra algo, um padrão para determinar a relevância e a força de
qualquer suposta evidência, e uma epistemologia para descobrir as coisas que são usadas como
evidência.

Juntamente com a justificativa ―evidencial‖, algumas pessoas incluem a alegação de que há


muito mal ―desnecessário‖, e que esta é a evidência contra a existência de Deus. Mas novamen-
te, o que é evidência? E quem decide o que é ―desnecessário‖? 10 Por qual padrão de necessida-
de nós decidimos que um acontecimento mau é desnecessário? E desnecessário para quê? E por
que ele tem de ser necessário, em primeiro lugar? Na visão bíblica do mundo, quando Deus faz
alguma coisa, ela é justificada, por definição, somente porque ele decidiu fazê-la. Assim, o não
cristão não pode argumentar contra o Cristianismo apelando para acontecimentos ―injustifica-
dos‖, uma vez que ele deve primeiro refutar o Cristianismo antes que possa mostrar que tais
acontecimentos são injustificados.

9
Algumas pessoas usam diferentes termos para fazer a mesma distinção.
10
Neste ponto, mesmo alguns filósofos profissionais se inclinam a um apelo à opinião popular. Isto é,
eles alegam que ―todo mundo sabe‖ que certas coisas são más, e que certas coisas são desnecessariamente
más. Em outro contexto, estes mesmos filósofos provavelmente censurariam tal apelo à opinião popular
para estabelecer uma premissa essencial – o fato de recorrerem a esta tática aqui, me mostra que são estú-
pidos e desesperados. A resposta mais óbvia é que é falacioso pensar que alguma coisa é verdadeira so-
mente porque muitas ou até mesmo a maioria das pessoas pensam que seja verdadeira.

Alguns filósofos argumentam que se a maioria das pessoas pensa que há um mal desnecessário, então o
fardo da prova cai sobre o cristão para mostrar que não há mal desnecessário. Embora eu discorde que o
fardo da prova caia sobre mim só porque eu contradigo uma opinião popular, mesmo que caia, eu mostrei
que qualquer mal que Deus decreta é justificado por definição, para que o fardo da prova retorne ao não
cristão, quem que deve ou refutar este ponto em particular ou refutar todo o Cristianismo, e assim o foco
do debate é transferido para um preposicional. (veja meus Confrontos Pressuposicionais).

De mais a mais, mesmo que o apelo para a opinião popular sela legitimada (embora eu negue isso), eu
exijo prova de que haja de fato a opinião popular de que há mal desnecessário. Como pode o não cristão
estabelecer esta alegação? Mesmo que ele possa fazer uma pesquisa empírica global, eu já refutei o empi-
rismo em outro lugar. Além disso, eu exijo uma justificativa de ele limitar sua pesquisa somente à geração
atual. Se ele não pode fazer isso, então ele deve também mostrar que desde a origem da raça humana,
existe a opinião popular de que há mal desnecessário. Ele deve também provar que esta será a opinião
popular em todas as futuras gerações. Se ele falha em fazer isso, então não tenho razão para aceitar sua
alegação de que ―todo mundo sabe‖ que há mal, ou mal desnecessário. Ele acha que ―todo mundo sabe,‖
mas ele não sabe que ―todo mundo sabe‖; esta é sua opinião própria sobre a opinião popular.

13
OUTRAS VISÕES DO MUNDO

Não há razão para explicações prolongadas ou repetições inúteis, visto que o assunto é, de fato,
mais simples do que parece. O argumento do problema do mal de qualquer forma é um dos
argumentos mais irracionais já inventados, mas ele tem enganado e perturbado muitas pessoas
por causa de seu apelo emocional. Em resposta, o cristão não pode apenas neutralizar o argu-
mento, mas ele deve tomar a posição ofensiva neste tópico contra o não cristão.

Possivelmente, por ser o problema do mal ser mais frequentemente utilizado para desafiar o
Cristianismo, muitas pessoas se esquecem de considerar as religiões e visões não cristãs do
mundo têm respostas adequadas e coerentes sobre a existência do mal. Os não cristãos podem
fornecer uma definição confiável do mal? Sua definição do mal contradiz o que eles alegam
sobre física (mal natural) e psicologia (mal moral)? Eles podem explicar como e porque o mal
começou e continua? Eles podem sugerir uma solução para o mal, ou garantir que esta solução
terá sucesso? Nenhuma visão do mundo exceto a fé cristã pode sequer começar a responder
estas questões.

Da próxima vez que um não cristão desafiar você com o problema do mal, ao invés de ser em-
purrado para um canto, você deveria ser capaz de dar uma resposta irrefutável, e então você
deveria tomar a ofensiva e voltar o argumento contra o não cristão (2Coríntios 10:5):

―Sou capaz de mostrar que a existência do mal não contradiz o amor de Deus ou a exis-
tência de Deus. De fato, o próprio conceito de mal pressupõe a existência do Deus Cris-
tão. Este Deus decretou a existência do mal para sua própria glória, e todo aspecto e ins-
tância do mal está sob seu preciso controle, e não há padrão mais alto que Deus para
julgar este decreto como errado. Um dia ele expulsará todos os pecadores para o tor-
mento sem fim no inferno, para que todo caso de assassinato, roubo, estupro, e mesmo
toda palavra que um homem disse, sejam julgados. Ele irá assim justamente punir a to-
dos os pecadores que não confiaram em Cristo para a salvação, mas seus escolhidos irão
certamente ser salvos.

―Mas como você lida com o mal? Dada a sua visão do mundo, como você pode sequer
ter um conceito significante e universal do mal? Como você explica sua origem e contí-
nua existência? Você pode oferecer uma efetiva ou mesmo garantida solução para der-
rotar o mal? Você pode expor razões universalmente aplicáveis e obrigatórias contra
coisas tais como genocídio e racismo? Como pode sua visão do mundo fazer exigências
morais a alguém que não endossa a isso? Dada a sua visão do mundo, há alguma justiça
final e perfeita para alguém? Se não, qual a sua solução ou explicação para isso? Como
pode você definir justiça, em primeiro lugar? Por que deve uma pessoa de outra nação
ou cultura reconhecer os seus chamados direitos?

―Se você não pode dar respostas adequadas para estas e outras milhares de questões,
com base em sua visão do mundo e comprometimentos intelectuais sem autocontradi-
ção, então é evidente que a existência do mal significa a destruição da sua visão do
mundo, enquanto que ela não representa nenhuma ameaça sequer à minha. Você é um
hipócrita por sequer mencionar o problema como uma objeção ao Cristianismo‖.

Ainda que muitas pessoas apreciem desafiar cristãos com o problema do mal, a verdade é que o
Cristianismo é a única visão do mundo em que a existência do mal não cria um problema lógi-
co. Todavia, muitos cristãos professos são intimidados por argumentos não cristãos. Isto é em
parte porque eles não aprenderam as refutações lógicas a estes argumentos, mas também porque
eles algumas vezes concordam em parte com os não cristãos, ao menos em um nível emocional.
Mas é claro, só porque alguma coisa causa uma perturbação emocional em algumas pessoas,
não significa que desafie a própria fé cristã.

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Ora, se o não cristão está tão perturbado com a existência do mal, ele pode sempre perguntar a
um cristão sobre como depender de Cristo para a salvação; de outra forma, ele pode se internar
em uma instituição psiquiátrica onde possa ficar depressivo sob cuidado profissional. Quanto
aos cristãos, a Escritura fornece a solução: ―Tu, Senhor, guardarás em perfeita paz aquele cujo
propósito está firme, porque em ti confia‖ (Isaías 26:3). Salmos 73:16-17 diz: ―Quando tentei
entender tudo isso, achei muito difícil para mim, até que entrei no santuário de Deus, e então
compreendi o destino dos ímpios.‖ Somente aceitando a visão cristã do mundo pode uma pessoa
vir a uma posição racional sobre a existência do mal, e somente entrando no ―santuário de
Deus,‖ pode o assunto deixar de ser ―difícil.‖ Somente aqueles que se aproximam de Deus po-
dem entender suficientemente a realidade do mal e obter estabilidade emocional. A fé cristã é
verdadeira e é o único caminho para Deus e a salvação. Ela é imune a ataques intelectuais. Não
pode ser desafiada com sucesso, mas apenas estudada e obedecida.

Extraído de The Light of Our Minds.


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guardada ou transmitida sem a prévia permissão do autor ou editor.

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