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POL ÍTICA  DE  ORIENTA ÇÃO  PA RA  FORMA ÇÃ O  DO 

POLICIAL CIVIL NO PIAUÍ * 

José da Cruz Bispo de Miranda 1 

Resumo  Abstract 

Este artigo trata das políticas orientadoras para for­  This article is about the advisor policies for vocational 
mação do policial civil no Estado do Piauí, no período  training of the civil policeman in the State of Piauí, in the 
de 2000­2003. As questões evocadas são: 1)a influên­  period of 2000­2003. The evoked questions are: 1)does 
cia das diretrizes e dos parâmetros da política de ori­  the influence of the direvtives and parameters of the po­ 
entação  para formação de policiais ocorre na prática?  licies of direction for vocational trainning of policemam 
2) O conteúdo da grade curricular influencia na forma­  take place in the pratice? 2)Does the content of the 
ção do perfil e na prática profissional do policial? O  ocurricular grating influence in the formation of the profi­ 
percurso metodológico buscou observar as elabora­  le and the professional practice of tha policeman? The 
ções dos documentos oficiais das políticas orientado­  methodological route looked to observe the preparati­ 
ras, as grades curriculares dos cursos de formação e  ons of the official documents of the advisor policies, the 
consolidar as questões pelas entrevistas semi­estru­  curricular gratings of the vocational training courses and 
turadas realizadas com policiais civis. Ao final desta­  the consolidation of  the issues through the semi­struc­ 
camos que os cursos seguem as orientações oficiais,  tured interviews carried out with civil policemem. At the 
mas não conseguem êxito na formatação do perfil do  end we point out that the courses follow the official di­ 
policial para uma sociedade democrática.  rections, but they do not get result in the vocational 
training of the policemem profile for democratic society. 
Palavras­chave: Política de Formação.  Polícia.  Prá­ 
tica Profissional. Democracia.  Keywords:  Policies  of  Vocational Training.  Police. 
Professional Practice. Democracy. 

Introdução  escrivães e delegados de polícia civil e o  per­ 
fil do candidato e do egresso da Academia de 
Este trabalho analisa a política orientado­  Polícia Civil “Sebastião da Rocha Leal”, em 
ra da formação do policial civil no Piauí, perío­  Teresina – Piauí através dos dados  da ficha 
do de 2000 a 2003. O estudo aborda o pro­  de matrícula nos cursos e de entrevistas. 
cesso de constituição da instituição formado­  Entendemos como políticas orientadoras 
ra dos agentes estatais, as diretrizes do Pro­  para formação do policial civil  no Piauí os 
grama  Nacional  dos  Direitos  Humanos,  da  direcionamentos dado por teoria, documen­ 
Matriz  Curricular  Nacional  (elaborada  pela  tos oficiais, grade curricular e outros docu­ 
Secretaria Nacional de Segurança Pública vin­  mentos oriundos do Estado e da Sociedade 
culada ao Ministério da Justiça), a grade curri­  que possibilitem a formatação do perfil do 
cular dos cursos de formação para agentes,  profissional em segurança pública na socie­

*Artigo recebido em: maio de 2007. 
*Aceito em junho de 2007. 

Professor Adjunto da Universidade Estadual do Piauí. 

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dade democrática de direito.  XX. O Rio de Janeiro e São Paulo instituíram 
Algumas questões direcionam as inqui­  suas escolas nos anos de 1912 e 1924, res­ 
etações deste artigo: 1) a influência das dire­  pectivamente. Os objetivos do ensino técni­ 
trizes e dos parâmetros da política de orien­  co profissional do policial são relatados no 
tação  para formação de policiais ocorre na  texto do ‘Primeiro Convênio Policial Brasilei­ 
prática? 2) O conteúdo da grade curricular in­  ro’, realizado em 1912, em são Paulo. 
fluencia na formação do perfil e na prática 
profissional do policial?  Que  o  Primeiro  Convênio  Policial 
Diante disto, é imprescindível descrever  Brasileiro:  reunido  em  São  Paulo, 
o conteúdo e o ensino da Academia e a for­  promova, junto aos chefes de polícia 
ma de uniformização das idéias, expectati­  de todos os departamentos do país, 
a criação de escolas de polícia nas 
vas e comportamentos dos policiais, ao mes­ 
respectivas capitais, com amplitude 
mo tempo ao percorrer essa trilha, feixes de  e  desenvolvimento  relativos  às 
luz são jogados sobre a história da Acade­  necessidades  de  cada  Estado,  em 
mia de Polícia Civil do Estado do Piauí “Se­  particular onde se dê os agentes e 
bastião da Rocha Leal”, as suas práticas pe­  inspetores de polícia e empregados 
dagógicas e os cursos de formação dos anos  encarregados  de  capturas  e 
de 2000 ­ 2001 e 2003.  investigações,  assim  como  aos 
guardas  e  carcereiros  de 
Apesar de as relações de tensões entre 
penitenciárias  e  cadeias  e 
os policiais estarem situados no distrito polici­  funcionários  outros  da  polícia,  o 
al, o embrião do processo de relaboração da  ensino técnico­profissional requerido 
representação social da polícia e do ser polici­  para  o  desempenho  leal  e  correto 
al manifesta­se nos cursos de formação. A ini­  das  comissões  que  lhes  foram 
ciação requer do pretendente ao novo status  confiados ou de cargos que exerçam: 
empenho na incorporação dos valores e hábi­  tendo as escolas, obrigatoriamente, 
os  seus  programas  de  ensino 
tos da nova posição. Neste sentido, o ensino 
calçados nos últimos conhecimentos 
tenta equilibrar teoria e prática através da me­  da  polícia  científica  moderna. 
todologia e da formação da equipe de profes­  (FERNANDES, J. 1965, p. 253). 
sores. O processo de formação dos policiais 
através da antiga Escola e da atual Academia  A  necessidade  de  instalar  estabeleci­ 
de Polícia Civil, apesar de ter ascendência so­  mentos de instrução policial é reforçada após 
bre os policiais, em especial sobre os egres­  a criação da Polícia de Carreira em São Pau­ 
sos dos concursos públicos, possui pouca in­  lo e em vários estados brasileiros, não so­ 
fluência na conduta desses profissionais, uma  mente para a formação ou aperfeiçoamento 
vez que o currículo informal dessa Instituição  dos policiais subalternos, como também dos 
privilegia a aprendizagem através da prática.  policiais com formação jurídica das Faculda­ 
O ensino policial no Brasil não é recente, de­  des de Direito, pois a formação era insufici­ 
senvolve­se desde o início do século passado.  ente para o desempenho de um bom policial 
(FONSECA, 1984). Nesse período, a base 
A  Política  e  o  Ensino  na  Academia  de  do conhecimento das escolas de polícia civil 
Polícia  constitui­se de disciplinas na área de polícia 
científica e técnica policial. 
A preocupação com o ensino técnico pro­  O papel das escolas de polícia no Brasil, 
fissional do policial civil e de um espaço des­  durante muito tempo, é formar um policial com 
tinado a tal função data no início do século  um olhar compartimentado e classificatório,

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através do qual o cidadão comum, antes de  na sala, era no pátio, mas era uma 
tudo, é suspeito. Nesse sentido, Heloísa Fer­  aula  prática,  de  disciplina  onde 
nandes (1989) destaca alguns elementos do  aquele  que  não  tinha  acesso  aos 
bons livros pela dificuldade da época 
“discurso da suspeita”, referindo­se à polícia 
e da escola, eles aprendiam através 
militar, mas pode ser estendido à atividade  da aula e da disciplina dos militares 
policial como um todo. O primeiro é a mobili­  [...].  (Coordenador  pedagógico  da 
dade do olhar, podendo ser descrito como a  ACADEPOL  ­ 01.02.2002). 
“movimentação livre”: o policial olha a todos 
em qualquer lugar, não há limite para o seu  A Lei­Delegada Nº 100, de 03 de 
olhar, embora saiba quem procurar ­ o suspei­  julho de 1973, que dispõe sobre a estrutura 
to. O suspeito e o lugar onde encontrá­los são  da Secretaria de justiça e Segurança Públi­ 
definidos anteriormente, “[...] o suspeito não é  ca, cria a Escola de Polícia. A função desta 
aquele que faz algo, às vezes, é não fazer nada  Instituição é a formação, aperfeiçoamento e 
(p.128). O segundo aspecto: o olhar adestra­  especialização técnico­científico e cultural dos 
do. A atitude do policial deve ser acompanha­  funcionários da Secretaria. A competência, 
da de imagens que expressem sua masculini­  os órgãos administrativos e suas atribuições, 
dade: ‘chegar duro’ , mandando calar a boca  regimento escolar, plano de ensino e outros 
e exibindo toda estética do poder masculino.  são regulados pelo Decreto Nº 2.089, de 18 
Logo, o atuar é o terceiro elemento que com­  de agosto de 1975, que dispõe sobre o Es­ 
põe o” discurso da suspeita”.  tatuto da Escola de Polícia. 
O pensar e o agir do policial são condi­  As medidas de promoção cultural e qua­ 
cionados pela representação social que as­  lificação profissional contidas na Lei­Delega­ 
simila na sua experiência pessoal, no grupo  da Nº 100, aparentemente contrastavam com 
do qual faz parte, na escola de polícia e no  os ‘anos de chumbo’ e de arbítrio que vivemos 
distrito policial.  na década de 70 no Brasil; por outro lado,  cri­ 
A formação do policial civil no Piauí, em  ar regras para a formação dos policiais signi­ 
meados do século XX, ocorre de forma as­  ficava o  controle sobre o processo de forma­ 
sistemática, em espaços inadequados e com  ção e a garantia da produção de um profissio­ 
instrutores sem habilidade para o ensino. Os  nal adequado às exigências da época 
primeiros a receberem esse tipo de ensino  Com a abertura democrática no Brasil, 
foram os policiais da Guarda Civil, corpora­  o poder e o abuso das polícias são questio­ 
ção responsável pelo policiamento urbano em  nados, e as academias de polícia civil (anti­ 
conjunto com a Polícia Militar, em seguida os  gas escolas de polícias) passam a desem­ 
agentes, investigadores, delegados e peritos  penhar o papel de (re)educação e elabora­ 
policiais,  como  afirma  o  ex­diretor  e  atual  ção de novos valores junto aos novos e aos 
coordenador pedagógico da ACADEPOL:  antigos policiais, como diz Comparato (1996, 
p.108) sobre a ética na segurança pública e 
[...]  o  policial  quando  adentrava  o  o papel da academia de polícia: 
quadro da polícia através da Guarda 
Civil  [...]  não  tinha  academia  de 
É  preciso  enxergar  a  ética  nesse 
polícia,  mas  uma  equipe  de 
quadro amplo que é o quadro político, 
delegados,  escrivães  de  polícia, 
que é o quadro social, e em função 
oficiais  da  Polícia  Militar  do  Piauí 
da  segurança,  que  não  se  limita, 
passava um período de dois ou três 
simplesmente, à esfera do crime, à 
meses treinando o guarda, o guarda 
prevenção  contra  a  atividade
todo dia tinha aquela aula, não era 

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criminosa [...] implica uma mudança  a existência de valores ambíguos na persona­ 
de mentalidades, no povo e na polícia  lidade do policial, quer novato ou antigo. 
[...] e a educação, nesse caso, é um  A seleção de novos  policiais visa não 
trabalho longo, fatigante, e que precisa 
apenas preencher as vagas originadas pe­ 
ser  cuidado,  evidentemente,  pela 
academia de polícia. Mas muito mais  las necessidades do sistema de segurança, 
do  que  isso,  através dos meios de  mas transformar a cultura policial, muitas ve­ 
comunicação de massa, a polícia e  zes, reforçada na desinformação, no baixo 
o povo podem e devem dialogar.  grau de instrução escolar e na ‘ausência’ de 
elementos inibidores da violência dos polici­ 
A Constituição do Estado do Piauí, de  ais, contrastando com o elevado nível de in­ 
05 de outubro de 1989, no artigo 159, 2º pa­  formação, alto grau de formação escolar e 
rágrafo, afirma que o Estado “[...] criará e  uma vigilância (controle) cada vez maior da 
manterá  uma Academia  especializada  de  sociedade sobre os  novos quadros polici­ 
Polícia Civil, a que compete o treinamento e  ais. Esses aspectos marcam os novos e ve­ 
a reciclagem dos policiais civis de carrei­  lhos policiais na polícia civil, além das mudan­ 
ra”. Por força desse artigo e da Lei Nº 4.339,  ças nos discursos daqueles sobre suas futu­ 
de  12  de  fevereiro  de  1990,  a  Escola  de  ras atividades profissionais. Embora a forma 
Polícia Civil passa a denominar­se Acade­  de pensar e agir dos “novatos” tenha influên­ 
mia  de  Polícia  Civil. A  conjuntura  política  cia humanista, adquirida nas escolas secun­ 
aponta para a consagração dos direitos hu­  dárias e nas universidades, a cultura organi­ 
manos  e  o controle  dos  abusos  policiais,  zacional e os métodos dos antigos policiais 
sendo estes um dos desafios da formação  refletem o campo policial como lugar de dis­ 
policial no regime democrático.  putas, não apenas no distrito, mas na própria 
O desafio de transformar mentalidades na  elaboração de uma política de segurança. 
polícia civil  encontra vários  obstáculos, um  Com o objetivo de humanizar e profissionali­ 
deles criado pelo próprio ensino policial ba­  zar os policiais brasileiros, os cursos de for­ 
seado nas antigas práticas: atitudes de des­  mação  policial  passam  a  ter  diretrizes  de 
confiança acompanhada pela hostilidade do  políticas governamentais. Em 1986, o Minis­ 
policial em relação à população, a represen­  tério da Justiça elabora o Programa Nacio­ 
tação de uma sociedade como um lugar “ruim”  nal de Direitos Humanos que aponta ações 
e a expectativa de que essa sociedade está  para o aperfeiçoamento desses cursos, den­ 
pronta a agir contra o policial. Contudo, as  tre eles podemos destacar: 
academias de polícia nos últimos anos têm 
modificado a forma de seleção dos novos po­  • Estimular o aperfeiçoamento dos 
liciais, a estrutura curricular e o perfil dos seus  critérios  para  seleção,  admissão, 
professores; além disso, os motivos que con­  capacitação,  treinamento  e 
duzem  os novos  ingressantes  na atividade  reciclagens de policiais. 
policial não são apenas os fatores sócio­eco­  • Incluir nos cursos das academias 
nômicos, a atividade tipicamente masculina (a  de polícia matéria específica sobre 
qual reforça os elementos de violência e tortu­  direitos humanos 
ra), a noção de onipotência sobre a socieda­  •  Incentivar  programas  de  capa­ 
de, mas também o objetivo de compor uma  citação material das polícias, com a 
necessária e urgente  renovação e 
instituição democrática, não apenas legalista, 
modernização dos equipamentos de 
mas justa, defensora dos direitos humanos e 
prestação da segurança
próxima do cidadão. É interessante observar 

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• Apoiar  programas  de  bolsas  de  onais da área de segurança do cidadão cons­ 
estudos para o aperfeiçoamento dos  tituída de uma base comum e de uma parte 
policiais.(p. 16­17)  diversificada. Os aspectos pedagógicos e pro­ 
fissionais devem atender o perfil desejado de 
O  esforço  na  implementação  dessas  profissional que, de acordo com as necessi­ 
ações gerou o ‘Projeto Treinamento para Pro­  dades de cada região, deve responder às “[...] 
fissionais da Área da Segurança do Cidadão’  expectativas da atuação profissional em rela­ 
com os seguintes objetivos:  ção às tarefas a serem desenvolvidas na fun­ 
ção que ocupará” (IBIDEM, 2000,  p. 11). 
• Identificação das necessidades de  Uma das competências básicas requeri­ 
formação,  aperfeiçoamento  e  das e desenvolvidas no processo de formação 
especialização  de  pessoal  das  é “o enfoque moral e ético que permitirá ao pro­ 
polícias federais e estaduais; 
fissional da área da segurança compreender o 
• Proposta de  compatibilidade dos  seu papel de cidadão responsável pela segu­ 
currículos,  visando  permitir  o 
rança de outros cidadãos” (IBIDEM,  p.12). 
princípio  de  equidade  dos  conhe­ 
Os objetivos da formação da base comum 
cimentos  e  a  modernização  do 
ensino policial (Brasil, 2000, p. 06).  e da parte diversificada do currículo básico são: 
1) garantir a unidade de pensamento e ação, 
e; 2) atender às especificidades de cada curso 
Este Projeto apresenta uma proposta de 
e as peculiaridades regionais e locais (ver qua­ 
currículo básico para a formação dos profissi­ 
dro 01). Para alcançar esses objetivos é reco­ 

BASE  COMUM 
Objetivo: Garantir a unidade de pensamento e ação. 
Áreas de estudos desdobrados em disciplinas que congregam conteúdos conceptuais, procedi­ 
mentais (habilidades técnicas, administrativas, interpessoais, políticas e conceituais) e atitudinais, 
inerentes ao perfil de desempenho do profissional da área de segurança do cidadão. 

ÁREAS DE ESTUDOS 

MISSÃO  TÉCNICA  CULTURA  SAÚDE  EFICÁCIA  LINGUAGEM 


POLICIAL  POLICIAL  JURÍDICA  POLICIAL  PESSOAL  INFORMAÇÃO 

Temáticas Centrais 
Cultura  –   Sociedade – Ética – Cidadania – Direitos Humanos – Controle das drogas. 

PARTE DIVERSIFICADA 

Objetivo: atender às especificidades de cada curso e às peculiaridades regionais 

Disciplinas que congreguem conteúdos conceptuais, procedimentais (habilidades, técnicas, admi­ 
nistrativas, interpessoais, políticas e conceituais) e atitudinais, relacionados diretamente com a 
especialidade que irão desempenhar e com as necessidades e peculiaridades regionais. 
Quadro 01 ­ Proposta de currículo para a formação da área de segurança do cidadão 
Fonte: Bases Curriculares para Formação dos Profissionais da Área da Segurança do Cidadão (BRASIL, 2000, p. 21).

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mendada uma carga horária não inferior a 380  forme os Editais 001 e 002/2000 da Secreta­ 
e nem superior a 500 horas­aula.  ria da Segurança Pública do Estado do Piauí. 
Cada área de estudo possui premissas 
específicas:  a)  O Perfil dos Alunos e dos Cursos de 
• A Missão do Policial consiste em apre­  Formação  da  Academia  de  Polícia  nos 
sentar ao policial os fundamentos políti­  Anos de 2000 ­2001 e 2003. 
cos, éticos e filosóficos de sua ativida­ 
de,  bem como  o contexto  sociológico,  Os dados da ficha de inscrição nos cur­ 
psicológico e cultural responsável pela  sos de formação da ACADEPOL permitem 
criminalidade e a violência.  perceber um certo perfil dos alunos selecio­ 
• A Técnica Policial aborda métodos e  nados no concurso. Foram realizadas duas 
técnicas utilizados pelos policiais, bem  convocações para preenchimento de vagas. 
como a sua integração com as diversas  A primeira realizada em 2000 e com a con­ 
áreas de interesse da atividade policial.  clusão do curso  de formação em 2001;   a 
• A Cultura Jurídica Aplicada subsidia de  segunda inicia e conclui a formação no de­ 
elementos jurídicos necessários para a  correr do primeiro semestre de  2003. As in­ 
interpretação das leis.  formações incluem  os  desistentes que reali­ 
• A Saúde do Policial inclui uma atenção  zaram matrícula na Academia de Polícia. 
especial à saúde física e psicológica do  Traçando­se  um  comparativo  entre  os 
policial.  quadros apresentados observamos um maior 
• A Eficácia Pessoal tenta otimizar a ca­  percentual de acesso entre as mulheres para 
pacidade de equacionar problemas atra­  o cargo de delegado de polícia. Esses dados 
vés de soluções alternativas e adequa­  podem apontar para um período maior de per­ 
das a cada situação.  manência das mulheres no sistema de ensino 
• A Linguagem e a Informação pretendem  e para uma rejeição às atividades policiais, 
auxiliar o policial no uso das informações  uma vez que o cargo de delegado é encarado 
estratégicas à sua atividade.  por muitos como uma atividade cartorial. 

Agente e Escrivão de Polícia  Delegado de Polícia 
2000­2001  %  2003  %  2000­2001  %  2003  %
Homens  311  92,6  73 91,25  23 74,19  29 74
Mulher es  25  7,4  07 8,75  08 25,80  10 26 
Total  336  100  80  100  31  100  39  100 
Quadro 02 ­ Total de alunos, por sexo inscritos para o curso de agentes, escrivães e delegados de polícia na 
academia de polícia. Período de 2000­2001 e 2003. 

Estes parâmetros são referenciais para  A  exclusão  de  pessoas  que  possuem 


os  cursos  de  formação  de profissionais  da  apenas a Ensino Médio (Quadro 03) é outro 
área da segurança do cidadão no Brasil. Não  dado significativo. Dos que efetivam matrícu­ 
são diferentes para a Academia de Polícia Civil  la nos cursos de formação de agente e escri­ 
‘Sebastião da Rocha Leal’, instituição respon­  vão de polícia na Academia, no ano de 2000, 
sável pela organização dos cursos de forma­  56,3% estão cursando a faculdade e 19,6% 
ção dos policiais civis que ingressaram atra­  têm seus cursos concluídos. Na turma de 2003 
vés de concurso público para os cargos de  os dados são semelhantes: 61,25% cursam 
agente, escrivão e delegado de polícia, con­  a faculdade e 17,5% têm formação superior.

76  Linguagens, Educação e Sociedade  ­  Teresina, Ano 12, n. 16, jan./jun. 2007 


Agente e Escrivão de Polícia 
2000­2001  %  2003  % 
2º GRAU  81  24,10  17 21,21 
3º Incompl.  189  56,30  49 61,25 
3ºCompleto  66  19.60  14 17,5 
Total  336  100  80  100 
Quadro 03 ­ Total de alunos, por escolaridade inscritos para o 
curso  de  agentes,  escrivães  de  polícia  na  academia  de 
polícia.Período de 2000­2001 e 2003. 

Os quadros 02 e 03 demonstram que a  de  profissionais  para  outras  atividades.  E 


maioria dos alunos do curso de formação de  este é outro problema da polícia, a transitori­ 
agente e escrivão tem curso superior concluí­  edade dos policiais de melhor formação. 
do ou em conclusão, revelando que a distin­  A  comparação  entre  os  candidatos  a 
ção entre agentes, escrivães e delegados não  agente, escrivão e ao cargo de delegado de 

2000­2001  2003 
FAIXA ETÁRIA  Fr.  %  Fr.  % 
18 anos de idade ou menos  04  1,2  ­  ­ 
19 a 24 anos  146  43,4  49 61,25 
25 a 29 anos  114  33,9  23 28,75 
30 a 34 anos  39 11,6  06 7,5 
35 a 39 anos  24 7,2  01  1,25 
40 a 44 anos  08  2,4  ­ 
45 a 49 anos  ­  ­  01  1,25 
50 a 54 anos  ­  ­  ­ 
55 a 59 anos  01  0,3  ­ 
60 a 65 anos  ­  ­  ­  ­ 
65 anos de idade ou mais  ­ ­ ­  ­
Total  336  100  80  100 

Quadro 04 ­ Faixa etária e freqüência de inscritos nos cursos de  formação de 
agente e escrivão na academia de polícia. Período de 2000 – 2001 e 2003.

pode ocorrer pelo desnível de  escolaridade.  polícia está localizada na hierarquia e no sta­ 
Porém,  percebe­se  que  a  mesma  empáfia  tus que os cargos oferecem. Na Academia 
existente nos cursos de direito nas faculdades  de polícia a diferença entre o grupo consti­ 
em relação aos outros cursos da área de hu­  tuído pelos agentes e os escrivães e, o ou­ 
manas é reproduzida no interior da academia.  tro composto pelos delegados é notória. A 
Os dados escolares são positivos, en­  exigência de traje social e gravata para os 
tretanto, a baixa média de idade (Quadro 04  últimos, enquanto os primeiros recebem a 
e Quadro 05) e a boa qualificação associa­  orientação de vestirem uma camiseta com 
das a uma carreira de difícil execução, alta  o símbolo e o nome da instituição e calça 
tensão e baixos salários geram a emigração  jeans, além disso, alguns dos alunos do cur­ 

Linguagens, Educação e Sociedade  ­  Teresina, Ano 12, n. 16, jan./jun. 2007  77 


2000­2001  2003 
FAIXA ETÁRIA  Fr.  %  Fr.  % 
18 anos de idade  ­ 
19 a 24 anos  07 22,58  02 5,1 
25 a 29 anos  17 54,84  17 43,7 
30 a 34 anos  03 9,68  13 33,3 
35 a 39 anos  02 6,46  03 7,7 
40 a 44 anos  01 3,22  02 5,1 
45 a 49 anos  01 3,22  02  5,1 
50 a 54 anos  ­ 
Total  31  100  39  100 
Quadro 05 ­ Faixa etária e freqüência de inscritos no curso de formação 
de delegado de polícia período de 2000­2001  e 2003. 

so de delegado são convidados para minis­  vidade que exigia a habilidade de percepção 
trarem  aulas  nos  cursos  de  formação  de  e de investigação e o contato direto com os 
agente e escrivão, em especial as matérias  bandidos  disse  que  para  isto  existiam  os 
jurídicas.  agentes de polícia. Desde o início do curso o 
A representação social da função que  relacionamento entre os dois grupos é dis­ 
irão exercer é outro elemento de distinção  tante. São raros os momentos de diálogos 
entre os dois grupos. Para a maioria dos alu­  entre os alunos. 
nos do curso de formação de delegados a  As diferenças entre os policiais aumen­ 
função que irão assumir é uma espécie de  tam na medida que tomam conhecimento das 
uma  gerência: solicitar  papel,  combustível  atividades do campo policial e do sistema de 
para as viaturas,  notar ausência de servido­  segurança pública. Neste sentido, o currícu­ 
res e, na presidência dos inquéritos, coletar  lo, as disciplinas, ordem dos blocos e o está­ 
informações dos policiais. Esta percepção é  gio nas delegacias são peças fundamentais 
reforçada no item 2.1 do Edital  Nº 001, de  na constituição do pensamento dos policiais 
27/03/2000 da Secretaria da Segurança Pú­  envolvendo  a  teoria e  prática. A  disciplina 
blica do Estado do Piauí:  ‘Delegacia Modelo’ consiste na prática poli­ 
cial nas delegacias de polícia civil. Esta con­ 
São  atribuições  do  cargo  de  sistia em atender as especificidades da área 
Delegado de Polícia Civil:  de atuação profissional do agente, do escri­ 
•  exercer  atividade  de  autoridade  vão e do delegado de polícia civil, associan­ 
policial;  do teoria e prática. 
• determinar a execução de todos os  Os currículos e seus conteúdos partem do 
procedimentos  administrativos  e  princípio que 
legais,  visando  o  bom  (sic) 
desempenho  das  atividades  de  Criando representações e nelas se 
polícia judiciária.(p. 01).  apoiando,  o  homem  capta  as 
conexões internas do objeto, numa 
Para exemplo dessa concepção, um dos  atividade relativamente independente 
alunos do curso de formação de delegado  da atividade prática produtiva direta, 
imbuída  de  um  caráter  teórico. 
quando solicitado a responder sobre uma ati­ 
(SAVIANI, 2000, p. 55).

78  Linguagens, Educação e Sociedade  ­  Teresina, Ano 12, n. 16, jan./jun. 2007 


Áreas de Estudo  Agente de Polícia  Escrivão de Polícia  Delegado de Polícia 
Cultura Jurídica**  110  150  110 
Técnica Policial  190  150  172 
Missão Policial  40 40 62
Eficácia Pessoal  40 40 36
Ling.e Informação  40 40 40
Saúde do Policial  30  30  30 
Prática Policial  150  150  150 
TOTAL 2  600  600  600 
Quadro 06 ­ comparativo horas­aula por área de estudo dos cursos de formação da academia de polícia 
civil ‘Sebastião da Rocha Leal’.Períodos de  2000­2001 e 2003. 

A análise da composição dos quadros  expositivas, leitura e discussão dos textos, 
de disciplinas dos cursos de formação apon­  estudo em grupo, consulta e pesquisa, semi­ 
ta para um certo distanciamento das Bases  nários, exposições dialogadas, filmes, proje­ 
Curriculares e do Plano Nacional de Segu­  ção de slides, etc. Contudo, a predominân­ 
rança Pública, publicado em 2001.  cia é a da metodologia tradicional. O uso exa­ 
Uma breve reflexão sobre os projetos de  gerado de aulas expositivas, a distância man­ 
formação revela a falta de preocupação em  tida entre professor e aluno e a simbologia 
definir o perfil de profissional a ser formado  da figura do professor­autoridade realçada 
pela Academia. As disciplinas de caráter hu­  pelo Manual do Aluno da ACADEPOL (PIAUÍ, 
manístico e geral têm baixa carga horária e  2000) que diz, no tópico 2.2 ­ item cinco, que 
são mal distribuídas na grade curricular.  “Os alunos deverão levantar­se e permane­ 
O currículo preocupa­se em atender à  cer  em  atitude  respeitosa  sempre  que  um 
exigência legal dos artigos 21 e 32 da Lei  professor ou autoridade, entrar em sala de 
Complementar Nº 01, de 26 de junho de 1990  aula” (p.13), refletem a opção institucional. 
(Estatuto dos  Policiais Civis do  Estado do  Essa postura é percebida por um dos alunos 
Piauí),  que  apontam  a  obrigatoriedade  do  do curso de formação, nesse sentido, comen­ 
curso de formação na ACADEPOL para os  ta:   “Os professores, do meu ponto de vista, 
concursados para os cargos de policial civil  eles foram muito bem escolhidos, na verda­ 
e terminam por reproduzir as práticas polici­  de, não se pode dizer que são professores, 
ais tradicionais. Estas últimas são transmiti­  eles são instrutores [...] eles têm que ter didá­ 
das  pela  organização  da  grade  curricular,  tica pra poder dar aulas. Então, basicamente 
pelas  regras  institucionais  da Academia  e  não são professores, são instrutores [...]” (Alu­ 
pelas práticas e discursos dos professores.  no do Curso de formação de agente de polí­ 
A metodologia dos cursos sugere aulas  cia ­ 20.04.2001). 


Fonte: Projeto de Curso de Formação para Delegado de Polícia da Academia de Polícia Civil ‘Sebastião da Rocha 
Leal’. 
*De acordo com o art. 32 da Lei Complementar Nº 01, de 26 de junho de 1990 (Estatuto dos Policiais Civis do 
Estado do Piauí) o referido curso tem a duração de seis meses. Sendo que 450 horas­aula de conteúdo teórico e 
150 horas­aula destinadas à prática nas delegacias. 
**As disciplinas de conteúdo jurídico no curso de 2003 tiveram acréscimo de carga horária e modificações semânticas 
em suas denominações, tais como: de  Direito Administrativo Disciplinar  para Processo Penal e Disciplinar. 
Disciplinas foram incluídas na grade curricular em substituição a outras ou na redução de hora­aula, dentre elas 
estão: Polícia Comunitária, Polícia, Infância e Juventude e  Criminologia.

Linguagens, Educação e Sociedade  ­  Teresina, Ano 12, n. 16, jan./jun. 2007  79 


A  noção  de  instrutor  é  associada  aos  ideologia empregada aqui ainda ficou 
cursos militares. Nestes, os instrutores pos­  um  pouco  a  desejar    por  essa 
suem  pouca  comunicação  com  os  alunos,  questão,  porque  a  camada  que  a 
adentrou na academia já superava 
não utilizam material didático de apoio e o 
um  pouco  a  expectativa  imposta 
conteúdo resume­se à exposição oral.  pela  própria  academia  (Aluno  do 
A didática adotada pode ser um exemplo  curso  de  formação  de  agente  de 
do conteúdo utilizado em sala de aula, para  polícia ­ 17.04.2001).(grifo nosso). 
muitos professores, a própria vivência, como 
percebeu esse aluno: “Os professores, de um  O entrevistado fala  aparentemente do 
modo geral, a maioria delegados(sic) ou da  descompasso entre o conteúdo e o nível de 
área policial. Os professores de investigação  escolaridade dos alunos dos cursos de for­ 
todos eles são comissários ou agente de po­  mação, em especial dos agentes de polícia, 
lícia. Eles souberam passar o que estão viven­  mas percebe­se uma decorrência desta ex­ 
ciando na prática” (Aluno do Curso de forma­  pectativa da Academia apontada pelo aluno, 
ção de agente de polícia ­ 18.04.2001).  a reprodução  de uma filosofia anterior e a 
A força da experiência / vivência reduz  frustração desses dois discentes com a evo­ 
a capacidade inovadora em conteúdos téc­  lução do curso. 
nicos e humanísticos que a Academia de Po­  Neste sentido, a opção por uma meto­ 
lícia pode transmitir. A experiência é a pró­  dologia tradicional e a omissão explícita de 
pria visão de mundo impregnada na pele dos  um perfil profissional democrático do discen­ 
policiais.  te, por parte dos professores e da Academia, 
Parece paradoxal questionar o uso da  apontam para uma formação vertical e repro­ 
experiência / prática em sala de aula. O  fato  dutora de práticas autoritárias. 
é que, geralmente, a experiência é conserva­  Outro aspecto é a proporção carga ho­ 
dora e significa uma prática sem inovações  rária ­ conteúdo por área profissional. As três 
tecnológicas e de desrespeito aos direitos  categorias profissionais: agente, escrivão e 
humanos e a explicitação do modo de repro­  delegado de polícia, apesar de serem polici­ 
dução das práticas policiais tradicionais.  ais civis exercerão papeis diferenciados no 
Este modo de reprodução é transmitido  campo policial. Esta diferenciação não é re­ 
em sala de aula, como constata um dos alunos  fletida no currículo e na grade curricular. A 
do curso de formação de agente de polícia:  homogeneidade na formação permite uma 
unidade de pensamento, ao mesmo tempo 
[...] a academia está formando uma  em  que não  atende  às especificidades  de 
camada muito grande de alunos e  cada área profissional. No caso do escrivão 
alguns professores tem um leque de  de polícia, que possui uma atividade burocrá­ 
conhecimento muito grande, porém 
tica no uso quase exclusivo da linguagem e 
não poderem vir para academia e, 
alguns que vieram, que tiveram (sic)  da informação, o seu curso propicia apenas 
oportunidade de estar aqui, a gente  quarenta horas­aula para essa área de estu­ 
percebe  que  eles  fizeram  ou  do e cento e cinqüenta horas­aula para cultu­ 
preparam a disciplina visando uma  ra jurídica e técnica policial. Uma minoria en­ 
camada bem diferente da atual; por  tre os escrivães sai do curso preparado para 
quê? [...] a filosofia utilizada para a  auxiliar o delegado na peça do inquérito. A 
academia é ainda com a perspectiva 
não preocupação curricular com as especifi­ 
com  a  camada  anterior  ou 
anteriores, a  gente percebe  que a  cidades das áreas profissionais é refletida na 
ausência da parte diversificada, responsável

80  Linguagens, Educação e Sociedade  ­  Teresina, Ano 12, n. 16, jan./jun. 2007 


por estes conteúdos, pelos aspectos regio­  fessores e policiais, que estão nos distritos, a 
nais, locais, raciais e de gênero. A percep­  influência da academia na formação é peque­ 
ção por parte dos novatos de que o ensino  na, uma vez que a prática é supervalorizada, 
segue uma rotina distante das transforma­  como diz Bretas (1997 a,   p. 83): 
ções sociais não demora a se instalar. 
Os ‘novatos’ ­ alunos da academia de  Se  existe  hoje  uma  preocupação 
polícia civil ­ são envolvidos no cenário onde  acentuada  em  oferecer  a  novos 
todos os personagens são importantes, com  policiais  um  treinamento  mais 
exceção deles próprios, os professores (ge­  adequado e melhor direcionado para 
temas  com  respeito  aos  limites 
ralmente delegados e peritos criminais). Es­ 
legalmente  estabelecidos  de  sua 
ses professores, regra geral, revelam uma  atuação,  um  dos  pontos  mais 
postura autoritária e de pouca comunicação  difíceis de quebrar será certamente 
com os alunos e influenciam na relação pos­  o outro aprendizado, que é oferecido 
terior entre policial e o cidadão no dia­a­dia.  quando  o  novo  policial  passa  da 
Os iniciantes assimilam rapidamente que sua  escola à rua, onde as verdades da 
inserção no mundo policial depende da acei­  profissão  são  apresentadas  de 
forma muito diversa (Grifo nosso). 
tação das práticas e das normas da organi­ 
zação policial. 
O ensino policial é baseado no conheci­  Apesar do aprendizado da sala de aula 
mento jurídico e técnico, justificando a predo­  e da ampla autonomia na execução de suas 
minância  nos  quadros  das  ACADEPOL’s  funções, a prática policial é extremamente 
(Academias  de  Polícias)  de  bacharéis  em  condescendente com atitudes, muitas vezes 
direito e de policiais, todavia os procedimen­  legais, porém injustas diante do indivíduo. 
tos de transmissão de conhecimento são pre­  Além disso, os policiais perdem o hábito de 
cários,  principalmente  por  parte  do  corpo  questionar uma ordem, o agente policial aban­ 
docente, possibilitando a substituição do en­  dona com facilidade suas ações, e mesmo 
sino jurídico e técnico pelo testemunho da  quando os antigos percebem uma injustiça, 
experiência profissional, muitas vezes, carre­  conformam­se, considerando­a necessária e 
gada de violência e tortura. Como exemplifi­  “natural”, afinal de contas, é seu método de 
cação  dessa  prática,  evocamos  Mingardi  trabalho. Os novatos aprendem na academia 
(1992) que relata sua experiência como alu­  que o ideal, o dever ­ ­ ser é algo extrema­ 
no da Academia de Polícia Civil de São Pau­  mente difícil de ser conseguido e, muitas ve­ 
lo. Segundo ele, os delegados­professores  zes, o tempo e os recursos técnicos disponí­ 
‘ensinam’ as regras sobre quem vai para o  veis são incompatíveis com o desejado. 
‘pau’ e como aplicar a tortura. Os policiais que 
batem em todos os presos, como os ricos,  Conclusão 
os criminosos com dinheiro, pessoas de po­ 
sição social, terminam tendo problemas no  Após esta reflexão sobre a política de for­ 
interior da instituição e, conseqüentemente,  mação do policial civil podemos afirmar que o 
sendo exonerados.  ensino policial, através do conteúdo da maté­ 
Os ‘novatos’ percebem que a experiência  ria jurídica, técnica, investigativa e criminalísti­ 
policial tem ascendência sobre o ensino jurídi­  ca, desperta maior  atenção dos policiais no­ 
co e técnico, aumentando suas expectativas  vatos. O conteúdo jurídico aflora o interesse 
para o contato com a prática policial no distrito.  dos novatos que são alunos do curso de direi­ 
Para representativo número de delegados­pro­  to e dos que almejam as carreiras de delega­

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dos, promotores e juízes. Os conteúdos de in­  cia e o aprimoramento da  malha curricular, a 
vestigação e criminalística atraem os “vocaci­  elaboração de cursos para professores poli­ 
onados” para a atividade policial. A formação  ciais multiplicadores e a aplicação das nor­ 
generalista é transmitida por disciplinas como  mas de condutas que exijam mais do com­ 
deontologia policial e relações humanas.  portamento do policial diante de sociedade 
Este artigo apontou que as políticas ori­  democrática, plurirracial e diversa em suas 
entadoras  da  formação  do  policial  civil  no  manifestações cultural e comportamental, têm 
Estado Piauí, no período de 2000 – 2003,  resultado numa expectativa maior para eficá­ 
apesar de serem referenciais para a elabo­  cia dessas políticas orientadoras da forma­ 
ração dos cursos de formação, efetivamente  ção, do desenvolvimento e da educação per­ 
pouco influenciaram na formatação do perfil  manente dos profissionais envolvidos com a 
dos agentes estatais. Contudo, a permanên­  segurança cidadã. 

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