CONTEÚDO
PROFº: ÉRICA
06 Recursos Lingüísticos: Processo de Comunicação
A Certeza de Vencer KL 180308
Critério – Qual é?
Os náufragos de um transatlântico, dentro de um – Primeiro os indecisos.
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barco salva-vidas perdido em alto-mar, tinham comido as Esta proposta causou um rebuliço na primeira
últimas bolachas e contemplavam a antropofagia como classe acuada. Um dos seus teóricos levantou -se e
único meio de pediu:
sobrevivência. – Não vamos ideologizar a questão, pessoal!
– Mulheres primeiro Em seguida levantou-se um ajudante de maquinista
– propôs um cavalheiro. e pediu calma. Queria falar.
A proposta foi – Náufragos e náufragas – começou. – Neste barco só
rebatida com veemê- existe uma divisão real, e é a única que conta quando a
cia pelas mulheres. Mas situação chega a este ponto.
estava posta a questão: Não é entre velhos e jovens, gordos e magros,
que critério usar para poetas e atletas, crentes e ateus... É entre minoria e
decidir quem seria maioria.
sacrificado primeiro E, apontando para a primeira classe, gritou: –
para que os outros não Vamos comer a minoria!
morressem de fome? Novo rebuliço. Protestos. Revanchismo não! Mas a
– Primeiro os mais maioria avançou sobre a minoria. A primeira não era
velhos – sugeriu um primeira em tudo? Pois seria a primeira no sacrifício.
jovem. Não podiam comer toda a primeira classe,
Os mais velhos indiscriminadamente, no entanto. Ainda precisava haver
imediatamente se uniram num protesto. Falta de respeito! critérios. Foi quando se lembraram de chamar o Natalino.
– É mesmo – disse um –, somos difíceis de mastigar. O chefe da cozinha do transatlântico.
Por que não os mais jovens, sempre tão dispostos E o Natalino pôs-se a examinar as provisões,
aos gestos nobres? apertando uma perna aqui, uma costela ali, com a
– Somos, teoricamente, os que têm mais tempo para viver empáfia de quem sabia que era o único indispensável a
– disse um jovem. bordo.
– E vocês precisarão da nossa força nos remos e dos O fim desta pequena história admonitória é que,
nossos olhos para avistar a terra – disse outro. com toda a agitação, o barco salva-vidas virou e todos,
Então os mais gordos e apetitosos. sem distinção de classes, foram devorados pelos
– Injustiça! – gritou um gordo. – Temos mais calorias tubarões. Que, como se sabe, não têm nenhum critério.
acumuladas e, portanto, mais probabilidade de sobreviver (VERÍSSIMO, L.F. O nariz e outras crônicas. 3a edição. São
Paulo: Ática, 1997).
de forma natural do que os outros.
Os mais magros?
01. As citações de Antônio Cândido, no prefácio do
– Nem pensem nisso – disse um magro, em nome dos
volume 5 da coleção Para gostar de ler da Editora Ática,
demais. – Somos pouco nutritivos.
revelam características da crônica, exceto em:
– Os mais contemplativos e líricos?
a) "... a crônica pode dizer as coisas mais sérias e mais
– E quem entreterá vocês com histórias e versos
empenhadas por meio do ziguezague de uma aparente
enquanto o salvamento não chega? – perguntou um
conversa fiada."
poeta.
b) "... a crônica brasileira bem realizada participa de uma
Os mais metafísicos?
língua geral lírica, irônica, casual, amparada por um
– Não esqueçam que só nós temos um canal aberto para
diálogo rápido e certeiro..."
lá – disse um metafísico, apontando para o alto – e que
c) "... sintaxe rebuscada, com inversões freqüentes; (...)
pode se tornar vital, se nada mais der certo.
vocabulário opulento..."
Era um dilema.
d) "... quase sempre utiliza o humor."
É preciso dizer que esta discussão se dava num
canto do barco salva-vidas, ocupado pelo pequeno grupo
02. Assinale o que não for verdadeiro em relação à
de passageiros de primeira classe do transatlântico, sob
linguagem e a quem a utiliza:
os olhares dos passageiros de segunda e terceira classe,
a) "Cumé?" – representante do grupo dos mais jovens. A
que ocupavam todo o resto da embarcação e não diziam
fala revela a linguagem carregada de gírias própria dos
nada. Até que um deles perdeu a paciência e, já que a
adolescentes.
fome era grande, inquiriu:
b) "Náufragos e náufragas. Neste barco só existe uma
– Cumé?
VESTIBULAR – 2009
c) "Primeiro os indecisos." – passageiro da segunda IV. O processo que distingue “chegar a primavera” de
classe. A fala remete à malandragem, à ironia, à malícia “chegar à primavera” equivale ao verificado em “chegar o
do povo. fim” e “chegar ao fim”.
d) "Não vamos ideologizar a questão, pessoal!" – teórico
da primeira classe. A fala reflete a posição assumida 06. Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão
pelos intelectuais de elite. corretas.
a) I e II, apenas.
03. “como único meio de sobrevivência". b) I e IV, apenas.
Assinale a alternativa em que a palavra "meio" é c) III e IV, apenas.
empregada com o mesmo sentido do fragmento acima: d) I, II e III, apenas.
a) Estamos meio preocupados com o futuro do país. e) I, II, III e IV.
b) Muitos brasileiros recebem menos que meio salário por
mês. Questões analítico-discursivas
c) O resultado do jogo deixou uns meio tristes e outros 07. O slogan abaixo faz parte da propaganda de um novo
meio alegres. carro de luxo lançado recentemente no mercado.
d) A corrupção tornou-se meio de enriquecimento ilícito
para muitos.
04. Observe:
"A proposta foi rebatida com veemência pelas mulheres."
"Os mais metafísicos?"
"Revanchismo não!"
"... com a empáfia de quem sabia...". Analisando o slogan da propaganda, que idéia fica
Aponte a opção que contenha os sinônimos dos termos subentendida em relação à posse do carro anunciado?
grifados:
a) impetuosidade, filosóficos, desforra, soberba.
b) grosseria, filosóficos, desprendimento, orgulho.
c) indiscrição, filosóficos, comodismo, arrogância.
d) estupidez, filosóficos, conformismo, indiferença.