1. INTRODUÇÃO
A tecnologia da hibridação interespecífica, dentre as metodologias clássicas de manipulação
genética, é a que tem sido mais utilizada na aquicultura devido à suas facilidades de manejo e
execução prática. Esta aplicabilidade permite o atendimento da demanda de mercado para
produtos diferenciados, seja para consumo alimentar, pesca esportiva ou a criação de peixes
ornamentais. Entretanto, o produto híbrido pode representar um risco ao meio ambiente se
houver escape acidental de tanques de cultivo para a natureza. Os híbridos interespecíficos
podem competir pelos recursos com as espécies parentais, favorecidos pelo “vigor híbrido”, ou
caso sejam férteis, causar impacto sobre a integridade genética das populações selvagens,
devido ao potencial risco de retrocruzamento, com consequente introgressão de genes.
Devido aos problemas ecológicos e práticos que podem advir da técnica de hibridação
interespecífica, tornam-se necessários programas de monitoramento genético, para
identificação, caracterização e posterior controle destes híbridos produzidos nas estações de
reprodução de peixes. A ampliação do entendimento dos processos que envolvem o fenômeno
da hibridação pode auxiliar em programas de conservação dos recursos pesqueiros, assim como
em projetos a serem desenvolvidos em pisciculturas.
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3.2 Metodologia
As espécies parentais e o híbrido apresentam a mesma estrutura cariotípica conservada de
2n=56, e quando isso ocorre é necessário o emprego de técnicas de colorações diferenciadas tais
como NOR (Regiões Organizadoras de Nucléolo), CMA3, e Hibridação in situ utilizando sondas
cromossômicas específicas, na tentativa de encontrar um marcador que os diferencie.
A metodologia abordada baseia-se no emprego destes marcadores citogenéticos, que tem
como objetivo principal a caracterização e diferenciação das espécies parentais e das linhagens
de híbridos interespecíficos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Através da coloração pela impregnação de nitrato de Prata, nos exemplares de preparação
cromossômica provenientes dos parentais e do produto híbrido, observou-se a presença de
apenas um par de cromossomos portador de cístrons ribossômicos para as três espécies. A NOR
(Região Organizadora de Nucléolo) está localizada similarmente em um par de cromossomos
submetacêntricos aparecendo na região terminal do braço curto. Pelo fato da NOR ser análoga
entre as espécies parentais, estando localizada na mesma região cromossômica, e pela
ocorrência de polimorfismos torna-se difícil identificar a origem destes cromossomos no
híbrido. Após a coloração com fluorocromo CMA3, permitiu-se identificar as regiões ricas em
pares de base GC exclusivamente nos locais marcados pela Prata em todos os indivíduos
analisados.
a a1
a2
b b1
b2
c c1
c2
A utilização da hibridação in situ com sondas de DNAr 18S, permitiu detectar sinais
fluorescentes na mesma região terminal dos cromossomos submetacêntricos de parentais e
híbridos (fig. 2), apresentando polimorfismos de tamanho, possivelmente resultado de
diferentes atividades da NOR e dos diferentes graus de condensação cromossômica
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(Foresti et al. 1981). Os resultados obtidos tanto pela NOR e pela Cromomicina (CMA3) e
pela hibridação in situ fluorescente com sondas de DNAr 18S confirmam a existência de
dois cromossomos portadores de genes ribossomais na região terminal dos cromossomos
marcados, tanto nas espécies parentais quanto no híbrido.
a b c
Figura 2. Metáfases submetidas á técnica de FISH ( Fluorescent in situ Hibridization) com sonda de
detecção ribossômica para os sítios de DNAr 18S. As setas indicam as regiões fluorescentes na mesma
região terminal de cromossomos submetacêntricos para Cachara (a), Pirarara (b) e “Cachapira” (c).
a b c
Figura 3. Metáfases submetidas à técnica de FISH (Hibridação in situ Fluorescente) com sonda de detecção
ribossômica. As setas indicam os sítios de DNAr 5S nas regiões pericentroméricas de cromossomos
subtelocêntricos similares em P. reticulatum (a), em P. hemeliopterus (b) e no híbrido interespecífico
“Cachapira” (c).
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5. CONCLUSÕES
As análises de material cromossômico do híbrido interespecífico “cachapira” demonstraram
que este apresenta fórmula cariotípica diplóide simples, o que significa que provavelmente
tenha recebido metade dos cromossomos de cada um dos parentais. O fato observado que
possui duas NORs ativas, assim como dois lócus para os genes 18S e 5S, pode estar relacionado
à viabilidade deste híbrido, que em ambientes de cultivo, possui boa taxa de sobrevivência e
crescimento, ou seja, são viáveis, e podem atingir a idade adulta.
Os resultados obtidos até o momento para as marcações de NOR, CMA3, FISH 18S e 5S são
similares entre as espécies, e a presença de polimorfismos nestas regiões impossibilitam o uso
destes marcadores citogenéticos convencionais como diagnóstico. Entretanto, estes dados são
úteis na caracterização destes animais, ainda não descritos na literatura. O estudo possibilita a
ampliação do entendimento dos processos que envolvem o fenômeno da hibridação, e podem
auxiliar em programas de conservação dos recursos pesqueiros, assim como em projetos a serem
desenvolvidos em pisciculturas ou na orientação de programas de conservação biológica.
6. BIBLIOGRAFIA
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