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Diário ínfimo 29

Ai que dobra sinistra é essa a do pensamento vertido em imaginação que supõe ser eu um outro, me
deslocar de mim e voar pra outras terras inclusive indo a locações contrárias às moradas atuais. Suspeito
que essa dobra se iguala a fissura entre ser e poder ser diferente. Quantos universos me cabem? E ainda
me pego assustadoramente eriçada com a possibilidade do nada que pode se encontrar ali na próxima
esquina... seria mais uma dobra? Quantos caminhos se avolumam e apequenam essa consciência pobre
de visão além... essa pobreza tanta, eu a converti numa multiplicação infinda de retinas e pálpebras, mais
pálpebras que retinas porque é tanto o volume das luzes que fechar os olhos e descansar é prudente.
Dormir como quem morre também é, principalmente quando se anda por caminhos aos empurrões
iniciados por si próprio sem saber ao certo o que resultaria do primeiro impulso de ir. Quando nos
lançamos e rasga-se o tempo, o que miramos a frente como o mais sólido destino não passa, não vai um
milímetro além, de mera miragem. É o que ensinam as dobras. Toda solidez de um caminho amplo é toda
ilusão em que se pode crer. Fenda, rachadura, sulco: não há caminho!! Toda a distância que se percorre
entre agora e onde penso que chegarei é o tamanho de uma fenda! Sempre se cai nesse rasgo sem
fundo, sem retorno, sem saída, exceto, quando se anda firme e pleno de resolução, pelas miragens que
ainda não acordaram. Mas, é assim: dobrar e cair nas fendas é estar além do dia, dando-se a sucumbir e
recuperando-se por se puxar a si mesmo pelos cabelos, erguendo-se no ar... não é miraculoso não, é o
rigor de manter-se vivo.
Não há caminho algum! Há a cegueira sobre as dobras de si no tempo que esconde seus segredos e por
isso impera na plenitude da mentira que não cessa. Fecham-se os ouvidos e calam-se os olhos sob as
asas da dobra para então, num próximo instante, fazer o tempo se desnudar para que ele voe e emudeça
aquele que pode crer insuspeito nessas suas ilusões de solidez líquida. Dobrar-se é como morrer sempre
um pouco mais... então, foge-se da morte porque é comum o apego à imortalidade que nunca teremos. É
comum a construção de ficções de duram o tempo de vivê-las sem que se dobre. Dobrar é como delatar
que a vida morre sempre ao final; é como destruir-se aos poucos numa agressividade pouco provável de
sobrevida. É um ofício altamente arriscado que implica em não mais caminhar... revelados esses
segredos, na dobra, salta-se sabedor que não há estradas mais, e o que resta são fissuras onde se cai
depois do salto, de onde se aprende a retirar-se. Cada fissura um universo que precisa ser abandonado
pois a permanência ali gera novamente o conforto da ilusão da caminhada – não há rumo que não seja
mero iludir-se. No salto, que é o modo de mover-se em dobras, sabe-se sobre o que é e o que há e que
não é muito mais que viver mesmo é somente dobrar e que todo resto que cheirar a solidez vai-se assim
na desfeitura de quem se abriu e saltou-se, o que equivale a dobrar-se. Ética terrível é essa a de dobrar-
se, a que se faz de pura solidão. Não há mais o que se possa dizer, exceto que, meu conselho, evite-se
dobrar e saltar entre as fendas: entre uma e outra há o constante risco de consumir-se porque a visão
verdade (que nem existe) enlouquece a muitos e a outros, traz o sono comum de quem precisa esquecer
que a conheceu.
Aliás, para os gregos que leio às vezes, verdade é tida como Alethéia. Eles sabiam sobre a dobra, os
saltos e as fendas. Aquilo que perdura e se encontra no subterrâneo das vidas e dorme junto com o
exato, o que resiste às transformações e mantem-se em pé apesar das ilusões, é essa Alethéia. Dizem...
Mas, descobri que quando se fala, quando se pronuncia nessa língua arcaica verdade, fala-se igualmente
um desencantamento: Uma outra Deusa (Alle Théia). Assim, dobrar-se, desde os gregos que diziam
muito mais do que se pode conseguir escutar, é permitir que existir seja esse desencantamento que
insisto, é melhor ignorar. Esqueça o que leu, então, se ler... é melhor... minha memória me supera e eu
me permito saber o que se deve confortavelmente ignorar... só há dobras.

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