As organizações internacionais são consideradas atores, ―uma vez que adquirem relativa
autonomia em relação aos Estados-membros, e elaboram políticas e projetos próprios, além
de poderem ter personalidade jurídica, de acordo com o Direito Internacional Público
Em suma, consoante Guido Soares (1984, p. 162), surgem os organismos por meio de uma
conferência internacional, e no seu ato constitutivo, estabelece-se sua sede. Para o autor, a
primeira questão que se levanta é a do seu relacionamento com o Estado-sede e o próprio
organismo. Em seguida, o relacionamento entre os funcionários permanentes do organismo e
as autoridades do Estado-sede. Após, o status das missões permanentes ou temporárias dos
Estados estrangeiros; e enfim, o status das missões permanentes ou temporárias das OIs
perante os Estados participantes das organizações. Tais relações evidenciam que as
organizações precisam de autonomia em relação ao local onde estão sediadas, a fim de que
seu quadro pessoal possa realizar suas funções e, assim, buscar atingir os objetivos da
organização. Destarte, a próxima seção abordará a temática da autonomia das OIs.
em todas as eras da história, com maior ou menor grau, propiciou-se que os enviados
pudessem se comunicar com seus governos bem como negociar em seu nome e defender os
interesses nacionais no exterior, livre de sujeições das autoridades do país que os recebe.
Surge, assim, um direito costumeiro de proteção a essas pessoas, assegurando-lhes livre
passagem, inviolabilidade dos documentos que carregam, além da imunidade às leis locais,
sujeito, via de regra, ao princípio da reciprocidade.
o Estado-hospedeiro não deve atingir pessoal diplomático estrangeiro, nem por meio de
processo civil, nem por meio de processo penal ou por meio extrajudiciais; em segundo lugar,
o Estado-hospedeiro deve proteger diplomatas estrangeiros de ameaças feitas por cidadãos do
Estado-hospedeiro
José Cretella Neto (2007, p. 620) também expõe três teorias acerca da concessão de privilégios
e imunidades: i) teoria da substituição dos monarcas, pela qual a imunidade dos diplomatas é
uma extensão da imunidade do soberano, teoria que há muito está suplantada, uma vez que
atualmente na maioria dos países a chefia dos países cabe a cargos e não pessoas; ii) teoria da
extraterritorialidade, por meio da qual os imóveis diplomáticos e os agentes estão sujeitos à
jurisdição de origem e não à dos Estados acreditados, teoria que foi reescrita por dois artigos
da Convenção de Viena de 1961, que diz respeito à inviolabilidade do prédio da missão, dos
móveis, arquivos e documentos; iii) teoria da necessidade funcional, através da qual os
diplomatas recebem tais prerrogativas enquanto estejam diretamente vinculados à
realização das suas funções.
No que respeita às imunidades estatais, há uma regra costumeira comitas gentium que
estabelece que, no território de um Estado, e em decorrência do princípio da igualdade
soberana, os demais Estados, bem como as pessoas de seus representantes e os escritórios
oficiais (embaixadas, consulados), gozam de imunidades e privilégios
Em virtude de as OIs não possuírem território e realizarem suas funções necessariamente nos
espaços de soberania dos Estados – sejam os que são sedes ou os que oferecem alguma
assistência – são estabelecidas, impreterivelmente, relações jurídicas com os Estados-sedes,
pessoas físicas e jurídicas de tais Estados, tornando-as, de certa forma, suscetíveis a
interferências do Poder Público nacional (CRETELLA NETO, 2007, p. 631). Nesse sentido,
Cretella (2007, p. 633) esclarece que, a fim de assegurar o respeito à personalidade jurídica
dos organismos internacionais e os requisitos para seu desempenho diante de pressões que os
Estados possam praticar, certos mecanismos de proteção são criados, como os chamados
privilégios e imunidades. Tais mecanismos são instituídos considerando o princípio da
especialidade, haja vista os limites impostos pelas competências de cada organização seja
explícita ou implícita, assunto que será aprofundado no próximo capítulo.