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Autor:

Bruno Adriano Noriller

Sobre a história:
Uma flash fiction que pode vir a se tornar algo maior (e totalmente diferente) depois.
Contando a história sobre o Caçador de Ferro, agora um homem que passou a vida lutando em um
mundo onde algo impossível aconteceu.

Caçador de Ferro

Contracapa: Este caderno pertence ao Caçador de Ferro, espero que saiba o que isso significa
caso tenha roubado. Se simplesmente achou, espero que saiba o que te espera caso abra e leia.

 Dia 06, mês Sol, ano 9.

o Manhã:
Ontem consegui um caderno, este caderno. Faz anos desde que tive papel de verdade...
é uma sensação... diferente. Parece até desperdício, mas vou usar este caderno como um diário.
Provavelmente é desperdício, mas há coisas que não é bom colocar em holo.

o Tarde:
De vez em quando não me sinto mais tão... humano. Fui a um café comer e pegar alguma
coisa para levar em algum orfanato no meio do meu caminho. Um jovem que seria pouco mais que
um bebe no começo do Purgatório veio me atender, ele me reconheceu e ficou todo feliz, tirou uma
selfie e começou a compartilhar.
É estupidamente incrível como um piralho desses ainda pode ter uma reação dessas
considerando o mundo em que vivemos.
Ainda hoje há selfies do momento que um ferrugento te mata. Que tipo de idiota deixa de
correr ou lutar apenas para registrar o momento que morre?

o Noite:
Amanhã faz dez anos... tomara que não haja uma Tormenta amanhã. Melhor dizendo,
tomara que HAJA uma.

 Dia 07, mês Sol, ano 9.

o Manhã:
Hoje faz dez anos que a única mulher que amei morreu durante uma Tormenta Vermelha.
Faz dez anos que eu me tornei quem sou.
A morte é algo tão natural neste mundo, não devemos nos apegar de mais mesmo aqueles
mais próximos de nós. É isso ou ficar maluco.
Eu não estava bem, ainda não estou tão melhor, nem de perto.
Me enfiei no trabalho e realmente me transformei no Caçador de Ferro. Era minha válvula
de escape, onde todo o meu ódio e dor podiam explodir à vontade. Não tinha nada mais a perder,
mas sinto que virei um monstro.
o Tarde:
Não há Tormenta hoje, vou ir ao lugar de sempre e suar para esquecer.

o Noite:
Que se dane a Tormenta, que se dane esses ferrugentos.
Dizem que eles não têm emoção nenhuma, mas EU sei diferente, EU virei uma
Tempestade. EU fui destruindo fileiras daqueles monstros. EU lutei sem piedade contra bichos que
não sentiam nada e EU vi que lá no fundo daqueles olhos vazios havia uma ponta de dúvida e EU
me deliciei nos momentos de hesitação e EU vi com um sorriso no rosto seus corpos explodirem
em fumaça vermelha deixando apenas espólios.
Eu poderia me até aposentar se quisesse, mas riquezas... eu não preciso delas... eu
preciso de vingança.

 Dia 28, mês Sol, ano 9.

o Tarde:
Escrevo isto entre ferro, fogo, fumaça e sangue, escrevo isso entre ondas de uma
Tormenta Vermelha na região leste da República de Curitiba, uma das áreas mais populosas do
mundo e por consequência onde as Tormentas são as piores e mais constantes.
Vários companheiros Caçadores já caíram hoje, eu gostaria de chorar por cada um deles,
mas não é o que esperam de mim, não... não é o que esperam do Caçador de Ferro. Eu, no entanto,
eu peguei este diário quase no aniversário da morte de minha amada e aqui estou sentindo e pondo
para fora tudo aquilo que não é esperado de mim.
Se encontrarem este diário, por favor não pensem mal de mim, deste mundo. Ainda sou
humano e ainda sinto alguma coisa. Fechei tudo isto dentro de mim, mas estava me enganando,
não queria sentir porque não queria viver
Tenho sonhos e esperanças, são elas que me fazem continuar.
Ainda me lembro quando me perguntaram: "Qual o passo mais importante que você pode
dar?"
Uma nova onde está começando. A Tormenta continua.

o Noite:

Como sempre, as ondas vão aumentando de raio e densidade, sempre começando no


mesmo ponto. Uma explosão de raios vermelhos, deles brotando as sementes da destruição da
fumaça vermelho alaranjado.
Estou muito cansado hoje, mas pelo menos não preciso pensar enquanto luto.
Quando a Tormenta começa... nada importa, é uma luta de vida ou morte. São eles ou
nós.
Eu largo a humanidade que me resta e desço ao nível deles, viro um monstro e começo
eu a chacina. Esse é o meu segredo.

 Dia 01, mês Julho, ano 9

o Manhã:
Eu estava escrevendo ontem, mas não lembro mais quem me perguntou... apenas a
pergunta: "Qual o passo mais importante que você pode dar?"
Muitos falariam que o passo mais importante é o primeiro, eu sei que foi o que eu disse da
primeira vez... e como não ser? Tudo tem que começar e tudo começa com um passo: com o
primeiro passo.
Mas não, isso é errado. Olhando a minha volta, todos os companheiros que foram
empilhados para destruição pelas Equipes de Limpeza eu percebo: não, o primeiro é fácil. O
primeiro e o último são os mais fáceis.
O primeiro é aquela vontade de "vou fazer", muitos dão esse passo e se dão por satisfeitos.
O último é ainda mais fácil, é aquele não dado, é aquele em que o movimento acaba.
Não. O passo mais importante é o próximo. Sempre o próximo e sempre haverá um
próximo passo. Em um mundo de morte e destruição apenas o próximo passo que conta, apenas
o próximo é o mais difícil, apenas o próximo é o mais importante.
Continuar, se levantar apesar de tudo e continuar. Eu venho fazendo isso desde do
Purgatório e durante todos esses anos, deixei o impulso continuar me levando todos esses dias.
Um passo após o outro.

 Dia 13, mês Julho, ano 9

o Manhã:

Muitos anos atrás, mergulhado em fantasia eu descreveria os ferrugentos como goblins.


Essa seria a melhor definição para seres vermelho ferrugem, baixos, franzinos e narigudos, olhos
pretos como piche.
Eu sonhava em ter aventuras, desbravar o desconhecido e proteger os fracos
Muitos anos atrás os pedidos que todos aqueles que eram como eu foram atendidos. Só
que da forma mais deturpada possível.
Eu estava lá quando tudo começou. Eu matei um deles pela primeira vez, vi amigos
morrerem pela primeira vez e protegi a mulher que viria a amar pela primeira vez.
Sonhei ontem do início, do Purgatório, a primeira Tormenta.
Soube que algumas pessoas tentaram falar com esses monstros, é claro que morreram
miseravelmente. Os mais prudentes se esconderam, aqueles com sorte até sobreviveram e o
resto... bom... você sabe o que os ferrugentos fazem.
Os mais bravos revidaram e os melhores sobreviveram, muitos, assim como eu, viraram
caçadores. Não haviam armas o suficiente para lutar contra esses monstros na primeira Tormenta,
basicamente lutamos com paus e pedras.
Aqueles mais velhos como eu ainda lembram de ter visto armas de fogo fora dos museus
e nas mãos de guardas e policiais. De todas as coisas, provavelmente essa é a que menos
sentimos falta, antes do Purgatório vivíamos em um mundo em que as pessoas matavam pessoas.
As armas que sobraram hoje são relíquias. A maioria virou metal para serem refundidas
em armas de verdade. Pensando bem, até hoje nunca conseguiram explicar porque armas de fogo
não funcionam neles, mesmo porque arco e flecha funciona e bestas não, dizem ter haver com
habilidade. De qualquer forma, as melhores armas são espadas, martelos e machados de caçada,
lanças, maças, adagas e todas as outras que te colocam a distância suficiente para ver que quando
respiram, soltam fumaça vermelha das narinas.
Nunca conseguiram capturá-los por tempo suficiente... e como poderiam? Deixar um vivo
é impossível, quando derrotados, mesmo conscientes ou não eles simplesmente desaparecem em
um "puf" de fumaça.
Como um guerreiro, um caçador; não entender o inimigo é a pior coisa possível. Mas esse
é um mistério que não tem solução.
o Tarde:
Minha espada finalmente ficou pronta. Esta Ferreiro realmente é rápido como dizem, e é
tão bom quanto dizem.
Minha Gládios estava em um estado deplorável e precisava de uma reforja. Guardei vários
Triskellions de Ferro apenas para isso.
Nesta loja até me deram uma espada reserva, algo simples, mas algo bem produzido. Algo
para não ficar desarmado enquanto arrumavam a minha. Mas... a sua arma é sempre diferente.
Principalmente a minha.
E realmente fizeram um bom trabalho. Me sinto inteiro novamente.

o Noite:
Fiquei até o anoitecer no meu lugar de descanso.
Claro que o descanso é apenas da cabeça. Suei o bastante, suei o suficiente hoje.

 Dia 22, mês Julho, ano 9

o Manhã:
Cada vez mais venho pensando na única mulher que realmente amei. E isso me leva
sempre à primeira Tormenta. Quando penso naquele dia, não consigo pensar no resto das pessoas,
para mim apenas estava lá ela, meu melhor amigo e eu. Irônico é pensar que no local que
estávamos só nós sobrevivemos.
Estávamos em uma viagem entre amigos para praia, uma época em que não precisávamos
nos preocupar em sobreviver e mais em se divertir e curtir a vida.
E assim como hoje começou a Tormenta. Na época, mesmo se víssemos os sinais não
sabíamos de nada. Quando o inferno começou congelamos. Foi ele, esse meu amigo que com um
grito acordou todos, começamos a correr enquanto pessoas começavam a gritar e morrer, assim
como hoje, assim como sempre é. Logo estávamos cercados, olhando agora, um monte de crianças
contra monstros que saíram de baixo da cama e dos armários.
Corremos para uma loja, havia pessoas lá... acho que era um restaurante. Não éramos
guerreiros, não éramos caçadores; apenas crianças, apenas caça. Vi na mão de alguns facas,
pedras e pedaços de madeira, até mesmo um guarda sol. Como sabem, correr não adianta, e logo
estávamos novamente cercados e agora confinados.
Não lembro quantas pessoas estavam lá, mas lembro de quando entraram, os que
estavam mais a frente recebendo uma saraivada de vidro quebrado, depois um casal de mãos
dadas e ajoelhados, como que em oração quando tiveram a cabeça decepada. Outros tentaram
correr, outros começaram a chorar. Meu amigo, eu e alguns outros seguramos nossas armas com
mais força e partimos para cima.
Perdemos amigos e desconhecidos, mas de alguma forma sobrevivemos.

o Noite:
Houve Tormenta hoje. Ao final, como sempre os urubus vieram... a Equipe de limpeza,
sempre aparece... não sei se tem mais medo dos ferrugentos ou de mim.
Por algum motivo sabem que não é bom se aproximar... estranho que nunca fiz nada para
eles. Mesmo outros caçadores me temem e também nunca fiz nada para eles.
Mas eles sabem, quando eu estou em algum lugar, ninguém mais fica perto.
Os urubus me olham e vão embora, sempre fica eu em uma área e várias pilhas de
espólios.
Acho que provavelmente eu ganho em uma Tormenta mais que muitos conseguem
arriscando a vida repetidamente em um mês.
Não podem reclamar muito no entanto, muitos de meus espólios eles acabam
recolhendo... mato muito até chegar em um lugar com mais ferrugentos... o que fica no caminho
fica para outros.
Mesmo o que eu recolho... a maior parte eu acabo dando.

 Dia 01, mês Agosto, ano 9

o Noite:
Mais um dia, mais mortes. É normal, é o mundo em que vivemos. Exceto que um dia não
foi assim e houve pessoas que não aguentaram a mudança.
Em um primeiro momento foi impossível arranjar um enterro para todos, se me lembro e
depois veja algum holo de história para confirmar, foi algo em torno de 30%. Depois, como não
havia como salvar todos, subiu para uns 40% os mortos. Vendo amigos e familiares morrerem fez
uma grande onda de suicídios e matanças por pessoas que simplesmente enlouqueceram ou
desistiram de viver... apenas 50% da população sobreviveu no final das contas.
Mas isso foi apenas a primeira de muitas Tormentas, a partir de lá os nossos números
foram diminuindo. Olhando assim, é quase como um teste para a humanidade, um jogo de
sobrevivência onde quem sobrevive fica mais forte para lutar outro dia. Enquanto isso, os fracos
contratavam os mais fortes com qualquer coisa que possuíam para ao menos continuar vivos.

Estou sozinho e em paz, fiz o que tive que fazer e não me arrependo. Mas se pudesse, eu
mudaria coisas porque ainda sou humano.

Foi umas cinco ou sete Tormentas em nossa cidade depois da primeira. Estávamos em
um grupo de cinco amigos e conhecidos e assim como muitos perdemos nossas famílias, assim
como muitos estávamos em uma casa qualquer, a maioria estava vazia de qualquer maneira. Uma
nova Tormenta chegou e nos preparamos para nos defender.
O meu melhor amigo... você pode ter notado, mas não coloco seu nome porque eu não
lembro o nome dele e sequer o nome daquela que amava mais que qualquer outra, apenas o
sentimento ficou.
Na verdade, sequer meu nome eu lembro.
Meu melhor amigo ele, por falta de palavra melhor, "pirou" como dizíamos na época.
Quando a nova Tormenta veio ele... se virou contra nós, começou a dizer que se nos
aliássemos aos ferrugentos eles nos deixariam em paz e que poderíamos ter uma vida melhor,
pediu para que nos juntássemos a ele em destruir a raça humana assim como seus deuses estavam
mandando... ele estava fora de si.
Estávamos ocupados nos protegendo, não tínhamos tempo para ele, não naquele
momento. E um momento foi tudo o que ele precisava. Ele começou a matar um a um de nós, eu
sabia que ele gostava dela também, mas que ele também me considerava como melhor amigo.
Estávamos apenas nós três, só nós sobrando e uma horda de ferrugentos se aproximando.
Eu fiz o que tive que fazer, eu matei ele, mas não consegui proteger ela nem os outros.
Cheio de fúria e tristeza eu basicamente aniquilei sozinho a horda que veio, quando outras
pessoas chegaram e viram nada mais de um garoto em meio a uma pilha de espólios todos se
surpreenderam... já estavam começando a usar o termo caçador e então comecei a ser chamado
de Caçador de Ferro.
 Dia 05, mês Agosto, ano 9

Não ando bem, quase morri na última Tormenta. Tudo culpa dos sonhos, não, pesadelos.

Todo dia a mesma coisa... o dia em que comecei a ser chamado Caçador de Ferro.

Eu matei meu melhor amigo e não consegui proteger ela. É isso que aconteceu.
Mas não é o que eu sonho, eu morro. Eu vejo o corpo dela caindo e tento protege-la, mas
vem uma lança de bambu e nos atravessa. Eu vejo a vida sair de seus olhos e acordo.

Não, não foi isso. Não foi assim que aconteceu.

 Dia 06, mês Agosto, ano 9

Novamente o sonho, mas eu percebi que não estou no meu corpo. Eu não sou eu quando
acontece... eu que estou com a lança e eu que me atravesso com aquela arma.
Já está tarde, dormi o dia inteiro e continuo cansado, fecho os olhos e me vejo. O sonho
continua, eu viro o meu corpo, os olhos mostram a traição antes de se fecharem.
Porque? Eu não fiz o certo? Eu não tentei proteger?

 Dia ??, mês provavelmente agosto, ano 9?

Parei de lutar e comecei a beber para dormir. Os sonhos continuam, maldito diário,
malditas memórias.
Mesmo assim não consigo parar. Quando foi a última vez que realmente falei com alguém?

 Quem se importa com a data.

Eu finalmente entendi.

Tudo isso é uma mentira. Minha vida é uma mentira.

Eu morri junto com ela, não? Mãos dadas tentando proteger um corpo e sendo atravessado
por uma lança de bambu... foi isso que aconteceu não?

Mas se eu morri, então quem sou eu?

Não, eu não protegi nada. Eu... fui eu...

Eu... fui eu que enlouqueci. Eu que "pirei"...

Eu que matei todos eles, inclusive eu mesmo.

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