v. 3 , n. 2 , p. 50-55, dez./2010
1 Introdução
Uma das teorias linguísticas que tem se mostrado eficiente, também pela sua
atualidade, é a Teoria da Argumentação na Língua (ADL), de Oswald Ducrot e colaboradores,
mais precisamente revista pela Teoria dos Blocos Semânticos (TBS), desenvolvida Marion
Carel em sua tese de doutorado no ano de 1992, sob orientação de O. Ducrot.
Esse recorte teórico propõe que a argumentação, ou seja, a força de persuasão de uma
ideia está na própria língua, melhor dizendo, na estrutura lingüística tomada pelo enunciado
apresentado. Não é necessário, nesse caso, recorrer ao universo contextual do que se diz para
saber exatamente o que se quis dizer, basta atentar para a própria maneira de exposição da
língua.
Como é essa uma teoria concisa, optou-se por aplicá-la a um contexto prático de uso
da língua como, no caso, as orações religiosas, proferidas por inúmeros fieis que,
possivelmente, nem se deram conta da carga argumentativa posta, enunciada em cada uma das
mais variadas formas, originais ou padronizadas, de preces proferidas a Deus como sendo o
detentor do poder de curar os males dos homens.
A escolha das orações aqui trabalhadas foi pessoal e busca, a partir da Teoria dos
Blocos Semânticos, provar que a argumentação realmente está na língua e que tal
argumentação é extremamente relevante para se entender tamanha submissão do homem a
Deus.
1
Graduada em Letras – Português/Inglês pela UFSM, Pós-Graduada em Linguística e Ensino pela
UNOCHAPECÓ, Mestranda em Linguística pela UPF com bolsa CAPES e autora do artigo proposto na
disciplina de Língua, Argumentação e Discurso, ministrada pela Profa Dra Telisa F. Graeff, no primeiro
semestre do mestrado – 2010.
Bernardi, Grasieli C.
2 Fundamentação Teórica
3 Análise do Corpus
Por seu ritmo, ao serem recitadas, e por seu conteúdo, as orações, em especial as que
seguem certos padrões, se aproximam da poesia, embora muitas não apresentem rima e
métrica especificamente.
A seguir, o corpus e as análises propriamente ditas.
“Não tenho fé suficiente, logo aumentai minha fé”. A imagem do locutor (homem) se
diminui diante do interlocutor (Deus), dado que a este nunca é demais ter fé, pois quanto mais
aquele a tiver mais absolvido dos seus erros (pecados) supostamente será.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre,
Amém!
(uma das respostas proferidas ao longo de uma missa católica)
A constante retomada de que quando Deus criou o homem a sua imagem e semelhança
as coisas foram postas nos devidos lugares parece precisar ser exaltada sempre e pela
Santíssima Trindade, ou seja, pelas três formas através das quais Deus se prolifera entre os
fieis (Pai, Filho e Espírito Santo). Ocorre fidelidade na glorificação.
Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso
amor. Enviai o vosso espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.
Deus que instruístes os corações dos vossos fieis com a luz do Espírito Santo, fazei que
apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo espírito, e gozemos sempre de
sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso, Amém!
(prece feita por grupos de casais ou grupo de jovens no início de um encontro)
A condição de que tudo será criado depende do envio do espírito, o qual só é possível
a partir de Deus e se o fiel (homem) amar a Deus sobre todas as coisas, para que a terra seja
renovada, ou melhor, o pecado seja perdoado e o homem purificado.
4 Considerações Finais
Basta que, a uma unidade linguística sejam submetidos encadeamentos em portanto e mesmo
assim como foi proposto nas análises aqui apresentadas.
Referências
As orações religiosas, como são memorizadas, não foram retiradas de nenhum material
específico.