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Universidade de Lisboa

Faculdade de Psicologia

Unidade Curricular de Neuropsicologia

Mestrado Integrado em Psicologia

Relatório individual de acesso ao exame

Tema Vigília­Sono na técnica de
Polissonografia e suas Patologias

Discente:
Karina Santos – nº 10072

Outubro de 2011

Docente:
Profª Drª Isabel Barahona da Sonseca
AGRADECIMENTOS

Este relatório teve como objectivo inicial permitir o acesso à 
fase   do   exame,   mas   a   sua   realização   possibilitou   o   acesso   à   um 
conhecimento rico e a visão mais abrangente da importância do estudo 
do sono para a área da Neuropsicologia.

SÍNTESE

A polissonografia é actualmente o método mais qualificado para 
diagnosticar   patologias   do   sono.   Esta   consiste   no   registo   de 
variáveis fisiológicas que permitem avaliar a qualidade do sono e a 
existência de patologias do sono.

Devido   à   quantidade   de   sinais   biológicos   envolvidos,   esta 


técnica torna­se bastante complexa e pressupõem, conhecimentos, para 
conseguir   interpretar   os   traçados   dos   vários   sinais   fisiológicos 
adquiridos. 

Em   Portugal,   existe   uma   licenciatura   denominada 


neurofisiografista, que realizam dentre muitos estudos , o estudo do 
sono.   Em   contrapartida   o   estudo   do   sono   em   Espanha,   pode   ser 
realizado   por   técnicos   profissionalizados   na   área   (não 
licenciatura), mas podemos encontrar em muitos locais como clínicas 
privadas   e   hospitais   públicos   estes   exames   serem   realizados   por 
Neuropsicólogos, com especialização específica. 

Através   dos   recursos   informáticos   consegue­se   simplificar 


bastante   a   tarefa   de   realização,   da   leitura   da   análise   e 
interpretação do registo colectado. 

Este   trabalho   descreve   a   técnica   da   Polissonografia   no   estudo 


do   Sono/Vigília,   algumas   patologias,   e   da   sua   importância   como   um 
complemento dentro da área da Neuropsicologia.
1­ INTRODUÇÃO

Ao   estudar   os   ciclos   de   sono   e   vigília   para   a   elaboração   do 


relatório deparei que estes são estudados por técnicas específicas, 
maioritariamente   pela   polissonografia.   Desta   forma,   o   plano   deste 
relatório seguiu a seguinte ordem: 

 Noções básicas sobre a Polissonografia;

 Patologias dos Sono;

A   segunda   parte   desta   pesquisa   acarretou   na   introdução   dos 


conceitos   necessários   para   a   compreensão   da   técnica   de 
polissonografia, sua evolução e a observação dos estágios do sono, a 
estrutura e as variadas patologias ajudam a perceber a importância 
do registo poligráfico do sono.

Por último a descrição do equipamento e dos sinais fisiológicos 
processados.   E   as   conclusões   sobre   esta   experiência   de   âmbito 
académico.

2 – A HISTÓRIA SOBRE O ESTUDO DO SONO

Os   primeiros   estudos   de   sono   baseavam­se   exclusivamente   na 


observação, abordando os fenómenos do sono de forma contemplativa. Os 
antigos   neurofisiologistas   não   dispunham   de   instrumentos   que 
permitissem avaliar o sono de forma mais eficaz do que simplesmente a 
observação clínica.

A compreensão de que o cérebro gerava potenciais eléctricos levou 
um   neuropsiquiatra   alemão,   Hans   Berger,   a   desenvolver,   em   1929,   a 
técnica   de   electroencefalografia(EEG).   Esta   técnica   consiste   no 
registo gráfico dos potenciais cerebrais ao longo do tempo e permitiu 
pela primeira vez observar que estes potenciais se modificavam com o 
sono.   A   partir   dessas   análises   descreveu   os   fusos   e   as   ondas   delta 
que caracterizavam as fases 3 e 4 do sono humano.
Após   Berger,   seguiram­se   os   fisiologistas   americanos   Loomis, 
Harvey e Hobart, que em 1935 realizaram o primeiro estudo sistemático 
dos   padrões   electroencefalográficos   durante   o   sono   humano, 
descrevendo as fases do sono sincronizado,  ao qual chamamos sono de 
ondas lentas ou sono Non­Rapid Eye Movements (N­REM).

Em 1950,Passouant que verificou que o EEG humano sofre alterações 
periódicas ao longo da noite, mas que não lhe deu importância.Em 1953 
foi   Aserinsky   e   Kleitman   que   a   descreveram   e   que   descobriram   a   sua 
associação   a   um   estado   específico   do   sono,   relacionando   a 
dessincronização   do   sono   com   os   movimentos   oculares   e   depois   com   a 
actividade onírica (sonhos).

Estes dois investigadores norte americanos observavam  o sono de 
crianças   e   adultos   normais   e   notaram   que   padrões 
electroencefalográficos específicos estavam associados a um movimento 
ocular   rápido   e   identificaram   o   chamado   sono   Rapid   Eyes   Movement 
(REM). Também notaram que o sono REM ocorria várias vezes durante a 
noite,   todas   as   noites,   alternando­se   com   períodos   em   que   a 
movimentação   ocular   cessava   e   o   padrão   electroencefalográfico   se 
modificava, o chamado sono N­REM.

No EEG  observaram a ocorrência de curtas fases dessincronizadas, 
que   são   semelhantes   ao   padrão   típico   de   actividade   eléctrica   no 
hipocampo   (ritmo   teta).   Essas   fases   constituiam   um   estado   de   sono 
inteiramente   distinto   daquele   com   padrão   sincronizado   e   foram 
denominadas   de   sono   dessincronizado   ou   também   sono   paradoxal,   pois 
possuem padrão electroencefalográfico análogo ao da vigília.

Posteriormente   notaram   que   outra   modificação   frequentemente 


observada em associação com a movimentação ocular rápida do sono era 
uma   diminuição   intensa   do   tónus   muscular  (grau   de   contracção   do 
músculo   no   repouso).   Ambos   geram   potenciais   eléctricos   que   também 
podem  ser registados graficamente  ao longo do tempo. Desta forma,  a 
partir   daquela   época   foi   desenvolvida   a   técnica   da   medição   destas 
múltiplas variáveis: potenciais cerebrais, EEG, tónus muscular basal 
através   do   electromiograma   (EMG),   e   movimentação   ocular   através   do 
electrooculograma (EOG). 

Na década de 1960, outros dois investigadores americanos Anthony 
Kales e Alan Rechtschaffen sistematizaram a análise destas variáveis 
e criaram um manual para a classificação das fases do sono, definindo 
os critérios para a caracterização do sono REM e subdividindo o sono 
N­REM   em   fases   1,   2,   3   e   4.   Também   estabeleceram   critérios   para   a 
caracterização da vigília.

A classificação dos estágios era feita em períodos de 30 segundos 
do   exame   denominados   épocas.   nos   dias   actuais   ainda   se   usa   a   mesma 
sistematização para o estadiamento do sono. Este procedimento ainda é 
usado actualmente para o assim chamado estagiamento do sono. 

O termo polissonografia passou a ser utilizado a partir de 1974, 
dois   anos   após   serem   incluídos   na   rotina   do   exame   o   registo   da 
frequência   cardíaca   e   os   sensores   respiratórios   pelo   grupo   de 
Stanford em São Francisco na Califórnia.

Actualmente   a   polissonografia   é   uma   técnica   que   faz   o   registo 


gráfico   de   múltiplas   variáveis   fisiológicas   ao   longo   do   tempo   de 
sono, podendo este registo ser feito tanto no período nocturno quanto 
diurno.   As   variáveis   a   serem   registadas   pelo   exame   são   escolhidas 
conforme   a   suspeita   clínica   e   relacionadas   com   a   sintomatologia   do 
paciente. 

Os   estudos   poligráficos   do   sono   podem   ser   realizados   em 


laboratório ou ambulatório,  por uma pessoa previamente treinada para 
a colocação dos electrodos  e os dados  são registados são analisados 
visualmente   ,   marcando   todos   os   eventos   pertinentes   para   que   estes 
sejam colocados em tabelas ou gráficos pelo software do equipamento. 
O exame é interpretado tendo em conta os dados clínicos do paciente 
ou pelos dados pertinentes a serem investigados pelos investigadores.
2.1 ­ O sono 

Devido   a   este   crescente   interesse,   por   parte   de   cientistas,   em 


1971 foi fundada a European Sleep Research Society, assim como muitas 
outras associações no resto do mundo. 

Em   1996   a  Associação   Americana   do  Sono   reconhece   a   Medicina   do 


Sono como uma especialidade.

Desta forma, a troca de informações entre as várias instituições 
conduziu   à   normalização   de   conceitos   sobre   o   sono   assim   como   das 
várias patologias associadas. 

Mais adiante são descritos os vários grupos de patologias segundo 
a II edição da Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono.

 2.1.1 ­ Importância do sono na qualidade de vida

O   sono   (do   latim   somnu)   é   definido   como   um   estado   de 


inconsciência   do   qual   se   pode   despertar,   que   ocorre   como   parte 
fundamental   do   ciclo   natural   da   vida,   fazendo   com   que   o   organismo 
repouse para as actividades diárias. Assim, o sono não é um processo 
passivo,   mas   antes   um   processo   activo   durante   o   qual   se   regista 
actividade cerebral.

Existem   várias   definições   do   sono,   que   encontramos   durante   o 


processo de pesquisa, mas que de uma forma complementam ­se:

 Período   de   repouso   para   o   corpo   e   a   mente,   durante   o   qual   a 


volição   e   a   consciência   estão   em   inactividade   parcial   ou 
completa.

 O sono é importante para a recuperação da saúde em situação de 
doença,   enquanto   a   privação   deste   pode   afectar   a   regeneração 
celular assim como a total recuperação da função imunitária.

 Alteração ou redução do estado consciente, que dura, em média 8 
horas e tem início sensivelmente à mesma hora, em cada período 
de   24   horas.   Gera   uma   sensação   de   energia   física,   psíquica   e 
intelectual restabelecida.

Portanto, apesar de o sono não ser totalmente compreendido pelos 
cientistas,   pode   afirmar­se   que   este   é   um   processo   fisiológico 
essencial ao normal e bom funcionamento do organismo.

 Durante o sono as capacidades físicas e intelectuais, assim como 
a   homeostase   hormonal,   térmica   e   imunológica   do   organismo   são 
restabelecidas. A privação do sono ou um sono inadequado e perturbado 
debilitam   o   organismo,   com   consequências   e   riscos   graves   para   a 
saúde.

2.1.2 ­ Estrutura do sono 

O   sono   apresenta   estágios   alternantes   e   estes   possuem   padrões 


electroencefalográficos   característicos,   segundo   a   frequência   e   a 
amplitude das ondas, que são distintos daqueles observados durante a 
vigília. 

O sono é dividido em fases que se alternam ciclicamente entre REM 
e N­REM. 

Pouco   antes   de   adormecermos,   as   ondas   cerebrais   do   tipo   beta, 


produzidas quando estamos acordados, são substituídas por ondas alfa, 
que indicam um estado de profundo relaxamento. Cinco a vinte minutos 
depois, corpo e mente estão prontos para a primeira fase do sono.

Um ciclo completo de sono dura em média 1 hora e meia e passa por 
quatro fases N­REM, seguidas de uma fase REM. 

Durante o período de sono normalmente ocorrem entre 4 a 6 ciclos 
bifásicos   com   duração   de   90   a   100   minutos   cada,   sendo   cada   um   dos 
ciclos   composto   pelas   fases   do   sono   N­REM,   com   duração   de   45   a   84 
minutos, e pela fase do sono REM, que dura de 5 a 45 minutos.

Em   indivíduos   adultos   normais,   o   sono   N­REM   encontra­se 


principalmente   distribuído   na   primeira   metade   do   período   de   sono, 
enquanto o sono REM predomina na segunda metade deste período.
Figura 2. 1 ­ Hipnograma

A   figura   2.1   é   um   gráfico   que   apresenta   a   distribuição   dos 


estágios do sono ao longo da noite. A verde está representado o sono 
REM e a azul a vigília e as quatro fases do sono N­REM. 

Podemos   observar   que   o   sono   se   caracteriza   pela   progressão   da 


fase   1   para   a   4   do   sono   N­REM.   Depois   de   aproximadamente   70­80 
minutos,   o   indivíduo   retorna   brevemente   para   os   estágios   3   ou   2,   e 
entra na primeira fase do sono REM da noite, que dura aproximadamente 
5­10 minutos. Nos seres humanos, a duração do ciclo representado pelo 
início do sono N­REM até o final da primeira fase de sono REM é de 
aproximadamente 90­110 minutos. Este ciclo sono N­REM/REM é repetido 
de 4 a 6 vezes durante a noite. Nos ciclos sucessivos a duração dos 
estágios 3 e 4 do sono N­REM diminuem à medida que a duração da fase 
REM aumenta. 

O sono lento apresenta variação progressiva de certos parâmetros, 
que aumentam à medida que o sono aprofunda, verifica­se a dominância 
da   actividade   parassimpática:   miose   (diminuição   do   diâmetro   da 
pupila),   diminuição   da   sudação,   da   frequência   cardíaca,   da   tensão 
arterial e da temperatura. Há também uma diminuição global do consumo 
de O2.

No sono REM, acontece o inverso, há um aumento da temperatura, da 
sudação e do consumo de O2.

O   estadiamento   classifica   cada   época   do   registo   de 


polissonografia   em   uma   determinada   fase   do   sono   com   base   nas 
alterações do EEG, EOG e EMG. 
Figura 2. 2 ­ Registo de EEG, EOG e EMG no estado de vigília.

A figura 2.2 é um registo poligráfico do sono composto por quatro 
canais   electroencefalográficos   (C3­A1;   C4­A2;   O1­A2;   O2­A1)   que 
representam   o   traçado   do   EEG   das   zonas   central   e   occipital,   dois 
canais do electrooculograma esquerdo e direito (OE e OD) que registam 
os   movimentos   oculares   e   um   canal   de   electromiografia   (EMG)   que 
regista o tónus muscular do músculo sub­mentoniano.

Vigília

O ritmo predominante na vigília, com os olhos fechados, é o ritmo 
alfa,   com   uma   frequência   entre   8   e   13   Hz,   com   máximo   posterior 
occipital  e que habitualmente  é visível em grande  parte do escalpe, 
até às regiões centrais.

A   cada   tipo   de   onda   cerebral   estão   associadas   diversas 


características e comportamentos que as caracterizam: 

 A   onda   Delta   é   definida   como   uma   onda   cerebral   de   variação 


lenta, com frequências inferiores a seis ciclos por segundo, que 
emanam na zona posterior do cérebro e estão associadas ao sono 
profundo nos adultos;

 A   onda   Alfa,   apresenta   um   padrão   suavizado,   com   oscilações 


eléctricas regulares que ocorrem quando a pessoa está acordada e 
relaxada;

 A   onda   Gama   é   definida   como   um   padrão   das   ondas   cerebrais 


associado   à   percepção   e   à   consciência.   As   ondas   Gama   são 
produzidas quando massas de neurónios emitem sinais eléctricos à 
taxa aproximada de quarenta vezes por segundo, mas pode também 
ocorrer entre os 26 e os 70Hz;

 A   onda   Teta   é   definida   como   uma   forma   de   onda   de   um 


electroencefalograma   com   frequências   entre   os   4   e   os   8Hz 
associada ao estado de alerta e excitamento;

 A   onda   Beta   é   uma   das   ondas   cerebrais   que   ocorre   com   mais 
frequência   em   electroencefalogramas   de   adultos,   caracterizada 
por ter frequências entre os 13 e os 30Hz e está relacionada com 
estados de ansiedade e apreensão.

Figura 2. 3 ­ Traçados de EEG das ondas cerebrais: Delta, Teta, Alfa, Beta e Gama.

Fase N­REM

O sono N­REM pode também ser denominado sono sincronizado devido 
ao   potencial   eléctrico   rítmico   inibitório­excitatório   que   formam 
ondas sincronizadas de alta amplitude e baixa frequência.

Esta   fase   do   sono   é   subdividida   em   quatro   fases   conforme   o 


aumento de sua profundidade:

 Estágio 1: o indivíduo encontra­se numa transição entre o estado 
de   vigília   e   o   sono.   O   primeiro   ciclo   do   sono   dura   de   1   a   7 
minutos. Ocupa 2 a 5% do tempo total de sono, o limiar despertar 
é baixo, pelo que a pessoa é facilmente acordada.  

Observa­se uma diminuição e redução da amplitude do ritmo alfa 
(actividade de 4 a 7 Hz), que é progressivamente substituída por 
ritmos   teta,   sendo   também   característico   o   aparecimento   das 
ondas   ou   pontas   do   vertex.   Os   movimentos   oculares   são 
caracteristicamente lentos,  observando­se igualmente  diminuição 
do EMG em relação ao padrão da vigília.

Figura 2. 4 ­ Registo polissonográfico durante a fase 1 do sono N­REM.

 Estágio 2:  É o inicio do sono já que o indivíduo fica alheio a 
estímulos   sonoros   e   visuais.  No   primeiro   ciclo   de   sono,   dura 
cerca de 10 a 25 minutos e caracteriza­se pelo aparecimento de 
fusos do sono e de complexos K.

Nesta fase, que dura cerca de 45 a 55% do tempo total de sono, o 
mesmo   estímulo   que   produziria   um   despertar   na   fase   1,   resulta 
frequentemente num complexo K evocado sem despertar.

  A actividade  de  base   é constituída  por  frequências  mistas  de 


predomínio   teta   com   algumas   ondas   de   baixa   amplitude:  ritmos 
lentos, com frequência inferior a 2 Hz, com amplitude superior a 
75 microvolts, misturados a ritmos rápidos, na faixa de 15 a 30 
Hz.

À   medida   que   o   sono   se   torna   mais   profundo,   surgem   surtos   de 


ondas delta mais amplas, na transição para a fase 3. Considera­
se fase 3 quando 20 % ou mais da época é constituída por ondas 
de frequência entre 05, e 2 Hz e amplitude medida pico a pico 
superior a 75 microvolts, na derivação frontal. 
Figura 2. 5 ­ Fase 2 do sono N­REM. 

Na   figura   2.5   verifica­se   na   actividade   cerebral   complexos   K   e 


fusos   do   sono,   característicos   desta   fase.   Há   uma   diminuição   na 
actividade do EOG e do EMG.

 Estágio 3:  No primeiro ciclo de sono, a duração da fase 3 é de 
cerca de 20 a 40 minutos. No tempo total de sono, a fase 3 ocupa 
aproximadamente 13 a 23%. Os padrões de EEG dos estágios 3 e 4 
são definidos pela presença de ondas de actividade lenta. Deve 
haver, para sua caracterização, um mínimo de 20% e um máximo de 
50% de ondas de 2 Hz com amplitudes maiores que 75 mV.

           Figura 2. 6 ­ Fase 3 do sono N­REM.

Na figura  acima  vê­se que  há um aumento  na amplitude  das  ondas 


cerebrais e uma diminuição na frequência (ondas Delta), a actividade 
do EOG e do EMG diminui substancialmente.

 Estágio   4:  predominância   de   ondas   delta   (actividade   lenta).   É 


nesta   fase,   que   a   hormona   de   crescimento   é   libertada   pela 
glândula   pituitária1  e   a   recuperação   muscular   acontece.   Depois 
de 30­40 minutos no estágio 4, regride­se para as fases 3 e 2, 
mas invés de voltar ao estágio 1, entra­se em REM. Os estágios 3 
e   4   correspondem   à   fase   do   sono   mais   profunda   e   representam 
cerca de 25% do período total de sono.

No EEG verifica­se a presença de ondas com frequência inferior a 
2 Hz e com amplitude acima de 75 microvolts em mais de 50% de um 
determinado período de registo.

Figura 2. 7­ Traçados de EEG característicos das quatro fases do sono N­REM. 

De modo geral, o sono N­REM apresenta actividade neuronal, taxa 
metabólica   e   temperatura   encefálica   baixas,   declínio   da   actividade 
simpática   e   aumento   da   actividade   parassimpática,   pouca   actividade 
muscular e é nesta fase do sono que é regulada a temperatura.

Os   estádios   mais   profundos   são   necessários   para   o   efeito 


recuperador do sono, são também os estádios durante os quais o tónus 
muscular da garganta e do pescoço está mais reduzido. A hipófise ou 
glândula   pituitária   produz   uma   grande   quantidade   de   hormonas 
importantes, coordena o funcionamento das outras glândulas segundo os 
estímulos do hipotálamo.

Fusos do Sono e Complexos K

Os   fusos   do   sono   e   os   complexos   K   são   elementos 


electroencefalográficos, que integram a microestrutura do sono N­REM. 
Estes   aparecem   inicialmente   na   fase   2,   onde   são   frequentes, 
diminuindo a sua expressão no sono lento profundo.

  No   início   do   sono,   estes   elementos   electroencefalográficos 


transmitem   ambos   a   mensagem   de   que   a   vigília   consciente   terminou   e 
que o processo do sono se tornou predominante. Pensa­se que os fusos 
do   sono   reflectem   o   estado   cerebral   durante   o   qual   há   um   forte 
bloqueio da informação sensorial que se dirige ao córtex, protegendo 
a continuidade do sono. Alguns investigadores sugerem que os fusos do 
sono inibem o despertar e funcionam como preservadores do sono.

Figura 2. 8 ­ Traçado de EEG com marcação dos fusos do sono (F) e complexos k (K).

Os   fusos   do   sono   são   surtos   bruscos   de   ondas   de   frequência 


rápida,   de   11   a   16   Hz,   mas   mais   frequentemente   de   12   a   14   Hz,   com 
duração   superior   ou   igual   a   0,5   segundos,   com   máximo   central.   A 
amplitude   medida   no   diferencial   máximo   deve   ser   maior   que   10 
microvolts.

Os   complexos   K   foram   denominados   por   Loomis   em   1938   como   sendo 


grafoelementos de alta voltagem com duração mínima de 0,5 segundos. A 
actividade   é   bifásica   ou   trifásica,   sendo  constituídos   por   um 
componente   inicial   negativo,   podendo   ser   seguidos  imediatamente   por 
um fuso ou actividade alfa.

Fase REM

Na   transição   do   sono   N­REM   para   o   sono   REM   verifica­se   o 


desaparecimento   dos   fusos   e   complexos   K   e   as   ondas   lentas   da 
actividade   de   base   são   substituídas   por   frequências   rápidas   de 
predomínio   beta   de   baixa   amplitude.   Podem   ocorrer   surtos   de   ondas 
alfa ou teta de baixa voltagem. 

Os movimentos  oculares rápidos  são característicos  desta fase e 


podem ocorrer em surtos ou isolados. Existe uma diminuição acentuada 
do tónus muscular. Os grafoelementos característicos deste estado são 
as   ondas   em  dentes   de  serra,   que  são   surtos   de  ondas   de  2  a  6  hz, 
frequentemente entalhadas, com duração entre 1 e 5 segundos e com um 
máximo na região central.
Esta   fase   também   se   caracteriza   pela   presença   de   sonhos   e 
flutuações cardio­respiratórias.

Figura 2.9 ­ Registo poligráfico do sono durante a fase REM. 

Na figura 2.9 observa­se no traçado de EEG as ondas em dentes de 
serra  (intervalo marcado com a seta),  no EOG os movimentos  oculares 
rápidos e a diminuição do tónus muscular no EMG.

2.1.3 ­ Distribuição normal do sono 

Não existe um consenso sobre o que é o sono normal, se é que é 
possível colocá­lo numa escala normativa. Porém, pode­se dizer que o 
sono normal é aquele que proporciona a um indivíduo uma sensação de 
bem­estar   ou   descanso   físico   e   mental,   em   que   as   energias   são 
restabelecidas, permitindo bons desempenhos físicos e mentais no dia 
seguinte. 

A  duração  do   sono  nocturno   depende   de  vários   factores,   sendo   o 


principal a vontade humana, pelo que é difícil caracterizar o padrão 
“normal”. Se o sono se prolongar, a quantidade de sono REM aumenta, 
pois este encontra­se dependente da persistência de sono.

Durante o sono, verificam­se alterações fisiológicas ao nível dos 
sistemas  nervosos  simpático  e parassimpático,  condicionando  mudanças 
ao   nível   da   respiração,   actividade   cardiovascular,   temperatura 
corporal e tónus muscular, algumas delas já referidas. Relativamente 
à   actividade   cardiovascular,   o   aumento   da   actividade   do   sistema 
nervoso parassimpático, durante o sono, leva a bradicardia e ligeira 
diminuição   da   pressão   arterial.   Enquanto   a   actividade   do   sistema 
nervoso simpático é semelhante à da vigília, excepto nos períodos de 
sono   REM,   no   qual   diminui,   contribuindo   para   uma   bradicardia 
acentuada.   As   frequências   cardíaca   e   respiratória   tendem   a   ser 
regulares em sono N­REM, tornando­se irregulares em sono REM.

Em   sono   não­REM,   verifica­se   uma   diminuição   da   ventilação   e   um 


aumento   progressivo   da   resistência   da   via   aérea   superior, 
comparativamente   à   vigília.   A   temperatura   encontra­se   mais   baixa   no 
sono   não­REM   que   em   vigília   e,   no   sono   REM,   o   controlo   central   da 
temperatura cessa quase totalmente.

O ritmo circadiário regula o tempo de sono e de vigília, pois o 
momento   em   que   ocorre   o   início   do   sono   e   a   sua   duração   estão 
dependentes da fase circadiária.

O ciclo sono­vigília  intrínseco humano tem uma periodicidade de 
cerca   de   24   horas,   sendo   ajustado   ao   ambiente   através   de   factores 
externos.   O   mais   importante   destes   factores   é   a   luz   ambiental   que 
leva   à   secreção   de   melatonina,   (em   um   ambiente   escuro   e   calmo,   os 
níveis   de   melatonina   do   organismo   aumentam,   causando   o   sono).   A 
melatonina   endógena   é   provavelmente   o   marcador   biológico   mais   forte 
do ritmo circadiário humano.

O   ritmo   circadiário   é   evidenciado   pela   temperatura   corporal, 


havendo uma maior  tendência para dormir quando  a temperatura  é mais 
baixa.   Tal   facto   leva   a   que   a   distribuição   das   fases   do   sono   seja 
influenciada   pela   fase   circadiária   em   que   ocorre   o   sono.   Por   este 
motivo, se o sono for atrasado, o sono REM pode ocorrer no início do 
sono.

Apesar   de   tudo,   no   mesmo   indivíduo,   é   possível   verificar 


variações, alternando por vezes períodos em que necessita de mais ou 
menos   horas   de   sono,   para   se   sentir   bem   no   dia   seguinte.   Esta 
variabilidade   encontra­se   contudo,   relacionada   com   estações   do   ano, 
que   por   sua   vez   estão   relacionadas   com   o   ritmo   da   temperatura 
corporal   e   das   hormonas   hipofisárias,   que   também   têm   variações 
cíclicas anuais. 
De   qualquer   forma   o   número   de   horas   assim   como   a   estrutura   do 
próprio sono tende a variar ao longo da vida, desde o nascimento até 
á terceira idade.

A grande maioria dos indivíduos é incapaz de reconhecer o número 
de   horas   que   necessita   e   não   tem   de   todo,   uma   noção   do   seu   ritmo 
circadiário de sono­vigília.

A identificação do ritmo do próprio sono é um factor importante 
para se obter a sensação de sono repousante e bem­estar matinal, que 
somente o sono normal permite. 

Factores que influenciam o sono 

Alguns estudos realizados em animais, indicam que o mesmo animal 
dorme   mais   no   campo   que   no   laboratório   e   mais   no   escuro   do   que   em 
ambientes  mais  luminosos,  pelo  que  os  factores  ambientais  devem  ser 
tomados em conta nesta equação. 

Uma   das   dificuldades   que   surgem   na   determinação   do   tempo 


necessário   para   se   obter   um   sono   reparador   e   de   qualidade,   está 
geralmente associada às exigências do próprio estilo de vida imposto 
pelos padrões culturais em que se vive. Muitas pessoas não dormem o 
número   de   horas   que   precisam   mas   as   que   podem,   que   é   geralmente 
inferior ao necessário, o que leva a uma privação crónica do sono. 

Também o tempo que cada pessoa leva para adormecer e acordar tem 
sido   objecto   de estudo  por  parte   de diversos   investigadores.   Dentro 
desta   temática   sobressai   a   capacidade   para   adormecer   que   cada 
indivíduo possui. Contudo, a inércia matinal que geralmente sentimos, 
quando moderada é normal, e para a maioria dos indivíduos a resolução 
desta,   não   se   resolve   com   o   aumento   de   horas   de   sono.   São   padrões 
individuais sujeitos a flutuações e que cada um deve conhecer.Também 
se   verifica   variabilidade   dos   padrões   do   sono   nas   horas   de   deitar. 
Alguns  indivíduos  têm  um  ritmo  tardio  de  sono  e o  simples  facto  de 
tentarem dormir mais cedo vai destabilizar  a estrutura  do sono, não 
providenciando de manhã a sensação de ter dormido um sono reparador.
2.2 – Patologias do sono

A higiene do sono é quiçá, uma das necessidades básicas que mais 
é negligenciada de forma advertida. Ignorando a importância de fazer 
uma boa manutenção  da qualidade do sono, uma grande percentagem dos 
indivíduos   da   nossa   sociedade   desconhece   que   por   vezes   padece   de 
patologias   do   sono,   por   um   lado   por   incapacidade   em   reconhecer   os 
sintomas   e   por   outro,   simplesmente   porque   sustentam   a   sua 
desorganização circadiana com mitos dissimuladores.

A segunda edição da Classificação Internacional dos Distúrbios do 
Sono,   denominado   ICSD2   (International   Classification   of   Sleep 
Disorders) foi publicado em 2005 pela Academia Americana de Medicina 
do Sono (American Academy of Sleep Medicine, AASM), tendo a primeira 
edição sido publicada em 1990. 

A   AASM   associada   à  European   Sleep   Research   Society,  Japanese 


Society of Sleep Research  e  Latin American Sleep Society  classificaram 
os distúrbios do sono em oito categorias:

 Insónias;

 Distúrbios Respiratórios do Sono;

 Hipersónias de Origem Central não causadas por:

  ­ Distúrbios do Rítmo Circadiano do Sono; 

 ­ Distúrbios Respiratórios relacionados ao Sono; 

­ Ou outras causas de sono nocturno interrompido;

 Distúrbios do ritmo circadiano do sono;

 Parassónias;

 Distúrbios do movimento relacionados ao sono;

 Sintomas   isolados,   aparentemente,   variantes   normais   e   questões 


não resolvidas;
 Outros distúrbios do sono.

2.2.1 ­ Insónias

A   insónia   é   o   transtorno   do   sono   mais   frequente   na   população 


geral e um dos mais estudados em países desenvolvidos.

É um importante problema de saúde dada a sua elevada prevalência 
na população geral e das suas consequências das depressões.

Insónia   pode   ser   definida   como   uma   experiência   de   sono   de   má 


qualidade, não restaurador, dificuldade para adormecer e/ou manter o 
sono,   despertar   precoce,   cansaço,   falta   de   energia,   dificuldade   de 
concentração, irritabilidade durante o dia. Pode ter inúmeras causas.

Como consequências da insónia, podemos citar a queda na qualidade 
de vida, a maior frequência de problemas de atenção, concentração  e 
memória,   menor   satisfação   com   relacionamentos   pessoais,   prejuízo   no 
desempenho diário e maior susceptibilidade à ocorrência de acidentes, 
que ocorrem devido à sonolência diurna.

O tratamento deste distúrbio pode passar por:

 Diagnosticar e tratar problemas médicos ou psicológicos que 
possam estar a provocar a insónia;

 Identificar   comportamentos   que   podem   piorar   a   insónia   e 


interrompê­los ou reduzi­los.

 Possível   uso   de   psicofármacos   para   dormir,   embora   a 


utilização a longo prazo seja controversa. A dose deve ser 
gradualmente   diminuída,   uma   vez   que   uma   interrupção 
repentina poderia motivar a volta da insónia por uma noite 
ou duas.

 Experimentar técnicas comportamentais para melhorar o sono, 
como terapia de relaxamento, terapia de restrição de sono.
2.2.2 ­ Distúrbios Respiratórios do Sono

Os distúrbios respiratórios do 
sono são como um espectro contínuo 
de perturbações onde um indivíduo 
pode progredir ou regredir. O grau 
de severidade da obstrução das vias 
respiratórias vai desde a ligeira 
Figura 2. 10. Anatomia das Vias Aéreas 
obstrução, que provoca ressonar, à 
Superiores (VAS).
total obstrução, que resulta num 
episódio apneíco.

  Os   distúrbios   respiratórios   do   sono   são   perturbações   do   sono 


originadas por uma respiração anormal.

  (A)                 (B)  

Figura 2. 11 ­  (A): Passagem de ar normal pelas VAS;  (B): Passagem do ar com ronco. 

1­ Via aérea nasal, 2­ Via aérea oral, 3­ Língua, 4­ Úvula/palato 
mole, 5­ Palato mole/Obstrução da faringe.

A figura 2.11 ilustra como a úvula/palato mole (4) colidem com a 
parede da faringe (5) obstruindo a passagem nasal do ar. 

Entre   as   várias   síndromes   que   compõem   o   grupo   dos   distúrbios 


respiratórios  o da Apneia do sono  é a que mais se destaca pela sua 
prevalência na sociedade. 

Durante o sono existem três tipos de apneia que se caracterizam 
da seguinte forma:

Apneia   Central   ­  Ausência   total   de   fluxo   aéreo­buco­nasal   e   de 


esforço ventilatório, por inibição do centro respiratório através do 
sistema   nervoso.   As   apneias   centrais   são   comuns   em   crianças 
prematuras   e   em   recém   nascidos   devido   à   imaturidade   do   seu   sistema 
nervoso, responsável pela activação do centro respiratório:

Figura 2. 12­ Evento de apneia central.

Flow  ­   fluxo   respiratório   nas   VAS;  Chest  ­   Esforço   respiratório 


torácico; Abdomen ­ Esforço respiratório abdominal

A figura 2.12 ilustra como não há passagem de ar nas vias aéreas 
nasal e oral nem esforço respiratório torácico e abdominal.

Apneia   Obstrutiva   –  Paragem   do   fluxo   aéreo­buco­nasal   com 


persistência de esforço ventilatório diafragmático devido à obstrução 
total   das   vias   aéreas   superiores.   Caso   a   obstrução   seja   apenas 
parcial, estamos perante um caso de Hipoapneia. 

Figura 2. 13 ­ Evento de Apneia Obstrutiva.

Registam­se   esforços   respiratórios   mas   não   há   fluxo   de   ar   nas 


vias aéreas superiores  porque  estão obstruídas  como se vê na figura 
2.13.

Apneia   Mista   – Possui  componentes  tanto  obstrutivos  quanto 


centrais. Envolvendo tanto a diminuição do controlo respiratório como 
a obstrução das vias aéreas superiores.

Para   ser   considerado   um   evento   apneico   tem   durar   pelo  menos   10 
segundos. 

Sindrome da Apneia/Hipoapneia Obstrutiva do Sono (SAHOS)

Esta   é   uma   doença   crónica,   evolutiva,   com   alta   taxa   de 


morbilidade   e   mortalidade,   apresentando   um   conjunto   sintomático 
múltiplo que vai desde o ressonar até à sonolência excessiva diurna, 
com   repercussões   gerais   hemodinâmicas,   neurológicas   e 
comportamentais.

A SAHOS  é um distúrbio  da respiração   que ocorre  durante  o sono 


caracterizado   por   obstrução   parcial   e   prolongada   da   via   aérea 
superior  (hipopnéia   obstrutiva),   e/ou   por   obstrução   completa 
intermitente   (apneia   obstrutiva),   que   interrompe   o   padrão   normal   de 
respiração e interfere na qualidade do sono.

Figura 2. 14 ­ Evento de hipoapneia obstrutiva.

Registam­se esforços respiratórios e há uma obstrução parcial das 
VAS pelo que o fluxo de ar diminui substancialmente.

Durante   o   sono,   os   músculos   da   faringe   e   da   língua   tendem   a 


relaxar,   assim   como   toda   musculatura   do   corpo.   Na   SAHOS,   esse 
relaxamento gera uma obstrução da via aérea superior, dificultando o 
fluxo aéreo e causando ruídos (ronco) e pausas respiratórias. Ocorre 
baixa   oxigenação   pulmonar   e   cerebral,   o   que   leva   o   sistema   nervoso 
central   a   agir   em   busca   da   abertura   das   vias   aéreas   superiores.   O 
indivíduo   acorda   com   um   suspiro   aflitivo   e   começa   a   respirar 
novamente.   Este   processo   pode   repetir­se   várias   vezes   durante   a 
noite, tornando o sono superficial e fragmentado.

Figura 2. 15 ­ Passagem de ar pelas vias aéreas superiores durante (A) a respiração 
normal e (B) uma apneia obstrutiva.

 Estes micro­despertares são um mecanismo de defesa do organismo 
porque como os pulmões não conseguem obter oxigénio o cérebro comanda 
o   corpo   a   acordar   o   tempo   suficiente   para   activar   os   músculos   da 
garganta   e   desbloquear   a   passagem   do   ar.   Mesmo   não   se   lembrando   de 
ter   acordado   várias   vezes   durante   a   noite,   o   indivíduo   sente­se 
cansado durante o dia. A deficiência de sono e oxigénio podem lesar 
os pulmões, coração e outros órgãos, causando problemas como pressão 
alta, ataque cardíaco ou derrame cerebral.

Como   já   foi   referido   os   indivíduos   que   apresentam   SAHOS   também 


apresentam   ronco,   que   traduz   a   fisiopatologia   básica   da   doença:   o 
estreitamento da via aérea superior.

Figura 2. 16 ­ Comparação entre anatomia de um indivíduo saudável e outro com Sindrome de 
Apneia Obstrutiva.

  A   figura   2.16   mostra   o   estreitamento   das   vias   respiratórias 


superiores no individuo com apneia.

São   considerados   factores   predisponentes   para   a   ocorrência   da 


SAHOS:   obesidade,   anormalidades   craniofaciais,   hipertrofia   das 
amigdalas, alterações endócrinas e história familiar.

O diagnóstico desta síndrome é obtida através da polissonografia 
e um dos parâmetros que classificam o estado do paciente é o índice 
de apneia e hipopneia (IAH):

 Apneia Leve – IAH entre 5 e 15/hora

 Apneia Moderada – IAH entre 15,1 e 30/hora

 Apneia Grave ­ IAH maior que 30/hora.

O   IAH   é   o   número   de   eventos   de   apneia   e   de   hipopneia   que 


ocurreram   durante   o   sono   do   paciente   divididos   pelo   tempo   total   de 
sono. 
Tratamento

O tratamento da apneia obstrutiva do sono altera substancialmente 
o   prognóstico   da   doença,   uma   vez   que   tem   efeito   na   gravidade   da 
hipertensão arterial, melhora a função cardíaca, a qualidade de vida 
dos pacientes, e pode evitar a mortalidade por esta causa.

O   tratamento   ideal   para   a   SAHOS   depende   do   grau   de   severidade 


determinado pelo exame poligráfico do sono. Basicamente, existem dois 
métodos mais comuns, o uso de um compressor que injecta ar através de 
uma máscara mantendo as vias aéreas abertas denominado CPAP (Pressão 
Positiva Contínua nas Vias Aéreas), e a intervenção cirúrgica.

O CPAP é recomendado quando não existe hipertrofia das amígdalas 
e adenóides, quando o tratamento cirúrgico não é adequado, ou quando 
a SAHOS persiste mesmo depois da intervenção cirúrgica.

A remoção  das amígdalas e adenóides2  é a cirurgia  mais comum  em 


casos de SAHOS. A cirurgia à traqueia é reservada para casos graves 
nos quais outros tratamentos não foram adequados.

Os   aparelhos   dentários   para   segurar   a   língua   são   opções   do 


tratamento clínico, assim como a perda de peso.

Após o tratamento, os sintomas podem persistir, sendo necessário 
rever   e   ajustar   o   método   de   tratamento.   A   adenóide   é   um   tecido 
linfático localizado no segmento superior da faringe, juntamente com 
as amigdalas, fazem parte do sistema de defesa do organismo.

Em conjunto com estes métodos de tratamento encontra­se também a 
higiene   do   sono,   que   decorre   com   alterações   coportamental   para 
alteração dos hábitos de sono.

2.2.3 ­ Hipersónias de Origem Central

Inclui   desordens   nas   quais   a   principal   queixa   é   a   sonolência 


excessiva   durante   o   dia   que   não   seja   originada   por   distúrbios 
respiratórios   do   sono   ou   distúrbios   do   ritmo   circadiano.   As 
principais  doenças  dessa   categoria  são  a  narcolepsia   e a  hipersonia 
idiopática. O sono insuficiente induzido pelo comportamento (privação 
voluntária do sono) também está incluído nessa categoria.

Narcolepsia

A   narcolepsia   caracteriza­se   por   um   acesso   súbito,   de   curta 


duração, de uma necessidade irresistível de dormir.  

É definida por sonolência excessiva diurna e cataplexia, podendo 
associar­se   a   paralisia   do   sono,   alucinações   hipnagógicas   e 
fragmentação do sono.

A   cataplexia   consiste   no   enfraquecimento   súbito   e   incontrolável 


de parte ou de todo o corpo após situações de emoção. Normalmente não 
ocorre   perda   da   consciência,   embora   em   raros   relatos   se   observe 
associação com sono profundo.

Para o diagnóstico é imprescindível realizar uma polissonografia 
e um teste de latência múltipla do sono. 

O   teste   de   latências   múltiplas   do   sono   (TLMS)   é   um   exame   que 


quantifica   objectivamente   a   sonolência   e   a   presença   de   sono   REM 
durante   o   período   diurno,   permitindo   diagnosticar   com   precisão   a 
narcolepsia.

O   TLMS   consiste   em   solicitar   ao   paciente   que   adormeça   em   pelo 


menos   4   a   5   períodos   durante   o   dia,   com   intervalos   de   cerca   de   2 
horas. Os períodos duram cerca de 20 a 30 minutos no final dos quais 
o   paciente   é   acordado   e   deverá   manter­se   nesse   estado   até   ao   teste 
seguinte.   Este   exame   permite   medir   a   latência   do   sono,   ou   seja,   o 
tempo  que  o paciente   demora  a  adormecer,   e a  latência  do  sono  REM, 
que consiste no tempo que o paciente leva a alcançar a fase de sono 
REM nos 4 a 5 períodos de sono.

O tratamento consiste na administração de estimulantes do Sistema 
de   Nervoso   Central   (SNC),   de   sestas   periódicas   e   acompanhamento 
psicoterapêutico.
Hipersónia idiopática

A   hipersónia   idiopática   do   Sistema   Nervoso   Central   consiste   no 


aparecimento   de   excessiva   sonolência   diurna,   podendo,   em   algumas 
ocasiões, chegar mesmo a ser incapacitante. 

Nos sujeitos com esta patologia verifica­se um aumento do tempo 
de   sono   nocturno,   com   normalização   das   fases   do   sono   e   aumento   do 
número de fusos do sono na fase 2. Constata­se também latência média 
de sono inferior a 10 minutos e menos de duas fases REM no teste das 
latências   múltiplas.   Normalmente   os   doentes   melhoraram   com   fármacos 
estimulantes   da   vigília.   Os   dados   clínicos   e   poligráficos   do   sono 
auxiliam no diagnóstico.

Privação do sono intencional 

A   privação   de   sono   é   geralmente   intencional,   muitas   vezes 


impulsionada por factores sociais ou económicos. 

O sono suficiente não se mede em horas absolutas obtidas, mas em 
termos   de   o   paciente   acordar   descansado   e   restaurado   ou   não.   A 
quantidade necessária parece ser determinada geneticamente. Embora a 
média total de tempo de sono à noite seja de 7,5 a 8 horas, adultos 
saudáveis podem precisar de entre 4 a 10 horas de sono. Portanto, as 
pessoas que precisam de 10 horas de sono por noite, mas têm apenas 8 
horas,   podem   ficar   severamente   privadas   de   sono   e   notavelmente 
hipersonolentas.

2.2.4 ­ Distúrbios do Ritmo Circadiário do Sono

São caracterizados por distúrbios do sono crónicos ou recorrentes 
devido a um desalinhamento entre o ambiente e o ciclo vigília­sono do 
indivíduo. Existem vários exemplos: distúrbio do sono relacionado ao 
trabalho de turno, jet lag, atraso de fase do sono e avanço de fase 
de sono.

Estes   transtornos   manifestam­se   por   desalinhamento   entre   o 


período   do   sono   e   o   ambiente   físico   e   social   de   24   h.   Os   dois 
transtornos   do   sono   relacionados   ao   ritmo   circadiário   mais 
prevalentes são o de fase atrasada (comum em adolescentes) e avançada 
do sono (comum em idosos), situações nas quais o período de sono se 
desloca para mais tarde e mais cedo, respectivamente.

Como   a   luz   é   o   principal   sinal   para   sincronizar   os   relógios 


biológicos,   pessoas   cegas   e   trabalhadores   em   turnos   e   de   período 
nocturno   são   os   mais   propensos   a   desenvolver   transtornos   do   sono 
relacionados   ao   ritmo   circadiário.   A   higiene   adequada   do   sono,   a 
fototerapia,   consistindo   de   exposição   à   luz   intensa   em   horários 
programados,   de   acordo   com   o   transtorno   do   sono,   e   o   emprego   de 
melatonina   ou   agonistas   dos   receptores   da   melatonina   são   opções 
terapêuticas.

2.2.5 ­ Parassónias

São eventos físicos (movimentos, comportamentos) ou experiências 
(emoções,   percepções,   sonhos)   indesejáveis   que   ocorrem   no   início   do 
sono, durante o sono ou durante os despertares. Incluem: despertares 
confusionais,   sonambulismo,   terror   nocturno,   paralisia   do   sono, 
pesadelos, distúrbio comportamental do sono REM.

2.2.6 ­ Distúrbios do movimento relacionados ao sono  

São   caracterizados   por   movimentos   simples,   estereotipados,   que 


atrapalham  o  sono.  Inclui  a síndrome   das  pernas  inquietas,  bruxismo 
nocturno, movimentação periódica de membros.

Movimentos Periódicos dos Membros Inferiores 

Caracteriza­se   pelo   aparecimento   de   mioclonias   (contracções 


musculares   repentinas   e   incontroláveis)   nos   membros   inferiores,   que 
se produzem com uma periodicidade regular. Estas mioclonias originam, 
à   semelhança   das   apneias,   uma   sonolência   excessiva.   Frequentemente 
encontram­se   associadas   à   SAHOS,   podendo   desaparecer   aquando   do 
tratamento   das   apneias.   Contudo,   podem   também   apresentar­se 
independentemente, requerendo tratamento específico.
2.2.7 ­ Sintomas isolados, variantes aparentemente normais e de 
importância não resolvida

Essa   categoria   inclui   sintomas   ou   eventos   relacionados   ao   sono 


que   não   estão   incluídos   nas   definições   anteriores.   Alguns   ocorrem 
durante   o   sono   normal.   Por   exemplo:   mioclonia   do   início   do   sono   e 
sonilóquia (falar durante o sono).

2.2.8 ­ Outros Distúrbios do Sono

Distúrbios   do   sono   relacionados   a   factores   ambientais   (ruído, 


temperatura, companheiro roncador) são classificados neste grupo.

3 – POLISSONOGRAFIA

Como   já   constata,   a   técnica   de   polissonografia   emergiu   da 


necessidade de monitorizar vários sinais fisiológicos ao mesmo tempo 
durante o sono do paciente, de modo a diagnosticar as patologias com 
base nas variações dos sinais biológicos. 

Esta técnica permitiu aos cientistas e investigadores obter mais 
informações   sobre   o   padrão   do   sono,   o   que   facilitou,   ao   longo   do 
tempo,   actualizar   a   definição   das   várias   síndromes   e   até   mesmo 
designar novas patologias.

A  polissonografia  vem  sendo   aprimorada   a  cada  dia   à   medida   que 


novos conceitos e novas tecnologias são incorporadas e desenvolvidas.

Com   o   avanço   tecnológico   e   com   a   identificação   de   vários 


distúrbios do sono, a técnica de polissonografia foi sendo modificada 
para   a   medição   de   outras   variáveis.   A   identificação   dos   distúrbios 
respiratórios   do   sono   (Síndrome   da   Apnéia   do   Sono,   Síndrome   da 
Resistência   de   Vias   Aéreas   Superiores),   dos   distúrbios   de   movimento 
(Síndrome   de   Movimentos   Periódicos),   de   comportamentos   anormais 
(sonambulismo   e   outras   parassonias)   e   de   várias   outras   doenças 
relacionadas ao sono, levou a modificações na realização do exame que 
resultaram nas técnicas que se utilizam actualmente. A isto adiciona­
se   o   desenvolvimento   da   informática   que   proporciona   um   grande 
conforto   e   rapidez   no   que   se   refere   ao   registo,   à   análise   e   à 
interpretação dos dados registados. 

Actualmente   o   aperfeiçoamento   do   registo   poligráfico   do   sono 


baseia­se   na   melhoria   dos   acessórios   que   completam   o   conjunto   do 
equipamento   de   forma   a   não   ser   tão   incómodo   para   o   paciente   a 
realização   do   estudo.   Existe   também   preocupação   em   melhorar   a 
qualidade do registo dos biosinais. 

A evolução e os anos de investigação proporcionaram a criação de 
regras   e   de   uma   vasta   base   de   conhecimento   para   quem   se   dedica   ao 
estudo de patologias do sono.  

Em   contrapartida,   a   quantidade   de   sistemas   polissonográficos 


disponíveis   na   actualidade   induziu   a   Academia   Americana   de   Medicina 
de   Sono   a   publicar   uma   revisão   desses   sistemas   classificando­os   em 
diferentes níveis.

3.1 ­ Níveis de estudo

Foram definidos quatro tipos de aquisição poligráfica do sono:

• O   nível   1,   considerado   a   polissonografia   padrão,  consiste 


no   registo   de   noite   inteira   realizado   num   laboratório 
especializado,   sob   supervisão   contínua   de   um   técnico 
habilitado   em   polissonografia.   De   entre   os   parâmetros 
avaliados   têm   de   constar   no   mínimo:   Electroencefalograma, 
Electrooculograma,   Electromiograma   da   região   mentoniana, 
electromiograma   aos   membros   inferiores   (músculo   tíbial 
anterior   bilateral),   fluxo   aéreo   nasal   e   oral,   pressão 
nasal, movimentos torácico e abdominal, electrocardiograma, 
oximetria digital, ronco e posição corporal.

• O nível 2 é denominado polissonografia portátil uma vez que 
o   estudo   de   sono   é   realizado   em   modo   ambulatório,   na 
residência do paciente. Possui os mesmos recursos do nível 
1,   no   entanto   verifica­se   a   ausência   de   pessoal   treinado 
para assegurar a qualidade e a continuidade do registo. As 
variáveis   registadas   são   as   mesmas   que   no   nível   1.   A 
vantagem   é   que   o   paciente   se   encontra   no   ambiente   normal 
onde   costuma   dormir.   A   desvantagem   é   que   não   há   nenhuma 
supervisão durante a aquisição. 

• O nível 3 caracteriza­se  pelo registo de variáveis cardio­
respiratórias  através   de   um   sistema   portátil   modificado. 
São   utilizados   quatro   a   sete   canais,   os   parâmetros 
avaliados   incluem   frequência   cardíaca,   fluxo   aéreo, 
movimentos   torácicos   e   abdominais   e   oximetria.   Pode   ser 
domiciliar   ou   laboratorial.   É   uma   avaliação   restrita   para 
transtornos respiratórios do sono, devendo ser indicada em 
casos bem seleccionados, principalmente com forte suspeita 
de Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) quando a polissonografia 
padrão não se encontra disponível ou quando o paciente não 
pode   realizá­la   no   laboratório   de  sono.   Deve   ser   indicado 
com   cautela,   pois   não   permite   o   diagnóstico   de   outros 
transtornos do sono.

• O   nível   4   representa   o   registo   de   apenas   1   ou   2   canais, 


sendo   a   oximetria   um   dos   parâmetros   e   denominada   de 
oximetria   nocturna.   Pode   ser   adicionado   um   canal 
respiratório para registar o fluxo respiratório ou o ronco. 

Figura 2. 17­ Estudo do Sono.
4 ­ CONCLUSÃO

O     sono   é   uma   função   muito   importante   e   ainda   um   pouco 


incompreendida entre os cientistas. Há comportamentos durante o sono 
que   não   são   ainda   bem   percebidos.   A   complexidade   do   sono   provém   da 
grande quantidade de variáveis que este depende. A polissonografia é 
a   técnica   que   permite   avaliar   a   qualidade   do   sono   de   um   sujeito   e 
diagnosticar quaisquer anomalias. 

Dessa   forma,   o   entendimento   dos   distúrbios   do   sono   e   da 


influência   que   o  binômio   sono­vigília   exerce   nas   patologias  
comportamental   é   importante   para   que   se   possa   promover  um  
aprimoramento no diagnóstico e no tratamento destas doenças. 

Verificamos   que   os   distúrbios   do   sono  esta   presente   na   maior  


parte das doenças psiquiátricas. Devemos levar em conta a influência 
dos  factores   emocionais,   como  o stress  na  disfunção  respiratória,  a 
depressão   e   alterações   dos   potencias   neuronais   e   neuroqúimicos,   que 
levam a alteração do padrão do sono.

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