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AS CONTRIBUIÇÕES DE PETER RAMUS À ESCOLA MODERNA. Patrícia Ap.

Bioto
Cavalcanti. Professora do Mestrado em Gestão e Práticas Educacionais da Universidade Nove
de Julho-SP. patbioto@ig.com.br. Escola moderna. Peter Ramus. Professor moderno.

O objetivo deste texto é trazer luz às contribuições de Peter Ramus às reformas


educacionais do século XVI e centralmente ao processo de configuração da escola moderna.
Para tanto proceder-se-á a explanação do contexto inter-textual no qual ambientou-se a
atuação de Ramus bem como dos movimentos propositores de reformas na educação e de uma
forma de escola. A base do trabalho é bibliográfica, tendo sido utilizadas fontes primárias e
secundárias.

1- O gérmen da escola moderna - a virada instrucional


Em meados do século XVI repercutia no círculo educacional e cultural europeu uma
insatisfação generalizada como o ensino nas escolas existentes. As maiores queixas se davam
contra a demora nos estudos, o parco resultado de anos de esforço, a dificuldade para acessar
os livros e os vícios da escolástica que impediam o acesso da razão para além das regras da
lógica aristotélica.
Pensadores, filósofos e mestres em artes e também mestres de escolas, passaram a se
posicionar contra tal estado de coisas e a apresentar propostas. Entre eles pode-se citar: Peter
Ramus, Agueda, Lorenzo Valla, Philliphe Melanchton, Françoies Rabelais, Richard
Mulcaster, Johan Piscator, Alsted etc.
François Rabelais fez uma crítica feroz ao escolaticismo medieval em seu Gargântua.
Utilizou-se da sátira para fazer luz sobre as agruras das escolas e dos métodos de então.
Gargântua foi o nome dado por Rabelais a um jovem gigante, de proporções descomunais,
educado conforme o costume medieval:

Holofernes lhe ensinou o ABC tão bem que ele o poderia dizer de cor, às
avessas, e isso lhe tomou cinco ano e três meses. Depois ele lhe leu o
Donato, Le facet, Theodolet e Alanus in Parabolis. Estes lhe tomaram treze
anos, seis meses e duas semanas, mas vós vos deveis lembrar que enquanto
isso, ele aprendeu a escrever em caracteres góticos, e escreveu todos os seus
livros, pois a arte da imprensa não estava, então, em uso. Após isso foi lido
para ele De Modis Significandi e um monte de outros. E com isto gastou
mais dezoito anos e onze meses, e era tão bem versado nisso que nas
disputas escolares com seus colegas, ele o recitaria de cor, de trás para diante
e provou, algumas vezes, nas pontas dos dedos para sua mãe, que o De
Modus não era científico. Depois lhe foi lido o Composto, no qual gastou
dezesseis anos e dois meses. Exatamente nessa época, seu preceptor
morreu...
Foi, então, destacado para supervisioná-lo, um velho tossidor que lhe lia um
certo numero de tratados, pela leitura dos quais ele se tornou tão sábio como
qualquer um que se tenha jamais assado num forno (Rabelais, 1994, p. 72)

O escolasticismo é o nome dado ao movimento medieval que buscava a validação


racional das crenças religiosas, entre 1200 e 1500. Os precursores foram Alberto Magnus e
Tomás de Aquino que inseriram princípios lógicos aristotélicos no quadro da teologia cristã
medieval. Versões originais das obras de Aristóteles chegaram à Europa no século XII. Eram
a Analítica, Tópicos e a Retórica.
O exercício de compreensão do mundo passou a ser o de decifrar as palavras segundo
princípios e regras lógicas, de maneira válida com exposição adequada. Não havia fenômeno
que a lógica aristotélica, desde que validada pela Igreja, não pudesse alcançar e explicar. Para
explicar o mundo havia que ser mestre na arte da escolástica. E tudo que poderia ser buscado
para ser conhecido já havia sido escrito, quer pelos antigos, quer pelos teólogos da Igreja. A
busca do rigor lógico incluía a atenção aos detalhes textuais, a identificação de deficiências
dos comentaristas anteriores, a invenção de termos mais precisos e recalibração das categorias
anteriores do pensamento.
Para tanto cabia a formação no trivium e no quadrivium. A gramática era a base da
leitura e da comunicação. Tratava das palavras e suas combinações. Dava o fundamento sobre
o qual o discurso seria moldado e acabado. A dialética tratava de dar um encadeamento lógico
às palavras, fornecendo coesão e força aos argumentos. À Retórica cabia florear os
argumentos e armá-los de modo a serem convincentes, mais do que verossímeis (Cf. Skinner,
1999; Hamilton, 2003).
Cabia à dialética, arte da argumentação, organizar a expressão em argumentos
particulares para fins particulares. A dialética tornou-se a arte da argumentação. E este
argumentar era dirigido a alguém, a quem se pretendia convencer de algo, trazer uma verdade
superior. A dialética, inicialmente arte da argumentação, tornou-se uma arte do ensino. Se o
discurso ensina e a razão aprende, a dialética é, portanto, a arte de ensinar e aprender (Cf.
Ong, 1958, p. 161).
O que Peter Ramus fez foi reformular os princípios das artes do discurso num esquema
para ser ensinado. Ele organizou o conhecimento que precisava ser aprendido transmutando-o
da forma original que tinha à outra forma, em esquemas, à forma em pudesse ser aprendido.
Organizou também instruções para os professores para que soubessem ensinar sobre o que
precisava ser aprendido (Cf. Hamilton, 2003). Ele fez a ponte do conhecimento para o ensino.
Ao mesmo tempo, para esta reorganização do conhecimento para o ensino, elaborou
esquemas do que deveria ser conhecido. Numa versão do Professio Regia, de 1576, elaborou
a versão mais remota de um “curriculum” (Cf. Hamilton, 1992, p. 42). Organizou o
conhecimento para ser ensinado, elaborou um “currículo” (Cf. Hamilton, 2003, p. 17).
E nisto pensou igualmente no professor, no aluno, nas disciplinas e nos livros-texto,
quer fossem os dos autores clássicos, quer fossem os vocabulários, gramáticas, compêndios,
coleções de anotações, modelos de discursos etc, ou seja, todo um artefato escrito produzido
pela cultura escolar.
Está sendo gestado um novo aluno e um novo professor, bem como uma nova escola,
com um novo método. A imprensa forneceu um alimento vigoroso a esta empreitada ramista,
na difusão de seus escritos e principalmente fornecendo apoio visual aos esquemas do
conhecimento elaborados por Ramus e que poderiam, então, ser consultados para facilitar o
aprendizado de determinada idéia, ou para fazer ponte com outro, ou para dizer quem e qual
obra consultar.
Outra importante contribuição de Ramus foi a preocupação e produção de uma arte do
ensino. Pensando que uma arte é uma coleção abundante de proposições e observações gerais
de acordo com um fim determinado, para se dominar uma arte, como a da argumentação, é
preciso um atalho simples, direto e útil. A este “atalho” dá-se o nome de método (Cf.
Hamilton, 2003, p. 15). Ramus desenvolveu um método de ensino.
Ramus influenciou Alsted, que por sua vez, foi lido por Piscator. Alsted e Piscator
foram professores de Comenius na Universidade Calvinista de Herborn de 1611 a 1614.
O empreendimento de Ramus foi um dos motores propulsores da mudança da dialética
para didática, como denomina Hamilton (2001), e também de uma virada instrucional, do
mundo do estudo para o mundo da instrução, como assinalado por McClintock (1971).

2- Peter Ramus
Peter Ramus (1515-1572) foi o nome latinizado adotado por Pierre de la Ramée ao
entrar para a Universidade de Paris. Esta não é uma tradução exata para seu nome. Opções
mais adequadas seriam Petrus Ramus, Petrus Rameus ou Petrus Ramus. Entretanto, Peter
Ramus é o nome pelo qual este educador e filosofo francês é tratado em muitas das obras que
tratam de sua vida, de suas obras e de suas ideias. Entre elas podem ser citadas as de Walter
Ong (1958) e Frank Graves (1912).
Ramus nasceu em Cuts, na Picardia, França. Descendia de família nobre, mas
empobrecida. O bisavô fora carvoeiro, e o pai fazendeiro. Seu pai morreu quando ele ainda
era muito pequeno. Desde cedo Ramus demonstrou gosto pelos estudos e esgotadas as
possibilidades de aprendizagem na escola da aldeia, rumou a Paris em busca de novos
conhecimentos. Por duas vezes teve de voltar a casa, premido pela pobreza. Quando, enfim,
conseguiu trabalho como servo de um aluno endinheirado da Universidade de Paris pode se
manter na cidade e iniciar os estudos. Aproveitava as horas da noite em que não estava a
serviço de seu mestre para estudar as artes liberais, o que lhe rendia poucas horas de sono,
muito cansaço e olhos sempre vermelhos.
Desde o início do contato com as artes liberais por meio dos mestres e de seus estudos
individuais, demonstrou descontentamento com o que aprendia e com a forma pela qual os
mestres trabalhavam os conteúdos. Afirmava que os métodos de ensino eram estéreis e sem
qualquer utilidade para a vida ou para as “artes”. Apontava, ainda, que nunca ouviu sequer
uma palavra sobre as aplicações da lógica (Cf. Graves, 1912, p. 21).
Com apenas 36 anos foi nomeado para a cadeira de Eloquência e Filosofia no College
de France, da Universidade de Paris. A cadeira foi criada para ele, a pedido do Cardeal de
Lorraine ao Rei. Antes disso, Ramus era professor na Faculdade de Presles, para a qual mais
tarde foi designado como reitor.
Ao longo de sua vida escreveu e publicou mais de cinquenta obras. Outras nove obras
apareceram depois de sua morte. Suas obras tratam de lógica, dialética, gramática,
matemática, metafísica, retórica, aritmética etc. Os escritos, o ensino e as propostas filosóficas
e pedagógicas de Ramus vão no sentido de crítica ao aristotelismo e aos conhecimentos que
circulavam à época. O pensamento de Ramus e seus livros tiveram na imprensa um forte
aliado. Tratados filosóficos, gramáticas, esquemas de estudo, discursos e propostas de
reformas educacionais forma impressos e circulavam nos vários países visitados por Ramus:
Alemanha, Suiça, Holanda, Basiléia.
Ao longo de suas muitas viagens, a maioria delas motivada por movimentos de guerras
civis-religiosas ou por conta de disputas orgânicas na Universidade de Paris que exigiam
períodos estratégicos de viagens, travou contato e difundiu suas ideias entre pensadores e
educadores conhecidos neste contexto e período, influenciando-os e a seus futuros seguidores.
A saber: Sturm, Melanchton, o mestre impressor Hervagius, o líder protestante Zwuinglio, o
gramático Felix Platter, filho de Thomas Platter, ainda me período em o pai Platter estava
vivo e em atividade, o retórico Fregius e o educador e gramático inglês Roger Ascham (estes
últimos convertidos completamente ao ramismo).
Ramus apontava que tanto os saberes das artes liberais, quanto os saberes específicos,
como os da Medicina, do Direito e da Teologia, estavam contaminados por traduções,
adequações, preferências e interpretações equivocadas, levando a um emaranhado de
equívocos, que se repetiam e repercutiam nos meios universitários, nas discussões, nos
escritos e na forma de ensinar.
Colocava-se como antiaristotélico ao pontuar, por exemplo, que nos três longos anos
que se dedicou que ao Organon, de Aristóteles, pouco lhe foi acrescentado em termos de
sabedoria e de aplicabilidade ao conhecimento do mundo, mas muito aprendeu em termos de
manejo de categorias. Com as categorias aprendeu que poderia ficar horas sem fim a disputar
com seu adversário, sem nunca ceder, mesmo se ele estivesse certo, buscando sempre
distinções sutis a fim de obscurecer a questão discutida (Graves, 1912, pp. 22-23).
Em 1562 Ramus converteu-se ao calvinismo, perdendo a proteção do Cardeal de
Lorraine, mas encontrando apoio e proteção em Margareth de Navarra, irmão do rei
Franscisco I. No mesmo ano apresentou seu relatório sobre a reforma da Universidade de
Paris, como membro escolhido há cinco anos para a comissão de mesmo fim.
Em seu relatório, Ramus fez críticas aos mestres das Faculdade de Medicina, Direito,
Filosofia e Teologia, apontou os abusos das taxas de ensino, posicionou-se contra a infinitude
de mestres e os métodos de instrução.
Quanto aos professores apontou que estes nem sempre eram qualificados para lecionar
nas faculdades. Bastava que apresentassem os títulos de mestres da faculdade em que
atuariam para galgarem a posição de professores. Ilustra esta crítica de Ramus o episódio da
nomeação de Carpentarius, indicado pelo Cardeal de Lorraine, para a cadeira de Matemática
do College de France. Titulado em Filosofia, nada demonstrava os conhecimentos de
Carpentarius em Matemática. Perante a banca Carpentarius comprometeu-se em aprender a
Matemática em três meses. Mas não foi o que fez. Na cadeira de Matemática lecionava
Filosofia. Carpentarius foi o maior perseguidor de Ramus dentro e fora da Universidade de
Paris. Lançava panfletos e campanhas contra Ramus usando para tal seu antiaristotelismo, seu
calvinismo e sua possível infidelidade ao rei. Em meio a mais uma campanha de Carpentarius,
Ramus foi assassinado, o que ocorreu, coincidentemente na noite de São Bartolomeu.
Se o numero de professores aumentava sem critérios confiáveis, o numero de alunos
não seguiu o mesmo crescimento numérico. O resultado foi um aumento no valor das taxas de
titulação, graus e outras trinta taxas que eram distribuídas do inicio ao fim do curso. As taxas
iam aumentando entre as faculdades, em ordem crescente: Filosofia, Direito, Medicina e
Teologia. Havia taxas para professores, priores, porteiros, presidentes, banquetes, jantares,
examinadores. Para Ramus, estas taxas estas interditam a estrado do conhecimento para
aqueles que não tem tantos recursos (Cf. Graves, 1912, p. 81).
Lamenta profundamente o que a Faculdade de Artes, em especial, fez em termos de
métodos de instrução. Ao invés de palestras públicas, aulas particulares em cada Colégio. Os
professores de Filosofia exageram no uso do método interrogatório de Aristóteles, exigindo
pouco ou nada em termos de aplicação da lógica. Retóricos e Gramáticos discutem regras,
mas pouco treinam os alunos na leitura e imitação dos autores clássicos. Nas Faculdades de
Direito, Medicina e Teologia a situação é ainda pior, segundo Ramus (Cf. Graves, 1912, 83).
Em Direito apenas o Canon é ensinado, em detrimento do Direito Civil. Os professores de
Medicina e Teologia apenas presidem a apresentação de teses ou debates públicos, pagando
qualquer coisa para algum bacharel fazer o trabalho deles. Médicos ignoram corpos humanos
e ervas. Teólogos ignoram as Escrituras.
As propostas de Ramus para sanar este geral do ensino na Universidade de Paris tocam
em questões pertinentes a forma de financiamento e manutenção da Universidade, seu
estatuto, regime de oferecimento de cursos, características e funções do corpo docente e
método de instrução. Em linhas gerais ele propõe que o Rei de França nomeie um pequeno
numero de professores públicos, pagos pelo Estado, para ensinar os diferentes ramos da
Filosofia, Medicina, Direito e Teologia, deixando de lado todas as disputas estéreis,
interessados em aperfeiçoar os conhecimentos e com a formação dos alunos em tempo hábil e
prazeroso. Assim, haveria uma instrução forte, regular, sistemática e gratuita em todas as
faculdades. Na Faculdade de Filosofia deve ser estabelecida uma cadeira de Matemática; na
de Direito, Direito Civil; na de Medicina, Botânica, Farmácia, Ervas e Prática sob a
supervisão dos professores. Finalmente, na Faculdade de Teologia, alem de palestras
regulares, o estudo da Bíblia, em seus dois testamentos, nas línguas originais e no vernáculo.
Além desta reforma na Universidade, Ramus propõe uma reforma e clara divisão entre
os estudos secundários da gramática, retórica e dialética (artes do trivium) dos ministrados no
ensino superior, estes sim em graus mais avançados e aplicados. Segundo Graves (1912, p.
84) as propostas de Ramus não forma bem recebidas, mas foram em parte executadas pelos
Reis Henrique III e IV. Na distinção entre secundário e superior antecipou-se a um
movimento que só veio a ocorrer depois da Revolução Francesa.
As andanças de Ramus, bem como suas experiências como professor e reitor o
levaram a elaborar uma proposta para a reforma geral do ensino que vai no sentido de edificar
uma educação de escopo mais amplo e maior eficiência. Seu objetivo maior era poupar o
aluno da esterilidade e das desnecessárias dificuldades dos estudos de então. Esforça-se para
racionalizar a formação oferecida pelas escolas.
São três os princípios gerias para a organização da educação, que podem ser resumidos
em tres palavras-chave: natureza (conteúdo de estudo), sistema (contato entre o primeiro e o
terceiro princípio), e prática (método).
Para o tratamento e definição dos temas de estudo a regra a ser observada é a natureza.
Por exemplo, para a gramática e o estudo das línguas ele aponta que, para as línguas clássicas,
deve-e observar o uso feito delas nas obras dos autores clássicos; para as línguas modernas
deve ser observado o discurso das pessoas. As ciências naturais devem ser baseadas na
investigação da natureza.
Para a determinação do sistema que fará a conexão entre os temas de estudo e os
métodos de ensino deve-se observar três leis: universalidade, homogeneidade e primazia do
geral. Chamou o principio da universalidade de “lei da verdade”, ou seja, cada preceito
ensinado deve estar de acordo com a verdade, não apenas em alguns casos, mas sempre. O
princípio da homogeneidade foi chamado de “lei da justiça”, ou seja, todos os preceitos
devem ser pertinentes a um sujeito e ao outro. A terceira regra é a “lei da sabedoria”, sustenta
que o particular deve sempre derivar do universal, em lógica dedutiva.
Quanto ao método, apresenta sua critica ao ensino universitário de então, baseado em
palestras, repetições e disputas. Estes métodos foram deturpados pelos professores mal
preparados, pelas universidades desorganizadas e também devido a escassez e carestia dos
livros-textos. As palestras se tornaram longos ditados dos autores em consideração. As
repetições nada mais eram do que repetições mecânicas de regras rimadas e definições difíceis
e estéreis. As disputas eram infinitas, muitas vezes vazias e sem fundamentos, dada a
precariedade das palestras e repetições.
O que Ramus queria era tornar os assuntos o mais simples possível, tornando-os
inteligíveis, ilustrando-s com os autores clássicos e exercitando-os em exercícios orais e
escritos. Ele pouco acrescentou ao currículo, mas separou o joio do trigo e os apresentou em
esquemas de classificação do conhecimento com vistas a sua definição e estudo, apoiado em
suas leis de universalidade, homogeneidade e universalidade. Os esquemas de Ramus
indicavam os assuntos de forma positiva, expondo-os de forma verdadeira, homogênea e
simples. Ramus está aqui, caminhando em direção a uma Didática.
Para tornar a abordagem dos conhecimentos ainda mais especifica organizou
procedimentos para cada parte do dia na escola. Durante a primeira hora o professor palestra
sobre o tema do dia, dando os princípios subjacentes. Nas próximas duas horas cada aluno
trabalha por si o que foi aprendido durante a palestra. Na quarta hora, os alunos recitam o que
foi aprendido para o professor, de modo a certificar o entendimento e a memorização das
regras. Nas duas ultimas horas, discussão e debate, para que o aluno descubra por si mesmo o
que aprendeu e aprenda a exercitar isto de forma independente. Este é o trabalho da manha. À
tarde, uma combinação semelhante de métodos.
A rotina divide-se em explicação (análise) e prática (gênese). Ramus defendeu que as
atividades do professor não devem se esgotar na palestra, mas que deve seguir trabalhando
com seus alunos, ouvindo e corrigindo. A explicação é imprescindível, mas a ênfase deve ser
dada a prática do aluno, visto que é apenas desta forma que o aluno aprende a usar o que foi
explicado. A abordagem é a da aplicação e utilidade. Por meio desta combinação de análise e
gênese é gerada uma verdadeira atividade do aluno, assegurando o domínio do assunto.
“Inúmeras vantagens pedagógicas poderiam ser facilmente deduzidas destes princípios de
Ramus, elaborados com vistas a clareza e brevidade do currículo, facilidade, interesse e
economia para o aluno” [e atividade para o professor]. (Graves, 1912, p. 119. Tradução livre)

3- Considerações finais
O que hoje designa-se por “escola moderna” é o resultado de um processo lento e
descontínuo de aproximadamente três séculos. O movimento começou com as criticas dos
teóricos do século XV às escolas catedrais, monacais e às universidades. As críticas foram
seguidas de propostas. Tais propostas forma gestadas num ambiente de transformações
políticas, religiosas, filosóficas e sociais profundas. Teóricos, filósofos, religiosos e
educadores envolvidos neste processo de repensar a educação estavam envolvidos
visceralmente nestes processos. Assim como Ramus, Comenius, um século depois, foge de
sua terra natal em razão de perseguições religiosas.
Estão preocupados em elaborar preceitos educacionais que deem vazão aos anseios de
um tempo de transformações. As atuações destes que podem ser chamados de “pedagogos da
modernidade” foram motivadas por seus papeis frente às igrejas a que pertenciam, aos
projetos nacionais que defendiam e para os quais visavam contribuir e ao homem que
pretendiam formar. Charles Hoole pretendia formar o perfeito cidadão inglês, fiel servo da
Igreja e do Rei. Para os Jesuítas, o ideal era o aperfeiçoamento das almas na vida e na doutrina
cristãs e a propagação da fé católica.
Preocupados e envolvidos com as questões políticas e educacionais da época, eram
igualmente letrados, instruídos, mantendo redes de contato com outros homens de saber da
época, quer pessoalmente, quer em círculos de discussão que os aproximavam, quer na leitura
dos textos que circulavam graças a invenção da imprensa.
Estas condições, entre tantas outras, fizeram parte do processo de constituição da
escola moderna. A escola moderna não teve ancestrais institucionais (Cf. Hamilton, 2001).
Ela foi configurada por uma série de movimentos sociais e de discursos pedagógicos a partir
de meados do XVI até pelo menos o XIX. No XVI podem ser localizadas as primeiras
propostas de educadores humanistas, tal como Ramus, questionando a forma, o conteúdo, o
ideal e as instituições de educação medievais e propondo um modelo de escola, que tanto
criticava o que se tinha até então quanto abria novos horizontes para a escolarização. O XIX
assistiu as primeiras experiências de educação pública estatal, propiciando a extensão de um
projeto educacional nacional e uniformizado para grandes contingentes populacionais com
base em um projeto homogêneo de educação.
Este processo lento e descontínuo, de quase três séculos, caracterizou-se, por fim,
como um empreendimento vigoroso. Como observou Mariano Narodowski (2001, p. 12-13),
mesmo nos lugares mais remotos uma escola pode ser reconhecida por guardar os traços
físicos que passaram a definir “escola” em qualquer lugar do mundo. E esta escola foi a
gestada na entrada da modernidade.
A escola moderna instituiu uma série de novos elementos, dispositivos, termos e
atores. Alguns termos eram inéditos, como currículo e didática, outros ganharam novos
significados e papéis, como professor e aluno.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BIOTO-CAVALCANTI, Patrícia Ap. A proposição do professor moderno. .Jundiaí: Paco


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