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- O mercado de accdes PREFACIO O livro evolui de uma forma metédica, da introdugao genérica para a especia- lizagao. E um livro notavel. Todos aqueles que querem aplicar as suas poupancas de forma mais original que o simples depésito a prazo, com maiores perspectivas de rentabilidade embora com maior risco, deveriam ler esta pega tinica. Nao é necessdrio ter uma licenciatura para entender os mistérios do mercado de capitais, quando se Ié esta prosa carregada de humor e de andlise técnica desmistificada. Todos os livros que li sobre a Bolsa mistificam e complica quer as regras quer os instrumentos. Fica-se com a sensag4o que os autores desses livros ou se sobreespecializaram e tentam optar cientificidade onde ela é intttil ou entao misti- ficam e complicam para poderem realizarem alguns beneficios como consultores. Dr. Fernando Braga de Matos & muito claro ao longo da sua obra, com refe- réncias fortemente medidticas que transmitem ao leitor médio as grandes men- sagens e as grandes pistas de como ganhar no mercado de capitais. Fé-lo de uma forma to simples que um especialista se sente por vezes chocado com a sua capacidade para simplificar aquilo que, de facto, nao precisaria ser dificil. Frases como “a acco nem sequer o conhece", “ndo hd gurus, nem milagres” ou angli- cismos, como “it's never wrong to take a profit", vo ao mago mais profundo da técnica e da ética em Bolsa. é O leitor médio aprender principios fundamentais e serd motivado a investir em % Bolsa, munido de pardmetros importantes que apenas precisaréo ser completados * com a informacéio sempre crucial sobre as empresas cujos titulos estejam cotados. ¢ O especialista, por seu lado, cimentaré na simplicidade 0 conjunto de informa- t ‘ges complexas que foi adquirindo e multiplicando e que muitas vezes levam para é longe da realidade e do pragmatismo, fazendo perder-se em especulagées tedricas que nem sempre conduzem ao sucesso das suas aplicagies. | GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACCOES E um Advogado, que nos dé esta igo. Um homem que excede todos os dias aquilo que mesmo os seus mais chegados amigos esperam da sua inteligéncia brilhante. Um homem capaz de ensinar os prineipios fundamentais do mercado de capitais em forma de romance, afastando-se das andlises frias e secas, sem contetido nem humanidade. Um livro notavel que recomend a todos. Anténio Neto da Silva 24 PREFACIO DO AUTOR Este 6 um manual prético, nao um simples livro de receitas, o que certas complexidades do investimento em acgdes sempre impediria. Fornecem-se tanto conceitos fundamentais como meras informagées uteis; e igualmente métodos de andlise e regras de actuag&o, mas sempre desenhando a esséncia e suscitando as questes e controvérsias da actividade de comprar e vender titulos em Bolsa. E que uma compreenséo estrutural abriré opgdes e permitiré melhor agir no concreto. Mas a ideia nuclear deste livro 6 a de que qualquer pessoa, @ nao obrigatoriamente um perito, desde que dotada dos conhecimentos adequados e informago suficiente, pode seguramente ganhar na Bolsa, possivelmente muito e eventualmente de modo extraordinario, mesmo usando uma estratégia avessa ao risco: para tanto nem sequer imprescindivel grande empenhamento de tempo, embora se exija uma perma- nente e qualitativa atengdo. E que, como em tantas situagdes complexas, existe na Bolsa, e em qualquer mercado, uma intrinseca simplicidade, a todos acessivel: — H4 movimentos consistentes de alta (Bull Market) e de baixa (Bear Market); basta acom- panhar o desenvolvimento do primeiro para se ter sucesso. (Notar-se-4 que, quanto &s questdes postas pelo investidor na sua aproxima- 0 a Bolsa, a saber QUANDO e 0 QUE (comprar ou vender), a resposta gerada pela filosofia deste livro incide prioritariamente sobre a determinagaio do Momento). Poderé entéo definir-se uma estratégia simples e ganhante, com base em tal pressuposto, @ o desenho deste livro 6, pois, no sentido da sua recomen- dagao, fundamento e aplicagao. Para meu préprio espanto, uma simulagéo em computador, para os anos de 1984-1991, em Portugal, revelava ganhos de 5027%, com uma carteita de titulos de escolha equivalente a aleatérial 25 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Desprezou-se, pois, o que se comprou; deu-se énfase ao momento das compras @ das vendas. O “timing” foi to determinante, por relagdo, que a carteira foi construida completamente a sorte (embora diversificada). Entendamo-nos, portanto: — Para o autor e para o que este livro defende, a pericia do investimento em acgées define-se pelo Momento. E, realmente, estd estatisticamente comprovado que ha épocas em que quase todos ganham (Bull Market) e outras em que a enorme maioria perde (Bear Market). A nossa escolha estratégica parece, pois, ser acertada e serd curioso notar que, ndo divergiu muito da primeira grande teoria de investimento em acgées, com mais de 100 anos, a Teoria Dow. (Mas creia-me o leitor que no dia a dia do compra e vende, sobe e desce, lucra e perde, é muito facil o investidor desfocar-se desta ideia crucial: a arte do Momento). Colocaremos, porém, o leitor perante outras aproximagées, mas sem perder a orientagao fundamental. Teremos, assim, um capitulo, 0 9° e ultimo, intitulado ESTRATEGIA E TACTICA, em que a visdo fundamental e as complementares sero apresentadas na ‘passerelle”. Agora, tal como clamavam os criticos de Dow, uma tal estratégia 6 inutil, por no oferecer pistas sobre a “seleceao de carteira’, as aogées a comprar e a vender. Nao é bem verdade: — Basta adquirir um sortido de qualquer coisa, desde que diversificado. Mas como podemos fazer melhor do que isso, fé-lo-emos; assim, 0 que se deve comprar e vender nao seré esquecido neste livro, e para tanto o autor socorre-se, como toda a gente, de dois tipos de métodos: — a Andlise Funda- mental e a Andlise Técnica. Aqui o autor, ao contrario da seguranga que exibe nos dominios da estratégia, apenas oferece opinides e pistas, embora anunciando os respectivos funda- Mentos, as vezes contraditérios. Aqui é uma questao de escolha de cada um. Alids, uma querela tao intensa como a que opée Andlise Fundamental e Andlise Técnica, nao seria o autor obviamente quem a iria derimir, quanto mais resolver. Serd 0 leitor, oferecidos os meios, quem determinaré as suas opgoes. E se sentir dividas, ficaré bem acompanhado por milhes de investidores que, em todo o mundo, enfrentam, sem certezas, a mesma questdo. Deste modo, teremos que preencher parte do livro com penosos mas cruciais capitulos, destinados a selec¢ao de carteira. 26 PREFACIO DO AUTOR Fé-lo-emos de maneira tradicional: — um para a ANALISE FUNDAMENTAL (0 5°) @ outro para a ANALISE TECNICA (0 6). Convencidos que 0 mercado nos fornece, caridosa e eloquentemente, quase todas as mensagens e porque baseamos a nossa estratégia na questéo do Momento do Mercado, escrevemos um capitulo essencial, “ANALISE TECNICA DO MERCADO". Esté numerado em 7? lugar, ntimero cabalistico e aqui encon- trard o leitor o principal sistema de biissolas que Ihe orientardo o rumo. Depois nao resistimos a uma intensa manobra pacificadora e conciliante, e escrevemos um trecho destinado a dar a resposta ultima e metafisica: — E AFINAL? ANALISE FUNDAMENTAL OU TECNICA? E 0 capitulo 8°, pequeno, mas cheio de “substracto”, como dizia o Estebes. Os capitulos 3° e 4° dedicam-se ao INVESTIDOR, pois é uma nogao essencial saber que o mercado ndo é um esquema mecnico, ao contrario do que cada vez mais as aparéncias parecem indicar. Diremos até que no elemento pessoal est 0 fulcro do jogo — e esta afirmagao nao resulta apenas da profunda formagao clas- sica do autor. No capitulo 3°, percorreremos varios pontos onde se suscitard a conexdo da pessoa com a Bolsa e com os negécios. Diremos aqui algumas evidéncias e trataremos dados do género que se encontra em qualquer Borda D’Agua. Mas passaremos por cruciais conceitos, por exemplo, 0 comportamento de grupo e 0 pensamento contrario, que so suportes da nossa aproximagao estratégica. Dai o capitulo 4°, PSICO ANALISE, dedicado ao investidor, na sua singula- ridade. Tentaremos, por via da severa adverténcia, transformar o investidor, o mais possivel, numa fria maquina de transaccionar, um auténtico “Terminator”, O autor julga que este capitulo, apesar do tom ligeiro com que foi escrito, 6 de ‘extremo importe. Os capitulos 1° e 28, A BOLSA e UM JOGO NUM MERCADO, sao dedicados A instituigdio Bolsa e a actividade de transacionar, respectivamente. O capitulo UM JOGO NUM MERCADO, onde se procurard revelar a esséncia da actividade e do ambiente em que compete o investidor, integra 0s pilares da estrutura mental da nossa estratégia. Nao é sé para ler; é para idear. Eis, assim, 0 nosso livro, capitulo a capitulo: | —ABOLSA Il. —UM JOGO NUM MERCADO 27 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES lll —O INVESTIDOR IV —PSICO ANALISE V_—ANALISE FUNDAMENTAL VI —ANALISE TECNICA Vil — TIMING: ANALISE TECNICA DO MERCADO Vill — E AFINAL? ANALISE FUNDAMENTAL OU TECNICA? IX —ESTRATEGIA E TACTICA Como a ideia do autor e do leitor sempre se sintonizaraéo — esperdmo-lo — deixamos, para finalizar, as seguintes prevengées e reflexdes: — A linha aértica deste livro 6 extremamente simples @ bem definida e julga 0 autor préticamente indesmentivel tal asserpao. Mas debatem-se também teorias e conceitos, dispares e controversos, para definir intelectualmente as questdes e permitir ao leitor seguir 0 seu caminho. Nestes pontos, 0 autor, no méximo, manifestard simpatias e sugest6es, nunca directivas, @ entrara, por vezes, na complexidade. Convém o leitor separar mentalmente estes dois percursos discursivos que Permanentemente se cruzam mas néo se igualizam. Como em algum “software” de computador, havera, um ‘innerlayer” e um ‘outerlayer”. — 0 destinatério principal da obra 6 0 investidor individual, mas penso poder asseverar que os préprios profissionais terdo aqui algo para meditar. — Como se disse, o livro pretende ser simples, mas em certos momentos falha miseravelmente. Por exemplo, “Andlise Técnica” 6 complexo, mas sé porque os Conceitos nao serdo familiares & generalidade das pessoas, resultando dal uma inibigdo intelectiva inicial. © Autor julga ter encontrado 0 método ideal, aliés bem conhecido e testado: — resumiu os capitulo, ‘in fine", salientando as ideias chave. E fez mais, dando itdlicos e enfaticos a noges e conceitos cruciais; mais ainda, iniciou os capitulos com uma espécie de introdugao esquematica dos temas a tratar, tentando jé af orientar 0 leitor. Acresce que s&o permanentes os relacionamentos de questées, de capitulo para capitulo, através de notas de fim de pagina e remissdes. Assim, nem os distraidos vencerao. — Passaremos por coisas muito simples, mas ndo tocaremos no estritamente elementar. Dé-se como certo que 0 leitor possui conhecimentos basilares, embora minimos, sobre bolsa, acgdes, algumas nogdes de economia, etc. 28 PREFACIO DO AUTOR Iremos pois da iniciagdo até ao limiar da sofisticago e procuraremos cobrir tudo aquilo que um investidor bem informado deve saber, numa base tao simples, mas t4o completa quanto possivel. Boa leitura, e... bons ganhos! Moledo do Minho e Foz do Douro, 1990-1993 29 CAPITULO | ABOLSAE AS ACCGOES 1. ORDEM DO DIA Convém saber exactamente, e logo desde 0 inicio, do que estamos e vamos falar. De acgdes. Nao das gloriosas e transcendentes que geraram herdis santos, nem das que os escuteiros praticam, boas, uma vez por dia, mas desses papéis, cada vez mais imaterializados, que representam partes sociais de empre- sas, fracgdes de um capital social, que atribuem ao titular direito a dividendo, voto (as acgées ordinarias) e informagao. Por conseguinte, sendo este um livro sobre investimento, é&o apenas referente a accées. Vamos desprezar consequentemente outros actives financeiros mesmo mobilidrios, como depésitos, obrigagées, titulos de participagao, cémbios, etc, e ficaremos, monocordicamente, na compra e venda de acgdes. Nem as proprias obrigages convertiveis e "warrants" nos interessaro, apesar de incluirem direitos de aquisi¢ao de acgdes. Uma excepodo, se disso se trata, aparecera, num breve percurso sobre opgées e futuros financeiros; porém, como se podem referir exclusivamente a acgées, achei isenta de pecado tal alusao. Mas a actividade redutora foi ainda mais longe. Iremos s6 tratar do que se passa nos mercados financeiros secundarios, isto 6, aqueles que se dedicam & compra e venda de acgdes entre os investidores em geral, com exclusdo das operagdes de emissdo e primeira colocagao delas, no piblico, por bancos de inves- timento e outras entidades — os mercados primarios. {A grande justificagéio econémica das Bolsas de Valores consiste na sua capaci- dade de angariar financiamento, transferindo poupangas directamente para canais produtivos, o que apenas se realiza no mercado primario. Mas 0 facto é que este 33 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACCOES sé existe pujantemente gragas 4 liquidez que o secundario proporciona, ao criar a possibilidade de os investidores poderem comprar e vender facilmente o que emergiu do mercado primario. Nao féra 0 mercado secundédrio e os valores finan- ceiros mobilidrios teriam as dificuldades de liquidez e transparéncia de outros mercados, como 0 imobiliario, de arte, etc. Acresce que 0 nosso objectivo é descrever um jogo (no sentido que adiante definiremos) que se desenvolve no mercado secundatio, 0 jogo das acgdes; 0 que se passa no mercado primério exige outro tipo de pericia e aproximagao. Aqui situados, desprezaremos ainda por completo o chamado mercado de balc&o, cujo cardcter reservado Ihe retira capacidade de admissao neste livro. lremos, pois, apenas as Bolsa de Valores. Por outro lado, no aspecto subjectivo, olvidaremos intervenientes cada vez mais necessdrios ao bom funcionamento dos mercados, como “marketmakers" e especia- listas, para referir apenas os que so tao velhos como as Bolsas, os corretores, intermediarios imprescindiveis, sem os quais nao poderia haver mercado. E teremos um interlocutor privilegiado, o investidor particular, que este livro tem principalmente em mente. © que vamos tratar nesta primeira parte? De coisas extremamente magadoras, mas um tanto ou quanto inevitdveis. © capitulo inicial, dito "UM POUCO DE HISTORIA’, constitui excepedo e leva- -nos pelo mundo fascinante e as vezes surpreendente das acgdes; algumas histérias até dao para contar a lareira e sensibilizar o leitor para quest6es fundamentais como a especulagao e o diagnéstico actual sobre o funcionamento das Bolsas Portuguesas. De resto vamos passar por uma série de assuntos, — “Fundos Estrangeiros", “Ordens de Bolsa”, “Corretores”, “Tipos de Mercado”, “Novos Produtos Financeiros”, — todos com alguma utlidade. Mas se o leitor sentir penosa a leitura, enverede sem hesitar pela diagonal e dé apenas a devida atengo aos itdlicos e as simulas finais, que carinhosamente preparamos para os preguigosos. 34 ABOLSA E AS ACGOES 2. UM POUCO DE HISTORIA “A Historia 6 a mestra da Vida". Herédoto, sec.V A.C.(") "Coisas como acgées @ Bolsas sao ou néo positivas? E podem adaptar-se ao socialismo?" Deng Xiao Ping, dirigente comunista chinés, 1990 (") As acgdes ter&o aparecido, como forma juridica, na Inglaterra, em 1553, para financiar a posteriormente chamada Muscovy Company. Tratava-se de reunir a fabulosa soma de 6.000 libras, partilhando 0 risco de enviar navios mercantes pela passagem de Nordeste a fim de atingir a Russia por mar. Cada um dos mercadores subscreveu uma parte (share) daquele mon- tante, suportou uma parte do risco e adquiriu o direito a auferir, proporcional- mente, do lucro da operagao. A medida que o sistema, bem sucedido, se foi generalizando, com outras com- Panhias e projectos, as acgdes comecaram a ser transaccionadas, nas tabernas da rua Threadneedle, mais tarde local da sede da London Stock Exchange. O primeiro grande “crash” de aopdes ocorreu, em Londres, ha mais de 250 anos (!), mais precisamente em 1720, e ndo com o mercado em geral, apenas incipiente, mas com um papel em particular, as acpdes da South Sea. Se alguém se surpre- ender com o evento, que fique bem claro que a especulacdo é téo velha como a propria Histéria econémica e ha noticias de fulgurantes movimentos de subidas e descidas de pregos de produtos desde o tempo dos Fenicios. A curiosidade da South Sea 6 t&o sé de se tratar de acgdes, afinal o nosso tema. O objectivo da Companhia, fundada em 1711, consistia no monopélio do comércio nos mares do sul, mediante a assungdo de parte da divida publica do Reino. Em Janeiro de 1720, as acgdes transaccionavam-se a 128 libras e por Margo a 380. Em Abril, a (*) Relacionou as frases, evidentemente ... 35 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES companhia aumentou o capital, vendendo acgSes ao quédruplo do valor nominal, de 100 libras. Por Junho, o prego ia nas 890 libras e em finais de Julho, ja com a terceira subscrigao publica realizada, sempre a pregos mais altos, atingiu o valor de 1550 libras. Em 8 meses, 0s titulos tinham-se valorizado 1800% e 0 primeiro ministro, Sir Robert Walpole, aconselhou publicamente as pessoas a venderem. Se as suces- sivas ofertas ptiblicas de venda e 0 aviso primoministerial anti-especulativo, (0 chamado “gato-por-lebre-speech’) revelarem similitude com eventos ocorridos em Portugal em 1987, asseguro que se trata de mera coincidéncia, Mas nao deixa de ser extraordindrio 0 padrdo repetitivo dos comportamentos humanos. E entao 0 que se passou com a South Sea? Evidentemente que a ‘bolha” especulativa estourou e a cotagdo, em Setembro, voltou a 150 libras, isto 6, dez vezes menos que dois meses atrés. Como sempre, quem comprou cedo e vendeu a tempo ganhou fortunas; quem comprou tarde, perdeu couro e cabelo. E para que se ndo pense que sé os lorpas caem nestas vicissitudes, serd curioso saber que uma das vitimas do “crash” foi Sir Isaac Newton que perdeu 20.000 libras (900.000 a valores actuais, isto 6, cerca de 200 mil contos). (Hipétese do autor: a descoberta da gravidade nada tem a ver com a queda da mag, trivial fruto que vinha repetindo 0 mesmo bocejante comportamento ha milhdes de anos, mas com © tombo da South Sea, bem mais sugestivo e marcante). Como se sabe, os franceses so gente competitiva que odeia ficar em segun- do lugar, pelo que, ainda antes de o fenémeno South Sea tomar forma, jd em Franga se preparava idéntico descalabro, o qual, porém, apenas eclodiu alguns meses ap6s as citadas vicissitudes londrinas. Banqueiro, cortesdo, sedutor, John Law havia fugido apressadamente da Gra- Bretanha, com uma sentenga de morte, e instalara-se em Franga. Al, travou conhecimento com o principe regente, a quem convenceu que 0 territério do Mississipi, entéo possesso francesa, oferecia espantosas possibilidades de desenvolvimento e lucros, justificando uma empreitada financeira nacional que mobilizasse as poupangas locais. Logo no primeiro ano, Law prometia para a nova sociedade um dividendo de 40%! Seguiu-se a costumeira escalada dos pregos, os sucessivos aumentos de capital, a prémios cada vez mais elevados, enfim, o habitual, até que, também com grande sentido de normalidade, a “bolha” rebentou. 36 ABOLSA E AS ACGOES Entretanto, as acgdes haviam subido 4.000% em 3 anos, de modo que o prego de mercado da Companhia do Mississipi era equivalente a 80 vezes todo 0 oiro e prata existentes em Franca! Depois caiu 99%, contra os “moderados” 88% da South Sea. A ‘bolha” da Companhia do Mississipi criou, pois, histéria e ofereceu ainda um valioso contributo aos diciondrios, gragas ao aparecimento de uma nova palavra, “millionaire”. “Crashes” surgiram alguns, posteriormente, sempre com os mesmos padrées, singularmente simplistas e igualmente irresistiveis, e com um ponto comum a que Dreman chamou a Teoria do Tolo Maior. Claro que o da Wall Street, em Outubro de 1929, merece uma referéncia espe- cial porque teve repercussdo mundial e acendeu o rastilho da Grande Depressao. Mas, de resto, foi monotonamente idéntico aos outros e até menor em rapidez que © de 1987, e menos significativo em percentagem de perda que o de 1962, em Franga, e 1972, em Inglaterra. Outro “crash” de enorme relevo foi o de Outubro de 1987 na Wall Street e nao 86 pela violéncia da queda (22,8% num Unico dia!) mas por ter sido desenca- deado provavelmente por programas de computador, ordenando vendas auto- miticas. Foi, pois, despoletado directamente por maquinas e no por homens. Teve também repercusséo mundial, o que poderd levar a conclusdo que s6 0s descalabros financeiros produzidos nos Estados Unidos provocam ondas sismi- cas suficientemente fortes para abalarem o resto do mundo. Nem o do Japao, em 1990-1992, deixou, de per si, grandes lesGes, apesar da queda sucessiva durante mais de 2 anos. Este percurso do autor pelas “bolhas especulativas” e pelos “crashes” tem uma razo de ser, para além da evidente curiosidade mérbida: a de obrigar os leitores deste livro a declararem, por escrito, o seguinte: “Juro nado me envolver em bolhas especulativas”. 0 espago ponteado abaixo é destinado a aposigo da respectiva assinatura. Bolsas activas e présperas jd existiam nos finais do século XVIII, em Amesterdam (a mais antiga, mais préspera e melhor organizada), Londres, Nova York, Paris, 37 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES etc., E nao muito diferentes das actuais. Um analista de mercades internacionais afirma até que um viajante do Tempo no encontraria ai motivos para estranhezas. Isso explica, em parte, a Revolugao Industrial, causa do extraordinario progres- 0 que transformou mais o Mundo em 200 anos que em todos os milénios ante- riores. Os fabulosos capitais que transformaram em acgao ideias, inovacgdes, energias e ousadias, subjacentes na Humanidade, s6 as Bolsas os permitiram angariar, pelo menos em tal extenséio. E que tal, nos tempos modernos, 0 aparecimento de 2 Bolsas na China, em 19907 Bolsas de Valores e Comunismo adequam-se tanto como esquimés e vendedores de frigotificos, mas 0 facto 6 que desde essa data o crescimento do P.I.B na China tem sido superior a 12% a0 ano! Quanto a Portugal... Para jé, vamos & palavra, “Bolsa”, que nada tem a ver com a intimagao “a boisa ou a vida", Porqué chamar “Bolsa” a um mercado, a um lugar de trocas de cariz financeiro? Realmente, em inglés, a palavra utilizada 6 mesmo ‘troca de titulos”, “Stock Exchange”. Na patria lingua, 0 étimo tem origem no nome de um banqueiro da Flandres, em casa de quem, no século XVI, se realizavam as trocas financeiras tipicas das bolsas — Van Den Beurse. O leitor ficara supreendido ao saber que no tempo do D. Afonso V ja havia uma Bolsa de Valores (Alvaré de 1439). Ai transaccionar-se-iam evidentemente letras de cAmbio ou equivalente mas os dados concretos nao existem. Em 1837, com sede no Torredo da Praga do Comércio, foi fundada uma Bolsa de acgdes e obrigagdes no nosso pais. Os dados disponiveis estdo ainda a ser coli- gidos no momento de publicagao deste livro, mas em breve teremos uma histéria documentada. E seguro que se transaccionavam acgdes de bancos e de algumas ‘empresas industriais e titulos de divida publica. Na opiniéo do investigador Prof. David Justino, também em Portugal a Bolsa teré desempenhado fungao meritéria no desenvolvimento econémico. Se o pais ndo apanhou o combéio acelarado da industrializagao néo foi por falta da Bolsa nem de instrumentos legais (0 Cédigo Comercial de Veiga Beirdo é de 1881, e substituiu ode 1837). Em 10 de Outubro de 1901, foi publicado o primeiro Regulamento da Bolsa de Valores de Lisboa. 38 ABOLSA EAS ACGOES Por sua vez, a Bolsa do Porto foi criada em 29 de Janeiro de 1891, mas oficial- mente inaugurada apenas em Novembro do mesmo ano, pelo Rei D. Carlos, com sede no belissimo paldcio chamado da Bolsa, mandado construir pela Associagao Comercial do Porto. Eis um lugar obrigatério de visita, principalmente se o objec- tivo nao fér negociar em acgdes. Realmente, quanto a negécios de acgées, a Bolsa do Porto manteve sempre um lugar muito secundario (embora com a intro- dug&o do mercado de dmbito nacional em 1991, através da ligagao informatica das duas Bolsas, a parte do Porto seja significativa, na zona dos 30%). Entre Monarquia e Republica, Estado Novo e Revolugao Democratica, as Bolsas la foram andando. Com excepedo dos titimos anos, em que ha repositério de dados, © que se sabe vem mais da meméria. Ha vicissitudes assinalaveis, como o Bull Market de 1970-1973 (durante o qual, em certas ruas do Porto e Lisboa ou nos balc6es dos Bancos, se formavam cota- 6es diferentes das Bolsas e o volume de transacgées era possivelmente maior); a queda subsequente, com a crise petrolifera, desencadeada em fins de 1973; a primeira regulamentagdo adequada para as Bolsas, em 14 de Janeiro de 1974; a Revolugao do 25 de Abril e a suspensdo da Bolsa, logo 4 dias mais tarde; as nacionalizagdes de 11 de Margo de 1975. Entdo, o pouquinho que havia de Bolsa, estreita, ineficiente, desinformada, desapareceu entre gritos de "Unidos Venceremos". Desapareceu também muito dinheiro dos particulares, e grupos econémicos foram simplesmente apagados. Rumdvamos alegremente para o 3° Mundo, quando as coisas mudaram em 25 de Novembro de 1975. Assim, a Bolsa péde ser reaberta para o mercado accionista em 25 de Fevereiro de 1977, embora com uma quantidade reduzida de titulos transaccionaveis. O importantissimo Indice BTA para a Bolsa de Lisboa tem a sua base 100 nessa data, Mas tratava-se de uma coisinha de trazer por casa, mais para confirmar que © “socialismo ia para a gaveta’. S6 em 1986 apareceram sinais de mudanga real; nesse ano transaccionaram-se quase 10 milhdes de contos, mais que decuplicando o “tumover" do ano anterior e aparecendo 63 companhias cotadas, o triplo das existente em 1981. Em 1987 foi a loucura; apesar de 0 universo do mercado ter passado para 143 empresas, 0 volume de transacgées atingiu quase 160 milhdes de contos e a presséo da procura foi tal que o [ndice B.T.A. subiu aos 6.870 pontos, numa vertiginosa ascenso em Agosto e Setembro. 39 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES Em 17 de Outubro deu-se o “crash”, Mais uma vez milhdes de contos desapa- receram, embora desta vez sem o pressuroso confisco pelo Estado. Agora foi a febre do ouro em todo o seu esplendor, uma *bolha" especulativa tipica. Temos que convir que dois traumatismos craneanos, em pouco mais de uma década, constituem um excesso para qualquer cabega nacional. Alids, excessivas tém sido também as permanentes “escoriagdes” sofridas pelos investidores, desde as recentes quedas abruptas de Outubro de 1991 e Setembro 1992, até as perdas sofridas pelos particulares nos processos de privatizagdes, das quais, em final de 1992, apenas 3 tinham produzido lucro (Unicer, Banco Totta e S.F.P. — Banco Mello) e prejuizos, por vezes retumbantes, em todas as restantes; e nem falamos de pormenores de sabor criminal, como as ‘previsdes” de lucro da Centralcer, a sonegagaio de passivo na S.F.P. ou 0 furto sovaqueiro da 2" fase da Alianga Seguradora, em que a "tranche" dos pequenos investidores e emigrantes foi vendida pelo Governo 10% mais cara do que se adquirida em Bolsa. (Pelo contré- rio em Inglaterra, entre 1980-1988, triplicou o numero de particulares detendo acgdes (fonte: The Economist), quase exclusivamente por razéo de programas de desnacionalizagéo bem sucedidos e destinados a promover o chamado ‘“capita- lismo popular’. Foram milhares de pessoas que assim investiram, confiando no Estado, e, obtendo, em geral, garbosos lucros). Mas cd, ao investidor local, passou a colocar-se a judiciosa questdo da tele- novela: — "Que mais ird me acontecer?". Os portugueses manifestam, pois, uma compreensivel, embora errada, prefe- réncia pelo totoloto, jogo em que perdem consistentemente, mas menos. A Bolsa portuguesa adquiriu assim uma caracteristica especial, consistindo na reduzida influéncia e participagao dos investidores particulares, (eventualmente a fegressarem com um novo Bull Market, provavelmente iniciado em meados de Janeiro de 1993). O numero sera de cerca de 260.000 (fonte: Expresso, 10/93). ‘Sendo obviamente de interesse saber quem esta no mercado, influenciando-o, 6 importante ter a nogdo desta limitada presenga das pessoas privadas. (Nao fique sem se dizer que a década de 80 trouxe a redugao do papel directo dos patticulares nas Bolsas mundiais mais importantes. Se é certo que a inter- vengao indirecta destes 6 cada vez maior, via Fundos de Investimento, por exemplo, nao deixa de ser real e relevante o seu relativo apagamento directo. Mas apesar de tudo, nos finais dos anos 80, as pessoas individuais estavam representadas, no Japdo em 8%, em 15% nos E. Unidos, 10% em Franga e 20% no Reino Unido (fonte: La Bourse). 40 ABOLSA EAS ACGOES De 1987 até hoje, em Portugal e para a Bolsa de Lisboa, temos os seguintes dados estatisticos com interesse (fonte: B.V.L.): — A capitalizago Bolsistica tem variado entre 0 biliéo e 0 bilidio e meio de contos. — O mercado das obrigagdes ganhou em importancia, valendo, em volume de negécios, 0 quintuplo do accionista, em finais de 1992. — 0 turnover" anual, por relagéio ao famoso ano de 1987, vem aumen- tando (com excepgao de 1988), apesar de o Indice B.T.A. ter perdido cerca de 75%, em relagao ao maéximo. Porém o que realmente releva nao 6 nada disso. E que as Bolsas de Lisboa e Porto séo hoje Bolsas modernas, gragas a0 Cédigo de Transacgo do Valores Mobiliétios, @ constituigéo de sociedades de corretagem, a privatizagdo das Bolsas e a criagdo das Associagdes respectivas, & introdugo do mercado em continuo de Ambito nacional, & divulgagao da informa- ao em tempo real, & criago e empenho da Comisséo do Mercado de Valores Imobilidrios, ao aparecimento de titulos escriturais, a criagdo da Central de Valores Mobilidrios, para no falar das vinculagdes mais exigente, imposta &s empresas cotadas, quanto & publicagao de informagées. ‘A Bolsa em Portugal jd teve o seu Big-Bang, estando actualmente dotada de uma eficiéncia interna indiscutivel. Até j4 usufruiu de escdndalos, como a Bolsa de Nova York e outras de elite, embora se deva ter a nogdo de que, comparados com Boersky e Milken, os locais nao passavam de pilha-galinhas. Em termos de mercado de acgées, saimos pois da Pré-Historia @ a transicao fundamental foi nos anos da Graga de 1991 @ 1992, (por fundamental impulso anterior do Ministro Miguel Cadilhe). E isto é muito importante saber. Ideias a reter: —No inicio dos anos 90, 0 mercado portugués de acces passou a ser internamente eficaz. —Temporariamente que seja, é muito reduzida a intervengao de investidores particulares 41 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES: 3. O SERVIC¢O DE CORRETAGEM “E terrivel trabalhar para um corretor homosexual — dizia a secretéria — quando os clientes dizem que ele os f.... nunca sei se é em sentido real ou figurado’. Anedotario da Wall Street As transacg6des em Bolsa fazem-se através de corretores — sociedades de corretagem e financeiras de corretagem ("brokers" e ‘dealers*). Sao interme- didrios imprescindiveis que negoceiam entre si, outrora na base da confianga mitua (*). Ha, também, outros mediadores entre o investidor e a Bolsa, os Bancos, mas s&o evitaveis e a evitar. Grande partes dos particulars transaccionam em Bolsa através das institui- 96es bancarias e conseguem assim pagar, além da corretagem e taxa de Bolsa, uma comissdo bancdria e IVA respectivo, agravando o custo de cada operagao. Assim, se um pequeno investidor tivesse comprado, em 3/5/90, 100 accdes BCP N. a 2640$00, teria pago necessdriamente 1452$00 de corretagem e taxa de bolsa e, facultativamente, entre 1600$00 e 3100$00 de intermediagao bancaria. Se se reparar que aquele comprador rd vender um dia as mesmas acgées, os custos repetir-se-do, fazendo minguar a esperada mais-valia ou acrescer 0 malfadado prejuizo. ‘Ora, os custos so tdo importantes que véo condicionar a frequéncia de negécios do investidor e permitir ou abolir a sua capacidade de procurar curtas e rapidas mais valias, isto 6, a opgdo por uma eventual estratégia de curto prazo. Nao satisfeitos com este dbulo generoso aos Bancos, estes investidores deixam os titulos 4 guarda dos mesmos, encarregando-os de receber dividendos, subscrever aumentos de capital, etc. Estes cobram as suas comissdes e 4 vai mais um pedago de dinheiro. Por vezes, quando a quantidade de titulos 6 pequena, os dividendos vdo parar ao Banco e nao aos proprietdrios. Ora as sociedades de corretagem prestam o mesmo servico, geralmente por pregos inferiores. (*) Vide, em Apandice, os actualmente existentes em Portugal. 42 ABOLSA EAS ACGOES Acresce que, além de se pagar mais, se obtém pior servigo, desde logo porque as ordens para execugao no préprio dia sao dificeis ou impossiveis, e ha momen- tos em que uma deciséio muito répida se impée. Acontecimentos estratégicos como 0 “crash* de 1987 ou a invasdo do Kuwait Id teriam de esperar 24 horas; 0 mesmo destino para ocorréncias triviais, mas relevantissimas, como 0 antincio de resultados das empresas. Por outro lado, ha a informagdo, que as sociedades de corretagem prestam, ao contrario das entidades bancarias (1), E que periodicamente essas firmas tornam acessiveis publicagdes com dados bolsisticos, estudos de empresas cotadas e recomendagées de investimento que muito ajudarao o investidor a construir ou modificar um portfolio. E, em cada momento, 0 corretor pode suprir as indecisSes com um conselho fundamentado. Como dizia a Soundview, “alguns investidores dependem dos corretores, esperando que estes tomem decisées de compra e vends; isto funciona, desde que o corretor seja mais que um mero vendedor”. Ha, entdo, que buscar os servigos de uma sociedade de corretagem (Ver em apéndice as que operam em Portugal). Dentre estas sugiro desde ja um critério de adopedo: preferir as financeiras de corretagem, visto que 86 com estas 6 permitido estabelecer “contas-margem" (2), Ah! Nao se sinta o leitor inibido se achar humilde a sua conta e curta a carteira de acges. Lembre-se que hd quase 20 empresas de intermediagao, grande parte operando com prejuizo no inicio de 1993 e que os servigos de corretagem so destinados a toda a gente. Talvez constitua uma surpresa mas 0 valor tipico das carteiras de particulares norte-americanos, tutelados pelas casas de corretagem, era de apenas 100.000 délares (fonte: Barron's). E se pensar que esté a falar da América, nao sinta inibi- gées de apresentar valores reduzidos. Afinal, ainda somos uns ‘tesos". DE RETER: — Deve-se transaccionar em Bolsa através de sociedades financeiras de corretagem: — é mais rapido, barato e obtém-se melhor informagiio. (1) Vide "informagao". (2) Ver “Novos Produtos Financeiros”. 43 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES 4. ORDENS DE BOLSA Como jé vimos, os investidores nado podem intervir directamente na Bolsa, devendo dirigir as suas ordens de investimento através de corretores. Estas devem conter varios elementos, sendo os principais a identificagdo das pessoas; a descriminaco dos titulos, em espécie, quantidade e condigao de prego; a data; e prazo de validade. E trivial, mas importante, saber que o investidor pode contactar com o seu corretor via fax ou telefone, fornecendo-Ihe os elementos essenciais; ele se encar- regard de fazer chegar a ordem a Bolsa, com todas as indicages necessérias. As condi¢ées de prego — elemento fundamental da ordem — podem ser de varios tipos: —Ao melhor prego. Aqui 0 investidor espera que o seu corretor consiga comprar ou vender o papel a0 prego que Ihe fér mais favordvel no momento. Neste tipo de ordem nao hé limite de prego (sendo 0 da variagéo mdxima didria permitida) e tem-se como objectivo realizar, sem delongas ou hesitagées, a compra ou a venda pretendidas, sendo secundérias consideragoes de valor. Qual a motivagao deste tipo de ordem? Perante uma situagdo de alta volatili- dade, em que o prego parece disparar para cima ou para baixo, quem da a ordem de comprar espera conseguir obter o papel antes de um previsivel maior aumento de pregos; e quem dé a ordem de venda espera antecipar-se a uma queda mais intensa, para niveis ainda inferiores aqueles que a ordem vai alcangar. Atengéio que, por vezes, a ordem ao melhor, principalmente no caso de venda, pode deparar com supresas desagraddveis, em titulos pouco liquidos. As acgées com estas caracteristicas podem s6 ter compradores a valores muito baixos € 0 investidor pode ir cair num pogo sem fundo. Quem procurou vender acgdes Estori- -Sol ao melhor prego, a partir de 8 de Outubro de 1991, quando a cotago se fixou em 1580$00, s6 encontrou comprador a 1460$00, e, nos dias seguintes, sé na zona dos 1200$00. Mesmo assim boas vendas, pois subsequentemente os pregos cairam bastante mais. —Com limite de prego. Aqui a facilidade 6 enorme, pois o mandante, ao indicar um prego, declara implicitamente que compra ou vende até ao limite referido, admitindo, porém, vender mais caro ou comprar mais barato, como é evidente. 44 ABOLSA EAS ACCOES As ordens com limite de prego tem tambem o seu inconveniente. Vamos supér que 0 prego indicado de uma venda foi de 1130$00, mas 0 maximo valor atingido em Bolsa foi 1128$00; 0 negécio ficou entéo por fazer e devido a uma insigni- ficancia, Para evitar estas situagdes, convém avisar o corretor da liberdade de alterar 0 prego dado, dentro de uma zona de irrelevancia. —Com limite de prego e mengao stop. Este tipo de ordens & menos familiar, mas encontra-se previsto legalmente. Vamos pér 0 exemplo do investidor que decide perfilhar a tdctica do “stop loss” (") e, tendo comprado acgdes a 5.000800, deseja limitar 0 seu risco ao maximo de 10% de perda, isto 6, deseja largar o papel se este descer abaixo dos 4.500$00. A ordem é dada assim, quanto ao prego: — "Stop, 4.500$00", e isso significa que, se a colago descer abaixo desse prego, tal ordem se transforma numa venda ao melhor . © contrério também 6 possivel. Deste modo, um investidor que tenha em ateng&io zonas de resisténcia (*), pode dar uma ordem de compra com “stop" nessa zona de resisténcia, por exemplo, 4.000$00. Se a cotagao ultrapassar tal limite sinal que a procura domina a oferta, pelo que, indo provavelmente verificar-se uma subida de pregos, se quer adquirir as acpdes imediatamente, no prego de presumivel arranque, logo acima dos 4.000$00. A ordem 6: "Stop, 4.000800" pelo que, pasando esse valor, se transforma em ordem ao melhor. — Ordem casada. Tal como o anterior, este tipo de ordem 6 “invenedo" da Lei Sapateiro. Significa que 0 comitente faz depender a execugao da uma ordem de compra em relagdo a um titulo da efectivagio de venda de outro; ou vice-versa. A utilidade é evidente: — © investidor X quer comprar acgdes da empresa Y, mas, necessitando de fundos para tal objectivo, tera de vender titulos da sua carteira, da sociedade Z. Dard entao ordem de compra de Y, mas sé se efectuar a venda de Z. (*) Vide local préprio. 45 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES — Outras. Aqui caberdo todas as ordens dadas ao corretor, saindo daquelas anteriores definiges legais, e correspondendo a relagdo negocial de confianga estabelecida. O cliente pode ir a0 ponto de pedir ao corretor que Ihe compre ou venda certo papel, segundo o prudente juizo que ele faga, situagao relativamente vulgar e que implica grande margem de manobra. Nesta zona informal, pode a discricionari- dade ser total ou 0 investidor dar referéncias, como “seguir o prego de abertura’, “acompanhar subida em volumes", etc, etc. Estamos aqui num dominio apenas exemplificativo e que tem tantas possibilidades quanto as admitidas pela relagao corretor-cliente, na pratica. 5. TIPOS DE MERCADOS BOLSISTICOS Estdo legalmente previstos e a funcionar nas Bolsas portuguesas varios tipos de mercados, nos quais podem ser admitidas @ transacgo as acgées de certas empresas, com certas caracteristicas. No mercado oficial integram-se as acgdes que preenchem um largo nimero de requisitos, definidos no Cédigo do Mercado de Valores Mobilidrios. Sao as acgSes com maior capitalizagéo e dispersao publica, de empresas com situago econémica e financeira adequada e publicagao de informagao também tida por suficiente. O segundo mercado integra as acgdes das empresas que ndo preencham por inteiro os requisitos e exigéncias do mercado oficial, sendo, no final, um mercado para as pequenas e médias empresas. Este 6 um mercado quase inexistente na actualidade, mas pode-se cogitar sobre 0 que iré acontecer no futuro. Efectivamente, em inicios de 1993, foi intro- duzido um plano pelo Ministério da Industria para determinar 30 chamadas “golden” PME, assim classificadas por obediéncia estrita a racios muito exigentes e hipéteses interessantes de actividade e negécios. Pode, assim, ocorrer o aparecimento no mercado de empresas desconhecidas, mas com futuro optimista e boa potencia- 46 ABOLSA EAS ACGOES lidade de ganho para os investidores. Ao fim e ao cabo, as empresas grandes e conhecidas comegaram por ser pequenas e desconhecidas, pelo que, por aqui, podem aparecer boas surpresas. Diga-se, porém, que os profissionais do mercado encaram com cepticismno o dito plano. A ver vamos. Existe, ainda, facultativamente, um mercado sem cotagdes. Aqui as exi- géncias so ainda menores, e os pregos praticados nao tém valor juridico de cotagéo. Pode este mercado adquirir relevo importante, embora eventual, para os investidores, uma vez que ai se podem transaccionar direitos de subscrigao e de incorporago, 0 que tem o maior interesse em aumentos de capital, pelo menos para “arredondar” lotes de acpdes. Vamos supor que, num aumento de capital, 0 investidor ficaria com 990 acgdes e por isso Ihe interessa adquirir direitos equiva- lentes a mais 10, para perfazer 1000. Pois no mercado sem cotagdes pode adquirir direitos equivalentes a 10 acgdes, evitando a posse de um lote fraccionado (os lotes fraccionados criam problemas). Finalmente, ha que referir 0 mais importante mercado, 0 em continuo. Este mercado 6 nacional, incluindo ordens provindas das Bolsas do Porto ou de Lisboa. Constituido a partir dum sistema computarizado (Tradis) e de uma rede nacional, pode-se transaccionar no sistema em automatico, estabelecendo-se as compras e vendas sem intervengao directa de pessoas. (Permanece porém a possibilidade de transaccionar de viva-voz, nos “floor” das Bolsas, desde que se introduzam as ordem no sistema). Encetado em 16 de Setembro de 1991, apenas com trés titulos, 0 mercado continuo tem vindo a ganhar cada vez mais importancia, ao ponto de se poder afirmar, em fins de 1993, que o mercado oficial de Lisboa estd a reduzir drastica- mente a sua importancia, aproximando-se mais em liquidez e volatilidade do mercado sem cotagdes ou do 2 mercado. Realmente, 0 mercado nacional em continuo polarizou totalmente o interesse, deixando os outros & distancia. Assim, a partir de 1 de Janeiro de 1992, os titulos integrados no sistema passaram a ter um Indice oficial préprio, o Indice Nacional em Continuo, INC, e outro de autoria do B.P.A. (*). Era inevitdvel, com efeito, um Indice diferente para um mercado diferente. (") Vide “Indices Bolsisticos". 47 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES A importancia deste nove mercado pode ser aferida com facilidade através do seguinte quadro (fonte: Comercial Dealer), indicando a volatilidade dos Indices, INC e BVL. N® EMPRESAS EPOCAS VARIACAO INC VARIAGAO BVL 35 NOV 92 1,34% 0 35 DEZ 92 7.23% 1,74% at JAN 93 2.34% 0,76% 47 FEV 93 4,68% 3,94% Nao havendo substancial diferenga de metodologia dos dois indices, a maior volatilidade revela maior liquidez e assim maior importancia. Os volumes transac- cionados confirmam-na, alias, de forma esmagadora. Nao serd sequer ousado demais pensar que em prazo nao muito distante todo © mercado oficial admita a negociagao em continuo. Convém agora dar uma ideia do processamento das transacgées, que séo em continuo e em tempo real. O sistema comega pela determinagéio do prego de abertura, as 10 horas, e estabelecido este, os leildes sao permanentes até ao encerramento do dia, pelas 15 horas. Assim, conforme se pode ver nos folhetos de Bolsa e nos jornais didrios, interessa saber qual foi o prego de abertura eo prego de fecho, bem como 0 maximo eo minimo que a acco atingiu durante o dia. Vejamos um exemplo, da Sonae, em 6 e 7 de Abril de 1993: ABERTURA MAXIMO MINIMo FECHO e493 «11798 11938 11658 11936 749311678 12058 11678 12008 © prego de abertura revela 0 consenso dos investidores para 0 inicio do dia e pode ter um relevante significado se colocado em confronto com o prego de fecho do dia anterior. Poderd estar a ser transmitida uma mensagem de optimismo, pessimismo ou hesitagao, devendo o investidor que siga 0 processamento estar atento ao volume, para formular adequadamente uma opiniao, visto que s6 um numero significativo de negécios terd relevo. 48 ABOLSA EAS ACCOES © prego de fecho é também importante, por ser o ultimo, revelando a derradeira mensagem dos investidores quanto ao titulo, Também aqui convém saber o volume de transacgées, pela razao atrds referida, alids evidente. A flutuagao entre maximo e minimo diérios revela finalmente o que compradores e vendedores consideram, para © curtissimo prazo, como pregos admissiveis para o papel em causa. Este conjunto, abertura-mdéximo-minimo-fecho, se possivel conexionado com o ntimero de transacgées efectuadas aqueles pregos, constitui a melhor das informagées que o investidor pode obter durante o dia. Revelam a oferta e procura em movimento e estd tudo dito. Vejamos como se faz a abertura, sendo que o sistema Tradis estd progra- mado para que as ordens introduzidas no sistema se cruzem de forma a possi- bilitar o maximo possivel de transacgées (fixing). As ordens introduzidas, entre as 9 e 10 horas, foram, por exemplo, as seguintes: COMPRA VENDA QUANTIDADE PREGO QUANTIDADE PREGO 2000 ao melhor 200 739 500 7a1 3000 739 7500 741 2000 739 5700 740 3000 740 3500 740 1100 740 600 739 2000 740 700 738 4000 740 500 741 Conforme se vé, 0 prego de abertura vai ser de 740, por permitir 0 maximo de transacg5es e o minimo de desiquilibrios ou sobras. Ha, aquele prego, comprador para 19.200 acgées (os a 740, a 741 @ 0 que comprava 2000 ao melhor prego, isto 6 — (2000 + 500 + 7500 + 5700 + 3500). Hé vendedores aquele prego para 15.300 acgdes (os que vendem a 740 e a 739 — 200 + 3000 + 2000 + 3000 + 1100 + 2000 + 4000). Verifica-se, pois, o desiquilibrio minimo de 3.900 acgdes; este desiquilibrio seria de 5.800, de 14.600 ou de 20.500 respectivamente para os pregos de 741, 739 e 738. 49 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES A precedéncia 6 naturalmente para as ordens “ao melhor" e para as oferecendo prego mais alto. O restante vai por rateio e, se necessatio, para sorteio. Estabelecido o prego de abertura, novas ordens vao sendo introduzidas, e podem s6-lo pelo automatico, isto é, terminal a terminal dos escritérios dos corretores, ou por viva-voz, a partir do “floor” das Bolsas, mas passando obrigatoriamente pelo sistema computarizado e desde que compativeis com as ordens ai existentes. Vamos agora seguir, passo a passo, um exemplo de lelldo (extraido de ‘Mercado Continuo de Ambito Nacional’, da Comercial Dealer): 1, Vamos admitir que 6 a seguinte a situagao do “mercado” OFERTAS DE COMPRA OFERTAS DE VENDA Numero Corret. Quantid. Prego | Numero Corret. Quantid. Prego 1 005, 1000 | 109 2 003 s00 | 110 5 002 600 | 105 3 004 700 | 120 4 009 400 | 120 6 005 500 | 125 2. Agora, hipoteticamente, o corretor 009 introduz a oferta numero 7 de compra de 2000 acgdes a 130. Nenhum outro movimento apareceu. 3. Passa-se, ento, ao fecho sequencial das ofertas. Seriam, neste exemplo, fechados, as ofertas de venda n° 5, 2 e 3 ocorrendo, ent&o, uma das trés condi- g6es em que o sistema TRADIS gera automaticamente leildo. Verificou-se 0 que se chama ENCONTRO, isto é, a situagdo em que 0 corretor (009) aparece na dupla condigéio de comprador (ordem 7) e de vendedor (ordem 4), desde que as ordens em causa tenham sido introduzidos no sistema com intervalo de tempo inferior a 3 minutos. (As outras duas condigdes so: grandes lotes e cotagdio fora do limite de variago). 50 A BOLSA EAS ACGOES OFERTA | OFERTA COMPRA | VENDA QUANTID. SITUAGAO m7 nee 7 3 m7 nea 4. O sistema da inicio a leilao automatico, aceitando ofertas. OFERTAS DE COMPRA OFERTAS DE VENDA Nimero | Corret. |Quantid. | Prego | Nimero | Corret. | Quantid. | Prego la 006 200 123 2 007 too | 119 b 009 200 122 ls 002 too | 119 u 001 400 121 ir 010 too | 118 5. Apés 0 encerramento do periodo de leildo, 0 sistema fecha as ofertas. O fecho inclui um sistema de protecedo das ordens geradoras de leildo, consistindo no facto de as ordens dadas para o leil4o nao poderem fechar entre si, mas apenas contra aquelas. Com 0 encerramento, caduca o eventual saldo das ordens para o leildo. OFERTA OFERTA QUANTID. PREGO COMPRA VENDA “4 4 200 123, B 4 200 122 7 ir 100 119 7 ls 100 119 7 is 100 118 ay GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACCOES 6. O calculo da cotago recente é assim: — Como existe mais de um prego com a mesma quantidade negociada, calcula-se a média simples, com arredondamento por defeito, entre as ofertas de compra [(123 + 122) / 2 = 122)] e as ofertas de venda [(119 + 118) /2 = 118}, obtendo-se uma cotag&o recente de 120 [(122 + 118) /2 = 120]. 7. Apés 0 fecho de ofertas, restard a oferta 7, com a quantidade de 200 (100 no negociado devido a interrupgao da negociagao pelo leiléo @ 100 ndo fechado no leildo). Seré a seguinte a situagao de “mercado” de valores mobilidrios: OFERTAS DE COMPRA OFERTAS DE VENDA Numero | Corret. | Quantid. | Prego | Numero | Corret| Quantid. | Prego 7 009 200 | 190 6 005 500} 125 1 005 1000 | 109 5 002 600 | 105 No recomego da negociago, a oferta nlimero 7 fecharé automaticamente com a oferta 6 (se esta nao tiver cancelada durante o leilo) ao prego de 125. 8. A nova situgao do “mercado” sera: OFERTAS DE COMPRA OFERTAS DE VENDA Numero | Corret, | Quantid | Prego | Niimero | Corret | Quantid. | Prego 1 005, 1000 | 109 6 005 500 | 125 5 002 600 | 105 52 ABOLSA EAS ACGOES 9, E assim sucessivamente. Uma prevengao se impée, para finalizar, e com ela saimos deste capitulo: — no deve o investidor deixar-se apanhar com lotes inferiores ao Jote minimo, de 100 acgdes, se o valor nominal for inferior a 5.000$00, e de 50, para 0 caso con- trério, ou com lotes que nao sejam miitiplos exactos deste (para efeitos praticos, 100 6 0 minimo que interessa pois no existem, no momento, acgdes com valor nominal de 5.000$00). O lote fraccionado 6 sujeito a um tipo especial de fixagéio de prego e negociado forgadamente com o corretor nomeado para as fracgdes do titulo em questao. O custo de operagéio 6 muito mais elevado, ascendendo a 3%, o que se explica pelo facto de o corretor especialista ser obrigado a transaccionar o papel, constituindo carteira. (Explica-se aqui a prevengdo que fizemos, quanto ao mercado sem cotagées, lembrando ai a possibilidade de transaccionar direitos de subscrigdo e incorpo- tagdo. E a vantagem de fazer lotes de 100 ou seus multiplos). DE RETER: — Hi, nas Bolsas portuguesas, v4rios mercados, a saber, oficial, 2° mercado e sem cotacdes. Acima de tudo, existe um mercado em continuo de Ambito nacional, com um sistema informético de negociagao e transacgiio, sendo de longe o mais importante. — Atencio as flutuacées didrias. — Atengiio as fraccées! (Lotes inferiores aos indicados como minimos). — No continuo, h4 que prestar atengao aos precos ocorridos durante o dia, de abertura, maximo, minimo e fecho, assim se tentando antecipar a direcciio das cotagées no curto prazo. 53 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES 6. OS FUNDOS ESTRANGEIROS No mercado estéo permanentemente a intervir, além dos particulares, inves- tidores institucionais (bancos, companhias de seguros, Fundos de Pensdes, Fundos Mituos, etc), nacionais e estrangeiros. Estes ultimos merecem particular aten¢o. Numa época em que o capital se internacionalizou por completo, parece provinciano, quando nao paroquial, dar énfase particular a esses intervenientes. Nao estranhe o leitor. Os estrangeiros, nas Bolsas portuguesas ¢ noutras igualmente estreitas, quando entram, so como as andorinhas a anunciar a Primavera. ra, se tais entidades decidem participar no mercado assinalavelmente, 6 porque detectaram oportunidades que os préprios nacionais podem estar a olvidar, como se passou em Fevereiro/Margo de 1992. Acresce que num pequeno mercado como 0 nosso, podem representar um aumento de procura significative ou até estrondoso, com o correspondente reflexo nos pregos. © Bull de 1985/87 e o boom do segundo semestre de 1989, que proporcio- naram ganhos avultadissimos a quem soube aproveitar, foram exemplos dessa intervengdo massiva (em termos nacionais) de capitais exteriores. E, mesmo se se ndo trata de investimento generalizado, a prépria intervengao pontual revela-se significativa, provocando oscilagdes claras nas cotagées dos titulos objecto de interesse (ou desinteresse). O descalabro da Sonae entre 1990 e 1992, fazendo descer 0 prego dos 3300$00 aos 870$00, foi multiplicado por “despejos” do exterior; e a subida da Engil, em fim de 1991, principio de 1992, de 1430$00 para 2200$00, num momento extremamente “bearish”, s6 aos estrangeiros se ficou a dever, em tal extensdo. A solidez de papéis, como a Jerénimo Martins ou a Cin, por exemplo, nao se deve apenas a qualidade das empresas, mas ao interesse de fundos de investimento internacionais que se recusam a vender. Estéo em maos sdlidas. Analisando a influéncia das aplicagdes do exterior na Bolsa em 1990-91, opinava o Investidor Econémico que o valor de 2.500 pontos do Indice B.T.A. repre- sentava 0 tecto que a procura intema produziria, dependendo a sua ultrapassagem do interesse estrangeiro. O estudo valia obviamente para o momento histérico, mas a conclusdo é de reter. Se os estrangeiros nas Bolsas portuguesas influenciam fortemente o mercado @ as vezes 0 determinam, isso ocorre pelo simples efeito da lei do vacuo, preen- chendo © vazio que os institucionais portugueses se vém recusando a ocupar. 54 ABOLSA EAS ACGGES José Manuel Serrio, administrador do Fundo de Pensdes do Banco de Portugal, revelou, em Seminério promovido pela Socifa & Beta, em Margo de 1992, que os Fundos nacionais apenas representavam 5% da capitalizag&o bolsistica em acgdes @ os estrangeiros 15%! Com este peso, dimensao e capacidade de decisdo, 6 apenas natural que se refira, para boa atengdo do investidor, o papel determinante dos institucionais estrangeiros, para cujos movimentos ha que estar atento, tanto quando entram como quando saem ou indiciam saida. DE RETER: — Os investidores estrangeiros determinam, em grande parte, movimentos de subida e descida de Bolsas, como a portuguesa, pelo que é de toda a conveniéncia a boa atencio para os seus movimentos. 7. NOVOS PRODUTOS FINANCEIROS “O negocio das opgGes & para quem odeie ficar rico lentamente @ prefira ficar pobre rapidamente”, Peter Lynch, administrador do Fundo Fidelity As Bolsas de Valores vém apresentando novos produtos financeiros, para além das tradicionais acgées e obrigagdes. Por outro lado, as operagées a descoberto (0 investidor compra @ vende, pedindo emprestado dinheiro ou titulos, que repde mais tarde) vo também ganhando um relevo cada vez maior . Referimo-nos aqui as operagdes sobre futuros e opgdes e contas-margem, todas elas previstas legalmente em Portugal, mas ainda nao regulamentadas, 55 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES: pelo que nao sao ainda permitidas. Sé-lo-4o, porém, a curto prazo, e talvez se tornem, como em outros paises, motivo de ignigao de Bolsas marginais (em Portugal, por exemplo, a do Porto). Seréo seguramente razdo de liquidez dos mercados e preencherdo certas fungdes econémicas para as quais, alids, foram idealizadas. Futuros sao contratos de compra e venda de valores mobilidrios, pelos quais uma parte compraré e outra venderd uma certa quantidade de bens, por certo preco, numa certa data futura. Uma entidade intermedidria asse- gurard a transac¢ao. Os Futuros sao tipos de contrato realmente antigos, porque correspondem a necessidades elementares da Economia. Seguramente transaccionavam-se no sec. XVI em Roterdao e, com todas as probabilidades, antes disso. Se um certo agricultor necesita de milho ou algodao, na época de plantio, tentard assegurar tao bdsico interesse, comprando com antecedéncia. E quem diz milho ou algodao, diz qualquer produto essencial para uma actividade produtiva. Evidentemente, acabam por aparecer intermedirios e os contratos podem nao chegar com os mesmos titulares & maturidade (a data do vencimento), ocorrendo sucessivas passagens de mos até esse momento. Um certo carregamento de petréleo, transportado num navio chamado “Chan loo”, mudou 90 vezes de dono futuro em 30 dias, na época do embargo do petréleo, em 1973. Nos E. Unidos, 97% dos contratos nao chegam ao seu ponto de maturidade, nas maos iniciais. Os Futuros iniciaram modernamente a sua popularidade em 1898, quando agricultores e armazenistas americanos decidiram dar uma certa ordem aos caéticos mercados de cereais e fundaram o Chicago Board of Trade. Mas como os Futuros podem ter por objecto qualquer produto, comegaram a surgir Futuros Financeiros, incidindo sobre aogdes e obrigagées e, mais tarde, sobre moedas estrangeiras, taxas de juro e até sobre Indices Bolsisticos. Estes Futuros financeiros sao contratos realmente exéticos e, quando se referem a Indices, incidem sobre abstracgdes; quem compra um Futuro sobre o DAX, ndo estd a comprar nada, mas apenas uma fio, pois o DAX é uma média, nao 6 um produto. (DAX é a designagao do Indice da Bolsa de Frankfurt). Em 1972, os Futuros sobre mercados estrangeiros tomaram grande desenvol- vimento nos E. Unidos; e, em 1977, comegaram a ganhar relevo os Futuros sobre Bilhetes de Tesouro. Nos anos 80 e 90, surgiu na Europa (a Bolsa Europeia de 56 ABOLSA EAS ACCOES Futuros formou-se em 1988, em Amesterddo) toda a paraferndlia de Futuros, nomeadamente os agora populares, mas sempre esotéricos, sobre Indices. A partir de 1986, o maior mercado de Futuros do mundo passou a ser no Japéo, sobre obrigages do tesouro japonés. Em 1992, havia cerca de 40 Bolsas no mundo onde se transaccionava este produto financeiro. Hé quem aponte como caractetistica das Bolsas emergentes 0 facto de nao incluirem este género de transacpdes. Todavia existem no Brasil e Taiwan, mercados ainda tidos como tal, e s4o responsdveis por enormes volumes de transacgdes deste tipo. Como serd em Portugal? Opgao, referido a titulos de bens transacciondveis em Bolsa, 6 um contrato mediante o qual alguém fica com o direito, mas nao obrigacao, de comprar (call) ou vender (put) uma certa quantidade de bens méveis a um prego determinado, dentro de ou no fim de determinado intervalo de tempo, para tanto pagando um pre¢o (prémio). Os Call e os Put ganham, pois, autonomia em relag&o aos titulos a que se referem. Tal como nos Futuros, 0 contrato 6 assegurado por um terceiro, normalmente a Bolsa de Valores. Vamos supor que alguém, prevendo a subida de acgdes X, cotadas a 2.000$00, comprou 1000 “calls”, a 50$00 cada, a fim de, no espago de 3 meses, alienar os titulos que prevé vir a comprar, se tudo correr como antecipado. Se estes descerem abaixo de 2.000$00, 0 negociante perdeu o prémio pago, de 50$00. Mas se a acco subiu até os 2.100$00, 0 investidor ganhou 50$00 por cada “call” adquirido, isto 6, 100% sobre o seu investimento (2100$ - 2000$ - 50$ = 50S). ‘As Opgdes contém uma fungéio econémica e financeira de proteceSo (“hedging”). ‘Assim, um investidor pode estar a comprar uma quantidade de titulos e, ao mesmo tempo, a adquirir ‘puts” dos mesmos. Protege-se, assim, contra a queda, pois, mediante a perda do prémio pago, obtém a seguranga de nao gastar no negécio mais do que 0 limite constituido pelo ‘prémio’. Por exemplo: — O Investidor X compra 1000 acgSes Y a 2.000$00, esperando que subam a 2200$00, isto 6, 10%. Ao mesmo tempo, compra 1000 ‘puts” a 50$00, com direito a vender os titulos a 1900$00, Assim, assegurou aguentar uma descida de 10% (até 1.900$00), por um custo de 2,5%, (0 prémio de 50$00), embora reduza a sua expectativa de ganho de 10% para 7,5%, devido ao custo do “call” Mas as Op¢des oferecem outro tipo de aliciantes, estes de ordem especulativa, e também nao é por acaso que cerca de 90% dos investidores destes mercados 7 GANHAR EM BOLSA — O MERCADO DE ACGOES ‘so especuladores. No exemplo hipotético da transacgdo de Opgdes Y, 0 inves- tidor em vez de comprar 1000 acgdes, pagando 2.000 contos, com 0 fim de, em 3 meses, ganhar 100 contos (isto é, 5%), vai comprar, com o mesmo dinheiro, 400.000 ‘puts”, para ganhar, nos mesmos 3 meses, 2.000 contos, isto 6, 100%. Como se vé a relagdo risco/retorno transformou-se completamente, devido ao efeito de alavancagem criado pela Opcao. Neste breve percurso, diremos ainda que 0 prego pago se chama “prémio”, que 0 prazo normal até & maturidade é normalmente de 3 meses, que o prego de referéncia da Opgao no coincide necessariamente com o da cotagao e que os contratos normalmente incluem miiltiplos de 1000 unidades de “call” ou “put”. O investidor reparard, para além do efeito de alavanca que toma este produto realmente fascinante, que se trata de um jogo que exige grandes conhecimentos e empenhamento de tempo para produzir resultados positives. Algo a evitar por amadores. Para os que duvidem deste altruistico conselho, conviré saber que os corre- tores nos E. Unidos e na Inglaterra calculam os jogadores perdentes entre 80% e 95%I! Mas j4 as contas-margens sao produtos a que o investidor deverd prestar a maior das atengdes. ‘Sao contratos realizados com uma sociedade financeira de corretagem, por via dos quais, mediante uma remuneragao @ a entrega de uma cauc¢ao (em geral a carteira de tftulos do préprio), o investidor pode obter dinheiro ou titulos, por empréstimo, dependendo do objectivo de comprar ou vender, para além das préprias disponibilidades, Isto 6, 0 investidor, num momento de subida de mercado, e desejando comprar mais acgdes, pede fundos, procurando assim um “efeito de alavanca’ (*); num momento de descida, toma de empréstimo titulos que ndo possui, vende-os a descoberto (‘short-selling’), na esperanca de os comprar mais tarde, mais barato. Quanto ao “short-selling”, ou venda a descoberlo, ndo pode ser mais aliciante 0 seu interesse. Basta considerar 2 vantagens avassaladoras para o investidor e para o mercado: (¢) Vide “O Milagre da Muttplicagao”. 58 ABOLSA E AS ACGOES —A primeira consiste em permitir, em Bear Market, a obtengo de lucros, doutro modo altamente improvaveis. Ao fim e ao cabo, o agente vai vender X titulos que no possui, mas pede emprestados, com 0 intuito de os comprar, mais tarde, para devolucéo, mais baratos, obtendo assim um lucro gragas a quebra de prego. Isto 6, pode-se lucrar, desta forma, com o mercado em descida. — A segunda é também extraordinaria, pois, devido aos “short-sellers’, no se assiste em Bear Market a queda excessiva dos negécios e possivel diminuigao brutal de liquidez do mercado, que pode pois continuar pujante. E que esses vendedores a descoberto vao ser futuros compradores, visto terem que devolver 08 titulos emprestados, sendo assim intervenientes que permanecem no mercado apesar da quebra e que vo alimentar, num certo ponto de baixa, as forgas da procura, consequentemente langando os gérmens da recuperago e da subida das cotagdes. © autor esté, alids, convencido que, se o “short-selling” estivesse legalizado em Portugal, o Bear Market de 1990-1992 nao transformaria a Bolsa de Valores em Portugal num moribundo mercado financeiro, em finais de 1992, quase a exigir, para a qualidade de investidor, o uso obrigatorio de gravata preta. DE RETER: — E tudo muito “glamourous”, mas os “futuros” e as “opgies” sio para profissionais. — J4a “conta-margem”, principalmente na versio de vender titulos a descoberto, cedidos por sociedade financeira de corretagem, tem enormes vantagens para os investidores porque estes podem ganhar com a descida das cotagées, e para as Bolsas porque os investidores se mantém no mercado, mesmo em Bear Market, mantendo-o pujante. 59

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