Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental nº 9138928-
70.2003.8.26.0000/50000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante BANCO AMÉRICA DO SUL S/A sendo agravados PACHECO IMÓVEIS LTDA, CISG CENTRO DE IMPLANTAÇÃO DE SUFTWARE DOMINGOS PACHECO, DOMINGOS PACHECO JUNIOR, SUELI APARECIDA PACHECO e VALMIR PACHECO.
ACORDAM, em 23ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São
Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PAULO
ROBERTO DE SANTANA (Presidente), SÉRGIO SHIMURA E J. B. FRANCO DE GODOI.
São Paulo, 28 de setembro de 2011.
Paulo Roberto de Santana
RELATOR Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
VOTO Nº: 12045
AGIN.Nº: 9138928-70.2003.8.26.0000/50000 COMARCA: São Paulo AGTE. : BANCO AMÉRICA DO SUL S.A. AGDO. : PACHECO IMÓVEIS LTDA. E OUTROS
AGRAVO INTERNO - INTERPOSIÇÃO CONTRA
DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO, COM FUNDAMENTO NO ART. 557, CAPUT, DO CPC PRETENSÃO QUE SE RECONHEÇA A LEGALIDADE DA CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS - DESCABIMENTO - PRECEDENTES DESTA COLENDA 23ª CÂMARA - DECISÃO MANTIDA RECURSO IMPROVIDO.
Trata-se de agravo interno
interposto contra decisão monocrática do Relator que negou provimento ao recurso, com fundamento no art. 557, caput, do Código de Processo Civil. Defende o agravante a legalidade da capitalização mensal de juros no contrato de abertura de crédito em conta corrente. É o relatório. A apelação foi interposta contra sentença que julgou procedente em parte ação revisional de financiamento de veículo. A decisão proferida pelo Relator está vazada nesses termos: “Cuida-se de ação revisional de contrato de abertura de crédito em conta corrente. Em primeiro lugar, de rigor que se afirme a incidência do Código de Defesa do Consumidor ao
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
contrato que aqui se discute.
Nesse sentido tem se posicionado há muito o Col. STJ: “Os bancos, como prestadores de serviços especialmente contemplados no artigo 3º, parágrafo 2º, estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor. A circunstância de o usuário dispor do bem recebido através de operação bancária, transferindo-o a terceiros, em pagamento de outros bens ou serviços, não o descaracteriza como consumidor final dos serviços prestados pelo banco” (REsp nº 57.974-0/RS, Rel. Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, DJU de 29.05.1995). E para que não pairassem mais dúvidas acerca do tema, a Corte Superior editou a Súmula 297, que estabelece claramente que “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Reconhecida a relação de consumo, tem-se por consequência a impossibilidade de se aplicar, em caráter absoluto, o princípio do pacta sunt servanda, porque as cláusulas que se apresentarem abusivas, violando o direito do consumidor, devem sempre ser afastadas e revistas, sendo impassíveis de validação ou ratificação, porque nulas de pleno direito. Em que pesem as alegações do banco apelante no sentido de que não restou demonstrada a existência de capitalização mensal de juros, os extratos apresentados comprovam que o valor debitado a título de juros remuneratórios é integrado ao saldo devedor, sobre o qual incidirão os juros dos períodos subsequentes. Logo, é patente a incidência de juros compostos na apuração do saldo devedor. Ademais, cumpre ressaltar que o tema do anatocismo foi objeto de análise pelo Superior Tribunal de Justiça, em procedimento de recurso repetitivo: “BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CONTRATO QUE NÃO PREVÊ O PERCENTUAL DE JUROS REMUNERATÓRIOS A SER OBSERVADO. I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS QUE CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE. ORIENTAÇÃO - JUROS REMUNERATÓRIOS. 1 - Nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é imediata, o montante dos juros remuneratórios praticados deve ser consignado no respectivo instrumento. Ausente a fixação da taxa no contrato, o juiz deve limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo Bacen, salvo se a
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente.
2 - Em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se for verificada abusividade nos juros remuneratórios praticados. II - JULGAMENTO DO RECURSO REPRESENTATIVO. - Consignada, no acórdão recorrido, a abusividade na cobrança da taxa de juros, impõe-se a adoção da taxa média de mercado, nos termos do entendimento consolidado neste julgamento. - Nos contratos de mútuo bancário, celebrados após a edição da MP nº 1.963-17/00 (reeditada sob o nº 2.170-36/01), admite-se a capitalização mensal de juros, desde que expressamente pactuada. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. Ônus sucumbenciais redistribuídos”. (Resp. nº 1.112.879-Pr, Segunda Seção, Rel. Minª NANCY ANDRIGHI, j. 12.5.2010). (grifo nosso). Assim, como no caso dos autos, o contrato é anterior à MP nº 1.963-17/00 (reeditada sob nº 2.170-36/01), que entrou em vigor na data da sua publicação, 31 de março de 2000, a capitalização dos juros de forma composta é ilegal e, por isso mesmo, deve ser afastada. Nestas condições, merece ser mantida a r. sentença de primeiro grau. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso, com fundamento no art. 557, caput, do Código de Processo Civil.” Depreende-se das razões do presente recurso que todas as questões suscitadas têm entendimento pacífico desta Colenda Câmara em sentido justamente contrário àquele pretendido pelo agravante. Por esses fundamentos, fica mantida a decisão. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.
SCHWARCZ, M. Lilia. STARLING, M. Heloísa. No fio da navalha: ditadura, oposição e resistência In SCHWARCZ, M. Lilia. STARLING, M. Heloísa Brasil: uma biografia. Companhia das Letras, São Paulo – SP, p. 437-466.