INVESTIGAÇÃO JUDICIAL POR ABUSO DE PODER ECONÔMICO E USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO interposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, vem, por seus procuradores, que a esta subscrevem, apresentar suas
ALEGAÇÕES FINAIS,
constante dos seguintes termos:
Ao término da instrução, ficou
devidamente demonstrado que os acontecimentos narrados na peça vestibular não se revestem de respaldo legal, eis que as acusações encetadas pelo ilustre representante do Ministério Público foram totalmente descaracterizadas, não havendo sequer mínimos indícios do cometimento de infração eleitoral por parte do Sr. José Carlos Faria. Essas assertivas são consubstanciadas na prova testemunhal colhida, quando as testemunhas de acusação, policiais militares Marcelo Lamenza e Paulo César Ponte, que participaram diretamente das diligências na apreensão do Jornal “Tribuna Independente”, em momento algum mencionaram perante o Juízo que o investigado Faria teria autorizado a sua veiculação, ou que o mesmo seria o responsável pela circulação do referido noticiário. As testemunhas Josiane Corrêa da Silva e Babara Souza Correia, também arroladas pelo órgão acusador, também não fazem qualquer citação com relação ao nome do candidato nos fatos em tela.
Ademais, no tocante a parte da denúncia
quando afirma que o Investigado José Carlos Faria teria determinado a publicação de 03 (três) edições do Jornal “Tribuna Independente”, as quais faziam propaganda política para sua pessoa em prejuízo aos demais candidatos, e que as publicações inseridas no Jornal “Tribuna Independente”, além de “tendenciosas”, influiriam “no juízo crítico do eleitor”, bem como comprometeriam “a lisura do processo eleitoral”. Ora, Emérito Julgador, esses fatos fantasiosos, jamais ocorreram, haja vista que o Investigado ficou em último lugar na sucessão do Executivo Municipal, sendo afirmações inconsistentes e divorciadas da realidade dos acontecimentos.
Para a decretação da inelegibilidade de
um candidato é necessária prova robusta e incontroversa do vício a inquinar a liberdade de voto e a legitimidade das eleições, como também o potencial lesivo suficiente para macular o comprometimento da lisura do pleito. Não houve in casu, nenhuma prova robusta que demonstrasse ter o Investigado maculado a liberdade de voto, não se podendo falar em comprometimento da lisura do pleito para ensejar a declaração de inelegibilidade.
Segundo o jurista Marcos Ramayana, em
sua obra Direito Eleitoral, 8ª edição, pág. 399, “O abuso do poder econômico ou político é toda a conduta ativa ou omissiva que tenha potencialidade para atingir o equilíbrio entre candidatos que almejam determinado pleito eleitoral”. Segundo o mesmo jurista, ”para caracterização do abuso do poder econômico, é necessária a prova de potencialidade lesiva”, destacando “que a sanção de inelegibilidade ou cassação do registro leva em consideração o desequilíbrio causado com a prática da ação comissiva por parte do infrator ou de seus cabos eleitorais e simpatizantes em geral”. (Grifos nossos).
Impende reconhecer que o fato sob
comento, isoladamente, não teve potencialidade para comprometer o resultado obtido nas urnas. Em decorrência disso, resta incaracterizada a ofensa ao art. 22 da Lei Complementar nº 64/90.
Nesse sentido, entende o colendo
Tribunal Superior Eleitoral, em julgados ementados a seguir:
“Eleições 2002. Investigação judicial. Art. 22 da Lei Complementar nº 64/90. Abuso
de poder. Utilização indevida dos meios de comunicação social. Jornal. Suplementos. Matérias. Publicidade Institucional. Entrevista. Governador. 1. Não cabe à Justiça Eleitoral julgar eventual prática de ato de improbidade administrativa, o que deve ser apurado por intermédio de ação própria. Precedente: Acórdão nº 612.
2. Tratando-se de fato ocorrido na imprensa escrita, tem-se que o seu alcance é
inegavelmente menor em relação a um fato sucedido em outros veículos de comunicação social, como o rádio e a televisão, em face da própria característica do veículo impresso de comunicação, cujo acesso à informação tem relação direta ao interesse do eleitor.
3. Na investigação judicial, é fundamental se perquirir se o fato apurado tem a
potencialidade para desequilibrar a disputa do pleito, requisito essencial para a configuração dos ilícitos a que se refere o art. 22 da Lei de Inelegibilidades .
Recurso ordinário a que se nega provimento .
(Acórdão 725 - GO Relator Luiz Carlos Lopes Madeira Relator designado Carlos Eduardo Caputo Bastos Publicação DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 18/11/2005, Página 69).
RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÃO 2002. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL
ELEITORAL. CANDIDATO. SENADOR. ABUSO DO PODER ECONÔMICO. USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. IRREGULARIDADE. UTILIZAÇÃO. RÁDIO. DIVULGAÇÃO. ENTREVISTA. PESQUISA ELEITORAL. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE POTENCIALIDADE. INFLUÊNCIA. ELEIÇÃO. NEGADO PROVIMENTO.
I - Para a configuração do ilícito previsto no art. 22 da LC nº 64/90, é necessário
aferir se o fato tem potencialidade ou probabilidade de influir no equilíbrio da disputa, TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ Processo n° 135– Classe “17ª” 9 TRE-PI Fls._____ ________ ________ independentemente da vitória eleitoral do autor ou do beneficiário da conduta lesiva. (Grifos do Relator) II - Em ação de investigação judicial eleitoral, o Ministério Público Eleitoral é competente para atuar em todas as fases e instâncias do processo eleitoral, inclusive em sede recursal.
(Acórdão 781 - RO Relator Francisco Peçanha Martins Publicação DJ - Diário de
Justiça, volume 1, Data 24/09/2004, Página 163.)
Seguindo a pacífica jurisprudência do
Tribunal Superior Eleitoral, a procedência da investigação judicial, fundada em abuso de poder é necessária, para decretação da inelegibilidade, prova robusta e incontroversa, exigindo a demonstração da potencialidade do ato em influir no resultado do pleito, não se admitindo a condenação por meras conjecturas e ilações. O Ministro Carlos Velloso, relator do Recurso Ordinário nº 730, de 04/05/2004, cuja decisão teve a unanimidade de Corte Superior, assim entendeu:
“ (...)
Entretanto, para que seja configurado o abuso do poder econômico,
embora dispensada a participação do candidato beneficiado, deve estar evidente a potencialidade de influência no pleito, ou seja a possibilidade de desequilíbrio de disputa eleitoral. As práticas abusivas, como afirmou Ministro Fernando Neves no Ac. 19.536, DJ de 21.06.2002, devem ser importantes e“ significativas. No mesmo sentido, os Acs. nºs 19.553, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 21.06.2002, e 4.410, Rel. Min. Fernando Neves, DJ de 7.11.2003. (...)”
Igual posição adotou o Ministro José Delgado,
no Recurso Ordinário nº 708. publicado no DJ de 08/08/2006, também julgado de forma unânime pela Corte:
“REPRESENTAÇÃO. RECURSO ORDINÁRIO. ABUSO DE PODER.
1 – É indispensável a demonstração da provável influência do ilícito no
resultado eleitoral. Precedentes.
2 – A ausência de provas robustas compromete a análise de eventual
prejuízo à paridade entre os concorrentes.
3 – (...)
4 – Recurso Ordinário não provido.” (Grifos nossos).
Dessa forma, com a “vênia” do ilustre
representante do Ministério Público, a presente demanda carece de total respaldo legal, porquanto, no caso em tela, inexiste a figura do abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação por parte do Investigado José Carlos Faria, além do que este não outorgou as publicações editadas no Jornal “Tribuna Independente”, sendo apanhado de surpresa com o teor das matérias, não tendo havido, conforme já explicitado anteriormente, qualquer benefício em seu favor com as referidas publicações.
Saliente-se que a impetração da
presente ação colheu de surpresa o Investigado, que sempre procurou na sua campanha eleitoral agir com lisura e decência, e tais assertivas podem ser constatadas pelo próprio órgão acusador e pelo magistrado responsável por esta Zona Eleitoral, sendo este o único procedimento a que está respondendo. Ao contrário dos demais candidatos, que foram recheados de denúncias por práticas abusivas durante o pleito eleitoral. Com atitudes ilícitas praticadas por estes, a campanha eleitoral do Investigado José Carlos Faria sofreu sórdidos ataques à sua pessoa, em todos os setores da imprensa – escrita, falada e televisada – obrigando-o a ajuizar diversas ações com o intuito de reparar os infundados assaques contra si realizados, que tiveram efeitos fulminantes e irreversíveis, influindo de forma decisiva na decisão do eleitorado, sendo os efeitos danosos produzidos, impossíveis de ser recompostos, beneficiando os infratores eleitoralmente dos resultados ilicitamente estimulados.
Com efeito, a conduta atacada não
produziu o resultado obtido no pleito passado, sendo de bom alvitre argumentar que a tiragem do jornal foi tão inexpressiva que sequer chegou a abalar a campanha dos demais candidatos, não sendo demonstrada a potencialidade do fato para desequilibrar a disputa das eleições de 2008. Na verdade, não é factível que a relevante diferença de mais de 20.000 (vinte mil) votos que houve entre os candidatos vencedor e vencido, tenha sido provocada pelo fato em questão, isoladamente considerado. impossível prosperar a pretensão ministerial.
Assim, pelos motivos expostos, não
restando comprovado a potencialidade do fato para desequilibrar a disputa nas eleições de 2008, e inexistindo por parte do investigado a prática de lesividade das condutas apontadas pelo órgão ministerial, requer a Vossa Excelência, a improcedência da presente ação, pois assim procedendo estará sendo feita mais uma vez a costumeira e sábia JUSTIÇA!.