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LITERATURA – LISTA – Urlaub

Prof. Esp. Me. João Crepschi (joao.crepschi@gmail.com)

1. (UNICAMP)

Texto I

Noutro dia, quando m´eu espedi (1)


de mia senhor, e quando mi´houv´a ir (2)
e me non falou foi que non morri,
que, se mil vezes podesse morrer,
meor (3) coita me fora de sofrer!

1- despedi; 2- tive de ir; 3- menor

Texto II

Toda gente homenageia


Januária na janela
Até o mar faz maré cheia
Pra chegar mais perto dela
O pessoal desce na areia
E batuca por aquela
Que malvada se penteia
E não escuta quem apela.

Os dois textos lidos são bastante separados no tempo. O primeiro foi escrito por um nobre, D.
João Soares Coelho, trovador de grande produção que viveu no século XIII, em Portugal. O
segundo é uma letra de música escrita pelo compositor brasileiro contemporâneo Chico Buarque
de Hollanda. Apesar da distância, ambos os textos abordam uma mesma postura da amada a
que se referem.

a) Que postura é essa? Aponte os versos em que ela se evidencia, em cada um dos textos.
b) Qual o efeito dessa postura, para o trovador, no texto I?

2. Leia o textos abaixo e responda ao que se pede:

Auto de Lusitânia
Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda buscando algũa cousa que se
lhe perdeu; e logo após ele um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:

Ninguém: Que andas tu aí buscando?


Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar:
Delas não posso achar,
Porém ando perfiando,
Por quão bom é perfiar.
Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?
Todo o Mundo: Eu hei nome ‘Todo o [mundo’,
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro,
e sempre nisto me fundo.
Ninguém: E eu hei nome ‘Ninguém’
E busco a consciência.
Berzebu para Dinato: Esta é boa [experiência!
Dinato, escreve isto [bem.
Dinato: Que escreverei, companheiro?
Berzebu: Que Ninguém busca consciência,
E Todo o Mundo dinheiro.
Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deos mande
que tope co’ela já.
Berzebu para Dinato: Outra adição nos [acude:
Escreve logo i a [fundo
que busca honra [Todo o Mundo,
E Ninguém busca [virtude.
Ninguém: Buscas outro mor bem qu’esse?
Todo o mundo: Busco mais quem me [louvasse
Tudo quanto eu fezesse.
Ninguém: E eu quem me reprendesse
Em cada cousa que errasse.
Berzebu para Dinato: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Berzebu: Que quer em extremo grado,
Todo o mundo ser louvado,
E Ninguém ser reprendido.
Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma [dê.
Ninguém: A vida não sei que é,
A morte conheço eu.
Berzebu para Dinato: Escreve lá outra [sorte.
Dinato: Que sorte?
Berzebu: Muito garrida:
Todo o mundo busca a vida,
E Ninguém conhece a morte.
Todo o Mundo para Ninguém: E mais queria o paraíso,
Sem mo [ninguém estrovar.
Ninguém: E eu ponho-me a pagar
Quanto devo pera isso.
Berzebu: Escreve com muito aviso.
Dinato: Que escreverei?
Berzebu: Escreve
que Todo o Mundo quer paraíso,
e Ninguém paga o que deve..

[Gil Vicente. Auto de Lusitânia. Obras de Gil Vicente. Porto: Lello & Irmão, 1965, p. 452 e 453.]

O cortiço

Daí a alguns meses, João Romão, depois de tentar um derradeiro esforço para conseguir
algumas braças do quintal do vizinho, resolveu principiar as obras da estalagem.
— Deixa estar, conversava ele na cama com a Bertoleza; deixa estar que ainda lhe hei
de entrar pelos fundos da casa, se é que não lhe entre pela frente! Mais cedo ou mais tarde
como-lhe, não duas braças, mas seis, oito, todo o quintal e até o próprio sobrado talvez!
E dizia isto com uma convicção de quem tudo pode e tudo espera da sua perseverança,
do seu esforço inquebrantável e da fecundidade prodigiosa do seu dinheiro, dinheiro que só lhe
saia das unhas para voltar multiplicado.
Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos,
fosse o mais simples, visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar
os bens. Das suas hortas recolhia para si e para a companheira os piores legumes, aqueles que,
por maus, ninguém compraria; as suas galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do
que no entanto gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se com os restos da comida dos
trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero
de acumular; de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a
barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda às hortas e ao capinzal,
sempre em mangas de camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o
seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia
apoderar-se logo com as unhas.

[Aluísio Azevedo. O cortiço. 25ª ed. São Paulo: Ática, 1992, pp. 23-24]
Confrontando os fragmentos de o Auto de Lusitânia (1532) e O cortiço (1890), percebe-se que o
comportamento de João Romão corresponde, até com sarcasmo, a uma das atitudes que o auto
de Gil Vicente atribui a Todo o Mundo. Compare ambos os textos e responda:

a) Qual é o comportamento de João Romão?


b) Aponte uma passagem de cada um dos textos em que tal comportamento esteja
caracterizado.

3. (FGV – DIREITO) Os poemas que se seguem pertencem a dois grandes momentos da história
da cultura e a dois paradigmas da poesia ocidental: a lírica de Luís de Camões e a de Carlos
Drummond de Andrade. Leia-os, atentamente, e responda os itens da questão proposta:

Mudam-se os tempos, mudam-se as [vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões. Obras Completas. R.J.: Nova Aguilar, 1988, p.284.

Ontem

Até hoje perplexo


ante o que murchou
e não eram pétalas.

De como este banco


não reteve forma,
cor ou lembrança.

Nem esta árvore


balança o galho
que balançava.

Tudo foi breve


e definitivo.
Eis está gravado

não no ar, em mim,


que por minha vez
escrevo, dissipo.
Carlos Drummond de Andrade. Obras Completas. R.J.: Nova Aguilar: 1977, p. 154.

a) Identifique dois aspectos formais em cada um dos poemas, de modo a relacionar tais aspectos
à visão de mundo manifestada pelos textos. Justifique sua resposta, considerando os dois
períodos da literatura a que pertencem respectivamente os poemas.
b) Discuta a natureza atemporal dos dois universos poéticos, principalmente em torno da
temática da mudança, relacionando os aspectos semânticos e os elementos comuns presentes
em cada um dos textos.

4. (VUNESP) Leia os textos a seguir e responda o que se pede:

Texto 1 – Solitário em seu mesmo quarto a vista da luz no candieyro porfia o poeta
pensamentear exemplos de seu amor na borboleta.

“Ó tu do meu amor fiel traslado


Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.

Tu de amante o teu fim hás encontrado,


Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo, que exalou, morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas,


Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas famas.

Mas ai! Que a diferença entre nós choro,


Pois acabando tu ao fogo, que amas
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro”

[James Amado,org. Gregório de Matos – Obra poética.]

Texto 2 – As mariposa

“As mariposa quando chega o frio


Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra se [isquentá
Elas roda, roda, roda, dispois si senta
Em cima do prato da lâmpida pra discansá.

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando vorta em vorta de mim
Todas as noites, só pra mi beijá.

- Boa noite, lâmpida!


- Boa noite, mariposa!
- Pelmita-me osculhar-lhe as alfácias?
- Pois não, mas rápido porque daqui a pouco [eles me apaga.”

[Adorinan Barbosa]

a) O soneto de Gregório de Matos (1633-1696) e o samba de Adoniran Barbosa (1910-1982),


embora muito afastados no tempo, servem-se de um mesmo motivo, aliás bastante comum na
literatura e na canção popular: o da mariposa que busca a fonte de luz (chama, lâmpada). O
desenvolvimento dado a esse motivo, todavia, é diferente em cada texto. Compare os dois textos
e, em seguida, faça um comentário sobre a diferença de desenvolvimento do mesmo motivo
realizado pelos dois poetas.
b) Gregório de Matos emprega as palavras “chama” e “fogo” em dois sentidos diferentes, que
constituem a chave para a compreensão do poema. Confira esta informação no texto e, em
seguida, indique quais são os sentidos a que nos referimos acima.

5. (Unicamp) Nos dois poemas a seguir, Tomás Antônio Gonzaga e Ricardo Reis refletem, de
maneira diferente, sobre a passagem do tempo, dela extraindo uma "filosofia de vida". Leia-os
com atenção:

LIRA 14 (Parte I)

Minha bela Marília, tudo passa;


a sorte deste mundo é mal segura;
se vem depois dos males a ventura,
vem depois dos prazeres a desgraça.

Que havemos de esperar, Marília bela?


que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
e ao semblante a graça.

[TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA. "Marília de Dirceu"]

Quando, Lídia, vier o nosso outono


Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa -
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.

[RICARDO REIS. "Odes"]

a) Em que consiste a "filosofia de vida" que a passagem do tempo sugere ao eu lírico do poema
de Tomás Antônio Gonzaga?
b) Ricardo Reis associa a passagem do tempo às estações do ano. Que sentido é dado, em seu
poema, ao outono?
c) Os dois poetas valorizam o momento presente, embora o façam de maneira diferente. Em
que consiste essa diferença?

6. (VUNESP) Leia os textos a seguir.

"Não é possível idear nada mais puro e harmonioso do que o perfil dessa estátua de
moça.
Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados, que são hastes de lírio
para o rosto gentil; porém na mesma delicadeza do porte esculpiam-se os contornos mais
graciosos com firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade nos relevos.
Não era alva, também não era morena. Tinha sua tez a cor das pétalas da magnólia,
quando vão desfalecendo ao beijo do sol. Mimosa cor de mulher, se a aveluda a pubescência
juvenil, e a luz coa pelo fino tecido, e um sangue puro a escumilha de róseo matiz. A dela era
assim.
Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como diadema cintilando na cabeça de um
anjo. Havia em toda a sua pessoa um quer que fosse de sublime e excelso que a abstraía da
terra. Contemplando-a naquele instante de enlevo, dir-se-ia que ela se preparava para sua
celeste ascensão."

(José de Alencar, Diva. São Paulo: Saraiva, 1959. p. 17)

Era muito bem feita de quadris e de ombros. Espartilhada, como estava naquele
momento, a volta enérgica da cintura e a suave protuberância dos seios, produziam nos sentidos
de quem a contemplava de perto uma deliciosa impressão artística.
Sentia-se-lhe dentro das mangas do vestido a trêmula carnadura dos braços; e os pulsos
apareciam nus, muito brancos, chamalotados de veiazinhas sutis, que se prolongavam
serpeando. Tinha as mãos finas e bem tratadas, os dedos longos e roliços, a palma cor-de-rosa
e as unhas curvas como o bico de um papagaio.
Sem ser verdadeiramente bonita de rosto, era muito simpática e graciosa. Tez macia, de
uma palidez fresca de camélia; olhos escuros, um pouco preguiçosos, bem guarnecidos e
penetrantes; nariz curto, um nadinha arrebitado, beiços polpudos e viçosos, à maneira de uma
fruta que provoca o apetite e dá vontade de morder. Usava o cabelo cofiado em franjas sobre a
testa, e, quando queria ver ao longe, tinha de costume apertar as pálpebras e abrir ligeiramente
a boca."

(Aluísio Azevedo, Casa de Pensão. 20ª ed. São Paulo: Martins, s.d. p.87)

Os dois trechos citados, que pertencem a romances de José de Alencar (1829-1877) e Aluísio
Azevedo (1857-1913), respectivamente, têm em comum o fato de descreverem personagens
femininas. Um confronto entre as duas descrições permite detectar não somente diferenças nos
planos físico e psicológico das duas mulheres, mas também no modo como cada uma é
concebida pelo respectivo narrador. O resultado final, em termos de leitura, é o surgimento de
duas personagens completamente distintas, duas mulheres que causam impressões
inconfundíveis no leitor. Levando em conta essas informações, relacione a diferença essencial
entre as duas personagens.

7. (FUVEST-SP)

Gente que mamou leite romântico pode meter o dente no rosbife* naturalista; mas em lhe
cheirando a teta gótica e oriental, deixa logo o melhor pedaço de carne para correr à bebida da
infância. Oh! meu doce leite romântico!

Machado de Assis, Crônicas.

*Rosbife: tipo de assado ou fritura de alcatra ou filé bovinos, bem tostado externamente e
sangrante na parte central, servido em fatias.

a) A imagem do “rosbife naturalista” – empregada, com humor, por Machado de Assis, para
evocar determinadas características do Naturalismo – poderia ser utilizada também para se
referir a certos aspectos do romance O cortiço? Justifique sua resposta.
b) A imagem do “doce leite romântico”, que se refere a certos traços do Romantismo, pode
remeter também a alguns aspectos do romance Iracema? Justifique sua resposta.

8. (UFBA)

I. Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta
que contra o norte vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem
vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes
barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima é toda chã e muito cheia de
grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender d´olhos não
podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
[...]
As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-
la, tudo dará nela, por causa das águas que tem.
Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E
esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.

[CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996. p.97-98.]

II. –– Em toda a parte –– não acha, meu padrinho? –– há terras férteis.


Mas como no Brasil, apressou-se ele em dizer, há poucos países que as tenham. Vou
fazer o que tu dizes: plantar, criar, cultivar o milho, o feijão, a batata inglesa... Tu irás ver as
minhas culturas, a minha horta, o meu pomar –– então é que te convencerás como são fecundas
as nossas terras!
A idéia caiu-lhe na cabeça e germinou logo. O terreno estava amanhado e só esperava
uma boa semente. [...]
As primeiras semanas que passou no “Sossego”, Quaresma as empregou numa
exploração em regra da sua nova propriedade. Havia nela terra bastante, velhas árvores
frutíferas, um capoeirão grosso com camarás, bacurubus, tinguacibas, tibibuias, monjolos, e
outros espécimes. Anastácio que o acompanhara, apelava para as suas recordações de antigo
escravo de fazenda, e era quem ensinava os nomes dos indivíduos da mata a Quaresma muito
lido e sabido em coisas brasileiras.

[BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ática, 1996. p. 74-76.]

Considerando o processo de idealização presente no discurso crítico-ufanista do Major


Quaresma (II) e nesse trecho da carta de Caminha (I), estabeleça uma comparação entre aquilo
que vai acontecer no sítio Sossego e a descrição de Caminha sobre a paradisíaca terra
descoberta.

9. (UFES) Leia com atenção os textos a seguir.

TEXTO 1
Saudações

Ó ilustríssimos senhores
de modos finos, que saco!
Pelo amor da santa, fora
com vossos salamaleques!

Não quero louros nem busto


e nem meu nome em via
[pública.
Não quero as vossas vênias
e rapapés, flores dúbias.
Não quero ser poeta
de que todos se orgulham.

Descaradamente confesso
a quem interessar possa:
Quero é ser a vergonha
da província e da república.

(Transpaixão)

TEXTO 2
Lisbon revisited (1923)

Não: não quero nada.


Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!


A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!


Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem
conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização [moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?


Se têm a verdade, guardem-a!

Sou um técnico, mas tenho técnica só [dentro da técnica.


Fora disso sou doido, com todo o direito a [sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

(Ficções do interlúdio)

Considerando que intertextualidade implica a ―utilização de uma multiplicidade de textos ou de


partes de textos preexistentes de um ou mais autores, de que resulta a elaboração de um novo
texto literário (Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa), justifique como esse
processo ocorre na relação entre os trechos de ―Saudações, do poeta brasileiro contemporâneo
Waldo Motta, e de ―Lisbon revisited (1923), do poeta português modernista Fernando Pessoa.

10. (UFBA)

I.
Tia Ciata sentou na tripeça num canto e toda aquela gente suando, médicos padeiros
engenheiros rábulas polícias criadas focas assassinos, Macunaíma, todos vieram botar as velas
no chão rodeando a tripeça. As velas jogaram no teto a sombra da mãe de santo imóvel. Já
quase todos tinham tirado algumas roupas e o respiro ficara chiado por causa do cheiro de
mistura budum coty pitium e o suor de todos. Então veio a vez de beber. E foi lá que Macunaíma
provou pela primeira vez o cachiri temível cujo nome é cachaça. Provou estalando com a língua
feliz e deu uma grande gargalhada.

[ANDRADE, M. de. Macunaíma. São Paulo: ALLCA XX, 1996. p. 59. Edição crítica.]

II.
Depois das calçadas espandongadas, quem chega ao primeiro bairro da cidade, o Pelourinho,
via estacionamento M-14, descortina escombros de um sobrado incendiado em 2006, de uma
instituição católica que, pela idade do incêndio, parece desinteressada em recuperá-lo. Mas o
Pelourinho é um dos poucos cartões-postais da cidade e não pode ficar desentregue desse jeito.
Por isso, é preciso que o desarmengue se aproprie do assunto, desaproprie os escombros, e lhe
dê estado menos decadente. Dinheiro há. Armengues sobram. Faltam projetos e despreguiças.

[FRANCO, A. A Baía e o PAC do desarmengue. Revista MUITO, Salvador, p. 41, 19 jul. 2009.
Suplemento do Jornal A Tarde.]

A observação do estilo de linguagem, presente nos textos em destaque, aponta para a


identificação de inovações no léxico e na gramática. Considere o fragmento I, contextualizado
na obra Macunaíma, e compare-o com o fragmento II, destacando as inovações presentes em
ambos. Explique os efeitos de sentido que elas — as inovações — produzem na obra de Mário
de Andrade (I) e no texto de A. Franco (II).

11. (PUC-RJ)

HERANÇA

Eu vim de infinitos caminhos,


e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.

Quando é que frutifica, nos caminhos [infinitos,


essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?

E os que vierem depois, pelos caminhos [infinitos,


do pranto que caiu dos meus olhos [passados,
que experiência, ou consolo, ou prêmio [alcançarão?
(MEIRELES, Cecília. Viagem / Vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 111)

a) Determine o gênero literário predominante no texto, justificando a sua resposta com aspectos
que o caracterizam.
b) A história oficial do modernismo brasileiro tende a dividi-lo em três momentos distintos, cada
qual com suas características, posturas políticas e tendências estéticas. Cecília Meireles, ao lado
de Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes, por exemplo, é considerada uma autora
pertencente à segunda fase do movimento modernista. A partir da leitura do poema “Herança”,
indique as possíveis relações de aproximação e distanciamento entre o poema de Cecília e os
textos mais iconoclastas de Oswald de Andrade e Mário de Andrade, autores que representam
a fase heróica do nosso modernismo.

12. (UNICAMP-SP)

“Amor é fogo que arde sem se ver, / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento
descontente; / É dor que desatina sem doer”.

[Camões, Luís Vaz. Lírica.]

“Terror de te amar num sítio frágil como o mundo.


Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa”.

[Andresen, Sophia M. B. Terror de te amar.]

Dos dois textos transcritos, o primeiro é de Luís Vaz de Camões (século XVI) e o segundo, de
Sophia de Mello Breyner Andersen (século XX). Compare os textos acima, discutindo, através
de critérios formais e temáticos, aspectos em que ambos se aproximam e aspectos em que
ambos se distanciam um do outro.

13. (Unicamp 2016) Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões:

“Cá nesta Babilônia, donde mana


matéria a quanto mal o mundo cria;
cá donde o puro Amor não tem valia,
que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

cá, onde o mal se afina e o bem se dana,


e pode mais que a honra a tirania;
cá, onde a errada e cega Monarquia
cuida que um nome vão a desengana;

cá, neste labirinto, onde a nobreza,


com esforço e saber pedindo vão
às portas da cobiça e da vileza;

cá neste escuro caos de confusão,


cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!”

(Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acessado em


08/09/2015.)

a) Uma oposição espacial configura o tema e o significado desse poema de Camões. Identifique
essa oposição, indicando o seu significado para o conjunto dos versos.
b) Identifique nos tercetos duas expressões que contemplam a noção de desconcerto,
fundamental para a compreensão do tema do soneto e da lírica camoniana.

14. (Unicamp 2010) No excerto a seguir, o romance Iracema é aproximado da narrativa bíblica:
Em Iracema, (...) a paisagem do Ceará fornece o cenário edênico para uma adaptação do mito
da Gênese. Alencar aproveitou até o máximo as similaridades entre as tradições indígenas e a
mitologia bíblica (...). Seu romance indianista (...) resumia a narrativa do casamento inter-racial,
porém (...) dentro de um quadro estrutural pseudo-histórico mais sofisticado, derivado de todo
um complexo de mitos bíblicos, desde a Queda Edênica ao nascimento de um novo redentor.

(David Treece, Exilados, aliados, rebeldes: o movimento indianista, a política indigenista e o


Estado-Nação imperial. São Paulo: Nankin/Edusp, 2008: p. 226, 258-259.)

Partindo desse comentário, responda às questões:

a) Que associação se pode estabelecer entre os protagonistas do romance e o mito da Queda


com a consequente expulsão do Paraíso?
b) Qual personagem poderia ser associada ao “novo redentor”? Por quê?

15. (Fuvest 2016) No capítulo CXIX das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador declara:
“Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas* das muitas que escrevi por esse
tempo.” Nos itens a) e b) encontram-se reproduzidas duas dessas máximas. Considerando-as
no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede.

* “Máxima”: fórmula breve que enuncia uma observação de valor geral; provérbio.

a) “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.” Pode-se relacionar essa máxima à maneira de viver
do próprio Brás Cubas? Justifique sucintamente.
b) “Suporta-se com paciência a cólica do próximo.” A atitude diante do sofrimento alheio,
expressa nessa máxima, pode ser associada a algum aspecto da filosofia do “Humanitismo”,
formulada pela personagem Quincas Borba? Justifique sua resposta.

16. (Fuvest 2016) Leia este texto.

Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar
os servos, na Roma simples. E gritava:
– Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha!
Pulei, imensamente divertido:
– Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfatadas? E as esterilizadas? E as sódicas?... O
meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição de um grande
copo, todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num
prato. Eu admirei sobretudo a moça... Que olhos, de um negro tão líquido e sério! No andar, no
quebrar da cinta, que harmonia e que graça de ninfa latina! E apenas pela porta desaparecera a
esplêndida aparição:
– Oh Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete a esta rapariga trazer
as coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!... Que olhos, que corpo...
Caramba, menino! Eis a poesia, toda viva, da serra...
O meu Príncipe sorria, com sinceridade:
– Não! Não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma
bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa
linda vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe
bem. Para isso a fez a Natureza, assim sã e rija
(...).
Eça de Queirós, A cidade e as serras.

a) No período em que Jacinto passa a viver na serra, tornam-se relativamente frequentes, no


romance, as referências à cultura da Antiguidade Clássica. Consideradas no contexto da obra, o
que conotam as referências que o narrador, no excerto, faz a aspectos dessa cultura?
b) Considerando-a no contexto em que aparece, explique a expressão “nem façamos Arcádia”,
empregada por Jacinto.

17. (FUVEST-SP) Leia o seguinte poema.


TRISTEZA DO IMPÉRIO

Os conselheiros angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra-li-vre sus-pi-rar”,
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé,
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana,
[com rádio e telefone automático.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.

a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, tal como os caracteriza o poema de


Drummond, ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado imperial ao presente de seu próprio tempo,
qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua? Explique resumidamente.

18. O chamado “ciclo nordestino” da moderna ficção brasileira compreende obras inspiradas em
motivos sociais, entre as quais o flagelo das secas. São escritores representativos Rachel de
Queiroz (Ceará, 1910-2003), Graciliano Ramos (Alagoas, 1892-1953), José Lins do Rego
(Paraíba, 1901-1957) e Jorge Amado (Bahia, 1912-). Vidas secas focaliza uma família de
retirantes que vive uma espécie de mudez introspectiva, em precárias condições físicas e num
estado degradante de condição humana. Mediante essas observações:

a) demonstre como se revela no texto essa espécie de “silêncio introspectivo” dos personagens.
b) explique, com base em elementos do texto, por que Vidas secas é considerado um romance
regionalista.

19. (FUVEST/2005) Considere os seguintes versos, que fazem parte de um poema em que
Carlos Drummond de Andrade fala de Guimarães Rosa e de sua obra:

(…) ou ele mesmo [Guimarães Rosa] era


a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre

que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?

(arcabuzeiam = lutam com arcabuzes, espingardas)

a) A luta entre Augusto Matraga e Joãozinho BemBem (do conto “A hora e vez de Augusto
Matraga”) apresenta, conjugados, os aspectos de guerra e de festa referidos nos versos de
Drummond. Você concorda com esta afirmação? Justifique sucintamente.
b) O conflito entre Turíbio Todo e Cassiano Gomes (do conto “Duelo”) apresenta essa mesma
junção de aspectos de guerra e de festa? Justifique sucintamente.

20. Houve um momento na história da prosa ocidental em que o romance se transformou em


peça comprobatória de uma tese pela qual se procurava demonstrar certa tendência da
personagem: um comportamento, uma herança biológica, o poder condicionador do meio etc.
a) De que tipo de romance se trata?
b) Indique um romance, de preferência brasileiro, em que ocorre tal fato.

GABARITO

1.

a) A postura é de desprezo pelo homem que a admira. Isso se evidencia em “e me non falou foi
que non morri,”, no primeiro texto. E em “E não escuta quem apela.”, no segundo texto.
b) A coita, ou seja, o sofrimento amoroso.

2.

a) A ambição da personagem, o que aproxima João Romão do homem que é rico mercador em
Gil Vicente.
b) Em Gil Vicente: “E meu tempo todo inteiro/sempre é buscar dinheiro/e sempre nisto me fundo”.
E em Aluísio Azevedo: “Desde que a febre de possuir se apossou dele totalmente...”.

3.

a) Os dois poemas tratam da passagem do tempo e de seus efeitos sobre o mundo, os homens
e o eu lírico. O tom melancólico do soneto camoniano se explicita na escolha vocabular
(“mágoas”, “saudades”, “choro”), que culmina com a expressão “mor espanto”, tradução do
estado de espírito do poeta, perturbado pela constatação de que, na natureza, tudo se perde
(tanto o “mal”, do qual ficam apenas as “mágoas na lembrança”, quanto o bem, de que restam
apenas “as saudades”). O único dado permanente parece ser a tristeza — para ela, não há saída,
nem alternativa. Nesse sentido, o poeta se mostra conformado e submisso às circunstâncias da
sua própria existência. Se a perplexidade é o ponto de chegada do texto camoniano — que
registra no penúltimo verso o “mor espanto” que nele predomina —, é o ponto de partida do
poema de Drummond, cujo primeiro verso afirma: “Até hoje perplexo”. E é ainda a tradução do
mesmo estado de espírito presente no soneto de Camões: espanto diante da certeza de que
nada permanecerá, de que tudo se transformará ou desaparecerá. No entanto, a melancolia
conformista que prevalece no poeta português é substituída aqui pela afirmação da resistência
que é possível opor à passagem do tempo. Isto porque, embora reconheça que a perspectiva de
desaparecimento atinge também a ele (“dissipo”), o poeta acredita na escrita (“escrevo”) como
depositária da memória — portanto, como instrumento de permanência. A visão de mundo
conformista e submissa demonstrada no texto camoniano, é revelada tanto em relação à
natureza quanto aos aspectos formais, que seguem os rigores do Classicismo: a exploração da
forma do soneto; o rigor métrico (versos decassílabos); a presença de rimas (abba abba cdc
dcd); a tradução da experiência pessoal em termos universais. Já na perspectiva adotada por
Drummond, há resistência às mudanças e insubmissão à natureza, visão de mundo que se
apresenta sob uma forma estética relativamente mais livre, historicamente associada ao
Modernismo: a sonoridade provocada pelas rimas é menos evidente, já que o poeta opta pelas
toantes (perplexo/pétalas, banco/lembrança, árvore/balançava); a métrica obedece a um
esquema menos claro, já que os quinze versos de que se compõe o poema (distribuídos em
cinco tercetos) mostram três seqüências métricas (os cinco primeiros e os cinco últimos são
pentassílabos, enquanto os cinco versos do meio são tetrassílabos); uso do enjambement
(continuação sintática de um verso em outro); metalinguagem; realce da postura subjetiva frente
ao mundo. Desse modo, a modernidade de Drummond não rejeita a tradição, mas busca
estabelecer um convívio com ela — postura que constituía uma das marcas formais da poesia
brasileira conforme esta se apresentava nos anos 1940, época de composição do poema de
Drummond, publicado em A rosa do povo (1945).

b) Os textos desenvolvem a tópica da transitoriedade das coisas e dos sentimentos, em face da


passagem do tempo. Trata-se de um motivo clássico, presente em muitos poetas em vários
períodos da história. Nesse sentido, deve-se entender o segundo poema como retomada do
primeiro, com o qual dialoga e de cujo assunto se apropria. Ambos falam da contínua alteração
do mundo exterior e do seu correspondente na subjetividade do poeta, tomado como emissor do
enunciado artístico: assim como a paisagem exterior se altera, a percepção dela e os
sentimentos também se transformam. Todavia, há uma diferença importante no tratamento do
tema pelos poetas. Em Camões, não só mudam as coisas, como também se altera a maneira de
mudar. Em Drummond, na última estrofe formula-se a idéia de que, apesar de o tempo destruir
tudo, o poeta escreve, com o propósito de perpetuar algo de sua passagem pelo mundo.

4.

a) Em Gregório de Matos, o eu lírico compara-se com a borboleta e associa a amada à luz,


enfatizando o sofrimento pela distância do amor. Em Adoniran, o eu lírico compara-se com a
fonte de luz e associa as mulheres às mariposas; não há sofrimento e sim deleite.
b) chama: sentido referencial, fogo.
Fogo: sentido figurado, paixão.

5.

a) Carpe diem, aproveitar o presente.


b) O declínio da vida.
c) Em Gonzaga a vida está em sua plenitude, enquanto em Reis ela parte para o fim.

6. A personagem de Alencar é idealizada, divinizada, como manda o ideário romântico. A


personagem de Azevedo é mais terrena, mais sensual e descrita em detalhes que acentuam sua
materialidade.
7.

a) O Cortiço, como é de esperar de uma obra naturalista, apresenta preocupação de exibir sem
eufemismo, rodeio ou censura os aspectos mais degradantes do ser humano, o que é compatível
com a imagem do rosbife, que é sangrento.
b) A expressão “doce leite romântico” se refere à idealização da realidade característica do
Romantismo e presente em diversos aspectos de Iracema: a fidelidade extrema a um ideal de
amor, a nobreza e a bravura dos guerreiros indígenas (que mais parecem cavaleiros medievais),
o enaltecimento da natureza brasileira, o engrandecimento da amizade entre Martim e Poti, o
convívio harmonioso entre portugueses e pitiguaras.
8. O Sítio Sossego não será esse paraíso retratado por Caminha, pois nele Policarpo vai
enfrentar obstáculos, como as pragas naturais, as dificuldades para comercializar os produtos, a
relação com o trabalhador. O discurso histórico é diferente da realidade. Lima Barreto ironiza a
visão da Carta.
9. Em ambos os poemas, o eu-lírico evidencia a sua revolta aos bons-modos, às regras impostas
pela sociedade, aos critérios de comportamento e conduta que lhe são impostos: “Ó ilustríssimos
senhores / de modos finos, que saco!”, “Não quero ser poeta / de que todos se orgulham.” e “Não
me venham com conclusões!”, “Se têm a verdade, guardem-a!”. Assim, temos dois poetas de
épocas distintas, cada qual com as suas peculiaridades, abordando um mesmo assunto e de
forma parecida: Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, do Modernismo português,
um eterno descontente em conflito com o mundo; e Waldo Motta, poeta brasileiro
contemporâneo. Resumindo, podemos dizer que a revolta perante uma sociedade de
aparências, com valores éticos e morais questionáveis para o eu-lírico de cada um dos poemas,
e a linguagem exclamativa, irônica e, até mesmo, agressiva são os elementos que promovem o
diálogo entre os textos, a intertextualidade.
10. Em ambos os trechos, as inovações na linguagem aproximam o texto escrito da fala do povo
brasileiro e marcam uma ruptura com a norma culta da língua portuguesa. A supressão das
vírgulas, a substituição de “respiração” por “respiro” e a utilização de palavra como “botar” (texto
I) são procedimentos que ilustram a proposta dos primeiros modernistas de levar para a
linguagem escrita da literatura a linguagem falada pelo povo brasileiro. Assim, o aspecto formal
do texto passa a ser definidor no desenho da cultura brasileira feito pelo livro de Mário de
Andrade. Do mesmo modo, o léxico do segundo trecho recupera o falar baiano através das
palavras “espandongadas”, “armengue”, “desarmengue”. Observa-se também a riqueza
vocabular no texto I e na obra Macunaíma, mostrada no uso de diferentes palavras para nomear
uma mesma coisa (“cachiri” — “cachaça”), além do uso criativo dos neologismos (desarmengue;
despreguiças) por A. Franco para referir-se criticamente ao órgão do governo responsável por
questões urbanas.
11.
a) Gênero lírico, pois há expressão de sentimentos e estados de espírito do eu lírico.
b) O texto distancia dos poemas de primeira geração modernista, na medida em que não preza
por um experimentalismo e uma iconoclastia em relação ao passado literário. Aproxima-se,
contudo, da primeira geração por trabalhar com versos livres, em formas menos fixas.
12. Aproximam-se pelo tema do amor e pela utilização de anáforas. Distanciam-se pela métrica
(versos decassílabos em Camões e livres de Andresen) e pela forma de tratar o amor (em
Camões, o amor é impessoal, e em Andersen é pessoal).
13.
a) O eu lírico manifesta a sensação de exílio das terras do Sião, local sagrado e associado ao
Bem que já habitou e a Babilônia, local em que se encontra no momento e onde impera o caos,
a cobiça e a tirania.
b) O tema do soneto remete à filosofia platônica, pois o eu lírico, circunscrito ao mundo sensível
(concebido por Platão como o local onde o homem habita), expressa desconforto ao perceber
que está à mercê do materialismo e do mundo em desconcerto. Nos dois quartetos, expressões
como “o puro Amor não tem valia”, “pode mais que a honra a tirania”, “onde a errada e cega
Monarquia/ cuida que um nome vão a desengana” refletem a sensação de desconcerto, muito
presente na lírica camoniana de vertente clássica. A anáfora, constituída pela repetição do
advérbio “cá”, enfatiza os aspectos negativos do plano material (Babilônia) em oposição às
lembranças do mundo racional, o plano inteligível (Sião) tão desejado pelo eu lírico e, por
extensão, pelos artistas do Renascimento: “cá neste escuro caos de confusão,/ cumprindo o
curso estou da natureza./Vê se me esquecerei de ti, Sião!”
14.
a) Se, na mitologia bíblica, Eva seduz Adão com o fruto proibido, em Iracema, Alencar apresenta
como protagonista uma jovem índia que induz Martim ao pecado oferecendo-lhe a seiva da
jurema. Tanto na tradição judaico-cristã como na narrativa alencariana estão presentes a Queda,
a expulsão do paraíso e subsequente punição: nesta, o nascimento de Moacir (filho do
sofrimento), naquela, o “parto com dor”.
b) Na narrativa bíblica, o novo redentor é associado à figura de Jesus, exemplo do homem novo
que trouxe esperança à Humanidade. Em “Iracema”, será Moacir o primeiro verdadeiro brasileiro,
o homem novo, símbolo da miscigenação das raças branca e indígena ( colonizador e
colonizado), segundo a visão utópica de José de Alencar.
15.
a) Sim, a vida ociosa de Brás Cubas, a displicência com que encarou cada etapa da sua carreira
profissional e a superficialidade das relações afetivas com as pessoas de quem se aproximou
revelam um percurso existencial sem valor ou qualidade. O balanço final da sua vida, exposto
no capítulo “Das negativas”, apresenta um narrador que analisa o gênero humano com ceticismo
e desprezo, confirmando melancolicamente a máxima “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.”
b) O "Humanitismo" do filósofo Quincas Borba defende a supremacia "do império da lei do mais
forte, do mais rico e do mais esperto". Surge pela primeira vez, na prosa machadiana, para
desnudar ironicamente as teorias do Positivismo de Auguste Comte, do Cientificismo do século
XIX e do caráter desumano e antiético da teoria de Charles Darwin acerca da seleção natural da
"lei do mais forte” se associada às ciências sociais. A frase “Suporta-se com paciência a cólica
do próximo” é condizente com a filosofia do Humanitismo, já que privilegia tudo o que seja em
beneficio próprio e apregoa a total indiferença ao sofrimento dos outros.
16.
a) O fragmento reproduz uma cena passada na Quinta de Tormes, local em que Jacinto passa a
morar depois de se ter mudado de Paris. O estranhamento de Zé Fernandes face ao pedido de
Jacinto para que lhe tragam água da fonte, ao invés das águas sofisticadas que sempre preferira,
a beleza natural de Ana Vaqueira, assim como a simplicidade do cenário remetem personagens
e leitor às paisagens bucólicas descritas pelos autores clássicos que tematizavam o “locus
amoenus” e o “inutila truncat”, como base essencial para se atingir o equilíbrio e a felicidade.
b) A expressão “nem façamos Arcádia” alude ironicamente à visão idealizada de Zé Fernandes
relativamente aos dotes físicos de Ana Vaqueira, dona de beleza invulgar, mas, como
trabalhadora braçal e rude, seria insensível a apelos sentimentais.
17.
a) Os “conselheiros” retratados no poema de Drummond representam a elite brasileira – uma
elite caracterizada, tanto no Império como antes e depois dele, por hedonismo* provinciano,
apesar de imaginativo, e por completa insensibilidade aos problemas do país que lhe faculta os
prazeres (ainda que aborrecidos: “o enfado bolorento de São Cristóvão”, a corte imperial). Tais
prazeres tinham como contrapartida a escravidão, mencionada no texto de Drummond e
igualmente presente no romance de Machado de Assis, cujo protagonista, como os
“conselheiros” do poema, é um representante exemplar da elite hedonista, alienada e dedicada
ao ócio improdutivo.
b) Ao misturar elementos do Segundo Reinado com os do momento presente, Drummond
demonstra, em “Tristeza do Império”, uma visão histórica pessimista segundo a qual não houve
mudança significativa na estrutura socioeconômica brasileira. Tanto no século XX quanto no
anterior, o País é dominado por uma classe de privilegiados hedonistas alheios aos problemas
sociais que decorrem de seus privilégios e os garantem.
18.

a) O mutismo introspectivo das personagens de Vidas secas se manifesta, nesse texto,


sobretudo nos três últimos parágrafos. Aí, deveria haver um diálogo, mas o que há é uma troca
brutal de informações por gestos, e não por palavras. O menino, em vez de explicar ao pai que
não consegue mais caminhar, senta-se no chão e põe-se a chorar. O pai, por seu turno, em vez
de pedir esclarecimentos, põe-se a xingá-lo e a espancá-lo. Em seguida, vendo que sua atitude
não produziu efeito no filho, começa a falar consigo mesmo, esbravejando contra a paisagem.
Esse tipo de diálogo indicia a dificuldade de comunicação reinante no grupo de retirantes,
arquétipo das famílias pobres do Nordeste.
b) A literatura regionalista procura descrever a vida humana num determinado espaço rural, com
destaque para suas particularidades geográficas e sócio-culturais. Há vários indícios de
regionalismo no texto, os quais podem agrupar-se em dois núcleos: o de alusão à paisagem e o
de alusão ao homem. A paisagem é referida mediante referências à vegetação (“juazeiros”,
“galhos pelados da catinga rala”) e aos acidentes físicos (“areia branca do rio”). As referências
ao homem dominam o texto, que denuncia uma estreita relação entre indivíduo e paisagem —
traço típico do regionalismo de Graciliano Ramos. Nesse sentido, o mutismo apontado no item
anterior constitui um dos aspectos mais importantes de sua literatura, preocupada em analisar a
influência opressiva e limitadora da geografia e da organização social nordestina no ser humano.
Além disso, observa-se no texto o uso de palavras próprias da linguagem local, como os termos
“cambaio” e “aió”. Ao optar por períodos curtos e coordenados, o narrador, de certa forma,
procura imitar o rudimentarismo psicológico de suas personagens.

19.

a) A afirmação é correta. A componente bélica está implícita na própria circunstância do confronto


entre Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem, caracterizado pelo desejo mútuo de extermínio.
O aspecto celebrativo decorre da configuração alegórica dos movimentos das personagens, que
sugerem uma dança dramática. Some-se a isso a noção de que a luta entre ambos é marcada
tanto pela discórdia quanto pela concórdia.
b) No caso do conto “Duelo”, não ocorre confluência entre a idéia de guerra e de festa. A
perseguição em si já funciona como indicação exclusiva de guerra. Não há a celebração festiva,
porque a relação entre Turíbio Todo e Cassiano Gomes é de puro ódio e discórdia, sem abrir
espaço para a identidade de contrários que está presente na luta final de Joãozinho e Augusto,
em “A hora e vez de Augusto Matraga”.

20.

a) Trata-se do romance realista-naturalista.


b) Tais características aplicam-se, por exemplo, ao romance O cortiço, de Aluísio Azevedo.

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