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Motrivivência v. 28, n. 48, p.

61-75, setembro/2016

http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016v28n48p61

Apreciação da Base Nacional Comum


Curricular e a Educação Física em foco
Laine Rocha Moreira1
Marcos Renan Freitas de Oliveira2
Marta Genú Soares3
Meriane Conceição Paiva Abreu4
Suziane Chaves Nogueira5

RESUMO

O presente artigo analisa o manuscrito da Base Nacional Comum Curricular e compreen-


de a concepção de Educação Física por ele proposta. Identifica a concepção atribuída
à educação física pela Base Nacional Comum Curricular. Metodologicamente, utiliza
a análise bibliográfica e documental, a dialética como método e aplica a análise de
conteúdo, para tratar os dados. Constata que a Base Nacional Comum Curricular loca-
liza a educação física na área da linguagem e a filia a um ecletismo no que diz respeito
a sua concepção e corpo de conhecimento específico, gerando dada incoerência nos
conteúdos e nos processos formativos deste campo de conhecimento. Conclui que
o manuscrito, na fase de apresentação à comunidade, concretiza uma aliança entre
educação e o capital, defendendo os interesses dos grupos hierárquicos centrais, trans-
formando o direito à educação em serviço mercadológico.

Palavras-chave: Educação Básica; Educação Física; Currículo

1 Mestranda em Educação. Professora na Universidade do Estado do Pará (UEPA). Belém/Pará, Brasil.


E-mail: laine.educacaofisica@hotmail.com
2 Mestre em Educação. Coordenador Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Bragança, Coorde-
nador do Curso de Educação Física da Faculdade de Bragança (FABRA) e professor colaborador da Faculdade
Pan Americana (FPA). Belém/Pará, Brasil. E-mail: marcosrenanef@yahoo.com
3 Pós-Doutora em Educação. Professora da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Belém/Pará, Brasil.
E-mail: martagenu@gmail.com
4 Mestre em Educação. Professora de educação física, da educação básica, pela Secretaria do Estado de Educa-
ção (SEDUC) e pela Secretaria Municipal de Educação de Barcarena (SEMEC). Belém/Pará, Brasil.
E-mail: meri_black@hotmail.com
5 Mestranda em Educação. Universidade do Estado do Pará (UEPA). Belém/Pará, Brasil.
E-mail: suzianenogueira@gmail.com
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INTRODUÇÃO Notamos que as políticas curricula-


res advêm de forma hierárquica, não provo-
O currículo está intimamente re- cando e/ou permitindo realmente, a efetiva
lacionado com o processo de formação participação da comunidade escolar - reais
humana, pois se constitui, ao longo do conhecedores da complexidade da prática
tempo, como um importante instrumento educacional.
de conservação, transformação, renovação Desde 1990, as ações do Ministério
dos conhecimentos historicamente acumu- da Educação (MEC) passaram a incluir as
lados e produzidos pela humanidade, assim políticas educacionais, tendo dentre suas
como, de socialização desses conhecimen- competências, a educação básica, e sendo a
tos com o conjunto dos seres humanos, Secretaria de Educação Básica (SEB), vincu-
nas distintas sociedades, no decorrer da lada ao MEC, a responsável pela elaboração
evolução humana. e implementação da política curricular
Um currículo aponta diretivamente para este segmento escolar, por meio de
para uma concepção de homem e de socie- indicações curriculares norteadoras, como
dade, que se tem e que se pretende formar. por exemplo, os Parâmetros Curriculares
Essas diferentes concepções influenciarão Nacionais (PCN).
na seleção ou não de determinados tipos de A Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
conhecimento a serem ensinados e apren- ção Nacional (LDBEN) 9394/96 determina
didos na escola, do mesmo modo como os que a União, Estados e Municípios devem
justificarão. estabelecer, de maneira conjunta, diretrizes
O currículo como parte da realidade norteadoras que busquem organizar currí-
complexa e contraditória da sociedade ca- culos, assegurando-se uma base nacional
pitalista, está inserido em meio a interesses comum. Atendendo a este princípio, o
econômicos e políticos, sendo, portanto, MEC lançou em 2015 a Base Nacional
palco de conflitos, onde estão em jogo os Comum Curricular (BNC)6 — uma outra
sentidos que distintos grupos sociais preten- proposta curricular, que tem como premissa
dem disputar e atribuir. o atendimento ao aspecto legal7, amparado
Nas últimas décadas do século pela Carta Magna, de 1988 (Art. 210), a
XX, a preocupação em torno das questões qual determina que “serão fixados conteú-
curriculares, no Brasil, vem ganhando dos mínimos para o ensino fundamental,
espaço nas discussões das políticas educa- de maneira a assegurar formação básica
cionais nacionais, com vistas a atender as comum e respeito aos valores culturais e
exigências concernentes aos organismos artísticos, nacionais e regionais” (BRASIL,
internacionais. 2012, p. 147) e pela Lei de Diretrizes e

6 A comissão do Ministério da Educação (MEC) tem utilizado a sigla BNC para se referir à Base Nacional Comum
Curricular. Por isso, utilizaremos a sigla BNC, em conformidade com o MEC.
7 Cf. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/base/por-que
8 [...] “a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos edu-
candos” (BRASIL, 1996, p. 01).
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Bases da Educação Nacional, cujo Art. 26 médio, porém algumas concepções ainda
determina que “os currículos da educação não ficam claras no manuscrito. Por isso,
infantil, do ensino fundamental e do ensino o estudo problematiza: qual a concepção
médio devem ter base nacional comum”8 de Educação Física, bem como de ser hu-
[...] (BRASIL, 1996, p. 01). mano, educação e sociedade são propostas
Entretanto, a BNC convida a socie- pela BNC?
dade a analisar suas propostas formatadas Para isto, o presente artigo tem
anteriormente por um grupo de especialistas como objetivo analisar a minuta disponibi-
ou protagonistas9, indicados pelas secreta- lizada pelo MEC, para o documento oficial
rias estaduais de educação e selecionados a da BNC, para compreender que concepção
partir de determinados critérios, como por de Educação Física é por ele proposto, além
exemplo “ter participação anterior em po- dos projetos de sociedade, de educação e
líticas do MEC voltadas à educação básica” de ser humano.
(BRASIL, 2015, p. 01). Metodologicamente, o artigo está
Perante tal realidade, surgem algu- fundamentado no tipo de pesquisa biblio-
mas questões que advêm deste panorama, gráfica e documental, opta pela dialética
tais como: solicitar a sociedade a opinar, como método e, para tratamento dos dados
diante de um manuscrito que se encontra se aplica a análise de conteúdo, inicialmente
pronto; sem explicitar em que bases teórico- organizando o material, posteriormente o
-metodológicas fundamentam a BNC; ou descrevendo analiticamente e, finalmente
ainda, que fundamentos epistêmicos, onto- interpretando os dados (BARDIN, 2011).
lógicos e históricos estão no cerne da BNC. Em atendimento ao objetivo pro-
Dadas as indefinições acima, a posto, o artigo está organizado da seguinte
compreensão suscitada é a de que a BNC forma: inicialmente, com uma análise da
necessita de reflexão e discussão, tendo minuta da BNC, disponibilizada no sítio
em vista que este manuscrito orientará os do MEC e em fase de socialização com a
projetos político-pedagógicos das escolas comunidade - conceito, função, objetivos,
do país, trazendo não apenas um currícu- justificativas, os agentes envolvidos, o pro-
lo básico comum, mas uma proposta por jeto de sociedade, de educação e de ser
áreas de conhecimento e seus elementos humano; em seguida, apresenta e analisa o
constituintes, além de um projeto que papel da Educação Física, a concepção, os
determina um tipo de ser humano, de elementos pensados e atribuídos pela BNC
educação e de sociedade. e, finalmente, traz os apontamentos e as
Quanto à Educação Física, especifi- conclusões correspondentes.
camente, como disciplina, a BNC menciona A relevância acadêmico-científica
respectivamente os PCN de 1997, que cor- está na análise crítica da BNC, como manus-
respondem ao ensino fundamental de 1ª a crito que pretende articular um currículo co-
4ª séries, os PCN de 1998 de 5ª a 8ª séries mum às diversas disciplinas e, mais especi-
e os PCN de 2000 que abrangem o ensino ficamente à educação física, atribuindo-lhe

9 Cf. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/base/os-protagonistas
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uma concepção e uma maneira determinada p. 1468) questiona a criação de uma “ne-
de pensar a área, buscando compreender cessidade educacional” de imposição de um
que projetos científico-epistemológicos são modelo curricular como gradualmente foi
defendidos por esse manuscrito. feito com o estabelecimento dos Parâmetros
Quanto à relevância social, propõe-se Curriculares Nacionais e, posteriormente
pensar que projetos de ser humano, educa- na imposição de um sistema de avaliação
ção e sociedade são justificados pela Base de estudantes e escolas por meio de provas
Nacional Comum Curricular, discutindo-os nacionais que culminam com as BNC.
analiticamente. Esse momento de internacionaliza-
ção das políticas educacionais é citado por
Alves (2014); Süssekind (2014); Macedo
Base Nacional Comum Curricular: um
(2014); Cóssio (2014); Price (2014); Edling
projeto à guisa de análise
(2014) em um Dossiê Temático intitulado
“Debates em torno da ideia de bases cur-
O debate acerca do estabelecimento
riculares nacionais”, publicado em 2014
de um currículo comum para a educação
na Revista Eletrônica e-Curriculum, do
brasileira remonta da década de 80, no
entanto, intensifica-se a partir do estabe- Programa de Pós-Graduação em Educação:
lecimento da Lei de Diretrizes e Bases da Currículo da PUC-SP, como a causa do
Educação Brasileira, em 1996, das Diretri- aumento do espaço dado aos modelos inter-
zes Curriculares Nacionais e dos Parâmetros nacionais, apontando para um movimento
Curriculares Nacionais e se materializa a crescente de incorporação de forças priva-
partir da política, para atingir as metas do das no campo do currículo. Freitas (2012)
Plano Nacional de Educação (PNE) (MA- já criticava esse movimento, apontando a
CEDO, 2014). ação dos “reformadores empresariais10” na
O manuscrito preliminar da BNC educação pública.
tem por objetivo definir, listar os conheci- Os reformadores empresariais ou
mentos fundamentais a serem ensinados nas grupos econômicos, denominação utiliza-
redes de ensino básico assim como guiar da por Macedo (2014), argumentam pelo
os processos de avaliação e formação de cumprimento às orientações dos organismos
professores. Essa construção se justifica na internacionais de priorizar políticas de alívio
redução das desigualdades e garantia do di- à pobreza e de redução da vulnerabilidade
reito à aprendizagem e ao desenvolvimento e desigualdades, com medidas compensa-
(BRASIL, 2015). tórias de implantação de modelos de países,
A implementação das bases se incor- como Estados Unidos, Austrália e Suécia
pora às medidas de adequação ao momento para países latino-americanos, como é o
internacional de surgimento do modelo caso do Brasil (PRICE, 2014); (EDLING,
de um currículo nacional. Alves (2014, 2014); (FREITAS, 2012).

10 O termo é usado pelo autor com base em Ravitch (2011), que designa acordo entre políticos, mídia, empresários
e empresas educacionais, institutos e fundações privadas e pesquisadores, alinhados à ideia de que o modo de
organizar a iniciativa privada é o mais adequado para “consertar” a educação (FREITAS, 2012).
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Caberia então, para os reformadores Entendemos que o currículo, como


empresariais, ao se estabelecer um currículo um dos elementos centrais do sistema de
comum, a resolução dos problemas edu- ensino, passa a ser uma imposição arbi-
cacionais mais urgentes, como a redução trária dos grupos ou classes dominantes
do analfabetismo, por exemplo, assim aos grupos ou classes dominados, ou seja,
como, a contribuição para a resolução de irá reproduzir as hierarquias dos conheci-
problemas sociais, como a redistribuição de mentos, das classes de forma velada e não
renda, redução das desigualdades culturais cumprirá o objetivo ideal.
A BNC deixa de ser considerada
e econômicas.
como um mero manuscrito técnico e passa
É esse romantismo que o discurso
a ser entendida em nossa análise, como uma
dos reformadores propaga, apresentando
política de formação de ser humano, que
nexos com o ideário da educação como
corresponde a um determinado modelo de
ferramenta de transformação social e o
educação e de sociedade.
currículo como o caminho para atingi-la, Alves (2014) nessa direção aponta
conforme apontado por Süssekind (2014). que não devemos reduzir o currículo/ pro-
A autora demonstra pelo marco cessos a currículo/ objeto, mas identificar que
histórico do currículo, que a sua concepção tipo de ser humano esse currículo pretende
como um produto/ processo técnico, que formar. Por isso questiona: qual modelo de
no caso da BNC aparece de forma contun- educação defende e que tipo de sociedade
dente como uma tarefa política, na verdade pretende alcançar? Baseamo-nos nas asser-
camuflam os seus reais interesses. ções de Freitas (2012) e Macedo (2014) para
responder a esses questionamentos.
Com, nem sempre declarados, interes- Em relação ao modelo educacional,
ses econômicos na solução para pro- a ênfase em gestão e adição de tecnologia
blemas da educação, veementemente
descrito como a “crise da educação”, de-
são características do modelo empresarial
fendem a necessidade de “currículo cla- transferido para o campo educacional,
ro e objetivo” que nos deem caminhos baseado no modelo neotecnicista de edu-
para superar a “falta de preparo dos pro- cação. Freitas (2012, p. 383) explica que
fessores” e a “inadequação do material
didático”; assim, alimentando uma dico-
esse antigo/ novo modelo:
tomia escola-sociedade calcada na ideia
de “obsolescência da escola” e incom- Se apresenta, hoje, sob a forma
petência ou despreparo dos professores de uma “teoria da responsabiliza-
(SÜSSEKIND, 2014, p. 1515). ção”, meritocrática e gerencialista, onde
se propõe a mesma racionalidade técni-
ca de antes na forma de “standards”, ou
A padronização do currículo, dos expectativas de aprendizagens medidas
conhecimentos a serem aprendidos na em testes padronizados, com ênfase
escola seria no discurso dos reformadores nos processos de gerenciamento da for-
empresariais, uma arma social para extirpar ça de trabalho da escola (controle pelo
processo, bônus e punições), ancorada
com os problemas educacionais que há nas mesmas concepções oriundas da
séculos compõem a pauta das políticas psicologia behaviorista, fortalecida pela
sociais, no entanto, essa não é a essência. econometria, ciências da informação
66

e de sistemas, elevadas à condição de funciona como exterior constitutivo que


pilares da educação contemporânea. cria uma rede de demandas em torno de
reformas marcadas pela lógica do mercado”
A esse modelo de educação, Duarte (IBID).
(2001, p. 29) chama de “aprender a apren- Freitas (2012) chama de hipócrita
der”, o qual: esse discurso que prega ser possível es-
tarmos “Todos pela educação”, quando
Preconiza que à escola não caberia a ta- os interesses hegemônicos reduzem a
refa de transmitir o saber objetivo, mas educação à produção do trabalhador que
sim a de preparar os indivíduos para está sendo esperado na porta das empresas
aprenderem aquilo que deles for exigi-
do pelo processo de sua adaptação às e afirma que a proposta dos reformadores
alienadas e alienantes relações sociais empresariais é dar legitimidade ao currículo
que presidem o capitalismo contempo- básico, mínimo.
râneo. A essência do lema “aprender Esse currículo básico e mínimo
a aprender” é exatamente o esvazia-
mento do trabalho educativo escolar, pretende atingir as metas 2 — que pretende
transformando-o num processo sem “Universalizar o ensino fundamental de
conteúdo. Em última instância o lema nove anos para toda população de seis a
“aprender a aprender” é a expressão, no quatorze anos” (BRASIL, 2010, p. 04) — e
terreno educacional, da crise cultural
3 — que busca “Universalizar, até 2016, o
da sociedade atual.
atendimento escolar para toda a população
de quinze a dezessete anos e elevar, até
O lema “aprender a aprender” ex- 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino
pressa o afinamento do discurso educacio- médio para oitenta e cinco por cento, nesta
nal com o projeto neoliberal, considerado faixa etária” (IBID, p. 05) do Plano Nacional
pelo autor como o projeto político de ade- de Educação, por meio de estratégias que
quação das estruturas e instituições sociais definem os direitos de aprendizagem para
às características do processo de reprodução a educação básica11.
do capital, no final do século XX (DUARTE, O manuscrito da BNC objetiva
2001). Um exemplo dessa caracterização sinalizar os percursos de conhecimento e
é o protagonismo dos organismos privados desenvolvimento e assim garantir os direitos
nos debates sobre as bases comuns e a de aprendizagem por meio da definição
urgência em sua implementação. dos objetivos de aprendizagem que fazem
Macedo (2014, p. 1539) destaca articulação entre as singularidades das áreas
a participação do movimento “todos pela do conhecimento e de seus componentes e
educação”, liderado por empresas, como a as especificidades dos estudantes ao longo
Fundação Lemann, Fundação Itaú Social, da escolarização básica (BRASIL, 2015).
entre outras, que acirra a interdependência Macedo (2014, p. 1540) define os
entre Estado e mercado. Nela o “caráter direitos de aprendizagem como as “expec-
público da educação, e sua ineficiência, tativas dos alunos brasileiros por série ou

11 Cf. ainda, http://pne.mec.gov.br/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf que trata sobre as vinte metas do Plano


Nacional de Educação.
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por ciclo” e, portanto, diretamente relacio- a transmissão do saber objetivo, cientifi-


nados à avaliação: “elaborar e adotar esses camente organizado e sistematizado, na
direitos, para que as redes, as escolas e os diluição do papel da escola em transmitir
professores saibam a que objetivos pedagó- esse saber, na descaracterização do papel
gicos precisam responder” (IBID). do professor, na própria negação do ato de
Sobre a justificativa da proposta ensinar. Há também o processo de “demo-
de um currículo nacional, Cóssio (2014) nização dos professores”13, em virtude do
afirma que ela está amparada, de acordo fracasso dos alunos nas avaliações padro-
com seus defensores, na redução das desi- nizadas; competição entre profissionais e
gualdades regionais, garantindo os direitos escolas; pressão sobre o desempenho dos
às aprendizagens. Há a argumentação de alunos e preparação para os testes, fraudes,
aumento da segregação socioeconômica no
que quanto maior é a vulnerabilidade em
território, aumento da segregação socioeco-
que estão inseridos os alunos, menor é a
nômica dentro da escola, precarização da
sua aprendizagem.
formação do professor14.
A autora ainda afirma, que as apren- Para finalizar essa análise, corrobo-
dizagens que são entendidas como direito ramos com a apreciação feita pelo professor
de todos, com vistas a reduzir as desigualda- Doutor Luiz Carlos de Freitas divulgada
des são aquelas obrigatórias e, que em nome recentemente em seu blog de opinião15:
da proclamação do currículo como direito
de todos, justifica-se essa obrigação. Dessa A educação, como processo formativo,
forma, todos têm de aprender, sob pena de está sendo reduzida a aprendizagem
reprovação, recuperação ou expulsão. nas teses dos reformadores empresa-
riais. Não sabendo como lidar com a
Essa relação é defendida por Frei- educação (uma relação ampla entre
tas12 (2012) ao apresentar o caso norte- ame- educandos e educadores) eles a redu-
ricano de implantação das bases nacionais ziram a aprendizagem (um resultado do
aluno, medido pelo seu desempenho
para a educação. O autor afirma que existe em testes de habilidades e competên-
uma relação de identidade entre qualidade cias). Com esta redução, a noção de
da educação e “nota alta” e que a lição qualidade fica igualmente reduzida à
pontuação que o aluno obtém. Toda a
desse país, demonstra que o foco deve ser
complexidade e riqueza da ação educa-
sempre em melhorar a educação e não tiva desaparece e com isso, as soluções
simplesmente aumentar as pontuações nas mágicas e as receitas, tomam lugar da
provas de avaliação. boa educação.
As consequências desse processo
são apresentadas por Duarte (2001), como a Acreditamos que a aprendizagem
expropriação da escola de sua tarefa social: depende de um processo formativo, guiado

12 O autor também apresenta sua opinião sobre a BNC por meio de diversos textos em seu blog: http://
avaliacaoeducacional.com/.
13 Esse processo é apontado por Süssekind (2014) como a desmoralização e des-credibilização dos professores.
14 Essas consequências são apontadas por Freitas (2012, p. 389). Na caracterização da atuação dos reformadores
educacionais, o autor afirma que a implementação de políticas, como a BNC não compõem apenas uma “re-
forma educacional”, mas uma “reforma fiscal” da educação.
68

pelo currículo e por isso, não pode ser pedagógica na educação básica, que tem
medida em testes de múltipla escolha. Nas como objeto de estudo as práticas corporais
palavras de Vygotsky (1998, p. 115) “uma e que na educação crítico superadora é ado-
correta organização da aprendizagem da tada como cultura corporal, não é apenas
criança conduz ao desenvolvimento” das uma linguagem corporal, mas um campo de
capacidades humanas ou o salto qualita- conhecimento específico e por isso, precisa
tivo na percepção da realidade. Por isso, ser contemplado em suas particularidades.
entendemos ser essa a função de uma base Compreender a cultura corporal,
comum que esteja comprometido com a tradutora das práticas corporais como ob-
formação humana das crianças e jovens.  jeto de estudo da educação física implica
reconhecer a atividade prática do homem,
o trabalho, as relações objetivas materiais
A Educação Física em Foco: com a palavra reais dos homens com a natureza e com os
a Base Nacional Comum Curricular outros homens, para o centro do sistema
explicativo. Essa perspectiva é explicada da
A definição dos “direitos e objetivos seguinte forma por Micheli Escobar:
de aprendizagem” é o objetivo central da
elaboração do documento regulatório, re- A “cultura corporal” é uma parte do ho-
lacionada às quatro áreas do conhecimento mem. É configurada por um acervo de
— ciências da natureza, ciências humanas, conhecimento, socialmente construído
linguagens e matemática e seus respectivos e historicamente determinado, a partir
de atividades que materializam as rela-
componentes curriculares para todas as ções múltiplas entre experiências ideo-
etapas da educação básica —, sendo que lógicas, políticas, filosóficas e sociais e
o ponto de partida para a definição dos os sentidos lúdicos, estéticos, artísticos,
objetivos de aprendizagem são os direitos agonistas, competitivos ou outros, rela-
cionados à realidade, às necessidades e
de aprendizagem, isto é, um conjunto de as motivações do homem. O singular
proposições que orientam as escolhas feitas dessas atividades — sejam criativas ou
pelos componentes curriculares na defini- imitativas — é que o seu produto não é
ção dos seus objetivos de aprendizagem. material nem é separável do ato de sua
produção; por esse motivo o homem
Quanto à área de linguagens, que lhe atribui um valor de uso particular.
reúne quatro componentes curriculares: Dito de outra forma, as valoriza como
língua portuguesa, língua estrangeira mo- atividade, em si mesma. Essas ativida-
derna, arte e educação física, observarmos, des são realizadas seguindo modelos
socialmente elaborados, portadores de
por exemplo, que os objetivos gerais da significados ideais atribuídos social-
área de linguagens para a educação básica, mente (ESCOBAR, 2009, p. 127-128).
centralizam-se na língua portuguesa, especi-
ficamente na leitura e escrita, enquanto que Das atividades corporais historica-
os demais campos de conhecimento suge- mente criadas e socialmente desenvolvi-
rem uma interpretação de acessório ou meio das, em torno da relação entre múltiplas
para que aqueles sejam desenvolvidos. experiências e interesses subjetivos do ser
A Educação Física como área de humano, torna-se visível hoje, um acúmulo
estudo multidisciplinar e intervenção de conhecimentos sistematizados sobre
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ginásticas, lutas, danças, jogos, capoeira, quantidades, relações e transformações.


esporte, exercício físico sistematizado, Apesar de organizar por campos de expe-
dentre outros, que se constituem o objeto riências, dentre eles “corpo, gestos e movi-
de estudo do professor de educação física mentos”, o manuscrito não explica como o
na escola e nos diversos espaços formativos. componente curricular educação física se
Compreendemos que a centralidade articula de tal forma, quanto à organização
dos objetivos gerais da área da linguagem do trabalho pedagógico. Diante disso,
no componente curricular língua portugue- propormos a clareza quanto à inserção do
sa implicará no estreitamento curricular componente curricular educação física, na
— redução de carga horária — da Educa- educação infantil, mediante à organização
ção Física, da arte e da língua estrangeira curricular, por campos de experiências.
moderna. Tal estreitamento curricular deve O manuscrito também afirma que os
se materializar em virtude das avaliações anos iniciais do ensino fundamental serão
nacionais oficiais, como Provinha Brasil materializados pela unidocência e os anos
e Avaliação Nacional de Aprendiza- finais do ensino serão efetivados pela pluri-
gem (ANA), centralizando-se apenas em docênia. Tal afirmação reduz a intervenção
dois componentes curriculares — língua do professor de educação física apenas aos
portuguesa e matemática. anos finais do ensino fundamental e ensino
Portanto, reivindicamos a educação médio, tendo em vista que apenas um pro-
física como “[...] um campo de conheci- fessor vai ministrar todos os componentes
mento que se estrutura a partir das práticas curriculares nos anos iniciais do ensino
históricas, socialmente produzidas, cienti- fundamental. Propomos ainda clareza e
ficamente estudadas e investigadas e, cria- a afirmação quanto à obrigatoriedade do
tivamente, ensinadas de geração a geração, componente curricular educação física na
referentes à cultura corporal” (TAFFAREL; educação básica.
Et al., 2006, p. 161). O manuscrito define ainda, a cul-
A necessidade histórica de garantir tura corporal de movimento como objeto
acesso à especificidade da educação física de estudo da educação física, entendida
é fulcral, porque a assimilação do conhe- como as práticas corporais — brincadeiras
cimento da cultura corporal contribui para e jogos, esportes, exercícios físicos, ginás-
nos tornarmos humanos, visto que este ticas, lutas, práticas corporais alternativas,
envolve um complexo de ação, que permite práticas corporais de aventura, praticas
elevar o padrão cultural e esportivo dos corporais rítmicas. As práticas corporais
indivíduos, mediante o desenvolvimento da como objeto de estudo da educação física
capacidade humana de entender, explicar, são compreendidas:
agir no enfretamento da realidade concreta.
Na educação infantil, o manuscrito [...] como uma forma de relação do
da BNC propõe a organização curricular ser humano com o mundo e de intera-
ção com outros sujeitos, que, ao pos-
por cinco campos de experiências — o eu, o
sibilitarem a construção de sentidos e
outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; significados singulares, configuram-se
escuta, fala, pensamento e imaginação; tra- como produções diversificadas de cul-
ço, sons, cores e imagens; espaços, tempos, tura. Suas diferentes manifestações
70

assumem, no mundo contemporâneo, 4° e 5° anos), dois ciclos nos anos finais do


uma importância cada vez maior no co- ensino fundamental (6º e 7°; 8º e 9° anos),
tidiano das pessoas e na história social,
constituindo subjetividades e identida- e por fim, um ciclo do ensino médio (1°,
des, quer seja na dimensão do lazer, 2°, e 3° anos).
quer seja na dimensão da saúde. (BRA- Os objetivos estão organizados por
SIL, 2015, p. 96).
ciclos, porém com a continuação das séries,
apenas trocados pela terminação “ano”.
Portanto, definem as práticas cor- Os ciclos devem ter objetivos diferentes e
porais como abstrações, sem nexo com a isso é observado no manuscrito, porém não
realidade concreta e reduzindo sua con- mostra claramente a diferença de objetivos
cepção ao lazer e à saúde, que também são
por ano, além de os conteúdos serem
tratados no manuscrito como idealizados,
os mesmos. Dessa forma, os critérios de
desconsiderando a concretude da existência
progressão dos conteúdos estão frágeis e
humana, tendo em vista que na sociedade
sem relação com a socialização do conhe-
capitalista, o lazer e a saúde são tratados
cimento científico, nas suas formas mais
como mercadorias, que estão acessíveis a
desenvolvidas, conforme se define:
poucos, ou seja, àqueles que concentram
a riqueza e dela podem usufruir, compran-
[...] características dos sujeitos e contex-
do este lazer e saúde, diferentemente da to de atuação, sinalizando tendências
maioria da população, alijada dos direitos de organização do conhecimento que
anunciados na Carta Magna. vão, das esferas sociais mais familiares
Quanto à definição da cultura às menos familiares, das temáticas mais
frequentes às menos frequentes, das
corporal de movimento como objeto de práticas corporais mais corriqueiras as
estudo da educação física, nossa postura é menos comuns, de reflexão mais loca-
de problematização dessa compreensão, em lizada a mais universal (BRASIL, 2015,
função de que “não houve, não há e não p. 97).
pode haver matéria sem movimento, nem
movimento sem matéria” (CHEPTULIN, A inconsistência dos critérios de
1982, p. 162). Portanto, torna-se redundante progressão e conteúdos no decorrer dos
falar em cultura corporal de movimento, anos e dos ciclos abre a possibilidade de o
pois o movimento é inerente à matéria e, professor trabalhar os mesmos objetivos e
nesse movimento há transformações. Este conteúdos no ciclo todo. Também, não fica
objeto de estudo desconsidera, portanto, a claro como se dá a articulação proposta pelo
historicidade, a dialética, a realidade mate- manuscrito dos objetivos de aprendizagem
rial e a produção humana, ratificando, ao com as oito dimensões do conhecimento
contrário, o idealismo. apresentadas: “experimentação e produção,
O manuscrito enfatiza os objetivos fruição, reflexão sobre ação, construção de
específicos do componente curricular edu- valores, analise e compreensão crítica das
cação física, tendo a prática corporal como praticas corporais e protagonismo comuni-
linguagem e organizados em cinco ciclos de tário” (BRASIL, 2015, p. 98).
escolaridade. Dois ciclos nos anos iniciais O manuscrito da forma que está
do ensino fundamental (1°, 2° e 3° anos; apresentado suscita uma confusão entre
V. 28, n° 48, setembro/2016 71

esporte e jogo, pois o mesmo possibilita a o significado da dança e sua expressão,


interpretação de que jogos e esportes são ou seja, há valorização da técnica e do
similares, em suas concepções e objetivos conteúdo expressivo contido na dança,
de aprendizagem. Jogos e esportes apre- sendo que a técnica está em paralelo à
sentam particularidades, embora inclusos disponibilidade corporal, às várias formas
na cultura corporal. de apreender a realidade e não deve ser o
Outra problemática, diz respeito ao trabalho inicial do professor (COLETIVO
conteúdo ginástica, que vem vinculada à DE AUTORES, 2012). Assim, a educação
ginástica geral, permitindo interpretar que física não vai se preocupar somente com a
a ginástica geral é a ginástica. É importante técnica, mas também com ela, entendendo-
esclarecer que a ginástica geral é uma
-a como um processo reflexivo sobre essa
modalidade da ginástica e, portanto, não a
mesma técnica.
conceitua em sua totalidade.
No manuscrito ainda, interpretam-se
As técnicas devem ser compreendidas
as práticas corporais rítmicas sustentadas como instrumentos necessários de um
em atividades não sistematizadas e perten- jogo, de uma série de ginástica, de pas-
centes ao cotidiano das comunidades, mais sos de uma dança etc. Contudo, afirmar
a necessidade do domínio das técnicas
especificamente, nas danças folclóricas,
de execução dos fundamentos das di-
étnicas. Além de apregoar que as diversas ferentes modalidades esportivas não
comunidades não organizam suas mani- significa polarizar nosso pensamento
festações corporais rítmicas, ainda descon- em direção ao rigor técnico do esporte
de alto rendimento (COLETIVO DE AU-
sidera a competência da organização do
TORES, 2012, p. 84).
professor quanto à ação profissional docente
sobre o conteúdo.
A dança está inclusa no manuscrito, A dança é processo, é criação e
no componente curricular artes, porém é recriação, oriunda da atividade dos seres
um conteúdo vinculado à educação física, humanos entre si e de sua relação com a
segundo o Coletivo de Autores (2012), pois natureza, possuindo um significado que
é um conhecimento da cultura corporal. ultrapassa a técnica de alto rendimento.
Ademais, no manuscrito restringem
[...] uma dança é uma forma de exis-
essa prática corporal dança ao lazer. Neste
tência humana, a qual não pode ser
viés, propomos a dança como elemento aprisionada nos limites de uma descri-
da cultura corporal, que traduz as práticas ção, demonstração ou apresentação —
corporais como objeto de estudo da educa- apesar da constância ‘aparente’ da sua
forma —, pois se reconstrói a cada exis-
ção física, pois ela tem “seus fundamentos
tencialização/ execução nos corpos dos
na própria vida, concretizando-se numa dançarinos e das dançarinas (GEHRES
expressão dela e não numa produção In GONZÁLEZ; FENSTERSEIFER, 2014,
acrobática” (COLETIVO DE AUTORES, p. 186).
2012, p. 81).
Não há a dispensa da técnica, mas A dança, portanto, não é só para o
deve vir articulada ao pensamento e a lazer, entendido, no manuscrito da BNC,
descoberta, para que o aluno compreenda como algo sem fundamentação teórica,
72

desprovida, portanto de discussão. Além CONSIDERAÇÕES FINAIS


disso, o manuscrito coloca um estilo de
dança, que é a dança de salão misturado As reflexões teóricas realizadas
com a modalidade de dança, que é a dança neste artigo, possibilitam-nos concluir que o
de rua e, com as classificações, como quan- processo que desencadeou a elaboração do
to à origem das danças, que são as danças manuscrito das BNC foi mediado pelos in-
étnicas e, ainda, com fins de lazer, dados teresses dos reformadores empresariais, que
os verbos apreciar, desfrutar. estabelecem aliança com o poder público,
Sobre o exercício físico, entendemos com implicações para as políticas oficiais,
que este não deve ser reduzido a programas para garantir ações pedagógicas da edu-
de treinamento, pois a sua realização não é cação básica, a concepção de sociedade,
apenas para manter a saúde, visto que estas de ser humano e de educação, orientadas
atividades ampliarão e desenvolverão a ca- pela e para a mercantilização da vida. Para
pacidade humana, no sentido de enriquecer tanto, a burguesia dita, por meio dos orga-
a vida, pois, na medida em que o sujeito está nismos internacionais, as orientações para
se apropriando da cultura corporal elabora- as políticas educacionais em escala global,
da por gerações passadas, está assimilando sintetizando seus interesses imediatos e
uma síntese dessa experiência, apreenden- históricos.
do os seus meios de produção. Portanto, na O manuscrito preliminar da BNC
proporção que a atividade corporal ganha aparentemente explicita a preocupação com
um sentido particular para o sujeito, ela a precariedade da escola pública, com a
amplia seu significado histórico e social. O defesa contundente dos diretos e objetivos
exercício físico, então deve ser entendido de aprendizagem de todos os sujeitos que
como unido aos componentes da cultura estão na escola pública brasileira, porém o
corporal e não isolado em programas de fato de não mencionar sob quais condições
treinamento, como apregoa o manuscrito. objetivas e subjetivas serão necessárias para
A BNC precisa esclarecer que a garantir a materialização desses direitos e
educação física se apropriou das práticas objetivos, demonstra, neste silêncio, que o
corporais humanas e as desenvolveu, dan- objetivo central da BNC é responsabilizar a
do-lhes um trato ontológico, epistemológico escola, os professores e os alunos diante de
e pedagógico para torná-lo conhecimento seu suposto fracasso. Contraditoriamente, o
científico e de ensino. fracasso da escola pública é a força motriz
Portanto, a cultura corporal foi cons- para efetivação de políticas educacionais de
truída historicamente e se consolidou como meritocracia e privatização neste campo.
conhecimento salutar aos seres humanos, Para medir o nível do fracasso da
contribuindo para aguçar a criatividade e escola, o mecanismo imediato se dá pela
a imaginação, por meio da elaboração e a avaliação educacional e é neste quesito
elevação do pensamento teórico. Sem essa que a BNC tem sua legitimidade garantida
compreensão, não vamos abranger os limi- para os reformadores empresariais, tendo
tes, contradições e possibilidades que estão em vista sua obsessão pela uniformização/
colocadas para o ensino da cultural corporal padronização e, posteriormente, avaliação
na educação física à educação básica. da aprendizagem — dados que justificam a
V. 28, n° 48, setembro/2016 73

incapacidade do Governo Brasileiro em ge- sistematização de um documento norteador


rir a educação pública, tendo como receita das ações pedagógicas da/ na escola, alinha-
a privatização. das aos interesses da classe trabalhadora,
As contradições do movimento no que diz respeito, ao processo de apro-
mais geral que sustentam a elaboração e priação do conhecimento sistematizado
implementação da BNC refletem no com- na educação básica — levando em consi-
ponente curricular da educação física de deração que já existem currículos sendo
forma imediata na localização desta, na desenvolvidos nas escolas brasileiras, frutos
área das linguagens, tendo sua importân- da própria realidade a qual estão inseridos
cia rebaixada quando os objetivos gerais (reflexão da comunidade escolar) —, para
desta área do conhecimento estão voltados além de uma exigência lógico-formal, com
majoritariamente para a língua portuguesa, características mediadas pelos interesses dos
que junto com matemática, são os únicos formadores empresariais, isto é, do capital.
componentes curriculares “existentes” nas
avaliações educacionais.
O manuscrito preliminar das BNC REFERÊNCIAS
apresenta um ecletismo no que diz respeito
à concepção de educação física, isto é, não ALVES, Nilda. Sobre a possibilidade e a
demonstra clareza quanto à defesa histórica necessidade curricular de uma base
deste componente curricular na educação nacional comum. Revista e-Curriculum,
básica e nem se alinha à reivindicação desta São Paulo, v. 12, n. 03 p. 1464 - 1479
como um campo de conhecimento multidis- out./ dez. 2014.
ciplinar e de intervenção pedagógica, que BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo.
tem como objeto de estudo as práticas cor- Tradução Luís Antero Reto; Augusto
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construída pela humanidade.
Curricular. Disponível em http://
Diante de tal ecletismo, o manuscri-
basenacionalcomum.mec.gov.br/.
to não consegue apresentar uma coerência
Acesso em 25 de novembro de 2015.
interna e lógica, no que diz respeito aos
BRASIL. Constituição da República
conteúdos de ensino da educação física e
Federativa do Brasil: promulgada em
não dá conta de explicitar a ampliação das
5 de outubro de 1998. Obra coletiva
possibilidades formativas dos conhecimen-
de autoria da Editora Saraiva com a
tos da educação física durante anos, que
colaboração de Luiz Roberto Curia,
compõem a educação básica e os ciclos de
Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. 47.
aprendizagem.
Dessa forma, propomos uma inver- ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva,
são na lógica hierárquica na elaboração 2012. (Coleção Saraiva de legislação).
do manuscrito, ou seja, que este seja BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da
construído e debatido pela comunidade Educação Nacional 9394/ 96.
escolar e acadêmico-científica, por meio de Disponível em: http://www.planalto.
fóruns, reuniões, congressos, antes de sua gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm Acesso
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74

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V. 28, n° 48, setembro/2016 75

Analysis of the National Common Curriculum Basis and Physical


Education in focus

ABSTRACT

This article analyzes the manuscript of the National Common Curriculum Basis and it
comprehends the conception of Physical Education. It identifies the concept attributed
to physical education by the National Common Curriculum Basis. Methodologically, it
uses a bibliographic and documentary analysis (National Common Curriculum Basis),
the dialectic as method and applying content analysis to process data. It verifies that the
National Common Curriculum Basis identifies the physical education in the language
field and it affiliates to an eclecticism regarding to their conception and specific body
of knowledge, generating inconsistency in content and the formative processes of this
knowledge field. It concludes that the manuscript materializes an alliance between
education and capital, defending the central hierarchical groups’ interests, transforming
the right to education in marketing service.

Keywords: Basic Education; Physical Education; Curriculum

Apreciación de la Base Nacional Común Curricular y la Educación


Física en el foco

RESUMEN

El presente artículo analiza el manuscrito de la Base Nacional Común Curricular y


entiende la concepción de la Educación Física propuso. Identifica la concepción atribuido
a la Educación Física de Base Nacional Común Curricular. Metodológicamente, utiliza
revisión de la biografia y el documento (Base Nacional Común Curricular), la dialéctica
como método y aplica el análisis de contenido, para procesar los datos. Señala que la
Base Nacional Común Curricular localiza la Educación Física en el área del lenguaje y
filia a un eclecticismo en cuanto a su concepción y cuerpo del conocimiento especifico,
generando dada incoherencia en el contenido y procesos en la formación de este campo
del conocimiento. La conclusión de que el manuscrito concretado una alianza entre
educación y el capital. La defensa de los intereses del grupos jerárquicos, el centro de
torneado el derecho a la educación en el servicio mercadeo.

Palabras-clave: Educación básica; Educación Física; Currículun

Recebido em: abril/2016


Aprovado em: agosto/2016

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