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Capítulo I: tudo não passa de uma manhã mal esquecida

Onde eu deveria estar? Essa é uma pergunta que me faço frequentemente.


Agora, estou simplesmente levantando da cama, com uma fatiga que se
corresponde à minha preguiça. Lentamente eu aproximo minha mão até a
cabeceira, o celular vibrando e apitando com aquele toque irritante, e foi por
isso que eu escolhi esse toque, porque coisas irritantes nos fazem acordar
para a realidade.
Pulo pela tela de bloqueio, 27 de setembro de 2014, -3º C em St Albans. A
manhã banhava meu quarto com um aspecto turquesa vindo entre as frestas
das persianas, é como se o ambiente tivesse virado uma pintura de cores frias.
Vou saindo dos cobertores antes de ser vencido pelo meu próprio sono, já
pensando em como seria o resto de meu maravilhoso dia, talvez passar um
tempo com minha amiga Elaine, ou quem sabe tomar mais um pouco de
Amissulprida e fazer uma visita ao Doutor Rosenberg depois da aula.
Apenas atividades vazias e sem vetores aos quais qualquer um chamaria de
cotidiano, mas, se você construiu uma série de coisas, você tem de continuar
cuidando delas, era isso o que meu avô dizia.
Enquanto cambaleava para me vestir escuto uma voz feminina logo atrás de
mim.

– Você não deveria me dispensar desse jeito Charles.

Com o canto do olho, avisto aquela figura ruiva que em meu julgamento
poderia ser muito bem uma vizinha ou colega de quarto, mas que talvez
devido à falta das medicações diárias para me manter nos trilhos, não
reconheça seu nome em meus filetes rasgados conhecidos como memórias.
Apenas ajeitei meus pensamentos e retruquei seu comentário ignorando
esses detalhes.
– Como gostaria de ser tratada? Não sou do tipo rude que manda indiretas ou
se gaba de alguma capacidade em que se sobressai.
– Oh Charlie.. Respostas evasivas são tão previsíveis! Você só evade a si
mesmo desse jeito.

Charlie? Eu tenho essa intimidade com uma pessoa a qual nem sei o nome?
Mas que diabos está havendo? Rodo os olhos à procura do relógio, e torno a
organizar minhas coisas enquanto dirijo a palavra à moça
– Sinto muito se isso lhe parece rude, mas estou um pouco atrasado. Poderia
cortar os rodeios e me refrescar a memória? Me desculpe por isso também,
não sei seu nome e é difícil rebuscar fatos recentes a essa hora do dia.
Seguido de uma risadinha, reparei naquela voz familiar e também
desconhecida pra mim, é como se eu convivesse com a mulher a muito tempo
porém não notaria sua presença se esbarrasse com ela em meio aos
corredores da universidade.
– Bem, fizemos muita coisa, sabe, o de sempre. Fomos jantar em uma
daquelas espeluncas que você gosta, andamos pelas ruas frias, depois fomos
em Canvey Island como você tinha sugerido. Você deveria agradecer por
conhecer uma mulher que se contenta com a mesmice.
– Hã?
– De qualquer forma te agradeço. Você me mostrou como o mundo pode ser
algo maior que a própria ambição de uma pessoa, ver aquela imensidão de
uma cor que os meus olhos não conseguiam distinguir, perceber que nós
somos apenas pequenos pontos em meio a uma imensidão de coisas, me fez
pensar em um monte de outras coisas. Obrigada por ter feito essa noite pra
mim Charles.
O quê? Eu costumo me desconcertar com frases prontas, ainda mais nesse
caso. Tento parar de olhar pra ela tão diretamente.
– Gosta de se po ti a ão ? S ais u a pe gu ta, so e …. A uilo
– Você quer saber se transamos?
– Isso..
– Nós dois, nesse quarto cafona?
– ….
– Não seja ridículo, não passou nem perto.

Dei de ombros, não julgaria ter algum tipo de apego emocional pelo meu
apartamento, mas de certa forma aquilo me atingiu.
Depois de me vestir e guardar o celular no bolso da calça, preparo bacon com
queijo quase comestível e um café para abastecer um universitário com sede
de conhecimento e fome por livros.
Chego na sala e deparo com a desconhecida ainda sentada. Seu olhos podiam
penetrar minha alma.

– Já que ofendeu minha casa, vai querer um pouco deste bacon horrível?
– Está magoado? Que fofo! É como se eu tivesse um querido cavaleiro
sensível aos meus cuidados zelando por mim , só que é claro , sem a
armadura, já que elas são algo um tanto fora de moda desde o século XVIII,
mas pelo visto estar fora de moda não lhe parece um problema. Aliás eu sei
bem como você cozinha mal, prefiro poupar meu estômago. Não leve ao lado
pessoal.

Apenas consenti. Dos 2 anos que eu vivo apenas comigo mesmo, junto ao
meu querido peixe sem nome, minha culinária passou de bacon com gosto
de pneu de carro para bacon. Terminando de arrumar os pratos e me
preparando pra sair o alarme das 6:30 começa a tocar. Pego minha mochila,
puxo a minha pequena cartela de Amissulprida, coloco no bolso da camisa e
me apresso para escovar os dentes. Depois de alimentar o peixinho sem nome
para que pudesse aguentar até a hora em que eu lhe faria companhia
novamente me virei para onde a senhorita se encontrava.

– Tenha um bom dia, de qualquer forma


– O mesmo Charles, espero que você tenha um dia ótimo, até.
Querido?
Vou em um ritmo acelerado até as escadas, elevadores não faziam muito meu
estilo. É o tipo de local que adiciona mais um trauma a sua ficha em uma
clínica psicológica. Enquanto isso, tomei uma pílula de Amissulprida em uma
tacada só junto com a água, quando chego até as escadas, até que me desce o
pensamento.

Eu estou eal e te es ue e do algo . Puxo a mochila, olho entre os


fichários, percebo que faltava 2 coisas, a primeira delas, era o livro que o
p ofesso Rose e g ti ha e e p estado o o di io a e to lássi o de
Ivan Pavlov, a outra coisa que eu tinha me esquecido era do presente de
aniversário de Elaine.
Quando voltei para o meu apartamento e percebi que o elevador agora estava
em uso, coisa estranha já que os vizinhos acordavam por volta das 8 horas em
diante. Abro a porta e vou em direção do meu quarto. Percebo que a garota
não está mais lá, sequer deixara vestígios de sua presença na sala, mas na
cabeceira eu acho o livro.
Percebo uma folhinha de papel posicionada quase que no sumário, de acordo
com o espaçamento do livro. Nela figurava o experimento de Pavlov, uma
espécie de bizarrice que servia pra mostrar que glândulas reagem a estímulos
nervosos. Puxo o livro pra dentro da mochila, volto a fechar o apartamento.
Corro para as escadas assim como alguém corre para pegar um ônibus ou
falar com alguém importante que mal sabe que você existe, desço até o
térreo, e vou andando pelas ruas frias da vizinhança, ainda não esquentadas
pelo sol recém-nascido, até então sendo vigiado pela lua, a qual não resolveu
sair da minha vista. É realmente um dia bonito, o céu, uma turquesa um
pouco triste, mas eu não penso nisso de imediato, É elho pe sa esse
tipo de oisa ua do se está pa a passa po u a situação ui é o que eu
digo pra mim.

No po to de i us puxo u dos liv os ue estava le do ulti a e te,


co tos pe eg i os de Ga ia Má uez, u es ito lati o, as a leitu a, os
personagens, o ritmo da narrativa, era como se eu estivesse através de uma
parede de vidro onde eu conseguisse ver tudo, frase por frase, era como se o
mundo rodasse lentamente entre mim e aquele momento, até que eu escuto
finalmente o barulho dos pistões do ônibus que me levaria até a Regent St,
enquanto isso seriam 50 minutos até lá .

Sentei-me em um dos lugares perto da janela, fitando o céu. Mais parecia um


mar de cores frias das quais meus olhos não distinguiam muito bem. Aquele
sol de cor pálida. O movimento das pessoas pela janela como se fossem
borrões de uma pintura de algum artista impressionista.
O ônibus balançava devido aos paralelepípedos. Pessoas e mais pessoas. A
paleta de cores vai mudando. Uma coloração mais esbranquiçada. O sol
corria entre os prédios. Aqueles raios de sol passando entre as frestas de
concreto, meus pensamentos daquela cadeia de compromissos se estendiam
na minha cabeça

– Sobre o que será a aula de hoje? Qual um bom presente para a Elaine? qual
era o nome da ruiva maluca? - É como se eu estivesse andando no escuro à
procura de algo que eu nem sei se está lá

Várias ideias se passam na minha cabeça, umas vão, outras ficam, as que
ficam geralmente nunca são amigáveis. Sempre as que eu não quero lembrar.
Mas são esses pensamentos que me fazem acordar para onde eu realmente
estou, esse tipo de coisa vai nadando diante dos meus pensamentos. Até que
eu escuto uma voz bochornosa vindo de um dos alto-falantes do ônibus;
Se ho as e se ho es, p xi a pa ada e 5 i utos: Rege t St, o igada
pela ate ção e te ha u a ti a viage .

Ótima viagem não é? Esse cenário transitivo que acaba sendo ofuscado por
tantas coisas. Isso me faz pensar em como as pessoas podem ser mesquinhas
ou hipócritas em tentar julgar as outras por atitudes que não acham certo. E
eu estou fazendo o mesmo. Eu só sou um reflexo reprimido pela sociedade,
conhecido como Charles Benett. De longe eu pareço ser algum tipo de
universitário liberal e esquisito, mas, no fundo, nem eu mesmo me conheço,
isso, até ouvir uma voz esquisita :

– Ei, é .... Garoto?


Olho por cima do livro, o qual já estava no conto de uma jovem menina, a qual
já havia passado para o outro lado, mas seu corpo delicado se manteve
intacto das mãos necrosadas da morte, e isso sendo visto como um milagre.

– Ei, vo …. Meu jove !

Agora que percebo que ela se dirigia a mim, marco a página, e fixo olhar
perante a direção da voz.

– Pois não? - Respondi, ao que aparentava ser uma senhora em meados dos
seus quarenta a cinquenta anos, bem-vestida. Com cara de secretária ou o
tipo de mulher que passa o dia carimbando papéis e checando documentos
em um escritório de contabilidade. Por quê esse tipo de gente insiste em falar
comigo?

– Perdão senhorita, acho que não a conheço.


– Claro, claro. Deixe-me sentar aqui.

A moça se senta perto de mim, uma fragrância desconhecida para o meu


nariz preguiçoso. Algum tipo de perfume chique fora do meu radar. A pele
bem cuidada, cabelo Chandel. Mais alta do que eu e mais esbelta que a minha
aparência de esqueleto de classe.

– Vo estava o u a a a vazia, pa e ia sozi ho aí, desolado….


Sinceramente nunca gostei da empatia de estranhos. Embora seja um gesto
bem-intencionado, sempre julgo isso como uma forma sutil de ofensa. Pareci
desolado durante minha vida inteira, presumo que isso incomode os outros.
– …. E vo e le a u a pessoa ue ida pa a i , u a ue eu ão vejo a
muito tempo.
– Entendo, quem seria essa pessoa?

– Um garoto muito querido por mim.. Me desculpe, sei que deve estar
ocupado com seu livro, mas.. o que você está fazendo indo até a Regent St
rapaz ?
Eu como um estudante de psicologia, ironicamente sou péssimo em julgar as
pessoas, e pior ainda em interagir com elas. Mas a velha parecia de um bom
caráter, assim sendo não deixei de tentar.

– Charles Benett senhora, um aluno qualquer de Cambridge, prazer em


conhecê-la. E o seu, minha senhora? Qual seria o seu nome?

– É Helena, garoto, apenas Helena. Mas me diga, o que você faz tão jovem
em uma faculdade como Cambridge? Digo, você tem cara de quem acabou de
entrar no ensino médio isso sim.
POR DEUS, ESSA PESSOA ESTÁ ESCONDENDO ALGO, HOMEM! - É o que meu
Alter Ego mais inseguro grita desesperadamente a mim. Como essa mulher
pode ter tanta certeza de um breve palpite? Melhor eu não ficar ouriçado
quanto a isso e retribuir na conversa.
– Você está um pouco quieto, o que houve?
– Apenas divagando sobre meu livro. De toda forma, entrei em Cambridge
por meio que por uma bolsa quase integral. Só consegui isso por eu ter
conseguido uma nota boa, só isso senhora.
– Que bom que você tá progredindo tão bem, isso é muito bom de saber
– E por que isso seria bom senhora?
– Porque você sempre foi um medroso quando pequeno Charles.
– Desculpe, mas o que?
Isso é engraçado, realmente muito engraçado, e pensar que no fim das
contas eu sou conhecido de uma pessoa a qual eu nem conheço, eu estou tão
asfixiado que eu poderia morrer apenas com a mais leve tragada perto de
mim, essa ansiedade vai me denunciar, eu preciso ficar calmo e agir como se
eu soubesse quem essa pessoa é.
– Você, e ouviu bem mocinho, faz tempo desde que eu não vejo essa sua cara
seca, você sempre vive fugindo de mim, eu nunca entendi isso.
– Vai ver é o meu senso de independência eu acho.
– Vai ver você é muito cabeça dura, você sempre foi assim, desde quando
você era da altura da mesa, mas sempre era quietinho, eu não lembro muito
bem, eu sempre visitava pouco a casa dos seus avós.
– Isso é engraçado, de você lembrar de tanto tempo atrás como se fosse
ontem.
– E você, não lembra de nada? Você é muito bobo mesmo.
– Não, não que eu tenha esquecido daquilo tudo, tudo oque eu passei na casa
deles, eu fui criado por eles, eles são a minha família no final das contas.

Fazia tempo que eu não sentia uma empatia estranha dessas, é algo
amistoso e esquisito, como um doce que teve o seu gosto marcado na boca,
algo agradável mas que pode lhe enjoar se você repetir muitas vezes, isso me
espanta em calafrios só de pensar na ansiedade que eu estou sofrendo agora,
eru mal conheço ela, e ela já sabe mais da minha vida do que eu lembro em 1
ano dela.
– Garoto, você, ainda fala com ela?
– Ela quem?
– Com a sua mãe, faz tempo com que eu não converso com ela, como ela
anda?
– Olha senhora Helena, na verdade faz anos que eu não lembro da minha
mãe, eu não lembro nada dela, desculpa a palavra agora, mas, ela não fez
parte da minha vida.
– Entendo garoto, mesmo assim, eu creio que eu posso te quebrar um galho
no futuro, aqui, pegue esse papel, é o meu número
(0161) 328 1294? Isso é em Manchester, essa mulher deve fazer ou algo
uito i po ta te p a vi de lá at a ui p a t a alha .

– Agora eu tenho de correr, esqueci que hoje era uma data importante, até
um outro dia.
Finalmente livre de estranhos, ou livre de conhecidos de quem não me recordo.
Não posso me esquecer dessa mulher. Isso veio em minha cabeça, junto
àquela claridade do sol em sua plena juventude. Ah, Regent St, um bom
centro para comprar algo para a Elaine. Mas o que eu poderia comprar?
Flores? Muito clichê. Perfume? Tão comum quanto uma gravata. Joias?
Vamos ser francos eu sou um Universitário.
U ive sitá io! Boa Cha les, u liv o, Elai e se p e fala ue estava
procurando por aquele lixo adolescente que ela chama de literatura. Se eu
achar, talvez poderia ser um bom presente e pegá-la de supressa, só preciso
agora ir até um sebo ou livraria aqui perto e me apressar pra chegar na aula
a tes das : 5.
O tempo, costuma passar por mim como uma pintura borrada, passei entre
as lojas de livros perguntando pelo exemplar, até que em uma lojinha, acho-o
por um preço camarada. Ainda me sobra dinheiro, apenas para ter de comer
no dia seguinte.
Na verdade não me importo tanto com a comida, já que pelo que eu me
lembro das curiosidades que eu aprendia falando com o professor de biologia,
o corpo humano pode aguentar até 1 mês sem alimento, mas apenas 3 dias
sem água, e eu tinha minha conta de água em dia, logo;

U eu levo seguido de p aze po faze algu feliz. Mes o ue isso e


tenha custado parte da minha saúde a longo prazo, mas isso não importa para
mim, tenho que me apressar para não chegar atrasado, já era por volta de
11:07 e eu tinha de pegar um ônibus de Regent St para Cambridge. Até que
consegui por meio de um milagre concedido pelo destino chegar ao ponto de
ônibus, milésimos segundos antes dele partir, usando meu braço pra aparar a
porta.
Me sentei em um banco vazio, mas aquela mulher invadiu meus
pensamentos. Não essa mas as duas, quem seriam elas?
E a o o se ela já sou esse ue eu es ue e ia, as ela ão e deu pistas,
Canvey Island.. O que teria acontecido lá? Isso realmente me incomoda um
pouco. Será que os meus quadros estavam piorando? Será que eu estou
sofrendo com amnésia? Eu não posso ficar louco ... eu não posso ficar louco
...... eu ão posso fi a lou o ....... .
– E vo ão está, Cha lie….
– Quem falou isso?!?!

Aquela voz da mulher ruiva, de novo ela? Mas eu não a via entre os assentos,
ou entre os espaços para ficar de pé, não poderia ser uma alucinação, talvez
sua voz tenha ficado presa entre as minhas sinapses mal conectadas.

Se ho as e se ho es, p óxi a pa ada, Ca idge, e dia a 5 i utos de


nosso percurso, o igado po sua ate ção e oa viage .
Essa voz, voz, vox, do latim para voz, algo um pouco além de uma batida ou
emissão sonora, era uma sequência de sons os quais passavam por nossos
ouvidos e o nosso cérebro os compreende os traduzindo em palavras,
palavras, conjunto de letras os quais formam significado através do
conhecimento empírico, essas letras não passam de uma forma de distinção
entre nós e os chimpanzés ou os Bonobos, nossos primos que não precisaram
se adaptar mais que o necessário para sobreviver em seus habitats, por isso
não precisaram evoluir igual à gente para se adaptar a esse grande domo de
concreto chamado sociedade, o que eu daria para ser um Bonobo ou um
chimpanzé, em vez de ter que me adaptar a cada dia com coisas banais como
senso de moda, febres sensacionalistas, crises e moedas de intercâmbio, tudo
não passando de uma grande estufa de concreto na propriedade do Tio
Churchill junto com o seu mastim de estimação, propagandas, marketing,
slogans, isso não passa de uma bolha de conformismo aromatizada com uma
ha e de igualdades so iopolíti as , o pio de tudo sa e ue as pessoas
ignoram isso e apenas continuam comendo na mão de um sistema que fazem
elas trabalharem para sustentar uma ilusão de posse própria, consumindo
suas próprias vidas, é triste ver o mundo é quadrado falando
metaforicamente, mas o que mais me preocupa isso é, até quando eu vou
continuar sendo um hipócrita usando essas palavras para descrever um
mundo onde eu sou uma das pequenas engrenagens que fazem ele funcionar
.....

– Meu jovem, o seu ponto.


Um senhor de idade com acaba de me fazer acordar de um monologo
profundo e que talvez me custaria minha viagem até a faculdade.

– Você, você estava olhando para o nada a mais ou menos uns 10 minutos,
está bem?

– Sim, obrigado meu bom senhor, eu apenas estava pensando em algumas


coisas que eu tenho de fazer e acabei em transe, mas muito obrigado por ter
me acordado, eu poderia perder minha viagem por isso.

A e o o a a eça o u si al de o igado se ho , ele se afasta, nós


voltamos, cada um, ao seu próprio mundo, puxo meu celular, 11: 19 da
manhã, sem querer percebo que recebi algumas ligações, resolvo fazer um
retorno, sem resposta, realmente não era um dos meus dias de sorte não é?
Pois bem, o que me resta é simplesmente olhar para aquela paisagem linda,
um céu de cor turquesa, sendo manchado em arcos por um amarelo
empalidecido pelos raios solares, seguindo junto a uma relva em transição,
como se fosse uma grande floresta viva se mexendo como se tivesse
consciência, oscilando ente os meus olhos, como se fosse uma pintura
renascentista traçada e detalhada por ninguém menos que nós, com a ajuda
de nosso velho companheiro, o próprio tempo.
A paisagem soturna a qual reluzia, um quadro em movimento, a cinemática do
mundo diante dos meus olhos, apenas os pensamentos mais lento me vinham
diante daquele memento de o quão aquilo poderia ser passageiro aos meus
olhos.

O quão eu poderia sair deste mundo sem nunca ver algo tão corriqueiro, algo
que as pessoas não percebem quando estão presas em seus pequenos
mundos, algo tão simples e que mesmo assim eu poderia ver durante horas,
mesmo que eu não tivesse todo o tempo do mundo.
Os pensamentos sobre tudo o que me ocorreu hoje, tudo nada mais que o
convencional para mim, o estranho mártir o qual eu sigo desde que eu mal
conseguia falar corretamente, tudo sempre foi esquisito para mim de alguma
fo a, o jeito ue as pessoas olha , ão, ão, as a as e o as ue todos
faze du a te o dia e a oite e ha o ia , talvez, a fo a o o o se
hu a o o segue se e ga a pa a se faze feliz .

As vezes quando eu era menor, perguntava a mim mesmo se eu era um


ga oto ue ado , isso eu u a e te dia di eito as se p e e vi ha o
pe sa e to de eu esta ue ado , eu vivia olhando as pessoas pela janela
do meu quarto, todas as manhãs antes de ir para a escola, mulheres, homens,
garotos e garotas, altos e baixos, gordinhos e magros, de todos os tipos ,
todos em plena 6 da manhã, com seus sorrisos, posturas retas e confiantes,
e a algo a ual eu se p e pe sava por que eles são tão felizes ? Algo
a o te eu pa a ue eles fi asse assi ?

Agora eu entendo, essa é a capacidade a quais vários psicanalistas estudaram,


a capacidade de auto-enganação, o quão alguém pode se enganar para ser
feliz, isso realmente me deixa um pouco desapontado comigo, o que diziam
era verdade, sinceridade machuca.

De qualquer forma, talvez eu nunca vá entender como é mentir para mim


mesmo, ou talvez eu esteja mentindo para mim mesmo sobre mentir, eu
nunca vou saber, mas, de qualquer forma, a vida é um mar cheio de surpresas
onde você tem de pescar suas próprias motivações, o que me resta pra essa
manhã com esse ar frio e essa paisagem azul e clara, é apenas puxar as bordas
do meu blazer para perto de minhas orelhas, voltar a minha leitura sobre
aquele livro do qual as pessoas não sabem que aquilo não passa de uma falsa
realidade, e quem sabe relaxar minha cabeça até chegar na faculdade.
Capítulo II: quando as nuvens são feitas de algodão
Acabo de terminar aquela longa viagem de ônibus , sabe 25 minutos as vezes
podem parecer 1 dia dentro de uma cabeça cheia de monólogos chatos e que
te consomem lentamente , um ritmo mais lento agora , o coração pulsando
mais lentamente , chutaria que depois disso tudo , ainda nem deveria ser 11 :
30 , andando pelas ruas , chegando aos muros de Cambridge , aquela
sensação tranquila , parece que um par de mãos estivessem modelando o
ritmo dos meus batimentos , era como se tudo estivesse um pouco mais lento
.

A visão que eu tinha , um sol quase no meio daquela imensidão turquesa a


qual se mesclava com uma neve aquosa conhecida como nuvens , sempre
moldáveis e ainda sim impossíveis de tocar , abaixo , um campo verde bem
claro , macieiras , adolescentes , igual a mim , não tão iguais assim , lendo ,
conversando , beijando , sendo pessoas normais , essa visão poderia
facilmente ser gravada para um filme de colegial genérico , mas , essa é a
minha visão de mundo , não compartilho esse tipo de coisa facilmente com os
outros .

Aquele frio, mesmo com aquele sol ascendente, aquela sensação de conforto,
eu vou caminhando pelo campus, entrando por dentro dele, entre os
corredores, aqueles filetes claros brancos com o papel, não me fizeram pensar
em muita coisa a não ser em manter segredo da Ellaine, e torcer para
ninguém ter tido a mesma ideia do que eu, chego finalmente na sala, ah, mas
que sensação ótima.
Isso uito o , ve esse e á io ue e e ete e ta ostalgia, as
partículas de poeira, indo pelos filetes esbranquiçados de luz, é como se você
visse uma distinção entre o micro e o macro de ambas as realidades, não me
custa ficar sentado aproveitando esse momento de quietude, apenas
reflexionando com meus pensamentos, e como um dia pode me custar tantas
coisas.

A vida é muito curta para não se aproveitar desses momentos, volto aos
contos de García Márquez, aquela leitura rítmica a qual me impressionava, os
personagens os quais se encaixavam em um mundo crível, é engraçado
pensar;

Essas pessoas já pensaram se algum dia elas poderiam estar se considerando


em uma realidade falsa? E perceber que seus destinos são escritos por uma
pessoa imaginativa, ou depressiva ao ponto de retratar seus pontos fortes e
fracos nos personagens? Isso seria algo tão irracional quanto pensar que isso
talvez fosse u a e ti a, ulti a e te ada ais i a editável.

A leitura se compassava, o tempo corria como se fosse uma checagem de


raios por volta de uma circunferência, até que os meus ouvidos escutam um
ríspido e at de e ta idade u Olá , elevo eu olha pa a tal o p i e to.

– Hu , olá ….

Após a vista, percebo que era o professor Richter, um senhor de meia idade,
barbudo, cabelo bem-arrumado, uma figura que aspirava de humor a
seriedade em um mesmo timbre de voz, passava confiança pelo menos aos
meus olhos e ouvidos, tento retribuir com um começo de conversa com ele.

– Bem doutor, como foi a viagem até a universidade?


– Um grande inferno Charles, as ruas não eram mais como deveriam ser

– Entendo, ultimamente, eu meio que também tive bastantes experiências


duvidosas desde as 5 da manhã senhor.

– Como assim garoto? O que vem te assolando?

– Eu acho que meus quadros estão piorando doutor, acho que a Amissulprida
está perdendo seu efeito mais rápido do que deveria, pelo menos na minha
relatividade de tempo.

– Hum, eu meio que posso te entender Charles, você sofre com isso faz quase
sua vida inteira pelo que o seu antigo psiquiatra vem me passando.

– Não sabia que o senhor conhecia a Doutora Ingride senhor, ela vinha sendo
a única me acompanhando, quanto a isso, eu ando muito sem rumo
e tal e te fala do, eu …. Ah eu ape as te ho ue e fo a .

Ele vem no seu ritmo, subindo pelas escadas, assim como alguém que
aparentemente machucou feio o joelho durante um acidente passado, mas,
mesmo assim, com um sorriso mais forte que toda a morfina que eu poderia
cheirar.

– Se acalme Charlie, vai tudo ficar bem, você não confia em mim?

Meus olhos, eles viram para todos os lados, essa voz, essa VOX, não era real
não poderia ser, essa voz, daquela mulher ruiva, o porquê de me perseguir,
por quê? O que eu estava vendo não poderia ser real.

Ela estava a minha esquerda, roupas extravagantes, cabelo arrumado com


um rabinho de cavalo, maquiagem leve, olhos brilhantes, eu estava ficando
louco? Não, a diferença é, eu não quero acreditar que eu sou um, eu tento
dispersar essa ilusão lúcida do ambiente e tento voltar ao papo com o Doutor.
– Doutor, eu poderia começar o tratamento um pouco após as aulas?

– Bom, sim eu acho, mas o porquê do adiantamento de tal coisa?

– É que eu não sou muito bom em fazer surpresas e gostaria de matar o


tempo com a terapia, creio que o senhor também poderia me ajudar com
algumas coisas também.

– Creio que sim Charles, mas, e meu livro que eu tinha te emprestado de
Pavlov?

– Ah, está aqui. Um minuto por favor.

Lenta e vagarosamente eu vou puxando o exemplar da mochila, minhas mãos


vão t e e do devido ao fato da uela ga ota esta le ta e te se
aproximando, isso realmente me faz me sentir desconfortável, mas não ao
ponto de surtar.

– Charles você está bem? Você está tremendo rapaz.

– Ora vamos Charlie, eu não dou tanto medo assim, olha, tá muito quente aqui
não acha, esse sol hoje parece que vai render, não concorda, doutor?

– Claro, espero que as aulas passem mais rápido do que deveriam, esse terno
geralmente começa a se tornar desagradável depois de um tempo nessas
situações.

– Viu? Eu sou tão real quanto você Charlie, não precisa ficar em pânico, eu só
sou sua amiga ... Eu só vou cuidar de você

O ue vo ue dize o uida ? Po ue vo está a ui, o o? Eu ão


estou entendendo mais nada, isso não faz mais sentido, eu nem sequer
conheço o seu nome e eu já acordei com você do seu lado, eu nem sei ao
e os se eu estou a o dado ou e u so ho lú ido ais, ada faz se tido.
– Não se preocupe, eu sou tão real como você é real, isso, você poderia
apostar sua vida nisso, por enquanto eu tenho de sair um pouco.

A garota, acaba por deixar o cômodo, eu fico espantado com a naturalidade


do doutor Richter, aquilo tinha sido um fenômeno real? Uma alusão a falta de
Amissulprida no meu corpo? Eu não conseguia parar de tremer.

– Charles se acalme meu jovem, o que aconteceu?

– Não é nada doutor, só está um pouco quente ultimamente e a pressão está


baixa senhor.

– Me perdoe doutor, mas eu tenho fazer algo, logo eu volto, eu tenho de


procurar por uma pessoa primeiro.

Após aquela breve conversa com o doutor, muitas coisas se passavam por
aquela caixa feita de uma madeira velha conhecida como minha cabeça,
corroída pelas incertezas trazidas dentre as linhas amarradas e entrelaçadas
por entre ela conhecidos como pensamentos, os quais se fixavam no fundo da
minha cabeça.

Aquilo, a garota ruiva, poderia ser realmente fruto da minha cabeça, poderia
ser algo ou alguém a qual simplesmente eu implantaria diante das minhas
sensações do meu ser empírico? Nada mais faz sentido, até mesmo a
realidade.

Aquela postura vivida como a de uma garotinha , aquele olhar fixante a qual
eu poderia ver por horas , não , messes ; aqueles olhos verdes os quais
lembram o pomar o qual eu sempre ia escondido pegar algumas frutas para
comer e procrastinar nas férias , não , aquela postura era a de alguém
conhecida a anos por mim , realmente minha cabeça está difícil de se montar
hoje , a única coisa que me resta é esperar pelo compromisso o qual me
concedi minha manhã para fazer com que aquilo se tornasse algo po tual .

A aula estava prestes a começar, do amontoado de pessoas as quais


adentravam pela sala, baixas, altas, gordas e magras, de várias etnias, as quais
eu chamava de colegas, não passavam de estranhas, as quais apenas se
deixavam amostra com suas mímicas, comportamentos simples e quebradiços
os quais não sequer expressavam seus verdadeiros sentimentos e hábitos, não
passavam de desconhecidos aos meus olhos, menos uma, a doce Elie a qual
sentava do meu lado.

Cabelos castanhos e sedosos, na maioria das vezes curtos, aquela pele branca
mas de cor saudável, macia como uma seda bem costurada, olhos vividos da
cor do mel recém-tirado da colmeia, uma fragrância a qual me remetia aos
doces dias os quais eu me sentia estranho, mas contente por alguma curiosa
razão, parecia mais uma doce rosa reservada, não, guardada no fundo de uma
floricultura, como um precioso e raro tesouro, o qual era lacrado a sete
chaves.

A toda via , ela viu algo em mim , esse ser pálido e amórfico , o qual vem com
sua carranca esbranquiçada reservar um pouco a mais de sabedoria e
conhecimento diante de seu imenso vazio dentro de seu corpo , sempre com
um sorriso ao me ver , começava a falar comigo , perguntar mais sobre mim ,
começar a jogar palavras junto e contra mim , e com o tempo eu ia
percebendo algo que passava despercebido a tempos , era como se aquela
carranca mórbida e lapsa começasse a ser preenchida por um doce vinho
quente , um calor o qual preenchia meu corpo , assim como uma doce
sinfonia escrita por Bachi.

Aquelas vestimentas vermelhas, aquela mesma cara a qual parecia ter saído
de uma pintura contemporânea, uma garota de olhar firme mas reservado ao
mesmo tempo, está a qual eu fiquei fazendo meu longo mas estimulante
diálogo estava a minha frente, minha melhor amiga, Elaine ou Eli e depois de
u s o s t s ou uat o Ma ti i’s, está a ual e e ep io a o u elo e
caloroso;

– Olá Charles, como você tá hoje?

– Ora Elie, como foi a sua manhã? - Elie? Ora vamos Charles seja mais formal,
onde está seu sangue britânico?
– Já leu a Divina Comédia ? O engraçado dos mortos é no fato que eles são
tudo , menos formais , vamos, se anima um pouco , eu sei que hoje é um dia
especial.
- Hum , e qual dia seria esse, senhor onisciência ?
- O dia em que você veio pra esse mundo é lógico.
- Você parece estar de bom humor não é , o que aconteceu ?
- Não bem humor , agitadamente nauseado .
- Meu deus Charles , tem certeza que consegue aguentar passar 4 horas
escutando o professor falar e falar direto , ah para , vamos me fala , o que
aconteceu ?
- Digamos que desde hoje de manhã eu não sei o que se pode ser chamado de
real , tudo normal de resto .
- Pra você saber , você quase sempre tá nessa situação , parece até que você
anda com o corpo , mas a sua cabeça , a sua mente , ela sempre parece estar
distante , como se ela estivesse em um lugar onde as outras pessoas não
poderiam incomodá-la .
- E seria o bom e velho eu se eu não estivesse viajando enquanto fico dentre o
meu dia a dia ? Vamos, eu tenho uma surpresa pra você.

Eu puxo os exemplares da coletânea e, sou pelo menos recebido com um


sorriso em sua troca, o que é difícil de se conseguir de uma pessoa que já tem
tudo.

A aula estava para começar, a jogatina de palavras e termos as quais eu


sempre me excitava ao especular, o Doutor Richter, um famoso psicólogo o
qual trabalhava na área da teoria das personalidades, do fato de o qual a
mente poderia ser mutável conforme o tempo sem a ação de fatores
patogênicos, era algo realmente fascinante.

O único motivo de eu realmente ter entrado nessa matéria, algo bobo que
sempre me vinha a mente, o quão uma pessoa é capaz de se matar para
poder se adequar a um grupo, algo banal para a visão de todos, mas desde
que eu era do tamanho da mesa de jantar, sempre me vinha perguntas como
po ue as pessoas faze isso ou porque aquela pessoa faz isso se isso faz
ela i feliz? , eu nunca pensei que esse tipo de pergunta ficaria grudada no
meu cérebro desse jeito, era algo realmente tosco de uma analítica
construtiva , mas eu me sinto bem junto a essa infantilidade congênita vindo
dos meus antigos pensamentos de uma infância a qual tive que suprimir , mas
de certa concordância , esse nunca será um pensamento falho aos meus olhos
, o quão as vezes uma pessoa desmancha seu ego para readequá-lo a um
g upo ou a u i lo o de se p e uis esta , os fa osos ostos pi tados .

Pessoas das quais perderam ou se livraram dos seus âmagos mais íntimos
ape as pa a a adu e e ou se ade ua do de u te o pa a ovos
ouvidos; evolui , de toda forma isso deixaria meus neurônios realmente se
desmanchando em dúvidas as quais eu talvez nunca poderia sequer
desvendar diante da forma em que me encontrava, era inútil ter tais
filamentos de opiniões como esta durante uma aula.

Algumas coisas que poderiam ser feitas durante esse começo de tarde seria
ao menos marcar aquilo que eu achava interessante, pelo menos enquanto eu
estivesse o al, eus aços e pe as estão sup i idos do eu o po , já
não conseguia mais ver tranquilamente a bela vista do quadro-negro.

A dose excessiva de Amissulprida as vezes traz consequências que nem os


piores transtornos poderiam trazer, ah sim, aquela sensação onde você já não
tem mais um corpo, mas sim uma casca vazia, a crisalidada de uma cor
cadavérica, preenchia o espaço onde sentava com seus braços e pernas
suprimidos por lentas e calmas passagens de sangue por todo o seu corpo.

Minha condição se passava despercebida pelos olhos de todos , eu era apenas


mais um boneco o qual tivera suas cordas cortadas , meus braços e pernas
reprimidos pelas sinapses inutilizadas durante a conversão de informação ,
isso ao menos , até que longos e sedosos fios de castanheiras desciam até
meu pescoço e com isso apenas uma frase : - Você está bem ? Meu
pescoço , meus lábios , minhas pálpebras abertas e estiradas junto à aqueles
olhos de tom esverdeados da cor de uma relva esbravecida a uma manhã de
outono apenas restringindo ao pouco meus músculos , aquela bela mulher a
minha vista , apenas me mostrando um sorriso o qual se lia de uma
petulância maquiavélica porém agradável e caloroso de uma forma a qual
nem mesmo eu conseguiria entender , algo apenas instintivo.

Aquelas mãos simplesmente iam passando por todo aquele cadáver


entorpecido conhecido como eu, chegando até onde estariam os meus lábios,
mas ela não os tocava suavemente, e sim os trespassava com seus dedos e
apenas seguiu com uma palavra a qual parecia que meus ouvidos estavam
elucidados pela dose em excesso, apenas escutando aquela voz fina mas
perseverante diante da minha condição, apenas, apenas ...... por favor, eu já
não sei mais como me construir e você sabe disso.

-Sim eu sei muito bem, na verdade eu sei muito mais que você.

Você pelos menos deve me conhecer melhor do que a mim mesmo, eu nem
ao menos sei o seu nome, e você, mesmo assim continua a me perseguir
diante desse dia onde eu já não sei o que poderia me considerar como
normalidade, na verdade é o meu mártir e você sabe muito bem o que eu
desejo mais que tudo.

Você sempre me viu nos cantos da casa em meio a serenada lá fora , sempre
foi você aquela que me acompanhou e mesmo assim eu não sei seu nome .
-Você não precisa de uma marcação por escrito para me compreender Charles
, você nunca precisou , e além disso mesmo que você sempre me dê um nome ,
apelido , quem sabe até uma citação de um dos muitos livros que você leia
constantemente para preencher esse vazio incessante o qual você tenta
reprimir mesmo nem lembrando , você sempre será meu e de mais ninguém ,
você sempre pertenceu a mim meu pequeno e doce Charlie.

Eu não senti nada mais que o impacto de tais palavras caindo sobre o meu
corpo entorpecido , pequenas mãos de tom esmaecido passando por todo o
meu corpo , minha mente desencadeando a qual já deveria ter feito a tempos
, ou, pelo menos, não tê-la retrancada a , uma plasticidade suave diante de
seus movimentos , ela saia lentamente de minhas costas , meus músculos
retomavam aquilo que estava morto , meus dedos , até mesmo as minhas
escleras estavam clareando , e eu dou se não , uma grande piscada para
esvaecer minha vista do que estava acontecendo realmente .
Meu corpo ao invés de elucidado e mórbido diante do assento, como uma
vez sentira, estava nada mais que simplesmente tomando por completo as
anotações que o professor Richter passa, seguindo perfeitamente um ritmo
que beirava a coordenação neural e de minhas capacidade físicas.

Eu estava em um estado longe de uma insanidade patológica falando de


linguagem corporal, meu corpo estava habituado e sadio, mas como? Eu
estava sendo cortejado por uma doce visão a qual não poderia dizer se era
real ou não, nada mais me faria sentido depois disso, simplesmente não tinha
como.

– Agora você entende Charles?

A mesma voz de agora pouco me convém com essas palavras, as quais vinham
do mesmo sentido da direção da Elie, meus músculos estavam frívolos em
reação a isso, seria então realidade ou apenas mais um delírio?
Minha cabeça não passava mais a impressão de lucidez, o que me restava
poucas opções para aquilo era simplesmente me afundar naquele profundo
fluxo denso de pensamentos.

As aulas foram se passando, os vitrais com aqueles filetes esbranquiçados de


luz agora não passavam do que grandes linhas de um âmbar denso, a tarde
havia chegado e com isso o fim das aulas.

Conforme a sala ia se esvaziando, minhas sensações táteis voltavam aos


poucos, meus pensamentos se encontravam uma bagunça, do tipo, eu tive
todo aquele processo mórfico, não, não, estava mais para um processo de
impotência, eu de certa forma acabei por me tornar uma casca para que algo
que morava mais afundo da minha própria morada impenetrável pudesse ter
tomado conta antes que eu percebesse.

Essa epifania complexa poderia ser deixado de lado por alguns momentos, já
que meus ouvidos se regulavam a medida de uma doce voz;

– Você está bem?

Aquela doce garota a qual me referi como amiga, pele meio corada devido ao
clima ríspido, segurando o caderno na mão, algo que eu crera ser bem real, ou
ao menos tátil.

–Sim, eu estou é muito bem , revigorado na verdade , mas então vai


aproveitar esse dia ?
– Na verdade eu tinha alguns planos sim , eu estava pensando em sair um
pouco, tomar um café , passear , ler um pouco , já que eu tenho essas
maravilhas na mochila , realmente obrigada , eu estou muito feliz por você ter
lembrado que eu estava louca por eles...
– Bom é que... você sabe, é, eu estou sem jeito realmente , foi um tiro no
escuro eu sei que você adora essas histórias de terror malucas e fantasiosas .

– Mas Elie, por favor, vá aproveitar seu dia, eu estou bem, só relaxa

– Certo, mas eu quero pedir uma coisa.

– O que por exemplo?

– Me surpreenda.

– É o que.... Ei! Espera Elaine.

E com isso a menina dos cabelos cor de mel saiu, se não por vultos, como
descreveria, só sei que meu dia estava apenas esperando para realmente
começar, aquela epifania, aquela confusão, tudo só poderia ser explicado
diante de alguém que me conhecia, até que eu poderia dizer, e essa pessoa
era o Dr Richter.

Sim, àquela hora finalmente chegou, a hora onde eu me ponho diante de


uma sanção a qual viria a ser o resultado das interrogações perante uma
pessoa a qual pode definir o que é isso, definir essa questão que é tão
imperceptível aos meus hábitos.

-Me conte mais sobre a sua semana Charles, alguma recorrência recente?
Algu a e aída, a uela pessoa o ti ua vi do aos seus lapsos?

– Doutor, olha, eu não sei mais como dizer – lentamente começa a escorrer
umas poucas lágrimas sem sentido – na verdade, eu pertenço àquilo que para
os outros não existe.

– Mas como assim Charles? Você não se compreende mais. Não é?

– Creio que sim doutor, meus devaneios, já não se encontram mais dentro de
minha mente, mas sim vivendo ao meu lado, posso senti-los, tocá-los, até
mesmo ser controlado por eles, contudo, não me deixo ser a mente por trás
desta crisálida a qual o senhor conhece doutor?
– E quem seria a brilhante mente por trás deste inteligente e brilhante jovem,
o qual tem um futuro promissor como meu assistente e futuro graduado?

- U a pessoa de uitos ostos, po , u deles ai da ão se desg udou


completamente, uma androgenia, um significado ou uma criação a qual se
apoderou de seu criador, essa pessoa sou eu douto .

-Certamente, eu entendo, você não está tomando o antipsicótico.

– Pois bem Charles, me mostre a cartela por favor.

-Claro doutor.

Do meu bolso, o doutor puxa minha cartela para emergências, seriamente, ele
duvidando de mim no começo me fez ficar um pouco irritado, mas, quando eu
vi, ah sim, as pílulas se esfarelando como farinha;

– Placebo, Charles, estava enganando ou depreciando seu organismo por


quanto tempo? Melhor, por quanto tempo você acha que isso vai te controlar,
você está quase além das expectativas pro seu quadro medicinal.

– De toda forma doutor, creio que quando se está no fundo do poço, ainda se
tem luz, e com essa luz se vez o caminho de pedras a se escalar até o topo, me
mostre a verdadeira luz, não aquela que faz seu reflexo na água, mas sim
aquela de desce dos céus com sua harmonia.

– Certo Charles, faça o seguinte, vá e deite naquela poltrona, iremos para o


p xi o estágio de t ata e to, a tes ue vo deixe de se vo .

– Obrigado, doutor.

Após o pedido , meu corpo se encontrava um pouco abalado mas ainda sim
revigorado , de fundo era como se houvesse , não tenho como explicar direito
, uma emoção ou dor a qual vinha do buraco entre meu peito , aquilo de
certa forma me fazia me sentir vazio , mas pelo que me vinha era agora era
eu me sentando naquele divã acolchoado e bem confortável , aconchegante e
de tal modo também um pouco chato.

-Pois bem , meu jovem , eu vou apenas fazer um processo bem divertido , por
assim dizer , espero que você aproveite a experiência .

– E o que seria tal processo doutor?

- É e si ples , eu vou eio ue faze o ue vo se visite , sa e ão


conhecemos o mundo até ao passo em que nós nos realmente nos
o he e os , vo vai visita a uilo ue vo se p e ha ou de aixa de
filetes de papel , pelo e os foi se p e assi ue vo e des eveu essa
mente , realmente Charles , você é um adepto à poesia , e isso torna as coisas
mais leves para se ajudar um bom amigo.

Meus olhos estavam sonolentos , por alguma razão , as palavras do doutor já


não me alcançavam , a única coisa a qual me alcançava , era uma frase um
pou o dista te dia te dos eus ouvidos , ju to a i ha visão , já p egada ,
u o edo a hado po u a es u idão dista te , essa era a frase a qual
eu abri os meus olhos , este quarto agora , nada mais é que um espaço negro
, o confortável divã já não jazia mais ali , não tinha mais nada a se ver , apenas
o negro , meu corpo agora içado pela minha vontade morosa, me carrega
diante de um corredor sem paredes findáveis , por mais que eu não pudesse
ver , sentia o chão gelado estriando pelos meus pés .

Ah , sim , aquela caminhada mórbida , andar pesado , a escuridão ainda


preenchia os meus olhos , já havia perdido o meu sentido de tempo , se
passou um tempo no qual eu não sabia se números poderiam medir , minha
pele de certa forma , carecia do seu colágenos , sentia como se meus
músculos estivessem lentamente se rasgando , era doloroso a um ponto onde
não entendia como ainda estava a andar , isso se passou , com o tempo , já
não sentia meus braços , a cabeça estava cabisbaixa , um leve comichão se
espalhou , um breve calor , algo bom , me fez olhar diante dessa imensidão ,
algo levantou aquilo o que seria os meus braços , me fizeram me encontrar
diante de paredes frias de um gesso sólido , mas ainda não visível .

Eu estava muito cansado, mas minhas pernas ainda se movem, ainda s


estriando devido ao frio daquele cômodo solitário, o meu corpo, eu sentia que
ele estava seco como uma casca, eu estava fraco, apenas me escorando pela
parede, meus olhos estavam cansados, po ue eu estou a ui? , isso é
engraçado, o que já seria esse lugar tão imenso, solitário e inesperadamente
op esso dia te do ada ue se ia este eu ?

Às vezes , eu me escondia dentro do armário do meu quarto quando era


pequeno , eu nunca me entendi por ter tal hobby , mas eu me sentia seguro
quanto aquilo , como o meu corpo era mirrado , então , eu ficava entre as
cobertas , ah sim , eu me sentia dentro de um casulo fofinho , dentro da
escuridão do armário eu ficava retido dentro de meu próprio conforto ,
aquele sempre foi o meu lugarzinho especial , depois com o tempo eu
percebia que lugares especiais não te fazem ficar em um mundo onde nada
te afeta , mesmo que eu nunca me esqueça de como era aconchegante ficar
entre as cobertas e a um escurinho saudável onde eu só sentia tal pelúcia
encobrindo o meu corpinho mirrado .

Esse pensamento sobre aquele casulo de cobertas quentes , aso contrário de


uma solidão fria diante de uma escuridão infindável , um frio realmente
crepitante , e eu me escorando pelas paredes do que eu pensava ser um
mármore , até pelo menos enxergar um fino pontinho branco , u po to
a o , isso pode ia se u i fi ito de oisas , isso é o que eu pensava
diante daquilo , mas de alguma forma isso me atraia com uma compulsão que
já não era mais de meu corpo , parecia mais que algo estava me levando , ou
melhor me arrastando até lá , mesmo até quando eu sentia que eu não tinha
mais a minha vontade de continuar.

Conforme aquela carcaça enchumbada se movimentava contra a minha


vontade , eu apenas poderia me sentir impotente , algo diante a mim do
qual me movia contra minha vontade , algo que me oprimia para chegar até
seu objetivo , aquela mancha branca , a qual já tinha uma forma aparente de
um quadro retangular , nada mais me parecia se estender diante daquele
corredor , apenas aquela , que agora estava mais clara , uma porta , de
certa forma familiar , na verdade era estranhamente familiar .

A razão já não estava mais ali, minha pele estava seca como folhas
ressecadas, era como se eu já estivesse morto, mas estranhamente minhas
pernas já não me obedeciam, a passos rasos e lentos, carcaça corcunda e
encolhida, braços mórbidos, uma vontade que não era mais minha, o objetivo
daquela porta era algo que nem mesmo eu compreendia, por que diabos uma
porta jazia ali? O do porquê de eu continuar andando, eu só quero é me
encostar em um canto, descansar e quem sabe nunca mais acordar, apenas
me esfarelar em um canto onde ninguém venha me ver, para que esta solidão
vire a paz de alguém cujo foi abandonado até por um deus o qual nunca se
manifestou.

Meus olhos já não viam mais , aquele pequeno ponto branco esmaeceu
diante das minhas pupilas , eu apenas sentia algo fluido , não mais carne e
osso , decrépitos , não , eu andava agora , diante de um vasto campo onde
meus olhos não captavam mais nada , por um instante de agonia pensei ter
sentido tal felicidade de ter deixado de existir , até que eu simplesmente senti
mãos suaves , doces mãos suaves , aquelas das quais sempre te protegiam
quando você era pequeno e indefeso , as mãos as quais nunca tocaram meu
cadáver , agora já externo , e vagarosamente decrépito, apenas a vagar por
uma sala com o chão acoberto por rosas negras como o chorume o qual
escorria pelos meus olhos , aquele mármore negro , fria solidez para minha
alma apodrecida , e eu segui , já sem olhos para ver , pernas laceradas
caminhando perante um corredor sem um comprimento alcançável , a única
coisa a qual me fazia continuar era provavelmente aquilo o que sustentava
meu corpo , já sem forma conhecida .
Fico me perguntando quanto a isso ,tais mãos suaves , me reconfortavam ,
me seguravam com carinho e afeto , o afeto o qual sempre sonhei , desde de
quando eu era uma garotinho , os dias sozinhos que eu passava de noite ,
chorando baixinho , agarradinho com meu travesseiro , como se eu quisesse
ser amado , acariciado , protegido , mas isso nunca aconteceu , no fim , eu
acabava chorando baixinho , para não acordar ela , acabava sussurrando
baixinho o seu nome , pedindo pra ela me amar e cuidar de mim , mas ela
nunca vinha .

Quem vinha realmente, eu não lembro muito bem, mas me segurava dessa
mesma forma carinhosa da qual segura esse corpo mórbido, me colocava
entre o seu colo, acariciava o fino cabelo que ainda tenho, dizia baixinho no
eu ouvido al a eu do i ho, eu se p e esta ei a ui pa a uida de vo ,
já que você é meu, e somente meu, eu prometo, eu sempre vou cuidar de
vo , isso eu te ga a to , e olo ava p a do i aga adi ho a ela e ão
mais ao travesseiro, puxava os cobertores, segurava minha cabeça de forma
reconfortante e, por fim, desligava as luzes e dizia oa oite do i ho e eu
era apaziguado de toda a dor e medo que eu tinha

Minha mente vazia permutava entre angústias presentes e reconfortos


passados , a caminhada continuava , minhas nuances eram confusa , isso , até
escutar um abafamento , não de algo externo mas de mim mesmo , um
abafamento da minha respiração, minhas pernas , agora trêmulas , meu
coração batendo rápido , bombeando o sangue do qual já estava seco , o
fervendo de certa forma , aquele toque o qual sentia , agora parecia que
havia incorporado em meu ser , minha brisa interna estava para uma fraca luz
diante daquele túnel , sim agora um túnel e não mais um corredor , as gotas
pingando , meus olhos já cegos com o breu o qual me acobertava , essa , é a
minha sensação de agonia , asfixia , ansiedade , continuo a andar reto , com a
força que me foi emprestada .

O tempo , já não existe mais , de volta à exaustão após um pico de renovação


, minha chama queimava calma e franzina agora , até que , o corredor
começava a se estreitar como uma gruta , uma daquelas apertadas e frias ,
mas de uma forma estranha , meus lábios começaram a se estreitar e se
alongar , como em um sorriso sádico , era como se o meu corpo já soubesse
que estava próximo a porta , meus músculos se contradiziam em tal gozo , a
surpresa de abrir meus olhos , sentir a volta de meus dedos e corpo , a
ansiedade que me colocava no colapso , e diante de meu colapso diante à
minha anomia pessoal , meus braços retomados ao meu controle , se
seguravam em uma força bruta , aquele sorriso devido a uma felicidade
súbita , começou a ficar vivo , não por regozijar-se em uma felicidade direta ,
mas sim pela surpresa e medo que , quando abro meus olhos , vejo a porta.

Extravagante, cheia de requintes e ornamentos, pequenos filetes de um cristal


envidraçado pelo verniz, maçaneta de cristal, era como se aquilo fosse a porta
para a saída, mas a saída, a qual me traz a novidade, também não me traria a
ruína? Braços enganchados pela ansiedade, abaixo meus abafar de risos
desgraçados pela curiosidade levanto-me de meu peso, minha cabeça, depois
de tais aflições, está clara, tenho de me libertar desta ansiedade e aceitar o
que verei por aquela porta, mesmo que seja o meu descanso por toda uma
vida.

Leve e aerado, meu corpo prossegue um pouco achatado por aquele espaço
estreito do tamanho daquela porta, o qual apenas segura na maçaneta de
forma automática, e apenas fecho meus olhos com um sorriso de redenção
expressada pelos cantos da boca, e assim abro aquela porta de madeira,
pesada como mogno sólido, e finalmente entro em um lugar com uma
sensação extremamente agradável, porém simples.
Capítulo III: o paradoxo dos oprimidos
Ao passar pela porta , minha visão está sensível , diria que ela se
comprometeu à escuridão , sabe , esse cômodo me é reconfortante , a volta
do tempo ao meu presente , eu estou aonde mais queria estar , minha casa ,
agora já escura e apenas com a vidraça do quarto iluminando o apartamento
com a cor amarelada dos postes nas ruas abaixo , está frio , e eu , como a
tremenda anta bem-vestida que sou , apenas saí de blazer , mas não me cabe
reclamar , apenas estou cansado de mais , até mesmo para pensar , pensar é
algo que consome a energia e o seu ânimo.

Isso não é surpresa, é um apartamento simples, portas não existem por quase
todos os cômodos, a não ser pelo banheiro pelo amor de Yahweh, não que
isso dependa dele ou de algum outro ser transcendental, mas isso não vem ao
caso, o quarto, por sua vez, uma cama confortável e um grande vitral
transparente com persianas de cortiça ao longo dos vidros, já pensei em tirá-
las todas, mas por esse bairro, privacidade é algo escasso, pelo menos eu
ainda tenho o quarto e de certa forma um pouco de comodidade , e quase
todo o tempo do mundo pra pensar nas coisas que me fazem querer segurar o
choro.

Eu caio de braços esparramados diante de minha cama, um colchão duro


como pedra, mas estranhamente depois de já não ter tido um corpo uma vez,
está mais macio que um grande travesseiro de plumas fofinhas, olhos mais
pesados, estou pronto para quem sabe nunca mais acordar dessa piada de
mau gosto, despeço-me disso tudo, mas ainda tem um maldito comichão
ecoando, uma voz fininha me chamando:

- Charles, não durma ainda, não vai dar nem ao menos um oi para o seu
companheiro de quarto?

– Seja lá quem for, duas coisas, a primeira delas é, cai fora do meu
apartamento, eu já passei por muita coisa hoje pra considerar esse como mais
um dia normal, e segunda, se você não der o fora, eu juro por tudo quanto é
deus, que eu vou é quebrar o seu maldito focinho meu caro colega.
– Mas quem disse que eu tenho focinho para se quebrar ou pernas para sair
Charles?
– Como assim? – Literalmente, eu já desisti de entender tudo o que tá
acontecendo, só tá sendo um grande dia ruim. – Então me diga meu caro
amigo cotoco, quem seria você?

Um longo silêncio ecoa pela casa , um silencio cômodo , limpo como um


silencio de funeral , até que a mesma voz , agora um pouco mais sínica aos
meus ouvidos , se espaça por entre a casa :

– Seu melhor e provavelmente único amigo , você jurou que jamais esqueceria
de mim e sempre me trataria bem , lembra ?
– Agora eu to lembrado , desculpa pela grosseria peixinho .

Que maravilha , ainda dentro dessa epifania que é o meu mundo , já nem ligo
mais o que me deixa de ser real ou não , o que realmente prevalece pela
minha cabeça é o frio do meu quarto , nada mais a pensar , apenas que eu
não conseguiria meu descanso tão facilmente , meus olhos terminaram de
lacrimejar levemente , eu estava cansado , mas sem conseguir dormir ,
mesmo diante de minha loucura em plena noite , olhos ardentes braços
mortos , eu pergunto :

– Sabe a razão de eu estar aqui peixinho ?


– Qual seria Charles – pergunta o peixinho , o qual não é muito de se crer que
um peixe falaria diante disso tudo , eu estava errado. – Você está sempre tão
cabisbaixo , pensativo , sempre morrendo pelos cantos , você parece que já
não quer mais viver , essa seria a razão ?
– Quase isso peixinho , sabe , eu acho bobo te falar isso , mas , eu por acaso já
falei o porquê de eu ser assim ? Eu me deprimo pois eu sou incapaz .
– Incapaz de quê Charles ?
– Incapaz de aceitar que eu vivo , incapaz de aceitar que eu tenho de ser feliz
para que a sociedade me veja como um ser normal , eu apenas só quero ficar
num canto e morrer , só isso , eu simplesmente só to cansado de viver , de ter
uma rotina , eu só quero é ficar em um canto encolhido dormindo e morrer
logo .
– Charles , você sabe como eu vim a te conhecer não é ?
– Claro que sim peixinho , eu lembro bem daquele dia , a vizinha tava se
mudando , eu estava fazendo uma faxina pela casa , tava fazendo até um calor
considerável , estava um pouco feliz , olhava de relance pela porta que ia pro
corredor , a vizinha parecia meio pomposa , mas era jovem , cativante , tinha
cabelos claros , uma pele branca e limpa , não foi a demorar que deu pra ouvir
um barulho de vidro se espatifando ,fui quase que automaticamente
procurando ajudar e tentando saber o que tinha acontecido , e lá estava você ,
sufocando no piso , como se o ar fosse enxofre , eu me prestei a ajudar a
moça e coloquei você em um aquário que eu usava para colocar as moedas ,
chaves e coisas do tipo , como agradecimento ela me deu você .
– Agora pare e pense Charles , você me colocou mesmo que sem perceber
como um ser defensivo , desde o inicio da minha vida eu fui subjugado pela
mão da humanidade , eu sempre fui ordenado a ir a lugares e viver preso em
aquários dos quais eu nem tive a chance de escolher ,sabe o que isso significa
?
– Mais ou menos , mas eu quero ouvir com as suas palavras.

– Um ciclo vicioso de opressão , vocês sempre querem controlar tudo , serem


os donos do mundo , sempre com tudo nas suas mãos , seus jogos bobos de
sociedade e trabalho , o vai e vem de todos os dias você saindo e chegando ,
por quê ? Só me responde o porquê de tudo isso ?
– Que maravilha, um peixe me ensinando sobre sociologia , escuta aqui , tem
u a oisa ha ada o igaç es ue te i pede de se u vaga u do
utópico, ou apenas um peso morto em reclusão , você acha mesmo que eu
adoro ter uma rotina ? Você acha mesmo que , eu , uma pessoa que nem sabe
mais o que quer da vida , do tempo e de toda as outras coisas que passam
pela minha cabeça , quer mesmo seguir um rumo prescrito por um Magnum
opus da casualidade ? Se eu realmente tivesse um livre arbítrio eu já teria me
desfeito a tempos .
- Entenda uma coisa peixinho , meus caminhos estão mortos , minha mente
permanece enterrada , tudo que reside no que era para ser aquilo onde você
compreende sobre mim , não passa de uma casca , velha e afundada , sem
esperança , apenas esperando pra deixar de existir , sendo levada por um
sopro calmo feito por ela .
-E quem seria ela , eu já me perguntei , quem ela é ? Como ela é ? Como ela
pode te reduzir a um estado tão deplorável ? Você ainda é você , ora Deus !
Não desista da sua consciência ainda , você tem tanto pela frente .
-E o que seria ? Uma vida tediosa ? Solitária ? Medíocre ? ATÉ QUE PONTO
VIVER É BOM ? Eu só quero é acabar com o meu estigma , poder deitar na
minha cama , fechar os meus olhos com paz e serenidade , e assim poder
sangrar ao longo de uma noite tranquila até meu corpo secar , eu só quero me
afundar em uma cama quentinha e poder me sentir confortável novamente .
-Peixinho , eu tenho uma pergunta pra você – agora quem se movia pela casa
era eu , até me sentar perto do vitral , que agora estava tremendo devido a
grande nevasca que se fazia lá fora , um estranho espasmo percorre pelo meu
corpo , como um grande garrote pelas minhas costelas , tal como se fosse
para eu não dormir ainda . - Você já pensou no porquê de existir a vida ? E do
porquê das criaturas serem submetidas a ordens estúpidas e repreensivas ?
Esse porquê eu infelizmente já respondi por minha visão , mas por favor , eu
gostaria de ver pelos seus olhos , me mostre a sua razão .
-é a soberania do ciclo da estupidez Charles , é um vício da própria vida ,
desde os seres mais simples aos mais complexos , eu não consegui fugir desse
ciclo , e hoje eu vivo preso , dentro do meu pequeno mundo de vidro ,não
quer dizer que eu não goste , mas , eu me prendi a uma rotina , assim como
você .
-Eu sei bem quanto isso , mas peixinho, uma ultima pergunta .
-E qual seria ela Charles ?
-Você tem medo de deixar de existir ?

Essas palavras saíram da minha boca de forma tão simples , era como se tudo
aquilo , tudo o que eu já passei , não dependesse mais de mim , ou apenas de
i pa a se o Cha les , eu s sou u a peça velha e solta , as , es o
assim , isso me veio com tanta facilidade .

-A morte é uma coisa natural Charles , eu não tenho como sentir medo ,
felicidade , tristeza , nem emitir isso , eu sou um simples peixe conceituado .
-Não falo em morte , falo em deixar de existir
-Mas isso envolve morrer , não ?
-Sim e não , a morte chega a todos , mas o ego morre diante da fraqueza do
espírito , eu só quero deixar de existir peixinho .
-E você vai se deixar ser sobreposto por ela , se não me engano ?
-Talvez , eu sou covarde demais pra simplesmente ceder minha parte à ela , é
como se , eu quisesse que ela fosse me acompanhando ao longo dessa ida ,
mas ao mesmo tempo tenho medo .

Eu tenho medo,isso ecoa pela minha cabeça naquele cômodo escuro , frio ,
desolado mesmo que eu tente esconder o que eu sinto , ela vai descobrir ,
não importa o quanto eu grite por dentro , ninguém vai vir me ajudar , só ela .
-Eu estou sozinho nesse mundo peixinho , e eu creio que você sabe do que eu
estou falando

-E como afirma isso ? Você vive em meio de várias pessoas


-Errado , eu nunca pedi por elas na minha vida , eu só sou uma pessoa sozinha
, eu nasci sozinho , e eu vou perecer sozinho.
- Eu nunca sequer tive uma chance nesse mundo .

Algo está diferente , eu não queria ter falado isso , por mais que seja uma
triste verdade , meus braços e pernas, tão frios , congelando , o que me resta
é me encolher no parapeito do vitral ,

- Peixinho , eu aprendi uma coisa a muito tempo atrás , as vezes , você nasce
para a desgraça , eu mesmo não tive uma infância fácil , eu fui criado numa
casa velha , sozinho , nunca tive amigos , eu saia de noite indo no jardim , as
vezes eu me encontrava com um céu lindo , mas as vezes até a lua se recusava
a falar comigo , eu me sentia tão sozinho até que eu comecei a parar de
chorar , nada tava fazendo mais sentindo pra mim .
-EU ME SINTO QUEBRADO , E É UMA DOR DA QUAL EU NÃO CONSIGO
SUPORTAR ! - Essa sendo uma voz a qual não tinha saído de minha boca , eu
fico perplexo e olho ao meu redor .

Eis , ue eu vejo , ão e a s eu e ape as o eu o eu ua to , as si


vários de i , ada pa te i ha estava lá , eu dio , i ha t isteza , at
mesmo minha vontade de ser dominado e submetido , todos eles como
Charles Bennettital , todos eles como eu .

-Eu não consigo mais prosseguir , eu só quero encostar num canto e morrer -
um dizia pálido .
-Cale-se seu fraco , nós devemos permanecer perante àquela megera -disse o
outro com um rancor inigualável.
-Deixem o garoto escolher seus boçais , ele está apenas trincado como um
espelho jogado , está perdido , e vocês ainda o despedaçam mais e mais –
disse um Charles o qual estava ante a sombra .- Nós ainda somos ele , não
devemos permitir que ele deixe de ser ele , mas na verdade não se permite
sair dessa caixa de porcelana que você chama de mente não é garoto ?

Meus sentimentos estavam sujos , eu desisti de pensar , eu já sou um


espelho quebrado , um covarde e fraco , um impulso me convém pra isso tudo
, uma estralada contra os vidros da janela , um noite perfeita para ser apagado
pela neve .

- Eu já percebi isso faz um tempo , eu tenho o medo de tentar , mesmo se eu


falhe , eu sou o brigado a levantar , mas as minhas pernas não vão me deixar
levantar, talvez seja porque eu não mereça ou porque eu não quero lá no
fundo, eu sinto um misto conturbado quanto a isso .

-Querendo você ou não garoto , essa noite é o seu palco – disse agora um
rosto trincado o que era um Charles de outrora . – Você pode fazer tudo oque
vem na sua cabeça , pode reduzir tudo a nada pra você , correr o mais longe
que conseguir ou ficar sem mexer um dedo , pode quem sabe cortar seus
pulsos , se jogar pela janela , tudo depende do que você quer fazer .

As janelas estavam rangendo , as cortiças balançando , as luzes apagadas ,


agora só restava um Charles, confuso , deturpado pela sua imagem , aquelas
vozes vindas de agora , um grito equívoco de esperança , o espelho do
armário despedaçado, as mãos ensanguentadas de um eu formalmente
aterrorizado , ansioso , ofegante , fraco , sim , eu estava farto daquilo ,tudo
uma blasfêmia , uma maldição , o meu estigma.

Subi de leve no parapeito do vitral , dava para colocar o meu par de pernas e
ainda teria largura para que eu ficasse encostado na janela , mas dessa vez,
não tinha mais volta , aquela mesma palpitação, a tremedeira que eu não
tinha a semanas , o fôlego pesado , as pernas balançando como panos ao
vento , pendurado pelos meus finos e quebradiços dedos , esqueléticos porém
resistindo ao meu comando , como se quisessem se despedir de alguém
naquela sala , até que eu me virei , e disse

- Não é nada pessoal , mas , quantos andares você acha que eu vou começar
a sentir o desespero ?

- Sendo sincero ou sendo otimista garoto ? - Disse aquela voz entojada ,


porém ainda calma , quase que não notando o cinismo nas palavras . – Você
sabe que se você cair dessa altura, você não vai nem ao menos mexer um
dedo quando chegar ao chão , o porquê de tudo isso é algo tão simbólico ao
ponto de você fazer isso ?

- Infelizmente é , eu só espero que seja rápido

- Eu creio que você vá me deixar saudades Charles , eu espero te encontrar do


outro lado , se é que tem um outro lado .

- Adeus , seu peixe esnobe , você não vai fazer falta.

E assim , eu me levanto , olho atentamente para o chão , aquela neve pura


caindo em direção as luzes amareladas , um leve escorregão ,tudo fica tão
lento , eu me sinto como se fosse inalcançável , sem nada para me tocar ,
apenas o ar , a neve gelada raspando por todo o meu corpo , lentamente
caindo , ou até mais lento do que eu , batendo aquele começo de desespero ,
uma queda sem fim , aquela noite esfumaçada , a lua encoberta por uma lã
cinza , dizem que quando você vai morrer , passa todo um compilado das
cenas que você viveu , bom , eles mentiram pra mim .

A queda cada vez mais acelerada , o compasso mais apertado, minha miséria
chegando ao mim , e eu estou pronto pra aceitar o prazer vulgo dor
excruciante que eu vou sentir , a tremedeira não passa mais pela minha
cabeça , apenas os meus olhos vidrados procurando uma resposta, braços
chacoalhando em busca de algo pra segurar, uma epifania brusca me
atingindo , uma dor precoce, um grito de ajuda , o qual não foi respondido, e
creio que nem vai ser .
Por fim , a dor, a sensação do impacto, todas as fileiras das minhas costelas
se partindo nos meus pulmões , carpos metacarpos e falanges se deslocando ,
o fêmur saindo do seu devido lugar , rádios e tíbias se misturando com os
meus músculos , tornozelos e pulsos desmunhecando-se contra o chão
esculpido a neve , meu pescoço quebrando , coluna vertebral se desalinhando
,visão turva onde só se encontrava os foscos amarelos com um sorriso bobo ,
tentando levantar um apêndice destruído , e lentamente , desfocando a visão
, até que me veio a falta de consciência .

Tudo saindo da minha mente , como se eu estivesse desaprendendo tudo o


que eu me esforcei em manter na minha vida , uma caminhada cega de costas
contra uma escuridão de todos os lados , até que não me restou nada , nem a
fala , nem o som , nem o tato , nem a consciência , não havia mais concreto
segurando meu corpo, muito menos o gelado da neve , ou o chapisco das
fiações elétrica, não havia mais céu ou luz, não havia mais um peixe , nem a
dor ou lembranças, nomes, números, termos, a única questão para um
homem morto é :

-Porque eu estou aqui ?

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