Com o canto do olho, avisto aquela figura ruiva que em meu julgamento
poderia ser muito bem uma vizinha ou colega de quarto, mas que talvez
devido à falta das medicações diárias para me manter nos trilhos, não
reconheça seu nome em meus filetes rasgados conhecidos como memórias.
Apenas ajeitei meus pensamentos e retruquei seu comentário ignorando
esses detalhes.
– Como gostaria de ser tratada? Não sou do tipo rude que manda indiretas ou
se gaba de alguma capacidade em que se sobressai.
– Oh Charlie.. Respostas evasivas são tão previsíveis! Você só evade a si
mesmo desse jeito.
Charlie? Eu tenho essa intimidade com uma pessoa a qual nem sei o nome?
Mas que diabos está havendo? Rodo os olhos à procura do relógio, e torno a
organizar minhas coisas enquanto dirijo a palavra à moça
– Sinto muito se isso lhe parece rude, mas estou um pouco atrasado. Poderia
cortar os rodeios e me refrescar a memória? Me desculpe por isso também,
não sei seu nome e é difícil rebuscar fatos recentes a essa hora do dia.
Seguido de uma risadinha, reparei naquela voz familiar e também
desconhecida pra mim, é como se eu convivesse com a mulher a muito tempo
porém não notaria sua presença se esbarrasse com ela em meio aos
corredores da universidade.
– Bem, fizemos muita coisa, sabe, o de sempre. Fomos jantar em uma
daquelas espeluncas que você gosta, andamos pelas ruas frias, depois fomos
em Canvey Island como você tinha sugerido. Você deveria agradecer por
conhecer uma mulher que se contenta com a mesmice.
– Hã?
– De qualquer forma te agradeço. Você me mostrou como o mundo pode ser
algo maior que a própria ambição de uma pessoa, ver aquela imensidão de
uma cor que os meus olhos não conseguiam distinguir, perceber que nós
somos apenas pequenos pontos em meio a uma imensidão de coisas, me fez
pensar em um monte de outras coisas. Obrigada por ter feito essa noite pra
mim Charles.
O quê? Eu costumo me desconcertar com frases prontas, ainda mais nesse
caso. Tento parar de olhar pra ela tão diretamente.
– Gosta de se po ti a ão ? S ais u a pe gu ta, so e …. A uilo
– Você quer saber se transamos?
– Isso..
– Nós dois, nesse quarto cafona?
– ….
– Não seja ridículo, não passou nem perto.
Dei de ombros, não julgaria ter algum tipo de apego emocional pelo meu
apartamento, mas de certa forma aquilo me atingiu.
Depois de me vestir e guardar o celular no bolso da calça, preparo bacon com
queijo quase comestível e um café para abastecer um universitário com sede
de conhecimento e fome por livros.
Chego na sala e deparo com a desconhecida ainda sentada. Seu olhos podiam
penetrar minha alma.
– Já que ofendeu minha casa, vai querer um pouco deste bacon horrível?
– Está magoado? Que fofo! É como se eu tivesse um querido cavaleiro
sensível aos meus cuidados zelando por mim , só que é claro , sem a
armadura, já que elas são algo um tanto fora de moda desde o século XVIII,
mas pelo visto estar fora de moda não lhe parece um problema. Aliás eu sei
bem como você cozinha mal, prefiro poupar meu estômago. Não leve ao lado
pessoal.
Apenas consenti. Dos 2 anos que eu vivo apenas comigo mesmo, junto ao
meu querido peixe sem nome, minha culinária passou de bacon com gosto
de pneu de carro para bacon. Terminando de arrumar os pratos e me
preparando pra sair o alarme das 6:30 começa a tocar. Pego minha mochila,
puxo a minha pequena cartela de Amissulprida, coloco no bolso da camisa e
me apresso para escovar os dentes. Depois de alimentar o peixinho sem nome
para que pudesse aguentar até a hora em que eu lhe faria companhia
novamente me virei para onde a senhorita se encontrava.
– Sobre o que será a aula de hoje? Qual um bom presente para a Elaine? qual
era o nome da ruiva maluca? - É como se eu estivesse andando no escuro à
procura de algo que eu nem sei se está lá
Várias ideias se passam na minha cabeça, umas vão, outras ficam, as que
ficam geralmente nunca são amigáveis. Sempre as que eu não quero lembrar.
Mas são esses pensamentos que me fazem acordar para onde eu realmente
estou, esse tipo de coisa vai nadando diante dos meus pensamentos. Até que
eu escuto uma voz bochornosa vindo de um dos alto-falantes do ônibus;
Se ho as e se ho es, p xi a pa ada e 5 i utos: Rege t St, o igada
pela ate ção e te ha u a ti a viage .
Ótima viagem não é? Esse cenário transitivo que acaba sendo ofuscado por
tantas coisas. Isso me faz pensar em como as pessoas podem ser mesquinhas
ou hipócritas em tentar julgar as outras por atitudes que não acham certo. E
eu estou fazendo o mesmo. Eu só sou um reflexo reprimido pela sociedade,
conhecido como Charles Benett. De longe eu pareço ser algum tipo de
universitário liberal e esquisito, mas, no fundo, nem eu mesmo me conheço,
isso, até ouvir uma voz esquisita :
Agora que percebo que ela se dirigia a mim, marco a página, e fixo olhar
perante a direção da voz.
– Pois não? - Respondi, ao que aparentava ser uma senhora em meados dos
seus quarenta a cinquenta anos, bem-vestida. Com cara de secretária ou o
tipo de mulher que passa o dia carimbando papéis e checando documentos
em um escritório de contabilidade. Por quê esse tipo de gente insiste em falar
comigo?
– Um garoto muito querido por mim.. Me desculpe, sei que deve estar
ocupado com seu livro, mas.. o que você está fazendo indo até a Regent St
rapaz ?
Eu como um estudante de psicologia, ironicamente sou péssimo em julgar as
pessoas, e pior ainda em interagir com elas. Mas a velha parecia de um bom
caráter, assim sendo não deixei de tentar.
– É Helena, garoto, apenas Helena. Mas me diga, o que você faz tão jovem
em uma faculdade como Cambridge? Digo, você tem cara de quem acabou de
entrar no ensino médio isso sim.
POR DEUS, ESSA PESSOA ESTÁ ESCONDENDO ALGO, HOMEM! - É o que meu
Alter Ego mais inseguro grita desesperadamente a mim. Como essa mulher
pode ter tanta certeza de um breve palpite? Melhor eu não ficar ouriçado
quanto a isso e retribuir na conversa.
– Você está um pouco quieto, o que houve?
– Apenas divagando sobre meu livro. De toda forma, entrei em Cambridge
por meio que por uma bolsa quase integral. Só consegui isso por eu ter
conseguido uma nota boa, só isso senhora.
– Que bom que você tá progredindo tão bem, isso é muito bom de saber
– E por que isso seria bom senhora?
– Porque você sempre foi um medroso quando pequeno Charles.
– Desculpe, mas o que?
Isso é engraçado, realmente muito engraçado, e pensar que no fim das
contas eu sou conhecido de uma pessoa a qual eu nem conheço, eu estou tão
asfixiado que eu poderia morrer apenas com a mais leve tragada perto de
mim, essa ansiedade vai me denunciar, eu preciso ficar calmo e agir como se
eu soubesse quem essa pessoa é.
– Você, e ouviu bem mocinho, faz tempo desde que eu não vejo essa sua cara
seca, você sempre vive fugindo de mim, eu nunca entendi isso.
– Vai ver é o meu senso de independência eu acho.
– Vai ver você é muito cabeça dura, você sempre foi assim, desde quando
você era da altura da mesa, mas sempre era quietinho, eu não lembro muito
bem, eu sempre visitava pouco a casa dos seus avós.
– Isso é engraçado, de você lembrar de tanto tempo atrás como se fosse
ontem.
– E você, não lembra de nada? Você é muito bobo mesmo.
– Não, não que eu tenha esquecido daquilo tudo, tudo oque eu passei na casa
deles, eu fui criado por eles, eles são a minha família no final das contas.
Fazia tempo que eu não sentia uma empatia estranha dessas, é algo
amistoso e esquisito, como um doce que teve o seu gosto marcado na boca,
algo agradável mas que pode lhe enjoar se você repetir muitas vezes, isso me
espanta em calafrios só de pensar na ansiedade que eu estou sofrendo agora,
eru mal conheço ela, e ela já sabe mais da minha vida do que eu lembro em 1
ano dela.
– Garoto, você, ainda fala com ela?
– Ela quem?
– Com a sua mãe, faz tempo com que eu não converso com ela, como ela
anda?
– Olha senhora Helena, na verdade faz anos que eu não lembro da minha
mãe, eu não lembro nada dela, desculpa a palavra agora, mas, ela não fez
parte da minha vida.
– Entendo garoto, mesmo assim, eu creio que eu posso te quebrar um galho
no futuro, aqui, pegue esse papel, é o meu número
(0161) 328 1294? Isso é em Manchester, essa mulher deve fazer ou algo
uito i po ta te p a vi de lá at a ui p a t a alha .
– Agora eu tenho de correr, esqueci que hoje era uma data importante, até
um outro dia.
Finalmente livre de estranhos, ou livre de conhecidos de quem não me recordo.
Não posso me esquecer dessa mulher. Isso veio em minha cabeça, junto
àquela claridade do sol em sua plena juventude. Ah, Regent St, um bom
centro para comprar algo para a Elaine. Mas o que eu poderia comprar?
Flores? Muito clichê. Perfume? Tão comum quanto uma gravata. Joias?
Vamos ser francos eu sou um Universitário.
U ive sitá io! Boa Cha les, u liv o, Elai e se p e fala ue estava
procurando por aquele lixo adolescente que ela chama de literatura. Se eu
achar, talvez poderia ser um bom presente e pegá-la de supressa, só preciso
agora ir até um sebo ou livraria aqui perto e me apressar pra chegar na aula
a tes das : 5.
O tempo, costuma passar por mim como uma pintura borrada, passei entre
as lojas de livros perguntando pelo exemplar, até que em uma lojinha, acho-o
por um preço camarada. Ainda me sobra dinheiro, apenas para ter de comer
no dia seguinte.
Na verdade não me importo tanto com a comida, já que pelo que eu me
lembro das curiosidades que eu aprendia falando com o professor de biologia,
o corpo humano pode aguentar até 1 mês sem alimento, mas apenas 3 dias
sem água, e eu tinha minha conta de água em dia, logo;
Aquela voz da mulher ruiva, de novo ela? Mas eu não a via entre os assentos,
ou entre os espaços para ficar de pé, não poderia ser uma alucinação, talvez
sua voz tenha ficado presa entre as minhas sinapses mal conectadas.
– Você, você estava olhando para o nada a mais ou menos uns 10 minutos,
está bem?
O quão eu poderia sair deste mundo sem nunca ver algo tão corriqueiro, algo
que as pessoas não percebem quando estão presas em seus pequenos
mundos, algo tão simples e que mesmo assim eu poderia ver durante horas,
mesmo que eu não tivesse todo o tempo do mundo.
Os pensamentos sobre tudo o que me ocorreu hoje, tudo nada mais que o
convencional para mim, o estranho mártir o qual eu sigo desde que eu mal
conseguia falar corretamente, tudo sempre foi esquisito para mim de alguma
fo a, o jeito ue as pessoas olha , ão, ão, as a as e o as ue todos
faze du a te o dia e a oite e ha o ia , talvez, a fo a o o o se
hu a o o segue se e ga a pa a se faze feliz .
Aquele frio, mesmo com aquele sol ascendente, aquela sensação de conforto,
eu vou caminhando pelo campus, entrando por dentro dele, entre os
corredores, aqueles filetes claros brancos com o papel, não me fizeram pensar
em muita coisa a não ser em manter segredo da Ellaine, e torcer para
ninguém ter tido a mesma ideia do que eu, chego finalmente na sala, ah, mas
que sensação ótima.
Isso uito o , ve esse e á io ue e e ete e ta ostalgia, as
partículas de poeira, indo pelos filetes esbranquiçados de luz, é como se você
visse uma distinção entre o micro e o macro de ambas as realidades, não me
custa ficar sentado aproveitando esse momento de quietude, apenas
reflexionando com meus pensamentos, e como um dia pode me custar tantas
coisas.
A vida é muito curta para não se aproveitar desses momentos, volto aos
contos de García Márquez, aquela leitura rítmica a qual me impressionava, os
personagens os quais se encaixavam em um mundo crível, é engraçado
pensar;
– Hu , olá ….
Após a vista, percebo que era o professor Richter, um senhor de meia idade,
barbudo, cabelo bem-arrumado, uma figura que aspirava de humor a
seriedade em um mesmo timbre de voz, passava confiança pelo menos aos
meus olhos e ouvidos, tento retribuir com um começo de conversa com ele.
– Eu acho que meus quadros estão piorando doutor, acho que a Amissulprida
está perdendo seu efeito mais rápido do que deveria, pelo menos na minha
relatividade de tempo.
– Hum, eu meio que posso te entender Charles, você sofre com isso faz quase
sua vida inteira pelo que o seu antigo psiquiatra vem me passando.
– Não sabia que o senhor conhecia a Doutora Ingride senhor, ela vinha sendo
a única me acompanhando, quanto a isso, eu ando muito sem rumo
e tal e te fala do, eu …. Ah eu ape as te ho ue e fo a .
Ele vem no seu ritmo, subindo pelas escadas, assim como alguém que
aparentemente machucou feio o joelho durante um acidente passado, mas,
mesmo assim, com um sorriso mais forte que toda a morfina que eu poderia
cheirar.
– Se acalme Charlie, vai tudo ficar bem, você não confia em mim?
Meus olhos, eles viram para todos os lados, essa voz, essa VOX, não era real
não poderia ser, essa voz, daquela mulher ruiva, o porquê de me perseguir,
por quê? O que eu estava vendo não poderia ser real.
– Creio que sim Charles, mas, e meu livro que eu tinha te emprestado de
Pavlov?
– Ora vamos Charlie, eu não dou tanto medo assim, olha, tá muito quente aqui
não acha, esse sol hoje parece que vai render, não concorda, doutor?
– Claro, espero que as aulas passem mais rápido do que deveriam, esse terno
geralmente começa a se tornar desagradável depois de um tempo nessas
situações.
– Viu? Eu sou tão real quanto você Charlie, não precisa ficar em pânico, eu só
sou sua amiga ... Eu só vou cuidar de você
Após aquela breve conversa com o doutor, muitas coisas se passavam por
aquela caixa feita de uma madeira velha conhecida como minha cabeça,
corroída pelas incertezas trazidas dentre as linhas amarradas e entrelaçadas
por entre ela conhecidos como pensamentos, os quais se fixavam no fundo da
minha cabeça.
Aquilo, a garota ruiva, poderia ser realmente fruto da minha cabeça, poderia
ser algo ou alguém a qual simplesmente eu implantaria diante das minhas
sensações do meu ser empírico? Nada mais faz sentido, até mesmo a
realidade.
Aquela postura vivida como a de uma garotinha , aquele olhar fixante a qual
eu poderia ver por horas , não , messes ; aqueles olhos verdes os quais
lembram o pomar o qual eu sempre ia escondido pegar algumas frutas para
comer e procrastinar nas férias , não , aquela postura era a de alguém
conhecida a anos por mim , realmente minha cabeça está difícil de se montar
hoje , a única coisa que me resta é esperar pelo compromisso o qual me
concedi minha manhã para fazer com que aquilo se tornasse algo po tual .
Cabelos castanhos e sedosos, na maioria das vezes curtos, aquela pele branca
mas de cor saudável, macia como uma seda bem costurada, olhos vividos da
cor do mel recém-tirado da colmeia, uma fragrância a qual me remetia aos
doces dias os quais eu me sentia estranho, mas contente por alguma curiosa
razão, parecia mais uma doce rosa reservada, não, guardada no fundo de uma
floricultura, como um precioso e raro tesouro, o qual era lacrado a sete
chaves.
A toda via , ela viu algo em mim , esse ser pálido e amórfico , o qual vem com
sua carranca esbranquiçada reservar um pouco a mais de sabedoria e
conhecimento diante de seu imenso vazio dentro de seu corpo , sempre com
um sorriso ao me ver , começava a falar comigo , perguntar mais sobre mim ,
começar a jogar palavras junto e contra mim , e com o tempo eu ia
percebendo algo que passava despercebido a tempos , era como se aquela
carranca mórbida e lapsa começasse a ser preenchida por um doce vinho
quente , um calor o qual preenchia meu corpo , assim como uma doce
sinfonia escrita por Bachi.
Aquelas vestimentas vermelhas, aquela mesma cara a qual parecia ter saído
de uma pintura contemporânea, uma garota de olhar firme mas reservado ao
mesmo tempo, está a qual eu fiquei fazendo meu longo mas estimulante
diálogo estava a minha frente, minha melhor amiga, Elaine ou Eli e depois de
u s o s t s ou uat o Ma ti i’s, está a ual e e ep io a o u elo e
caloroso;
– Ora Elie, como foi a sua manhã? - Elie? Ora vamos Charles seja mais formal,
onde está seu sangue britânico?
– Já leu a Divina Comédia ? O engraçado dos mortos é no fato que eles são
tudo , menos formais , vamos, se anima um pouco , eu sei que hoje é um dia
especial.
- Hum , e qual dia seria esse, senhor onisciência ?
- O dia em que você veio pra esse mundo é lógico.
- Você parece estar de bom humor não é , o que aconteceu ?
- Não bem humor , agitadamente nauseado .
- Meu deus Charles , tem certeza que consegue aguentar passar 4 horas
escutando o professor falar e falar direto , ah para , vamos me fala , o que
aconteceu ?
- Digamos que desde hoje de manhã eu não sei o que se pode ser chamado de
real , tudo normal de resto .
- Pra você saber , você quase sempre tá nessa situação , parece até que você
anda com o corpo , mas a sua cabeça , a sua mente , ela sempre parece estar
distante , como se ela estivesse em um lugar onde as outras pessoas não
poderiam incomodá-la .
- E seria o bom e velho eu se eu não estivesse viajando enquanto fico dentre o
meu dia a dia ? Vamos, eu tenho uma surpresa pra você.
O único motivo de eu realmente ter entrado nessa matéria, algo bobo que
sempre me vinha a mente, o quão uma pessoa é capaz de se matar para
poder se adequar a um grupo, algo banal para a visão de todos, mas desde
que eu era do tamanho da mesa de jantar, sempre me vinha perguntas como
po ue as pessoas faze isso ou porque aquela pessoa faz isso se isso faz
ela i feliz? , eu nunca pensei que esse tipo de pergunta ficaria grudada no
meu cérebro desse jeito, era algo realmente tosco de uma analítica
construtiva , mas eu me sinto bem junto a essa infantilidade congênita vindo
dos meus antigos pensamentos de uma infância a qual tive que suprimir , mas
de certa concordância , esse nunca será um pensamento falho aos meus olhos
, o quão as vezes uma pessoa desmancha seu ego para readequá-lo a um
g upo ou a u i lo o de se p e uis esta , os fa osos ostos pi tados .
Pessoas das quais perderam ou se livraram dos seus âmagos mais íntimos
ape as pa a a adu e e ou se ade ua do de u te o pa a ovos
ouvidos; evolui , de toda forma isso deixaria meus neurônios realmente se
desmanchando em dúvidas as quais eu talvez nunca poderia sequer
desvendar diante da forma em que me encontrava, era inútil ter tais
filamentos de opiniões como esta durante uma aula.
Algumas coisas que poderiam ser feitas durante esse começo de tarde seria
ao menos marcar aquilo que eu achava interessante, pelo menos enquanto eu
estivesse o al, eus aços e pe as estão sup i idos do eu o po , já
não conseguia mais ver tranquilamente a bela vista do quadro-negro.
-Sim eu sei muito bem, na verdade eu sei muito mais que você.
Você pelos menos deve me conhecer melhor do que a mim mesmo, eu nem
ao menos sei o seu nome, e você, mesmo assim continua a me perseguir
diante desse dia onde eu já não sei o que poderia me considerar como
normalidade, na verdade é o meu mártir e você sabe muito bem o que eu
desejo mais que tudo.
Você sempre me viu nos cantos da casa em meio a serenada lá fora , sempre
foi você aquela que me acompanhou e mesmo assim eu não sei seu nome .
-Você não precisa de uma marcação por escrito para me compreender Charles
, você nunca precisou , e além disso mesmo que você sempre me dê um nome ,
apelido , quem sabe até uma citação de um dos muitos livros que você leia
constantemente para preencher esse vazio incessante o qual você tenta
reprimir mesmo nem lembrando , você sempre será meu e de mais ninguém ,
você sempre pertenceu a mim meu pequeno e doce Charlie.
Eu não senti nada mais que o impacto de tais palavras caindo sobre o meu
corpo entorpecido , pequenas mãos de tom esmaecido passando por todo o
meu corpo , minha mente desencadeando a qual já deveria ter feito a tempos
, ou, pelo menos, não tê-la retrancada a , uma plasticidade suave diante de
seus movimentos , ela saia lentamente de minhas costas , meus músculos
retomavam aquilo que estava morto , meus dedos , até mesmo as minhas
escleras estavam clareando , e eu dou se não , uma grande piscada para
esvaecer minha vista do que estava acontecendo realmente .
Meu corpo ao invés de elucidado e mórbido diante do assento, como uma
vez sentira, estava nada mais que simplesmente tomando por completo as
anotações que o professor Richter passa, seguindo perfeitamente um ritmo
que beirava a coordenação neural e de minhas capacidade físicas.
A mesma voz de agora pouco me convém com essas palavras, as quais vinham
do mesmo sentido da direção da Elie, meus músculos estavam frívolos em
reação a isso, seria então realidade ou apenas mais um delírio?
Minha cabeça não passava mais a impressão de lucidez, o que me restava
poucas opções para aquilo era simplesmente me afundar naquele profundo
fluxo denso de pensamentos.
Essa epifania complexa poderia ser deixado de lado por alguns momentos, já
que meus ouvidos se regulavam a medida de uma doce voz;
Aquela doce garota a qual me referi como amiga, pele meio corada devido ao
clima ríspido, segurando o caderno na mão, algo que eu crera ser bem real, ou
ao menos tátil.
– Mas Elie, por favor, vá aproveitar seu dia, eu estou bem, só relaxa
– Me surpreenda.
E com isso a menina dos cabelos cor de mel saiu, se não por vultos, como
descreveria, só sei que meu dia estava apenas esperando para realmente
começar, aquela epifania, aquela confusão, tudo só poderia ser explicado
diante de alguém que me conhecia, até que eu poderia dizer, e essa pessoa
era o Dr Richter.
-Me conte mais sobre a sua semana Charles, alguma recorrência recente?
Algu a e aída, a uela pessoa o ti ua vi do aos seus lapsos?
– Doutor, olha, eu não sei mais como dizer – lentamente começa a escorrer
umas poucas lágrimas sem sentido – na verdade, eu pertenço àquilo que para
os outros não existe.
– Creio que sim doutor, meus devaneios, já não se encontram mais dentro de
minha mente, mas sim vivendo ao meu lado, posso senti-los, tocá-los, até
mesmo ser controlado por eles, contudo, não me deixo ser a mente por trás
desta crisálida a qual o senhor conhece doutor?
– E quem seria a brilhante mente por trás deste inteligente e brilhante jovem,
o qual tem um futuro promissor como meu assistente e futuro graduado?
-Claro doutor.
Do meu bolso, o doutor puxa minha cartela para emergências, seriamente, ele
duvidando de mim no começo me fez ficar um pouco irritado, mas, quando eu
vi, ah sim, as pílulas se esfarelando como farinha;
– De toda forma doutor, creio que quando se está no fundo do poço, ainda se
tem luz, e com essa luz se vez o caminho de pedras a se escalar até o topo, me
mostre a verdadeira luz, não aquela que faz seu reflexo na água, mas sim
aquela de desce dos céus com sua harmonia.
– Obrigado, doutor.
Após o pedido , meu corpo se encontrava um pouco abalado mas ainda sim
revigorado , de fundo era como se houvesse , não tenho como explicar direito
, uma emoção ou dor a qual vinha do buraco entre meu peito , aquilo de
certa forma me fazia me sentir vazio , mas pelo que me vinha era agora era
eu me sentando naquele divã acolchoado e bem confortável , aconchegante e
de tal modo também um pouco chato.
-Pois bem , meu jovem , eu vou apenas fazer um processo bem divertido , por
assim dizer , espero que você aproveite a experiência .
A razão já não estava mais ali, minha pele estava seca como folhas
ressecadas, era como se eu já estivesse morto, mas estranhamente minhas
pernas já não me obedeciam, a passos rasos e lentos, carcaça corcunda e
encolhida, braços mórbidos, uma vontade que não era mais minha, o objetivo
daquela porta era algo que nem mesmo eu compreendia, por que diabos uma
porta jazia ali? O do porquê de eu continuar andando, eu só quero é me
encostar em um canto, descansar e quem sabe nunca mais acordar, apenas
me esfarelar em um canto onde ninguém venha me ver, para que esta solidão
vire a paz de alguém cujo foi abandonado até por um deus o qual nunca se
manifestou.
Meus olhos já não viam mais , aquele pequeno ponto branco esmaeceu
diante das minhas pupilas , eu apenas sentia algo fluido , não mais carne e
osso , decrépitos , não , eu andava agora , diante de um vasto campo onde
meus olhos não captavam mais nada , por um instante de agonia pensei ter
sentido tal felicidade de ter deixado de existir , até que eu simplesmente senti
mãos suaves , doces mãos suaves , aquelas das quais sempre te protegiam
quando você era pequeno e indefeso , as mãos as quais nunca tocaram meu
cadáver , agora já externo , e vagarosamente decrépito, apenas a vagar por
uma sala com o chão acoberto por rosas negras como o chorume o qual
escorria pelos meus olhos , aquele mármore negro , fria solidez para minha
alma apodrecida , e eu segui , já sem olhos para ver , pernas laceradas
caminhando perante um corredor sem um comprimento alcançável , a única
coisa a qual me fazia continuar era provavelmente aquilo o que sustentava
meu corpo , já sem forma conhecida .
Fico me perguntando quanto a isso ,tais mãos suaves , me reconfortavam ,
me seguravam com carinho e afeto , o afeto o qual sempre sonhei , desde de
quando eu era uma garotinho , os dias sozinhos que eu passava de noite ,
chorando baixinho , agarradinho com meu travesseiro , como se eu quisesse
ser amado , acariciado , protegido , mas isso nunca aconteceu , no fim , eu
acabava chorando baixinho , para não acordar ela , acabava sussurrando
baixinho o seu nome , pedindo pra ela me amar e cuidar de mim , mas ela
nunca vinha .
Quem vinha realmente, eu não lembro muito bem, mas me segurava dessa
mesma forma carinhosa da qual segura esse corpo mórbido, me colocava
entre o seu colo, acariciava o fino cabelo que ainda tenho, dizia baixinho no
eu ouvido al a eu do i ho, eu se p e esta ei a ui pa a uida de vo ,
já que você é meu, e somente meu, eu prometo, eu sempre vou cuidar de
vo , isso eu te ga a to , e olo ava p a do i aga adi ho a ela e ão
mais ao travesseiro, puxava os cobertores, segurava minha cabeça de forma
reconfortante e, por fim, desligava as luzes e dizia oa oite do i ho e eu
era apaziguado de toda a dor e medo que eu tinha
Leve e aerado, meu corpo prossegue um pouco achatado por aquele espaço
estreito do tamanho daquela porta, o qual apenas segura na maçaneta de
forma automática, e apenas fecho meus olhos com um sorriso de redenção
expressada pelos cantos da boca, e assim abro aquela porta de madeira,
pesada como mogno sólido, e finalmente entro em um lugar com uma
sensação extremamente agradável, porém simples.
Capítulo III: o paradoxo dos oprimidos
Ao passar pela porta , minha visão está sensível , diria que ela se
comprometeu à escuridão , sabe , esse cômodo me é reconfortante , a volta
do tempo ao meu presente , eu estou aonde mais queria estar , minha casa ,
agora já escura e apenas com a vidraça do quarto iluminando o apartamento
com a cor amarelada dos postes nas ruas abaixo , está frio , e eu , como a
tremenda anta bem-vestida que sou , apenas saí de blazer , mas não me cabe
reclamar , apenas estou cansado de mais , até mesmo para pensar , pensar é
algo que consome a energia e o seu ânimo.
Isso não é surpresa, é um apartamento simples, portas não existem por quase
todos os cômodos, a não ser pelo banheiro pelo amor de Yahweh, não que
isso dependa dele ou de algum outro ser transcendental, mas isso não vem ao
caso, o quarto, por sua vez, uma cama confortável e um grande vitral
transparente com persianas de cortiça ao longo dos vidros, já pensei em tirá-
las todas, mas por esse bairro, privacidade é algo escasso, pelo menos eu
ainda tenho o quarto e de certa forma um pouco de comodidade , e quase
todo o tempo do mundo pra pensar nas coisas que me fazem querer segurar o
choro.
- Charles, não durma ainda, não vai dar nem ao menos um oi para o seu
companheiro de quarto?
– Seja lá quem for, duas coisas, a primeira delas é, cai fora do meu
apartamento, eu já passei por muita coisa hoje pra considerar esse como mais
um dia normal, e segunda, se você não der o fora, eu juro por tudo quanto é
deus, que eu vou é quebrar o seu maldito focinho meu caro colega.
– Mas quem disse que eu tenho focinho para se quebrar ou pernas para sair
Charles?
– Como assim? – Literalmente, eu já desisti de entender tudo o que tá
acontecendo, só tá sendo um grande dia ruim. – Então me diga meu caro
amigo cotoco, quem seria você?
– Seu melhor e provavelmente único amigo , você jurou que jamais esqueceria
de mim e sempre me trataria bem , lembra ?
– Agora eu to lembrado , desculpa pela grosseria peixinho .
Que maravilha , ainda dentro dessa epifania que é o meu mundo , já nem ligo
mais o que me deixa de ser real ou não , o que realmente prevalece pela
minha cabeça é o frio do meu quarto , nada mais a pensar , apenas que eu
não conseguiria meu descanso tão facilmente , meus olhos terminaram de
lacrimejar levemente , eu estava cansado , mas sem conseguir dormir ,
mesmo diante de minha loucura em plena noite , olhos ardentes braços
mortos , eu pergunto :
Essas palavras saíram da minha boca de forma tão simples , era como se tudo
aquilo , tudo o que eu já passei , não dependesse mais de mim , ou apenas de
i pa a se o Cha les , eu s sou u a peça velha e solta , as , es o
assim , isso me veio com tanta facilidade .
-A morte é uma coisa natural Charles , eu não tenho como sentir medo ,
felicidade , tristeza , nem emitir isso , eu sou um simples peixe conceituado .
-Não falo em morte , falo em deixar de existir
-Mas isso envolve morrer , não ?
-Sim e não , a morte chega a todos , mas o ego morre diante da fraqueza do
espírito , eu só quero deixar de existir peixinho .
-E você vai se deixar ser sobreposto por ela , se não me engano ?
-Talvez , eu sou covarde demais pra simplesmente ceder minha parte à ela , é
como se , eu quisesse que ela fosse me acompanhando ao longo dessa ida ,
mas ao mesmo tempo tenho medo .
Eu tenho medo,isso ecoa pela minha cabeça naquele cômodo escuro , frio ,
desolado mesmo que eu tente esconder o que eu sinto , ela vai descobrir ,
não importa o quanto eu grite por dentro , ninguém vai vir me ajudar , só ela .
-Eu estou sozinho nesse mundo peixinho , e eu creio que você sabe do que eu
estou falando
Algo está diferente , eu não queria ter falado isso , por mais que seja uma
triste verdade , meus braços e pernas, tão frios , congelando , o que me resta
é me encolher no parapeito do vitral ,
- Peixinho , eu aprendi uma coisa a muito tempo atrás , as vezes , você nasce
para a desgraça , eu mesmo não tive uma infância fácil , eu fui criado numa
casa velha , sozinho , nunca tive amigos , eu saia de noite indo no jardim , as
vezes eu me encontrava com um céu lindo , mas as vezes até a lua se recusava
a falar comigo , eu me sentia tão sozinho até que eu comecei a parar de
chorar , nada tava fazendo mais sentindo pra mim .
-EU ME SINTO QUEBRADO , E É UMA DOR DA QUAL EU NÃO CONSIGO
SUPORTAR ! - Essa sendo uma voz a qual não tinha saído de minha boca , eu
fico perplexo e olho ao meu redor .
-Eu não consigo mais prosseguir , eu só quero encostar num canto e morrer -
um dizia pálido .
-Cale-se seu fraco , nós devemos permanecer perante àquela megera -disse o
outro com um rancor inigualável.
-Deixem o garoto escolher seus boçais , ele está apenas trincado como um
espelho jogado , está perdido , e vocês ainda o despedaçam mais e mais –
disse um Charles o qual estava ante a sombra .- Nós ainda somos ele , não
devemos permitir que ele deixe de ser ele , mas na verdade não se permite
sair dessa caixa de porcelana que você chama de mente não é garoto ?
-Querendo você ou não garoto , essa noite é o seu palco – disse agora um
rosto trincado o que era um Charles de outrora . – Você pode fazer tudo oque
vem na sua cabeça , pode reduzir tudo a nada pra você , correr o mais longe
que conseguir ou ficar sem mexer um dedo , pode quem sabe cortar seus
pulsos , se jogar pela janela , tudo depende do que você quer fazer .
Subi de leve no parapeito do vitral , dava para colocar o meu par de pernas e
ainda teria largura para que eu ficasse encostado na janela , mas dessa vez,
não tinha mais volta , aquela mesma palpitação, a tremedeira que eu não
tinha a semanas , o fôlego pesado , as pernas balançando como panos ao
vento , pendurado pelos meus finos e quebradiços dedos , esqueléticos porém
resistindo ao meu comando , como se quisessem se despedir de alguém
naquela sala , até que eu me virei , e disse
- Não é nada pessoal , mas , quantos andares você acha que eu vou começar
a sentir o desespero ?
A queda cada vez mais acelerada , o compasso mais apertado, minha miséria
chegando ao mim , e eu estou pronto pra aceitar o prazer vulgo dor
excruciante que eu vou sentir , a tremedeira não passa mais pela minha
cabeça , apenas os meus olhos vidrados procurando uma resposta, braços
chacoalhando em busca de algo pra segurar, uma epifania brusca me
atingindo , uma dor precoce, um grito de ajuda , o qual não foi respondido, e
creio que nem vai ser .
Por fim , a dor, a sensação do impacto, todas as fileiras das minhas costelas
se partindo nos meus pulmões , carpos metacarpos e falanges se deslocando ,
o fêmur saindo do seu devido lugar , rádios e tíbias se misturando com os
meus músculos , tornozelos e pulsos desmunhecando-se contra o chão
esculpido a neve , meu pescoço quebrando , coluna vertebral se desalinhando
,visão turva onde só se encontrava os foscos amarelos com um sorriso bobo ,
tentando levantar um apêndice destruído , e lentamente , desfocando a visão
, até que me veio a falta de consciência .