Personagens: Francisco de Assis, Vaca, Chuva, João e Maria
FRANCISCO: Paz e bem, irmãs e irmãos!
(Abro aqui um parêntesis. Quero dar os parabéns à irmã Audácia. Faz 50 anos. É uma felicidade! Apetece-me comparar a Audácia à chuva. Assim como a chuva se espalha sobre a terra e vai ajudar o desenvolvimento das sementes e das plantas, assim a revista, com os seus conteúdos inspiradores, ajuda as gerações mais jovens a tornar realidade o sonho de construir um mundo melhor. E fecho o parêntesis.) Estou na Nicarágua, um país com muitos lagos e vulcões. Contudo… esta poeira... e este calor terrível... Que aridez!... VACA: Olá, Francisco! FRANCISCO: Olá, irmã Vaca. Ui... Pareces um saco de ossos... VACA: Ando nas últimas. Amanhã, já não me encontrarias viva... FRANCISCO: Disseram-me que a Nicarágua é uma terra abençoada... VACA: Isso dizem os turistas: «Nicarágua tem as melhores praias insulares.» Mas esta zona não é bendita. FRANCISCO: Onde estamos? VACA: No corredor seco. São quilómetros e quilómetros. É uma aridez que se estende por toda a América Central: começa na Guatemala, atravessa Honduras e El Salvador, e termina no norte da Costa Rica. JOÃO: E nunca chove? VACA: Raramente. Há anos que não vemos água. Dizem que é por causa das mudanças climáticas. MARIA: Já muita gente diz isso ao redor do mundo... VACA: Há dois anos que não se fazem searas de milho. As sementeiras de feijão morrem de sede. Estes alimentos são a base da dieta dos nicaraguenses. Milhões de pessoas não têm tortilhas para comer. E nós não temos erva. Este é o corredor de fome, da desnutrição... FRANCISCO: E eu que vinha aqui à procura da irmã Chuva… VACA: Se queres encontrar a Chuva, tens de ir às Caraíbas. FRANCISCO: Irmã Vaca, o que posso fazer por ti? VACA: Diz-lhe que nos venha visitar, que sentimos a sua falta. FRANCISCO (nas Caraíbas): Bendita sejas, irmã Chuva, que refrescas e fazes frutificar as sementes! CHUVA: Bendita, eu?!... Agora mesmo estão a maldizer-me. E têm razão: acabo de destruir as suas culturas e ficaram sem nada... MARIA: Chuva, porque nos fazes essas maldades, se só esperamos que nos faças bem? CHUVA: Nem eu percebo o que se passa comigo. A minha vida mudou muito nos últimos tempos. Já não sei por quanto tempo devo molhar a terra, se devo simplesmente passar como nuvem, para sazonar a temperatura, ou se devo congelar-me nos polos e nas serras… FRANCISCO: Olha, eu acabo de vir do lado oposto deste país, do corredor seco, onde não vais há anos. Lá todos sentem a tua falta. CHUVA: Sim, conheço essa terra. É árida, muito pobre. Eu gostaria de chegar a todos os lugares, e a tempo. Eu sempre fui muito pontual, Francisco. JOÃO: Então, de quem é a culpa? CHUVA: De um inimigo chamado Dióxido de Carbono. É ele que me desregula. Por causa dele e das mudanças climáticas que provoca, chego tarde a algumas partes da Terra e há secas. Ou então fico tão frágil, que não consigo controlar-me e, ou caio com muita intensidade ou sou arrastada pelo vento em furacão, provocando inundações. CIENTISTA: Nove em cada dez desastres causados pelo aquecimento do clima são chuvas torrenciais, inundações, furacões, deslizamentos de terra e secas. CHUVA: Mato se falto e mato se abundo. E, ainda por cima, muitas vezes as minhas gotas caem envenenadas com o enxofre que se mistura nas nuvens... CIENTISTA: São as fábricas que fundem metal e as caldeiras de calefacção que lançam enxofre para o ar. JOÃO E MARIA: Que devemos fazer, irmãos Francisco e Chuva, para que as gerações vindouras não tenham como herança um planeta seco e com água envenenada? FRANCISCO e CHUVA: Deixem de poluir. Mudem de estilo de vida!
Adaptado da série radiofónica Laudato Si’ da Rede Eclesial Panamazónica (REPAM)