NOMENCLATURA
Este segundo artigo sobre Questões “aluminum” e “aluminium” para o alu- a adaptação ao português deve
de nomenclatura tem como objectivo mínio. ser feita de modo que o conjunto
informar os químicos portugueses so- de caracteres possa ser identifica-
bre os problemas com que se depa- A comissão [2] que está a traduzir as do em qualquer língua; e
rou a comissão composta por portu- Recomendações da IUPAC de 2005 a raiz inicial dos nomes deve ser
gueses, brasileiros e cabo-verdianos da Nomenclatura de Química Inorgâ- mantida, uma vez que estes deri-
que está a traduzir e adaptar para nica recomenda os nomes dos ele- vam de nomes próprios estrangei-
português, nas vertentes europeia mentos químicos constantes do Qua- ros.
e brasileira, as Recomendações da dro 1. São aqui introduzidas pequenas
IUPAC de 2005 da Nomenclatura de alterações em alguns dos nomes dos No sentido de simplificar a nomen-
Química Inorgânica [1, 2], na tradução elementos químicos utilizados actual- clatura, evitando a proliferação de
dos nomes dos elementos químicos e mente, no sentido de harmonizar a no- nomes, nas últimas Recomendações
opções que teve de realizar. menclatura em português nas varian- da IUPAC de 2005 da Nomenclatura
tes europeia e brasileira. No Quadro de Química Inorgânica [1], é proposto
O nome de cada elemento químico 1, na coluna das notas, apresentam- um único nome para cada elemento
tem uma história diferente conforme se não só as que constam das Re- químico. Deste modo, no caso daque-
exista naturalmente na Terra ou seja comendações da IUPAC de 2005 da les elementos a que tradicionalmente
criado em laboratório através de reac- Nomenclatura de Química Inorgânica eram atribuídos dois nomes, como os
ções nucleares. O nome dos elemen- [1], como alguma justificação dos pre- elementos com os números atómicos
tos que existem naturalmente na Ter- sentes nomes dos elementos quími- 7, 51 e 74, fixou-se em português os
ra está ligado à própria história desse cos. É de notar que na designação de nomes, respectivamente, nitrogénio
elemento – a sua antiguidade e a sua alguns elementos, como por exemplo (bras. nitrogênio), antimónio (bras.
utilização. Não havendo, no passado, do berkélio, a forma de o escrever foi antimônio) e tungsténio (bras. tungs-
uma tradição de designar os elemen- alterada em relação a formas anterio- tênio), por serem os mais utilizados,
tos químicos de uma só forma, tanto res, como resultado do novo texto do na actualidade, na literatura científica
na vertente europeia, como brasileira, Acordo Ortográfico da Língua Portu- em português. Com excepção dos no-
do português, apesar da raiz comum guesa (1990) 1 [3] admitir a existência mes dos elementos do grupo dos ga-
da maioria dos nomes, estes foram da letra “k” e sugerir que, quando pos- ses nobres, em que há uma diferença
sofrendo alterações ao longo do tem- sível, não haja grandes adulterações mais acentuada nas designações nas
po. Apesar das Recomendações da na escrita, em português, de nomes vertentes europeia e brasileira, a dife-
IUPAC de 2005 da Nomenclatura de próprios ou derivados de nomes pró- rença reside unicamente na acentua-
Química Inorgânica [1] proporem um prios. As ligeiras alterações dos no- ção das palavras. É provável que, no
único nome para os elementos quí- mes dos elementos com os números futuro, com a continuação de esforços
micos, elas próprias dão o exemplo, atómicos 99 e 110, respectivamente, de aproximação das várias vertentes
em inglês, tanto da necessidade de einsténio (bras. einstênio) e darmstá- do português, esta diferença na escri-
compromisso entre as diversas va- cio, foram propostas tendo em aten- ta dos nomes dos elementos venha a
riantes linguísticas ao proporem, por ção razões de ordem fonética. ser eliminada.
exemplo para o enxofre, unicamente o
nome “sulfur”, como da possibilidade Na atribuição dos nomes, em portu- Para os elementos com os números
de aceitação de ligeiras alterações ao guês, aos elementos artificiais que atómicos 24 e 85, fixaram-se agora,
admitirem, por exemplo, as variantes têm vindo a ser criados em laborató- respectivamente, os nomes cromo e
rio, seguiram-se três regras que se ástato. No caso da vertente europeia
tentaram aplicar caso a caso: do português, merecem explicações
as recomendações que se fazem
Comiissão
Comissão
C ã de
d Tradução
T dução
Trad ã das
d Recomendações
R
Recomenda da IUPAC a escrita dos nomes dos elemen- para os nomes dos elementos com os
de 2005 d
d da N
Nomenclatura
l t de
d Química
Q í i Inorgânica:
I
1 tos deve seguir as regras de escri- números atómicos 7, 24 e 85, respec-
Portugal
2
3
Cabo Verde ta das palavras em português de tivamente, nitrogénio (bras. nitrogê-
Brasil
*
mclara@ua.pt Portugal e do Brasil; nio), cromo e ástato. A fixação destes
Nome Nome
Z Símbolo Notas
(Var. Europeia) (Var. Brasileira)
2 3
Os isótopos de hidrogénio (bras. hidrogênio) H e H são denominados,
1 H hidrogénio hidrogênio respectivamente, deutério e trítio, para os quais podem ser usados os
2 3
símbolos D e T; contudo são preferidos os símbolos H e H
2 He hélio
3 Li lítio
4 Be berílio
5 B boro
6 C carbono
8 O oxigénio oxigênio
9 F flúor
10 Ne néon neônio
12 Mg magnésio
13 Al alumínio
14 Si silício
17 Cl cloro
18 Ar árgon argônio
20 Ca cálcio
44 QUÍMICA 119
21 Sc escândio
22 Ti titânio
23 V vanádio
25 Mn manganês
26 Fe ferro
27 Co cobalto
28 Ni níquel
30 Zn zinco
31 Ga gálio
32 Ge germânio
33 As arsénio arsênio
34 Se selénio selênio
35 Br bromo
36 Kr crípton criptônio
37 Rb rubídio
38 Sr estrôncio
39 Y ítrio
40 Zr zircónio zircônio
41 Nb nióbio
42 Mo molibdénio molibdênio
43 Tc tecnécio
44 Ru ruténio rutênio
45 Rh ródio
46 Pd paládio
48 Cd cádmio
49 In índio
52 Te telúrio
53 I iodo
54 Xe xénon xenônio
55 Cs césio
56 Ba bário
57 La lantânio
58 Ce cério
59 Pr praseodímio
60 Nd neodímio
61 Pm promécio
62 Sm samário
63 Eu európio
64 Gd gadolínio
65 Tb térbio
66 Dy disprósio
67 Ho hólmio
68 Er érbio
69 Tm túlio
70 Yb itérbio
71 Lu lutécio
73 Ta tântalo
75 Re rénio rênio
76 Os ósmio
77 Ir irídio
78 Pt platina
81 Tl tálio
83 Bi bismuto
84 Po polónio polônio
86 Rn rádon radônio
87 Fr frâncio
88 Ra rádio
89 Ac actínio
90 Th tório
91 Pa protactínio
92 U urânio
93 Np neptúnio
94 Pu plutónio plutônio
95 Am amerício
96 Cm cúrio
98 Cf califórnio
100 Fm férmio
101 Md mendelévio
102 No nobélio
105 Db dúbnio
108 Hs hássio
109 Mt meitnério
111 Rg roentgénio roentgênio Por aplicação das novas regras do acordo ortográfico
112 Cn copernício
NOMENCLATURA SISTEMÁTICA E sucesso, pelo que faz sentido discutir e kurchatóvio) durante cerca de trin-
SÍMBOLOS DE ELEMENTOS QUÍMICOS o problema da sua designação. ta anos [8], uma vez que havia dois
ARTIFICIAIS grupos que reclamavam a sua criação
No passado eram os investigadores [1]. Como um elemento químico só
O urânio é o último elemento químico envolvidos na descoberta ou na cria- deve ter um único nome, uma vez que
do Quadro de Classificação Periódica ção de um elemento químico novo uma proliferação de nomes origina
que existe naturalmente na Terra, mas que tinham o direito de lhe atribuir muitas confusões, em 1947, a IUPAC
a possibilidade de criar elementos ar- nome. Esta situação originou que, decidiu que após se ter provado, sem
tificiais tem vindo a ser investigada ac- por exemplo, o elemento químico reservas, a existência de um novo ele-
tivamente pelos físicos nucleares com 104 tivesse dois nomes (rutherfórdio mento, os criadores ou descobridores
46 QUÍMICA 119
tinham o direito de sugerir um nome As sílabas são colocadas pela ordem NOTA
à IUPAC. Contudo, somente a Co- dos dígitos que constituem o número
1
missão de Nomenclatura em Química atómico e adiciona-se a terminação No seu artigo 2º, tanto o texto do Acor-
Inorgânica (CNIC) podia fazer uma re- “io” para formar o nome. Elide-se o do Ortográfico da Língua Portuguesa
comendação ao Conselho da IUPAC, “n” de “enn” quando se lhe seguir “nil” (1990) [3a)] como o “Protocolo Modifi-
que tomaria a decisão final [1]. Esta e o “i” final de “bi” e “tri” quando se cativo ao Acordo Ortográfico da Língua
Comissão publicou em 2002 um con- lhes seguir “io”. Em português, razões Portuguesa [3b)] estabelecem que Os
junto de indicações para a atribuição fonéticas exigem frequentemente a Estados signatários tomarão, através
de nomes a elementos químicos arti- acentuação das sílabas nos nomes e das instituições e órgãos competentes,
ficiais, em que sugeriu que os nomes exige-se a hifenação antes de “h” no as providências necessárias com vista
podiam ter como base um conceito mi- meio das palavras, como se exemplifi- à elaboração de um vocabulário or-
tológico, um mineral, um local ou país, ca no Quadro 2. O símbolo de um ele- tográfico comum da língua portuguesa,
uma propriedade ou um cientista [8]. A mento é composto pelas letras iniciais tão completo quanto desejável e tão
Comissão foi extinta em 1 de Janeiro das sílabas numéricas que constituem normalizador quanto possível, no que
de 2002, aquando da reestruturação o nome [1]. se refere às terminologias científicas e
da IUPAC, mas mantém-se o direito técnicas [3b)].
dos criadores de um novo elemento Este número da revista é acompanha-
químico sugerirem o nome, como foi do de uma separata com o Quadro REFERÊNCIAS
reconhecido em 1990 [9]. Periódico dos Elementos Químicos,
no qual os nomes dos elementos es- [1] N.G. Connelly, T. Damhus, R.H. Hart-
Actualmente, a reivindicação da cria- tão escritos na vertente europeia do shorn, A.T. Hutton, Nomenclature of In-
ção de um elemento artificial é primei- português. Este Quadro Periódico foi organic Chemistry, IUPAC Recommen-
ro investigada por uma comissão con- concebido para ser utilizado pelos quí- dations 2005, Royal Society of Chemis-
junta IUPAC-IUPAP (União Interna- micos portugueses, mas poderá ser try Publishing, Cambridge, 2005, 378 p.
cional de Física Pura e Aplicada) que utilizado por todos os que adoptem a [2] A.A.S.C.M. Machado, B.J. Herold,
lhe atribui uma ordem de preferência. vertente europeia do português. J. Cardoso, J. Marçalo, J.A.L. Cos-
A equipa reconhecida como descobri-
dora é então convidada a sugerir um
Quadro 2 – Nomes e símbolos temporários para os elementos de número atómico superior a 112a
nome à Divisão de Química Inorgâni-
ca que elabora uma recomendação
Número atómico Nomeb Símbolo
formal ao Conselho da IUPAC [1].
113 unúntrio Uut
As recomendações seguintes refe- 114 ununquádio Uuq
rem-se à denominação dos elementos 115 ununpêntio Uup
artificiais até à atribuição de um nome 116 unun-héxio Uuh
pela IUPAC. A qualquer casa do Qua-
117 ununséptio Uus
dro Periódico a seguir ao urânio pode
118 ununóctio Uuo
ser atribuído provisoriamente uma de-
119 ununénnio Uue
signação temporária, quer exista ou
não um elemento químico com esse 120 unbinílio Ubn
48 QUÍMICA 119