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FAHESA – Faculdade de Ciências Humanas, Econômicas e da Saúde de Araguaína

ITPAC – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Ltda.


DIREITO

Revisão de literatura do instituto do Mandado de Segurança

Evandro Batista Nunes Júnior

Araguaína/TO
junho/2015
Evandro Batista Nunes Júnior

Revisão de literatura do instituto do Mandado de Segurança

Trabalho apresentado como requisito parcial para


obtenção de aprovação na disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso II do Curso de Direito da
FAHESA/ITPAC.

Prof. Orientador: Me. José Francisco Mendanha

Araguaína/TO
junho/2015
Evandro Batista Nunes Júnior

Revisão de literatura do instituto do Mandado de Segurança

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à FAHESA/ITPAC como requisito


parcial para obtenção de grau de Bacharel em Direito, submetido à Banca
Examinadora em ___/06/2015.

Banca:

Presidente – Prof. Orientador Me. José Francisco Mendanha

Professor convidado

Professor convidado
RESUMO

REVISÃO DE LITERATURA DO INSTITUTO DO MANDADO DE SEGURANÇA


Evandro Batista Nunes Júnior – Acadêmico de Direito
evandrobnjunior@gmail.com

A presente pesquisa tem o propósito de analisar o instituto do Mandado de Segurança,


trazendo à tona sua evolução histórica, fazendo paralelos com outros institutos do
direito comparado que o inspiraram, bem como suas primeiras aparições em
constituições promulgadas e/ou outorgadas, sendo até o momento, um dos principais
garantidores de direitos individuais e coletivos, contra atos ilegais, oriundos de abuso
de poder de autoridades públicas ou de quem lhe faça as vezes. Também é proposto
um estudo de sua construção jurídico-dogmática pela doutrina pátria, bem como suas
previsões na legislação ordinária. Será apresentado, também, uma análise
sistematizada da ”doutrina brasileira do habeas corpus” e da “teoria da posse dos
direitos reais”, ambas defendidas pelo doutrinador Ruy Barbosa, até sua importante
participação na criação do referido remédio constitucional.

Palavras-chave: Mandado de Segurança. Remédio Constitucional. Direito


comparado. Ruy Barbosa.
ABSTRACT

LITERATURE REVIEW INSTITUTE OF MANDADO DE SEGURANÇA


Evandro Batista Nunes Júnior – Student Law
E-mail: evandrobnjunior@gmail.com

This working course completion, aims to analyze the Injunction of the institute, bringing
up its historical evolution, making parallels with other legal institutes compared to the
inspired, and their first appearances in enacted constitutions and / or granted, and yet,
one of the main guarantors of individual and collective rights, against illegal acts,
arising from abuse of power by public authorities or who do you sometimes. It is also
proposed a study of its legal-dogmatic construction of country doctrine, as well as their
predictions in the ordinary legislation. Will be presented as well, a systematic study of
the "Brazilian doctrine of habeas corpus" and "possession of property rights theory",
both presented by theoretician Ruy Barbosa, to its important role in the establishment
of such a constitutional remedy.

Keywords: Writ of Mandamus. Constitutional remedy. Constraining party act. Ruy


Barbosa.
SUMÁRIO

PÁG.

1 INTRODUÇÃO 7

2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO MANDADO DE SEGURANÇA 9

3 MATERIAL E MÉTODO 15

4 O MANDADO DE SEGURANÇA NO ORDENAMENTO BRASILEIRO 16

4.1. O Mandado de Segurança e a Teoria brasileira do habeas corpus 28

4.2. As revoluções constitucionalistas e o Mandado de Segurança 32

4.3. Comentários à Lei 12.016 de 2009 39

4.4. Mandado de Segurança Coletivo 42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 44

REFERÊNCIAS 45
7

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho será elaborado através da literatura jurídica que trata


especificamente do tema: Mandado de Segurança, fazendo paralelos no Direito
comparado - que influenciaram tal instituto característico do ordenamento jurídico
pátrio -, suas primeiras aparições no ordenamento jurídico brasileiro, seja com
previsão expressa nas constituições, ou de maneira infraconstitucional.

Com as primeiras demonstrações de regimes democráticos, que vieram a


permitir a participação da sociedade no campo das decisões, surge junto e de forma
crescente, a insatisfação aos comandos autoritários do estado. Era comum concentrar
todos os poderes em uma só autoridade, que não tinha responsabilidade alguma pelos
seus atos, mesmo que com abusos de poder ou ilegalidades.

Diante da fragilidade do cidadão e da facilidade de violação de direitos


garantidos no texto constitucional, veio a necessidade de um instrumento jurídico
processual, capaz de tutelar tais prerrogativas constitucionais. Nesta época, nasce o
Habeas Corpus, com a finalidade precípua de proteger a liberdade de ir e vir. Porém,
o instituto era singular no que diz respeito à liberdade de locomoção, sendo pouco
eficaz na tentativa de tutelar outras prerrogativas que pudessem ser provadas de
plano, deixando brechas aos atos que atentassem contra outros direitos previstos na
Lei Maior.

Com a reforma constitucional de 1926, a larga utilização do habeas corpus, que


vinha sendo feita, perdeu dinamismo. Daí emergem-se vários meios de tutelar o
cidadão contra atos abusivos do poder público, dentre eles: ações ordinárias;
específicas; a presença da fungibilidade processual em favor do cidadão. Mas ainda
nada que fosse específico e com a celeridade necessária e satisfativa.

Partindo do pressuposto de que o Estado, valendo-se de sua soberania Estatal,


pudesse, através de atos administrativos, agredir garantias, liberdades e direitos
fundamentais, manifesta-se a necessidade explícita de se criar um mecanismo de
defesa – com base constitucional, a fim de obter maior força normativa –, para que,
de forma segura e célere, o particular pudesse reagir e defender-se de tais atos
inconstitucionais, eivados de ilegalidade e abuso de poder.
8

Como forma de proteger direitos constitucionais do cidadão, contra atos


autoritários de notável abuso de poder, com características únicas e distintas das que
lhe influenciaram, dentre elas a necessidade de prova pré-constituída, direito líquido
e certo, que não fosse amparado por outro remédio constitucional – daí se percebe a
natureza residual -, é que o ordenamento jurídico brasileiro cria um instituto próprio,
guarnecido de peculiaridades e regras singulares, vindo a ser batizado de Mandado
de Segurança.

O Mandado de Segurança tem sua primeira aparição expressa no ordenamento


jurídico brasileiro, na Constituição de 1934 – que ora era chamada de “Constituição
da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de julho de 1934” -, em seu art. 113,
§ 33, tendo sua redação sido criticada posteriormente por diversos especialistas da
época, por trazer expressões contraditórias e pouco completas, como: “direito certo e
incontestável”, daí nascendo a crítica à expressão “incontestável”, fazendo alusão a
direito absoluto, que não fosse passível de resposta, o que contradiz o final do próprio
artigo, que diz que deve sempre ser ouvida a pessoa de direito público interessada.

Desde sua primeira aparição no direito brasileiro, o Mandado de Segurança já


trazia a finalidade de amparar direito que pudesse ser provado de plano, e que
estivesse ameaçado ou violado pela autoridade pública. Ou seja, a ação mandamental
sempre teve a finalidade precípua de afastar a primeira ilegalidade advinda do poder
público, não dispensando futuras ações petitórias – conforme redação do art. 133.
§33, da Constituição de 1934 -, que por ventura o particular visse necessidade de
propô-la.

Daí nasce o primeiro instituto brasileiro, de natureza mandamental, capaz de


tutelar direitos violados ou ameaçados por ato ilegal ou com abuso de poder de
autoridade pública.
9

2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO MANDADO DE SEGURANÇA

Segundo Meirelles (2010), o Mandado de Segurança – em seus aspectos


atuais - fora posto à disposição do cidadão, sendo ele pessoa física ou jurídica, órgão
com capacidade universal, ou reconhecida por lei, a fim de que este pudesse proteger
direitos que lhe fossem inerentes, individuais ou coletivos, líquidos e certos, lesados
ou ameaçados de lesão por ato de autoridade, e que não fosse amparado por habeas
corpus ou habeas data, independente da categoria ou função que venha a exercer.

Fazendo um breve estudo a despeito da terminologia “mandado de


segurança”, segundo Tornaghi (1975), o termo “mandado”, parte originariamente do
latim “manus”, indicando poder/concessão de poderes, ou seja, era dado poder a
alguém, a fim de proteger direito pré-assegurado.

Mandado de Segurança é a ação intentada pela pessoa no sentido de ser


assegurado em um direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por
ato de autoridade, manifestamente inconstitucional e ilegal [...] sua finalidade
é a de anular o ato ilegal, que violou o direito, ou de impedir que se execute
a ameaça contra o direito. (DE PLÁCIDO E SILVA, 2014, p. 878)

Meirelles disserta (2010), que, este importante remédio constitucional está


previsto atualmente no texto da Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º LXIX e
LXX e também na lei 12.1016 de 7 de agosto de 2009. Caso um direito que fora
ameaçado ou violado, ajuste-se a mais de uma pessoa ou ente, pode, qualquer delas,
requerer tal correção judicial, assim prevê o art. 1º, §3º da Lei n. 12.1016/09.

Destarte, antes de adentrarmos no mérito do mandado de segurança,


necessário é, que mostremos brevemente tais direitos tutelados por este instituto e
quais suas classificações.

Afirma Da Silva (2005), que a positivação dos direitos individuais


fundamentais constitui elemento fundamental para a sua obrigatoriedade e
imperatividade, esta consagração dos direitos do homem, que é jurídico-positivista, é
uma garantia reconhecida na Carta Magna, uma relação existente entre o governado,
intitulado juridicamente como sujeito ativo e Estado, fazendo as vezes com suas
autoridades, sob os sujeitos passivos, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.
10

Necessário é, demonstrarmos, nas palavras de Sidou (2013), que direito


individual não está ligado somente a uma pessoa, mas sim a uma interpretação
sinônima de um direito de todos, direito este, fundamental.

Vimos com isto, que o constituinte se preocupou, além de elencar direitos e


garantias individuais fundamentais em seu texto expresso, também de trazer meios
jurídico-constitucionais, que possibilitassem com que o cidadão pudesse se defender,
caso, por ventura, viesse a ser acometido de atos eivados de abuso de poder ou
ilegalidade.

Com a crescente evolução do Estado de Direito, anota Matielo (2001),


logicamente surge a necessidade de se criar mecanismos que tenham a função de
garantir direitos individuais e coletivos. Firmava-se, primeiro, a preocupação em
exaurir os ditames rigorosos e absolutistas dos titulares dos poderes. Preocupava-se
em descentralizar o poder de decisão do estado soberano e consequentemente
reduzir a atividade legislativa deste poder, transferindo, também, tal capacidade ao
povo.

Segundo Picanço (1999), a Revolução Francesa, esta sim inequivocamente


revolucionária, deu início às conquistas sociais, proclamando a Declaração dos
Direitos do Homem, em 4 de agosto de 1789. Posteriormente, vários movimentos da
maior grandeza procuraram dimensionar os direitos da pessoa humana.

Segundo Gilissen, citado por Campos e Laranja (2005), a Revolução


Francesa constitui um fato capital na história do direito dos países da Europa
Ocidental. As ideias políticas, filosóficas, econômicas e sociais do século XVIII foram
centralizadas na legislação revolucionária de 1789. Essa Revolução deu origem a um
direito extremamente individualista: o indivíduo goza do máximo de liberdade, tanto
no domínio do direito privado como no domínio do direito público. Os legisladores iriam
construir o sistema jurídico do mundo contemporâneo sobre um certo número de
teorias políticas, como a teoria da soberania nacional, a teoria da separação de
poderes, que dominarão o direito dos países da Europa Ocidental e da América, nos
séculos XIX e XX.

Para Vasak, apud Menezes (1999), há três premissas que devem ser
observadas, para que os direitos do homem possam ser considerados realidade
jurídica. Primeiro, faz-se necessário a existência de uma sociedade que seja
11

organizada em conformidade com um Estado de Direito. Depois, é necessário, que no


interior do Estado, tais direitos sejam exercidos em um modelo pré-estabelecido,
entretanto, que hajam medidas que se adequem às circunstâncias. Por fim, é
necessário que tais direitos venham escoltados por garantias jurídicas definidas, que
sejam capazes de tutelá-lo.

As constituições modernas radicaram duas ideias básicas: ordenar, fundar e


limitar o poder político e reconhecer e garantir os direitos e liberdades do
indivíduo. Desta forma, passam a ser temas centrais do constitucionalismo: a
fundação e a legitimação do poder político e a constitucionalização das
liberdades. Esse processo histórico fundado na consagração do Direito
Constitucional como elemento central da política dos Estados
contemporâneos legou à sociedade a tradição de legislar instrumentos
jurídicos de garantia dos indivíduos frente ao Estado, dentro os quais se
enfoca o mandado de segurança. (CAMPOS; LARANJA, 2005, p. 17)

Afirma Picanço (1991), que fora justamente nesta constante busca pela
organização e igualdade social, junto à reorganização jurídica, que aparece, no campo
dos Direitos Humanos, o Mandado de Segurança. Posto isto, afirma o autor, que:
“naturalmente, cada fase da desorganização social caracteriza-se pelas tensões,
pelos antagonismos e pelos conflitos entre grupos humanos, da própria sociedade e
do Estado. O direito será sempre a ciência das inovações, e irá até aonde for a
inteligência criadora. As bases do Direito são eternas, mas a sua evolução acompanha
o desenvolvimento intelectual de toda a humanidade. A inteligência, quanto mais viva,
quanto mais penetrante, uma vez que se harmonize com os sentimentos de justiça,
mais capaz de espiritualizar o Direito, elevando-o a alturas imprevistas. E, com essa
elevação, complica-se, não raro, na prática, a finalidade de certos institutos jurídicos.

Uma inteligência explica o Direito, parecendo ter tocado a extremidade


máxima dessa ciência; outra inteligência, porém, mais aguda, explana, igualmente, o
assunto e logo se tem a impressão de que se alargaram consideravelmente os
horizontes jurídicos. O limite da inteligência é a confinação do Direito: vai até ao
máximo das concepções de justiça. Deste modo, com o crescimento do Estado
Moderno, cresce também sua força e poder incontrastável, desde Maquiavel. Diante
de tal desequilíbrio social, em certo contexto histórico de nosso Direito, é que surge o
Mandado de Segurança, a fim de proteger o cidadão dos abusos do estado.
12

“O mandado de segurança encontra similaridade nos writs, instituídos pelo


Direito Americano para acatamento da constitucionalidade das leis. Dos writs,
o que mais se assemelha ao mandado de segurança criado pelo Direito
brasileiro é o writ of injunctions, que se indica como o “remédio destinado à
suspensão de ato ilícito, de ente provado ou de agente do poder público,
convertido no mandamento básico do controle da constitucionalidade de leis
e atos. Há ainda os writs of error, writ of mandamus e writ of certiorari,
utilizados, conforme as circunstancias, para impor medidas assecuratórias às
liberdades humanas. ” (DE PLÁCIDO E SILVA, 2014, pg.511)

Na mesma sintonia, descreve Fux (2009), que, na América Latina, o


mandamus era cognominado “juízo de amparo” ou simplesmente “amparo” e
apresenta algumas peculiaridades que são relevantes, sendo necessário observar os
pressupostos pretorianos de nossos países vizinhos, os quais abandonam o
formalismo processual em prol da efetividade do instituto e na busca pela Justiça,
analisando o caso concreto.

Nosso mandado de segurança inspirou-se no juicio de amparo do Direito


Mexicano, que vigora desde 1841, para a defesa de direito individuai, líquido
e certo contra atos de autoridade. Para um panorama atual da matéria não
só no México e no Brasil, como no resto da América Latina e das influências
recíprocas das legislações e da jurisprudência dos vários países.
(MEIRELES, 2010, p. 27)

Consoante Tavares (2013), doutrinador constitucionalista, o mandado de


segurança apareceu pela primeira vez com este formato de ação, na Constituição
Federal de 1934, com natureza e finalidade correlatas a dos seus inspiradores, o writ
americano, o mandamus inglês e o juicio de amparo, do direito mexicano, a fim de
tutelar circunstâncias, que outrora foram tuteladas pelo habeas corpus. Em suma, o
mandado de segurança pretendeu se tornar o meio constitucional de impugnar os
males advindos da ilegalidade e do abuso de poder das autoridades públicas.

Importante ressaltar, nas palavras de Maia Filho (2010), que o mandado de


segurança é uma criação jurídico brasileira, apesar de encontrar similaridade com
outros institutos de direitos alienígenas, como o writ, americano, e o mandamus,
inglês, bem como juicio de amparo, do direito mexicano. Todos com o intuito de
proteger o homem, das medidas arbitrárias do estado.
13

Do que necessitamos é de um instituto semelhante ao recurso de amparo,


criado no México, com procedimento, todavia mais sumário, que compreenda
tanto o agravo ao direito que provenha da autoridade pública, como do
proveniente do ato privado. Exposto o fato na petição, provado com
documentos que façam prova absoluta, e citada a lei que se diz violada com
esse fato, o juiz mandará que o indicado ofensor responda em prazo breve,
instruindo a resposta com os instrumentos que tiver. Tal como se fosse um
processo de habeas corpus, o juiz julgará sem demora a causa. Se verificar
que o fato alegado não é certo e líquido ou não está provado, mandará que o
requerente recorra aos juízos comuns. (SIDOU, 2013, p. 173-174)

Fux aponta (2009), ainda, que o primeiro momento em que se avistou a


possibilidade de criação de um instrumento jurídico, de natureza constitucional, que
fosse similar ao habeas corpus, fora no Congresso Jurídico, realizado em 1922,
presidido pelo então Ministro Muniz Barreto.

Segundo Sidou (2013), o deputado Gudesteu Pires, em 1926, apresenta


criando uma espécie de instituto “duplex”, a fim de tutelar “todo direito pessoal, líquido
e certo, fundado na Constituição ou em lei federal”, contra todo tipo de lesão,
proveniente de ato de autoridade administrativa. Este projeto não fora aprovado.

Para Scarpinella Bueno (2008), “Nasceu o mandado de segurança para suprir


uma deficiência do sistema constitucional e legal então vigente quanto à inexistência
de mecanismos eficientes e eficazes para tutelar o particular contra o estado. ”

Apesar de o mandado de segurança ter sofrido fortes influências do direito


mexicano, norte-americano, e o direito comparado em geral, conta De Moraes (2014),
que, nosso instituto é uma criação brasileiríssima, não havendo direito similar no
estrangeiro.

O mandado de segurança do direito brasileiro se aproxima mais do


mandamus inglês, instituído para proteger os funcionários demitidos ou
removidos ilegalmente. O mandamus visa atos administrativos. O mandado
de segurança, também criado pela Constituição brasileira, se dirige contra
atos de autoridades. O writ, ao contrário disso, é medida geral de proteção
contra atos públicos e particulares. O mandado de segurança poderá
equivaler a certo e determinado writ, mas não a qualquer deles. O writ of
mandamus não se confunde com o quo warranto, nem com o writ os certioari.
(PICANÇO, 1937, p. 19-20)

Ademais, a doutrina de Bueno (2009), faz apontamentos ao Direito Mexicano,


tratando-o como uma das principais fontes de inspiração do mandamus brasileiro,
sendo ele o juicio de amparo. Tal instituto de origem mexicana, tinha o intuito de coibir
14

tanto atos eivados de abuso de poder, quanto leis que deturpassem suas garantias
fundamentais. Tal segurança também poderia ser promovida por terceiro, haja vista
que neste primeiro modelo de writ mexicano, também se abarcava a vida e a liberdade
pessoal.

Afirma Lâmmego (2012) que foi João Mangabeira quem criou o termo
mandado de segurança, cunhado, pela primeira vez, no Diário Oficial da União, de 4
de fevereiro de 1933, à página 2246, alusiva à sessão de 27 de janeiro precedente,
da Comissão do Anteprojeto Constitucional, conhecida por Comissão do Itamarati,
porque neste Palácio se reunia. A fórmula proposta por João Mangabeira trazia a
seguinte redação: “Toda pessoa que tiver um direito incontestável, ameaçado ou
violado por um ato manifestamente ilegal do Poder Executivo, poderá requerer ao
Poder Judiciário que o ampare por um Mandado de Segurança”.
15

3 MATERIAL E MÉTODO

O trabalho desenvolvido seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio


de uma pesquisa bibliográfica, que, segundo Gil (2008, p.50), “é desenvolvida a partir
de material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos”.

Também foi utilizada a pesquisa científica, feita através da análise da literatura


jurídica do instituto do Mandado de Segurança, buscando como referência,
bibliografias de autores renomados que tratam do tema.

Buscou-se sempre a literatura de autores conceituados, que se preocupam em


demonstrar as caraterísticas do instituto, desde sua criação, fazendo alusões ao
direito comparado, sua aplicação ao longo do contexto jurídico-histórico brasileiro, até
o que hoje chamamos de Mandado de Segurança.

Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que


pressupõe que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O
raciocínio dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por
intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise
do geral para o particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo,
construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira
logicamente decorrente das duas primeiras, denominada de conclusão (GIL,
1999).

Como procedimento metodológico, foi usada a pesquisa literária e


documental, para discernimento e construção do conhecimento, e como instrumento
para a definição dos dados, foram utilizadas obras jurídicas, leis, tratados,
jurisprudências e arquivos históricos.

Posto isto, através de busca nas bibliografias disponíveis na instituição


FAHESA/ITPAC e livros digitais disponíveis na internet, foi possível fazer uma
pesquisa minuciosa sobre o instituto do mandado de segurança, buscando dar ao
leitor – desde o leigo, ao que detenha conhecimento jurídico -, uma clara e
compreensível leitura sobre o mandado de segurança.
16

4 O MANDADO DE SEGURANÇA NO ORDENAMENTO BRASILEIRO

Conforme o que fora narrado, e nas palavras de Mouta (2010), afirma-se que
o mandado de segurança é um velho instituto do ordenamento jurídico brasileiro, um
pouco diferente do que temos hoje, é claro, porém, com finalidade parecida.

O marco real do instituto do mandado de segurança, nas palavras de Mendes


(2012), está ligado a existência de alguns fatores, são eles: as primeiras seguranças
concedidas pelas ordenações de reinos antigos; a inspiração dos writs do direito norte-
americano; ao impulso dado pelo direito mexicano, através do recurso de amparo; a
sumariedade dada pela Lei nº 221, de 1984; a teoria do habeas corpus de Rui
Barbosa; bem como com a ampliação dos interditos possessórios.

Sem qualquer dúvida, o mandado de segurança representa o mais poderoso


instrumento de proteção aos direitos dos indivíduos e agora também aos
direitos de grupos de pessoas tomados de forma global. Trata-se de garantia
fundamental, como assinala a Constituição ao inserir esse mecanismo entre
os instrumentos de cidadania e de tutela aos direitos em geral. (CARVALHO
FILHO, 2014, p. 1046)

Da Silva (2005), diz, que, a Constituição Federal de 1988 contempla dois


modelos de mandado de segurança, o individual, previsto no art. 5º, LXIX, tal como
prevê as constituições anteriores, desde a de 1934, bem como a forma coletiva,
elencada no art. 5º LXX, a fim de garantir direitos coletivos, ora impetrados.

Direito individual, para fins de mandado de segurança, é o que pertence a


quem o invoca e não apenas à sua categoria, corporação ou associação de
classe. É direito próprio do impetrante. Somente este direito legitima a
impetração. Se o direito for de outrem não autoriza a utilização do mandado
de segurança, podendo ensejar ação popular ou ação civil pública. (Leis n.
4.717/65 e 7.347/85). (MEIRELLES, 2010, p. 33)

Anotam Vicente e Alexandrino (2014), que o mandado de segurança fora


posto no ordenamento jurídico brasileiro, desde a constituição federal de 1934, sendo
atualmente regulamentado pela lei 12.016 de 07 de julho de 2009.
17

O mandado de segurança é uma criação brasileira. Foi ele criado pela


Constituição de 1934, art. 113, ignorado pela Carta de 1937, mas restaurado
à dignidade constitucional pela Lei Fundamental de 1946 e nela mantido pela
de 1967 e de 1988. Ele é hoje regulamentado pela Lei 12.016/2009.
(MENDES, 2012, p. 1424)

Vicente e Alexandrino, (2014), dissertam, que, por mais de meio século o


mandado de segurança esteve regulamentado, no Brasil, pela Lei 1.533/1951. Como
seria de imaginar, essa lei sofreu diversas alterações ao longo de sua existência. Além
disso, muitas regras legais pertinentes ao mandado de segurança foram veiculadas
em outras leis, em complementação à Lei 1.533/1951, porém sem modificação do seu
texto. Ainda mais importante para a configuração do perfil dessa nobre ação -
verdadeira garantia constitucional fundamental - foi (e ainda é) o caudaloso labor
jurisprudencial de nossas cortes judiciais, sobretudo do Supremo Tribunal Federal.

Sendo assim, Da Silva (2005), diz, que, o mandado de segurança, é, desta


forma, um remédio constitucional, com natureza de ação cível, que é colocado à
disposição de qualquer titular de um direito que seja líquido e certo, lesado ou
ameaçado de lesão, por ato comissivo ou omissivo do titular do poder público, na
postura de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
públicas.

Segundo Temer (2008), o mandado de segurança teve previsão expressa,


primeiramente, nas constituições de 1934 e 1946, sempre no intuito de afastar as
ilegalidades e abusos do poder público, e com isto, garantir direito “líquido e certo”,
subsistindo enfim, à constituição de 1967 e no art. 153, §21 da Constituição de 1969,
sendo então regulado pela Lei 1.533 de 31 de dezembro de 1951. Na Constituição
Federal de 1988, por fim, estabeleceu-se:

Art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Na visão de Da Silva (2005), o mandado de segurança veio para tutelar direito


pessoal, líquido e certo. Desta forma, o titular deste direito tem legitimidade para a
18

impetração do mandado de segurança individual, sendo este legítimo contra qualquer


autoridade pública, ou agente que lhe faça as vezes.

Segundo Di Prieto (2014), daí nasce o conceito de direito líquido e certo, como
o direito comprovado de plano, ou seja, que pudesse ser atestado juntamente com a
petição inicial. No mandado de segurança, inexiste a fase de instrução, de modo que,
havendo dúvidas quanto às provas produzidas na inicial, o juiz extinguirá o processo
sem julgamento do mérito, por falta de um pressuposto básico, ou seja, a certeza e
liquidez deste. Para auferir-se o direito líquido e certo do impetrante, necessário é, que
ele apresente algumas condições, além da certeza quanto aos fatos alegados: 1)
Certeza Jurídica, no sentido de que este direito decorra de norma legal expressa, não
se admitindo qualquer outro tipo de intepretação, se não àquela adstrita à lei; 2) Direito
Subjetivo próprio do impetrante do mandamus e não o simples interesse, devendo
este pertencer àquele; 3) Direito líquido e certo a respeito de objeto determinado. Não
servindo o instituto do mandado de segurança, para pleitear prestações
indeterminadas, genéricas, ou impossíveis de se auferir de plano.

De Moraes disserta (2014), que, com o advindo da lei 12.016 de 2009, passou-
se a considerar autoridade coatora aquela que veio a praticar o ato ora impugnado,
ou da qual emanou a ordem para a sua prática.

Este ato ou omissão poderá provir de autoridade de qualquer um dos três


Poderes. Só não se admite mandado de segurança contra atas meramente
normativos (lei em tese), contra a coisa julgada e contra os atos interno
corporais de órgãos colegiados. E as razões são óbvias para essas
restrições: as leis e os decretos gerais, enquanto normas abstratas. São
insuscetíveis de lesar direitos. Salvo quando proibitivos; a coisa julgada pode
ser invalidada por ação rescisória (CPC. art. 485) e os atos interna corporais,
se realmente o forem, não se sujeitam à correção judicial. (MEIRELLES,
2010, p. 36)

Nunes, citado por De Moraes (2014), diz que o uso do mandado de segurança
será contra todo ato comissivo ou omissivo, advindo de qualquer autoridade no âmbito
dos Poderes do Estado ou do Ministério Público.

Decorre o instituto, em última análise, daquilo que os publicistas chamam de


obrigações negativas do Estado. O Estado como organização sócio-jurídica
do poder não deve lesar os direitos dos que se acham sob a sua tutela,
respeitando, consequentemente, a lídima expressão desses mesmos
direitos, por via da atividade equilibrada e sensata dos seus agentes, quer na
administração direta, quer no desenvolvimento do serviço público indireto”
(NUNES, 1967, p. 54)
19

Quanto aos atos de dirigentes de estabelecimento particular, Meirelles (2010),


diz, que, no passado, a jurisprudência tinha um certo receito quanto à sua
admissibilidade e hesitava em admiti-lo, da mesma forma em que se fiscaliza os
centros de ensino médio e fundamental do governo, bem como entidades paraestatais
que o Poder Público lhes delegam atividades.

Com relação às entidades particulares, cabe mandado de segurança quando


atuem por delegação e nos limites da delegação; quando exerçam atividades
que nada têm a ver com essa delegação, não cabe o mandado de segurança.
Além disso, se exercerem atividades autorizadas, com base no poder de
polícia do Estado, que não se inserem entre as atividades próprias do Poder
Público, também não cabe essa medida. É o que ocorre com os serviços de
táxi, hospitais particulares, es estabelecimento bancários, companhias de
seguro. (DI PIETRO, 2014, p. 861)

Segundo Meirelles (2010), conforme art. 3º da lei então lei em vigor, o


mandado de segurança pode ser também impetrado por terceiro que venha a ser
titular de direito líquido e certo decorrente de direito daquele, a favor de seu originário,
caso o seu titular não o faça, no prazo de 30 dias, a partir da sua notificação judicial.

Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência,


delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da
impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por
mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si
todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante: se sua
existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu
exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende
ensejo a segurança, embora possa ser defendido por outros meios judiciais.
(MEIRELLES, 2010, p. 6)

Nas palavras de Afonso da Silva (2005), houveram determinados momentos


históricos em que vinha sendo admitido o mandado de segurança até mesmo contra
decisão jurisdicional, especialmente para obter sua suspensão quando pendente de
recurso com efeito não suspensivo, ou mesmo quando não dependesse desta. O
instituto também abrange a defesa contra atos disciplinares da Administração Pública,
porém, ensina Meirelles (2010), que não caberá sua impetração contra lei em tese.

Aduz Veloso (1994), que, em relação ao ato disciplinar, não poderia o poder
judiciário afastar-se de auferir os elementos deste, mesmo através do mandado de
20

segurança, analisando seus elementos, sejam eles: sujeito, objeto, forma, motivo e
finalidade.

O substrato de validade do mandado de segurança é retirado do próprio texto


constitucional com a clara e precípua finalidade de proteção aos inúmeros
direitos constitucionais não amparados pelo habeas corpus ou pelo habeas
data; não havendo, portanto, possibilidade de restrições legais que impeçam
sua efetiva utilização. (DE MORAES, 2014, p. 162)

Enfatiza Meirelles (2010), que a legislação vigente (Lei n. 12.016/09, art. 52),
ao contrário da anterior, não veda a utilização do mandado contra atos disciplinares.
Sustentou-se o descabimento do mandado de segurança contra ato disciplinar, salvo
naqueles casos indicados na antiga Lei n. 1.533/51 (art. 5", inc. 11I), "quando
praticado por autoridade incompetente ou com inobservância de formalidade
essencial". Entretanto, diante de irrefutáveis argumentos do culto Min. Carlos Mário
Velloso, apoiado em fundamentado acórdão do antigo TFR, houve por bem render-se
ao seu entendimento, que considera a restrição da lei incompatível com a amplitude
constitucional do mandamus. Realmente, se a Constituição vigente concede a
segurança para proteger todo direito líquido e certo não amparado por habeas corpus,
qualquer que seja a autoridade ofensora (art. 5·, LXIX), não se legitima a exclusão
dos atos disciplinares que, embora formalmente corretos e expedidos por autoridade
competente, podem ser ilegais e abusivas no mérito, a exigir pronta correção
mandamental.

Di Pietro, em importante contribuição doutrinária (2014), traz à tona alguns


entendimentos jurisprudenciais a respeito da legitimidade passiva do mandado de
segurança, nos casos em que o particular pode figurar neste polo, sendo eles: 1.
Estabelecimentos particulares de ensino, mesmo em se tratando de exercício de
função autorizada e não delegada pelo poder público; 2. Sindicatos, quanto à
cobrança de contribuição sindical; 3. Agentes financeiros, ao executarem planos
governamentais, perante a fiscalização do poder público, como acontece com os
agentes financeiros do Sistema Financeiro de Habitação; 4. Serviços sociais
autônomos, que, embora sejam de natureza privada, recebem parcelas da
contribuição que a Previdência Social arrecada, para, em troca, prestarem assistência
a determinadas categorias de trabalhadores, sendo elas, o SESI, SESC, SENAI,
Legião Brasileira de Assistência e outras entidades semelhantes.
21

Segundo De Moraes (2014), poderão figurar no polo passivo do mandado de


segurança, aqueles que possuem força cogente – em tese -, para praticar atos ou
omissões, revestidas de força jurídica especial, bem como componentes de qualquer
dos Poderes da União, Estados e Municípios, de autarquias, de empresas públicas ou
sociedades de economia mista que exerçam serviços de caráter público. Ou ainda, de
pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, com alguma função pública delegada
deste poder.

Disserta Di Pietro (2014), que, embora se trate de jurisprudência adotada na


vigência da Lei nº 1. 533/ 51, não há dúvida de que continua a aplicar-se, tendo em
vista que o conceito de autoridade, para fins de mandado de segurança, alterou-se
apenas na redação, permanecendo o sentido que já decorria da norma anterior e
estava pacificado no âmbito doutrinário e jurisprudencial, inclusive pelo Supremo
Tribunal Federal, conforme se verifica pelos termos da Súmula nº 510.

Segundo Meirelles (2010), não só as pessoas físicas e jurídicas podem


utilizar-se e serem passíveis de mandado de segurança, como também os órgãos
públicos despersonalizados, mas dotados de capacidade processual, como as
Chefias dos Executivos, as Presidências das Mesas dos Legislativos, os Fundos
Financeiros, as Comissões Autônomas, as Agências Reguladoras, as
Superintendências de Serviços e demais órgãos da Administração centralizada ou
descentralizada que tenham prerrogativas ou direitos próprios ou coletivos a defender.

Conforme decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “ A lei pode atribuir a pessoa


jurídica de direito Privado certas funções próprias do Poder Público. Foi o
que se deu quando a CLT atribuiu à Caixa Econômica Federal a atividade de
arrecadação e distribuição da Contribuição Sindical. Aí agindo como Poder
Público, a CEF é parte passiva legítima no mandado de segurança” “STJ - I
a T. Resp. n° 63.580/DF - Rei. Min. César As for Rocha, Diário da Justiça,
Seção I, 6 out. 1997, p. 49.879” (Brasil, 1997)

Descreve Di Pietro (2014), que, o mandado de segurança deve ser impetrado


contra a autoridade coatora, e não em face da pessoa jurídica desta. Nos termos do
art. 6º, §3º, da lei 12.016/09, “considera-se autoridade coatora aquela que tenha
praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática”. Nas
hipóteses de atos complexos e compostos, em que figura mais de uma autoridade
coatora, todas elas devem ser citadas, haja vista que nestes atos, só há como
22

perceber a ilegalidade ou abuso de poder, pela manifestação de duas ou mais


vontades.

Embora a regra seja a de que a autoridade coatora, mesmo no caso de ato


comissivo, é a que dispõe de competência para corrigir o ato ilegal, na
realidade nem sempre isso ocorre, pois, no mandado de segurança,
legitimado passivo é o “responsável pela ilegalidade ou abuso de poder”,
segundo expressão que consta do próprio dispositivo constitucional. Se o ato
foi praticado por determinada autoridade, ainda que incompetente, contra ela
cabe a impetração, já que é a responsável pela ilegalidade, cabendo-lhe a
obrigação de desfazer o ato se o mandado for concedido. (DI PIETRO, 2014)

Disserta Meirelles (2010), que o mandado de segurança normalmente é


repressivo de uma ilegalidade já cometida, porém, admite sua impetração de maneira
preventiva de uma ameaça de direito líquido e certo do impetrante. Para que configure
o cenário que necessite a impetração do mandado de segurança em modelo
preventivo, não basta somente a suposição de um direito ameaçado, mas sim, há a
necessidade e exigência de um ato concreto que ponha em risco o direito do
impetrante.

O mandamus preventivo tem sido muito utilizado em matéria tributária, em


especial para proteção contra a cobrança de tributos inconstitucionais.
Embora não seja cabível o mandado de segurança contra lei em tese (Súmula
n. 266 do STF), a edição de nova legislação sobre tributação traz em si a
presunção de que a autoridade competente irá aplicá-la. Assim, a
jurisprudência admite que o contribuinte, encontrando-se na hipótese de
incidência tributária prevista na lei, impetre o mandado de segurança
preventivo, pois há uma ameaça real e um justo receio de que o fisco efetue
a cobrança do tributo. Neste sentido, há várias decisões do STJ.
(MEIRELLES, 2010, p. 29)

Por outro lado, Meirelles (2010), completa, que, muito fora discutido a respeito
das consequências da eventual prática, ainda no curso do processo, de ato que o
mandado de segurança visasse obstar, surgindo correntes que defendiam que a
impetração perdia o seu objeto, com isto, a parte deveria ajuizar uma nova ação de
mandado de segurança, desta vez repressiva. Porém, e de maneira muito acertada,
a Jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de considerar que o mandado de
segurança preventivo não fica prejudicado pela prática do ato, hipótese em que este
deve ser anulado e desconstituído na hipótese de concessão da segurança.
23

O mandado de segurança, como a lei regulamentar o considera, é ação civil


de rito sumário especial, destinada a afastar ofensa ou ameaça a direito
subjetivo individual ou coletivo. Privado ou público, através de ordem corretiva
ou impeditiva da ilegalidade, ordem, esta, a ser cumprida especificamente
pela autoridade coatora, em atendimento à notificação judicial. Sendo ação
civil, o mandado de segurança enquadra-se no conceito de causa, enunciado
pela Constituição da República, para fins de fixação de foro e juízo
competentes para o seu julgamento quando for interessada a União Federal
(art. 109, I e VIII) e produz todos os efeitos próprios dos feitos contenciosos.
Distingue-se das demais ações apenas pela especificidade de seu objeto e
pela sumariedade de seu procedimento, que lhe é próprio, aplicando-se,
subsidiariamente, as regras do Código de Processo Civil. Visa,
precipuamente, à invalidação de atos de autoridade ou à supressão de efeitos
de omissões administrativas capazes de lesar direito individual ou coletivo,
líquido e certo. (MEIRELLES, 2010, p. 30)

Ainda segundo Meirelles (2010), independente da origem ou da natureza do


ato ora impugnado (administrativo, judicial, civil, penal, policial, militar, eleitoral,
trabalhista, etc.), será o mandado de segurança processado e julgado como ação civil,
no juízo que for competente para julgar a lide.

Por se exigir situações e fatos comprovados de plano é que não há instrução


probatória no mandado de segurança. Há, apenas, uma dilação para
informações do impetrado sobre as alegações e provas oferecidas pelo
impetrante, com subsequente manifestação do ministério Público sobre a
pretensão do postulante. Fixada a lide nestes termos, advirá a sentença
considerando unicamente o direito e os fatos comprovados com a inicial e as
informações. (MEIRELLES, 2010, p. 34)

Consoante doutrina de Di Pietro (2014), hoje é pacífico o entendimento entre


os tribunais e juízes, de que a liquidez e a certeza, estão ligadas aos fatos, ou seja,
conseguindo o impetrante prová-los de plano, a complexidade com relação à
interpretação jurídica do caso concreto, seriam resolvidas e julgadas pelos juízes. Este
entendimento fora consagrado na Súmula nº 625, do Supremo Tribunal Federal,
segunda a qual: “controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de
mandado de segurança”.

Conforme leciona Meirelles (2010), o prazo para impetração do mandado de


segurança é de 120 dias, a contar da data em que o interessado tomou conhecimento
da suposta ilegalidade/abuso de poder a ser impugnada. Este prazo refere-se à
decadência do direito à impetração e, portanto, não é suspenso, nem tão pouco
interrompido, após ser iniciado. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º LXIX,
nada diz a respeito deste prazo para impetração do mandado de segurança. Diante
24

disto, foi questionado nos tribunais quanto à constitucionalidade da legislação


ordinária. O Supremo Tribunal Federal acabou por decidir, ao editar a Súmula n. 632,
reconhecendo a constitucionalidade do prazo decadencial de 120 dias.

A fluência do prazo só se inicia na data em que o ato a ser impugnado se


toma operante ou exequível, vale dizer. Capaz de produzir lesão ao direito do
impetrante. Até então, se é insuscetível de causar dano ao destinatário, é
inatacável por mandado de segurança, porque este visa, precipuamente, a
impedir ou fazer cessar os efeitos do ato lesivo a direito individual ou coletivo.
Ora, enquanto o ato não estiver apto a produzir seus efeitos, não pode ser
impugnado judicialmente. Até mesmo a segurança preventiva só pode ser
pedida ante um ato perfeito e exequível, mas ainda não executado. Enquanto
o ato estiver em formação, ou com efeitos suspensos, ou depender de
formalidades complementares para sua imperatividade, não se nos antolha
passível de invalidação por mandado de segurança. (MEIRELLES, 2010, p.
57)

De Moraes também descreve (2014), que, muito embora a sentença em sede


de mandado de segurança decida por denegar tal segurança, sem que tenha
analisado seu mérito, admite-se aí, que este prazo seja renovado.

O fato de o mandado de segurança estar incluído entre os direitos e garantias


fundamentais (CF, art. 52, LXIX), não exclui sua utilização por pessoas
jurídicas, nem por órgãos públicos despersonalizados, nem por
universalidades patrimoniais. Isto porque o constituinte brasileiro não
restringiu seu uso à pessoa humana (como fez com o habeas corpus);
instituiu-o como meio constitucional hábil a proteger indiscriminadamente
direitos de quaisquer titulares, personalizados ou não, desde que tais titulares
disponham de capacidade processual para defendê-los judicialmente quando
lesados ou ameaçados de lesão por ato ou omissão de autoridade. O
essencial é que o impetrante tenha direito subjetivo próprio (e não simples
interesse) a defender em juízo. Não há confundir interesse com direito
subjetivo e, principalmente, com direito subjetivo líquido e certo, que é o único
preterível por mandado de segurança, e ao qual não se pode negar a
proteção do remédio processual. É verdade que a legislação anterior era mais
genérica ao referir-se, no art. 1º, a "alguém" e não às pessoas físicas e
jurídicas. (MEIRELLES, 2014, p. 61)

Nas palavras de Meirelles (2010), as partes que iniciam o processo do


mandado de segurança, são o impetrante (titular do direito), o impetrado (autoridade
coatora) e o Ministério Público, atuando como parte pública autônoma, agindo como
fiscal da lei. Esta é a integração ativa e passiva que dá forma ao enredo processual
do mandado de segurança. Além destes que compõem as partes inicias do mandado
de segurança, poderão outros interessados compor a lide. Admite-se o litisconsorte
ativo, desde que a parte ingresse antes do despacho da inicial (art. 10, §2º, da Lei
25

12.016 de 2009). As partes que figurarem de maneira ilegítima devem ser


liminarmente, de ofício, excluídas da lide; e, sendo esta ilegitimidade do impetrado ou
do impetrante, há que se extinguir o processo sem resolução de mérito, na forma do
art. 267, V, do CPC.

O impetrante, para ter legitimidade ativa, há de ser o titular do direito individual


ou coletivo, líquido e certo, para o qual pede proteção pelo mandado de
segurança. Tanto pode ser pessoa física como jurídica, órgão público ou
universalidade patrimonial privada, embora a Lei n. 12.016/09 se refira a
pessoas ·físicas ou jurídicas (art. 12). Quando for pessoa física ou jurídica,
pode ser nacional ou estrangeira, domiciliada em nosso Pais ou fora dele. O
que se exige é que o impetrante tenha o direito invocado e que este direito
esteja sob a jurisdição da Justiça brasileira. (MEIRELLES, 2010, p. 61)

Meirelles descreve ainda (2010), que o direito subjetivo do impetrante pode


ser privado ou público, de caráter exclusivo ou pertencente a vários titulares, ou
mesmo, a uma categoria de pessoas. O que importa, em sede de mandado de
segurança, é que este impetrante possa exercer este direito, de maneira individual ou
coletiva. Daí porque as associações e sociedades, bem como partidos políticos,
corporações profissionais e sindicatos, tendo elas legitimidade ativa para impetrar
mandado de segurança em favor de seus associados. Importante esclarecer, também,
que através do mandado de segurança, não se defende direito de coletividade, mas
sim, direito subjetivo, individual ou coletivo. Para a tutela de direitos da coletividade
existem outros meios mais eficazes, como a Ação Popular, Ação Civil Pública ou o
Mandado de Injunção.

Embora se trate de jurisprudência adotada na vigência da Lei nº 1. 533/ 51,


não há dúvida de que continua a aplicar-se, tendo em vista que o conceito de
autoridade, para fins de mandado de segurança, alterou-se apenas na
redação, permanecendo o sentido que já decorria da norma anterior e estava
pacificado no âmbito doutrinário e jurisprudencial, inclusive pelo Supremo
Tribunal Federal, conforme se verifica pelos termos da Súmula nº 510. (DI
PIETRO, 2014, p. 862)

Segundo Da Silva (2005), visa, então, amparar direito pessoal líquido e certo.
Só o próprio titular desse direito tem legitimidade para impetrar o mandado de
segurança individual, que é oponível contra qualquer autoridade pública ou contra
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições públicas, com o objetivo de
corrigir ato ou omissão ilegal ou decorrente de abuso de poder. A doutrina e a
26

jurisprudência já tinham estabelecido que, no conceito de autoridade, já entravam as


autoridades públicas propriamente ditas, os dirigentes e administradores de
autarquias e de entidades paraestatais, como as pessoas naturais ou agentes de
pessoas jurídicas com funções delegadas do Poder Público.

A autoridade coatora será sempre parte na causa, e, como tal, deverá prestar
e subscrever pessoalmente as informações no prazo de dez dias, atender às
requisições do juízo e cumprir o determinado com caráter mandamental na
liminar ou na sentença. Quanto aos efeitos patrimoniais da decisão final,
serão suportados pela Fazenda Pública atingida pelo ato do coator, esteja ou
não representada no processo. Por outras palavras. A execução específica
ou in natura do mandado cabe à autoridade coatora e os efeitos patrimoniais
da condenação tocam à entidade a que pertence o coator. Em face dessa
situação processual estabelecida pela lei, ficou dispensada a citação da
Fazenda, bastando a notificação da autoridade coatora, e a ciência do feito
ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica (art. 7º, inc. II. da Lei n.
12.016/09), para a instauração da lide. A dispensa da citação, conquanto
constitua uma anomalia procedimental, encontra justificativa na necessidade
de simplificação e celeridade do processo do mandado de segurança.
(MEIRELLES, 2010, p. 64)

Com base no histórico relatado e nas palavras de Mouta (2010), pode-se


afirmar que o Mandado de Segurança já existia no Brasil, ainda que na forma dos
institutos nos parágrafos acima delineados, desde 1891, marco da primeira
Constituição Republicana. Distanciando-se dos ideais do liberalismo econômico e até
mesmo da democracia liberal, e numa visão de Estado social de direito foi promulgada
a Constituição Federal de 1934, a qual se destaca por consagrar pela primeira vez a
garantia do Mandado de Segurança conforme se depreende da redação do seu
artigo 113.

Com o advindo da Lei 12.016 de 2009, nas palavras de Meirelles (2010), este
preceito legal trouxe a previsão, de que, é necessário que se dê ciência em todos os
casos ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica representada, que ao fim
específico de também lhe representar, passa a ter poderes para receber citações,
independente de regulamentação administrativa sobre o assunto. Concluindo,
enquanto nas legislações passadas, a pessoa jurídica da autoridade coatora atuava
apenas como simples assistentes, agora passa a ser litisconsorte.

O Ministério Público é oficiante necessário no mandado de segurança, não


como representante da autoridade coatora ou da entidade estatal a que
pertence, mas como parte pública autônoma incumbida de velar pela correta
27

aplicação da lei e pela regularidade do processo. Daí porque, ao oficiar nos


autos, não está no dever de secundar as informações e sustentar o ato
impugnado quando verifique a sua ilegalidade. (MEIRELLES, 2010, p. 69)

Entende Meirelles (2010), que o dever funcional do Ministério Público é o de,


em suma, atuar em todas as ações de mandado de segurança, sob pena de nulidade,
agindo como fiscal da lei, opinando sobre o seu cabimento ou descabimento, pela sua
real necessidade, e, no mérito, pela concessão ou não da segurança. Deve, também,
aferir a regularidade do processo, agindo sob sua convicção pessoal e com a
idoneidade moral, peculiar dos membros do parquet. Só não pode manifestar-se a
respeito dos fatos colocados pelas partes, mas tão somente se resguardar às matérias
de direito.

O Supremo Tribunal Federal já decidiu (Brasil, 2010), porém, que quando o


mandado de segurança for indeferido de plano, por algum vício na ação, a intervenção
do Ministério Público não é obrigatória.
28

4.1. O Mandado de Segurança e a Teoria brasileira do habeas corpus

Segundo Maia Filho (2010), ao dissertarmos sobre o instituto do mandado de


segurança, torna-se eficaz demonstrar que ele tenha surgido no Direito Pátrio, através
do desenvolvimento da doutrina brasileira do habeas corpus, de Rui Barbosa, sendo
um dos primeiros institutos com finalidade de tutelar liberdades e direitos individuais e
coletivos.

No Brasil, o Mandado de Segurança surgiu por meio do desenvolvimento da


“doutrina do habeas corpus” e da “teoria da posse dos direitos reais”, ambas
defendida por Ruy Barbosa. O habeas corpus, previsto na Constituição de
1891, não se restringia tão somente aos casos de constrangimento corporal,
de maneira a abarcar também qualquer direito individual que estivesse sendo
violado ou na iminência de o ser por ilegalidade ou abuso de poder. (FUX,
2009, p. 1)

O mandado de segurança, afirma Di Pietro (2014), surge em virtude do


desenvolvimento da doutrina brasileira do habeas corpus. Com o advindo da emenda
constitucional de 1926 – importante passo para o ordenamento jurídico brasileiro -,
que acabou restringindo o uso do habeas corpus, antes utilizado para tutelar o cidadão
contra qualquer ato ilegal ou com abuso de poder, para então servir apenas às ofensas
ao direito de locomoção. A partir disto, os doutrinadores passaram a procurar algum
outro instituto que pudesse proteger os demais direitos. Todavia, o Mandado de
Segurança surge pela primeira vez no ordenamento jurídico, positivado na
Constituição Federal de 1934. Ao elaborar esta carta constitucional, foi dada, por João
Mangabeira, a sugestão para a criação de um processo sumaríssimo, preconizador
da tutela de direito incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente ilegal
do Poder Executivo, à comissão elaboradora do Anteprojeto Constitucional.

Nas palavras de Ferraz (1980), onde organiza a obra “Cinquenta anos do


mandado de segurança”, traz-se a evolução do instituto na legislação brasileira ao
habeas corpus, onde tinha como escopo, defender a liberdade corporal, mas que era
pacífico na jurisprudência sua utilização para outros fins. A esta jurisprudência, com o
auxílio de Rui Barbosa, deu-se o nome de “Doutrina Brasileira do Habeas Corpus”,
29

sendo destituída com a reforma constitucional de 1926, na intenção de recompor a


pureza e principal função do habeas corpus.

Segundo Pucinelli (2002), a doutrina costuma apontar a teoria brasileira do


habeas corpus como fonte inspiradora do mandado de segurança, visto que a
restrição do alcance daquele remédio heroico fez emergir a necessidade de se criar
nova garantia voltada à proteção de direitos líquidos e certos que não estivessem
relacionados à liberdade de locomoção.

Assim, De Souza, (2008), diz que a origem do mandado de segurança em


nosso ordenamento jurídico está intrinsecamente relacionada com a história da defesa
dos direitos fundamentais em juízo e também com o que ficou conhecido como
Doutrina brasileira do habeas corpus no período da Primeira República.

A origem histórica do mandado de segurança, portanto, ensina Gramstrup


(2002), envolveu os institutos que primeiro cumpriram seus papéis no passado, até
sua aparição. É natural que se mencione o direito anglo-saxão, ao surgimento do
habeas corpus e do mandado de segurança, os remédios constitucionais que vinham
com a finalidade de garantir liberdades individuais, os colocando como os mais
importantes do ordenamento jurídico brasileiro.

Descreve Brito (1978), que, com a interpretação da doutrina brasileira,


fazendo-a extensivamente a sua aplicação a outros direitos, o habeas corpus passa a
ser “a única válvula de segurança das liberdades individuais. ”

Fux disserta (2009), que a aplicação do remédio heroico, de primeiro modo,


fez com que jurisprudência e doutrina divergissem no que diz respeito à correta
aplicação do mandamus, quanto à sua extensão e incidência, como também aos
direitos que visava proteger, posto que, para muitos, o Mandado de Segurança era
uma espécie de habeas corpus civil.

Disserta Bueno (2009), que, mesmo quando a emenda à Constituição de 1891


restringiu, em 1926, o cabimento do habeas corpus à tutela do direito de locomoção
(o que até hoje é verdadeiro para o sistema constitucional das liberdades públicas no
Brasil – v. inciso LXVIII do art. 5º da Constituição Federal de 1998), o “mandado de
segurança”, menos eficaz, não deixou de ser aplicado de uma forma ou de outra como
30

instrumento eficaz de tutela e salvaguarda dos direitos dos cidadãos em face do


Estado.

Aponta Fux (2009), que, a doutrina brasileira do habeas corpus teve, como
um de seus consectários, o prevalecimento entre nós do entendimento de que o
mandamus se destinará a obter uma proteção in natura do direito violado ou
ameaçado de lesão.

Segundo Lammêgo (2012), as origens do mandado de segurança estão nos


esforços de adaptação empreendidos por desembargadores do Supremo Tribunal
Federal em torno do habeas corpus, a fim de que não deixe sem proteção aquelas
situações jurídicas que poderiam escapar à órbita da noção restrita e tradicional das
velhas e pouco competentes formas processuais que existiam. Entretanto, com a
reforma constitucional de 1926, a situação se agrava, pois, esta acabara por restringir
o habeas corpus, colocando de lado a defesa do indivíduo contra atos ilegais do Poder
Público.

Para Bueno (2009), a evolução histórica do mandado de segurança está


intimamente relacionada à necessidade de existência de um modo eficaz de tutelar os
cidadãos contra as arbitrariedades do estado. Partiu de uma interpretação ampla do
habeas corpus, e também correlato aos interditos possessórios. Nascido e
desenvolvido no Brasil (sem previsão em texto constitucional, ou legal, como nós hoje,
o conhecemos).

Complementa Neto (1956), mesmo antes do reconhecimento da doutrina


brasileira do habeas corpus e após sua extinção com a reforma constitucional de 1926,
foi através dos interditos possessórios, que se procurou tutelar direitos fundamentais,
contra abusos e ilegalidades do Poder Público. Novamente Rui Barbosa, em
incansável luta por direitos à pessoa, defendeu a tese da aplicação dos interditos ao
que ele denominou de “posse dos direitos pessoais”

Conforme De Oliveira (1956), o então Ministro Pedro Lessa, se coloca em


inteira contradição, ao tomar duas interpretações a despeito do habeas corpus.
Primeiramente, o Ministro reconhece que o remédio, elencado no art. 72, § 22, da
Constituição vigente à época, poderia ser caracterizado como “amplo, vasto,
perfeitamente liberal, mais adiantado que o preceito similar dos países mais cultos. ”
Porém, pouco tempo após, Lessa externa o espírito ponderado dos julgadores em
31

relação à controvérsia, acabando por expor, que, “o único direito em favor do qual se
pode invocar o habeas corpus é a liberdade de locomoção, e de acordo com este
conceito, tenho sempre julgado. ”
32

4.2. As revoluções constitucionalistas e o Mandado de Segurança

Segundo Fausto (1995), a Revolução Constitucionalista de 1932 foi marcada


pela explosão em São Paulo de uma revolta contra o presidente Getúlio Vargas, pois
sua política centralizadora desagrada às oligarquias estaduais, especialmente as de
São Paulo. As elites políticas desse Estado sentiram-se prejudicadas, e os liberais
reivindicavam a realização de eleições e o fim do governo provisório. No dia 23 de
maio é realizado um comício reivindicando uma nova constituição para o Brasil; em
julho, explode a revolta e as tropas rebeldes se espalham pela cidade de São Paulo e
ocupam as ruas; em outubro, após três meses de luta, os paulistas se rendem. Apesar
da derrota paulista em sua luta por uma constituição, dois anos depois a revolução,
em 1934, uma assembleia é eleita pelo povo, promulgando-se a nova carta Magna.

Partindo destas premissas, é que somente na Constituição de 1934, mais


precisamente no art. 113, § 33, em título propício às garantias de direitos, é que surge,
pela primeira vez na História do Direito brasileiro, o Mandado de Segurança, com a
seguinte redação:

Art. 133, §33: Dar-se-á Mandado de Segurança para a defesa do direito, certo
e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente
inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade. O processo será o mesmo
do habeas corpus, devendo ser ouvida a pessoa de direito público
interessada. O mandado não prejudica as ações petitórias competentes.

Nesta fase histórica do Mandado de Segurança, expõe Talami (2002), que


somente serviria o mandamus para tutelar direito em face de atos coatores de
autoridades públicas, deixando o remédio constitucional ainda deficiente, no que diz
respeito à tutela dos atos praticados por particular, fazendo as vezes do poder público.

Nas palavras de Cretella Jr (1980), o mandado de segurança passa a vigorar


sem nenhuma legislação específica para regulá-lo, fato que deixou os tribunais de
segundo grau e os superiores, desnorteados, afinal, tinha-se a dificuldade em definir
o que ao certo era “direito incontestável”, a luz de cada caso concreto, bem como o
texto constitucional dizia, que fosse utilizado o mesmo procedimento do habeas
corpus, exigindo-se apenas que fosse demonstrada a “ilegalidade” da coação, quanto
33

ao direito de ir-e-vir. Já no mandado de segurança, de natureza civil, abarcavam-se


outros direitos, gerando maior complexidade na apreciação de cada caso concreto,
por ser o rito do habeas corpus, bastante simples.

Constitucionalizado pela primeira vez na história brasileira pela Constituição


de 1934 (art. 113, n. 33) e regulado originariamente pela Lei n. 191, de 16 de
janeiro de 1936, o mandado de segurança não foi assegurado pela
Constituição de 1937, embora, durante o Estado Novo, tenha ganhado nova
disciplina legal no Código de Processo Civil de 1939 (arts. 319 a 331).
(BUENO, 2009, p. 6)

Após a promulgação da Constituição de 1934, nas palavras de Fux (2009),


surge a primeira regulamentação do instituto do Mandado de Segurança, mediante a
edição da Lei n. 191, de 16 de janeiro de 1936. Com esta regulamentação, foram
mantidas as características típicas do mandamus, sendo elas, a da sumariedade, a
da mandamentalidade e a da produção da tutela específica, colocando-o como
incabível nos casos de liberdade de locomoção e de ato disciplinar, assim como o
condicionou às hipóteses em que o ato impugnado fosse passível de recurso
administrativo, independentemente de caução, fiança ou depósito.

Nas palavras de Filho (1998), o instituto que acabara de ser criado na


constituição de 1934, tinha por função reintegrar direito violado, com a necessidade
de solução rápida e eficiente e que pudessem ser apreciadas de plano.

Afinal, o art. 113, nº 33, da Constituição de 1934 traz em seu bojo a criação
do instituto do mandado de segurança. Por sua vez, foi revogada também a
restrição sobre o “habeas corpus” na reforma constitucional de 1926, cujo
texto foi o seguinte: “Dar-se-á mandado de segurança para de defesa de
direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente
inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade. (PICANÇO, 1999, p. 8)

Segundo Sidou (2013), surge a lei nº 191 de 16 de janeiro de 1936, que trazia
consigo grande avanço legislativo para a construção do mandado de segurança. Fora
garantido de plano a sumariedade do instituto, a autoexecutoriedade do texto, bem
como a primeira aparição da neutralização do ato coator gravoso, em sede de medida
liminar.

Descreve Matielo (2001), que, com o advindo da lei 191/36, notou-se grande
e notória importância, mostrando-se o mandado de segurança, características céleres
34

e relevantes, substancialmente por comportar a concessão de medida liminar, mesmo


que provisória, enquanto o julgador ouvisse a autoridade coatora e apreciasse o
mérito.

Surge a lei n. 191/36, que segundo Sidou (2013), trouxe vantagens evidentes,
dentre elas, a autoexecutoriedade do texto – por tratar-se de garantia fundamental -,
a sumariedade parecida com a do habeas corpus, bem como o afastamento do ato
gravoso em sede de medida liminar. Entretanto, seu processo ainda que sumário,
deveria ser cauteloso, pois não podia sentenciar, sem antes ser notificada a
autoridade coatora, ficando o juízo, apenas com a discricionariedade de resguardar o
propósito da sentença.

Segundo Pacheco (1991), a Lei 191/36, preocupava-se em esclarecer


expressões impróprias e de difícil entendimento, da constituição de 1934. Tal
legislação também se preocupou em aumentar a extensão das autoridades, podendo
ser usado contra ato coator de pessoas naturais ou jurídicas e autarquias, no
desempenho de serviços públicos.

Descreve ainda, Picanço (1991), que o instituto do mandado de segurança foi


criado em 1934, por João Mangabeira, discípulo fiel de Ruy Barbosa, surgindo após
isto, comentários ao instituto revolucionário.

Neste aspecto do Mandado de Segurança, afirma Picanço (1937), é que se


percebe um grande avanço dado pelo direito brasileiro. Não mais os atos oriundos da
discricionariedade dos que detinham poder, passavam desapercebido. Sem dúvida
alguma, passo largo foi dado rumo às constituições posteriores que bravejavam por
direitos individuais.

Com o advindo do regime autoritário militar de Vargas, diversas garantis antes


previstas pelo texto constitucional de 1937, foram retiradas, afirma Fux (2009). Porém,
de maneira muito acertada, os legisladores à época, mesmo subtraídos de suas
prerrogativas funcionais, fizeram por conter o Mandado de Segurança na legislação,
por meio do Decreto-Lei n. 6, de 16 de novembro de 1937, o que acabou por trazer
marcas do regime militar, ao suprimir ainda mais o remédio constitucional. O instituto
veio com força infraconstitucional, diante do art. 16 do Decreto-Lei nº 06, de 16 de
novembro de 1937.
35

Nessa constituição de 1937, não houve inclusão do mandado de segurança


como garantia constitucional, omitindo-se de seu texto a possibilidade de
defesa, por intermédio do writ, dos direitos por ele amparáveis. Essa carta
Ditatorial, embora tenha excluído o mandado de segurança do rol de
garantias constitucionais, mesmo durante o estado novo continuou a vigorar
como remédio infraconstitucional. (FAUSTO,1995, p. 201)

Segundo Fux (2009), a exclusão do referido instrumento processual do texto


constitucional restou por retirar a possibilidade de defesa, por intermédio do writ, dos
direitos por ele amparáveis. O instituto, todavia, continuou a vigorar como remédio
infraconstitucional, regido pelo Decreto-Lei n. 6, de 16 de novembro de 1937, que
impossibilitou sua utilização contra atos praticados em face do Presidente da
República, de Ministros de Estado, Governadores e Interventores.

Descreve Fausto (1995), que resolveu se omitir o mandamus do texto


constitucional de 1937, por razões óbvias do regime fascista, suprimindo a
possibilidade de defesa, por intermédio do mandado de segurança com força
normativa constitucional, porém, continuou a vigorar de maneira infraconstitucional.

Assenta Fux (2009), que em 1939, reformula-se o Código de Processo Civil,


no âmbito infraconstitucional, prevendo desta forma, o mandado de segurança,
restringindo, porém, o seu campo de atuação, que foi mais uma vez reduzido, a
exemplo do art. 320, que institui quatro hipóteses que não caberiam o referido
mandamus, elencando duas novas, nas hipóteses em que se tratasse de ato
disciplinar e; quando se falar em impostos ou taxas, além dos casos de liberdade de
locomoção e ato que caiba recurso administrativo.

Campos e Laranja (2005), explicam que o artigo 319, do Código de Processo


Civil de 1939, veio para excluir da apreciação judicial, os atos provenientes do
Presidente da República, Ministros de Estado, Governadores e Interventores. Acabou
por excluir, também, os atos de que coubesse recurso administrativo, que tivessem
efeito suspensivo, independente de caução, bem como contra ato disciplinar, e
obrigações tributárias.

Nas palavras de Fausto (1995), com o advindo do Código de Processo Civil


de 1939, foram dadas características que definiram o remédio, em face do regime
autoritário. Seu uso foi restringido em muitas hipóteses.
36

Segundo Fux (2009), em 1946 surge um novo modelo de Constituição da


República, que nada obstante a supressão ocorrida em 1937, fez com que retornasse
o Mandado de Segurança, de onde não mais se ausentou – presente em todas as
constituições daí por diante - e mais uma vez o trouxe com maior força normativa.
Vinha previsto no art. 141, §24, trazendo o importante avanço que foi o de suprimir a
exigência de “ilegalidade manifesta”, representando grande desenvolvimento do
instituto.

Retornando o regime democrático e restabelecendo o Mandado de Segurança


na Constituição de 1946, conforme aduz Picanço (1999) incrementou-se a este
importante meio de defesa contra abusos do estado, força constitucional, colocando
abaixo o tratamento infraconstitucional e as limitações do regime militar.

Sem prejuízo, houve a alteração dos termos “direito certo e incontestável,


ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de
qualquer autoridade”, previstos na Constituição de 1934, para a expressão
“direito líquido e certo contra a ilegalidade ou abuso de poder” da Constituição
Federal de 1946, conferindo ao instituto um caráter mais explícito em
confronto com a natureza do interesse juridicamente protegido. (FUX, 2009,
p. 3)

Nas Palavras de Flaks (1980), não poderia a norma Constitucional, de maior


hierarquia, se limitar à legislação infraconstitucional do Código de Processo Civil.
Então classifica: a) o texto constitucional, de maior hierarquia, derroga
automaticamente as limitações do Código de Processo, ao consentir o mandamus
“seja qual for a autoridade responsável; b) não mais exigia que o direito fosse
“incontestável”, nem o ato impugnado “manifestamente inconstitucional ou ilegal”, com
o que dilargou a utilização do remédio e permitiu que se consolidasse a doutrina
segundo a qual a interpretação da norma pode ser controvertida, bastando que os
fatos sejam incontroversos.

A carta de 1946 diferiu, por exclusão, do habeas corpus, conferindo o remédio


tão somente para os casos em que a ilegalidade ou o abuso de poder não
fossem passíveis de ataque por esse último instrumento processual.
Assegurou-se, assim, no § 24 do art. 141 da então Carta Maior, o writ para
proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus,
independentemente da autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder. (FUX, 2009, p. 3)
37

Para Bueno (2008), “Com a Constituição de 1946, voltou o mandado de


segurança a ter status constitucional art. 141, § 24), o que foi preservado mesmo
durante o regime militar (CF/67, art. 150, § 21, e CF/69, art. 153, § 21). ”

Em 31 de Dezembro de 1951, surge a Lei n. 1533, que regulamentou o


Mandado de Segurança e revogou expressamente, em seu art. 20, os dispositivos do
Código de Processo Civil que regulavam a matéria.

A Lei n. 1.533/51, em seu art. 5º, excluía o cabimento do mandado de


segurança em três hipóteses: quando houvesse recurso administrativo com
efeito suspensivo, independentemente de caução; contra decisão judicial ou
despacho judicial para o qual haja recurso processual eficaz, ou possa ser
corrigido prontamente por via de correição; contra ato disciplinar, a menos
que praticado por autoridade incompetente ou com inobservância de
formalidade essencial. (DE MORAES, 2014, p. 161)

Bueno (2009), em obra com comentários à lei 1533/51, traz que foi em 31 de
dezembro de 1951, editada a lei n. 1531, que, com algumas alterações, é o diploma
que, até nossos dias, rege, em sua maior substância, esse fundamental instrumento
da cidadania brasileira.

De Moraes descreve (2014), que a lei, por óbvio, deveria ser interpretada de
acordo com a garantia que foi deferida pela constituição à proteção de direito líquido
e certo. Deste modo, sempre seria cabível o mandado de segurança se as três
exceções que vinham previstas não fossem suficientes para proteger o impetrante em
seu direito líquido e certo. Portanto, não estaria o particular obrigado a esgotar as vias
administrativas para fazer uso do Mandado de Segurança, pois tal via administrativa
não seria pressuposto do remédio jurídico. Se assim fosse, estaria o Judiciário indo
de encontro à cláusula pétrea da constituição, ao afastar de si o exame de lesão a
qualquer direito.

Trata-se, pois, de instituto previsto constitucionalmente e que, em rigor, não


depende sequer de lei infraconstitucional para desempenhar sua função
constitucional. Mais do que isso, o alocamento do mandado de segurança
entre os direitos e garantias individuais e coletivos não é passível de
subtração nem mesmo por emenda à Constituição. (BUENO, 2008, p. 7)
38

Descreve Flaks (1980), que, com o passar do tempo, a Lei 1533/51, sofreu
várias limitações, diretas ou indiretas. Em grande, maioria eram de natureza restritiva
autoritária e decorrente de decisões políticas.

Consoante doutrina de Barbi (1980), a constituição de 1967, de natureza


promulgada, acabou por conservar o mandado de segurança com o texto idêntico ao
da constituição de 1946, fez-se apenas adicionar a expressão individual, com
finalidade de conceituar direito líquido e certo. Por vez, a inclusão do termo
“individual”, não modificou a abrangência do mandado de segurança, uma vez que a
legislação então vigente, não sofreu modificação alguma, o que se tratando de direito
fundamental, prevaleceria. Ficou assegurado, desta forma, na redação do parágrafo
24 do art. 141, o seguinte texto: “para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus, conceder-se-á mandado de segurança seja qual for a autoridade
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder. “

Segundo Campos e Laranja (2005), a constituição de 24 de janeiro de 1967,


não modificou substancialmente o que vinha elencado na constituição anterior, muito
pelo contrário, em seu art. 150, parágrafo 21, acrescentou o termo “individual” ao
conceito de mandado de segurança, onde dispôs: “conceder-se-á mandado de
segurança, para proteger direito individual líquido e certo, não amparado por habeas
corpus, seja qual for a autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de poder.

A Constituição de 1967, entretanto, conforme ensina Fux (2009), vigorou por


pouquíssimo tempo, haja vista que a expedição do Ato Institucional n. 5 rompeu com
a ordem constitucional vigente, da mesma forma que suprimiu diversos outros direitos
e liberdades individuais.

Continua dissertando Fux (2009), que, somente com a promulgação da


Constituição de 1988, foi que, finalmente, se conquistou o Estado Democrático de
Direito, que vem proclamado pelo art. 1º, do referido texto constitucional. A Carta
Magna atualmente em vigor manteve expressamente a garantia do mandamus,
prevendo-o em seu art. 5º, inc. LXIX, no bojo do elenco das garantias e direitos
fundamentais. Consectariamente, trata-se de cláusula pétrea, vedando a sua
supressão por deliberação ou emenda constitucional, conforme previsão do art. 60, §
4º, da Carta Constitucional.
39

4.3. Comentários à Lei 12.016 de 2009

Segundo Meirelles (2010), a lei 12.016 de 7 de agosto de 2009, que disciplina


o mandado de segurança individual e coletivo, marcou uma nova fase na história
deste, que é um dos institutos de maior importância para o cidadão brasileiro. Com
seu surgimento, há mais de sete décadas, na constituição de 1934, ao preencher
lacunas decorrentes das restrições ao uso do habeas corpus. Quando a pessoa física
ou jurídica, estivesse com direito seu, líquido e certo, violado por autoridade pública,
ou à míngua disto, concebe-se o mandado de segurança, para que pudesse ter efeitos
céleres e imediatos, obrigando a autoridade coatora a reestabelecer a situação
jurídica anterior a este ato manifestamente eivado e abuso de poder ou ilegalidade.

A Lei n. 12.016/2009, a “nova lei do mandado de segurança”, nasce, em sua


maior parte, velha. Para fazer uso do jargão, é lei nova só no nome ou, menos
que isso, na forma como ela, por algum tempo, mais ainda agora, será
conhecida. Em sua maior parte, ela repete a Lei n. 1.533/1951 e diversas
restrições e apequenamentos do mandado de segurança, que se encontram
principalmente – mas não só, é importante nunca esquecer esta ressalva –
na Lei n. 4.348/1964. São muito poucos os pontos positivos da Lei n.
12.016/2009 e nenhum deles, com sinceridade, dependia da edição de
qualquer diploma legislativo. A nova lei, como um todo, não dialoga com o
“modelo constitucional” do mandado de segurança e nem com o “modelo
constitucional do direito processual civil”. Tampouco com o Código de
Processo Civil hoje vigente, pleno de novas técnicas para bem realizar
aqueles modelos. É Lei que, diferentemente do que se lê de sua Exposição
de Motivos e das (acríticas) notícias que, a seu respeito, vêm se avolumando
– afinal, ela é novidade -, restringe o uso do mandado de segurança, na sua
forma individual e na sua forma coletiva. (BUENO, 2009, p. 1)

Segundo Meirelles (2010), a primeira legislação da matéria foi elaborada em


1936 e outra, mais abrangente e moderna em 1951, tendo sofrido numerosas
modificações em textos esparsos. Havia, pois, no fim do século passado, a
necessidade imperativa de reunir todas as disposições referentes ao mandado de
segurança num texto único e coerente, adaptado às novas condições decorrentes da
evolução do pais em mais de meio século. Devia, também, ser uma lei equilibrada e
eficiente, permitindo o julgamento rápido do litígio, garantindo os direitos individuais e
respeitando o direito de defesa tanto da autoridade coatora como da entidade pública
que ela integra.
40

A nova lei procurou atender a esses imperativos, tendo sido o projeto


inicialmente elaborado por uma Comissão de Juristas, que foi nomeada, em
1996, pelo Ministro da Justiça e da qual participaram magistrados e
professores. (MEIRELLES, 2010, p. 136)

Afirma Meirelles (2010), o projeto que então se transformou na lei vigente, fora
enviado ao Advogado Geral da União e pelo Ministro da Justiça, ao Congresso
Nacional, em 7 de agosto de 2001, trazendo uma exposição de motivos que resumiam
o novo texto legal.

Descreve Meirelles (2010, que o projeto de lei foi aprovado na Câmara dos
Deputados com três emendas em sua redação, que foram apresentadas pelo Relator,
Deputado Antônio Carlos Biscaia. No Senado foram apresentadas quatorze emendas,
porém, todas foram posteriormente retiradas.

Relata Meirelles (2010), que o projeto de lei, de autoria do Presidente da


República, teve como origem a portaria expedida pela Advocacia Geral da União, que
à época era comandada pelo então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro
Gilmar Mendes e pelo Ministério de Justiça, sendo fruto do trabalho de renomados
juristas, tendo como presidente, o Professor Caio Tácito e colaboração do Professor
Arnold Wald e do Ministro Carlos Alberto Direito.

Enquanto a lei anterior tinha 21 artigos, a nova passou a ter 29, sendo que
grande parte do texto anterior foi mantido, descreve Meirelles (2010). Afirmamos que
a finalidade desta nova lei, sem dúvida, foi de modernizar e simplificar o instituto, que
havia sofrido uma banalização e necessitava novamente ser regulamentado. Era
necessário trazer de volta ao mandado, à agilidade e celeridade que lhe são
peculiares. Simplicidade, Eficiência e rapidez no processo e julgamento, eram os
norteadores que a Comissão deu à nova Lei.

Preocupou-se, ainda mais, nas palavras de Di Pietro (2014), em dar


celeridade ao processo do mandado de segurança. Seu rito é sumaríssimo, onde
compreende, basicamente: no despacho da petição inicial, com ou sem a medida
liminar; a notificação à autoridade coatora, a fim de que esta preste informações no
prazo de 10 dias; prestadas estas, é intimado e ouvido o Ministério Público, também
no prazo de dez dias; após este trâmite, o juiz ou tribunal deverá proferir a decisão,
no prazo de 30 dias. Nos termos do art. 12, parágrafo única, da lei 12.016/09.
41

Em conclusão podemos afirmar que, para a nova lei, o mandado é um


processo de natureza e tramitação especial, que se torna necessário e
imprescindível diante da maior densidade do direito defendido - que se
caracteriza como líquido e certo - do poder exercido pela autoridade coatora.
À medida que vai aumentando a prepotência do Estado, impõe-se a criação
de recursos mais eficazes para a defesa do indivíduo nas suas relações com
o Poder Público. Ao desenvolvimento das atribuições da União deve
corresponder maior intensidade e celeridade na defesa dos direitos
individuais. A fim de se manter o equilíbrio entre os interesses da coletividade
e a liberdade de cada cidadão. (MEIRELLES, 2010, p. 146)

Acrescente Meirelles (2010), que, o mandado de segurança é um instrumento


harmonioso, e assim deve ser tratado, aperfeiçoado para garantir liberdades
individuais, dignidade humana e a intangibilidade das conquistas dos cidadãos, frente
à arbitrariedade do estado. A principal inovação do Projeto, entretanto, reside na
regulamentação do Mandado de Segurança Coletivo, previsto na Constituição de
1988, mas ainda não disciplinado pela legislação ordinária.
42

4.4. Mandado de Segurança Coletivo

Segundo Da Silva (2005), o conceito de mandado de segurança coletivo,


acomoda-se em dois elementos: um, institucional, no sentido de atribuir legitimidade
processual às instituições associativas, a fim de que estas defendam seus membros
ou associados; e outra, objetiva, consolidando o uso do remédio para a defesa de
interesses coletivos.

Nas palavras de Meirelles (2010), admitiu-se o modelo coletivo do mandado


de segurança, na constituição federal de 1988, a ser impetrado por partido político
com representação no congresso nacional, entidade de classe legalmente constituída
e em funcionamento há pelo menos um ano, ou organização sindical, em defesa de
seus associados. O § 1º do art. 22, em dispositivo assemelhado ao do art. 104 do
CDC, estabelece que o mandado de segurança coletivo não induz Litispendência para
as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante
individual se este não requerer a desistência do seu próprio mandado de segurança
em trinta dias a partir da ciência da impetração coletiva. Há, por sinal, jurisprudência
esclarecendo que "o ajuizamento de mandado de segurança coletivo por entidade de
classe não inibe o exercício do direito subjetivo de postular, por via de writ individual,
o resguardo de direito líquido e certo, lesado ou ameaçado de lesão por ato de
autoridade, não ocorrendo, na hipótese, os efeitos da litispendência". Esta
aproximação das legislações para demandas coletivas, aliás, reforça o entendimento
de que o regime da coisa julgada seja semelhante, limitando-se os efeitos coletivos
desta às hipóteses de julgamento de mérito.

Esclarece Di Pietro (2014), que, até a promulgação da Lei 12.016 de 2009,


não havia previsão em norma infraconstitucional sobre o mandado de segurança
coletivo. Foi com este instrumento legal, que em um único dispositivo, definiu-se os
interesses coletivos que poderiam ser tutelados por este remédio e dispôs sobre os
efeitos da coisa julgada, da litispendência e a concessão da medida liminar.

Sendo assim, continua dissertando Meirelles (2010), que, dentro do prazo


decadencial de 120 dias, o indivíduo inserido no âmbito de uma possível impetração
coletiva, poderia decidir por impetrar sua própria segurança individual.
43

Enfatiza Da Silva (2005), que a primeira característica coletiva que podemos


encontrar neste modelo de mandado de segurança, é a do reconhecimento de
legitimação para agir, dada a uma entidade ou instituição que represente uma
coletividade, sendo elas: 1) partido político com representação no congresso nacional,
sendo exigido que o partido seja de âmbito nacional (art. 17, I, da CRFB/88); 2)
organização sindical, associação ou entidade de classe legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano.

Da Silva (2005), citando Barbi, diz ser “pouco provável” que os partidos
políticos hajam em defesa de direitos subjetivos de cidadãos por meio do mandado
de segurança coletivo. Por isto que que a redação constituinte e a legislação
infraconstitucional, amarram sua legitimação para a “defesa de interesses de seus
membros e associados”. Quando se fala de “membros”, associava-se muito em função
dos integrantes de agremiações partidárias.

Barbi, citado por Da Silva (2005), esclarece que a legitimação dessas


entidades de classe e associativas, destina-se a reclamar direitos subjetivos
individuais dos membros dos sindicatos e dos associados de entidade de classe e
associações. Ademais, há apontamentos a serem feitos, quanto a isso, pois, não
poderia, no entanto, deixar de levar à exame, o descrito no art. 8º, III, que dá aos
sindicatos, legitimidade para a defesa dos interesses, sendo eles também coletivos
ou individuais de sua categoria. Importante notar que estas pessoas jurídicas não
necessitam de autorização expressa de seus associados, para impetrarem o mandado
de segurança à tutela de seus interesses.
44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendeu-se através desta monografia, demonstrar a evolução do instituto


do mandado de segurança no ordenamento jurídico brasileiro, demonstrando todos
os seus aspectos, a medida em que se passava cada contexto histórico.

Concluímos, então, que há divergências no tocante às formas como as


relações políticas eram tratadas. Desde regimes autoritários e ditatoriais,
democráticos, até o que hoje encontramos com a Constituição Federal de 1988, que
além de ser democrática, é extremamente garantidora de direitos e liberdades
individuais e coletivas.

O Mandado de segurança, é, sem dúvida, um dos maiores meios garantidores


de direitos individuais e coletivos posto à disposição da sociedade, o que foi
claramente demonstrado neste estudo.

Sendo assim, houve a necessidade de abordar jurídica e historicamente o


mandado de segurança no Brasil, fazendo paralelos ao direito comparado, vendo suas
importantes trajetórias no exterior, até o advindo nas constituições brasileiras.

Foram demonstradas suas influências, como o habeas corpus e os interditos


possessórios à época, que contribuíram, sem dúvida, no que hoje chamamos de
mandado de segurança.

O instituto passou por diversos modelos, desde sua primeira previsão na


Constituição de 1934. Porém, em todas elas buscou-se tutelar direito líquido e certo,
do que a doutrina chama de “impetrante”.

O momento em que pouco se viu a utilização deste instituto, que a doutrina


denomina de remédio constitucional, foi no período ditatorial, em que menos se
vislumbrou garantias e direitos da sociedade.

Enfim, preocupou-se demonstrar o instituto do mandado de segurança no


contexto de uma garantia constitucional fundamental, em que todos possam ter
acesso, que apesar de várias críticas doutrinárias e jurisprudenciais, evoluiu e muito,
no que diz respeito à garantia de direitos e liberdades.
45

REFERÊNCIAS

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46

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