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La noción de Ka entre los Antiguos Egípcios

Autor: Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima (CEIA – UFF)


Orientador: Prof. Dr. Ciro Flamarion S. Cardoso (CEIA – UFF)

I. Introdución
Este documento surge de una serie de estudios preliminares sobre la religión egípcia
presentados en otros eventos. Mi interes por tal tema está ligado a la tradición, legada de la
tendencia de los Annales, de hacer al pasado questões construídas en nuestro tiempo. En
este sentido, la religión se muestra hasta hoy como la estructura fundamental de la
sociedad.
Coincido con Ciro Flamarion Cardoso cuando afirma que:

[...] el concepto de ideologia continua siendo el enfoque metodologicamente más efícaz para
el análisis histórico social de las religiones, especialmente al tratarse de estudios de larga duración,
macro-históricos.1

Así, me valgo del concepto de ideologia desarrollado por Antônio Gramsci, donde
son diferenciadas las ideologias historicamente orgánicas, que “organizan” las masas
humanas, y las ideologias arbitrárias, que crean apenas “movimientos” individuales de
ideas, polémicas, etc.2
En su obra, Gramsci analiza la religión cristiana, fuertemente presente en su
sociedad. Aqui podemos utilizar este análisis como referencia para estudiar la religión
egípcia. El pensador italiano afirma que:

(...) un análisis del desarrollo de la religión cristiana [revela] que – en un cierto período
histórico y en condiciones históricas determinadas – fue y continua siendo una ‘necesidad’, una
forma necesaria en la voluntad de las masas populares, una forma específica de racionalizar el
mundo y la vida, proporcionando las estructuras generales para la actividad práctica y real. 3

1
CARDOSO, Ciro Flamarion. Um Historiador Fala de Teoria e Metodologia: Ensaios. Bauru: EDUSC,
2005. p.223.
2
GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da Cultura. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1966.
3
Ibid. p.24.
Tal teoría puede observarse perfectamente em el mundo egípcio antiguo. La
teocracia estaba basada en un rey que era también dios y único sacerdote verdadero, siendo
representado por otros en su ausencia. No solo el poder del monarca,sino todo el mundo era
explicado por uma lógica basada em la religión. Conceptos como el de justicia, por
ejemplo, solamente existian ligados a alguna divindad, como es el caso de Maat. Además
de esto, los ritos religiosos eran fundamentales para la manutención del mundo.
Junto con la religión templária, la religión funerária también es fundamental para
entender la visión del mundo de los egípcios. A partir dela podemos perceber que a
concepção básica do ser humano não dependia de uma dualidade corpo-espírito à maneira
cristã. Os elementos da personalidade eram numerosos, alguns visíveis, outros invisíveis,
como numerosas eram suas respectivas funções. Dentre estes elementos, concentrarei
minha análise no ka.
O ka recentemente foi objeto de pesquisas que visaram mudar consideravelmente as
concepções a seu respeito. Neste sentido, o trabalho do egiptólogo Lanny Bell teve
fundamental importância.
Bell foca seu estudo nos templos do Reino Novo (1550-1069 a. C.) e nos festivais
que estes sediavam. O exemplo utilizado é o do templo de Lúxor, localizado em Tebas,
pois, segundo Bell, este seria representativo de várias maneiras e seu conhecimento
detalhado ensinaria algo sobre todos os templos do período4. Outro motivo para sua escolha
foi o estado de conservação de suas ruínas.
O festival mais ligado à teoria do ka proposta por Bell é o Festival de Opet, no
entanto ele trata também da Bela Festa do Vale. Uma das funções destas festas seria a
renovação do ka divino e, portanto, a reafirmação do poder monárquico.
As fontes nas quais me apoio para este trabalho são textos e vestígios iconográficos
referentes aos festivais e outros ritos da religião egípcia em suas duas vertentes: templária e
funerária.

4
BELL, Lanny. “The New Kingdom ‘Divine’ Temple: The exemple of Luxor” In: SHAFER, Byron E. (Org).
Temples of Ancient Egypt. Ithaca, New York: Cornell University Press, 1997, pp. 127-184. (a passagem citada
é da p. 127)
II. A Personalidade Egípcia
A partir da passagem do Reino Antigo para o Reino Médio, a religião funerária
deixou de ser um privilégio real. Assim, qualquer um que tivesse condições de arcar com os
custos de um culto funerário teria direito a ele. Simultaneamente, a noção de que todos
teriam vários aspectos da personalidade popularizou-se.
Além do ka, a personalidade contava com o ba, comumente traduzido como
“princípio de mobilidade”, que era representado por um pássaro com cabeça de homem. Ele
estava relacionado à mobilidade interdimensional e às funções físicas. “As manifestações
visíveis dos deuses na natureza eram associadas aos bau de cada um”.5
A “sombra”, ou shu(y)t, representada também pela sombra física, carregava a noção
de proteção e estava ligada à movimentação em altas velocidades na dimensão terrestre.
Também era vista como a parte da pessoa capaz de conter e transferir poder.
O nome, ou ren, e o coração, ou ib, também integravam a personalidade do
indivíduo. O primeiro expressava ou revelava sua verdadeira natureza ou essência. O
segundo era tido como a sede do intelecto.
É importante ressaltar que, ao contrário dos deuses, os seres humanos não poderiam
contar com mais de um de cada elemento da personalidade. Neste sentido, somente
criaturas divinas poderiam possuir vários kau e bau.
A morte era tida como um momento traumático de ruptura entre os elementos da
personalidade, que passariam a existir separadamente. O morto enterrado segundo os rituais
apropriados assumiria a condição de espírito akh, reunindo ka e ba, além de supostamente
os outros elementos.
A tumba deveria contar com a múmia do indivíduo, ou uma estátua, para servir de
suporte para o ka e o ba. Estes elementos da personalidade, contudo, só passavam a habitar
a múmia após a cerimônia de abertura da boca.

5
CARDOSO, Ciro Flamarion. A unidade básica das representações sociais relativas ao culto divino e ao
culto funerário no Antigo Egito (Período Raméssida: 1307-1070 a.C. segundo a cronologia convencional,
1295-1069 a.C. segundo a cronologia curta). (texto inédito cedido pelo autor). p. 9.
III. A concepção de Ka.
A palavra “ka” é traduzida certas vezes como “espírito”. Todavia, como vimos
anteriormente, a dicotomia corpo-espírito cristã não se encaixa na cultura egípcia antiga.
Neste sentido, a tradução mais aceita do conceito é a de “princípio de sustento”.
O princípio de sustento era o que garantia a continuidade do ser. Era o ka, que a
partir da cerimônia de abertura da boca, tomava a múmia ou a estátua para que o morto
pudesse receber as oferendas de alimentos e sobreviver no mundo dos mortos. Além disso,
Jean-Claude Goyon nos mostra que:

O ka representa a potência essencial, simultaneamente sexual e intelectual, encarregada de


manter em existência a vida, sendo, como tal, imortal.6

Em uma das representações iconográficas existentes, o ka aparece como uma


duplicata exata do indivíduo, nua, moldada pelo deus carneiro Khnum, em seu torno de
oleiro. Outra forma possível de representação é a de uma réplica em tamanho menor do
indivíduo, levando o hieróglifo do ka acima da cabeça.
Todos os seres vivos – deuses, homens vivos, mortos enterrados segundo os rituais e
até animais mumificados – tinham em comum a posse de um ka.

IV. A Teoria de Lanny Bell


Na década de 1990, o egiptólogo Lanny Bell desenvolveu uma nova teoria sobre o
ka, a partir do estudo de iconografias do Reino Novo. Concentrando-se principalmente nos
vestígios arqueológicos dos templos de Lúxor e Karnak.
Bell acredita que o ka não era individual, mas sim relativo a uma família e
reproduzido infinitamente nela. Era uma força de vida pessoal herdada. A partir da
linhagem de seu ka, todo egípcio poderia clamar-se descendente de um antepassado mítico
divino, que permaneceria na cabeça da linhagem e garantiria que cada descentende iria ter a
marca do ka de seu pai. Esta linhagem, no fim, sempre mostraria a ligação do indivíduo
com o demiurgo.

6
GOYON, Jean-Claude. Rituels funéraires de l’ancienne Égypte: Le Rituel de l’Embaumement, le Rituel de
l’Ouverture de la Bouche, les Livres des Respirations. Paris: Éditions du Cerf, 1972. p. 331.
O ka carregaria a força miraculosa do momento da criação através das gerações,
evidenciando a necessidade de repetir o ato na passagem de cada uma delas. Portanto, cada
nascimento carregaria uma parcela da criação do mundo.
A raiz da palavra “ka” a liga a outras palavras como “touro” (ka), “vulva” (kat) e
“comida” (kaw). Bell faz uma ligação deste conceito com a fertilidade e a vitalidade
coletiva de uma família extensa ou clã pelo tempo.
Dentro desta teoria, o ka era um componente da personalidade que assumia
múltiplos papéis culturais: genético – estrutura social de governo e organização de família,
obrigações e herança; legal e político – determinando legitimidade (incluindo a do rei);
psicológico – moldando a identidade pessoal e a individualidade; e, é claro, religioso e
funerário.
Cada nascimento – e cada coroação – seria um renascimento do ka e, portanto, uma
renovação da vida dentro das concepções egípcias. A constante substituição de cada
humano, deus e geração cósmica por outros idênticos assegurava a Maat, ou seja, a ordem e
a estabilização do mundo.
A desigualdade na estrutura da hierarquia social do Egito estaria enraizada e seria
perpetuada por classes hereditárias que denotavam diferença social e política. A
descendência de um ka de família legitimava as distinções de classe. Assim, Bell parece
querer formular uma espécie de aristocracia.
O próprio ka real estaria acima de todos por uma associação com o deus criador, que
validaria a superioridade do rei. Segundo Bell, os festivais de renovação da personalidade
divina, como o Festival de Opet, a Bela Festa do Vale e a Festa Sed, seriam ocasiões de
revitalização do ka real e divino, onde o deus passaria seu ka a seu filho, o rei.

V. A Guisa de uma Conclusão: Refutando a Teoria de Bell.


Há, sem dúvida nenhuma, uma grande racionalidade na teoria de Lanny Bell. O
apoio que ele busca nos festivais reais e divinos, onde sem dúvida havia uma renovação do
poder real, ou melhor, um reforço da associação entre a divindade e o monarca, confere
certa lógica ao seu pensamento. Todavia, é importante lembrar que seus estudos se
basearam em iconografias e parece-me que sua análise extrapola um pouco na interpretação
destas. Além disso, sua teoria entra em contradição com várias fontes textuais,
evidentemente não demonstradas por eles.
Para ajudar no entendimento desta questão, utilizarei-me do conceito de ka tecido
por Emanuel Araújo no glossário de uma de suas obras:

Força vital da pessoa. Representa-se a palavra por dois antebraços erguidos em atitude de
abraçar e proteger, o que parece definir o conceito como energia de função criadora e de
conservação. No plano individual, o ka protege o vivo e sobretudo o morto (...).7

Este conceito de proteção não é observado por Bell e aparece em passagens de


fontes primárias que descrevem o ritual de abertura da boca, como na parte relativa a
vestimentas e paramentos, quando da apresentação à múmia do colar-peitoral usekh, diz-se:

Saudações a ti, Atum! Saudações a ti, Khépri! (...) Depois de cuspires Shu e expectorares
Tefnut, tu colocas teus braços por trás deles, sob forma dos braços de teu ka, pois teu ka está neles.
Ó Atum, digna-te a colocar teus braços por trás de N, afim de que ele viva por meio de teu ka,
eternamente.

Esta passagem refere-se ao mito heliopolitano, o encantamento tem a finalidade de


garantir que, como Atum-Ra protegeu com os braços de seu ka seus filhos consubstanciais,
ele também o faça com o morto, garantindo-lhe vida eterna desse modo.
Além das fontes textuais, acredito que mesmo as fontes iconográficas utilizadas por
Bell para sustentar sua teoria possam suscitar contradições. A figura de Khnum moldando o
indivíduo e sua reprodução exata, em seu torno de oleiro, parece-me a indicação da
individualidade do ka.
O que é inegável é que o conceito de ka, de toda a forma, era utilizado dentro da
lógica da religião egípcia para reafirmar o poder real; sendo a partir da transferência de um
ka ancestral, como acredita Bell; ou através da proteção divina sobre o rei, reafirmando seu
poder sobre o povo. Neste sentido, podemos observar que a religião era uma ideologia
orgânica fundamental para a visão de mundo do Antigo Egito e seus ritos visavam manter
as estruturas de poder e, dialeticamente, a continuação do mundo.

7
ARAÚJO, Emanuel. Escritos para a Eternidade: A literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília & São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. p. 401.
BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, Emanuel. Escritos para a Eternidade: A literatura no Egito faraônico. Brasília:


Editora da Universidade de Brasília & São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
BELL, Lanny. “The New Kingdom ‘Divine’ Temple: The exemple of Luxor” In: SHAFER,
Byron E. (Org). Temples of Ancient Egypt. Ithaca, New York: Cornell University
Press, 1997, pp. 127-184.
CARDOSO, Ciro Flamarion. A unidade básica das representações sociais relativas ao
culto divino e ao culto funerário no Antigo Egito (Período Raméssida: 1307-1070
a.C. segundo a cronologia convencional, 1295-1069 a.C. segundo a cronologia
curta). (texto inédito cedido pelo autor).
_______. Deuses, Múmias e Ziggurats: uma Comparação das Religiões Antigas do Egito e
da Mesopotâmia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.
_______. Um Historiador Fala de Teoria e Metodologia: Ensaios. Bauru: EDUSC, 2005.
GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
GOYON, Jean-Claude. Rituels funéraires de l’ancienne Égypte: Le Rituel de
l’Embaumement, le Rituel de l’Ouverture de la Bouche, les Livres des Respirations.
Paris: Éditions du Cerf, 1972.

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