Moçambique

Cabo Delgado,
Nampula, Niassa,
Zambézia e Sofala
Pemba, Caixa Postal, 260
E-mail: emclpemba@teledata.mz

!"#$%&'(')*'+*,*-*.-%')*'/012'3'456'77'3'5 '889'3':-*;o<'20&00' $'3' o;!=>.?#*

o

Depois do dilúvio, o inferno no Chókwè

Dramas
página 5

páginas 4 e 5
Naíta Ussene

Raptado 1o Secretário da
Frelimo em Marínguè página 2
2 Savana 08-02-2013
Militares “estremecem” investimentos em Nacala
- Aiuba Cuereneia desdramatiza a situação, mas o edil de Nacala reconhece o problema
A
zona franca de Nacala
Porto, extremo norte
da província de Nam-
pula, vive momentos
conturbados. Em causa
está o braço de ferro que divide as
autoridades responsáveis pela gestão
das áreas de Desenvolvimento Acel-
erado (GAZEDA) e o comando
militar instalado na até então base
aérea de Nacala. Os militares estão
a desobedecer as autoridades gover-
namentais e proíbem a continuidade
das obras e de outras actividades na
área onde estava instalada a base. O
director do GAZEDA, Danilo Nala,
protestou a atitude militar alegando
que estremece os investimentos. O
exército diz que vai continuar a de-
fender a área e o ministro de Plani-
ficação diz que o problema não é
grave e está a ser resolvido.
Pouco mais de USD400 milhões
estão a ser postos em causa pelo
comando militar da região de Naca-
la, ao decidir embargar os projectos
que estão a ser erguidos em volta da
cintura da então base aérea daquela
cidade portuária.
O comando do exército afecto a
base de Nacala Porto decidiu, há
dois meses, impedir a continuidade
das obras na cercaria da base ale-
gando que se trata da zona sujeita a
servidão militar, uma área destinada
ao apoio e protecção das instalações
militares.
Por ordens militares, todas as obras
em volta da base de Nacala estão in-
terrompidas. A situação está a deixar
os investidores numa situação de de-
sespero e preocupação.
Dizem que o comportamento mili-
tar, que dura dois meses, poderá
afugentar e levar abaixo o ambicioso
projecto desenvolvimentista desen-
hado pelo governo.
Mesmo assim, os militares dizem
que não vão ceder e as obras vão pa-
rar definitivamente porque estão a
ser executadas e erguidas no espaço
que lhes pertence.
Os militares entraram nos cam-
pos das obras em Dezembro pas-
sado sem nenhuma documentação
e informação aos proprietários dos
talhões, afirmando apenas que cum-
priam ordens superiores.
De lá a esta parte não permitem a
saída ou entrada de qualquer pessoa
ou equipamento.
Danilo Nala, director-geral do
GAZEDA, negou que as áreas em
redor da base sejam da pertença
dos militares, na medida em que, o
Governo de Moçambique extinguiu
a base área de Nacala e ordenou a
transformação da mesma em aero-
porto civil.
Segundo Nala, foi por via dessa de-
cisão que o executivo foi à busca de
financiamento externo para a edifi-
cação da respectiva infra-estrutura.
Ademais, avança Nala, mesmo na
capital do país, as infra-estruturas
militares estão cercadas de edifícios
civis e não se verifica nenhum con-
strangimento no funcionamento
desses serviços.
“Esta medida é inconcebível e não
pode ser permitida porque em toda a
parte do mundo, os aeroportos pos-
suem infra-estruturas de apoio em
seu redor. Na verdade, o aeroporto só
será viável com empresas construídas
em torno dela”.
Nala lamentou ainda o facto das
empresas autorizadas a montar seus
projectos nas cercarias da base aé-
rea estarem agora a somar prejuízos
cada dia que passa porque o exército
se recusa a permitir que elas fun-
cionem.
Apontou como exemplo o caso de
um hotel que deveria ter sido inau-
gurado este mês, mas que, o facto
não irá se materializar porque as
obras de finalização foram interrom-
pidas, o equipamento já montado foi
vandalizado e roubado.
O empresário proprietário do hotel,
que não quis ser identificado, diz que
solicitou créditos bancários para er-
guer a infra-estrutura. Deve ao ban-
co cerca de oito milhões de dólares
Raptado 1º Secretário da Frelimo em Marínguè
O
1º Secretário da Fre-
limo em Maríngue,
André Madumana, foi
raptado nesta quarta-
-feira, naquele distrito,
supostamente por homens ligados
à Renamo.
Ao que apurámos, Madumana foi
guerrilheiro da Renamo, tendo pas-
sado, há cinco anos, para a Frelimo
depois de algumas desiteligências
com o partido de Afonso Dhlaka-
ma.
Num primeiro contacto com o
SAVANA nesta quinta-feira, He-
rinques Bongece não confirmou o
rapto, alegando que desconhecia
o assunto. Contudo, mais tarde
Bongece contactou o SAVANA,
para confirmar que efectivamente
Madumana havia sido raptado na
quarta-feira, mas foi solto 24 horas
depois com ferimentos graves.
“Foi raptado por homens armados
da Renamo, mas foi solto após ter
sido torturado. Neste momento
(tarde desta quinta-feira) está para
ser transferido de Marínguè para
TEMA DA SEMANA
Desta vez a ordem do comandante não funcionou em Nacala
norte-americanos, e diz que agora
é incapaz de cumprir o cronograma
de reembolso na medida em que a
decisão da paralisação prejudicou a
calendarização do pagamento das
dívidas e entrada em funcionamento
da estância.
A voz do presidente do
Município
Contactado pelo SAVANA na man-
hã desta quinta-feira, Chale Ossufo,
presidente do Município de Nacala-
porto, embora tenha reconhecido
a existência do diferendo, recusou
tecer qualquer comentário sobre a
matéria alegando que o assunto já
está sob égide do governo central.
“O governo central é que decretou
parte do nosso município como
zona económica especial, todos os
o Hospital Central da Beira”, frisou
Bongece, sublinhado, no entanto, que
desconhecia os motivos do sequestro.
Mas algumas fontes na Beira associam
o sequestro de Madumana com a apre-
ensão há duas semanas de uma arma
pesada, um canhão sem recuo de cali-
bre 82 milímetros B10, no distrito de
Marínguè, suspeitando-se que estava
a ser movimentada para Gorongosa,
onde se encontra o líder da Renamo,
Afonso Dhlakama, há pouco mais de
três meses.
É que, segundo as mesmas fontes, os
homens armados da Renamo em Ma-
rínguè, acreditam que Madumana, uma
antiga alta patente do movimento, terá
tomado conhecimento da movimenta-
ção da arma através de algumas fontes
de dentro do antigo Quartel General,
o que facilitou o trabalho das forças
policiais na apreensão da mesma. Num
breve contacto com o SAVANA, Fer-
nando Mazanga, porta voz da Renamo,
disse que não tinha conhecimento do
assunto.
(Redacção)
Naíta Ussene
procedimentos relacionados com
a gestão destas áreas, são geridos
ao nível central, nós limitamo-nos
a materializá-los. Tal como outros
casos, este assunto está a ser tratado
ao nível superior e eu não posso co-
mentar sobre isso”, Chale Ossufo.
Por sua vez, Aiuba Cuereneia, min-
istro de Panificação e Desenvolvi-
mento referiu que a situação de Na-
cala não pode ser elevado ao nível de
conflito na medida em que não passa
de pequeno diferendo resultante de
má interpretação das delimitações
da área do quartel e da zona destina-
da à edificação das infra-estruturas
aeroportuárias.
Questionámos ao titular da pasta
de Panificação e Desenvolvimento
o facto de uma entidade inferior
sobrepor-se as decisões do Governo,
Homens armados da Renamo acusados de raptar secretário da Frelimo
na medida em que a área económi-
ca especial de Nacala foi definida
pelo Governo de Moçambique e a
entidade que reivindica o espaço é
o ministério de Defesa, ao que nos
respondeu: “Não houve nenhuma
insubordinação e muito menos
diferendo entre as partes, o que está
a acontecer são problemas de inter-
pretação das delimitações mas que já
estão a ser clarificados”.
Por sua vez Agostinho Manjate,
vice ministro da Defesa, disse que
as zonas de servidão militar são para
serem protegidas. Falando concre-
tamente do caso de Nacala, manife-
stando total ignorância em matéria
jurídica, Manjate referiu que a zona
de servidão militar foi criada na base
de um decreto e esta só pode deixar
de ser se o governo aprovar outro
decreto dizendo que esta lei foi
revogada.
Lembre-se que em 2007, o governo
criou a Zona Económica Especial de
Nacala e a 27 de Abril de 2010, na
sua XV Sessão de Conselho de Min-
istros, o governo apreciou e aprovou
duas resoluções para acomodar a
Zona Económica Especial de Naca-
la. A primeira resolução estabelece a
desafectação do Aeródromo Militar
de Nacala do ministério da Defesa
Nacional e sua afectação à empresa
Aeroportos de Moçambique.
O Governo aprovou ainda uma reso-
lução que visa transformar o aeró-
dromo militar de Nacala em Aero-
porto Internacional para satisfazer a
demanda dos grandes investimentos
em curso na região. Na base desta
decisão, o governo solicitou, ao gov-
erno brasileiro, a concessão de um
crédito no valor de 114 milhões de
dólares americanos para a edificação
da infra-estrutura.
Naíta Ussene
Savana 08-02-2013 3
TEMA
PUBLICIDADE
DA SEMANA
4 Savana 08-02-2013
TEMA DA SEMANA

Nas próximas cheias, à Chiaquelane

Havemos de voltar
Por Emídio Beúla
Fotos de Naíta Ussene

“
Às casas, às nossas lavras/ às
praias,/ aos nossos campos/
havemos de voltar (…)”,
declara Agostinho Neto em
seu poema de combate inti-
tulado “Havemos de voltar”. Se os
angolanos voltaram à “Angola liber-
tada, Angola independente” profeti-
zada por aquele que mais tarde viria
a ser o primeiro presidente do país,
os residentes de Chókwè voltaram,
13 anos depois, ao descampado de
Chiaquelane, às tendas de miséria,
aos donativos que nunca chegam,
enfim, ao sofrimento humano bana-
lizado. Nas suas zonas de origem a
água continua a baixar e brevemen-
te poderão retornar à vida normal.
Mas desta vez partem conscientes
de que um dia, à Chiaquelane, “Ha-
vemos de voltar”. Com ou sem poe-
mas, com ou sem chuvas...

Debaixo de uma sombra de cajueiro,

Guida José Macuácua, 19 anos, con-
ta ao SAVANA que não viu as vio-
lentas águas que sacudiram Chókwè
nos últimos dias do primeiro mês.
Na noite de 22 de Janeiro, não hou-
ve aulas na escola secundária onde
ela faz a 11ª classe. “Os professores
mandaram-nos voltar para infor-
mar aos nossos pais que devíamos
abandonar as zonas de risco porque
naquela noite ia entrar água na ci-
dade”.
Como Guida, milhares de pessoas
que se refugiaram em Chiaquelane
não viram a água que transformou a
planície de Chókwè num autêntico
mar, como se a foz do Limpopo fos-
se ali mesmo.
Se a água foi vista por poucos, os
estragos por ela causados estão in-
tactos e deverão continuar por mui-
to tempo. Tal como acontece com
os diques de protecção de Chókwè
que romperam nas cheias de 2000
As mulheres constituem a frente que de entulho a entulho vai catando lixo para recuperar o que menos se estragou
!"#$%&'"&()*+$&$,)'$&-$.$/*0$'$&!1%&!"##1$#&#*.2)/$%"#&"&-1/"-+*3$#&4#&*.#+*+)*56"#&7)($.*+8%*$#9&1#&3"%'$'"*%1#&:".";-*8%*1#&.<1&%"-":"(&-1(*'$&"9&!$%$&#1:%"3*3"%9&
e até hoje ainda não beneficiaram
de nenhuma reabilitação. Aliás, foi
por ali onde a água encontrou o livre
trânsito para inundar toda a planí-
cie, incluindo a própria cidade.
Ninguém acreditava nas
cheias
“O que a água não pode numa ci-
dade desprotegida? Perdi tudo meu
irmão, tudo”, responde Agostinho
Chaúque. Funcionário da autarquia
de Chókwè, Chaúque, 26 anos, teve
a informação das cheias três dias
antes, mas não acreditou no aviso.
Para quem viveu as cheias de 2000,
era inconcebível ver Chókwè inun-
dando sem chuvas intensas, sem
trovões e sem relâmpagos. “Tive o
aviso cedo, mas não acreditei porque
em 2000 a água primeiro encheu a
barragem de Macarretane e depois
inundou a escola agrária, na zona
mais baixa da cidade”, lembra.
Sem nenhum sinal de perigo à vis-
ta desarmada do cidadão comum,
o jovem foi trabalhar nos dois dias
seguintes, segunda e terça-feira, 21
recorrem a produtos deteriorados
e 22 de Janeiro. Mas por volta das
oito horas da noite de 22, Chaúque
é solicitado por um superior hie-
rárquico para se deslocar à sede da
autarquia de Chókwè. “Fui a correr
e quando cheguei vi os meus colegas
a arrumar documentos e material
informático em cima de mesas e se-
cretárias. Disseram-me que naque-
la noite ia entrar água na cidade”.
Mesmo incrédulo, corre para casa
para “salvar” a família. Pelo caminho
cruza-se com um senhor que ao som
do microfone anuncia cheias imi-
nentes. “Consegui fazer uma mala,
arrumei as coisas sensíveis sobre
Guida José Macuácua
a mesa e levei a minha esposa e os
meus dois filhos para a paragem. Já
eram 22 horas e foi difícil apanhar perfície através do sistema de esgo-
o transporte. Liguei para um amigo tos. Mais tarde, por volta das 10 ho-
que tem carro e ele veio nos ajudar”. ras da manhã, a água varria a cidade
O único lugar seguro que lhe vinha em fortes correntes. “Todos estavam
na memória era Chiaquelane, o preocupados em sair para zonas se-
mesmo para onde foi parar em 2000 guras. Fui para Chiaquelane ao en-
como vítima das cheias. contro da família”, conta, parado no
Na verdade, naquela noite agitada interior do edifício onde funciona o
de 22 de Janeiro muitas famílias conselho municipal, na manhã desta
dirigiam-se para Chiaquelane, mais quarta-feira.
tarde decretado pelo Governo como
centro de acolhimento das vítimas Comércio informal vibrante
de cheias em Chókwè. Cerca de 16 mil pessoas não con-
Depois de deixar a família debaixo seguiram sair das zonas de risco e
de uma árvore, Chaúque regressa à permaneceram quase 15 dias nos
cidade e constata, por volta das cin- tectos de casas e em cima de árvores.
co horas, que as cheias anunciadas “Houve dificuldades em socorrer as
ainda não chegaram. “Fui até ao dis- pessoas sitiadas”, admite o edil local,
trito de Guijá e lá vi que a água es- Jorge Macuácua.
tava a entrar. Voltei a Chókwè e fui Dificuldades também se registam no
directo ao “Quinto bairro” onde te- fornecimento de produtos de pri-
nho um estabelecimento comercial. meira necessidade aos acolhidos no
Deixei a geleira em cima da mesa”, centro de Chiaquelane. Isso apesar
conta. do largo movimento de solidarieda-
de interno e além fronteiras. “Desde
A água vinha de baixo e fez-se à su-
Savana 08-02-2013 5
TEMA DA SEMANA

de um conhecido no dia que choveu

Agostinho Chaúque
que estamos lá, só recebemos um
pedaço de lona na segunda-feira (4
de Fevereiro)”.
O alerta vermelho continua, mas
algumas famílias já começaram a vi-
sitar as suas residências para realizar
trabalhos de limpeza. O presidente
do conselho municipal diz que ain-
em Chiaquelane, ela passa as noites
longas com quatro menores, sendo
dois netos, um filho e um acolhido.
“Ele perdeu os pais”, diz em Chan-
gana, língua falada em Chókwè.
Cecília não conseguiu retirar pra-
ticamente nada da casa, excepto as
roupas que ela e os menores tra-
ziam. “Saímos às correrias na tarde
de quarta-feira, a água já a entrar”.
No centro de Chiaquelane, ela re-
clama de muitas coisas: nunca re-
ceberam sal, óleo alimentar, sabão,
a água é escassa e não chega para
todos.
Não sabe dizer quando pensa em
voltar à proveniência, tanto mais
que o “Governo desaconselha o
regresso das populações”. Mas de
uma coisa ela tem certeza: a casa,
de construção precária, foi-se com
a água. Para quem faz essas contas, Doadas por uma Igreja, estas são as poucas tendas visíveis em Chiaquelane, o resto são pedaços de lonas esticadas sobre
Chiaquelane pode ser solução, pelo estacas
menos enquanto durar a ajuda.
A mesma ajuda que nunca chega à
família da Guida Macuácua, excep-

BUCG e IGEPE associam-se ao

da é prematuro precisar a data de
regresso. “O alerta vermelho conti-
nua e não aconselhamos ninguém a
voltar. As pessoas que circulam na
cidade fazem parte das 16 mil que
não puderam sair”, explica.
to as duas tendas que recebeu de
confissão religiosa, faz cinco dias.
A comida (arroz e feijão) é distribu-
ída no centro de Chiaquelane, a cer-
ca de um quilómetro do local onde
a família de Guida se aportou. E ela
movimento de solidariedade

Mais ainda, todos os serviços conti-
nuam encerrados e muitos ainda cer-
cados de entulhos de lixo. Apenas o
comércio informal está vibrante no
mercado de Chókwè. Vende-se um
pouco de tudo, incluindo produtos
que foram saqueados dos estabeleci-
mentos comerciais submersos.
O regresso precipitado
Feita de material precário (caniço e
chapas de zinco), a casa de Chaúque
no “Quinto Bairro” resistiu à fúria
das águas. Mas todo o interior ficou
alagado e os móveis que estavam
arrumados em cima da mesa foram
atingidos. “Tudo se estragou, per-
di tudo”, repete, respirando fundo.
Apesar d’água ter baixado, muitos
bairros ainda não reúnem condições
de habitabilidade. Há muita lama
e o cheiro exalado é nauseabun-
do. Mesmo assim, Chaúque pensa
em voltar para casa este Domingo.
“Tenho de recomeçar a minha vida,
perdi tudo”.
O bairro onde ele vive resulta da ex-
pansão da cidade e localiza-se numa
área propensa a inundações. Mas ele
não considera a hipótese de um dia
vir a mudar para um local seguro.
Mudar de casa é um processo difícil,
diz, e envolve muitos custos. Como,
por exemplo, pagar diariamente
60 meticais de transporte de ida e
volta, para quem pretenda viver em
Chiaquelane e trabalhar na cidade
de Chókwè. “O meu salário no mu-
nicípio não chega para custear essa
despesa”, reclama. Um conhecido
seu interrompe-lhe a conversa para
lhe informar que o corpo do seu tio
acabava de ser localizado no meio
de um entulho. “Tenho de ir tratar
disso, meu tio foi arrastado pelas
águas que cortaram a estrada que
liga Chókwè e Guijá”, despede-se.
assiste todos os dias ao movimento
dos camiões do INGC (Instituto
Nacional de Gestão de Calamida-
des) e do PMA (Programa Mundial
de Alimentação) carregados de sa-
cos de cereais. “Sempre que acom-
panho os meus sobrinhos à escola,
vejo camiões com comida na zona
do mercado de Chiaquelane”, diz.
Ela prefere ficar em casa, pois no
centro não há disponibilidade de
professores para o ensino secundá-
rio. Mesmo no primário, as crianças
estudam em péssimas condições.
Sob um intenso calor, uma tenda
chega a acolher mais de 200 alunos,
muitos ainda traumatizados com a
violenta mudança para Chiaquela-
ne.
Enquanto a vida não retorna à nor-
malidade, Guida vai cuidando dos
seus sobrinhos. Logo pela manhã
cedo, os irmãos mais velhos aban-
donam as tendas e lançam-se à luta
pela sobrevivência. “Os meus irmãos
saem para fazer biscates e comprar
comida e as cunhadas vão à procura
de água”, conta.
A comida (arroz e feijão) é distribu-
ída no centro de Chiaquelane, a cer-
ca de um quilómetro do local onde
a família de Guida se aportou. E ela
assiste todos os dias ao movimento
dos camiões do INGC (Instituto
Nacional de Gestão de Calamida-
des) e do PMA (Programa Mundial
de Alimentação) carregados de sa-
cos de cereais. “Sempre que acom-
panho os meus sobrinhos à escola,
vejo camiões com comida na zona
do mercado de Chiaquelane”, diz.
O
movimento de so-
lidariedade conti-
nua a chegar de
todos os cantos,
o que contrasta
com as carências vividas em
Chiaquelane. Uma empresa
de construção civil, a BUCG
(Beijing Urban Construction
Group Co. Ltd), em parceria
com o IGEPE (Instituto de
Gestão das Participações do
Estado), doou esta quarta-feira
material escolar a mais de duas
centenas de alunos de ensino
primário na sede de Chókwè.
São menores cujas famílias
não conseguiram abandonar a
cidade devido à falta de meios
de resgate. A ajuda é constitu-
ída por uma pasta, cadernos,
lápis e pequenos brinquedos.
“Para nós a educação é a coisa
mais importante neste mo-
mento. Temos de ajudar as
crianças a voltar a escola neste
momento de sofrimento”, assi-
nala Roy He, representante da
BUCG em Moçambique.
Além do material escolar, a cons-
trutora chinesa está a limpar as
vias da cidades, tendo mobilizando
oito máquinas, entre camiões bas-
culantes e pá escavadoras. O tra-
balho decorre em parceria com o
conselho municipal local e iniciou
logo que as águas começaram a
baixar. Muitas vias estavam cheias
de lama e entulhos de produtos ali-
mentares deteriorados que foram
Roy He
despejados por comerciantes. A
permanência desses produtos
em alguns locais constitui um
atentado à saúde pública, não
só pela proliferação de mosca
e mau cheiro que exalam, mas
porque muitas pessoas, sobre-
tudo senhoras, estão a catar es-
ses entulhos.
“Já tentamos de todas as for-
mas proibir as pessoas de des-
pejarem produtos deteriorados
aqui na cidade. As pessoas que
estão a catar esse lixo à procura
de alimentos já foram sensibili-
zadas sobre os perigos de saúde
que correm, mas elas reclamam
que estão com fome”, explica
Jorge Macuácua.
Três camiões do PMA distri-
buíram no início da semana na
cidade de Chókwè 10 quilos de
arroz e dois de feijão nhemba
por cada família. Na semana
passada, a Comunidade Islâ-
mica tinha levado comida para
as pessoas que não saíram da
cidade.

Em Chiaquelane falta mui-

ta coisa
“A semana passada não recebemos
nada, mas ontem (terça-feira) re-
cebemos 20 quilogramas de arroz e
dois de feijão nhemba”, conta Ce-
cília Alfredo Sitoi, 50 anos. No pe-
queno pedaço de lona que recebeu Já com pastas e cadernos doados pela BCUG e IGEPE, as crianças aguardam pela reabertura das escolas
Cecília Sitoi
6 Savana 08-02-2013
SOCIEDADE

AMM trava nova batalha com UEM e MISAU

-MISAU diz que não tem competências para intervir neste imbróglio
- UEM não comenta
Por Argunaldo Nhampossa

E
stá instalado mais um Mabota.
braço de ferro entre a A LDH considera ainda que o MI-
Associação Médica de SAU não pode continuar no silên-
Moçambique (AMM), cio ou abster-se de tomar posição
o Ministério da Saúde neste caso, seja alegando incompe-
(MISAU) e a Faculdade de Me- tência ou autonomia da Faculdade
dicina, da Universidade Eduardo de Medicina, ou ainda que se trata
Mondlane. de um assunto entre estudantes e a
É causa está o facto da Faculdade direcção da Faculdade. No enten-
de Medicina ter decido reprovar der da LDH, este posicionamento
cerca de uma centena de estudan- do MISAU fere gravemente a efi-
tes do 6º ano, (médicos estagiários) cácia e os efeitos que o acordo ru-
que aderiram à greve geral dos mé- bricado visa produzir.
dicos no passado mês de Janeiro. Enquanto isso, Luísa Panguene,
No entanto, a AMM considera do Ministério de Saúde, sacode o
a decisão de injusta, ilegal e ino- capote e diz que a sua instituição
portuna e apela ao bom senso da não tem competências para intervir
direcção da Faculdade de modo a neste imbróglio, dado que o mesmo
manter a tranquilidade obtida a 15 envolve a AMM e a Faculdade de
de Janeiro de 2013. Medicina.
Panguene lembrou que o MISAU

Faculdade sem competências
No entender da AMM, o Conse-
lho da Faculdade não tem compe-
tências para reprovar aqueles estu-
dantes. Entende que a reprovação
não deve ser efectuada por critérios
arbitrários, mas sim por “critérios
de não aquisição de competência
clínica”.
Para a AMM, o comunicado da
Faculdade de Medicina não invo-
ca qualquer dispositivo legal que os
estudantes do 6º ano terão violado,
repisando que a decisão foi tomada
do da AMM.
É preciso sublinhar que o despacho
da Faculdade de Medicina está cla-
ramente em contramão com o Me-
morando de Entendimento rubri-
cado entre a AMM e o Ministério
de Saúde a 15 de Janeiro de 2013.
Abuso de poder
No entanto, a Liga Moçambicana
dos Direitos Humanos (LDH) diz
LDH considera abuso de poder o acto de reprovação dos médicos estagiários
o estágio que possam fazer uma
avaliação consensual e objectiva,
facto que não foi tomado em con-
sideração pela Faculdade”, sublinha
a LDH.
Segundo a nota da LDH, dado
que a greve dos médicos é reco-
nhecida do acordo celebrado entre
o MISAU e a AMM assinado em
Urgel Matula
Janeiro último, não há nenhuma
irregularidade que possa justificar a
medida tomada pela Faculdade.
“Trata-se de um acto praticado ar-
bitrariamente com recurso a abuso
de competências e má-fé da di-
recção da Faculdade”, sublinha a
LDH dirigida pela conhecida ac-
tivista dos direitos humanos, Alice
está a fazer tudo de modo a hon-
rar o compromisso assumido no
passado dia 15 de Janeiro entre o
MISAU e AMM, para evitar per-
seguições e represálias aos médicos,
mas em relação aos médicos estagi-
ários nada pode fazer. A Faculdade
de Medicina da UEM não aceitou
fazer comentários em torno desde
assunto. Manuel Cabinda, director
do gabinete do reitor, referiu que
caso UEM queira reagir, irá fazê-lo
através do seu porta-voz.

Mais sequestros em Maputo

na base de juízo de opiniões.
“Na vigência do Regulamento Pe-
dagógico da Universidade Eduardo
Mondlane os estudantes do 6º ano,
pelas 10 semanas (7dias x 10 sema-
nas = 70 dias) de estágio nas unida-
des sanitárias do Serviço Nacional
de Saúde, e pela ausência de 9 dias,
em nenhum momento ultrapassam
que a reprovação daqueles estudan-
tes é um acto de abuso de poder e
constitui ameaça ao exercício da
greve na função pública. -Trata-se do rapto de Intiase Golam, co-proprietário da Golam Motors e Hotel 2001
Para a LDH, trata-se de um acto
lamentável e grosseiro que visa ins- -NaBeira,ummenorde11anos,raptadoháumasemana,continuanasmãosdossequestradores
talar medo e institucionalizar a prá- e a polícia lamenta a falta de colaboração por parte da família
tica da bajulação no sector público.
Por Eduardo Conzo

os 25% estipulados no referido re-
gulamento, que pelos cálculos arit-
méticos são (9 dias/70 dias) 12.9%
do tempo. Os Médicos Estagiários,
após o levantamento da greve efec-
tuaram até 2 semanas de compen-
sação dos 9 dias de paralisação das
actividades”, sublinha o comunica-
A LDH ressalva que o despacho da
Faculdade de Medicina não apre-
senta requisitos legais que funda-
mentem a sua legalidade.
“A avaliação final do médico esta-
giário, carece da apreciação do mé-
dico supervisor e de um júri que in-
tegra médicos que acompanharam
N
uma verdadeira demons-
tração de poder ante as
manifestas fragilidades das
autoridades moçambicanas
da administração da jus-
tiça, a gang ou as gangs criminosas
que, nos últimos tempos, têm estado a
aterrorizar as principais cidades mo-
çambicanas, com sequestros seguidos
de resgates milionários fez, ao longo
confirmou a ocorrência, mas não
aceitou avançar com quaisquer por-
menores, alegadamente porque “não
temos detalhes porque ainda estamos
a trabalhar”.
“O que é certo é que aconteceu e
confirmo. Temos muita fé de que em
breve iremos trazer novidades sobre
este sequestro. Estamos a trabalhar
no sentido de esclarecer o assunto. Os
dem que o sector judicial, recorrendo
a matéria de direito, não tem como
manter os acusados sob custódia, pois,
o processo acusatório contra os indi-
ciados tem falta de quase tudo que
sustente as acusações.
Sobre a contínua e persistente falta de
colaboração das famílias das vítimas,
assim como a sistemática soltura dos
indiciados, Cossa não aceitou comen-

BREVES
da semana passada, mais vítimas.
Na cidade de Maputo, um grupo de
sequestradores raptou Intiase Golam,
co- proprietário da Golam Motors,
uma popular casa do sector da impor-
Índice de volume de negócios recua 0.7% tação, exportação e venda de acessó-
rios para diversas máquinas e viaturas,
O índice geral do Volume de Negócios de Novembro passado situada na baixa da cidade.
Intiase Golam é também co-pro-
registou um ligeiro recuo de 0.7%, quando comparado com o
prietário do Hotel 2001. Até este
idêntico período do mês anterior, indicam os resultados do Índi-
momento não se conhece o paradeiro
ce das Actividades Económicas do Instituto Nacional de Esta- de Intiase Golam, nem os valores que
tísticas (INE) libertados nesta quarta-feira. estão a ser exigidos pelos sequestra-
dores.
O INE justifica a queda no índice do Volume de Negócios em Sabe-se, entretanto, que o bando já
Novembro com a redução do volume de vendas de minerais não entrou em contacto com a família do
metálicos e de metais de base. sequestrado, mas não foram avança-
dos os valores exigidos.
“Assim, o sector da Indústria, como resultado destas diminui- Sabe-se também, tal como tem esta-
ções, é o único que apresenta índice negativo do volume de ne- do a ser prática noutros casos, que o
gócios, que se fixou em 4,9% negativos”, sublinha o INE na sua bando raptor deu indicações precisas
edição 104 de “Índice das Actividades Económicas”, documento à família no sentido de não tentar co-
que divulga os principais resultados dos Inquéritos Mensais à locar as autoridades policiais no meio
Economia iniciados em Janeiro de 2004. da estória.
Na manhã desta terça-feira, o porta-
-voz do Comando Geral da Polícia
autores vão ser conhecidos, ninguém
vai ficar oculto, pois estamos a tra-
balhar. Mais dias, menos dias, vamos
localizar os raptores”, - repetiu Pedro
Cossa, porta-voz do Comando Geral
da Polícia.
Este é um discurso que vem sendo
feito há muito pelas autoridades po-
liciais, mas a distância entre as pala-
vras de Cossa e a realidade no terreno,
continua bastante larga.
Efectivamente, as autoridades poli-
ciais já detiveram vários indiciados de
fazerem parte da rede dos sequestros
no país, com particular incidência
para a cidade de Maputo, mas, dias
depois, os indiciados foram restitu-
ídos à liberdade pelos juízes de ins-
trução por manifesta falta de prova
material.
Embora com ares de confiança, Cossa
não conseguiu esconder algum senti-
mento de desalento e frustração pela
sistemática soltura dos indiciados de
fazerem parte do bando raptor.
Entretanto, algumas pessoas enten-
tar.
“Por enquanto não há muita coisa a
avançar. Quando chegar a vez iremos
esclarecer. Qualquer informação adi-
cional neste momento poderá afectar
o ambiente das investigações” – ano-
tou.
Beira
Enquanto isso, na cidade da Beira,
as autoridades policiais continuam
também à busca de pistas que possam
esclarecer as circunstâncias e trazer
de volta ao convívio familiar, o menor
Anub, de 11 anos de idade, raptado
na manhã da quinta-feira da sema-
na passada, naquela que é a segunda
maior cidade do país.
Já na sexta-feira, as autoridades poli-
ciais lamentaram publicamente a falta
de colaboração por parte das autori-
dades policiais no sentido de ajuda-
rem a esclarecer o mais rapidamente
possível o caso, resgatando o menor e
mandando para as celas os promoto-
res do sequestro.
Savana 08-02-2013 7
PUBLICIDADE
8 Savana 08-02-2013
SADC debate RDC em Maputo
…cimeira, desta sexta-feira, acontece numa altura em que o M23 avança para a estratégica cidade de Goma
O
Presidente moçambica-
no, Armando Guebu-
za, convocou para esta
sexta-feira uma cimeira
extraordinária de Che-
fes de Estado e de Governo da
Comunidade de Desenvolvimento
da África Austral (SADC), para
discutir os últimos desenvolvimen-
tos da República Democrática de
Congo (RDC).
Segundo uma nota da presidên-
cia moçambicana, está prevista
a participação do Presidente da
Tanzania,Jakaya Kikweti, e o Pre-
sidente da RDC, Joseph Kabila.
Kikweti é também presidente da
Troika, Órgão da SADC para a
Cooperação nas áreas de Política,
Defesa e Segurança.
A Cimeira de Maputo acontece
numa altura em que rebeldes do
M23 desdobraram as suas posi-
ções, avançando algumas centenas
de metros nos arredores de Goma,
uma estratégica cidade do leste da
RDC.
Um oficial do M23, citado pela
agência France Press, diz que os
rebeldes deixaram a sua posição
de Munigi para se posicionarem a
algumas centenas de metros mais
Funcionários da AT líderes
da corrupção em Janeiro
Por Argunaldo Nhampossa
O A
Gabinete Central de
Combate à Corrupção
(GCCC) tramitou du-
rante o mês de Janeiro,
31 processos crimes, re-
lacionados com o combate ao fenó-
meno, onde os funcionários da Auto-
ridade Tributária (AT) estão no topo
da lista. Dos 31 processos tramitados
13 foram acusados e outros seis sub-
metidos ao julgamento.
Os 13 processos deduzidos pelo
GCCC envolvem um total de 22
funcionários de instituições públicas.
Funcionários da AT aparecem desta-
cados na lista dos mais corruptos.
Segundo Bernardo Duce, nos casos
que envolvem funcionários da AT,
quatro são acusados de desvio de
valores provenientes de receitas de
importação de mercadorias no valor
de 364 mil meticais. Os outros dois
próximo de Goma, junto à estrada
que liga ao principal aeroporto da
cidade.
Avançaram igualmente a norte da
cidade, próximo da fronteira ruan-
desa, até ao Cemitério de Kanya-
muranga, precisou a mesma fonte.
Recorde-se que o Movimento de
23 de Março (M23) ocupou Goma
a 20 de Novembro, tendo-se retira-
do a 1 de Dezembro, após de uma
mediação dos estados da região dos
Grandes Lagos, em troca de aber-
tura de negociações com Kinsha-
sa, que tiveram lugar durante dois
meses em Kampala, a capital do
Uganda
A acção do M23 acontece dias de-
pois de Pretoria ter anunciado a
detenção na terça-feira de dezano-
ve supostos rebeldes congoleses que
alegadamente pretendiam receber
treinos para derrubar o Presidente
congolês Joseph Kabila.
Armando Guebuza, que é igual-
mente presidente em exercício da
SADC, deverá manter um encon-
tro este sábado com o presiden-
te sul-africano, Jacob Zuma, em
Pretória, no quadro da cooperação
bilateral entre os dois países, mas
analistas em Maputo acreditam que
tentaram extorquir 200 mil meticais a
um empresário estrangeiro que exer-
ce actividades económicas no país.
Duce conta que o empresário tinha
que receber dois milhões de meticais
em 2011 de reembolso pelo excesso
do IVA cobrado nesse ano. Mas de-
pois do reembolso, os funcionários
em causa exigiram 200 mil meticais
alegando que agilizaram o processo,
facto que fez com que o empresário
denunciasse o caso às instâncias com-
petentes.
O magistrado falou também, do pro-
cesso que corre contra cinco funcio-
nários de uma direcção de indústria e
comércio, que são acusados de desvio
de 109 mil meticais, dos cofres do
Estado, referentes a taxas cobradas
pela emissão de alvarás e vistorias de
estabelecimentos comerciais.
Outro processo, rola contra dois fun-
SOCIEDADE
o dossier M23 estará também por
cima da mesa.
Sublinhe-se que o vizinho Ruanda
é acusado de apoiar moral, material
e militarmente o M23, um movi-
mento liderado pelo general Bosco
Ntaganda. Ntaganda e Kagame
cionários de uma direcção provincial
de finanças, que desviaram uma re-
quisição de combustível no valor de
106 mil meticais.
Duce conta que a dupla pagou a um
operador para fazer senhas de com-
bustíveis que mais tarde foram vendi-
das e dois funcinários apoderaram-se
do valor em causa.
No rol dos casos tramitados em Ja-
neiro consta também, um processo
contra três funcionários de uma di-
recção provincial de justiça, que se
envolveram num esquema de actos de
troca de favores e cobranças ilícitas a
um empreiteiro.
“O grupo cobrou 200 mil meticais a
um empreiteiro para adjudicar, sem
passar de concurso público, uma obra
de construção de um edifício de Ser-
viços de Identificação Civil”, expli-
cou.
Ainda no mês de janeiro, foi deduzi-
da uma acusação contra um membro
da PRM que negociou com um ar-
guido um processo para depois rasgá-
-lo em troca de 10 mil meticais.
Ainda no decurso deste período, o
GCCC submeteu para o julgamen-
to seis processos. Estes processos
correm contra um gestor de clientes
do Fundo de Investimento e Patri-
mónio do Abastecimento de Água
(FIPAG), que recebia valores da cele-
bração de contratos e não canalizava
aos cofres da instituição e os restantes
são contra quatro agentes da PRM e
um da Polícia Municipal por prática
de cobranças ilícitas na via pública.
Rebeldes do M 23 movimentam-se para Goma
pertencem a mesma etnia, Tutsi.
O M23 (Movimento do 23 de
Março) é essencialmente composto
por antigos rebeldes congoleses do
Congresso Nacional para a Defesa
do Povo (CNDP), integrados no
exército da RDC após um acordo
UCM cria clínica
jurídica
Por José Chirinza, na Beira
Universidade Cató-
lica de Moçambi-
que (UCM) acaba
de criar uma clínica
jurídica para assis-
tência legal a cidadãos desprovi-
dos de meios na cidade da Beira,
província de Sofala.
Segundo o vice-reitor para área
académica na UCM, Martins
Vilanculos que falava nesta
terça-feira numa conferência
de imprensa, na Beira, a UCM
pretende com a iniciativa profis-
sionalizar os estudantes, antes da
conclusão do curso.
Ao que apurámos, numa primei-
ra fase será implementada na ci-
dade da Beira, onde está sedeada
a faculdade e no ano seguinte nas
restantes delegações da UCM
que leccionam o curso de direito.
Vilanculos, que falava no térmi-
no do Conselho Universitário
daquela instituição de ensino su-
perior, repisou que a Clínica irá
funcionar como um laboratório
para os estudantes de direito no
terceiro ano, no qual com apoio
dos docentes irão dar assistência
jurídica a cidadãos que manifes-
tarem interesse.
Acrescenta que durante a assis-
tência os estudantes irão prestar
aos carenciados, os mesmos terão
acompanhamento e apoio dos
respectivos docentes.
“Para além de ser uma compo-
com Kinshasa, a 23 de Março de
2009, e que se amotinaram, em
Abril, na região oriental do Kivu-
-Norte, acusando o governo de não
respeitar as disposições deste acor-
do.
nente prática para os estudantes,
irá igualmente servir às pessoas
que precisam de ajuda, que não
conseguem ter por via de paga-
mento”, explicou Vilanculos.
Segundo Vilanculos, na Facul-
dade de Direito em Nampula
já existe uma unidade de acon-
selhamento jurídico que faz os
mesmos serviços. Acrescenta que
a clínica da Beira será uma ino-
vação, tendo em conta que os es-
tudantes terão acompanhamento
e avaliação, contrariamente ao
que acontece na chamada capital
no Norte.
Aulas teológicas obrigatórias na
UCM
A partir deste ano lectivo, a
UCM irá introduzir aulas obri-
gatórias de teologia em todos os
cursos leccionados na instituição,
segundo deu a conhecer Martins
Vilanculos.
O vice-reitor da UCM para área
académica defende que a intro-
dução de uma cadeira teológica
visa adequar a Universidade às
políticas e princípios da igreja
católica, patrono desta institui-
ção de ensino.
“Estamos a discutir a introdução
de uma cadeira obrigatória de
teologia, uma vez que nós somos
uma universidade da Igreja cató-
lica. Esta matéria teológica vai
identificar a universidade com a
Igreja”, explicou Vilanculos.
Savana 08-02-2013 9
PUBLICIDADE

CENTRO AUDITIVO
!"!# $%&'())&##*+,-.#/012342,15#678430 Correcção Auditiva e Acústica Médica
UNICEF Mozambique pretende recrutar um/a imentos técnicos. NOVO, NOVO, Grande Inovação. Agora
Especialista de Protecção da Criança para o es- - Compromisso com a diversidade e a inclusão,
critório de Maputo. O/A titular do posto será re- valores fundamentais de integridade.
com um só aparelho auditivo você passa a
sponsável por apoiar o desenvolvimento e a im- - Comunicação, trabalho em equipa e habili- ouvir nos dois ouvidos. Fruto do trabalho e
plementação de um sistema global de protecção dade para alcançar resultados. *+,*-#.$%#' ,-&/((#&$'0 78 6'#( )* 9: '$&(1
à criança que vincula o sistema de Protecção - Experiência de trabalho com as NU ou outras
Social e é complementada por serviços de apoio organizações de desenvolvimento internacio- Venha experimentar esta maravilha da acús-
adicionais para a Comunidade através de geren- nais, e uma vantagem. tica tecnológica a um preço acessível.
ciamento de casos da Comunidade para garantir - Fluência em Inglês e Português.
a segurança holística e o bem-estar das crianças. - Nacionalidade moçambicana
Estamos em Maputo na Av. Mao Tsé Tung, n.º
O/A titular irá reportar ao Especialista de Pro- 533 na Opticlínica entre o Consulado Portu-
tecção da Criança (L4) responsável pelo projecto Os (as) candidatos (as) devem enviar o seu Cur-
3. riculum com fotocópias dos documentos com-
guês e o Stan-dard Bank. Tel/Cel: 21 497 905
provativos das suas habilitações e carta de apli- e 82 630 98 12
Requisitos: cação para:
- Licenciatura em Ciências Sociais ou em áreas UNICEF
relevantes para a assistência ao desenvolvi- Secçãode Recursos Humanos
mento internacional em Protecção Social. Av. do Zimbabwe 1440
! "#$%& '$&( )* *+,*-#.$%#' ,-&/((#&$'0 ,-&- Maputo
gressiva na implementação de projecto no de- Email: maputo@unicef.org
senvolvimento social, preferencialmente com
foco na redução da pobreza, protecção social Prazo de entrega: 15 de Fevreiro de 2013
/ previdência social, protecção à criança, mul-
heres, órfãos e outras crianças tornadas vul-
neráveis pelo HIV/AIDS.
O UNICEF está comprometido com o equilibro
de género no seu mandato e nos seus funcionári-
Anúncio de Matrículas
- Conhecimento do HRAP, CRC e de outros
Informa – se aos pais, encarregados de
&(1 "'$)#)'2&( 34'0#/%')&(5 * ,'-2#%40'-6*$2*
mecanismos que afectam a Mulher e a Criança mulheres são fortemente encorajados a concor-
é uma mais-valia.
- Conhecimentos de informática, incluindo a
rer. educação e ao público em geral que a Es-
navegação na Internet e diversos aplicativos Só serão contactados os candidatos selecciona- cola Comunitária Luís Cabral continua
de escritório.
- Capacidade de análise e aplicação dos conhec-
dos para entrevistas. matricular alunos de 6ª a 12ª classes por
350,00 meticais. Tenha mais informações
na secretaria daquela escola cita na sede
do bairro Luís Cabral, entrada a partir
da Junta ou Maquinague ou pelos tele-
fones: 21477080 ou 847700298.
10 Savana 08-02-2013
PUBLICIDADE

CONCURSO DE JORNALISMO DA SADC

O Secretariado da SADC anuncia o lançamento do Concurso de Jornalismo de 2010.
O concurso cobre o jornalismo escrito, radiofónico, televisivo e o fotojornalismo
Regulamento do concurso devem conter os detalhes de contacto do jornalista,
#$%04#$)& 46' ;&2&<-'/' 2#,& ,'((*5 & *$)*-*>& ;?(#%&5
a) Os trabalhos a concurso deverão ter sido publicados o número de telefone e, caso seja relevante, o número
ou difundidos entre Janeiro e Dezembro de 2010 por de fax e o endereço de correio electrónico
um órgão de comunicação social registado e/ou auto-
rizado, ou apresentados no site de um órgão de comu- h) Os trabalhos apresentados a concurso a nível nacional
nicação social registado ou autorizado em qualquer serão objecto de triagem e avaliação pelo Júri Nacio-
Estado-Membro da SADC; nal, que seleccionará o melhor trabalho em cada uma
das quatro categorias e o enviará ao Júri Regional,
b) Os trabalhos a serem submetidos ao concurso devem através do Secretariado da SADC;
estar relacionados com assuntos e actividades que pro-
movam a Integração Regional na região da SADC; i) Caberá ao Júri Regional apurar os melhores trabalhos
regionais;
c) Podem participar no concurso todos os jornalistas
oriundos da região da SADC, à excepção dos que fun- j) O Júri Regional reserva-se o direito de não atribuir os
cionam em instituições contratadas pela SADC e dos ,-@6#&( (* '( &=-'( ',-*(*$2')'( $A& ('2#(/B*-*6 &(
funcionários do Secretariado da SADC; requisitos do concurso;
d) Todos os trabalhos a concurso devem ser redigidos CD E )*%#(A& )& FG-# H*<#&$'0 (*-8 /$'0I
numa das línguas de trabalho da SADC, ou seja, em
francês, inglês ou português, devendo os referidos tra- l) Os vencedores serão anunciados e os prémios entre-
balhos ser apresentados tal como foram publicados ou gues numa cerimónia que terá lugar durante a Cimeira
difundidos (recortes de jornal, endereços de internet, de Chefes de Estado e de Governo da SADC;
revistas, cassetes áudio e vídeo);
m) O concurso cobre o jornalismo escrito, radiofónico
e) Aguardam-se trabalhos nas seguintes categorias: e televisivo e o fotojornalismo e os vencedores de cada
categoria serão contemplados com um prémio de US$
i. Jornalismo escrito: artigos publicados em jornais, 2000 (dois mil dólares americanos).
boletins informativos e na Internet;
ii. Jornalismo radiofónico: material radiofónico; n) Os prémios monetários serão acompanhados por um
iii. Jornalismo televisivo: material televisivo; %*-2#/%')& '((#$')& ,*0& J-*(#)*$2* )' KEL" *6 *+*--
iv. Fotojornalismo: ;&2&<-'/'( ,4=0#%')'( %&6 46' cício;
legenda ou texto;
o) Os prémios serão entregues directamente aos respecti-
> Os trabalhos a serem apresentados a concurso na área vos vencedores. Caso algum vencedor não possa estar
do jornalismo escrito presente à cerimónia de entrega dos prémios, a SADC
devem ter um mínimo de 600 (seiscentas) palavras e fará diligências no sentido de entregar o prémio no
um máximo de 2000 país de origem do vencedor;
(duas mil) palavras. Para mais detalhes e submissão de candidaturas queira
>Os materiais radiofónicos ou televisivos devem ter contactar o Júri Nacional, na Direcção de Informação e
uma duração mínima de cinco Comunicação – Gabinete de Informação, Av. Francisco
minutos e uma máxima de trinta minutos, devendo Orlando Magumbwe, 780, 5º. Andar- Maputo.
todos os materiais radiofónicos O Secretariado da SADC não será responsável por qual-
ser acompanhados de uma transcrição numa das três quer perda ou dano causado ao trabalho ou material
línguas de trabalho apresentado a concurso.
da SADC.
Member States
f) Todos os trabalhos a concurso devem ser enviados ao
Júri Nacional do Concurso até 30 de Março de 2011; Angola, Madagascar, South Africa, Zambia, Botswana, Mala-
we, Swaziland, Zimbabwe, D.R.Congo, Mauritius , Nami-
g) Todos os trabalhos a serem apresentados a concurso bia, Lesotho, Mozambique e United Republic of Tanzania
Savana 08-02-2013 11
PUBLICIDADE

684,9-#.3#/01:09;9#<3:,159-#.9#'=#>#?70,49#!@A209-
3F SA – Federação Unida dos Trabalhadores da Dinamarca, coopera com sindi-
Oportunidade de emprego pós-formação catos da África Austral apoiando-os na capacitação institucional com o objectivo
)* (*-M#- 6*07&- &( #$2*-*((*( )&( 2-'='07')&-*( /0#')&(5 * ' N&<'- 46 ,',*0
Inscrições abertas ,-*,&$)*-'$2* %&6& &-<'$#B'>O*( )' (&%#*)')* %#M#01
E 9P KE ,-*2*$)* -*%-42'- 46 Q/%#'0 )* J-&<-'6' 34* ;'-8 ,'-2* )* 46' *34#,'
)* 2-'='07')&-*( L#$'6'-34*(*( * 0&%'#( $& R(%-#2S-#& H*<#&$'0 *6 T',42&1 E(
'%2#M#)')*( )' 9P KE &%&--*6 *6 T&>'6=#34*5 U;-#%' )& K405 VW6=#' * V#6='-
=X*5 & 34* #6,0#%' M#'<*$( ;-*34*$2*(1

TAREFAS:
Y J'-2#%#,'- $' %&&-)*$'>A&5 ,0'$#/%'>A& * 6&$#2&-#' )& ,-&<-'6'1
Y J*(34#(' * '$80#(* )* )')&(1
Y J0'$#/%'>A& )' '((*((&-#' )' 9P KE ,'-' &( ,'-%*#-&( * (*4( ,-&N*%2&(I
Y E((#(2#- &( ,'-%*#-&( $' ,-*,'-'>A& * *0'=&-'>A& )&( )&%46*$2&( )* ,-&N*%2&5
planos de implementação e monitoria dos orçamentos e planos de activida-
)*(I
Y E,&#'- &( ,'-%*#-&( $' *0'=&-'>A& )* -*0'2S-#&( /$'$%*#-&( * $'--'2#M&( ,'-'
& R(%-#2S-#& H*<#&$'0I

9 Curso para Despachantes Aduaneiros 12 Semanas QUALIFICACOES:

Y R0*M')& %&$7*%#6*$2& )* ,-82#%'( * ,&0?2#%'( )&( K#$)#%'2&(I
Y R0*M')& %&$7*%#6*$2& (&=-* &( ,'?(*( )' -*<#A&5 #$%04#$)& '(,*%2&( ,&0?2#-
%&(I
Y R+,*-#.$%#' $' <*(2A& )& %#%0& )* ,-&N*%2&(5 #$%04#$)& *0'=&-'>A& * 6&$#2&-#'
)* &->'6*$2&( )* ,-&N*%2&( * *0'=&-'>A& )* -*0'2S-#&(I
Y E *+,*-#.$%#' %&6& ;&-6')&- *6 8-*'( )* #$2*-*((* ,'-' (#$)#%'2&(5 %&6&
,&- *+*6,0& 0*<#(0'>A& 0'=&-'0 * 7#<#*$* * (*<4-'$>' $& 2-'='07& (*-8 46'
M'$2'<*65
Y Z#%*$%#'24-' *6 "#.$%#'( K&%#'#( &4 8-*'( '/$( * [4.$%#' $'( 0?$<4'( J&-24-
<4*(' * \$<0*('1

Facilidade de pagamento
Conta bancária/BCI: 013310244101
Q( #$2*-*((')&( )*M*-A& *$M#'- &( %4--?%40&( *6 \$<0.(5 '2@ '& )#' ]: )* P*M*-*#-
-& )* ^_]9 `( ]^a__ 7&-'(5 ,'-'a 9P U;-#%' E4(2-'05 H4' J-&;1 L&42&- F&(@ b*<-A&
$c d^5 ]c E$)'-5 T',42&5 T&>'6=#34*5 e*0*;&$* $-1 ^]9_]9ff * P'+ $-1 ^]9]^fgh
ou pelo email ==#&((*i('19;1)C1
E( *$2-*M#(2'( '&( %'$)#)'2&( (*0*%%#&$')&( 2*-A& 04<'- *$2-* &( )#'( ^_ ' ^^ )*
P*M*-*#-&5 (*-A& ;*#2'( *6 #$<0.( * #$%04*6 2*(2*( ,-82#%&(1 Q #$?%#& )& %&$2-'2&
*(28 ,-*M#(2& ,'-' _] )* T'->& )* ^_]91
12 Savana 08-02-2013
PUBLICIDADE
Savana 08-02-2013
Mediterranean condenada a devolver talhão na Beira
- Trafulhices da era Chivavice Muchangage penalizam CMB
Por Domingos Bila, na Beira
A
Mediterranean Shiping
Company (MSC), uma
firma ligada a área de
navegação, foi recente-
mente condenada pelo
Tribunal Administrativo a devolver
o talhão número 29 localizado na
rua Poder Popular na cidade da
Beira, a família Esmail.
Trata-se do fim de um conflito que
se arrasta desde o ano 2002, tendo
se caracterizado por despejos dos
moradores da casa ora existente que
se encontrava alienada.
De acordo com o acórdão número
183/2012, a referida empresa deve
proceder a entrega efectiva e mate-
rial do talhão a referida família rep-
SOCIEDADE
resentada por Amina Esmail.
O mesmo declara nulidade dos
actos administrativos proferidos
pelo Conselho Municipal da Bei-
ra, obrigando-se assim a que se
execute “operações materiais que
tornem possível o reingresso formal
e material do talhão, livre de pes-
soas e bens, na sua esfera jurídica”.
O problema surgiu com um negó-
cio de terras por parte de um fun-
cionário do Conselho Municipal
da Beira, na era de Chivavice Mu-
changage. Tal funcionário identifi-
cado na referida sentença por Pe-
drito Raul Rocha, terá em negócios
pouco transparentes trespassado
o referido talhão a Mediterranean
13
Shiping Company, tendo esta de-
molido a casa que se encontrava no
local e construído um edifício.
Na luta judicial cuja sentença
saiu favorável a referida família,
as partes designadamente a MSC
e CMB estão cientes da obriga-
toriedade do cumprimento deste
acórdão que não é passível de
qualquer recurso, conforme relata-
ram fontes destas instituições que
falaram ao SAVANA na condição
de não serem identificadas, uma
aproximação entre as partes evitaria
prejuízos avultados.
Entre outros pontos, o Tribunal
Administrativo ordena o CMB a
revogar as autorizações do uso de
aproveitamento e de trespasse do
talhão acima referido, concedidos a
favor de Pedrito Raul Rocha e da
MSC, e ainda proceder a substitu-
ição dos registos anulados e cance-
lados a favor de Amina Esmail.
Comissão de
Ética apresenta
órgãos sociais
- Igualmente, este
organismo vai apre-
sentar as modalida-
des que vão nortear
a sua organização e
funcionamento
A Comissão Central de
Ética, recentemente em-
possada pela Presidente da
Assembleia da República,
Verónica Macamo, vai pro-
mover uma conferência de
imprensa nesta sexta-feira,
nas instalações deste órgão
legislativo para, dentre
vários aspectos, apresentar
os seus órgãos sociais bem
como as modalidades que
vão nortear a sua organi-
zação e funcionamento. A
colectiva de imprensa será
orientada pelo porta-voz
da Comissão, o reverendo
Jamisse Taimo.
Segundo se sabe, cabe a
esta Comissão a adminis-
tração do sistema de con-
flitos estabelecidos por Lei;
a avaliação e fiscalização da
ocorrência de situações que
configurem conflito de in-
teresses e a determinação de
medidas apropriadas para a
sua prevenção e eliminação,
incluindo a apresentação
de queixa ou participação
criminal junto do Minis-
tério Público, receber e dar
andamento às denuncias
públicas relativas a situ-
ações de conflitos de inter-
esses, devendo deliberar
sobre elas ou remete-las aos
órgãos competentes para a
promoção do procedimen-
to disciplinar ou criminal.
(Redacção)
14
O país dos cinco cortes de cabelo
Por Fernando Magalhães*
Em meados da longínqua
década de 60, vivíamos nós
na então Lourenço Marques, o
Eugénio Lisboa presidiu a um
júri nomeado pelo Município
que me atribuiu um primeiro
prémio de reportagem. Trat-
ava-se da minha descoberta
da Bolsa de Joanesburgo, na
Hollard Street, uma ruazinha
de uns 200 metros onde se
concentrava mais dinheiro e
se fazia mais negócio do que
em toda a África. Decidi pois
homenageá-lo agora à minha
maneira: oferecer-lhe a report-
agem que na altura não tive
a coragem de escrever, porque
ainda não era claro para mim
que um jornalista não pode
deixar de denunciar o totali-
tarismo quando o descobre no
exercício da sua função.
stávamos em Março de
1975 e eu, jornalista ex-
periente, preparava-me
para mudar de paradigma,
como é moda dizer agora.
Ia ser finalmente um verdadeiro jor-
E
nalista moçambicano, livre da odiosa
censura colonial e “engajado” (como
se dizia então), na missão de infor-
mar, defender, educar e ser educado
pelo meu povo, libertado pela Freli-
mo. Era o meu velho sonho tornado
realidade.
Este trabalho, melhor, esta missão,
de cobrir a visita do presidente (ain-
da só da Frelimo) Samora Machel,
aos “países amigos e irmãos” da
República Popular da China e da
República Popular Democrática
da Coreia, enchia-me de orgulho.
Além do mais fora-me confiada a
responsabilidade de chefiar a dele-
gação de jornalistas moçambicanos.
O Boeing da CAAC (Linhas Aé-
reas da RPC) deslizava suavemente
sobre as nuvens aproximando-se de
Pyongyang quando um “camarada
dirigente altamente responsável”
se veio sentar ao meu lado e me
disse com convicto: – Agora vais
conhecer um país socialista verda-
deiramente organizado, talvez mais
organizado que a China ou a RDA
(antiga República Democrática
Alemã). Toma atenção que vais
aprender muito.
Devo referir que este então “cama-
rada dirigente altamente respon-
sável” – ainda hoje meu amigo, acho
eu, era dos poucos a tratar-me por
tu. Para os outros, como estava es-
tabelecido e mesmo que fôssemos
velhos conhecidos, eu era o “cama-
rada Magalhães”. Claro que havia
outra excepção, mas Samora Machel
tratava todos por tu, do guerrilheiro
analfabeto, ao embaixador da URSS
ou dos EUA. Adiante.
Aterrámos pois em Pyongyang com
o aeroporto cheio de coreografias,
danças, canções e bandeirinhas e eu
de olhos e ouvidos bem abertos, de-
sejoso de aprender. Sabia apenas que
a cidade tinha sido completamente
arrasada por bombardeamentos aé-
reos americanos durante a guerra da
Coreia e que, sobre as ruínas, Kim
Il-sung erguera uma urbe que pre-
tendia socialista, moderna e exem-
plar.
À entrada da cidade, o guia core-
ano apontou-nos um enorme cartaz
com a efígie de Kim e explicou-nos
em mau castelhano: Ali está escrito,
bem-vindo a Pyongyang a cidade
onde já foi instalado o verdadeiro
comunismo. Alguém lá de trás da
carrinha, acho que o Miguéis Lopes
Jr. ou o Albino Magaia, rosnou: o
comunismo não foi instalado em
lugar nenhum do mundo, camarada,
ainda estamos na fase da edificação
do socialismo. E o guia solícito a
replicar que não, não, não, no nos-
so país o querido e glorioso líder
e marechal de aço Kim Il- sung já
construiu o verdadeiro comunismo!
A réplica veio noutro rosnanço do
género, este camarada é parvo ou
quê? Mas do que víamos, lá que a
cidade era bonita, isso era.
Chegámos ao belo hotel e sobre
a entrada, bem em grande, muito
grande, sorria-nos a imagem de Kim
Il-sung. Solícito, o pessoal não nos
deixou levar as malas. Eles de fato à
Mao, com um bem grandinho “pin”
do querido líder no peito. Elas, de
longo vestido tradicional, em cetim
com florinhas, com o mesmo “pin”,
Samora Machel e Kim Il-sung, durante a visita do antigo presidente moçambicano a Coreia do Norte
de olhos sempre no chão e muitas
reverências, lembrando gueixas.
Na recepção, lá estava, em grande, o
rosto sorridente de Kim, e também,
fardado ou à civil, a meio corpo ou
corpo inteiro, em todas as paredes.
Nos longos corredores a caminho
dos quartos, de três em três metros,
multiplicavam-se as imagens do
querido líder e à entrada de todos os
quartos havia uns quadrinhos com
um miúdo a perorar a outros miú-
dos e a graúdos que o ouviam entre
espantados e veneradores. Alguém
dos nossos perguntou o que é isto
camarada? e a resposta veio rápida:
ilustram a história do nosso querido
líder e marechal de aço, ainda crian-
ça mas já divulgando a linha política
correcta.
Chegado finalmente ao meu belo
aposento, lá estava ele, fitando-me
de frente, de trás e de lado, umas vez-
es como querido líder, outras como
marechal de aço. Sorridente, olhava-
me também da primeira página do
jornal nacional, à minha espera na
secretária. Ao lado, uma avantajada
resma de 10 ou 11 calhamaços (em
português) com o seu nome e efígie
explicando a sua filosofia “juche” (da
auto-suficiência).
Desesperado e ansioso por descan-
sar os olhos, escancarei a janela do
quarto. Caía a noite e sobre a ci-
dade pairava um silêncio estranho,
inédito numa capital. Lá em cima,
dominando Pyongyang, qual Cristo
do Corcovado, resplandecia envolv-
ida em focos luminosos a estátua
do querido líder. O que vale é que
o jantar, como todos os outros, foi
óptimo e muito bem brindado.
Savana 08-02-2013
No dia seguinte lá fomos, muito
de manhãzinha em peregrinação
ao monumento de 20 metros de
altura, todo de bronze dourado, es-
trategicamente colocado em frente
à Biblioteca Nacional e Museu da
Revolução.
Perguntámos ao guia quantos livros
havia na biblioteca. Disse-nos que
mais de um milhão. De que tipo?
Todos escritos pelo querido líder ou
sobre o querido líder e com muitas
traduções. Julgámos ouvir mal. Um
milhão e só sobre Kim Il-sung? O
guia confirmou, feliz. E então não
há nada de Marx, Lenine, Mao?
Que não, não eram necessários. Es-
tavam ultrapassados pela filosofia
“juche”do querido líder.
Mais resmungos “pouco próprios
da linguagem do nosso partido” e
lá fomos, numa longa coluna au-
tomóvel a velocidade desenfreada
por largas avenidas vazias, visitar
a cidade “onde já fora edificado o
verdadeiro comunismo”. Era a hora
das crianças irem para as creches ou
escolas, todas muito organizadas, de
mãozinha dada, lencinho vermelho
de “pioneiras” ao pescoço, em inter-
mináveis filas, professores à frente
(lindo!) e cantando (informou-nos
o guia) odes ao querido líder. Visitá-
mos uma das creches. Danças e mais
canções (já não perguntámos nada)
e depois, para todas, uma sessão de
tiro com espingardinhas de pressão,
tendo como alvos o “cachorro presi-
dente imperialista americano” (lá
estava ele caricaturado) e o navio
espião americano “USS Pueblo” que
anos antes tinha sido capturado pela
marinha norte-coreana.
NO CENTRO DO FURACÃO
Adiante e passemos à nossa muito
ambicionada visita ao complexo in-
dustrial desse “modelar país amigo”.
Tínhamos sido informados de que
nos seriam mostradas moderníssi-
mas fábricas, muitas quais, pelo seu
valor estratégico e a sempre presente
ameaça do imperialismo ianque,
funcionavam dentro de galerias
enormes, escavadas em montanhas.
Aí já ia também parte da delegação
política e não apenas nós, pobres
jornalistas. O meu amigo “camarada
dirigente altamente responsável”,
depois de me ouvir alguns reparos
sobre aquela estranha forma de so-
cialismo, tranquilizou-me: “Culto
da personalidade, especificidades
do socialismo asiático; já discutimos
isso entre nós. Agora é que a visita
vai começar. Abre os olhos”.
Estávamos preparados para uma
longa visita ao campo mas acabá-
mos num imponente edifício no
centro de Pyongyang. Lá dentro
apresentaram-nos “algumas das
gigantescas fábricas”. Estavam de
facto escondidas em montanhas
de papelão dentro de grandes vit-
rines. Um camarada carregava num
botão e a montanha abria-se. Mais
um toque revelava-nos zonas com
maquinazinhas a trabalhar e bone-
quinhos cumprindo a sua função
de operários. A visita acabou com
a reconstituição de algumas das
grandes batalhas vencidas pelo que-
rido e glorioso líder e marechal de
aço contra o imperialismo. Lembro-
me de muitas luzinhas a apagar e a
acender e, acho eu, canhões, carros
de combate e soldados em miniatu-
ra. Não havia qualquer referência aos
Savana 08-02-2013
aliados chineses (morreram mais de
300 mil na guerra da Coreia) e per-
guntámos porquê. Aliados chineses?
Estávamos enganados… a guerra
tinha sido integralmente feita e
vencida pelo povo coreano dirigido
pelo querido líder e marechal de aço.
Lembro-me de incontidos sorrisos
em alguns camaradas dirigentes. Eu,
mais do que frustrado estava sobr-
etudo preocupado. É que os meus
companheiros jornalistas começa-
vam a revelar “comportamentos
pouco próprios da nossa disciplina”.
Sussurravam entre si como con-
spiradores, ouviam-se risinhos e
o mesmo já se passava com alguns
representantes das nossas organi-
zações populares. Adiante.
A visita estava a acabar mas faltava
o grande final, a festa do encontro
com o querido líder.
Era ao fim da tarde mas foram-
nos buscar muitas horas antes, “a
preparação”. Reuniram toda a del-
egação, com excepção de Samora
Machel, numa ampla sala de hospi-
tal. Mandaram-nos despir. Depois
urinámos para um tubinho. Em fila
(camaradas dirigentes à frente) com
o tubinho erguido na mão direita
e todos em pêlo avançámos para
uma enfermaria onde um camarada
coreano (julgo que médico ou en-
fermeiro) nos auscultava, outro via-
nos os olhos e um outro tirava-nos
uma amostra de sangue. Aqui já se
ouviam reclamações algo coléricas,
não só de alguns dos meus jornal-
istas como também de camaradas
“altamente responsáveis”, nomeada-
mente de um famoso comandante da
guerrilha (ainda não havia generais
da Frelimo e ainda se acreditava que
no “nosso exército popular” não se-
riam necessárias patentes) exigindo
explicações. Tudo para o nosso bem,
explicavam os guias intérpretes, já
que vínhamos da guerra no mato e
poderíamos ser portadores de doen-
ças que assim seriam detectadas e
tratadas. Adiante. A fila lá seguiu
nuazinha (éramos só homens, julgo
que as poucas camaradas estavam,
algures, a ter tratamento igual) por
um corredor onde subitamente se
desencadeou um chuveiro infernal
de água com desinfectante. Alguns
berros e alguma desorganização,
como acontece com as vacas quando
tomam o primeiro banho carracici-
da. Depois toalha felpuda, secagem
e devolução das nossas roupas, ainda
quentes, impecavelmente engoma-
das. Lembrei-me das palavras do
meu “amigo camarada altamente re-
sponsável” sobre a exemplar organi-
zação norte-coreana. Ali estava ela.
E chegou o grande momento. No
enorme salão de festas do palácio
da Assembleia Popular esperavam-
nos muitas centenas de altas enti-
dades, claro que todas com o seu
“pin” do grande líder. Como em
qualquer reunião burguesa falava-
se (aqui sussurrava-se) e bebia-se
14
um aperitivo. Numa extremidade
havia uma espécie de salão caixa de
vidro e lá dentro, muito só, sorriso
permanente nos lábios, estava Kim Um grande repórter:
Il-sung, mais velho e mais gordo
do que nas fotografias. De vez em
quando um grupo de convidados
aproximava-se da parede de vidro, Fernando Magalhães
fazia uma reverência e brindava. Por Eugénio Lisboa*
O querido líder, do outro lado do
vidro, acenava com a mão esquerda, ernando Magalhães, falecido em Lisboa, Fernando Magalhães com vista à publicação de um
sorria e levantava a sua taça. Depois no primeiro dia de Fevereiro, após alguns livro onde elas se acolhessem. Ver-se-ia assim mel-
o grupo brindante recuava, olhos no meses de sofrimento, foi um grande e sin- hor o que foi o trabalho de investigação e análise,
chão, para dar oportunidade a out- gular jornalista. na prosa enxuta e desafiadora de um dos nossos
ros. Privei com ele, de perto, em Moçambique, grandes jornalistas (e, neste “nosso”, incluo Portugal
Pressuroso, um guia-intérprete in- nos anos sessenta e setenta e, depois, em Lisboa, a e Moçambique).
troduziu-nos no salão caixa de vidro
(muito florido, com muitas sedas,
F
partir da segunda metade dos anos noventa. Tínha-
mos uma tertúlia mensal no concelho de Cascais, de *Ensaísta, crítico literário
brocados e aveludados) para con- que faziam parte, sempre, o Fernando Magalhães,
hecermos o grande líder em carne e o Carlos Adrião Rodrigues (antigo Governador do NdR: Fernando Magalhães começou a sua activi-
osso. Tivemos até oportunidade de Banco de Moçambique, já falecido), o João Afon- dade como repórter na “Tribuna” de João Reis, na
descobrir que na zona posterior do so dos Santos (advogado na Beira e membro dos então Lourenço Marques, onde “militaram” também
pescoço se notava um tumor bem Democratas de Moçambique), eu próprio, e, oca- Luis Bernardo Honwana, José Mota Lopes e José
grande (maior que uma bola de té- sionalmente, outros elementos (o Salvador Amaro, Craveirinha, entre outros. No período de transição,
nis ou de bilhar) que os milhões de a Joana Pereira Leite, etc). retoma à “Tribuna”de onde sai inusitadamente de-
imagens do querido líder, mostradas Em Moçambique, a tertúlia era aos sábados, em pois do seu director, o poeta Rui Knopfli, ter sido
ao seu povo e ao mundo, não rev- casa do Adrião Rodrigues, e aí conspirávamos os expulso de Moçambique pelo Alto-Comissário por-
elavam. Soube mais tarde, muito em nossos textos e disparos para A Voz de Moçam- tuguês, Vitor Crespo. Após a independência, é um
segredo, por um camarada jornalista bique e, durante algum tempo, para A Tribuna. O colaborador próximo de Jorge Rebelo, o ministro
chinês que se tratava de um depósito Fernando Magalhães pecara, literariamente falando, da Informação, sendo o primeiro responsável pelo
apenas uma vez, com uma magra ficção que não teve que viria a ser a AIM (Agência de Informação de
de cálcio não removível por se situar
seguimento. O seu temperamento era, sobretudo, de Moçambique). De novo em rota de colisão por não
numa zona demasiadamente próxi-
jornalista e, nesse pelouro, ele era único. Lembro- concordar com as políticas adoptadas, comunica a
ma da espinal-medula e do cérebro.
me de um concurso literário (que incluía a sub- Rebelo a renúncia à nacionalidade moçambicana e
Kim foi muito afável. Cumprimen-
espécie do jornalismo), em que tivemos, por uma auto-exila-se em Portugal onde entra para a RTP.
tou-nos, disse umas palavras e até
abraçou os agraciados com a Ordem
dos Combatentes Anti-Imperialis-
razão qualquer, de congeminar um Prémio Hors
Concours, para não ficar por assinalar uma fabulosa
reportagem do Fernando Magalhães.
Quase duas décadas depois, volta a Moçambique
como correspondente da televisão portuguesa e
colabora com Joaquim Furtado na série “Guerra”,
tas. Minutos depois, com excepção
Entre nós, ele recortava o perfil de um personagem um premiado trabalho de investigação onde, entre
de Samora Machel, que permane-
peculiar: objectivo, friamente analista, raramente outras situações, são passados depoimentos pondo
ceu a conversar com Kim, fomos
dava escape aos ventos da indignação: mais depressa em causa a versão da Frelimo sobre o denominado
devolvidos ao salão de festas para o
se inclinava a um desprezo distante do que a uma “Massacre de Mueda” e o ataque ao posto de Chai.
convívio possível.
O último banquete foi opíparo e fúria incontida. Escondia o tu-
multo das emoções no exercício de
muito brindado, tanto por nós como
uma ironia que se alcandorava, por
por eles. De tal forma que o nosso
vezes, até ao nível do humor negro.
guia-intérprete acabou por se deixar
A sua prosa era secamente acuti-
enredar num debate sobre a necessi-
lante, às vezes, subtilmente per-
dade de democracia no socialismo.
versa, nunca romântica. Recente-
Será que isso acontecia no “juche”?
mente, ofereceu-me, num gesto de
De toda a argumentação do cama-
amiga homenagem, uma reporta-
rada guia-intérprete a provar que a
gem saborosamente mortífera
RDPD era um verdadeiro estado
acerca de uma viagem à Coreia
democrático, lembro-me bem de
do Norte, quando Samora Machel
um exemplo decisivo: no país de
era ainda vivo e Presidente. O
Kim Il-sung, qualquer camarada
texto é de uma maldade saudável
podia escolher entre cinco cortes de
e ferina, digna dos melhores mo-
cabelo! Confirmei mais tarde que
mentos do ( Jonathan) Swift de “A
era verdade.
Modest Proposal”.
Quanto à reportagem, nunca a con-
O Fernando escondia, com pudor,
segui escrever. O mesmo aconteceu
os seus afectos e só em raros mo-
com a maioria dos outros jornalistas.
mentos – e sempre “defendendo-
Ficaram-se pelas fotos, com umas
se” com o apetrecho da ironia –
legendazinhas de circunstância. Não
deixava escapar um sinal de maior
tenho dúvidas que aquela viagem
entrega. Mas era um ser raro e a
foi extremamente pedagógica para
sua morte deixa, na nossa ter-
todos, que foi o que eu disse ao meu
túlia, um feio buraco negro. Não
amigo, então camarada altamente
há muito, partira de nós o Adrião
responsável.
Rodrigues: duas presenças insub-
Lisboa, Dezembro de 2010 stituíveis.
Seria interessante – e reco-
*texto oferecido a Eugénio Lisboa,
mendável – que, num qualquer de-
como homenagem de amizade. Foi
partamento universitário, alguém
publicado no livro “Eugénio Lisboa
- Vário, Intrépido e Fecundo. Uma
se dispusesse a fazer ou mandar
Homenagem”(pag. 121 a 126), editado fazer um inventário exaustivo
pela Operaomnia em 2011 e promovido dos trabalhos de reportagem de
pela Universidade de Aveiro.
16
Editora constituída arguida por publicar
livro de Rafael Marques
- Jornalista activista angolano, arguido no mesmo processo, é o autor de Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola, que a
editora publicou em 2011.
Q
uando soube da investi-
gação do jornalista e ac-
tivista angolano, Rafael
Marques, sobre crimes
contra populações nas
zonas de extracção de diamantes das
Lundas, em Angola, Bárbara Bu-
lhosa, responsável da editora Tinta
da China, não teve dúvidas de que
queria publicar esse trabalho em
forma de livro. Fez as diligências
para verificar factos e ficou convicta
da sua veracidade.
Relatórios internacionais e teste-
munhos de vítimas apontavam num
mesmo sentido: graves violações de
direitos humanos estavam, há vários
anos, a ser cometidas por empresas
de segurança contra as populações
indefesas com a conivência de gene-
rais em Angola. Publicou. E, por ter
publicado, foi constituída arguida,
por difamação e injúria, no mesmo
processo em que também Rafael
Marques é arguido.
Diamantes de Sangue: Tortura e
Corrupção em Angola, que vendeu
até agora cerca de sete mil exem-
plares, traça um retrato implacável
da vida nas zonas de exploração dia-
mantífera das Lundas, no Nordeste
esquecido do país. Por isso mesmo,
o assunto interessou a Bárbara Bul-
hosa, enquanto editora. Quinta-fei-
ra, 31 de Janeiro, quando foi ouvida
Autoridades angolanas
suspendem actividades da IURD
A O
s autoridades angolanas
suspenderam as activi-
dades da Igreja Univer-
sal do Reino de Deus
(IURD) e interditaram
os cultos e demais actividades de
outras seis igrejas evangélicas, não
legalizadas.
A suspensão das actividades da
IURD é uma das conclusões da
Comissão de Inquérito nomeada
pelo Presidente José Eduardo dos
Santos, na sequência da morte
de 16 pessoas, por asfixia e es-
magamento, no passado dia 31 de
Dezembro, na capital angolana.
O culto, denominado “Vigília do
Dia do Fim”, concentrou dezenas
de milhares de pessoas que ultra-
passaram, em muito, a lotação au-
torizada do Estádio da Cidadela.
Rafael Marques, jornalista e activista angolano, um dos mais incómodos para o
no Departamento de Investigação
e Acção Penal (DIAP) de Lisboa,
perguntaram-lhe como tinha con-
hecido Rafael Marques e por que se
interessara pelo seu trabalho.
Para a editora, o importante, no mo-
mento de publicar o livro, foi dar a
conhecer uma situação “de extrema
gravidade, que não era conhecida e
que estava a acontecer”. “Para mim,
[a opção de publicar o livro] não
tem nada a ver com Angola. Podia
ser noutro país qualquer”, disse ao
PÚBLICO. “O que me interessava
era a questão dos direitos humanos
e a denúncia de situações terríveis
para as populações.” Considera que
No comunicado citado pela à Lusa,
anuncia-se ainda que a Procurado-
ria Geral da República vai “apro-
fundar as investigações e a con-
sequente responsabilização civil e
criminal”.
A Comissão de Inquérito (CI)
concluiu ainda que as mortes se
deveram à superlotação no interior
e exterior do Estádio da Cidadela,
causada por “publicidade engano-
sa”.
Dias antes da cerimónia, a IURD
espalhou profusamente, por Lu-
anda, publicidade ao evento, que
designou de “Dia do Fim”, na qual
convidava todos a “dar um fim a
todos os problemas”, designada-
mente “doença, miséria, desem-
prego, feitiçaria, inveja, problemas
na família, separação,dívidas”.
INTERNACIONAL
regime de Luanda
este é “um processo político de in-
timidação” e uma “pressão sobre
todos os editores a quem possam
chegar manuscritos sobre questões
sensíveis e em que estão envolvidas
pessoas com muito poder”.
A editora fica com termo de identi-
dade e residência até o Ministério
Público (MP) decidir se deduz ou
não acusação. Mas, tal como expli-
cou o advogado Manuel Magalhães
e Silva, quando Rafael Marques, seu
cliente, soube em Dezembro que
era constituído arguido, também o
advogado de Bárbara Bulhosa, José
Manuel Mesquita, explica que, na
abertura de um processo, os visados
são sempre constituídos arguidos,
não resultando essa designação de
França tenciona retirar forças no Mali
número de soldados fran-
ceses no Mali deve come-
çar a diminuir “a partir
de Março, se tudo correr
como previsto”, declarou
o chefe da diplomacia francesa, Lau-
rent Fabius, numa entrevista conce-
dida ao jornal Metro e publicada nes-
ta quarta-feira.
“Acredito que a partir de Março, se
tudo correr como previsto, o número
de tropas francesas deve diminuir”,
declarou Fabius.
A França tem mobilizados actual-
mente no Mali cerca de 4.000 sol-
dados.
“A França não tem a intenção de ficar
de forma duradoura no Mali. Os af-
ricanos e os próprios malianos é que
devem ser os garantes da segurança,
da integridade territorial e da sobera-
nia desse país”, afirmou o ministro
das Relações Exteriores.
nenhuma apreciação do caso.
“Um erro”, segundo a defesa
Seja como for, diz o advogado: “Este
processo parece-me um erro.” Um
erro, no sentido em que poderá vir a
confirmar com maior alcance públi-
co os factos expostos no livro. E um
erro, considera, de quem interpôs a
queixa-crime: nove queixosos, sete
generais e as duas empresas de se-
gurança de que são accionistas e que
operavam nas zonas diamantíferas
em Angola – Sociedade Mineira do
Cuango e TeleService (esta última,
entretanto, abandonou a zona de ex-
tracção de diamantes).
O advogado do escritório PLMJ, de
José Miguel Júdice, que representa
os generais angolanos e as duas em-
presas de segurança, João Medeiros,
confirmou ao PÚBLICO que a que-
ixa-crime foi interposta em Março
de 2012, em Portugal, país onde o
livro foi editado, e que, entre os que-
ixosos, está o general Hélder Vieira
Dias “Kopelipa”, ministro de Estado
e chefe da casa militar da Presidên-
cia da República. (É uma das mais
influentes figuras em Angola e do
círculo mais íntimo do chefe de
Estado, e uma das figuras visadas
por um inquérito-crime aberto na
Procuradoria-Geral da República
em Portugal, por branqueamento de
capitais e fraude fiscal).
Entre os queixosos, estão também o
general António dos Santos França
“Por isso nós vamos, progressiva-
mente, passar o bastão à Misma
(Missão Militar Africana, nr). Nós
mesmos vamos continuar a agir no
norte, onde ainda há focos terroris-
tas”, acrescentou.
Esta força africana deve chegar a cer-
ca de seis soldados, sendo que apenas
dois já estão no Mali. Um contingente
distinto de dois mil chadianos já foi
quase que totalmente mobilizado.
“Uma primeira fase foi cumprida, de
forma muito eficaz, para bloquear os
grupos terroristas e reconquistar as ci-
dades” do norte, declarou Fabius.
“Os grupos narcoterroristas foram
contidos, graças aos ataques. Mas
ainda pode ser que haja acções indi-
viduais. É preciso permanecer alerta,
tanto no Mali como nos países vizin-
hos. Cada um deve ter em mente que
o risco ainda está presente”, acrescen-
tou Fabius.
Savana 08-02-2013
“Ndalu”, deputado do MPLA no
poder e presidente da empresa sul-
africana de diamantes De Beers em
Angola, e dois generais, Armando
da Cruz Neto e João de Matos,
que ocuparam o cargo de chefe do
Estado-Maior General das Forças
Armadas Angolanas.
Com uma acusação, haverá jul-
gamento
Pela defesa, José Manuel Mesquita
não arrisca antecipar uma decisão
do MP, mas lembra que a difamação
não é punível desde que os factos im-
putados sejam verdade ou mereçam
credibilidade por parte do autor ou
do editor. E isso está garantido, as-
segura. Existem relatórios internac-
ionais e testemunhos locais a con-
firmar a realidade descrita no livro,
que, por outro lado, “merece toda a
credibilidade do autor e da editora”,
acrescenta. Pela acusação, João Me-
deiros limita-se a dizer: “Vamos ver.”
No caso de o MP deduzir acusação,
o advogado de Bárbara Bulhosa não
pedirá a instrução do processo (que
ainda daria hipótese ao arquivamen-
to do mesmo). “Vamos logo para ju-
lgamento.” Será uma forma de expor
a verdade, sugere: “Se querem ques-
tionar a veracidade dos factos, vamos
ver a veracidade dos factos.”
*Artigo retirado da edição de 31
de Janeiro do Público editado em
Lisboa. Título da responsabilidade do
SAVANA
A França iniciou sua operação mili-
tar no Mali no dia 11 de Janeiro para
bloquear uma ofensiva para o sul de
grupos armados islamitas que con-
trolavam o norte havia mais de nove
meses.
Desde então, as grandes cidades do
norte, Gao e Timbuktu, foram reto-
madas. Em Kidal, no extremo nor-
deste do Mali, os soldados franceses
controlam o aeroporto, enquanto
a cidade é patrulhada por cerca de
1.800 militares chadianos, segundo
Paris.
Ainda nesta terça-feira, pela primeira
vez as autoridades francesas apre-
sentaram um registo dos combates
que opõem soldados da França e do
Mali e islamitas em território. “Várias
centenas” de combatentes islamitas
morreram em mais de três semanas
de intervenção militar.
(Redacção e AI)
Savana 08-02-2013
O “pânico e o terror caminham de braços
dados” na Guiné-Bissau
L
iga Guineense dos Direitos
Humanos considera que Es-
tado e cidadãos estão “reféns”
das Forças Armadas. E que
com o golpe do ano passado
o país foi empurrado para a sua “fase
mais obscura” desde a liberalização
política.
A Guiné-Bissau tornou-se um país
onde “o pânico e o terror caminham
de braços dados” e a população vive
“entrincheirada” no receio de “novas
violências”. A sociedade guineense
vive num “clima de insegura e am-
argurada impotência e refém de uma
classe política e castrense dividida,
imprevisível e violenta”.
O quadro é traçado pela Liga
Guineense dos Direitos Humanos no
seu relatório bienal, apresentado esta
quinta-feira em Bissau. É o primeiro
retrato que a organização faz do país
desde o golpe de Estado de Abril
do ano passado. Mostra uma Guiné
em que “os cidadãos e o Estado” es-
tão “reféns de uma estrutura armada
obsoleta, repressora e violenta” – as
Forças Armadas.
No período que decorreu desde a
apresentação do anterior relatório,
o país sofreu duas alegadas tenta-
tivas de golpe, em Abril de 2010 e
em Dezembro de 2011, e o golpe
consumado de 12 de Abril, antes da
segunda volta das eleições presiden-
ciais. Foi um tempo “marcado mais
uma vez pelos assassinatos de índole
INTERNACIONAL
Militar pontapeando um activista dos Direitos Humanos na Guiné Bissau
política como consequência da cróni-
ca instabilidade”.
São historiados episódios de violên-
cia, assassinatos e detenções arbitrári-
as, quer antes quer depois do golpe
que afastou o Governo de Carlos
Gomes Júnior, num contexto de “im-
punidade generalizada” e de “abuso de
poder” por militares. Os “desmandos”
levam a Liga a considerar as Forças
Armadas como a “principal ameaça à
paz e estabilidade”.
O golpe de 12 de Abril, “expressão
máxima da intriga política e da tu-
tela militar sobre o poder político”,
“empurrou o país para a fase mais
obscura e de imposição de terror da
sua existência enquanto Estado após
a liberalização política” iniciada com
as eleições multipartidárias, em 1994.
“Instalou-se no país um clima de au-
têntica afronta aos direitos humanos”,
denuncia a Liga. O tráfico de droga,
que se tornou marca da Guiné, “au-
mentou significativamente atingindo
proporções alarmantes”.
Para os defensores dos direitos hu-
manos, o golpe, liderado pelo chefe
de Estado Maior, António Indjai,
“traduziu-se no maior retrocesso so-
cial dos últimos anos”. Levou a que
se tivesse instalado um “clima de au-
têntica afronta aos direitos humanos
e de ameaças sérias à consolidação da
paz e do Estado de direito”.
A situação “agravou-se ainda mais”
com o anúncio de um “suposto ataque”
de militares a uma unidade de elite,
os pára-comandos, a 21 de Outubro,
que provocou a morte de seis pessoas.
Esse episódio “serviu como pretexto
para as autoridades militares e os seus
comparsas políticos desencadearem
acções de execuções extrajudiciais,
detenções ilegais, espancamentos e
torturas dos cidadãos e adversários
políticos com o objectivo de silen-
ciar as vozes críticas”. Dois políticos
anti-golpe, Iancuba Indjai e Silvestre
Alves, foram raptados e brutalmente
espancados. Cinco civis e militares,
acusados de participação no alegado
ataque, foram assassinados. A Liga
diz ter informações, “de fontes fide-
dignas”, de que os seus dirigentes,
particularmente o presidente, Luís
Vaz Martins, constam de uma “lista
negra”.
Medo e impunidade
“Vive-se um clima de tensão, de
medo generalizado, de terrorismo do
Estado contra os seus próprios ci-
dadãos”. O relatório denuncia alter-
ações ao nível dos comportamentos.
“As pessoas, que outrora defendiam
de forma intransigente e imparcial
os direitos cívicos, estão relegadas
ao silêncio, pois paira sobre elas a
ameaça, por parte de um esquadrão
de morte e tortura, [de] acabarem
inutilizadas por causa dos espanca-
mentos desumanos ou acabarem na
morgue”.
17
nidade Económica de Estados da
África Ocidental), um efectivo de
mais de 600 militares instalados em
Bissau após o golpe, “não protegem
ninguém a não ser os golpistas”, de-
nuncia a Liga.
O estado a que a Guiné-Bissau
chegou tem raízes profundas. A Liga
considera que a “impunidade foi in-
stitucionalizada” desde o conflito
político-militar de 1998, como prova
o facto de “os autores morais e mate-
riais das sucessivas convulsões políti-
cas e militares”, que na maior parte
dos casos culminaram com perda de
vidas, continuarem impunes. Exem-
plo disso são os casos dos assassina-
tos do Presidente da República, João
Bernardo Vieira, e do chefe de Esta-
do Maior, Baptista Tagme Na Waie,
em Março de 2009.
“A corrida desenfreada ao poder, o
enriquecimento ilícito decorrente do
tráfico de drogas, a não subordinação
das forças armadas ao poder político
e consequentes atentados recorrentes
à ordem constitucional criaram bases
para a anarquia e desordem que têm
desestruturado claramente os alicerc-
es do Estado”, denuncia a Liga.
Tornaram-se comuns as “sucessi-
vas interferências” dos militares que,
“aliadas ao clientelismo, à corrupção
e à impunidade foram e continuam a
ser obstáculos à consolidação das in-
stituições”, agravaram o clima de se-
gurança e fizeram fracassar substan-
cialmente os esforços internacionais
para a estabilização”.
O “contrabando de estupefacientes”,
que, segundo diferentes denúncias,
incluindo das Nações Unidas, se gen-
eralizou “com o cunho e protecção de
alguns efectivos ao mais alto nível das
Forças de Defesa e Segurança” é con-
siderado o “principal factor da insta-
bilidade política”. As ligações entre
“certos elementos das forças armadas
e as redes de tráfico de droga, servem
de mecanismos adicionais pelos quais
oficiais superiores têm vindo a con-
solidar o seu poder”.
Os problemas que preocupam a or-
ganização de direitos humanos vão
além do campo político-militar. Os
indicadores “alarmantes” na saúde,
educação e justiça no país africano de
1,5 milhões de habitantes são anali-
sados detalhadamente. Bem como os
efeitos da “inoperância” das autori-
dades face a situações como a muti-
lação genital feminina, o casamento
precoce, a violência sexual e domés-
tica, o tráfico de seres humanos ou o
desrespeito dos direitos das crianças.
Para a Liga, “a única saída” para a
quebrar o “ciclo vicioso” da instabili-
dade e das “violações sistemáticas” de
direitos humanos passa por “reformas
sérias” nas forças armadas.
Carmelita Pires, ministra da Justiça
da Guiné-Bissau entre 2007 e 2009,
membro da Liga Guineense dos Di-
reitos Humanos, disse ao PÚBLICO
que o relatório procura identificar
os “entraves ao funcionamento das
instituições democráticas”. Questio-
nada sobre o tipo de reacção que a or-
ganização espera do actual poder em
Bissau disse: “Espero que não suscite
outra que não seja a de considerar o
relatório um elemento de protecção
dos direitos humanos, que sirva de
motivação para a comunidade in-
ternacional e para o próprio Estado
da Guiné nesta fase de transição e
no período de normalização da vida
democrática”. (Publico)
18 Savana 08-02-2013
OPINIÃO

EDITORIAL Cartoon
A tragédia da água e o
abuso do meio ambiente
A natureza não tem sido simpática para Moçambique. As chuvas que nor-
malmente caiem nesta altura do ano deixaram desta vez um rasto de danos
materiais, mataram pessoas e, no caso de Chókwè, a cidade ficou completa-
mente submersa. Estradas e pontes ficaram danificadas, pondo em causa a
circulação de pessoas e de mercadorias.
O atraso que isso representa para a economia nacional e para o bem estar das
pessoas ainda está por ser contabilizado, mas não restam dúvidas que foi um
grande abalo.
É certamente o resultado das mudanças climáticas, que sobre países vulne-
ráveis como Moçambique se repetirá nos próximos anos. E é sobre isto que
devemos fazer uma análise fria e desapaixonada sobre como lidamos com o
nosso meio ambiente.
A vulnerabilidade de Moçambique é definida pelos relevantes fóruns das Na-
ções Unidas que lidam com questões ambientais e das mudanças climáticas.

3M
Moçambique torna-se vulnerável devido à sua localização ao longo da costa,
com uma parte considerável do território nacional situado em zonas de pla-
nície, onde os principais rios da região fazem a sua última viagem em direcção
ao mar. Países insulares também cabem na definição de vulnerabilidade devi-
do aos ventos fortes que ciclicamente os fustigam no meio do mar.
Por Venâncio Mondlane Jr

N
Mas, a maior vulnerabilidade surge na sequência da forma como os seres hu-
manos lidam com a natureza. Moçambique é um exemplo clássico da vio- este texto interessam-me as realmente se sabe, de determos mais Como disse um grande evangélico,
lência que o ser humano inflige sobre a natureza, devido a decisões políticas qualidades humanas mais cultura, mais informação e melhor nenhum ser humano tem capacida-
que tornam o nosso eco-sistema extremamente vulnerável, com as trágicas quotidianas, mais vulgares, raciocínio. A mentira pode ser com- de de controlar o que sente o cora-
consequências como as que temos estado a testemunhar desde Janeiro.
mas que revelam com certa parada a um tubo de escape quebrado ção. Partindo desta premissa, a única
Estamos todos falados da selvática devastação das florestas moçambicanas
profundidade, os amontoa- em vários pontos, em que os gases são coisa que está sob nosso controlo é a
para alimentar a indústria internacional de madeira. As nossas árvores saem
dos de lixo no interior do ser humano. libertos fora do percurso previsto pelo expressão da vontade por palavras. A
tranquilamente a partir dos nossos portos sem o devido processamento que
Tais qualidades chamá-las-ei de os inventor da viatura. Adaptando esta teoria da atracção resolve esta ques-
lhes poderia adicionar valor. Tudo isto acontece aos olhos de quem deveria
tomar medidas para reverter a situação, mas que prefere acautelar interesses três molwênes: 3M. Vamos a elas: analogia ao nosso corpo, diríamos que tão magistralmente. Quanto mais
políticos e preservar o seu lugar privilegiado na mesa do poder. o tubo de escape quebrado é o nosso palavras de mansidão pronunciares,
A ocupação desordenada de espaços públicos, muitas vezes com a anuência MENTIRA coração e o inventor é Deus. Mentir tanto mais probabilidades tens de im-
das autoridades ou pelo menos com a conivência destas, tornou-se na ordem Parece-me um dos mais antigos vícios é, portanto, uma opção, voluntária, em pulsionar um coração manso, no con-
do dia em Moçambique, onde assentamentos humanos tomam lugar sem a da alma humana. Nos relatos sagra- ajustar-se ao Bem ou ao Mal. trário, quanto mais expelires palavras
necessidade de observância das melhores práticas universais de ordenamento dos mais longínquos, foi a mentira A par da mentira quotidiana existe a incendiárias, brasas tomam conta do
urbano. Nos grandes centros urbanos, tudo quanto é espaço livre é local para responsável pela expulsão do Homem mentira estruturada. Muito matreira, teu coração queimando-o, instalando
betão. Espaços verdes, que contribuam para um meio ambiente mais são, não do Jardim do Éden. Podemos afirmar dissimulada, uma verdadeira maestra nele a frouxidão e a porta de entra-
produzem dinheiro. que o verdadeiro sustento do pecado do carnaval mascarado. Esta é progra- da para o stress, depressão, aumento
Também é comum a edificação de infra-estruturas habitacionais ou para o original foi justamente a mentira. mada, feita com cálculo, recheada de da pressão arterial etc. Se involunta-
desenvolvimento de actividades económicas em locais que são cursos naturais Em consequência desta origem que detalhes e munida com recursos pré- riamente murmurares, no segundo
de água. E é assim que quando as chuvas caiem em grande quantidade a água, se perde no tempo, podemos dizer vios para a sua autodefesa. É o tipo de seguinte nada te impede de sorrires e
encontrando o seu caminho natural barrado, provoca os estragos a que já sem muito risco, que a mentira foi-se mentira que normalmente tem planos abafar tudo com uma palavra caridosa
estamos há muitos anos habituados. consolidando no ser Humano, quase alternativos A, B, C…etc. no teu espírito.
A edificação dessas infra-estruturas poderia minimizar os danos se ela fosse Foi a mentira estruturada que colocou
como um elemento instintivo. Quase
antecedida de trabalhos de arruamento, parcelamento e construção de canais José Sócrates numa polémica acadé-
congénita. Se a ave tem instinto de MALDIZER
de evacuação das águas, o que geralmente não acontece. Cada interessado mica por nós muito bem conhecida;
voo, o homem tem-no de mentir. É Traço peculiar dos nossos tempos é o
ergue a sua obra seguindo critérios próprios e diferenciados.
como se a mentira fosse uma iguaria foi esta mesma mentira, o plágio, que hábito, quase generalizado, de se dizer
Os bairros periféricos das nossas grandes cidades são autênticos centros de
que podemos consumir, gratuitamen- levou, Karl-Theodor Zu Guttenberg, mal dos outros. Falar mal de alguém,
imundice e de um valente atentado contra a saúde pública. Concebidos pelos
te, em cada esquina. o ex-Ministro da Defesa da Alema- seja por que razão for, passou a uma
colonos para albergar a mão-de-obra indígena, estes locais já não deveriam
Interesse particular tem a mentira nha a demitir-se; Em Moçambique espécie de ritual obrigatório. Parece
continuar a serem habitados por seres humanos nas condições em que se
encontram. Nestes bairros, sem quaisquer sistemas de evacuação, qualquer quotidiana, aquela que normalmente as cábulas e a fraude académica atin- impossível entabular-se uma conversa
emergência tornar-se-á, num destes dias, numa tragédia de proporções que acompanha as nossas conversas di- giram o estatuto de legal. Na política descontraída, isto é, não formal, que
serão agora difíceis de prever. árias, nos intervalos do trabalho, na ela atinge o auge nas campanhas elei- se estenda para além de 15 minutos,
As autoridades municipais que foram eleitas para gerir estes locais terão todos copa, nos cafés, bares, nas caminhadas, torais. Na estética física, nos salões de sem que não se faça uma vítima de
os argumentos na face da terra para justificar a sua falta de acção, incluindo a enfim, nas nossas conversas normais e beleza e nos centros de bate-chapa e uma pontiaguda má-língua.
lendária expressão de que “não temos dinheiro”. habituais. Dizer de alguém e de um pintura corporal. Este hábito está de tal maneira en-
Não constitui novidade a ocupação ilegal de espaços livres — em alguns casos assunto algo original e novo, impele a cravado na nossa mente e no nosso
em locais onde os residentes já foram indemnizados para os abandonar — inventar factos e fenómenos, só para MURMÚRIO quotidiano, que mal podemos aceitar,
mas que passa impune somente porque as autoridades receiam que qualquer alimentar a ocasião. Portanto, a men- A viagem de 60 dias rumo à terra sem agravos, que acontece connosco.
acção de repressão contra os prevaricadores resultará na perca de votos nas tira quotidiana, é sempre ocasional, prometida, durou 40 anos devido aos A reacção natural é: eu não minto,
próximas eleições. transitória e não muito estruturada. É murmúrios dos hebreus liderados por eu não murmuro, eu não digo mal de
Moçambique nunca conseguirá gerir de forma segura o caudal dos rios que sustentada por um défice de conheci- Moisés. Muitos deles morreram sob ninguém. Isto dito com uma espon-
atravessam o seu território em direcção ao mar, enquanto não for capaz de mento ou por uma forte ansiedade de o tórrido brasido do deserto. O mur- taneidade, com uma convicção quase
construir sistemas de retenção de água para uso na agricultura em momentos camuflar esse défice. Particular pico a múrio é justamente isto, uma espécie infantil, que, sem exagero, podemos
de seca e libertação controlada em momentos de abundância de chuvas. E mentira atinge no ambiente de copos, de baptismo de fogo, que vai quei- dizer que é a justificação sonâmbula,
enquanto isso, o país continuará a ser vítima das águas que vêm dos países vi- que hoje se está convertendo em ele- mando, chamuscando tudo até nos um bloqueio mental. Instintivamen-
zinhos à montante, que se libertam da água em excesso quando chega a época mento da nossa cultura, propagando- tornar irreconhecíveis. Murmúrios te, defendemo-nos. É uma muralha
chuvosa. É verdade que a construção destes sistemas de retenção de água re- são reflexo de um esgoto interrom-
-se como um verdadeiro enxame, cujo construída para que não vejamos ao
querem avultados montantes em dinheiro, mas também é possível equacionar
zumbido vai se agravando a medida pido, de uma ruptura na tolerância e longe a luz que nos pode libertar.
pequenos sistemas privados, construídos nas propriedades agrícolas que se
que o cérebro é cavalgado pelo álcool. na compreensão. É a fera que ainda Mais interessante, é que somos nós
encontram nos vales ao longo dos rios. Estes sistemas são relativamente mais
Uma das motivações da mentira quo- habita no homem e que rosna contra mesmos os defensores dessa muralha
baratos, mas a sua execução deverá contar com o envolvimento do governo,
que deve disponivbilizar o equipamento de escavação, a troco de contraparti-
tidiana, parece-me, inelutavelmente, a humanidade. que nos oprime. O ser humano mais
das negociadas com os agricultores privados situados nessas zonas. a vaidade. A vaidade de querer de- Mas existe uma forma prática de aca- se dispõe a defender uma opressão
monstrar que sabemos mais do que bar com o murmúrio? Claro que sim! vaidosa que a liberdade humilde.

KOK NAM Editor: Colaboradores Permanentes: Fax: +258 21302402 (Redacção)

Director Emérito Fernando Gonçalves Machado da Graça, Fernando Lima, /01234562(789:;*<*=%=-(>?*$-<"!@
* editorsav@mediacoop.co.mz António Cabrita, Carlos Serra, *
Delegação da Beira:
Conselho de Administração: Ivone Soares, Luís Guevane, João Prédio Aruângua, nº32 – 1ºandar, A
Fernando B de Lima, (Presidente) Mosca, Paulo Mubalo (Desporto) e Telef: (+258) 82587480
Editor Executivo: *
e Naita Ussene Isadora Ataíde savana@mediacoop.com.mz
Francisco Carmona Maquetização: A. S .M
* francisco.carmona@mediacoop.co.mz (Redacção)
Direcção, Redacção, * Revisão: Gervásio Nhalicale admc@mediacoop.co.mz
Publicidade e Administração: Redacção: Fernando Manuel, Publicidade: Benvinda Tamele (Administração)
Av. Amílcar Cabral n°1049* CP 73 Emílio Beúla, Raul Senda, (82 3282870) *
Registado sob número 007/RRA/DNI/93 Propriedade da Abdul Sulemane e Argunaldo benvinda.tamele@mediacoop.co.mz www.savana.co.mz
Telefones:
NUIT: 400109001 Nhampossa Distribuição: Miguel Bila www.facebook.com/pages/
(+258) 21301737, 823171100 (824576190) savana-online/92167057804
!"!#$%&%'( )%*"%( +,,-.-( (Editor) miguel.bila@mediacoop.co.mz
Maputo-República de Moçambique 84 3171100 e Urgel Matula (incluindo via e–mail PDF) Impressão: S–graphics
Savana 08-02-2013
Meu ser original
Que tal uma rusga?
D
e forma recorrente, ouço
pessoas questionarem a
manutenção do merca-
do do Estrela Vermelha,
mercado informal para
uns e negro para outros, uma vez
que, a luz do dia, são comerciali-
zados produtos de vária ordem cuja
proveniência em muitos casos é du-
vidosa.
A maior parte das vezes que se so-
fre um assalto é comum ouvir-se o
seguinte: “se fores ao Estrela agora,
vais apanhar os teus bens rouba-
dos”.
Bem, sabendo que naquele merca-
do são comercializados bens de ori-
gem duvidosa desde bebidas, cigar-
ros, aparelhagens, faróis de carros,
telefones celulares a uma gama in-
finita de outros bens, é de se morrer
de espanto que anos a fio passem e,
aquele mercado, esteja tão robusto
quanto intocável.
Comentando sobre a onda de rou-
bo de piscas, espelhos retrovisores,
faróis, símbolos dos carros entre
outros, estava patente no rosto das
minhas amigas de ocasião um cer-
to cansaço de ir ao Estrela comprar
esses bens que, muitas vezes, são
os mesmos que foram retirados
das suas viaturas, residências e/
ou foram-lhes arrancados na via
pública. Enquanto trançávamos
os nossos cabelos, cada uma foi se
lamentando do facto de, para recu-
perar os seus bens roubados, dever
comprá-los no mercado Estrela.
Houve quem dissesse que, com au-
xílio policial de agentes a paisana,
conseguiu recuperar a lona da sua
viatura.
Dizia a senhora que, tendo ido me-
ter queixa numa esquadra, os poli-
ciais de plantão aconselharam-na
Ossos do ofício
H
á situações em que
o facto de levarmos
muito a sério a nos-
sa profissão pode
ter consequências
desastrosas.
Quando foi a 01 e 02 de Se-
tembro de 2010, em que se
registou levantamentos po-
pulares na cidade de Maputo,
ele chegou a casa por volta
das cinco da tarde sem que
tivesse avaliado devidamente
a dimensão do que estava a
acontecer a sua volta mas, já
em casa sentado na varanda,
vendo as vagas de multidões
que subiam do centro da cida-
de para periferia, pôde avaliar
R5 0)(5),-L
a deslocar-se ao referido mercado
e que ao localizar o seu bem a se-
nhora negociasse o preço e fizesse
tempo durante as negociações até
que eles chegassem ao local para
apreenderem a dita lona. Estupe-
facta, mas sentindo que aquele era o
único meio apontado pelos agentes
da lei e ordem que a atenderam, a
senhora foi àquele mercado infor-
mal e começou por dizer que queria
comprar uma lona. Prontamente,
lá surgiram uns vendedores carre-
gando lonas para mostrá-la. Desse
lote, surgiu também a sua. Por ela
ser vítima de larápios que vezes
sem conta retiram um pisca aqui,
outro ali e farol acolá, a dita senho-
ra, como muitos fazem nos dias de
hoje, pautou por usar esmalte para
as unhas e jorrou-o num cantinho
da sua lona o que a permitiu saber
que era precisamente aquela a lona
do seu carro.
Quando ela telefonou para os agen-
tes investidos de poder para man-
ter a lei, a ordem e tranquilidade
públicas estes fizeram-se ao local
e apreenderam a lona que foi res-
tituída a legítima proprietária. Nos
dias seguintes, a “minha fonte” diz
ter sofrido insónias, e revelou ter
tido pesadelos, pois receava pela sua
integridade física, pela sua seguran-
ça. Diz que temeu sofrer represálias
por ter chamado polícias àquele lo-
cal intocável. Em pouco tempo, na-
quele salão de cabelereiro, ficou cla-
ro que por aquela experiência outras
clientes tinham passado. Só faltou
ouvir-se um coro questionando o
porquê das autoridades temerem
exercer a sua função naquele pon-
to da capital da nossa República, a
semelhança do que se vê na zona
militar, na dita Colômbia.
o tamanho da revolta que estava a
decorrer nos seus pés. O alarido dos
manifestantes, os apitos fizeram
com que a mulher e os filhos se lhe
viessem juntar. Ele então levantou-
-se e disse que como jornalista, não
podia ficar sentado na varanda a
assistir os acontecimentos como
um mero e comum cidadão. Tinha
que descer e ir registar os factos de
perto. A sua proposta recebeu um
veemente não da família.
Por via das dúvidas, e porque a mu-
lher receava que ele de facto saísse
à rua, trancou a porta de saída e
escondeu a chave nos seios. Estava
literalmente impossibilitado de sair.
Ficou desesperado mas, logo lhe
ocorreu uma ideia pioneira.
OPINIÃO
Muitos estão “carecas” de saber da
exiguidade de meios circulantes
para uma resposta rápida as neces-
sidades que a manutenção da lei e
ordem impõem.
Nalgumas zonas, chega-se a exigui-
dade de cursos humanos para cobrir
essa área de jurisdição. A falta de
motivação de parte da corporação é
apontada como o móbil para justi-
ficar a sua inoperância. Já ouvi, por
exemplo, que nalguns casos os po-
lícias trabalham em edifícios cujas
condições deviam ser melhoradas
para evitar a entrada das águas das
chuvas. Se os relatos dessas insu-
ficiências iniciam aqui, na cidade
capital, onde existe um Município,
um Governo da Cidade e funciona
o Governo Central o que dizer das
zonas mais recônditas deste país?
Que não se pense que somente os
polícias é que têm falta de meios
para exercer as suas funções. Soube
que as forças da guarda fronteira,
essas que velam pela integridade
territorial, nalguns casos debatem-
-se com a falta de alojamento, meios
de comunicação, falta de lanchas
para o controlo lacustre, falta de
uniforme o que coloca oficiais e
guardas subalternos identificados
da mesma forma, falta de botas, de
tendas individuais, falta de colchões
para tornar as bases de ferro um lu-
gar de repouso depois e uma dura
missão. Há insuficiências dessa or-
dem nalguns locais para onde estas
forças são destacadas.
Creio que na senda do discurso dos
esforços que são envidados para me-
lhorar estas situações, seria de bom
tom que o Governo fizesse uma dis-
tribuição racional dos recursos, se é
que realmente pretendemos ser uma
nação livre da pobreza. É preciso
Uma vez que a família estava
na varanda da sala, ele dirigiu-
-se à varanda do quarto e de
lá tentou atirar-se para bai-
xo. Sem medir muito bem a
consequência do acto que iria
cometer, a sorte foi que a sua
flat fica no primeiro andar e
mesmo assim, entre o primei-
ro andar e o rés do chão existe
um para-peito. Foi neste para-
-peito que se estatelou com as
pernas desconjuntadas.
Ficou de gesso dois meses e até
hoje, passado este tempo todo,
continua a coxear da perna es-
querda, impossibilitado de an-
dar de pressa e muito menos de
correr. São os ossos do ofício.
incrementar o orçamento quantas
vezes forem necessárias para termos
agentes da lei e ordem motivados e
com os meios indispensáveis para o
cabal exercício da sua missão. Não
estou com isso a sugerir que tendo
os meios aqueles sirvam a um grupo
de moçambicanos em detrimento
da maioria.
Nem estou a dizer que deverão usar
esses meios para reprimir a oposi-
ção. Tão menos estou a armar-me
em carapau de corrida julgando que
basta isto que elenquei para termos
uma polícia imaculada, ética e com
agentes probos, dado que resta o
desafio da despartidarização/freli-
mização que vem sendo denuncia-
da. Mas, sem dúvida, seria um bom
começo. Um começo que devolveria
confiança aos cidadãos, pois sabe-
riam que os seus bens, sejam eles de
que natureza forem não lhes serão
surripiados, sob olhar impávido de
quem deve velar pela nossa segu-
rança. Saberiam ainda que os seus
haveres não estariam expostos de
forma arrogante e não seriam co-
mercializados em mercados onde
Aguarda mais um bocado
Por Tavares Cebola
A
cabei de reler “Cartas a
Jovens Poetas” de Rainer
Rilke e Virgínia Woolf.
Apesar de não coinci-
direm em suas posições
sobre poesia, os dois estão de acor-
do em que não se deve ter pressa
em publicar. Há semanas, quando
conversava com um amigo sobre li-
teratura moçambicana, e perguntei
sobre o que achava dos autores mais
jovens, a queixa era precisamente a
fragilidade dos textos desses auto-
res, que motivados por um grande
interesse em ganhar reconheci-
mento publicam precipitadamente.
Woolf recomenda a John: “não pu-
carlosserra_maputo@yahoo.com
http://www.oficinadesociologia.blogspot.com
Etnicidade
A
etnicidade é uma
verdadeira face de
Jano: só afirma um
“nós” na condição de
negar um “eles”. Mas
não basta o percurso da alteri-
dade para haver conflito. A di-
ferença não é, por si só, poten-
ciadora de conflito. É preciso
que o relacionamento seja, por
um lado, frequente e, por outro,
mediatizado e condicionado
pelo acesso a recursos vitais.
Quanto mais intensas forem as
relações inter-étnicas num ha-
bitat onde estejam em disputa
19
a polícia teme mostrar-se actuante.
Os moçambicanos, por exemplo,
saberiam que indo ali a Julius Nye-
rere, no edifício da Segunda Es-
quadra para meter uma queixa de
qualquer ordem lá encontrariam
agentes motivados e cientes das
suas obrigações. Pessoalmente, não
tive lá solução para nenhuma queixa
submetida.
Para alguns, o “start” no combate à
pobreza urbana ou campesina deu-
-se com a aquisição do tradicional
Xirico e evoluiu com a compra da
actual aparelhagem Bose, JVC...
Então, que combate podemos fazer
contra a pobreza se somos obriga-
dos a pagar duas vezes pelo mesmo
bem? Se conseguimos evoluir do
Xirico para Bose ou JVC e alguém
nos assalta, vende de dia, no mer-
cado negro, essa nossa aparelhagem
sem ser perturbado por nenhuma
rusga, de que desenvolvimento es-
tamos a falar?
* Comunicóloga, Deputada da As-
sembleia da República pela Bancada
da Renamo
blique nada antes dos trinta anos”.
Isto parece excessivo, mas creio que
a maturidade necessária para se pu-
blicar com segurança só vem depois
de muita leitura e vivência, e outras
coisas mais.
Os jovens moçambicanos que já se
julgam escritores por terem lido um
livro, ou por terem participado em
alguns debates, ou terem tido cursos
de literatura brasileira e portugue-
sa no Instituto Camões e no Cen-
tro Cultural Brasil - Moçambique,
leiam mais, muito mais, e vivam,
antes de pensarem em colocar as
vossas cenas cá pra fora, pra malta.
É sempre melhor assim.
310
recursos sociais e naturais raros,
maiores serão as probabilidades
de conflito político e maior o
ardor colocado a esgrimir ima-
ginadas fronteiras étnicas.
Na proporção da conflitualida-
de, poderão ser facil e rapida-
mente disponibilizados elevados
potenciais de símbolos identitá-
rios, de reforço das crenças nas
comunidades de origem, de
estigma, de estereotipagem, de
sinais vitimários e de bodes ex-
piatórios. Crises sociais podem
facilmente degenerar em violên-
cia e em indiferenciação social.
20
A TALHE DE FOICE
Por Machado da Graça
Causas e efeitos
N H
o ano 2000 houve grandes
chuvadas, em Maputo, que
provocaram enormes estra-
gos.
Uma das zonas que mais sofreu foi a
Av. Julius Nyerere, desde a Praça do
Destacamento Feminino até à Praça
dos Combatentes, vulgo Xiquelene.
Em dois ou três sítios a água das chu-
vas, transformada em rios caudalo-
sos, desceu do Polana Caniço e, com
violência, abriu enormes crateras na
avenida, impossibilitando completa-
mente o seu uso até hoje.
Recentemente o município iniciou
a reabilitação daquela via, usando
meios de razoável dimensão, que não
devem ter sido baratos. E, pelo me-
nos até ao desvio que dá para a Esco-
la Portuguesa, zona que melhor co-
nheço, as obras estavam adiantadas.
Dizia-se mesmo que a avenida não
demoraria a ser reaberta ao trânsito.
Só que...
Só que este ano voltou a chover mui-
to em Maputo e tudo voltou a acon-
tecer como descrevo no primeiro pa-
rágrafo.
Aqui há tempos um amigo citou-me
a seguinte frase, da sabedoria popu-
lar: a água nunca esquece o seu ca-
minho!
Só que os homens esquecem-se disso.
E o resultado é que, aparentemente,
estava-se a reabilitar a avenida sem,
antes, resolver o problema da drena-
SACO AZUL |
Jantar de gala (Matola no Coração)
O
cancelamento do jantar de
gala, por parte do Muni-
cípio da Matola, alusivo à
comemoração do dia 05 de
Fevereiro, é uma atitude
que mostra solidariedade para com os
munícipes afectados pelo drama das
enxurradas. Cancelar o jantar de gala
e direccionar o respectivo montante
para uma ajuda solidária aos afectados
é de aplaudir.
Embora não seja do domínio público
quanto dinheiro teria sido destinado
para o tal jantar, ainda assim, o gesto
não deixa de ser louvável.
Esta atitude contraria uma outra, me-
nos flexível, que teve cobertura directa
da televisão que se pretende pública,
durante um tempo demasiado consi-
derável, alusivo à festa de aniversário
OPINIÃO
gem da água das chuvas, quando ela é
violenta. Esqueceu-se completamen-
te a lição de 2000 e, ao que parece,
deve-se ter pensado que nunca mais
voltaria a chover como naquele ano.
O buraco perto da Escola Portugue-
sa abriu, de novo, no mesmo sítio, e
dizem-me que, mais perto do Xique-
lene, também aconteceu o mesmo.
As mesmas causas provocaram os
mesmos efeitos, como normalmente
acontece.
Porque tudo leva a acreditar que nada
foi feito para o evitar. Nada foi feito
para drenar as águas que descem da-
quela encosta. Tapou-se o buraco de
2000, pôs-se-lhe alcatrão em cima e
pronto. Estava tudo resolvido.
Quem terá planeado a obra? Quem
é o responsável por esta aparente
incúria que conduziu ao desastre?
Quem é que levou a que, durante sei
lá quanto mais tempo, não se possa
transitar por uma artéria vital para a
circulação entre a cidade de cimento
e os subúrbios. Vital, inclusive, para
a entrada na cidade de quem vem do
Norte?
Quem é o responsável por que se vá
gastar mais uma enorme quantidade
de dinheiro, de alguma forma saído
dos nossos bolsos?
Talvez sejam perguntas que alguém,
na Assembleia Municipal, deva fazer
ao executivo.
Por Luís Guevane
do mais alto magistrado da Nação. Críticas
choveram, aliás, caíram como enxurradas,
reprovando o facto de tal ocorrer num
momento de dor nacional. Aquelas tantas
horas de cobertura televisiva teriam sido
mais úteis mostrando em directo como
os moçambicanos estavam a ser colhidos
pelas cheias. Teriam sido, mas não foram.
Mostraram alguma falta de sincronismo na
super estrutura governativa. É que a cober-
tura televisiva, em directo, revoltou meio
mundo. Sem esta a festa teria acontecido
“normalmente”.
Este momento de solidariedade, esta ati-
tude do Município da Matola, é claro que
não resolve o problema da peste dos bu-
racos que afecta profundamente a saúde
rodoviária da Matola, não dá solução ao
dilema da drenagem das águas pluviais,
não minimiza o problema da criminalida-
ESPINHOS DA MICAIA
Por Fernando Lima
Tubarões Azuis
á uns anos, um voluntarioso mi-
nistro moçambicano arregaçou as
mangas e foi ao Brasil ver como
funcionava o mecanismo da co-
mercialização do frango que tão
fortemente penalizava os produtores nacio-
nais.
As confederações económicas sul-africanas,
desesperadas com o mesmo efeito demolidor
dos galináceos congelados da América do Sul,
propôs um embargo, apesar de Jacob Zuma e
Lula da Silva manterem o melhor dos rela-
cionamentos.
No fim do dia, o consumidor assobia para o
ar com o papo nacionalista pois o que o atrai
mesmo na vitrina da loja ou num qualquer
“coleman” informal é o preço que tem de pa-
gar.
No desporto, no futebol, o adepto não quer
ouvir falar muito de planos e de orçamen-
tos. A equipa ganha, está tudo bem, a equipa
perde, é problema do treinador, das noitadas
dos jogadores, do presidente do clube ou da
federação, quando está em causa a selecção
nacional.
Em Cabo Verde há uma equipa a quem cha-
maram de “Tubarões Azuis” e vive em estado
de graça por estes dias. Os homens da bola,
mais concretamente do futebol, apuraram-se
para a Taça das Nações Africanas e deixaram
para trás na fase de grupos Marrocos e An-
gola, teoricamente equipas muito mais fortes.
Mesmo perdendo com o Gana, entre outras
honrarias, houve até tolerância de ponto para
receber a equipa de regresso a casa.
De uma assentada esqueceram-se todas as
polémicas em torno da selecção. O recruta-
mento local e no exterior, os estágios, os pré-
mios de jogo e as qualificações do treinador.
de, etc. Não! É um momento de solidarie-
dade que mostra um elevar da consciência
dos responsáveis pela gestão do município,
mostra que têm Matola no Coração.
Isto até pode ser efémero, não interessa,
mas foi um momento de solidariedade. Foi
uma mensagem muito forte para todos.
Quantas vezes não acontecem festas de
arromba numa flat, num apartamento ou
numa moradia vizinha, quando ao lado o
outro foi colhido por uma situação de in-
felicidade? Uns choram pelo ente querido
que se foi e outros festejam mais um ani-
versário de vida, uma festa de amigos, um
feito qualquer, etc. Ninguém vai deixar de
comemorar. Ninguém vai deixar de chorar.
Ninguém vai deixar de rir, comer, saltar,
alegrar-se… A verdade é que é importante
sermos solidários para com os que preci-
sam do nosso ombro amigo, sem que isso
Savana 08-02-2013
Mas, num ponto os comentaristas reúnem
alguma unanimidade. Ao longo dos anos
tem havido um investimento sério no capital
humano que são as jovens cabo-verdianas e
cabo-verdianos. No desporto e não só, os re-
sultados começam a vir ao de cima.
As políticas de investimento na formação
complementarizam outras opções de fundo
que vêm puxando para posições de topo no
continente africano este país de solos e clima
agreste. Cabo Verde começa a rivalizar com
países nossos vizinhos, como são as Maurí-
cias e o Botswana. Sem recursos naturais as-
sinaláveis, Cabo Verde procura capitalizar no
que são potencialmente as suas mais-valias:
o turismo e a indústria de serviços, preocu-
pando-se com índices relevantes em matéria
de boa governação, democracia e ambiente de
negócios.
Como fez o voluntarioso ministro da estória
dos frangos, está na hora do ministro ou do
seu vice (habitualmente o homem mais voca-
cionado para os assuntos de bola), darem um
salto ao país da “coladera” e do “funáná” para
verem como se faz por lá. De caminho, po-
dem mesmo organizar umas tantas outras de-
legações para saberem sobre branqueamento
de capitais, combate à droga, emigração ilegal,
promoção do património cultural ou gestão
aero-portuária. Sobretudo agora que o legado
Amílcar Cabral até faz esquecer que uma boa
parte dos administradores coloniais, há falta
de portugueses, vinham exactamente de Cabo
Verde.
Se Bissau não quer aprender e espera ansio-
samente pelo próximo golpe dos narco-gene-
rais, há muito que beber das pequenas ilhas
do Atlântico a que o jargão político chama
de país irmão.
Para além do grogue, claro está.
signifique passar por uma privação. A
dimensão do problema deve elevar o
nível da nossa solidariedade.
Cá entre nós: como estamos na África
subsaariana, aliás, em Moçambique, é
de esperar que os que cancelaram o jantar
de gala mostrando que “têm mais coração
que outros”, que são flexíveis, sensíveis e
tudo mais, tenham que sofrer alguns ar-
ranhões na sua imagem para permanece-
rem no nível que os munícipes conhecem.
O nível do “não fazem nada”. A profun-
didade dos arranhões dependerá do nível
de permeabilidade dos gestores. Aliás, a
promoção da imagem do edil e seus cola-
boradores poderá ser proporcional à ma-
turidade do partido a que eles pertencem.
A ver vamos!
Savana 08-02-2013
Um olhar desapaixonado ao “agronegócio”
brasileiro em Moçambique
Por: Célio Panquene
O
jornal Brasil de Fato,
descreve, “O governo
brasileiro junto com
o sector privado está a
colaborar com o Japão
para promover um projeto de agro-
negócio em grande escala no nor-
te de Moçambique. Denominado
ProSavana, o projecto poderá dis-
ponibilizar 14 milhões de hectares
de terra para empresas brasileiras
do agronegócio para a produção
de soja, milho e outras culturas
de rendimento que serão exporta-
das pelas empresas transnacionais
japonesas”. Um outro jornal bra-
sileiro, no caso, Folha de S. Paulo,
cita o Ministro da Agricultura de
Moçambique nos seguintes ter-
mos: “Os agricultores brasileiros
têm experiência acumulada que é
muito bem-vinda. Queremos repe-
tir em Moçambique o que fizeram
no cerrado há 30 anos”.
Para empreendermos uma análise
crítica ao agronegócio que preten-
demos implantar em Moçambique
com a ajuda do Brasil temos nec-
essariamente que estudar a casa do
próprio professor. O “agronegócio”
provocou a devastação de 80% do
cerrado, causou uma grande ex-
clusão social de maiorias de famíl-
ias camponesas e pequenos agri-
cultores e promoveu irreparáveis
danos ambientais. É isso que que-
remos repetir no nosso país?
O “agronegócio” naquele país con-
struiu-se dentro de um contexto de
confrontações de interesses políti-
cos e sociais ao longo da história e
atendeu a um interesse hegemôni-
co. Após a II Guerra Mundial
estruturou-se um debate teórico
e político em torno da questão
agrária brasileira, tendo por justi-
ficativa imediata a necessidade de
uma reforma agrária ampla. Por
um lado os capitalistas olhavam
para a agricultura como um ob-
stáculo para o desenvolvimento
industrial capitalista face ao atraso
das forças produtivas e relações
sociais agrárias e, por outro lado
organizações do sindicalismo
rural clamam por uma reforma
agrária. Com o Golpe Militar de
1964 derrota-se o movimento
pela reforma agrária e a questão
agrária é remetida à solução pela
modernização técnica. A partir dos
anos de 1970 começou-se a falar
da existência de uma “agricultura
moderna” ou de uma “agricultura
capitalista” no Brasil, de “empresas
rurais” e de “empresários rurais”.
Ao viabilizar-se esta estratégia do
“agronegócio” como orientação
concertada de política económica,
agrícola, imiscuindo-se também no
campo ambiental, agrava o quadro
da exclusão no campo agrário. Este
formato de agricultura, pratica-
mente, prescinde da força de tra-
balho assalariada não especializada
e da massa de agricultores famil-
iares não associados ao agronegócio
(2/3 a ¾ do total). Nesse processo,
converte-se o campesinato em im-
enso sector de subsistência, não as-
similável ao sistema económico do
próprio agronegócio (...)1.
Gregório A. Abudo, presidente da
União Provincial das Cooperativas
de Nampula, desabafou para a im-
prensa, “O Governo convidou-nos
a algumas reuniões, mas tudo que
nos foi mostrado foram apresen-
tações em power point, sem nen-
huma oportunidade de levantar
questões (...). Queremos transpar-
ência. Queremos saber dos detal-
hes. Os Governos de Moçambique,
Brasil e Japão estão a avançar, a
portas fechadas”2.
O argumento de que o ProSa-
vana não afectaria os camponeses
porque seria desenvolvido em ter-
ras desocupadas está longe de ser
verdade conforme atesta Jacinto
Mafalacusser, pesquisador do In-
stituto de Investigação Agrária de
Moçambique (IIAM), “Não é ver-
dade que haja terra abandonada no
Corredor de Nacala”3.
Mais do que nunca o povo bra-
sileiro está ciente dos problemas
ambientais e sociais causados pelo
agronegócio. Hoje se assiste a um
forte e crescente movimento em
prol de uma agricultura ecológica e
sustentável. A legislação brasileira
desencoraja actividades com im-
pactos adversos ao meio ambiente
e às comunidades. Isto é notório
quando o presidente da Associação
Mato-Grossense dos Produtores
de Algodão (Ampa), Carlos Er-
nesto Augustin, faz as seguintes
revelações em entrevista à Folha
de S. Paulo: “Moçambique é um
Mato Grosso no meio da África,
com terra de graça, sem tanto im-
pedimento ambiental e frete muito
mais barato para a China”, em out-
ro desenvolvimento afirma, “Hoje,
além de a terra ser caríssima em
Mato Grosso, é impossível obter li-
cença de desmatamento e limpeza
de área.” Finalizando o seu discur-
so com uma declaração no mínimo
interessante. “Quem vai tomar
conta da África? chinês, europeu
ou americano? O brasileiro, que
tem conhecimento do cerrado”4.
A Constituição da República de
Moçambique, no seu artigo 103,
números 1 e 2 respectivamente,
refere: “Na República de Moçam-
bique a agricultura é a base do
desenvolvimento Nacional. O Es-
tado garante e promove o desen-
volvimento rural para a satisfação
crescente e multiforme das ne-
cessidades do povo e o progresso
económico e social do país.” Cerca
de 80% da população economica-
mente activa no país depende da
produção agrária.
O agrobusiness que o Governo e
OPINIÃO
os seus parceiros pretendem de-
senvolver está em total contradição
com o preceituado na Constituição
sobre o papel da agricultura no país,
pois não atende as necessidades do
povo por ser extremamente ex-
cludente e implicar a expropriação
de terra dos camponeses, popu-
lações que dependem da terra para
a sua subsistência. Este modelo
de agricultura, como ficou visto,
degrada o solo comprometendo a
sua capacidade produtiva, contam-
ina a água (do subsolo, lagos e rios)
em decorrência do uso abusivo
de químicos – vale lembrar que a
maioria da população no país con-
some água directamente dos seus
reservatórios naturais.
Devido ao agronegócio o Brasil é
o primeiro colocado no ranking
mundial do consumo de agrotóxi-
cos. O uso desses químicos consti-
tui um problema de saúde pública
e preservação da natureza. Estes
ocupam o quarto lugar no ranking
de intoxicações. O argumento seg-
undo o qual este empreendimento
irá empregar 90% de mão-de-obra
nacional é, simplesmente, ilusório.
A percentagem sugere muita gente,
mas em termos reais não o é, pois
devido à alta mecanização, ela dis-
pensa em grande escala o trabalho
humano, principalmente o não
qualificado. Na agricultura “agro-
businessista” à moda brasileira,
os ganhos económicos são con-
centrados numa pequena minoria
capitalista que detém o oligopólio
de toda a rede do complexo agro-
industrial, desde a produção de se-
mentes melhoradas passando pela
A rotunda das formigas
Q
uando circulo nesta ci-
dade tem um lugar onde
damos um nó. Um lu-
gar diferente de todos
os outros lugares por
onde passamos. Na realidade só
passamos nesse lugar e raramente
paramos para o observar. Entra-
mos nele tensos, vamos com facas
na boca, quer de janelas abertas ou
fechadas. Os chapas passam por
este lugar como se de uma grande
avenida se tratasse, quase sem parar,
e ganhando prioridade sobre todos
os outros.É um lugar redondo, onde
as tangentes são constantes, onde
os encontros e desencontros acon-
tecem num abrir e fechar de olhos.
Sempre que chegamos a ele, abran-
damos e observamos o que nos vai
em volta. Todos os veiculos que por
ele passam, olham-se pelo canto do
olho, olham-se como se não se vis-
sem, ignorando-se.
Paro e observo, levo com a chamada
de atenção de outro que por ali só
quer passar, passa por mim, olha-
produção de agrotóxicos, equipa-
mento de irrigação, maquinaria
agrícola, monopólio de compra até
ao processamento industrial dos
produtos agrícolas. E o resto da
população fica se debatendo com
os inúmeros prejuízos dela decor-
rentes.
Toda e qualquer política de de-
senvolvimento deve sair de dentro
do país e deve espelhar a vontade
do povo, ela não deve vir de fora
e como um fardamento pronto-
a-vestir, sob pena de ser aliení-
gena, por conseguinte, enfermar
de graves consequências. Assim,
entende-se que as políticas de de-
senvolvimento agrícola devem, em
primeiro plano, visar o empondera-
mento dos camponeses e pequenos
agricultores nacionais e nunca ex-
cluí-los do processo.
A independência de Moçambique
logrou duas coisas inalienáveis – a
libertação do homem e a devolução
da terra aos seus legítimos donos, o
povo moçambicano. Deste modo,
clama-se por discernimento e sa-
gacidade plausíveis ao fazer acor-
dos que envolvem a concessão de
14 milhões de hectares de terra
por 50 anos renováveis ao preço de
9,00 euros anuais por hectare, com
o agravante de haver expropriação
de terras de famílias camponesas.
Moçambique de hoje não é o de há
30 anos. Hoje dispomos de quad-
ros com as mais diversas quali-
ficações que podem assessorar o
Governo a firmar acordos susten-
táveis, não só no sector agrícola,
como também nos demais, por ex-
me e deixa-me ali, observando.
Tudo se move, transportando ho-
mens e mulheres numa correria
como se tivessemos pressa de che-
gar onde não queremos ir. Será que
alguém chega a horas nesta terra?
Todos vão em diferentes direcções,
todos tem onde ir, um destino. Mas
e este, será também um destino?
Sempre que o sol se levanta, e o
calor se começa a fazer sentir, as
formigas com rodas saiem dos seus
casulos, o calor activa os seus movi-
mentos. Começam a circular pelos
carreiros por entre predios e casas,
os tais casulos. Parece que todos
os carreiros se cruzam neste lugar,
neste não destino. Poucos são os
que param, e desses nenhum fica
tempo suficiente para dizer que era
aquele o seu destino.
Todos os dias bem cedo, e tam-
bém ao final do dia, quando o sol
se poem, os carreiros que se inter-
sectam neste não destino, enchem
se. Formigas com rodas, tambem
apelidadas de carros, enchem to-
21
emplo, nos sectores mineiro e en-
ergético que estão a merecer, neste
momento, um grande interesse por
parte de companhias multinacion-
ais. É sensato pensar que os políti-
cos não devem tomar decisões de
interesse nacional sem a devida as-
sessoria técnica e, sobretudo, sem
o consentimento do povo. Para
o efeito, os tomadores de decisão
precisam cultivar humildade e
vontade política para receberem de
braços abertos assessoria técnica,
abrir espaço para o diálogo com a
sociedade civil e partes interessa-
das, aceitando críticas como parte
do diálogo democrático.
É preciso (re)lançar o ProSavana a
um debate genuinamente nacional,
pois parece que tal não aconteceu
em devida altura, avaliando pelo
distanciamento de posições, prin-
cipalmente entre a União Nacional
dos Camponeses e do Governo.
Como também por haver pouco
conhecimento no país sobre os
reais contornos da história do
agronegócio brasileiro.
1
DELGADO, Guilherme.Questão
agrária brasileira no pós-guerra e sua
configuração contemporânea. Rio de
Janeiro: Ipea, 2005.
2,3
Fonte: http://www.advivo.com.
br/blog/luisnassif/projeto-brasileiro-
pode-afetar-milhoes-em-mocam-
bique
4
Folha de S. Paulo. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/
mercado/me1408201102.htm
dos os acessos ao não destino. Vão
dando passagem uns aos outros
como se existisse uma regra, sem
regra. Uma norma é fazer barulho
para que outros saibam que ali es-
tamos, tentando desse modo gan-
har espaço para ali ficarem pouco
tempo. Quem já se encontra no
não destino, normalmente tem
vantagem em relação aos que se
encavalitam nos acessos a este. As-
sim que conseguem entrar na roda,
a velocidade aumenta e saiem tão
rápido que nem nos aprecebemos
que ali estavam. Passaram com um
destino, sem olhar. Passaram sem se
aperceberem que ali existe um não
destino.
Eu tambem passo tantas vezes sem
saber que ele existe, poucas vezes o
menciono. Mas hoje, este não des-
tino tornou-se um destino, um des-
tino meu, um lugar a observar, um
destino desta cidade, a rotunda das
formigas.
T’agu
22
Supertaça com sabor à vingança
Olho por olho dente por dente
Por Paulo Mubalo
A
s equipas do Maxaque-
ne e da Liga Muçul-
mana protagonizam,
este sábado no Estádio
Nacional do Zimpeto,
arredores da capital, aquilo que se
pode considerar o primeiro desafio
oficial da época 2013. É uma parti-
da que cheira à vingança, pois co-
locará em campo alguns jogadores
dispensados pelo português Litos
e que vão alinhar pelo Maxaquene,
por um lado, e os que por outras
razões se transferiram da equipa
tricolor para a muçulmana.
Para já antevê-se dificuldades
acrescidas para as duas formações
tendo em conta que, tanto os pupi-
los de Arnaldo Salvado como os de
Litos ainda não atingiram níveis de
rendimento consentâneos com as
suas capacidades. Mas teoricamen-
te, e sobretudo pelos resultados que
foi alcançando, ainda que jogando à
feijões, a Liga reúne mais possibili-
dades de triunfar.
Contagem decrescente
Enquanto vai a meio a contagem
decrescente rumo à participação
dos dois combinados nacionais nas
afrotaças-2013, a supertaça, uma
prova disputada entre o campeão
e o vencedor da Taça de Moçam-
bique, serve de apiritivo e quiçá de
termómetro para avaliar o potencial
dos nossos representantes.
Os muçulmanos terão como ad-
versário o Botswana United, para
a pré-eliminatória da Taça CAF e
realizaram um estágio de cerca de
duas semanas na vizinha África do
Sul, descrito pela equipa técnica
como tendo sido bastante impor-
FMBoxe refém de fundos para Brasil 2016
Por Zaqueu Massala
A
Federação Moçambicana
de Boxe não tem dinhei-
ro para dar início aos tra-
balhos de preparação de
atletas que irão representar
o país nos próximos jogos olímpicos
agendados para 2016 no Brasil. Em
contacto com SAVANA, na manhã
desta terça-feira, o porta voz da co-
missão de gestão daquele organismo
, António Mondlane, explicou que
até ao momento ainda não arrancou a
preparação por falta de fundos.
A Federação Moçambicana de Boxe
está a enfrentar problemas de falta de
fundos para continuar a massificar a
sua modalidade.
A falta de transporte, lanche, água,
entre outras coisas continua ainda a
ser um calcanhar de Aquiles para o
organismo que dirige os destinos da
modalidade no país.
No terreno, o SAVANA constatou
que os problemas acima mencionados
vêm do passado. Aliás, foi a falta destes
recursos que fez com que no ano pas-
sado esta instituição não organizasse o
campeonato ou as competições.
Lembre-se que no ano passado a
Federação não conseguiu realizar o
tante.
E não ficou por aí, defrontou de-
pois o Ferroviário da Beira e o Cos-
ta do Sol tendo vencido por 2-0 e
5-2, respectivamente.
Mais do que as vitórias alcançadas,
o técnico português quis através
desses jogos aprimorar os aspectos
de índole técnico-táctico, o entro-
samento dos jogadores mormente
com a integração de novos recrutas,
que como é óbvio, trazem consigo
características e modelos de jogos
diferentes.
De qualquer das formas, ficou claro
que os muçulmanos ainda precisam
de jogos de rodagem por forma a
que o seu treinador possa trabalhar
paulatinamente no melhoramento
das qualidades individuais de cada
atleta e limar as últimas arestas ten-
do em conta os desafios que vão ter
pela frente ao longo deste ano.
E…
Dados avançados por entendidos
na matéria mostram uma Liga com
uma concorrência muito grande de
jogadores no sector defensivo, o
que de certa forma vai ser benéfico
para o próprio clube.
Para já, Zainadine Júnior, o defe-
sa de rasgos individuais e remates
fortes pode se considerar como dos
poucos com a situação de titulari-
dade meio resolvida a menos que se
embandeire em arco e deixe os seus
créditos, já firmados, diga-se, em
mãos alheias.
Aguiar e Chico terão de trabalhar
arduamente se quiserem conquistar
a confiança do técnico.
No meio-campo, a Liga conta com
a prestação do malawiano Joseph,
campeonato devido a problemas or-
ganizacionais, situação que deu azo
à renúncia do próprio presidente. O
mesmo decidiu abandonar o cargo
quase no fim do seu mandato.
Depois da renúncia do presidente foi
criada uma comissão interna com vista
a manter as actividades da FMB, en-
quanto se espera por uma Assembleia
Geral.
Maria Duménia, secretária executiva
da Federação, disse que a nova comis-
são está a organizar-se para uma As-
sembleia Geral a ser realizada na pri-
meira semana de Março. E será neste
mesmo período que a nova comissão
também vai cessar as suas funções.
Entretanto, era suposto que a selecção
estivesse a treinar para os Jogos Olím-
picos a serem realizados no Brasil,
em 2016, mas a falta de fundos está
a comprometer o início da preparação.
Lembre-se que a nível nacional o
boxe é praticado nas províncias de
Nampula, Manica, Inhambane, Sofa-
la, Niassa, Gaza e Maputo .
De acordo com a fonte, apesar de um
maior número de capitais ter uma as-
sociação de boxe, a modalidade é pra-
ticada a conta gota.
DESPORTO
um esquerdino que dá indicações
de ter passado pelas escolas de for-
mação a julgar pela forma descom-
plexada como o faz, à mistura com
um perfeito domínio da bola.
A este e outros jogadores dos sec-
tores retromencionados, a Liga tem
no ataque avançados que, em dia de
inspiração, poderão provocar ver-
dadeiros ataques de nervos aos de-
fesas contrários pela genica, entrega
e raiva que demonstram, a exemplo
de Liberty, Hélder Pelembe, Zicco,
Sonito, entre outras estrelas cinti-
lantes para o nível daquilo que é o
nosso futebol.
Maxaquene
Quanto ao Maxaquene, é bom que
se diga que a astúcia, o pragma-
tismo, a leitura profícua dos acon-
tecimentos do técnico Arnaldo
Sem avançar mais detalhes, Duménia,
explicou que a participação das meni-
nas no boxe tem sido muito fraca, não
se sabendo as razões que estarão por
detrás dessa situação.
“Eu não sei o que está a acontecer com
as meninas, posso dizer que o boxe
tem fraca participação de atletas femi-
ninas, não conheço as razões”.
Mas adiante, Duménia, explicou que
neste momento a federação já fez uma
lista de 8 atletas que vão participar nos
jogos de preparação para a qualifica-
ção aos jogos olímpicos a terem lugar
no Brasil em 2016.
Segundo explicou a fonte, até aqui
ainda não existe nenhum plano para
o arranque da preparação para o feito.
Fazendo uma análise dos jogos reali-
zados na época passada, a fonte referiu
-se nos seguintes termos:
“Em relação aos jogos de qualificação
para olímpicos realizados época passa-
da os resultados foram péssimos, mas
valeu a pena participarmos nos jogos
da SCASA porque ganhámos duas
medalhas de bronze”.
Empresários não apoiam o
boxe
Será desta que a Liga Muçulmana conquistará a supertaça?
Salvado em muitas ocasiões, têm
sido determinantes na vitória dois
tricolores.
Até porque os jogadores do Ma-
xaquene dispensados da Liga que-
rerão vingar-se e mostrarem que o
técnico Litos esteve simplesmente
equivocado sobre as suas reais po-
tencialidades.
Estamos a falar de Carlitos, Micas,
Maurício, Calima e Isac.
Mas, facto análogo será corporiza-
do pelos jogadores da Liga, no caso,
Hélder Pelembe e Liberty, ainda
que tenham saído por razões dife-
rentes.
Entretanto, a crise directiva que,
de alguma forma foi afectando o
Maxaquene se bem que ainda não
foi totalmente ultrapassada, é ine-
gável que poderá ser esquecida pelo
menos para essa partida pelos joga-
“É lamentável falar de apoios ao boxe
porque praticamente não existem. A
maioria dos empresários nacionais só
têm apoiado o futebol”. disse.
Enquanto isso, o porta voz da Fede-
ração, António Paulo, disse que este
organismo está a organizar uma for-
mação para novos árbitros tendo em
conta que o sistema que se usa para
apitar é electrónico.
“O sistema de arbitragem que se usa
actualmente é electrónico e como nós
não o tínhamos na próxima semana
vou para a Suazilândia buscar dois
técnicos informáticos que vão perma-
necer uma semana para introduzir o
programa nos computadores”
Questionado sobre os valores dos dois
técnicos estrangeiros que estarão em
Moçambique por sete dias, a fonte
respondeu:
“Estamos a contar com apoio de um
empresário local, senhor Big Ben, que
disponibilizou trinta mil meticais para
custear todas as despesas, nós como
federação não temos dinheiro”.
“Está tudo apostos para o arran-
que do campeonato, em princípio os
combates serão realizados na Escola
Secundária da Zona Verde, enquanto
Savana 08-02-2013
Urgel Matula
dores, pois cada qual tem a obriga-
ção de mostrar porque faz parte do
onze inicial.
Importa salientar que em 2011 e
ainda a contar para a mesma com-
petição, mas com os papeis inverti-
dos (a Liga Muçulmana jogava na
qualidade de campeã nacional e o
Maxaquene de vencedor da Taça de
Moçambique) os tricolores vence-
ram o seu antagonista por uma bola
sem concorrência.
Mas, reza a história que igualmente
perderam o ano passado diante do
Ferroviário de Maputo na marca-
ção de pontapés de grandes pena-
lidades.
Os ingressos para esse embate entre
o Maxaquene e a Liga Muçulmana
estarão à disposição ao preço único
de 50 meticais.
que o alojamento será na delegação
do Ministério das Obras Públicas e
Habilitação, localizada no município
da Matola”.
Na ocasião, a fonte explicou também
que para manter a modalidade a fun-
cionar a Federação precisa de 525 mil
meticais e parte deste valor já está ga-
rantido graças ao apoio do Instituto
Nacional do Desporto e Município da
Matola.
Segundo a fonte, vão tomar parte os
seguintes clubes, Academia de Mapu-
to, Nampula, Inhambane, Gaza, Ma-
nica, Sofala, Lucas Sónia da cidade de
Maputo, Paulo Jorge, Rectificadora
LM, Ferroviário, Matchedje, e o Nú-
cleo do Jardim.
O SAVANA ficou a saber que en-
quanto se espera pela data das eleições,
desfilam três nomes para a presidên-
cia deste organismo, nomeadamente,
Benjamim Uamusse, conhecido nos
meandros desportivos por Big Ben,
por sinal o primeiro a manifestar a sua
candidatura; Spiros Esculudes, que já
foi presidente e António Balú.
Savana 08-02-2013 23
DESPORTO

Nacional de básquete às moscas BREVES

Por Zaqueu Massala

O
Campeonato Nacional
de Basquetebol em se-
niores femininos, que
arrancou na última sex-
ta-feira, 1 de Fevereiro
em Maputo, está a ser marcado
por uma fraca afluência do público,
o que retira brilho à competição.
Das quatro bancadas que compõem
o Pavilhão do Desportivo, apenas
uma é que, salvo raras excepções,
apresenta um número de especta-
dores que chega a 100, dentre eles
jornalistas e alguns familiares de jo-
gadores que vieram das províncias.
João Manuel, treinador da Sopro-
tecção de Quelimane, disse que
não teve tempo suficiente para
preparar-se para este campeonato
o que condicionou o desempenho
da equipa.
Ademais, a falta de público para dar
mais força aos jogadores também
influenciou bastante para a fraca
prestação da equipa de Quelimane.
“Nós fomos apanhados de surpresa,
não tivemos tempo suficiente para
nos preparar para este campeonato,
logo no início da prova, percebe-
mos que não iríamos longe. Posso
dizer que os meus atletas não da-
vam grandes esperanças e acaba-
mos por perder com a Liga Mu-
çulmana 158-28 pontos”, observou
Manuel, para depois acrescentar
que nunca tinha esperado por este
tipo resultados”.
A fraca afluência do público no
local da realização de jogos ou seja
no pavilhão de Desportivo de Ma-
puto, também foi contestado por
alguns atletas de Quelimane, Teni-
nha, Olga e Lizandra não escon-
deram a sua indignação ao afirmar
que nunca tinham participado num
campeonato nacional com pouca
afluência do público. Para elas foi
uma novidade mas pela negativa.
“Para nós é muito estranho parti-
cipar num campeonato nacional
sem presença do público, até parece
que não estamos na capital do país.
Mesmo lá nas províncias há sem-
pre pessoas a assistir o basquetebol,
mas aqui o cenário é diferente”, re-
mataram.
Apesar da participação de sete
equipas nomeadamente, Liga Mu-
çulmana, A Politécnica, Ferroviário
de Maputo, Costa do Sol, Maxa-
quene, Soprotecção de Quelimane
e Abílio Antunes de Chimoio, que
tentam dar o seu máximo para con-
quistarem o título, o público tem
pautado pela ausência.
Mas, no campo meramente des-
portivo, a Liga Muçulmana con-
tinua a superiorizar-se em relação
aos seus adversários. E o seu trei-
nador, Nazir Salé, disse que a sua
maior atenção não é o público, mas
os resultados alcançados durante a
prova.
“O nosso grande objectivo são os
resultados, por isso não estamos
preocupados com o público que
deveria estar aqui para assistir os
jogos”, rematou Nazir Salé.
Para ele, os bons resultados da sua
equipa são fruto de muita prepa-
ração e entrega ao trabalho. “Ago-
ra estamos a colher os resultados,
estamos satisfeitos e gostaríamos
que continuássemos até o fim deste
campeonato em grande”.
Na primeira jornada: Liga Muçul-
mana 158- Soprotecção -25; Costa
do Sol 77- Maxaquene -67; A Po-
litécnica- 72- Ferroviário de Ma-
puto-58. Outros resultados; Liga
Muçulmana- 112- Costa do Sol-
25; Ferroviário 79- Maxaquene.
Entretanto, para Egino Macia do
Maxaquene, o objectivo não passa
por ganhar o campeonato, mas sim
preparar a equipa para as próximas
épocas.
“Devo dizer que neste campeona-
to eu não estou preocupado com
os resultados, mas sim com a pre-
paração da minha equipa para as
próximas temporadas, até porque
muitos atletas que estão a disputar
o campeonato são de escalão jú-
nior”, justificou.
Sexo mahala para selecção da Nigéria
A selecção da Nigéria recebeu há dias uma oferta invulgar de
incentivo: caso lograsse conquistar o CAN os seus jogadores
teriam a seu bel prazer uma semana de sexo mahala.
O repto foi lançado pela Associação Nigeriana de Prostitutas. A
organização enviou representantes à África do Sul, onde decor-
re a competição, e apresentou uma oferta em jeito de incentivo:
uma semana de sexo de borla para os jogadores interessados.
Jéssica Elvis, secretária da Associação, apresentou a oferta à co-
mitiva nigeriana, mas esta não foi oficialmente aceite.
Gana acusado de subornar Níger
Os órgãos de comunicação social “Ghana News Agency” e
“Radio Gold” noticiaram, recentemente, que antes do encontro
decisivo do Grupo “B”, entre o Gana e Níger, o capitão dos
“Black Giants”, Asamoah Gyan tinha-se encontrado com o
defesa adversário Kofi Dankwa, com o objectivo de suborná-lo.
Em comunicado, a Federação Ganesa de Futebol veio negar
as acusações, classificando-as de ridículas. Para além disso, os
jornalistas dos respectivos órgãos de comunicação social que
faziam a cobertura da CAN-2013 foram expulsos.
O Gana venceu a partida por 3-0.
Selecção de Cabo Verde ovacionada
O seleccionador e os jogadores de Cabo Verde mostraram-se
simplesmente emocionados pela recepção de que foram alvos,
salientando que nunca tinham visto algo assim no arquipélago.
O técnico Lúcio Antunes e os jogadores Héldon (avançado do
Marítimo) e Vozinha (guarda-redes do Progresso de Sambizan-
ga, Angola) disseram à agência Lusa estarem felizes por verem
o povo a agradecer todo o esforço feito por jogadores e equipa
técnica durante a Taça das Nações Africanas (CAN2013).
“Nunca vi algo assim em Cabo Verde. Estamos todos muito

Os contornos do CAN 2013

contentes com esta recepção. Demos tudo de nós para dignifi-
car a nossa bandeira”, disse Vozinha.
O seleccionador disse estar muito feliz pela recepção apoteóti-

D
esde o passado dia 19 de
Janeiro a 10 de Feverei-
ro próximo, as atenções
de milhões de africanos
continuarão centradas no
CAN da África do Sul, que pela ter-
ceira vez joga-se na região da África
vivem também problemas de organi-
zação, que iniciaram já em 2008, no
CAN do Gana.
A ausência dessas selecções reduz
igualmente o número de estrelas na
competição, sendo que os Camarões
têm das melhores de África, a par da
ca, após a estreia num CAN, tendo Cabo Verde sido eliminado
colonialismo. Os países lusos por pelo Gana, nos quartos de final da prova que se está a disputar
exemplo, ainda lutavam pelas suas na África do Sul.
independências, e alguns anglófonos
como o Zimbabwe também.
Assim, explica-se que da primeira
até à quarta edição, o CAN não teve
mais do que seis equipas.

Austral. Passam 17 anos desde que
pela primeira vez a competição des-
ceu para essa região, depois de ter
sido realizada várias vezes na África
do Norte e do Oeste.
A África do Sul abriu o caminho em
1996, e seguiu-se Angola 14 anos
Costa de Marfim. Ver Eto´o e Song
fora dessa competição, significa afas-
tar também alguma audiência televi-
siva. São esses e outros jogadores que
tornam o CAN na terceira maior
prova de futebol do Mundo, a seguir
ao Mundial e ao Europeu.
Nigéria-Burkina Faso
Razões políticas e de transportação
explicam a exiguidade de equipas na
Taça das Nações Africanas. Por essa
altura, o continente já estava liber-
tado à excepção de países lusófonos
e alguns anglófonos. Ainda assim, o
CAN foi disputado com este núme-
!"# !$

depois, isto é, em 2010. A Líbia era
inicialmente o país escolhido pela
CAF, Confederação Africana de
Futebol, para hospedar a competição
em 2013, no entanto, a eclosão do
conflito civil que matou Muhamar
Khadafi impediu que fosse lá.
A exemplo do que ocorreu em 1996,
a África do Sul foi novamente o
refúgio para a CAF, e assim está a
acontecer. Pela segunda vez, o CAN
joga-se na terra de Nelson Mandela,
com a ausência de três grandes selec-
ções do continente.
Egipto, Camarões e Senegal, estão
a assistir ao CAN pela televisão.
É a segunda vez consecutiva que
os faraós não disputam a Taça das
Nações Africanas, uma equipa que
conquistou as três das últimas qua-
tro edições. Os Camarões também
falharam.
Razões diferentes impedem essas
equipas, as mais tituladas e quiçá co-
tadas, de estarem na África do Sul.
Os Leões indomáveis estão a ser as-
solados por uma crise organizativa
e para os egípcios, a instabilidade
política do país será a maior razão.
O Senegal, ou os leões da Teranga,
Porém, a África conta com outros
de igual dimensão como Yaya Tou-
ré, médio do Manchester City, eleito
melhor jogador do continente em
2011 e 2012. É sem dúvida a maior
referência dessa competição ou não
fosse para muitos especialistas euro-
peus o melhor médio defensivo do
mundo hoje.
Yayá Touré e outros talentosos afri-
canos que evoluem nos melhores
clubes do mundo foram os respon-
sáveis pela alegria de milhões de pes-
soas cujo quotidiano é preenchido
por conflitos, fome e seca.
A(&B(=!,(%.!,(C%$-,
O CAN da África do Sul vai assi-
nalar a transição dos anos de dis-
putas de pares para ímpares. Não é
a primeira vez que a Confederação
Africana de Futebol faz jogar duas
edições em dois anos seguidos. Em
1962 e 63, a CAF realizou um CAN
após o outro.
Depois de 65, a prova não foi dis-
putada nos dois anos seguintes por
questões de políticas. Muitos paí-
ses nessa altura estavam a arrumar
a casa, depois de se libertarem do
A
ro de equipas até 1990. No entanto,
em 1976, participaram 12 equipas, final do CAN2013 que decorre na África do Sul, marcada para
no CAN seguinte em 1978 voltou- domingo, às 20h30 no Soccer City de Joanesburgo, terá como
-se para o número de oito selecções. protagonistas Nigéria e Burkina Faso, duas selecções integran-
tes do grupo C da primeira fase, que quarta-feira eliminaram o
A África do Sul assinala uma vira-
Mali e Ghana, respectivamente, em partidas das meias-finais.
gem na história da Taça das Nações
Esta será a primeira vez que Burkina faso disputa o jogo decisivo, enquanto
Africana. Foi na terra de Nelson
a Nigéria já conquistou o troféu em duas ocasiões (1980 e 1994).
Mandela onde pela primeira vez a
Para chegarem ao jogo decisivo, os burkinabes “vestiram” a camisola de
competição registou a participação
equipa surpresa, tendo vencido o seu grupo, onde constava o detentor do
de dezasseis selecções. Ou seja, há 17
troféu (Zâmbia) e ainda o seu adversário da final e a Etiópia. Um empar-
anos que a competição é disputada
ceiramento, de resto, em que era a única selecção sem título.
por esse número de equipas.
A África do Norte domina a Taça
No seu percurso, empatou com a Nigéria e com a Zâmbia, e conseguiu a
maior goleada do campeonato à Etiópia (4-0), classificando-se em primei-
das Nações Africanas com doze
títulos. O Egipto é o maior contri-
ro, seguido dos nigerianos.
Nos quartos-de-final venceu o Togo no prolongamento, após igualdade
buinte com sete títulos, seguido pelo
sem golos ao cabo do tempo regulamentar. Quarta-feira, afastou a selecção
Marrocos, Argélia, Tunísia, Sudão e
mais titulada presente na prova no desempate por grandes penalidades,
a Etiópia com um título cada. Se-
após empate a um golo depois dos 120 minutos de jogo.
gue-se a zona Ocidental, com onze
O seu adversário foi segundo no mesmo grupo preliminar, depois derrotou
títulos, sendo os Camarões e o Gana
a principal candidata ao título Cote D’Ivoire nos quartos-de-final por 2-1
os principais vencedores. Nigéria
e quarta-feira goleou o Mali, nas meias-finais, por 4-1.
com dois e a Costa de Marfim são as
Para a atribuição do terceiro lugar, o Ghana e o Mali jogam às 20h00 de
outras equipas da região com títulos.
sábado no estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth.
Na África Central há três títulos, dos
Angola, que participou pela sétima vez na prova, terminou em 14ª lugar
quais dois pertencem ao RD Con-
entre 16 participantes, com duas derrotas e um empate no grupo A, tendo
go e um ao Congo Brazzaville. Para
falhado o apuramento à fase seguinte.
África Austral, somente dois títulos,
Os Palancas Negras empataram com Marrocos e perderam com a África
por obra e graças da África do Sul e
do Sul (0.2) e Cabo Verde (1-2).
da Zâmbia.
(Angolapress)
24
Viagem do “Comboio Marrabenta” até Gwaza Muthini
Por Abdul Sulemane
A
VI edição do “Festival
Marrabenta” que de-
correu de sexta-feira a
Domingo passado em
Maputo e Marracuene
sob o lema “Integração de gerações
e Internacionalização do Festival”,
animou as cerimónias centrais da
celebração dos 118 anos da batalha
de Marracuene, celebrada como
Gwaza Muthini.
Como tem sido hábito, as cerimó-
nias centrais do evento que teve
como lema “118 anos Rumo ao
Desenvolvimento e Valorização
da Cultura Moçambicana” com-
preenderam na manhã de sábado,
o habitual “Kuphalha” e deposição
de coroa de flores no monumento
erguido em memória dos heróis da
batalha de Marracuene, cujas ceri-
mónias foram dirigidas pela admi-
nistradora daquele distrito, Maria
Vicente.
Já no período da tarde, centenas de
pessoas esperavam na estação de
comboios de Marracuene pela ca-
ravana artístico-cultural que partiu
Eduardo White vence Prémio BCI 2012
Por Abdul Sulemane
A
obra “Libreto da Mi-
séria” do escritor mo-
çambicano Eduardo
White foi recentemente
premiada com o valor
de 200 mil meticais, no âmbito da
terceira edição do Prémio BCI de
literatura – edição 2012. O livro
destaca o poeta e um louco, filhos
assumidos da grande personagem
do tecido social moçambicano, que
é a miséria. “Receber esse prémio
constitui uma enorme alegria e sa-
tisfação, e acho que surge num bom
momento, pois irá ajudar a elevar a
minha auto-estima”, disse Eduardo
White.
Na ocasião, o Secretário-Geral da
Associação dos Escritores Moçam-
bicanos (AEMO), Jorge Oliveira,
disse que a obra conseguiu conci-
liar todos os critérios de avaliação,
Brana expõe “Crónicas de Maputo” no BCI
E
sta patente até dia 16 de
Fevereiro corrente na Me-
diateca do BCI a exposição
da artista servia, Brana Sto-
jovic, intitulada “Crónicas
de Maputo”. Brana é artista plástica
multifacetada, com pulso artístico
que sai da alma e de várias formações
e experiências. De Kragujevac-Sérvia
a Maputo já lá vão sensivelmente 4
anos que vive estes dois pólos.
“Crónicas de Maputo” é o retrato da
paixão que a artista vai vivendo por
estas terras vermelhas e de verde flo-
rescendo acácias, pelas gentes jovem
revestidas de cores quentes e da ca-
pulana de tradição longínqua que co-
brem as coxas das donzelas dos deu-
ses desta terra a séculos.
Pela sua intimidade com a paisagem
da estação central dos Caminhos-
-de-Ferro de Moçambique, em
Maputo, “Comboio Marrabenta”.
O mesmo levava artistas da capital
que iam actuar no concerto que es-
tava agendado para às 15:30 horas.
Entretanto, só por volta das 18:00
horas é que o primeiro artista su-
biu ao palco. Facto justificado pe-
los organizadores como tendo sido
originado por motivos técnicos. O
SAVANA constatou no local que
até por volta da hora do início do
“Show” havia grupos ainda a faze-
rem inscrição para actuarem.
O músico Roberto Isaias foi o pri-
meiro a subir ao palco para brindar
o público que aguardava impacien-
te pelo início do concerto, segui-
do pelo grupo de Makwayela dos
TPM que deu um “show” digno de
realce. Seguiu depois a actuação de
grupos locais entre os quais Grupo
Momemo, grupo Marracuene, Ce-
cília Ngwenha e grupo da Escola
Sagrada Família “The Best Waves”.
Refira-se que o “Festival Marra-
como a originalidade, criatividade,
coesão, estrutura e correcção lin-
guística. Sendo assim, “por una-
nimidade relativa ao equilíbrio da
obra, aos critérios estabelecidos,
acrescidos do facto de se tratar de
Este prémio surgiu num bom momen-
to, vai elevar a minha auto-estima,
!"# $%&' "&($)*+,-
encontrada em inúmeros passeios aos
cantos de Maputo a artista descortina
lugares, pormenores de gentes e tona-
lidades cromáticas que talvez possam
nos ter passado despercebido em inú-
meras caminhadas diárias das nossas
viagens incansáveis a esta cidade que
sobre ela dormimos e acordamos com
sonhos e olhares diferentes.
E que cada um vai descrevendo no
seu porta diário o sonho que gosta-
ria de nela viver como Brana, sem
excepção fez, com alma de artista,
criatividade e mestria no pincel, em
cima destas belas capulanas que lhe
serviram de caderno para contar uma
crónica de forma surrealista.
Brana Stojovic é membro da Asso-
ciação de artistas NULUP ”Dusan
Miskovic” (Associação Independen-
CULTURA
benta” terminou no Centro Cultu-
ral de Matalane, em Marracuene,
depois de na sexta-feira e sábado
um texto dramático, um género
pouco cultivado, quer em termos
da crítica literária do país, o júri
decidiu atribuir o Prémio BCI de
Literatura – Edição 2012 à obra
O Libreto da Miséria, de Eduardo
White”.
Ainda durante a sua intervenção,
Jorge Oliveira referiu que sem
pretender interferir nas políticas
editoriais das empresas ligadas ao
ramo, a classe de júri do concurso
recomenda que as editoras pautem
por uma melhor e mais atenciosa
revisão dos textos, quer no que tan-
ge à ortografia, quer na rigorosida-
de da construção literária.
A produção literária moçambicana
exige já profissionais devidamente
credenciados na área da revisão e
edição de textos.
te de Artistas e Professores “Dusan
Miskovic). Membro da Associação
Artística Cultural “Núcleo de Arte”;
Maputo; Moçambique.
Frequentou o curso de cenografia da
Academia de Belas Artes de Roma
onde, em 30 de Outubro de 2007,
obteve a Licenciatura com 110/110
valores e distinção, discutindo uma
tese com o título “O espaço cénico
de J. Svoboda” e realizando um pro-
jecto de cenografia e figurino para
“Medea”, “Sonho de uma noite verão”
e “Amadeu ou como se desembara-
çar”. Frequentou a Escola de Design
de Belgrado, ramo design industrial
e arquitectura de interiores, obtendo
o diploma de Escola Superior com o
máximo dos valores.
A.S
Savana 08-02-2013
Naíta Ussene
Nacionais e estrangeiros aderiram à festa de Gwaza Muthini em Marracuene
ter levado ao palco do Centro Cul- e os moçambicanos Dilon Djind-
tural Franco-Moçambicano artistas ji, Neyma, Orquestra Djambu e
como o congolês Sam Manguana Makwayela dos TPM.
Faleceu Chico Ventura,
ex-Eyuphuro
Por Abdul Sulemane
F
aleceu recentemente em Nampula o músico, Chico Ventu-
ra, ex-guitarrista da banda Eyuphuro. “ Chico estava isola-
do sem apoio ou solidariedade, assim como atenção, depois
de minha partida para Europa. Chico começou a beber sem
controlo com más companhias, etc. Isso deu cabo da vida de
um dos melhores do país, para mim. Trabalhar ao longo dos 12 anos
com o Chico foi um grande privilégio”, lamenta Gimo Remane,
fundador do grupo Eyuphuro.
Gimo Remane, radicado na Dinamarca, disse que teve a triste in-
formação na passada manhã do dia 4 de Fevereiro do corrente ano.
“Foi com profunda mágoa que recebi a notícia da morte do grande
músico moçambicano, Chico Ventura. Era assim que eu o trata-
va. Nascido na província de Sofala, Chico Ventura passou parte da
sua vida na província de Nampula. Foi em Nampula onde encon-
trei este artista e ainda em Nampula aprendi a conhecê-lo como
amigo, colega de profissão e músico, mas foi a sua qualidade de
homem íntegro que mais me marcou durante os vários momen-
tos que partilhámos nas andanças pelo mundo da música”, recorda
Gimo acrescentando: “muito cedo ganhou o carinho dos habitantes
daquele canto de Moçambique. Foi assim que o convidei a integrar
o conceituado agrupamento Eyuphuro e na companhia dos outros
músicos fizemos as viagens pelo mundo fora para divulgar a música
de Nampula em particular e a nossa cultura em geral, recorda.
Com Chico Ventura os Eyuphuro gravaram o seu primeiro CD
“Mama Mosambique”, para além das inúmeras viagens pelos quatro
cantos do mundo. Das músicas que constam deste álbum se pode
escutar a mestria de Chico Ventura e o seu estilo único de tocar a
guitarra solo sem “descansar”
com os ritmos tradicionais
da província de Nampula e os
instrumentos tradicionais que
eram a marca dos “Eyuphuro”.
Terminada a sua aventura nos
“Eyuphuro”, Chico Ventura
partiu para uma nova aventu-
ra, desta feita na província do
Niassa onde continuou a par-
tilhar as suas qualidades com
os músicos daquela cidade.
Foi assim que conviveu com
“os Massukos” durante os pri-
meiros anos da sua formação
como agrupamento musical.
Chico Ventura
 Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 996 8 DE FEVEREIRO DE 2013
2 Savana 08-02-2013 Savana 08-02-2013 3
SUPLEMENTO
Savana 08-02-2013 27
OPINIÃO

Fernando Manuel (texto)

e Urgel Matula (fotos)

As águas em que
navegamos
F
ica-se com a impressão de que a igreja católica romana está a ser
cada vez menos concorrida por jovens que pretendam a carreira
de padre ou freiras. A origem desta situação está nessa controversa
lei de celibato que proíbe os padres de se casar, as freiras idem com
o agravante, no caso das freiras, de que elas nunca podem celebrar
missas.

Isto para além de ser anacrónico, joga a favor de todas as outras confissões
religiosas que admitem naturalmente que os padres se casem e as freiras
celebrem missas. Aliás, o que história nos diz é que a igreja anglicana
surgiu da dissidência entre o rei da Inglaterra (daí o nome de anglicana)
Eduardo VIII que se viu impossibilitado de se divorciar por ordem do
Papa. Desobedeceu a esta ordem, criou a sua própria ramificação onde
se admite o divórcio, onde se admite que os padres se casem e inclusiva-
mente que em alguns casos, as mulheres celebrem missas.

A igreja anglicana está bem radicada e tem tradições seculares em

Moçambique. Isso bem o testemunha o bispo da diocese dos Libombos,
Dom Dinis Sengulane e um dos fiéis da sua igreja recém crismado, de
nome Walter Sambo.

Trata-se de duas mulheres de diferentes níveis de mediatismo. A presi-

dente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabota, que não tem papas
na língua, embora frequentes vezes as suas posições sejam polémicas e a
chefe da bancada da moribunda Renamo, Maria Angelina Enoque, pode-
se adivinhar aqui o futuro de diferentes rumos para cada uma delas.

Temos mais um jornal novo na já saturada praça maputense. É um jornal

electrónico que tem por nome Horizonte 25. O seu director e propri-
etário é Paulo Davis. Bom de papo segundo se diz, ele está em seu estilo
a tagarelar com outro tagarela profissional já com longos anos de carreira
e que nos desperta todas as manhãs com sua voz que já nos tornou famil-
iares na rádio de nome Emílio Manhique. É o Jornal da manhã.

Por falar de jornalistas, temos em dupla, Eunice Matavela, da TVM, e

Jeremias Mondlane, da Rádio Moçambique. É só papo que às vezes não
é furado.

Terminamos com outra área. A justiça com a veterana Benvinda Levi e

Gilberto Correia, bastonário da ordem dos advogados. Talvez se possa
perceber porque a nossa justiça navega nas águas em que navega.

www.savana.co.mz
IMAGEM DA SEMANA
.)&5*,5.,5*,(#)5,*#'(.5)-5^(-#('(.)-_5
5 *,5 *),5 '5
Ainda o caso de contaminação no Chókwè
Vector Lda. multada
-empresa de capitais sul-africanos manuseava produtos químicos não autorizados
-Engenheira transportada para o hospital de JHB continua a inspirar cuidados
A
empresa Vector Limi-
tada, que fumigou o
estaleiro da construto-
,5 *),./!/-5 *135 5
provocou a contaminação
grave de seis engenheiros ligados à
fiscalização, foi multada pelo Minis-
.ï,#)55
!,#/&./,55*!,5jff5'#&5
meticais e desactivar o seu escritório
que estava a funcionar ilegalmente,
*/,)/5)5


55 )(.5&#!5
#(#-.ï,#)5 5
!,#/&./,5 tarde evacuado para Joannesburgo,
,.5
($)-655
ao assunto.
fn550,#,)55hfgi5R5
55R5o 996
Com um capital social de 20 mil
meticais, a empresa tem como ob-
jecto a prestação de serviços na área
de controlo de pestes e ervas dani-
nhas; turismo; e desenvolvimento ou
aquisição e gestão de propriedade
imobiliária.
5^
5'*,-5)*,5-'5&#(é5),-
respondente do Ministério de In-
dústria e Comércio e não está regis-
.5 ()5
uma empreitada de 135km dirigida
como aplicadora de pesticidas. Usa
Foto Naíta Ussene
(!("#,)-5 B+/.,)5 *),./!/--5 5
dois moçambicanos), ficaram gra-
vemente contaminados durante uma
operação de fumigação no estaleiro
5 *1365 '5 &(65 #-.,#.)5 5
"ĉ%1î85

5)(.'#(éã)65+/5&0)/5)#-5)-5
engenheiros a parar na sala de cui-
)-5 #(.(-#0)-5 ()5 )-*#.&5 ,#-
vado de Maputo e um deles mais
5-#./éã)5&ù(#55
ocorreu após uso de um inseticida
À HORA DO FECHO
se
iz-
.. .D
se
iz-
D
R55#&55
da festa presidencial dos 70 anos. Em espaço alugado, e para todos sabe-
rem, cancelou o jantar de gala alusivo à cidade e diz que o montante vai
*,5-50ù.#'-5-5"#-85ã)5-5-5-5/'5*,.50#5*,55-*)-5)5
/-ù#)5+/5-5 ,.55 ./,,5(.,55()''%&./,5*&)5&/!/,5)5
seu espaço que, neste caso, não foi usado à última hora.
R5/.,)5)-5 .)-65(ã)5-5"#-5'-5)-5-/-5 #.)-65 )#5)5")''5)5
*,#'#,)5.#,)855)'5)5!(,&5+/,#5&,,5'5!,(5)-5hk5()-5)5
-/5-ĉ,#)5755'5',5@5'-55)($/(./,5(ã)5-.05'-')5*,)*ù-
#85),.,'7-5)-5*)&ù.#)-55&,éã)555)#-5ŀ)/5'#-5 'ù&#55
amigos. Incluindo o cunhado de Malehice ...
R5,5&ï'5)-5hk5()-65&á5*,5-5(-5)5*&(&.)5"á5)/.,)-5').#0)-5
de celebração. Um punhado de generais macondes uniram-se ao antigo
ministro da mola que fez a transição para a economia de mercado para
tentarem assegurar que venha a pingar gás ou petróleo para os seus bolsos.
E também para as respectivas contas bancárias ...
R55"á5!(,#-5)(.(.-65"á5)/.,)-5'#&#.,-5'()-5)(.(.-5)'5)5-
-(0)&0#'(.)5 )5 *ù-85 /'5 (5 5 ,#.#-')5 .,)465 )-5 ")'(-5 )5
^-").%/&#_5 &á5 0ã)5 4()5 0&,5 5 'é5 -5 -/-5

-(.#)5 )-5 *,)$.)-5 $/(.)5 à5 '#),5 ù5 5 á!/-5 *,) /(-5 5 ,!#ã)85
Eles bem sabem das luvas dos alugueres de quartéis e outras propriedades
castrenses mais para o sul ...
R5/'5-5*)5,5*),5)(.(.5ï5)5.,)0),5)-5*.,ċ-85*)#-55--)-
biado nos “Continuadores” pela dedicatória ao cachimbo, o nosso homem
-(.7-5,#0#(#)5)'55'5*/&##.5,/(#ã)5)5!,(5&ù,5)'5
)5*+/()5&ù,5)'5()'55#5,/--85á5'&-5+/50ð'5*),5'5888
R5/'5(5'&5'-')65*,5&ï'55'#(#-.,55/éã)5&'ã5/-
sada de plágio, é um secretário de estado tuga com um CV altamente
)(.,)0,-)85,5&ï'55.,5-.)5&#!)5)5()5+/5ï5)5'#),5/,)5
ŀ((#,)5)5*ù-655-!/()5)5-/565)'é)/55-/5,,#,5(5/#.),5
Ernst & Young com a idade provecta de 16 anos. Se se começa a levantar
por cá o véu ...
R5
5#!,$55.(5'#&!,-5.'ï'5(ã)5-.á5'/#.)5'85&)5'()-5()5
)/.,)5&)5)5
.&â(.#)85'5ï/65*)#-5)5-â(&)5-5'),.-5
5ŀ'5)5()65-/-*(/5-5.#0#-5)5!,/*)5*),5-#-5'--85
ŀ(&5
sempre há alguma coisa a perder ...
Em voz baixa
R5'55*,)*ĉ-#.)65)5")''5+/5ï5/-)55(.,&#-')552--)55
protagonismo na pública das xitimelas, é a própria cara da capa da revista
*!5*&5-/5'*,-85/'5*)65*)5'-')588855
ção da obra, Caniçado-Chicualacua, !/()5/'5 )(.5&#!55*1365
*&5*1385
5ŀ-&#4éã)5ï5&055 engenheira transportada para Joan-
!/()5
(-.â#)5 /ù-65 " 5 5 produtos não registados e funciona B )- ),.)5 5 &/'ù(#)C5 &.'(.5 cabo pela empresa portuguesa Con- nesburgo, continua a inspirar cuida-
Repartição, Registo e Controlo de no quintal da casa do proprietário da .ĉ2#)85 -5 (!("#,)-5  .)-5 sulgal, que convidou a moçambicana dos.

!,)+/ù'#)-5 ()5
#(#-.ï,#)5 5 '*,-85
,'4(5 *,)/.)-5 &.- )(-.#./ù'5 5 +/#*5 5 ŀ-&#4- Secon para fazer parte do projecto. (Redacção)

!,#/&./,65#(-*.),-5-.5#(-.#- mente tóxicos que colocam a perigo
tuição governamental visitaram, se- a saúde pública”, frisou a fonte. LISTA DE PESTICIDAS INSPECCIONADOS NA EMPRESA VECTOR, LDA - MATOLA
mana passada, os escritórios da em- 5 -+/ð(#5 -.-5 )(-..éċ-65 MARCA DO PRODUTO SUBSTANCIA ACTIVA REGISTO/AGENTE
presa na Rua Mário Esteves Coluna, /'5 )(.5)5

5ŀ(é)/5)5 Novan Profi Diclovos 124/kg Não registado
número 225, na cidade da Matola, 


5 +/5 -,á5 ,.)5 /'5 *,)- Maxotorce Ant Hydramethylon 10g/kg Não registado
e constaram que a Vector funciona cesso crime contra o proprietário da Killem Super Methomyl 10 g/kg + Tricosene 0,5 Não registado
em condições não recomendáveis, na empresa por perigar a saúde pública. g/kg
casa do seu proprietário, um cidadão 5

5 /5 #!/&'(.5 ),(-5 Curagel Zinc Phosphid 40 g/kg Não registado
de origem sul-africana. *,5+/5(.,)55jn5"),-5B*,4)5 Degesch Rat Bait blocks Brodifacoun 0,05 g/kg Não registado
Registada em Moçambique em terminou nesta quarta-feira) a em- Alumionium Phosphid 56% Aluminium Phosphid 560 g/kg Registado – Afrigrow
2009, a Vector Limitada é detida por *,-50)&05.))-5)-5*,)/.)-5+/ù- FT (No Reg. : DSV 1071)
Gert Erasmus Hattingh Delport, micos que tem a sua guarda. Maxoforce Gel Hydramethylon 21,5 g/kg Não registado
um cidadão de origem sul africana. ),7-5+/5"á5.,ð-5-'(-5-#-5 Dimilin SC 48 Diflobenron 480 g/kg Não registado
Savana 08-02-2013
Sapo.MZ 4 Anos de referência
Por Edson Bernardo
Foto Urgel Matula
O
portal Sapo.MZ com-
pleta esté ano o seu
quarto aniversário
de promoção da mo-
çambicanidade pelo
mundo fora. Em comemoração
do seu sucesso no país, com mais
de três milhões de visualizações
e mais de 200 mil visitantes
mensais, o Sapo.MZ prepara-se
para celebrar em grande com os
moçambicanos, oferecendo uma
gama de entretenimento já mais
visto no país.
A celebrar no próximo dia 20
de Fevereiro, o seu quarto ani-
versário inicia com a celebração
da grande festa do carnaval, a
famosa festa de origem brasilei-
ra, que junta a música, dança e
muita festa. À semelhança
do ano passado, a segunda edi-
ção do Carnaval Sapo vai juntar
neste Sábado milhares de pessoas
num desfile inédito, trazendo de
volta o denominado “Sapódro-
mo”, um camião alegórico, que se
irá acompanhar por bailarinas, e
a com a participação de músicos
moçambicanos, que irão fazer
desta festa a cara de Moçambi-
que.
Numa conferência de imprensa
realizada na última quinta-feira,
Inês Condeço, directora geral da
Sapo internacional, disse que o
Sapo.MZ tornou-se uma refe-
rência incontornável na vida dos
moçambicanos e além fronteiras,
por isso o empenho da sua equipe
em querer fazer deste momento,
um marco na história do entre-
tenimento moçambicano. “Este
ano começamos mais cedo com
EVENTOS
a promoção do nosso aniversário,
o que reflete o nosso maior com-
promisso para com Moçambique.
O Carnaval Sapo foi um suces-
so o ano passado, na primeira
vez que o realizamos, e para dar
continuidade a este movimento
festivo, incentivando esta tradi-
ção, que se tornou num atractivo
mundial, queremos promover um
carnaval à moda moçambicana,
desta vez com mais música, mais
dança e entretenimento.
Mais música e entretenimento,
estarão a cargo dos moçambica-
nos, Dama do Bling, Liloca, que
pela primeira vez se juntam ao
Carnaval Sapo, e o brasileiro Ro-
bson, que pela segunda vez subirá
ao palco para sambar e “marra-
bentar”, alguns dos passos que já
aprendeu nos seus anos de convi-
vência com Moçambique.
Os concertos ao vivo vão acom-
panhar o camião alegórico desde
o Circuito do Repinga, termi-
nando na Av.Marginal, junto ao
Centro de Conferências Joaquim
Chissano.
Com o seu sucesso, o Sapo.MZ
tem assumido um papel funda-
mental na dinamização da ima-
gem de Moçambique no mundo
digital, através do desenvolvi-
mento de diversos sites, canais e
aplicações.
Para o recente ano, o portal vai
se apresentar com uma nova cara,
lançando um homepage mais
irreverente e criativo, seguindo
uma lógica multiplataforma (PC,
Telemóveis, Smartphones e ta-
blets).
De acordo com a directora geral
1
da Sapo Internacional, este ano
a Sapo.MZ estará revolucionária
em conteúdos de imagem, mú-
sica e vídeo, optimizados para
os smartphones e o novo canal
Txiling, virado pa camada mais
jovem. “Teremos ainda muitas
novidades para apresentar. Lan-
çaremos igualmente o Sapo Es-
tudante, um canal virado para os
pré universitários e universitários,
com foco no Mercado de traba-
lho e aconselhamento de profis-
sões a seguir.
O Portal Sapo, presente em cinco
países da comunidade lusófona
– Portugal, Cabo Verde, Ango-
la, Moçambique Timor-Leste, e
Brasil, faz parte do Grupo Por-
tugal Telecom, que tem no conti-
nente Africano um dos principais
focos de investimento a par com
o Brasil.
2 Savana 08-02-2013
CDM disbonibiliza 4 milhões de meticais ao INGC
Por Edson Bernardo
A
Cervejas de Moçambi-
que, SA, sensibilizada
com a actual realidade
do país após as enxura-
das, está ciente das pri-
vações provocadas pelas mesmas
no seio das populações mais vul-
neráveis, sendo que recentemente,
dentro das suas condições, decidiu
responder às necessidades mais
básicas das comunidades. Entre
os danos e prejuízos imensuráveis
provocados a CDM decidiu con-
tribuir com produtos diversos, que
irão suprir as necessidades destas
populações no que diz respeito a
saúde, higiene e bens alimentares.
Este compromisso traçado pela
CDM está avaliado em 4 milhões
de meticais, contribuição que visa
ser um acréscimo a iniciativas
idênticas.
José Moreira, administrador da
Cervejas de Moçambique, SA, na
ocasião da entrega dos donativos
Crónicas de Maputo em forma de tela
Por Nélia Jamaldine
A A
artista plástica de na-
cionalidade Sérvia Bra-
nislava Stojanovic mais
conhecida por Brena,
realizou uma exposição
de pintura de sua autoria nesta
quarta-feira intitulada Crónicas de
Maputo.
Crónicas de Maputo é a sua se-
gunda exposição só que desta vez
individual em Moçambique e re-
trata a sua paixão por estas terras
vermelhas e de verde florescendo as
acácias, por gente jovem revestida
de cores quentes em torno da ale-
gria das cores e capulana que na sua
óptica identificam a cultura do país.
Stojanovic traz em suas telas, a inti-
midade com a paisagem encontra-
da em inúmeros passeios aos cantos
de Maputo onde descortina luga-
res, pormenores de gentes e tonali-
dades cromáticas que talvez possam
ter passado despercebido em enú-
meras caminhadas diárias das via-
gens incansáveis a esta cidade que
sobre ela se dorme e se acorda com
sonhos e olhares diferentes.
“Vivo há quatro anos em Moçam-
bique e sinto-me em casa pois, fui
acolhida pelo povo e logo me iden-
tifiquei com a cultura e hoje trago
exposto nas telas o meu sentimento
em relação a cultura e vivência mo-
çambicana” disse Brana.
Nascida em 1983, Branislava Sto-
janovic formou-se em 2002 em
Design Industrial e Arquitectura
de Interiores pela Escola de Design
de Belgrado e em Cenografia pela
Academia de Bela Artes de Roma
desde 2007. Desenvolveu desde en-
Savana Eventos
Redacção
Edson Bernardo
Maquetização
Hermenegildo Timana
Comercial
Benvinda Tamele
Telefone
(+258) 823051790
Director Adjunto do INGC, Casimiro Abreu, recebendo a doação da administração da CDM, Josése Moreira
tão várias actividades profissionais,
exposições individuais e colectivas
em várias partes do mundo.
De referir que a exposição de pin-
Branislava Stojanovic no meio e algumas simpatizantes das suas obras
EVENTOS
ACJM capacita 40 DJs
Por Redacção
tura está patente na Mediateca do Associação Coalizão da
Banco Comercial de Investimentos Juventude Moçambi-
( BCI) e decorrerá até o dia 16 do cana (ACJM) formou
Corrente mês. recentemente 40 Disc
Jockeres (DJ´s) das mais
conhecidas casas nocturnas de Ma-
puto intitulada “Zero Infecções nas
Discotecas”.
Trata-se duma iniciativa que con-
tou com a colaboração da Asso-
ciação Moçambicana dos Dj´s,
para, ao nível dos seus “líderes” das
noites, no caso Dj´s, ajudarem a
reduzir e controlar os jovens numa
situação de riscos de vária ordem,
designadamente infecção, gravidez
indesejada, e DTS. Esta teve como
base as actuais abordagens que são
baseadas na resolução de proble-
mas, permitindo desta forma que
os adolescentes e jovens descubram
comportamentos e estratégias bem
sucedidas, para obterem conheci-
mentos, habilidades e atitudes para
melhor administrarem a sua sexu-
alidade.
“A estratégia está a surtir efeitos
positivos, visto que os preservativos
que são disponibilizados nas casas
de banho das discotecas, tem sido
levados pelos utentes daquelas ca-
sas nocturnas, facto que nos leva a
afirmar que temos estado a trans-
ao Intituto Nacional de Gestão de
Calamidades, INGC, afirmou que
a CDM, como empresa cidadã e
no quadro das acções de Respon-
sabilidade Social, para além de
prestar a sua solidariedade, “ ma-
nifesta a sua consternação com a
situação das famílias, para juntos
encontrar alternativas para o alí-
vio provocado por esta catástrofe
natural”. Por seu turno, Casimiro
Abreu, director geral adjunto do
INGC, disse: “para esta contri-
buição, a CDM preocupou-se em
conhecer, inicialmente, as reais ne-
cessidades do INGC para o alívio
das vítimas das cheias, daí que, em
resposta ao nosso plano de contin-
gência, nos faz agora a entrega de
vários produtos, tais como redes
mosquiteiras, enxadas, pás, anci-
nhos, purificadores de água Cer-
teza, mantas, lonas plásticas, sais
de reidratação, bem como água
em garrafa e em lata, açúcar, entre
outros”.
formar a vida de muitos jovens”
disse o presidente da ACJM José
A. Macamo.
Através desta iniciativa, a organi-
zação identificou elementos deter-
minantes para que os números de
seroprevalência no seio de adoles-
centes e jovens tenham tendência a
decrescer.
Por seu turno o Secretário-geral
da Associação Moçambicana dos
DJ´s, DJ Celsinho, disse: “a causa
abraçada é muito nobre, primei-
ro porque constitui um momento
de aprendizagem para nós como
animadores das noites porque des-
ta forma iremos contribuir para o
combate e redução dos índices de
infecção pelo HIV-SIDA no seio
da camada jovem que é tida como
sendo a mais vulnerável”.
Refira-se que numa parceria entre
a ACJM, AMODEFA e núcleo de
Mavalane Contra Drogas e Sida
num passado recente estas levaram
a cabo o primeiro concurso nacio-
nal de DJ´s Feminino, designado
“Ladies Mix Biz”.
A Associação Coalizão da Juventu-
de Moçambicana tem em vista este
ano, ampliar o seu raio de actuação,
prevendo abranger as províncias de
Sofala e Cabo Delgado.
José Macamo
Savana 08-02-2013 3
EVENTOS

Rio Tinto apoia vítimas das cheias

Por Edson Bernardo

A
mineradora Rio Tinto
Moçambique procedeu
na manha da última
terça feira à entrega de
mais de dois milhões de
meticais, destinados a responder a
demanda apresentada pela INGC,
referentes ao apoio das vitimas das
cheias no país. O acto de responsa-
bilidade social teve lugar no Cen-
tro Operativo de Emergencia, CE-
NOE, onde a Rio Tinto procedeu a
entrega dos donativos em bens de
primeira necessidade e lonas.
Segundo o Representante da Rio
Tinto em Moçambique, Eric Fin-
layson, “ Este é um momento ex-
tremamente difícil para milhares de
famílias em Moçambique. Quere-
mos exprimir a nossa solidariedade
para com as pessoas afectadas, con-
tribuindo para o esforço de ajuda
que está sendo levado a cabo. Os
nossos pensamentos vão para as fa-
mílias que tentam recuperar deste
terrível acontecimento.”
O grupo internacional líder no sec-
tor de mineração, apesar de estar no
país para desenvolver negócios que
envolve a descoberta, mineração e
processamento de recursos mine-
rais, refere ter participação activa
no sector de responsabilidade social
nos países em que está baseada.
A exemplo disso tem contribuido
em diferentes sectores sociais, com
maior enfoque para sector econo-
mico do país, com desenvolvimen-
to d eprojectos cumunitários e de
educação.
Com a sua presença e nome, a Rio
Tinto iniciou uma mobilização in-
terna junto aos seus trabalhadores
no intuito de angariar mais apoio
para as vítimas das cheias, quer seja
em géneros alimentícios, vestuá-
rio, produtos de higiene ou outros,
ainda no âmbito das necessidades
apresentadas pelo INGC. José Vale, Director Geral de Recursos Humanos da Vale, aquando da entrega dos donativos a INGC

Sónia Sultuane interpreta mCel e músicos angariam fundos

obras de Gaudí Por Redacção

A
Por Redacção rede de telefonia móvel Promovida por artistas com vínculo ças, daí nos associarmos a esta cau-
Foto Naita Ussene mcel, lançou na última contratual com a maior operadora sa nobre”, segundo frisou.

O
Centro Cultural da Em-
baixada de Portugal em
Maputo, inicia as suas
atividades culturais do
ano de 2013 com a inau-
guração da exposição de artes plás-
ticas de Sónia Sultuane. A exposi-
ção intitulada Códigos de Gaudí,
inaugurada nesta quinta-feira, foi
inspirada nas obras de Antonio
Gaudí, um arquitecto catalão, que
se tornou um símbolo de Barcelo-
na, Espanha, pelas suas claras influ-
ências da arquitectura gótica.
A segunda exposição individual
da artista plástica, Sónia Sultuane,
apresenta um conjunto de instala-
ções de pintura, dominados pela vi-
são de Gaudí, na sua interpretação
da arquitectura moderna.
A artista, que viveu de perto as
obras do arquitecto, afirma que
experimentou-as em Barcelona,
num momento de particular afeti-
vidade, apresentando-nos agora a
sua interpretação das sensações que
ali viveu.
Esta visão pessoal e afetiva dos
conceitos imortais e universais
de Gaudí transborda no “festivo,
intenso e diversificado colorido,
no carácter ornamental de cada
quadro, nas suas formas curvas,
na luminosidade das cores inven-
tadas e reinventadas, na dimensão
simbólica e poética dos elementos
convocados e sobretudo no arroja-
do investimento nas asas de ima-
ginação que nos levam muito além
daquilo que é a nossa existência
imediata, prosaica e contingente.
Enfim, tal como a vida, a arte, por
mais abstracta que ela seja, é um
círculo perfeito. Neste caso, de um
lirismo incontornável, tais são as
dimensões de interioridade, e não
só, que estes Códigos de Gaudí nos
permitem entrever.” , por Francisco
Noa, na sua apresentação “Poemas
pintados”, patente no catálogo da
exposição.
Ainda no início das suas activida-
des, o Centro Cultural da Embai-
xada de Portugal, organiza ainda
diversas actividades paralelas a esta
exposição, com destaque às conver-
sas com nomes como o de Francis-
co Noa, com o tema “A Dimensão
Estética na Era do Vazio”, no dia
13 de fevereiro às 18h00, Lionel
Papane, sobre “Portais para a Me-
ditação”, e Denise Sultane, sobre
“O Bem-estar Através da Cor/A
Cor e as Sensações”, ambas no dia
20 de fevereiro às 18h00
.
terça feira, em confe-
rência de imprensa, a
iniciativa “Música é
vida”. A mesma com sentido a cha-
mar atenção e sensibilizar a socie-
dade civil para contribuirem com
o seu pouco para minimizar as ne-
cessidades das vitimas das recentes
enxuradas no país, culminou com a
realização de um espectáculo musi-
cal, envolvendo grandes figuras da
praça, que aceitaram abraçar a ini-
ciativa pelos Moçambicanos.
É um momento sensivel e de sen-
sibilização, em que os músicos
Stewart Sukuma, Mingas, Gpro,
subiram ao palco não só para canta-
rem os seus hinos, mas para contri-
buir com suas canções e letras sobre
o sentido de dar a mao.
As receitas deste grandioso espec-
taculo serão revertidas na íntegra
a favor das vítimas das inundações.
de telefonia móvel do País, a ini-
ciativa visa fazer um apelo à socie-
dade civil para a tomada de acções
imediatas, no sentido de se evitar a
eclosão de uma catástrofe humana,
nas regiões do país afectadas pelas
cheias.
No mesmo evento, as pessoas fize-
ram doações que a serem canaliza-
das aos necessitados nos centros de
acomodação. Intervindo na confe-
rência de imprensa do lançamento
da iniciativa, o administrador co-
mercial da mcel, Cláudio Chiche,
referiu que “as enxurradas estão e
ainda continuam a criar sérios pro-
blemas às populações nas regiões
afectadas, pelo que a mcel não po-
dia ficar indiferente a um momen-
to tão delicado como este, em que,
para além de as pessoas perderem
os seus bens, cria-se um ambiente
propício para a ocorrência de doen-
“Estamos a falar de cerca de 150
mil pessoas desalojadas, razão pela
qual estamos a fazer este espectá-
culo”, realçou o músico Stewart
Sukuma, continuando por dizer
que “Aceitamos qualquer tipo de
apoio, seja material ou monetário,
pois pretendemos, particularmente
satisfazer as grandes preocupações
dos afectados, nomeadamente em
redes mosquiteiras, tanques de
água, cobertores, entre outros ma-
teriais que possam contribuir para a
melhoria do saneamento do meio”,
indicou.
Para Sukuma, que recentemente
visitou alguns locais de reassenta-
mento na província de Gaza, “a voz
dos artistas tem uma força inques-
tionável, por isso mesmo achamos
que podemos fazer alguma coisa,
se tivermos o apoio necessário dos
nossos parceiros para levarmos a
cabo a nossa tarefa”.

Sónia Sultuane , reconhece talento de Antoni Gaundí

4 Savana 08-02-2013
Kulima apela boas práticas Historia do futuro urbano
de prevenção do Hiv-Sida exposta no ICMA
Por Zaqueu Massala
K O
ulima, organismo para
o desenvolvimento só-
cio económico integra-
do, realizou na última
semana quinta-feira um
workshop nacional com jornalistas
de diferentes órgãos de Maputo.
O encontro que juntou cerca de 20
participantes teve como principal
objectivo persuadir a sociedade em
geral sobre a promoção de Mudan-
ças Sociais e de comportamentos
na área de Hiv-Sida.
De acordo com o coordenador do
projecto kulima, Flávio Sarava,
um dos principais objectivos deste
encontro é transmitir a mensagem
sobre os riscos do Hvi-Sida aos ór-
gãos de informação para que estes
também nos ajudem a difundir a
mesma mensagem através dos seus
meios para os outros locais onde
não conseguimos chegar.
Explicou também que o problema
do vírus do Hiv-Sida não é um as-
sunto novo, mas é importante que
cada dia ou cada ano que passa as
pessoas tomem consciência e sai-
bam prevenir porque o SIDA existe
e é uma realidade, daí que as pesso-
as devem mudar o seu comporta-
mento sobretudo nas suas relações
sexuais.
“É do conhecimento de todos que
o problema do Hiv-Sida, não é algo
novo, há muita gente que sabe que
o Sida existe, mas mesmo assim
YPG & The Pioneers no seu
primeiro concerto do ano
Por Edson Bernardo
N
o seu primeiro concerto
do ano, a banda moçam-
bicana YPG & The Pio-
neers vai actuar na noite
desta sexta feira, no Gil
Vicente, iniciando deste modo a sua
temporada de 2013.
Já bem conhecidos na praça, a ban-
da, oferece um leque de sons e rit-
mos atractivos para um grupo de
apreciadores de música alternativa.
Buscando um pouco daquilo que
são os ritmos africanos misturados
com outros ritmos do mundo, a
banda, composta por nove elemen-
tos oferece desde a música reggae
hip-hop e ragga/dancehall.l
YPG & The Pioneers vestem a musica que cantam
durante relações sexuais não se pre-
vine. A nossa obrigação é sempre
persuadir essas pessoas a se preve-
nirem ou seja a usar o preservativo
durante as suas relações sexuais, se-
gundo a pesquisa feita em 2009 um
pouco por todo o país indica que
11,5% de pessoas são infectadas”.
Segundo a fonte, Kulima desem-
penha as suas actividades sobre o
mecanismo de prevenção do Hiv-
-Sida nas seguintes províncias,
Zambézia, Nampula, Gaza, cidade
de Maputo e Maputo província,
onde trabalha com os líderes comu-
nitários, associações, entre outros.
Para tornar possível as suas acti-
vidades, o projecto de Kuilima é
financiado pelo Fundo Global,
em parceria com o Fundo para o
Desenvolvimento da Comunidade,
FDC, num valor estimado em cer-
ca de 2 mil dólares por ano.
Adélia Pintos, do jornal Magazine
Independente, disse que o encontro
serviu para despertar alguns pontos
de índice do Hiv-Sida no nosso
país, “ foi um encontro muito im-
portante, aprendi muita coisa que
eu não sabia e vou transmitir as ou-
tras pessoas sobre as mudanças do
comportamento, é preciso projectar
o futuro, há muitos jovens que não
se querem prevenir esquecem que
isso pode pôr em causa muitas vi-
das sobretudo dos seus filhos” fri-
sou.
Prontos para oferecer ao público
uma noite de entretenimento e de
muita animação, a banda propoe se
a trazer novos temas, e alguns te-
mas já conhecidos pelo público fã.
Parar fazer parte desta festa, a ban-
da tem como convidados o músico
Abba Meskel , moçambicano ra-
dicado em Durban, que também
compõe temas no estilo reggae e
dancehall. De Moçambique, foi
convidado o músico e produtor
moçambicano Luarbeatz, autor de
uma das mais escutadas mixtapes
de 2012 intitulada Boca Livre.
Para animar a noite estarao presen-
tes tambem os DJS midnightma-
chiine.
EVENTOS
publicidade
Por Nélia Jamaldine
Instituto Cultura Mo-
çambique Alemanha
(ICMA), inaugura nes-
ta sexta-feira no Centro
Cultural Brasil Moçam-
bique (CCBM), uma exposição
intitulada “Post-Oil City” Cidade
pôs - petróleo com o subtítulo – A
Historia do futuro urbano.
Trata-se de uma colectânea de pro-
jectos desenvolvidos na Ásia, Áfri-
ca e América que aborda questões
actuais de como modificar a cida-
de na transição de energias fosseis
para energias renováveis e quais os
efeitos que as energias renováveis
trazem para os sistemas urbanos na
Exposição projecta um futuro renovável
sustentabilidade e nas políticas de
modalidade. urbanismo num novo laboratório ais a 9 projectos de referência, que
“ Torna-se claro que as actuais vi- experimental para se atingir, não só, mostram o planeamento actual e
sões de desenvolvimento são base- mudanças ecológicas como tam- passado nas áreas de sustentabili-
adas nas utopias urbanas da cidade bém sociais. dade, transporte urbano e sistemas
moderna. Muitas das soluções de- Cidade pôs - petróleo retrata tanto urbanos.
o futuro quanto o passado se inter- “Post-Oil City” tendo sido já apre-
senvolvidas para problemas urbanos sentada na Alemanha, na Áustria
em meados do século XX, como ligando com a história do futuro
e na Suíça, desde 2011 passa por
tráfego ou lixo, são, hoje, retomadas, urbano em que se planeja o futuro
diversos países em todo o mundo,
desenvolvidas e convertidas em rea- numa visão do passado. fazendo parte do programa de ex-
lidade” disse o arquitecto responsá- Para ilustrar este fenómeno o Ins- posições internacionais do Institut
vel pela exposição Thilo Fuchs. tituto para Relações Exteriores em für Auslandsbeziehungen, ifa.
Fuchs acrescentou ainda que a mu- cooperação com Revista de Arqui- A exposição estará patente no
dança climática, o anunciado fim tectura e Urbanismo de curadoria CCBM até ao dia 28 de Fevereiro
dos combustíveis fósseis e a crise de Nikolaus Kuhnert e Anh-Linh podendo os interessados marcar vi-
do sistema financeiro tornam o Ngo comparou 11 projectos actu- sitas guiadas.
O melhor dia dos namorados
é no Waterfront
O Restaurante Waterfront em parceria com a Rá-
dio SAVANA 100.2 FM vão sortear no próximo
dia 13 de Fevereiro, jantares para dois casais por
ocasião do dia de São Valentim.
Acompanhe as emissões diárias da Savana FM e
saberá como participar do sorteio.