de viNhos
MANUAL TÉCNICO
Vinho
MANUAL TÉCNICO
de viNhos
Autores:
Agradecimentos: À ViniPortugal, por todo o apoio e suporte na revisão técnica deste manual. À
Quinta da Plansel e ao sítio www.vinetowinecircle.com. Aos alunos e funcionários das Escolas de
Hotelaria e Turismo que colaboraram direta ou indiretamente na logística e elaboração de algumas
fotografias.
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PREFÁCIO
O princípio de todas as coisas esteve na água, pureza límpida que se soltava das rochas
e emergia da terra, rolando como uma bênção por toda a Natureza que cresceu vice-
jando em cânticos, harmonias e sobressaltos.
Em lentos e dolorosos passos desarticulados, inseguros e sofridos, a vida animal rom-
peu a profunda gruta milenar e clareou com a afirmação do pensamento do Homem.
Afirmou-se em frágeis passos ao longo dos séculos ao encontro da felicidade possível,
vivendo momentos diferenciados em civilizações distantes, geográfica e culturalmente,
entre si.
E, nessa procura incessante em que o ser humano se empenha continuamente pela
transformação de sonhos e utopias em realidade foi, pela força da sua mão e demais
estrutura física e de todas as engenharias mentais, capaz de criar algumas pequenas
felicidades que fazem o todo da vida.
Assim se chegou ao vinho e se começou a desenvolver a sua civilização definindo-se
territorialmente, em especial por terras e fogo solar mediterrânico, e hoje estende-se e
espalha-se pelas Américas do Norte e do Sul, África e Austrália.
A ciência e a arte de beber um copo do nosso bom vinho, impõem o incontornável
esforço de articular teias de sensibilidade e de mentalidade, para que o conhecimento
e o fruir do néctar sejam uma das marcas da nossa forma de ser e de estar.
Deixemos de lado tudo quanto nos chega em sabores bíblicos, egípcios, persas, chi-
neses, gregos e romanos, cujas técnicas perduraram por séculos e alimentaram cultos,
lendas e mitologias. E, procuremos vindimas e vinhedos, com os seus cachos cintilantes
em jarros e copos de vinho na história da pintura, na escultura e nas chamadas artes
decorativas, tema de referência constante na arte europeia.
Mas, em boa verdade, que sabemos nós desse “sangue vivo em flor”, que nos conforta
e deixa os “lábios a sorrir”?
Que sabemos nós das exigências dos caminhos e saberes da sua produção, antes que
chegue ao nosso palatino?
Que sabemos nós da videira, para além dos braços retorcidos a capricho, como que em
sofrimento perpétuo?
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Quanto aos bagos. Ah! Esses sim, que na fala popular, tal como outros bagos, corres-
pondem a valor material. Mas, afinal, o que sabemos sobre eles?
E sobre a fermentação do mosto?
E, depois, que importância têm as videiras e as suas inumeráveis castas, que se adaptam
ao nosso solo e cujos bagos intumescem com sumo latejando ao sol se não forem
atempada e convenientemente podadas?
O que é, e como se processa a vinificação?
E quais os principais constituintes do vinho?
E depois, como se conserva? E como envelhece? Que doenças o afetam?
E pergunta-se, que é isso da doença da garrafa?
Como colocar as garrafas do néctar nos estabelecimentos hoteleiros?
Francamente, que pensa o leitor de tudo isto?
É bem verdade que, mais do que a técnica hoje aplicada para a criação de vinhos de
qualidade, é indispensável o saber do enólogo.
Para nos arrumar as ideias, guiar nos conhecimentos e encaminhar nesse longo cami-
nho de aprendizagem, este Manual ajudará a conhecer e a tratar o vinho com Saber
e Paixão.
Ceferino Carrera
Escanção
Profissional reconhecido, e Escanção exemplar, iniciou a sua atividade profissional em 1955. Passou
depois por vários hotéis e restaurantes de referência, e já como Escanção-mor inaugurou diversos
hotéis em Portugal e nos EUA.
Integrou júris de diversos concursos internacionais de vinhos, foi consultor de empresas e formou
profissionais em diversos países na Europa, na Ásia e na América.
Em Portugal, formou Escanções nas Escolas de Hotelaria e Turismo durante mais de três décadas.
Melhor Escanção Nacional em 1986, é membro Honorário da Associação de Escanções de Portugal e
autor de diversos livros dedicados ao vinho.
ÍNDICE
7
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01
A vinha e o vinho
no Mundo
A indústria mundial de vinho, reparte por dois grandes grupos os países produtores de vinho.
Os produtores do Novo Mundo (EUA, Austrália, África do Sul e alguns países sul-americanos)
e os produtores do Velho Mundo (Itália, França, Espanha, Alemanha e Portugal, entre outros
países europeus).
Alguns destes países possuem laços históricos e culturais profundos com o vinho que
afetam a perceção do produto aos olhos do consumidor. Enquanto os vinhos do Velho
Mundo continuam a ser populares devido à sua imagem de qualidade e sofisticação, a
crescente importância dos mercados emergentes, sem fortes tradições de consumo, levou
a que os vinhos do Novo Mundo tivessem oportunidade para desempenhar um importante
papel no abastecimento mundial e na expansão do consumo nos últimos anos.
Hoje, uma geração de enólogos altamente treinada, onde o número de mulheres tem
vindo também progressivamente a aumentar, goza de um importante estatuto dentro do
comércio mundial do vinho.
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| POTENCIAL DE PRODUÇÃO VITÍCOLA
Para melhor nos situarmos, olhemos primeiro para a superfície vitícola mundial (incluíndo
as superfícies ainda não em produção, sejam ou não vindimadas e independentemente
do destino final das uvas). Desde 2003 que a superfície global tem vindo a decrescer.
No entanto, fora da União Europeia, em 2013, a vinha atingiu 3.955 mha, ou seja, uma
progressão moderada de 5% (+19 mha) resultante de evoluções contrastantes.
7.800 •
1.000 ha
7.700 •
7.600 •
7.528 ha
7.500 •
7.400 •
7.300 • | | | | | | | | | | | | |
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
(Previsão)
Fonte: Organisation Internationale de la Vigne et du Vin (OIV)
10
Superfície vitícola e distribuição de castas em Portugal
A distribuição dos atuais 226.864 ha da área de vinha em Portugal e as variedades de
castas plantadas a nível nacional são as constantes dos seguintes quadros:
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| PRODUÇÃO DE VINHOS
No que concerne à produção de vinho, a Itália, a França, a Espanha, os EUA e a Argen-
tina, ocupam, por esta ordem, os primeiros lugares dos países produtores.
50 •
Itália (45 Mhl)
França (44 Mhl)
40 •
Espanha (40 Mhl)
30 •
0•
2008 2009 2010 2011 2012 2013 (OIV, Out. 2012)
(Previsão)
| CONSUMO
Relativamente ao consumo, a Europa é, de longe, o continente onde se consome mais
vinho, representando perto de 70% do consumo, surgindo em segundo lugar o conti-
nente americano com cerca de 20%.
35,0 •
30,0 •
25,0 •
20,0 •
15,0 •
10,0 •
5,0 •
0,0 •
França
EUA
Itália
Alemanha
China
Reino Unido
Fed. Russa
Argentina
Espanha
Austrália
Portugal
Canadá
África do Sul
Brasil
Fonte: OIV
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Fora da Europa, alguns países tendem a aumentar o consumo de vinhos, com destaque
para a América do Sul (Argentina, Chile e Brasil), assim como para a África do Sul e
os Estados Unidos da América. Relativamente à China, a OIV admite que o consumo
tenderá a diminuir face à rápida progressão verificada até hoje.
Relativamente ao consumo per capita nos últimos três anos, apresenta-se no quadro
seguinte a sua tendência de redução.
50,0 •
45,0 •
40,0 •
35,0 •
30,0 •
25,0 •
20,0 •
0,0 •
Luxemburgo
França
Portugal
Itália
Croácia
Eslovénia
Dinamarca
Áustria
Bélgica
Grécia
Argentina
Alemanha
Austrália
Holanda
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02
A Videira
e o seu fruto
15
TERROIR
50º
30º
Equador
30º
50º
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| fatores aMBIENTAIS
Clima – A quantidade de sol e a precipitação de chuva são fatores variáveis de ano
para ano e, como tal, influenciam diretamente a qualidade dos vinhos.
Latitude – A videira só tem um ciclo de vida natural entre os paralelos 30º e 50º.
Proximidade de massas de água – Todos os grandes vinhos possuem a sua zona de
produção junto de uma grande massa de água. As regiões próximas destas massas de
água possuem climas mais constantes e equilibrados.
Temperaturas – Este é o fator ambiental de maior importância, na medida que é
o que mais influencia o ciclo da videira (atempamento, abrunhamento, floração e
vingamento, e maturação) e consequentemente a qualidade dos vinhos.
Ventos – A existência de ventos dominantes vai determinar a orientação a dar às vi-
deiras para que elas não ofereçam resistência à sua passagem.
| fatores geológicos
Quanto maior for o declive das encostas, maior é o ângulo de incidência dos raios
solares com o solo. Encostas viradas a sul no hemisfério norte e a norte, no hemisfério
sul, recebem maior número de horas de sol favorecendo a maturação das uvas.
A altitude constitui um parâmetro de grande importância, uma vez que provoca alte-
rações nas condições térmicas. Logo, a maturação das uvas varia muito significativa-
mente, proporcionando também abrigo e proteção aos vales em relação aos ventos.
Exemplo de solo e subsolo
Noroeste margem do planalto encosta Sudeste
ha
s
ru
ín
as
solos pardos
e solos pardos calcários
lama
cascalho
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Em vitivicultura, há um fator muito importante sobre o qual não podemos (ou pouco
podemos) ter influência: o tempo. Geadas tardias na primavera, queda de granizo no
verão, chuvas excessivas e falta de sol são fatores suscetíveis de alterar a qualidade das
uvas e, portanto, de comprometer a qualidade final do vinho. Ou seja, como em quase
tudo na vida, também neste caso é preciso ter um pouco de sorte.
A videira cultiva-se nos mais diversos tipos de solo, mas a natureza do terreno influencia
a qualidade da uva e consequentemente a qualidade do vinho. São particularmente
importantes na constituição do solo os seguintes elementos: azoto, fósforo, potássio,
cálcio, magnésio e ferro. Estes nutrientes são absorvidos pelas raízes da videira – a seiva
bruta. No entanto, solos muito fortes induzem grande produção, diminuindo conse-
quentemente a qualidade das uvas.
A influência do solo
1m
boa fertilização
4m
Os componentes do solo influenciam alta fertilização
as características de qualidade dos vinhos. menos favorável à qualidade
| fatores económicos
Estes fatores são resultantes de opções como a mecanização da cultura, mas também
da disponibilidade e custo da mão de obra, das vias de acesso entre a vinha e a adega,
e transportes a utilizar, entre muitos outros. Fazer bom vinho é, na essência, ter boas
uvas… sãs!
A parte mais difícil do “fazer o vinho” é enquanto as uvas estão na videira. Este é o
período que vai da floração à colheita, esperando sempre o viticultor e o enólogo que
a natureza colabore com os seus desejos.
disposição da vinha
Existem diversas formas de dispor as vinhas e de orientar as videiras. Por isso, a densida-
de de plantação, o tipo de poda e a forma como a videira é conduzida (por exemplo em
latada ou em cordão), são fatores que podem influenciar o rendimento e a qualidade
da colheita e, por conseguinte, incidir sobre a qualidade final do vinho.
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encepamento
Embora se elaborem vinhos com outras espécies do género Vitis, é com os frutos da
videira (Vitis vinifera L.) que se realizam os vinhos de grande qualidade.
Aragonês
Baga
Cabernet Sauvignon
Cercial
Espadeiro
Jaen
Merlot
Rabo de Ovelha
Síria
Touriga Franca
Trajadura
Castelão
Touriga Nacional
Trincadeira
Alvarinho
Arinto
Bical
Chardonnay
Fernão Pires
Sauvignon Blanc
Tinta Barroca
Malvasia Fina
Negra Mole
Vitis munsoniana
Vitis rotundifolia
Vitis argentifolia
Vitis berlandieri
Vitis amurensis
Vitis popenoei
Vitis rupestris
Vitis cariboea
Vitis labrusca
Vitis riparia
etc
Sub-género Sub-género Euvites (60 espécies, mas apenas a Vitis vinifera é importante
Muscadiniae para a produção de vinho)
Esta trepadeira da família das Vitáceas, se deixada livre na natureza, cumpre obstina-
damente a missão inscrita no seu código genético. Atualmente utilizam-se algumas
técnicas na sua “domesticação”, como a poda, sabendo-se hoje que a planta só fruti-
fica equilibradamente e com qualidade se a sua vegetação for muito bem controlada.
folha gavinha
pâmpano /sarmento
cacho vara olhos
variável
aérea
talão
permanente
aérea
braço
cepa
tronco raíz
subterrânea
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a filoXera
A videira é uma planta perene lenhosa que só dá frutos três ou quatro anos depois de
ter sido plantada, podendo viver entre trinta a cinquenta anos. Apresenta ao longo do
ano as seguintes fases:
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
repouso vegetativo ciclo vegetativo
ciclo reprodutor
crescimento período sobre-
maturação
vegetativo herbáceo maturação
| A PODA
Após a vindima regulariza-se o crescimento vegetativo e reprodutivo da videira e mo-
difica-se a tendência da videira de se expandir. A poda permite suprimir varas supérfluas
ou doentes e regular a sucessão de colheitas. A videira produz assim folhas e frutos
de melhor qualidade.
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A poda realiza-se por vários motivos: na formação e condução da videira nova, na
frutificação da parte perene (poda de formação) e aquando o fim do atempamento
(poda de renovação).
O ciclo vegetativo
Choro Abrolhamento
Após a floração e o vingamento, o bago inicia o seu ciclo de vida, que se pode dividir
em 3 fases: período herbáceo, pintor e maturação. Este ciclo tem uma duração de
90 a 140 dias, dependendo da casta.
Para se entenderem as diferentes características que um vinho revela em função do
estado de maturação das uvas que lhe deram origem, torna-se interessante analisar
a evolução da composição do bago ao longo do seu ciclo e os respetivos fenómenos
adjacentes.
| período herbáceo
Esta fase inicia-se com a formação dos bagos, estendendo-se até à sua mudança de
cor. Caracterizados por apresentarem uma coloração verde e consistência dura, os ba-
gos demonstram um comportamento semelhante ao das folhas e ao dos sarmentos,
possuindo estomas e realizando fotossíntese. A sua composição apresenta-se pobre
em açúcares (máximo de dois gramas por quilograma de uva) devido ao seu consumo
na multiplicação celular. No entanto, a concentração em ácidos cresce ao longo de
todo este período, atingindo no final os seus valores máximos.
Regista-se uma ausência de compostos corantes e um domínio de compostos aromá-
ticos com aromas herbáceos.
21
| pINTOR
Esta é uma fase de profundas modificações na estrutura e na composição do bago.
Assiste-se à perda do seu aspeto herbáceo e à aquisição de uma consistência elástica.
Exteriormente, o bago cobre-se de pruína – uma espécie de cera, com aparência de
pó muito fino.
Do ponto de vista fisiológico, o aumento da concentração de ácido abscísico conduz
a uma diminuição da clorofila, os estomas fecham-se e a fotossíntese cessa. Ocorre
também um abrandamento no crescimento do bago, dado que a divisão celular pára
e o seu tamanho passa a ser consequência do aumento do tamanho das células,
que se deve à alteração da dimensão dos seus vacúolos, organelos celulares onde se
acumulam as reservas da célula.
A forma do cacho
Pintor
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| Maturação
Esta fase começa no pintor, prolongando-se até o bago estar maduro. O bago continua
a aumentar de volume devido ao facto do tamanho dos vacúolos continuar a aumen-
tar, atingindo a sua dimensão máxima. Verifica-se um maior crescimento da polpa em
relação à película.
A concentração de açúcar continua a aumentar e a dos ácidos a diminuir. O teor de
azoto na forma de catião amónio decresce, originando o aumento da concentração de
aminoácidos.
No que respeita aos compostos fenólicos, a concentração de taninos na película e na
grainha diminui, em particular na película, desaparecendo os taninos de adstringência
áspera. A concentração de antocianas (polifenóis) aumenta, enriquecendo a coloração
dos bagos.
A forma do bago
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| Vindima
Não obstante outros fatores, como as condições meteorológicas e a disponibilidade
humana e logística para vindimar e vinificar as uvas, a data da vindima é marcada com
base no estado de maturação das uvas e no estilo de vinho pretendido.
Atualmente, e ao contrário do que acontecia há alguns anos, em que o teor de açúcares
era o único fator de decisão, o estado de maturação das uvas é avaliado segundo
inúmeros outros fatores, como os seus teores em ácidos e compostos fenólicos, entre
outros. De uma forma geral, procura-se que as uvas apresentem:
• Uma concentração de açúcares que proporcione ao vinho um teor alcoólico sufici-
entemente elevado para que não se altere facilmente. Por outro lado, a concen-
tração em açúcares não se pode demonstrar demasiado alta para que o vinho não
apresente um excesso de álcool no final, manifestando-se desequilibrado organo-
leticamente. Num caso extremo, o excesso de açúcares nas uvas pode conduzir
a uma concentração de açúcares residuais no vinho demasiadamente alta, dado
que a atividade das leveduras cessa por morte destas devido ao excesso de álcool
formado (o limiar máximo é cerca de 17% de volume de álcool).
• Uma concentração de ácidos suficientemente elevada para que o vinho se man-
tenha estável biologicamente, evitando a ação de micro-organismos indesejados.
Como afirmava Pasteur, “o vinho deve ser considerado como a mais sã e higiénica
das bebidas”. Do ponto de vista químico, os ácidos desempenham um papel im-
portante, dado atuarem como antioxidantes, conferindo estabilidade aos vinhos.
Organoleticamente, os ácidos têm um papel importante na elegância e frescura
dos vinhos.
• Uma concentração de compostos fenólicos suficientemente elevada para que o
vinho apresente uma estrutura rica. Este facto é especialmente importante nos vi-
nhos elaborados para guarda, em que se espera que a presença de taninos lhes
imprima estabilidade química para poderem envelhecer de forma benéfica. São de
evitar taninos com adstringência áspera e carácter herbáceo.
• Uma concentração de substâncias aromáticas elevada (aromas e precursores de
aromas) para possibilitar a obtenção de vinhos concentrados e exuberantes. O es-
tado de maturação deve procurar obter uvas sem aromas herbáceos, típicos de
maturações incompletas.
No entanto, há algumas exceções a este ponto ideal de maturação, de que são
exemplo os vinhos de colheita tardia, elaborados com uvas em sobrematuração.
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Estrutura do bago de uva
O bago da uva é composto por três partes que possuem propriedades distintas: polpa, grainha e
pele ou película. Preso ao bago encontra-se o pedicelo, que serve de elemento de ligação à haste
de ramificação do cacho.
Polpa – Representa a maioria do bago, contendo essencialmente como elementos-chave: água,
açúcares, ácidos e substâncias azotadas. A uva é um fruto inigualavelmente rico em açúcares, pre-
cursores do álcool. Durante a maturação, a sua concentração atinge cerca de um terço do volume
do bago.
É também na polpa que se encontra a maioria dos ácidos, que a par com a concentração de açúca-
res (álcool), desempenham um importante papel na conservação e no equilíbrio sensorial do vinho.
É nesta parte do bago que se acumula a maioria das substâncias ricas em azoto (especialmente
aminoácidos) necessárias ao desenvolvimento das leveduras durante a fermentação alcoólica. A
concentração destas substâncias na polpa depende essencialmente da casta e do estado de matu-
ração das uvas.
pedicelo
polpa
Grainha, semente ou caroço – A forma, tamanho e número, difere nas diversas variedades de
uva. Encontram-se no centro do bago e são particularmente ricas em taninos e óleos, sendo ne-
cessário, na maioria das castas, ter o cuidado de não as macerar durante o processo de vinificação,
em consequência de ser frequente apresentarem, quando a película e a polpa já se encontram no
ponto ótimo de maturação enológica, uma concentração ainda elevada de taninos de adstringência
áspera e óleos de gosto desagradável (herbáceo).
Pele ou película – A inoculação dos mostos com leveduras selecionadas é uma prática recente. A
vinificação do vinho esteve, até há pouco tempo, dependente das propriedades da película da uva,
solar hospitaleiro das leveduras responsáveis pela fermentação alcoólica (pruína ou polvilho).
Também nos vinhos elaborados com recurso a maceração pelicular, a película imprime uma profun-
da marca no seu carácter, dado que alberga importantes componentes organoléticos. O exemplo
mais explícito é a cor. Com exceção das castas tintureiras, em que a polpa também é corada, é na
película que reside toda a matéria corante da uva.
É também na película que se situam grande parte das substâncias aromáticas, dependendo essen-
cialmente da casta, o tipo e a quantidade que se apresenta, bem como os taninos, que conferem
ao vinho a sensação de adstringência, estabilidade química e, consequentemente, capacidade de
envelhecimento.
25
26
03
Variedade
de castas
Cada casta possui determinadas características gustativas que lhe são próprias, o que não
significa que todos os vinhos provenientes da mesma casta tenham o mesmo sabor. De facto,
como já vimos, há outros elementos, como o clima, o rendimento, o solo ou a maturação,
que também desempenham um papel importante nas características finais do vinho.
Os vinhos podem ser produzidos a partir de uma única casta (os chamados vinhos varietais,
estremes ou monocasta) ou resultar da combinação harmoniosa de duas ou mais castas (os
designados vinhos de lote).
Nenhum outro país tem tão diversificada variedade de castas autóctones como Portugal, o
que se revela um verdadeiro tesouro. Esta enorme paleta de castas surge no nosso país pela
milenar antiguidade do cultivo da vinha, pelas inúmeras castas introduzidas pelos povos que
passaram pelo nosso território e pela diversificada evolução genética imprimida pelos terroirs
que nele existem.
Neste capítulo apresentamos algumas das mais importantes castas nacionais, tintas e brancas,
bem como algumas das principais castas estrangeiras.
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CASTAS BRANCAS nacionais
| ALVARINHO
A casta Alvarinho é uma das mais notáveis castas brancas portuguesas. Casta muito
antiga e de baixa produção, é sobretudo plantada na sub-região de Monção e Mel-
gaço (região dos Vinhos Verdes). Pode adquirir duas formas distintas: cacho pequeno,
pouco compacto e bagos pequenos e dourados ou cacho médio e de bagos maiores
que permanecem esverdeados quando maduros.
Esta casta é responsável pelo sucesso dos primeiros vinhos portugueses “monovarietais”
(uma só casta), pois em Portugal os “vinhos de lote” (mistura de várias castas) são mais
comuns. A casta Alvarinho produz vinhos bastante aromáticos (florais e frutados), que
atingem graduações alcoólicas elevadas conservando uma acidez muito equilibrada.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| ANTÃO VAZ
A casta Antão Vaz é umas das castas mais importantes da zona do Alentejo. Oriunda
da Vidigueira, no sul alentejano, é bastante resistente à seca e às doenças. Geralmen-
te tardia, com baixa acidez e pouca estrutura, apresenta cachos de tamanho médio
com bagos pequenos e uniformes de cor verde amarelada que no fim da maturação
adquirem a cor amarela. Os vinhos produzidos por esta casta são bastante aromáticos
(predominam os aromas a frutos tropicais) e têm, geralmente, cor citrina, sendo ótima
a sua combinação com a casta Arinto pela sua exuberância aromática.
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| ARINTO
A Arinto é uma casta muito versátil e por isso cultivada em quase todas as regiões
vinícolas. Na região dos Vinhos Verdes é conhecida por Pedernã. Contudo, é na região
de Bucelas que esta casta ganha notoriedade, sendo considerada a casta “rainha”
da região, onde os solos calcários dão origem a vinhos mais aveludados. O cacho da
casta Arinto é grande, compacto e composto por bagos pequenos ou médios de cor
amarelada. Esta casta é frequentemente utilizada na produção de vinhos de lote e
também de vinho espumante.
A sua maior característica é a acidez, equilibrando vinhos onde se faz notar essa au-
sência, como é o caso de alguns vinhos brancos do Alentejo. De cor citrina e aromas
marcadamente florais e frutados (quando jovens), possui um forte toque mineral.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| AVESSO
A casta Avesso é cultivada na região dos Vinhos Verdes. Contudo, a sua plantação
concentra-se próxima da região do Douro, mais especificamente nas sub-regiões de
Baião, Resende e Cinfães, onde encontra as condições favoráveis para se desenvolver,
uma vez que prefere solos mais secos e menos férteis do que aqueles que habitual-
mente existem em outras zonas da região dos Vinhos Verdes.
Os cachos da casta Avesso são de tamanho médio e os seus bagos são grandes e ver-
de-amarelados. Esta casta origina vinhos com aroma misto entre o frutado, o amendo-
ado e o floral, sendo o carácter frutado dominante, delicado, fino, subtil e complexo.
As qualidades desta casta são verdadeiramente apreciadas quando as condições de
maturação permitem elaborar vinhos com, pelo menos, 11% de álcool.
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| AZAL BRANCO
A casta Azal Branco é uma casta de qualidade cultivada na região dos Vinhos Verdes,
principalmente na zona de Penafiel e nas sub-regiões de Amarante e Basto. No início
do século XX, era a principal casta para a produção do vinho branco da região. Os
cachos da Azal Branco são de tamanho médio e constituídos por bagos grandes de
disposição compacta.
É uma casta muito produtiva, de maturação tardia e os seus bagos apresentam uma
cor esverdeada, mesmo no final de maturação. Os seus vinhos possuem aroma delica-
do com leves sugestões de frutos ácidos e vegetal fresco, tendo uma estrutura ácida
firme. Por isso, são raros os monovarietais de Azal Branco.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| BICAL
A casta Bical é típica da região das Beiras, nomeadamente das zonas da Bairrada e do
Dão – onde se denomina “Borrado das Moscas”, devido às pequenas manchas casta-
nhas que surgem nos bagos maduros. A par da casta Maria Gomes, é uma das mais
importantes castas da região da Bairrada.
Casta temporã, amadurece cedo e origina vinhos com boa graduação alcoólica e baixa
acidez. Por isso, necessita de castas que a complementem, como a Arinto, a Cercial
ou a Esgana Cão.
Os vinhos produzidos com esta casta são muito aromáticos, frescos e bem estrutu-
rados. Quando fermentada em madeira pode originar aromas de manteiga e frutos
secos. Na Bairrada, a casta Bical é muito utilizada na produção de espumante.
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| CERCIAL
A Cercial é uma casta branca autóctone cultivada em diversas regiões do país, com
especial destaque na região da Bairrada.
É uma casta precoce e de vigor médio, que prefere solos argiloso-calcários e não bar-
ros pesados, sendo-lhe favorável um clima medianamente seco.
Os vinhos produzidos com esta casta apresentam bom potencial para vinhos elemen-
tares e são geralmente de boa qualidade, caracterizando-se por um bom equilíbrio
entre o teor alcoólico e a acidez, originando vinhos frescos e muito aromáticos, de cor
intensa, tonalidade cítrica e com elevada capacidade de envelhecimento.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| ENCRUZADO
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| FERNÃO PIRES
A Fernão Pires é uma das castas brancas mais plantadas em Portugal. É mais cultivada
nas zonas do centro e sul, especialmente nas zonas da Bairrada (onde é conhecida por
Maria Gomes), Lisboa, Tejo e península de Setúbal.
A sua maturação muito precoce faz dela uma das primeiras castas portuguesas a ser
vindimada. Pelo facto de ser muito sensível às geadas, desenvolve-se melhor em solos
férteis de clima temperado ou quente.
É uma das castas mais aromáticas, originando aromas intensos a flores, bem como a
fruta cítrica. Com semelhanças às castas Alvarinho, Loureiro, Síria e Antão Vaz é gene-
ticamente próxima da casta Moscatel.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| GOUVEIO
Profícua no Douro, a casta Gouveio encontra-se hoje disseminada por todo o território
continental. Durante anos foi erradamente catalogada como Verdelho, condição que
conduziu a algum desacerto entre as duas nomenclaturas. É uma casta produtiva e
relativamente temporã, medianamente generosa nos rendimentos, sensível ao oídio e
às chuvas tardias, com cachos médios e compactos que produzem uvas pequenas de
cor verde-amarelada.
Dá origem a vinhos de acidez firme e boa graduação alcoólica, encorpados, de aro-
mas frescos e citrinos, com notas a pêssego e anis, com bom equilíbrio entre acidez e
açúcar e que desfrutam de boas condições para apresentar um bom envelhecimento
em garrafa.
32
| LOUREIRO
A casta Loureiro existe em quase toda a região dos Vinhos Verdes, sobretudo na sub-
-região do Lima. É uma casta muito produtiva e fértil, mas só recentemente foi conside-
rada uma casta nobre. Os seus cachos são grandes e não muito compactos, enquanto
os bagos são médios e de cor amarelada ou esverdeada.
O nome desta casta advém dos seus aromas, que se assemelham à flor do loureiro.
Produz vinhos de elevada acidez e com aromas florais marcados e frutados. Apesar de
produzir vinhos monovarietais é frequentemente utilizada em vinhos de lote, onde é
normalmente combinada com as castas Trajadura e Arinto.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| MALVASIA FINA
33
| MOSCATEL
Casta originária do Médio Oriente, terá sido introduzida em terras nacionais na época
do Império Romano. Com muitas transformações ao longo dos séculos, hoje existem
três variedades desta família de castas em Portugal. A variedade Moscatel de Setúbal é
a mais plantada no nosso país, e a sua produção concentra-se na Península de Setúbal,
cujo clima ameno permite a maturação ideal dos bagos.
Esta casta é imprescindível na elaboração do vinho generoso Moscatel de Setúbal.
Contudo, também é utilizada para enriquecer aromaticamente outros vinhos brancos
da região, uma vez que é uma casta primária – marca o paladar e aroma dos vinhos.
Também nesta região se produz o Moscatel Roxo, enquanto na região do Douro, nas
zonas de Favaios e Alijó, é cultivada a variedade branca Moscatel Galego, utilizada na
produção de um vinho licoroso.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| rabigato
De origem duriense, a casta Rabigato estende-se por todo o Douro Superior, sendo es-
sencialmente uma casta de lote, de maturação média, que oferece aos vinhos brancos
do Douro acidez e volume alcoólico equilibrados, frescura e estrutura. Requer terrenos
secos, de 450 a 500 m de altitude e clima moderado.
A casta Rabigato apresenta bagos arredondados, pequenos, verde-amarelados e pelí-
cula de espessura fina. No passado foi relacionada, erradamente, com a Rabo de Ovelha.
34
| RABO DE OVELHA
A casta Rabo de Ovelha está dispersa por todo o país, com uma concentração especial
nas regiões do Alentejo, Tejo e Lisboa.
De maturação média, apresenta cachos médios e bagos arredondados de cor verde-
-amarelada com película de espessura média.
Os vinhos elaborados com esta casta apresentam tons cítricos ligeiros, medianamente
aromáticos e levemente acídulos com algum frutado.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| SÍRIA
A casta Síria é cultivada nas regiões do interior de Portugal. Já foi a casta branca mais
plantada na região alentejana, onde é denominada Roupeiro. Contudo, verificou-se
que as temperaturas demasiado elevadas do Alentejo não eram benéficas para a sua
produção – os vinhos não tinham frescura (boa acidez) e perdiam rapidamente os aro-
mas. Desta forma, desenvolveu-se o cultivo da Síria nas terras mais altas e frescas da
Beira Interior (nomeadamente na zona de Castelo Rodrigo) e Dão (onde a casta é co-
nhecida por Alvadurão, Côdega ou Crato Branco).
A Síria é uma casta muito produtiva de cachos e bagos pequenos. Os vinhos produzidos
com esta casta são delicados, frescos, elegantes e muito aromáticos, com notas florais
e frutadas.
35
| TERRANTEZ
A casta Terrantez é originária do Dão, onde é conhecida como Folgazão. É também cul-
tivada nos Açores, nomeadamente nas zonas do Pico e Biscoitos, e na Madeira, onde é
considerada uma casta nobre para a produção de vinho generoso.
A Terrantez é uma casta rara, encontrando-se quase extinta, sendo uma das principais
razões para este facto a grande tendência que tem para a podridão – muitas vezes não
resiste até à época da vindima.
Os cachos da Terrantez são pequenos, compactos e constituídos por bagos pequenos
de cor verde-amarelada. Os vinhos produzidos por esta casta são bastante perfumados,
encorpados e de sabor persistente.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| TRAJADURA
36
| VERDELHO
A casta Verdelho ficou famosa por ser uma das castas utilizadas na produção do vinho
generoso da Madeira. Depois da época da filoxera, o seu cultivo decresceu na ilha. No
entanto, ainda hoje continua a ser utilizada na produção de vinhos de mesa e vinhos
generosos, sendo também cultivada nos Açores. Nos últimos anos, o reconhecimento
da sua qualidade levou à expansão da sua cultura até à Austrália.
Esta casta apresenta cachos pequenos e compactos, compostos por bagos pequenos
de cor verde-amarelada. Os vinhos produzidos com a casta Verdelho são equilibrados e
bastante aromáticos (fruta tropical, camomila e notas florais secas). Os vinhos da Ma-
deira, elaborados a partir desta casta, são meio secos e de aromas delicados.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| VIOSINHO
37
CASTAS tintAS nacionais
| ALFROCHEIRO
É na região do Dão que a casta Alfrocheiro tem maior expressão. Presente em muitos
dos vinhos da região, é considerada uma casta de elevada qualidade por vários enólo-
gos. O cultivo desta casta, também conhecida por Alfrocheiro Preto na zona do Douro,
estendeu-se com sucesso às regiões do Alentejo, Tejo e à zona de Palmela. Por ser
uma casta bastante fértil, houve necessidade de controlar a sua produção, para que os
bagos não percam qualidades, como a cor. É também importante controlar a vindima
desta casta, pois apresenta uma maturação precoce e é bastante suscetível a doenças,
nomeadamente à podridão. Esta casta produz vinhos de cor muito intensa e com aro-
mas que recordam flores silvestres, amoras maduras e especiarias.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
A Aragonês é uma das castas mais conhecidas da Península Ibérica. Originária de Es-
panha, onde toma o nome de Tempranillo, é também conhecida por Tinta Roriz nas
regiões do Douro e Dão. É uma casta muito adaptável a diferentes climas e solos. Por
isso, o seu cultivo tem aumentado e alargado para as regiões do Dão, Tejo e Lisboa.
Para as características da casta Aragonês serem excelentes, a sua produção tem de ser
controlada. As condições ideais para o seu cultivo são solos arenosos e argilo-calcários
em climas quentes e secos, para que a produção seja menor e os bagos mais concen-
trados. Esta casta origina vinhos de elevado teor alcoólico, de baixa acidez e indicados
para envelhecer, sendo muito resistentes à oxidação.
38
| BAGA
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| bastardO
Essencialmente uma casta de lote, a casta Bastardo tem a sua maior expressão na re-
gião do Douro, estando representada fora do nosso país na Austrália (Gros Cabernet),
na África do Sul, na Califórnia (Chauché Noir), em França (Trousseau) e na Argentina
(Pinot Gris de Rio Negro).
De bago médio a pequeno (dependendo do clone) e cor negro-azul a roxo carregado,
possuí uma película de espessura média. Casta de maturação precoce, acidez modera-
da e bom potencial alcoólico, apresenta vinhos com intensidade da cor baixa.
39
| CASTELÃO
A Castelão é uma das castas mais cultivadas no sul do país e particularmente na zona
da península de Setúbal. Ao longo do tempo já teve várias denominações: João de
Santarém, Castelão Francês e o popularmente divulgado Periquita.
Esta casta desenvolve-se melhor em climas quentes e solos arenosos e secos, pois quan-
do é plantada em solos húmidos e férteis produz vinhos de fraca qualidade.
Os vinhos produzidos pela Castelão são concentrados, aromáticos (framboesa e grose-
lha) e com boas condições para envelhecer. A região da península de Setúbal produz os
melhores vinhos desta casta.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| ESPADEIRO
A casta Espadeiro é cultivada na região dos Vinhos Verdes e produz vinhos muito apre-
ciados na região. Pode adoptar outras denominações, de acordo com o local onde é
cultivada, como Espadão e Espadal, entre outras.
Esta casta é muito produtiva e apresenta cachos de grande dimensão, compactos e
constituídos por bagos médios e uniformes.
Os vinhos produzidos com esta casta são acídulos e de cor rosada clara ou rubi muito
aberta, isto quando submetidos ao processo de curtimenta prolongada. Daí, algumas
adegas produzirem vinho rosé a partir desta casta.
40
| JAEN
A casta Jaen é cultivada em terras lusas desde a segunda metade do século XIX. É uma
casta muito comum no Dão e pensa-se que terá sido trazida para a região através dos
peregrinos que rumavam a Santiago de Compostela.
A Jaen, além de produzir generosamente, é também uma casta de maturação precoce,
bastante sensível ao míldio e à prodridão. Os vinhos produzidos a partir desta casta são
essencialmente caracterizados pela sua cor intensa, baixa acidez e aromas intensos a
frutos vermelhos.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| MOSCATEL ROXO
41
| NEGRA MOLE
A casta Negra Mole ou Tinta Negra é a variedade tinta mais plantada na ilha da Madei-
ra. Também é cultivada no Algarve, embora não atinja, devido às condições climáticas,
as qualidades daquela que é cultivada na Madeira. Os cachos da Negra Mole variam
entre o tamanho médio e grande, e são formados por bagos de coloração não unifor-
me que variam entre o negro-azulado e o rosado.
Esta casta produz um vinho tinto muito doce e foi muito utilizada para produzir Vinho
da Madeira. Contudo, os produtores chegaram à conclusão que, independentemente
da qualidade desta casta, os vinhos generosos elaborados com Tinta Negra seriam
sempre inferiores aos elaborados a partir das castas Boal, Sercial, Malvasia, Terrantez e
Verdelho.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| RAMISCO
42
| RUFETE
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| TINTA BARROCA
A casta Tinta Barroca é plantada quase exclusivamente na região do Douro e muito uti-
lizada na produção de vinhos de lote. Contudo, os seus vinhos monovarietais não são
muito conhecidos. É uma das castas que compõem alguns Vinhos do Porto.
A Tinta Barroca é bastante popular entre os produtores, pois é fácil de cultivar e muito
produtiva. É uma casta muito regular na produção e resistente a doenças e pragas.
Além disso, tem uma maturação precoce e os seus bagos, concentrados de açúcar, ori-
ginam vinhos com elevada concentração alcoólica. Os vinhos produzidos a partir desta
casta são fáceis de beber e de taninos suaves. Contudo, a maior parte das vezes, não
são muito equilibrados nem concentrados.
43
| TINTA CAIADA
A casta Tinta Caiada encontra-se em várias regiões portuguesas e tem uma baixa qua-
lidade vitícola e enológica. Por este facto, não tem sido uma aposta nos novos ence-
pamentos.
A Tinta Caiada apresenta cachos e bagos de tamanho médio. É muito sensível à podri-
dão e precisa de climas muito quentes para amadurecer convenientemente.
É no Alentejo que a casta Tinta Caiada tem produzido vinhos mais interessantes devido
ao clima quente e ao elevado número de horas de sol, propício à correta maturação
dos bagos. Os vinhos produzidos com esta casta têm cor intensa, boa acidez e aromas
agradáveis a fruta madura e vegetais.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| TINTA CÃO
A casta Tinta Cão é cultivada na zona do Douro desde o século XVIII. Contudo, como
era pouco produtiva nunca foi muito apreciada pelos agricultores. No entanto, por
volta dos anos 80, descobriu-se que a Tinta Cão possui ótimas características para a
produção de Vinho do Porto e então o seu cultivo alargou-se a outras regiões, como o
Dão, Tejo e Península de Setúbal, onde existe em pequenas quantidades.
A Tinta Cão possui cachos muito pequenos e de maturação tardia. É muito resistente a
doenças e à podridão, além de suportar temperaturas muito elevadas. Esta casta é fre-
quentemente lotada com as castas Touriga Nacional e Aragonês, entre outras. Produz
vinhos carregados de cor e de aromas delicados e florais.
44
| TOURIGA FRANCA
A Touriga Franca é uma das castas mais plantadas na zona do Douro e Trás-os-Montes.
É considerada uma das melhores castas para a produção de Vinho do Porto e do Douro,
mas o seu cultivo já foi alargado para as regiões da Bairrada, Tejo, Setúbal e Estremadu-
ra. A Touriga Franca tem produções regulares ao longo do ano e é bastante resistente
a doenças. Os seus cachos são médios ou grandes, com bagos médios e arredondados.
Os vinhos produzidos por esta casta têm uma concentração de cor e forte intensidade
aromática, onde sobressaem os frutos pretos e flores silvestres. No Vinho do Porto, a
Touriga Franca integra os lotes com a Tinta Roriz e a Touriga Nacional.
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| TOURIGA NACIONAL
45
| TRINCADEIRA
Muito forte
Forte
Média
Fraca
Muito fraca
| VINHÃo / sousão
A casta Vinhão é essencialmente apreciada pelas suas qualidades corantes pois origina
vinhos de cor vermelha intensa e opacos à luz. Pensa-se que será oriunda da zona do
Minho, tendo sido levada para a região do Douro, onde é conhecida por Sousão.
Esta casta apresenta cachos de tamanho médio, composto por bagos médios e unifor-
mes de cor negro-azulada. Na região dos Vinhos Verdes, a Vinhão é a casta tinta mais
cultivada da região. Os vinhos produzidos com a casta Vinhão apresentam também ele-
vada acidez e, por vezes, ficam muito acídulos. No Douro, esta casta é essencialmente
utilizada para conferir boa cor ao vinho, incluindo o Vinho do Porto.
46
CASTAS BRANCAS estrangeiras
| chardonnay
É uma das castas brancas mais populares. Originária da Borgonha (França), permite a
obtenção de vinhos com aromas, sabor e estilos bem diferenciados, expressando bem o
tipo de vinificação a que foi submetida ou o terroir. De maturação fácil, produz vinhos
encorpados, de textura sedosa, teor alcoólico relativamente elevado e boa capacidade
de envelhecimento em garrafa.
São inúmeras as regiões do mundo onde é cultivada, como Champagne (França), Cali-
fórnia (EUA) e Chile. No entanto, as regiões mais famosas são em França, na Borgonha,
em Chablis, Montrachet, Mersault e Aloxe-Corton.
Delicado
© AWMB/Oberleitner
• França
(Chablis)
França Itália
• Chile
EUA • Nova Zelândia
(Califórnia)
• Austrália
• EUA
(Califórnia)
Chile
África do Sul Austrália
• França
(Montrachet)
Pronunciado
Delicado
França (Vale do Loire)
• França EUA
(Vale do Loire (Califórnia)
secos)
• França
(Vale do Loire
Late harvest) África do Sul Austrália
Pronunciado
| chenin blanc
Casta branca versátil, conhecida pela sua alta acidez, textura oleosa e potencial de en-
velhecimento, está associada ao Vale do Loire nas regiões de Anjou-Saumur e Touraine
(França), onde também é conhecida por Pineau de la Loir.
Pode ser trabalhada para qualquer nível de doçura, variando desde o seco a fresco, e é
utilizada em espumantes, vinhos de sobremesa doces e vinhos secos.
É também produzida na Austrália, na Califórnia (EUA) e na África do Sul com enorme
sucesso onde pode ter a designação de Steen.
47
| Gewürztraminer
Nome composto pela palavra de origem alemã Gewürz (muito aromática, perfuma-
da) e Traminer (região no norte de Itália de onde é originária), é uma das castas mais
aromáticas dentro das utilizadas na elaboração de vinhos brancos. Amadurece tão ra-
pidamente que precisa de ser cultivada em região de clima fresco para desenvolver o
seu perfume característico. Produz vinhos aromáticos – “explosão” de frutas, flores e
especiarias, normalmente melados, alcoólicos, untuosos e de baixa acidez.
As suas principais regiões de produção são a Alsácia (França) e Trentino-Alto Adige
(Itália), sendo também cultivada na Austrália (Eden Valley, Clare e Tasmânia).
Delicado
• Itália
Canadá Alemanha (Trentino-Alto
França Áustria Adige secos)
EUA (Alsácia) Itália
(Oregon e
Washington) • França
(Alsácia secos)
• França
(Alsácia
Austrália Late Harvest)
Pronunciado
© AWMB/Oberleitner
• Itália
• Grécia
• Espanha
Pronunciado
| MUSCAT
48
| PINOT GRIS
© AWMB/Oberleitner
Alemanha
França Áustria
EUA (Alsácia)
Itália
(Califórnia,
Oregon e Delicado
Washington)
• Itália
• França
(Alsácia)
Pronunciado
© AWMB/Oberleitner
Delicado
Canadá Alemanha
• Alemanha França Áustria
(Mosel) EUA (Alsácia)
• França
(Alsácia)
• Alemanha Nova
(Rheingau) Zelândia
• Austrália Austrália
Pronunciado
| Riesling
A “casa da Riesling“ é na Alemanha, onde estão localizadas 65% a 70% das vinhas
Riesling de todo o mundo. É uma casta de maturação tardia, que amadurece muito
lentamente, exigindo um clima relativamente frio e de grande insolação no período de
amadurecimento. Produz tradicionalmente vinhos perfumados de elevada acidez com
níveis alcoólicos relativamente baixos, apresentando estilos bem diferenciados conso-
ante o terroir. Frutados, mais floral ou mais mineral, secos, meio doces e bastante
melados, mas todos eles com enorme frescura.
As regiões mais emblemáticas são Mosel e Rheingau na Alemanha, a Alsácia em Fran-
ça, o norte de Itália, as regiões da baixa Áustria e algumas regiões frescas da Austrália
(Eden e Clare Valley ou Tasmânia). É também cultivada com sucesso no Canadá (British
Columbia e Ontário), nos EUA (Washington) e na Nova Zelândia.
49
| sauvignon blanc
A Sauvignon é conhecida por produzir brancos frescos e estruturados, com forte per-
sonalidade herbácea, algum tropical e forte mineralidade. O Vale do Loire (França) é a
sua origem e o seu principal terroir, sendo as principais regiões: Pouilly-Fumé, Sancerre
e Menetou-Salon.
As curvas de maturidade da Sauvignon Blanc são diferenciadas de acordo com os mi-
croclimas das regiões onde está plantada. São regiões produtoras: Bordéus (França),
Chile, Marlborough (Nova Zelândia) e Califórnia (EUA), onde também é conhecida por
Fumé Blanc.
Delicado
© AWMB/Oberleitner
• África do Sul
• França
França (Bordéus)
EUA (Vale do Loire
(Califórnia) e Bordéus) • Nova Zelândia
• EUA
(Califórnia)
• França
Chile (Sancerre,
África do Sul Nova Pouilly-Fumé)
Zelândia
Pronunciado
Delicado
• França
(Sud-Ouest seco) França
• Austrália
(Hunter Valley)
• França
(Bordéus seco)
• França Austrália
(Bordéus doce)
Pronunciado
| sémillon
Casta de película fina, amadurece cedo, o que a torna suscetível a botrytis e quei-
maduras solares. Produz tradicionalmente vinhos intensos, melados, tipo Sauternes e
Late Harvest ou secos (“crus” de Pessac-Léognan, em barrica), todos eles de enorme
estrutura e frescura, maioritariamente lotados com a Sauvignon Blanc. É cultivada nas
regiões a sul e próximas de Bordéus, no Sud-Ouest (França), onde entra em lote com
outras variedades locais.
Nas regiões do Novo Mundo aparece geralmente lotada com a Sauvignon Blanc ou
com a Chardonnay. Na Austrália, em Hunter Valley, o seu segundo terroir, produz vi-
nhos secos frescos e encorpados.
50
| Viognier
Delicado
França
EUA (Vale do • França
(Califórnia) Ródano e Sul) (Condrieu)
• França
(Château Grillet)
• Chile
Chile
África do Sul Austrália
• Austrália
Pronunciado
Delicado
© AWMB/Oberleitner
• França
(Bordéus)
• Austrália
• EUA Chile
África do Sul Austrália
(Califórnia)
Pronunciado
| cabernet sauvignon
Casta tinta oriunda do Médoc (França), produz vinhos robustos, marcados pela inten-
sidade de cor e tanino, textura envolvente e potente, mas de enorme elegância. Com
bastante sucesso nos EUA (Califórnia), é também a mais plantada no Vale Central, no
Chile, na Austrália e na África do Sul, onde produz vinhos de classe mundial.
Trata-se de uma casta que tanto aparece sozinha ou em lote com outras castas, servin-
do muitas vezes para modernizar estilos de vinhos, sendo mais frequente com a Merlot
ou Cabernet Franc, estilo Châteaux Bordalês (França), com a Sangiovese nos “Super
Toscanos” em Bolgerhi (Itália), com a Tempranillo (Espanha), a Shiraz ou a Grenache
Noir (Austrália e África do Sul), ou com a Carménere (Chile).
51
| GRENACHE
Delicado
• Espanha
(Navarra)
França (Provença
e Vale do Ródano) • França
Espanha (Provença)
(Priorato,
Navarra
Itália
(Sardenha) • França
e Rioja) (Sul do Ródano)
• Itália
(Sardenha)
• Espanha
(Priorato)
Pronunciado
Delicado
França
• França (Bordéus
(Cahors) e Cahors)
• França
(Bordéus)
• Argentina Argentina
(Mendonza)
Pronunciado
| MALBEC
Com berço em Bordéus (França), onde poderá entrar em pequena quantidade nos
vinhos tintos, é também a variedade principal da região de Cahors, nos arredores desta
cidade do sudoeste francês, onde também é conhecida como Auxerrois.
Levada para a Argentina apenas no século XIX, aí encontrou o solo e clima ideais para
o seu desenvolvimento, adaptando-se tão bem às características ecológicas locais que
convenceu a indústria do vinho argentino, sendo hoje conhecida como a casta tinta
“bandeira” daquele país. No geral, produz vinhos de estrutura vigorosa e ricos, com
forte suculência em fruta e especiarias, e textura quase aveludada. Alguns vinhos pro-
duzidos com esta casta são feitos para um longo envelhecimento, mas geralmente
possuem taninos suaves.
52
| merlot
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Delicado
Itália (Toscânia)
França
(Bordéus)
• Chile
EUA
(Califórnia) • Austrália
• França
(Bordéus)
Chile
Austrália • EUA
(Califórnia)
Pronunciado
Delicado
• Itália Itália
(Lombardia)
(Piemonte e
Lombardia)
• Itália
(Barbaresco)
• Itália
(Barolo)
Pronunciado
| NEBBIOLO
53
| pinot noir
A Pinot Noir gera alguns dos melhores vinhos tintos do mundo. Tintos de estrutura ele-
gante, taninos macios, aveludados e de textura delicada, com aromas perfumados que
evoluem com a idade. Difícil de cultivar, pois exige muita atenção, precisa de cuidados
constantes. Bem sucedida nas regiões francesas de Champagne e Sancerre, no Loire,
no Oregon (EUA), na Nova Zelândia e em algumas regiões da Alemanha e da Áustria,
é na sua Borgonha (França) que alcança os melhores resultados nas encostas calcárias
da Côte d’Or.
A concentração e cor são inferiores às de outras castas e os seus aromas e sabores são
muito subtis. A sua genética torna-a altamente suscetível à mutação e expressa bem o
terroir e a região.
Delicado
© AWMB/Oberleitner
• Chile
Alemanha
• Austrália
França
Áustria
(Borgonha e Itália (Trentino,
• EUA
EUA (Califórnia)
Champagne) Alto-Adige e Friulli)
(Oregon e
Califórnia) • França
(Borgonha)
Nova • EUA
Zelândia (Oregon)
• Nova Zelândia
Pronunciado
Delicado
• Itália
(Chianti)
Itália (Toscânia)
• Itália
(Vino Nobile
Montepulciano)
• Itália
(Brunelo
Montalcino)
Pronunciado
| sangiovese
É a casta tinta mais plantada em Itália e dá origem ao vinho da Toscânia. Única casta
permitida no Brunello di Montalcino, é a base de lotações sofisticadas, sendo atual-
mente de 90% a quantidade mínima desta casta permitida num Chianti. Cultivada em
diversas regiões de Itália, onde tem vários sinónimos regionais, como Prugnolo Gentile
em Montepulciano, Brunello em Montalcino e Morellino em Scansano, é na Toscânia
que se encontram as regiões mais importantes. Adaptável a uma grande variedade de
solos, altera facilmente a sua genética para se adaptar ao ambiente do terroir dando
resultado a vinhos e denominações muito diferentes. Fora de Itália é plantada na ilha da
Córsega (França) com o nome de Niellucciu, na Austrália (South Australia), na Argenti-
na (Mendonza) e nos EUA (Califórnia e Virgínia).
Apresenta vinhos de grande nobreza, com estrutura, concentração de cor, acidez, tani-
nos macios e uma grande evidência de aromas.
54
| SYRAH / SHIRAZ
É responsável por alguns dos vinhos tintos mais opacos e robustos do mundo. Em
França, de onde é oriunda (Cote du Rhône), é conhecida por Syrah. Está bem adapta-
da aos terraços íngremes do rio Ródano em torno de Ampuis Côte-Rotie e Tain Hermi-
tage. Produz vinhos tintos com estrutura, grande concentração e intensidade de fruto,
que se distinguem pela longevidade, sendo encontrada em lote com outras castas no
sul do Ródano e regiões mediterrânicas.
É também cultivada na Austrália, onde é conhecida por Shiraz e reconhecida como
uma das grandes forças do vinho australiano, e nos EUA (Califórnia), onde os seus
produtores são alcunhados com o trocadilho de “Rhône Rangers”.
Casta que gosta de calor e de um clima cálido, origina vinhos complexos e encorpa-
dos, escuros, com grau alcoólico e aromas e sabores exóticos.
© AWMB/Oberleitner
Delicado
• África do Sul
França • EUA
(Ródano e sul (Califórnia)
EUA mediterrânico)
(Califórnia)
• França
(Sul)
• França
(Vale do Ródano)
África do Sul Austrália
• Austrália
Pronunciado
Delicado
• Espanha
(Rioja) Espanha
(Rioja, Douro,
Ribera del Duero
• Espanha e Toro)
(Ribera del Duero,
Douro)
• Espanha
(Toro)
Pronunciado
| tempranillo
Principal casta dos vinhos espanhóis, é conhecida por ser a espinha dorsal dos vinhos
mais emblemáticos de regiões como Rioja, Ribera del Duero e Toro, onde adquire no-
mes consoante a região: Tinta del País ou Tinto Fino (Ribera del Duero), Tinta del Toro
(Toro), Cencibel (Valdepeñas) e Ull de Llebre (Penedès). Em Portugal é cultivada com o
nome de Aragonês ou Tinta Roriz.
A origem do seu nome, “temprano” (cedo), está no facto de apresentar um brota-
mento precoce, um amadurecimento rápido e, por consequência, ter um ciclo de cres-
cimento curto. Normalmente apresenta-se com uma acidez moderada, mas com bons
taninos e aromas, originando vinhos que tendem a ser redondos, elegantes e robustos.
55
56
04
Regiões
vitivinícolas
portuguesas
Portugal, país situado no sudoeste da Europa, é também constituído pelos arquipélagos da
Madeira e dos Açores, sendo este o ponto mais ocidental do continente europeu.
País de pequena dimensão (92 072 km2), marcado pela influência do Oceano Atlântico e
um dos dois países que constituem a Península Ibérica, sempre foi muito influenciado pela
cultura mediterrânica.
Portugal foi o primeiro país do mundo a definir e regulamentar uma região vitivinícola de-
marcada: a do Douro, em 1756.
País de múltiplas paisagens, desde a presença dominante do mar até às serras do interior,
cada região apresenta um clima próprio. Se a proximidade do mar determina temperaturas
amenas durante todo o ano, já no interior os invernos são rigorosos e os verões secos, ten-
do o noroeste uma pluviosidade dominante, tanto no inverno como no verão.
No início do século XX, a produção de vinho no nosso país esteve sujeita a uma grave crise,
para a qual contribuiu, em muito, a filoxera. Isso levou a que fossem tomadas diversas me-
didas protecionistas, entre as quais se inclui a reformulação do conceito de denominação
de origem. Depois, ao longo da primeira metade do século, o conceito foi evoluindo, com
Portugal, juntamente com outros países, a defender três princípios fundamentais para a sua
aplicação: espaço geográfico delimitado, direito coletivo ao uso da denominação de origem
e especificidade dos vinhos.
Mais tarde, com a adesão de Portugal à União Europeia, em 1986, a legislação nacional foi
sendo progressivamente alterada de modo a adaptar-se à realidade comunitária.
57
Regiões vitivinícolas de portugal
Trás-os-Montes
Távora e Varosa
Minho
Bairrada
Lisboa
Tejo
Península
de Setúbal
Douro
e Porto
Açores
Beira Interior
Dão e Lafões
Madeira
Alentejo
Algarve
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© Pedro Lobo
| MINHO
Uma das regiões mais originais e diferenciadas de Portugal – marcada por uma influên-
cia atlântica extremada, numa paisagem verde e húmida, com temperaturas frescas e
chuvas abundantes – é a maior denominação de Portugal, com uma área de 34.000 ha,
ocupando uma mancha imensa por todo o noroeste continental, com a propriedade
repartida por milhares de pequenas parcelas, por vezes pouco maiores que pequenos
quintais e com as vinhas concentradas ao
longo dos vales dos rios principais. Os solos
são homogéneos e na maioria graníticos,
de férteis a muito férteis e de acidez elevada.
Situa-se no extremo Norte de Portugal continental, delimitada a norte pelo rio Minho,
estende-se pela costa até à cidade do Porto e para sul até as margens do rio Vouga.
A denominação divide-se em nove sub-regiões distintas, apresentando-se a de Monção
e Melgaço como a mais singular por se encontrar protegida da influência direta atlân-
tica e que apresenta um clima de influência marítima e continental, com vinhos mais
encorpados e de graduações alcoólicas mais elevadas:
Monção e Melgaço | Lima | Cávado | Ave
Basto | Sousa | Amarante | Paiva | Baião
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© Pedro Lobo
| TRÁS-OS-MONTES
Côdega do Larinho, Fernão Pires, Gouveio, Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca,
Malvasia Fina, Rabigato, Síria e Viosinho Touriga Nacional e Trincadeira
© Viriato Oliveira
| TÁVORA-VAROSA
Região
de vinhas num vale encaixado a alta altitude, marcado pelo clima
extremo de
forte influência continental, está especialmente talhada para a produção
de vinhos
espumantes, tendo sido a primeira região vitícola nacional a ser demarcada
para a
produção de espumante DOC, em 1989. Tem nas castas Chardonnay e Pinot Noir uma
presença quase centenária e um espaço importante no encepamento da região.
castas brancas castas tintas
Bica, Cercial, Fernão Pires, Gouveio Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Franca
e Malvasia Fina e Touriga Nacional
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| DOURO E PORTO
O Douro é uma das regiões mais selvagens e agrestes do território nacional, talhada
pelo vale do rio que lhe dá o nome e pela pobreza dos solos xistosos.
Reconhecida pela UNESCO como “Património da Humanidade” pela sua beleza e mo-
numentalidade, em nenhum outro ponto de Portugal a intervenção do homem na
paisagem é tão evidente e visível nos milhares de socalcos espalhados pela região, de-
safiando a gravidade das encostas íngremes onde as vinhas estão implantadas.
O Douro
demarca-se segundo o eixo do rio Douro, estendendo-se desde a fronteira
com
Espanha até cerca de noventa quilómetros de distância da cidade do Porto.
O Baixo Corgo, sob a influência direta da serra do Marão, é a sub-região mais fresca
e chuvosa, a mais fértil e com maior densidade de vinhas. O Cima Corgo é conhecido
como o coração do Douro, onde nascem muitos dos vinhos do segmento superior do
Vinho do Porto. O Douro Superior, é a sub-região de maior extensão, a mais quente, se-
ca e extremada, mas a menos acidentada, marcada pela secura e pelos verões infernais.
É uma das regiões mais ricas em castas autóctones, com centenas de castas únicas e uma
área extensa de vinhas velhas, por vezes, plantadas com dezenas de castas misturadas.
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| DÃO E LAFÕES
castas brancas castas tintas
62
| BAIRRADA
É uma região plana e litoral que se desenvolve numa faixa litoral marítima, de marcada
influência atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias suaves.
Os solos dividem-se entre os terrenos argilo-calcários e as faixas arenosas, consagrando
estilos diversos consoante a predominância de cada elemento. A propriedade encontra-
-se dividida em milhares de pequenas parcelas.
Foi uma das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes,
estilo que
continua a ser acarinhado na região. O clima fresco e húmido favorece a sua
elaboração,
proporcionando uvas de acidez elevada e baixa graduaçãoalcoólica.
Na região convivem duas filosofias díspares, os vinhos de estilo clássico, assentes maio-
ritariamente na casta Baga, a par com os novos vinhos bairradinos, assentes numa
multiplicidade de castas de origem nacional e internacional, incluindo as estrangeiras
Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Syrah.
Fernão Pires (Maria Gomes), Arinto, Bical, Baga, Alfrocheiro, Tinta Pinheira
Cercial e Rabo de Ovelha e Touriga Nacional
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| BEIRA INTERIOR
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| LISBOA
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| TEJO
Tomar é a região mais fresca da denominação e Coruche a mais quente, com uma
paisagem em tudo semelhante à paisagem alentejana. É uma zona de transição social
e sociológica, mais emparcelada a norte e com herdades mais imponentes a sul.
A legislação pouco restritiva, permite a utilização de diversas castas nacionais e estran-
geiras.
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© Pedro Baeta
| PENÍNSULA DE SETÚBAL
A península de Setúbal varia entre zonas planas e arenosas e a paisagem mais monta-
nhosa da serra da Arrábida.
Os solos são igualmente heterogéneos, alternando entre as areias finas e profundas das
planícies e os solos calcários e argilo-calcários da serra.
É aqui que nasce o Moscatel de Setúbal, um dos vinhos mais reputados de Portugal.
O clima da região é claramente mediterrânico, com verões quentes e secos, invernos
amenos mas chuvosos, e humidade elevada. Só a serra da Arrábida, pela altitude eleva-
da e pela proximidade ao mar, beneficia de um clima de feição mais atlântica.
A península de Setúbal compreende as Denominações de Origem Palmela e Setúbal,
e a IG Península de Setúbal. A denominação “Setúbal” está reservada para os vinhos
Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo.
Os vinhos tintos de “Palmela” baseiam-se na casta Castelão, de presença obrigatória
na denominação (para ser DOC Palmela o vinho tem de conter pelo menos 66,9% des-
ta casta na composição do lote), que oferece o melhor de si nos solos arenosos quentes
e soltos da região, ganhando uma complexidade e profundidade que a casta raramente
consegue alcançar fora desta região.
A casta Moscatel de Setúbal destina-se sobretudo aos vinhos generosos da região.
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© Pedro Lobo
| ALENTEJO
Antão Vaz, Arinto e Roupeiro, para além Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonês,
das hoje pouco valorizadas Diagalves, Castelão e Trincadeira, para além das pouco
Manteúdo, Perrum e Rabo de Ovelha valorizadas Moreto, Tinta Caiada e Tinta Grossa
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© Pedro Lobo
| ALGARVE
O Algarve, protegido dos ventos quentes e secos do norte pelo sistema montanhoso
e desfrutando de mais de 3.000 horas de sol por ano, apresenta-se como uma das
regiões com maior potencial de crescimento em Portugal.
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| AÇORES
O arquipélago dos Açores, composto por nove ilhas, situa-se no oceano Atlântico, a
meia distância entre o continente europeu e a América do Norte.
A influência marítima está patente na precipitação elevada e nas temperaturas amenas
ao longo de todo o ano. Os solos muito pobres são de origem vulcânica.
Os Açores são constituídos por três denominações de origem:
Graciosa | Biscoitos (Terceira) | Pico
castas predominantes
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| MADEIRA
O Vinho da Madeira é um vinho licoroso com uma capacidade de guarda quase ilimita-
da, que conseguiu sobreviver durante mais de dois séculos.
As vinhas nascem alinhadas em pequenos socalcos levantados numa região extrema-
mente montanhosa, de encostas escarpadas e vales profundos. Situada no Atlântico
Norte, à mesma latitude de Casablanca, o arquipélago da Madeira beneficia de uma
clima temperado e acentuadamente atlântico, com temperaturas amenas durante todo
o ano.
Os solos são de origem vulcânica, férteis, muito ricos em matéria orgânica e ácidos,
o que, aliado ao clima húmido, ao sistema de condução tradicional da vinha em pér-
gola – com a consequente dificuldade na maturação fisiológica das uvas, e aos ren-
dimentos muito elevados, compromete a maturação das uvas, proporcionando vinhos
com níveis de acidez muito elevados, característica marcante de todos os Vinhos da
Madeira.
As quatro castas nobres, todas brancas, são vinificadas de forma a proporcionar diferen-
tes graus de doçura e comercializadas nos estilos de seco, meio seco, meio doce e doce.
Porém, a casta mais plantada na ilha, responsável por mais de 80% do encepamento
total, é a Tinta Negra, uma casta tinta, como o nome indica, facilmente adaptável, ca-
paz de se adequar aos quatro estilos de doçura. Na Madeira produzem-se igualmente
outros vinhos.
71
72
05
Metodologias
e técnicas
de vinificação
A qualidade e o carácter de um vinho começam a desenhar-se logo na vinha. No entanto, é
na adega que o enólogo dá expressão à excelência das uvas. Desta forma, consoante o estilo
de vinho pretendido, é necessário realizar uma escolha criteriosa dos processos de vinificação
e conservação a utilizar, em consequência de ser através das metodologias selecionadas que
se elegem as características das uvas a expressar, bem como o tipo de maturação que mais
favorece a sua evolução.
O tratamento das uvas começa na vindima. Os viticultores que pretendem obter vinho de
qualidade devem fazer uma seleção rigorosa no momento da apanha, separando as uvas
insuficientemente maduras ou deterioradas, assim como todas as impurezas. As condições de
transporte para a adega também são muito importantes – as uvas não devem ser carregadas
em recipientes de grandes dimensões, para evitar o seu esmagamento e uma fermentação
precoce.
A forma como as uvas saudáveis são tratadas, antes de serem transformadas em vinho
(duração da fermentação, controlo da temperatura, trasfegas de mosto, tempo de maturação
em cubas ou em casco), tem igualmente a sua importância. Mas, a produção de vinho passa
também por outros pormenores, como se poderá constatar neste capítulo.
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fases de elaboração de um vinho
| vinhos brancos
Os vinhos brancos são geralmente realizados a partir de uvas brancas, embora podendo
também ser elaborados com uvas tintas, recorrendo a uma prensagem muito suave
(Blanc de noirs) e evitando assim a extração de cor das películas.
As uvas brancas são geralmente vindimadas mais cedo do que as uvas tintas, procuran-
do-se assim que no seu ponto ótimo de maturação enológica possuam ainda uma boa
riqueza em ácidos que confira frescura aos vinhos.
Nos vinhos brancos é especialmente importante que a colheita se realize a baixas tem-
peraturas, para diminuir o risco de oxidações e por forma a evitar fermentações es-
pontâneas precoces que, ao iniciarem-se sem controlo de temperaturas, traduzem-se
frequentemente na perda de aromas primários e no aparecimento de aromas desagra-
dáveis. Desta forma, opta-se normalmente por realizar a vindima durante a noite ou
nas primeiras horas do dia, especialmente em regiões quentes.
| vinhos rosés
Nos vinhos rosés apenas são permitidas uvas tintas ou rosadas. Este facto distingue-o
do vinho palhete, elaborado a partir de uma mistura de uvas brancas e tintas.
Este tipo de vinhos, devido ao facto de serem muitas vezes realizados a partir do mosto
de uma primeira prensagem das uvas destinadas à realização de vinhos tintos (para
aumento da relação película/polpa destes últimos), são normalmente seguidos os parâ-
metros de maturação adequados aos vinhos tintos.
| vinhos tintos
Os vinhos tintos continuam a representar a maioria dos vinhos tranquilos produzidos
em Portugal. Este facto deve-se, em grande parte, ao facto dos terroirs do País per-
mitirem maturações muito completas das uvas tintas, mais tardias, o que conduz a
vinhos de carácter maduro e de grande suavidade, cada vez mais apreciados pelos
consumidores.
74
vinificação
75
vinificação de brancos Receção e desengace
Ao chegarem à adega, as uvas (normalmente separadas
por castas) são avaliadas quanto ao seu grau de álcool
provável (teor de açúcar), acidez e estado fitossanitário.
Os dois primeiros parâmetros são essenciais para formular
lotes de uvas equilibrados, tanto do ponto de vista enoló-
gico como sensorial. O terceiro parâmetro ajuda a dividir
as uvas de acordo com a sua qualidade, escolhendo-se
os melhores lotes para realização dos vinhos de gamas
superiores. É também com base na avaliação do estado
fitossanitário que se decide quanto à pertinência da re-
moção de folhas e/ou bagos podres (mesa de escolha).
Nos vinhos brancos, o desengace normalmente apenas
é realizado quando se efetua uma prensagem com pren-
sas pneumáticas, de forma a evitar a extração de aromas
herbáceos, que diminuem a qualidade do vinho. Caso
se utilizem prensas onde as massas não sejam revolvidas
durante a prensagem, opta-se geralmente por não se de-
sengaçar as uvas, diminuindo assim o risco de oxidações e
facilitando a prensagem, visto que o engaço cria poros de
drenagem para o mosto entre as massas.
No entanto, opta-se às vezes por realizar uma maceração
pré-fermentativa antes da prensagem, quando se preten-
de obter vinhos mais untuosos, aromáticos e persistentes.
Neste caso, as uvas têm obrigatoriamente de ser desen-
gaçadas, para evitar a extração de aromas herbáceos do
engaço.
Alguns enólogos defendem também que o desengace
pode ser benéfico, pois promove uma certa maceração
pelicular, enriquecendo o mosto.
Prensagem
A vinificação dos vinhos brancos, também conhecida por
vinificação em bica-aberta, individualiza-se pelo facto de
as uvas serem prensadas antes da fermentação, levando
a que o contacto do mosto com as películas muitas vezes
apenas ocorra durante a prensagem.
Nos vinhos brancos, procura-se realizar prensagens sua-
ves, para evitar que os aromas herbáceos das grainhas
ou do engaço, caso não se tenha realizado desengace,
passem para o mosto.
decantação
Após a prensagem, é necessário proceder à eliminação
das partículas em suspensão no mosto. Esta operação é
essencial, dado que tais partículas podem ser potenciado-
ras de aromas desagradáveis (especialmente o aroma a
borra), que camuflam os aromas varietais.
76
Para realizar esta operação existem vários métodos, como Trasfega
a centrifugação, a filtração ou a flutuação por arraste das
Com o final da fermentação, deixa de ocorrer emissão de
partículas para a superfície por injeção de um gás inerte
CO2 por parte das leveduras, o que permite que as borras,
(azoto).
compostas por leveduras e por partículas que precipita-
No entanto, o método mais utilizado é a decantação está- ram durante a fermentação, se depositem no fundo da
tica. Esta operação consiste no repouso do mosto entre 24 a cuba. Nesta operação o vinho é retirado cuidadosamente
48 horas, seguida de decantação. É, normalmente, reali- de forma a serem eliminadas as borras.
zada a baixas temperaturas, entre os 7 ºC e os 10 ºC, para
Paralelamente a esta etapa, é realizado o loteamento,
promover a sedimentação das partículas no fundo da cuba,
procedendo-se à prova das diferentes cubas ou barricas e
e para evitar o começo antecipado da fermentação.
decidindo os lotes a realizar. Ao contrário do que aconte-
cia durante a fermentação, em que as cubas ou barricas
Fermentação se encontravam atestadas a 80% do seu volume para
A fermentação alcoólica dos vinhos brancos é realizada que se pudesse promover alguma agitação, a partir da
normalmente entre os 17 ºC e os 18 ºC. A ocorrência de trasfega, dada a ausência de CO2, as cubas têm de estar
temperaturas mais altas conduz a uma perda da sua ri- completamente atestadas para evitar a oxidação do vi-
queza aromática. Temperaturas abaixo dos 15 ºC dificul- nho. Quando tal não é possível, recorre-se normalmente
tam a atividade das leveduras, conduzindo a que a fer- à substituição do ar presente na cuba por gases inertes,
mentação ocorra muito lentamente ou pare mesmo, no como o azoto ou o árgon.
chamado amuo de fermentação. A fermentação alcoólica
pode ser realizada em cuba ou em barrica.
Estabilização
Cuba Esta operação, que tem como objetivo a clarificação e es-
A fermentação em cuba é utilizada especialmente quan- tabilização dos vinhos para engarrafamento, compreende
do se procuram vinhos com carácter jovem e aromas pre- normalmente dois processos: a colagem e a filtração.
dominantemente varietais, pelo que se fermentam em
cuba a totalidade dos vinhos rosés e a maioria dos bran-
cos. É um estilo de fermentação menos dispendioso e
permite controlar mais facilmente as temperaturas, dado
que as cubas de fermentação apresentam um circuito de
refrigeração integrado.
Barrica
A fermentação em barrica possibilita a obtenção de vi-
nhos mais complexos e com maior estrutura. São normal-
mente utilizadas meias-pipas (225 litros), de tosta ligeira
a média, pois não se procuram vinhos com aromas muito
tostados.
O facto de o vinho fermentar na barrica, em vez de esta-
giar só após a fermentação, possibilita, não só uma econo-
mia de tempo, como uma melhor integração entre o vinho,
os taninos (estrutura) e os aromas da madeira.
No entanto, este género de fermentação exige maiores
custos, não só nas barricas como também em logística,
pois a fermentação tem de ser efetuada num comparti-
mento com temperaturas controladas. Também em mão-
-de-obra os custos são mais elevados, em consequência de
ser necessário realizar bâtonnage, operação que consiste
em agitar o vinho com uma vara (“bâton”), quer para pos-
sibilitar uma melhor colonização do mosto por parte das
leveduras, quer para promover a extração de compostos da
madeira e das borras (extrato de leveduras).
77
vinificação de tintos Receção e desengace
A receção das uvas tintas é semelhante à retratada para
as uvas brancas, separando-se as uvas não só por castas
mas atendendo também ao seu grau de álcool provável e
ao estado fitossanitário.
As uvas tintas são quase sempre desengaçadas – opera-
ção que elimina também a presença de folhas e gavinhas
– embora sempre que se verifica a presença de bagos
podres se imponha a prévia realização da sua separação.
O facto de esta operação efetuar o esmagamento dos ba-
gos facilita também a ação das leveduras durante a fer-
mentação alcoólica.
Fermentação
A vinificação dos vinhos tintos individualiza-se pela pre-
sença das massas (películas e grainhas) durante a fer-
mentação alcoólica, obtendo-se assim vinhos com maior
concentração de compostos peliculares (cor, aromas e
taninos).
No que respeita à temperatura, a fermentação dos vinhos
tintos é realizada normalmente entre os 26 ºC e os 28 ºC.
A condução da sua vinificação a temperaturas mais altas
do que as utilizadas para os vinhos brancos deve-se à ne-
cessidade de facilitar a ação das leveduras, cuja velocida-
de de colonização do mosto se vê dificultada pela maioria
da película e parte da polpa dos bagos se encontrarem
ainda inteiras no início da fermentação. Também a pre-
sença de uma maior concentração de aromas e o facto
de, na sua maioria, estarem retidas nas películas, e apenas
se libertarem de forma progressiva de acordo com a capa-
cidade de solubilidade do meio (maior presença de álco-
ol), impedem que se percam, como sucederia nos vinhos
brancos.
A fermentação pode ser realizada em cubas ou lagares, ha-
vendo casos em que os enólogos optam por realizar uma
maceração pelicular pré-fermentativa em lagar, seguida de
fermentação em cuba.
Cuba – É cada vez mais frequente a utilização de cubas
de aço inoxidável para a realização da fermentação alco-
ólica de vinhos tintos. Este facto deve-se essencialmente
à facilidade do controlo da temperatura e à diminuição
de problemas de oxidação do mosto, especialmente no
início da fermentação, quando a libertação de CO2 ainda
é baixa.
Neste tipo de fermentação, a maceração pelicular e o are-
jamento são realizados recorrendo a remontagens. Esta
operação consiste no bombeamento da fração líquida do
mosto, que se encontra na parte inferior da cuba, para o
topo, obrigando o mosto a atravessar a manta (concen-
tração das películas à superfície do mosto originada pela
78
libertação de CO2 gerado na fermentação alcoólica). As de cada cuba e/ou barrica a utilizar. É de salientar que, tal
remontagens forçam também a manta a imergir, o que como acontece nos vinhos brancos nas adegas mais mo-
permite que esta se mantenha húmida, evitando a sua dernas, as castas são vinificadas separadamente, proceden-
oxidação. do-se apenas nesta altura à sua mistura.
Prensagem
Nota:
Após o final da fermentação, retira-se, pela parte inferior
da cuba ou do lagar, a fração de vinho que se encontra O conceito habitual de lagar traz geralmente à me-
sem películas. A outra parte é transportada para a prensa, mória a imagem de amplos lagares de pedra ou de
sendo aí extraído o restante vinho. Tal como na prensa- cimento, ideia que se encontra bastante afastada da
gem dos mostos nos vinhos brancos, na obtenção de vi- tecnologia atualmente utilizada, pelo que se torna útil
nhos de qualidade, dá-se primazia a prensas de extração a análise da sua evolução.
suave, como as pneumáticas ou as hidráulicas verticais. Lagares tradicionais – O início da utilização de la-
gares deveu-se à vantagem que estes detinham em
Decantação relação às cubas e aos tonéis (primitivamente sem
Após a prensagem, o vinho é deixado a repousar durante sistema de arrefecimento) no controlo da tempera-
24 a 48 horas para que ocorra a sedimentação das borras, tura de grandes quantidades de mosto. Os lagares
procedendo-se, após este período, ao seu transvase para proporcionavam uma maior superfície de contacto do
uma cuba limpa, cuidando de evitar o arraste das borras. mosto com o ar, permitindo manter a temperatura de
Esta operação é de grande importância, dado que a pre- fermentação de elevados volumes de mosto dentro de
sença de borras durante a reação malolática é potencia- valores moderados.
dora de aromas desagradáveis. No entanto, estes lagares não possibilitavam um con-
trolo seguro das condições de fermentação e tinham
Estágio ainda associados grandes problemas de higiene (por
O estágio dos vinhos tintos pode realizar-se em cuba ou exemplo, devido à porosidade do cimento, que servia
em madeira (geralmente barricas), consoante o estilo de de reduto a bactérias e a maus aromas), o que condu-
vinho que se pretende. No estágio em madeira, o vinho zia a grandes oscilações na qualidade dos vinhos as-
é transferido normalmente logo após a decantação, ocor- sim produzidos. Estes factos, aliados ao grande custo
rendo a reação malolática já nas barricas. de mão-de-obra que esta forma de vinificação exigia,
levaram a que fossem substituídos quase na sua tota-
fermentaçãO MALOLÁTICA lidade por cubas de inox.
Também conhecida por reação malolática, pode ocor- Lagares modernos – A tecnologia associada à fer-
rer de forma espontânea ou por inoculação. Esta ope- mentação em lagares encontra-se atualmente profun-
ração tem por objetivo a suavização dos vinhos, não damente modernizada.
só através da perda da quantidade de ácidos totais No que respeita à arquitetura dos lagares, verifica-
que provoca, mas também pela transformação do -se uma diminuição, em comparação com os lagares
ácido málico em ácido lático, mais suave ao nosso tradicionais, da superfície de contacto do mosto com
sistema sensorial. o ar, diminuindo assim os riscos de oxidação. Existe,
A nível aromático, a reação malolática promove o apa- também, uma maior preocupação, durante o desenho
recimento de novos aromas, bem como a diminuição dos lagares, com a facilidade de escoamento do vinho
dos aromas herbáceos. e com a inexistência de locais de difícil arejamento
do mosto, o que diminui o risco do aparecimento de
aromas de redução. Também os materiais para a sua
Trasfega / Loteamento construção são outros, utilizando-se atualmente ape-
O propósito da trasfega nos vinhos tintos é semelhante ao nas materiais inertes e não porosos, como o inox ou
dos vinhos brancos – procura da eliminação do máximo de os revestimentos de resina de epóxido.
borras, dado que na maioria dos vinhos tintos não se rea-
Para o controlo da temperatura, os lagares modernos
liza filtragem, especialmente naqueles destinados a longos
são geralmente equipados com sistemas integrados de
envelhecimentos em garrafa.
arrefecimento, semelhantes aos utilizados nas cubas
Para a realização do loteamento, procede-se à prova dos de inox.
vinhos e à realização dos lotes, decidindo as proporções
79
vinhos licorosos
2 anos Vintage
4a6
| vinho do porto LBV
anos
mínimo Data de
Embora existam várias teorias acerca da sua 7 anos colheita
descoberta, a mais aceite defende que o Vi-
nho do Porto surgiu por acaso, fruto de uma Lotação
aguardentação mais forte aplicada a um lote
de vinho que se encontrava ainda com um teor
10 anos
de açúcar residual (não fermentado) bastante 20 anos Branco
elevado. Ainda que existam vários géneros de 30 anos Tawny
Vinho do Porto, com características específicas, + 40 anos
a sua vinificação encerra uma matriz comum.
80
vinificação de vinho do porto
Fermentação Prensagem
A fermentação dos Vinhos do Porto é realizada em cubas O facto de existir um elevado teor de álcool nestes vinhos
de inox ou lagares. permite, durante a prensagem, a extração de uma quanti-
dade significativa de cor e taninos. No entanto, esta ope-
ração exige uma monitorização atenta para que não se
REMONTAGEM
exerça uma prensagem demasiado forte, propiciadora da
Durante o processo de fermentação são realizadas fre- extração de aromas indesejados das grainhas.
quentes remontagens (cuba) ou pisas (lagar), devido à
necessidade de extensas extrações peliculares que enri-
queçam aromaticamente o vinho e lhe equilibrem, com
Decantação
taninos, a doçura e o teor alcoólico. Depois de separado das massas, o vinho fica em repouso
durante 24 a 48 horas para que as partículas em suspen-
são se depositem no fundo da cuba, procedendo-se de
Aguardentação
seguida à sua decantação para cubas, barricas ou tonéis,
A aguardentação, com vista à cessação da fermentação de acordo com o estágio pretendido.
e ao enriquecimento (benefício ou fortificação) do vinho
em álcool, é realizada com aguardente vínica, de teor al-
coólico entre 76 e 78% em volume. A altura da sua apli-
Estágio
cação é medida com um densímetro de grau Baumé. O tipo e o tempo de estágio são específicos de cada estilo
de Vinho do Porto, influenciando, a par com o grau de
Valores doçura, as suas características organoléticas, pelo que é
Grau
Classe de de massa Açúcares
Baumé imperativo o estudo caso a caso.
doçura volúmica (g/l)
(ºBe)
(g/cm3) a 20 ºC No entanto, cada produtor apenas é autorizado a colocar
no mercado os seus vinhos após três anos o ter iniciado
Extra-seco < 0,9980 0,0 < 40
a produção de Vinho do Porto e a vender um terço da
0,9980 sua produção, garantindo-se assim que todo o Vinho do
Seco 0,0 a 1,3 40 a 65
a 1,0079 Porto comercializado tem uma idade média superior a
1,0080 três anos. Todos os lotes de Vinho do Porto são ainda
Meio-seco 1,4 a 2,7 65 a 90
a 1,0179 submetidos à câmara de provadores do IVDP – Instituto
1,0180 dos Vinhos do Douro e Porto, antes da sua colocação no
Doce 2,8 a 5,0 90 a 130
a 1,0339 mercado, a fim de ser validado se possuem as caracterís-
ticas inerentes ao estilo que procuram ostentar.
Muito doce > 1,0340 > 5,0 > 130
81
| moscatéis
Lotação
82
vinificação de moscatel
83
RECEÇÃO
| vinho da madeira E DESENGACE
ESTÁGIO
Estufagem Canteiro
LOTEAMENTO
84
vinificação de vinho da madeira
Receção e desengace Classe Casta Grau Baumé (ºBe) Açúcar residual (g/l)
Ao chegarem à adega as uvas são mantidas separadas por Extra-seco Sercial 0,0 a 0,5 < 49,1
castas, de forma a ser possível conduzir a sua vinificação
Seco Sercial 0,5 a 1,5 49,1 a 64,8
de acordo com as especificidades de cada casta.
De modo a separar as uvas por gamas de qualidade e a Meio-seco Verdelho 1,5 a 2,5 64,8 a 80,4
realizar lotes equilibrados, tanto do ponto de vista eno- Meio-doce Boal 2,5 a 3,5 80,4 a 96,1
lógico como sensorial, procede-se à avaliação do estado Doce Malvasia 3,5 a 6,2 > 96,1
fitossanitário das uvas, bem como à quantificação da sua
Grau de doçura de acordo com as castas utilizadas.
concentração de açúcares e ácidos, e à avaliação da sua
riqueza em aromas e taninos. A concentração de açúca- remontagem
res é ainda importante para a determinação da altura e Durante a fermentação alcoólica com massas realizam-se
da quantidade de aguardente a administrar, de forma a
remontagens de forma a enriquecer o vinho em compos-
obter no vinho final a doçura e teor alcoólico pretendido.
tos peliculares (aromas e estruturas). Após a adição de
Na vinificação dos Vinhos da Madeira as uvas são quase
álcool vínico procede-se a uma remontagem de forma a
sempre desengaçadas, especialmente quando se preten-
garantir a sua correta homogeneização.
de realizar macerações peliculares pré-fermentativas ou a
fermentação com as massas. Deste modo, diminui-se o Estágio
risco da presença de aromas herbáceos no vinho. De forma a recriar nas ilhas as condições idênticas às dos
Prensagem navios das rotas dos trópicos foram aperfeiçoados dois
métodos de maturação para os Vinhos da Madeira: o mé-
A prensagem é realizada antes (bica aberta) ou após a
todo de Estufagem e o método de Canteiro.
fermentação alcoólica (curtimenta), consoante se preten-
de que esta seja realizada sem ou com a presença das Estufagem – Este método, hoje em dia usado nas gamas
massas. Geralmente, opta-se pela utilização de prensas que até 5 anos, consiste na elevação artificial da temperatura
permitam prensagem suaves, salvaguardando que não do vinho de forma a promover a aceleração da sua evo-
ocorra extração de aromas desagradáveis das grainhas. lução. Tradicionalmente realizado em armazéns aquecidos
com recurso a ar quente, é hoje realizado em cubas de inox
Decantação
equipadas com sistemas de circulação de água quente, que
Efetuada ao mosto ou ao vinho, tem por objetivo a elimi- permitem um aquecimento mais homogéneo do vinho e
nação das borras mais grosseiras, de forma a diminuir o um controlo superior das temperaturas, que por lei não po-
risco de aparecimento de aromas desagradáveis. Este pro- dem superar os 50 ºC. Este processo decorre durante um
cesso é normalmente realizado com recurso à decantação período mínimo obrigatório de 3 meses, a partir do qual o
estática, na qual o vinho é deixado em repouso 24 a 48 vinho pode persistir na cuba à temperatura ambiente ou
horas, para que as borras sedimentem, sendo de seguida ser transferido para cascos de madeira para um estágio
trasfegado para outra cuba. mínimo de 12 meses. Após a conclusão da sua evolução
aguardentação são realizados os lotes e efetuado o engarrafamento.
De acordo com o teor de álcool provável inicial (concen- Canteiro – Reservado para as gamas de vinhos de qualidade
tração de açúcares das uvas) e o grau alcoólico e de doçura superior, neste método as barricas de vinho são colocadas
finais pretendidos para o vinho, determina-se a quantida- inicialmente nos andares superiores dos armazéns, junto aos
de de aguardente e o momento da fermentação em que travejamentos (canteiros) do telhado, onde o calor do sol
se procede à sua aplicação. se faz sentir de forma mais intensa. Deste modo, potencia-
De uma forma geral, os Vinhos da Madeira devem apre- -se uma forte extração de aromas e taninos da madeira.
sentar um teor alcólico adquirido compreendido entre 17 Com o decurso da maturação, as barricas vão sendo trans-
e 22% por volume e uma concentração de açúcares re- feridas para os andares inferiores, onde as temperaturas
sidual inferior a 150 g/l. Nos vinhos monovarietais, como se revelam mais baixas. Com a madeira menos rica em
se pode verificar na tabela seguinte, o seu grau de doçura aromas e taninos, procura-se nesta fase que a maturação
final é em função da casta que lhe dá origem. se realize de forma mais lenta. Atualmente, encontra-se es-
No que respeita à natureza do álcool utilizado, nos Vinhos tabelecido por lei para os vinhos estagiados pelo "método
da Madeira procura-se que o processo de aguardentação de Canteiro", pelo menos 36 meses entre a alcoolização e
não induza uma diluição muito acentuada do vinho, pelo o engarrafamento. O vinho deve permanecer no mínimo 2
que se utiliza álcool vínico de 96% (mínimo). anos em madeira.
85
vinhos gaseificados
86
vinificação de vinho espumante
– método CHARMAT e método contínuo
Método Contínuo
Este processo é de utilização mais recente em Portugal. A
refrigeração
fermentação vai-se operando na passagem entre os vários Após a segunda fermentação o vinho é filtrado e centri-
tanques de aço inox. Neste processo são, por duas vezes, fugado, passando para cubas de refrigeração onde irá
adicionadas leveduras ao vinho. maturar.
A principal diferença entre o "Método Charmat" e o "Mé-
todo Contínuo" reside no facto de neste último, e con- maturação
forme o seu nome indica, as cubas estarem ligadas entre O vinho vai então para repouso e maturação a uma tem-
si com entrada e saída contínua de vinho. peratura baixa.
junção engarrafamento
Concluída a fase de receção dos diferentes vinhos, proce- No final destas etapas o vinho está pronto para ser engar-
de-se à sua estabilização, tratamento e filtragem. rafado sob pressão.
87
O "Método Clássico", também conhecido por "Método
vinificação Champanhês", é originário da região de Champagne, no
de vinho espumante nordeste de França, onde é utilizado na elaboração do
vinho espumante desde finais do século XVII.
– método clássico
A vinificação de um vinho espumante produzido por este
(champanhês) método inicia-se com a elaboração de um vinho de base.
Estes vinhos são normalmente realizados de acordo com
os métodos tradicionais utilizados para cada género de
vinho.
Licor de
tirage
engarrafamento E ADIÇÃO DE LICOR DE tirage
Concluída a vinificação, o vinho é engarrafado e é-lhe adi-
cionado o licor de tirage (vinho, leveduras e açúcares fer-
mentescíveis). Nesta operação, a concentração de açúca-
res tem de ser minuciosamente quantificada, pois é dela
que depende a extensão da segunda fermentação, e,
consequentemente, a quantidade de bolha e teor alcoóli-
co final do espumante. Por lei, o licor de tirage não pode
induzir uma subida de teor alcoólico superior a 1,5% do
volume.
As garrafas utilizadas na elaboração de espumantes são
fabricadas para resistirem à elevada pressão de anidrido
carbónico gerado durante a segunda fermentação alco-
ólica. Estas, depois de atestadas, são hermeticamente fe-
chadas com rolhas de cortiça ou obturadores de plástico e
reforçadas com muselets ou cápsulas de metal, de forma
a resistirem ao aumento de pressão.
3
2 segunda fermentação
Concluído o processo de engarrafamento, as garrafas
1 são imediatamente transportadas para a cave e acondi-
cionadas na posição horizontal, para que as leveduras
tenham um maior contacto com o vinho e se promova
eficientemente a sua colonização. De forma a evitar que
a segunda fermentação se inicie precocemente, a cave
deve possuir uma temperatura controlada (entre os 11 e
os 15º C), garantindo-se assim condições para que o vi-
Licor de nho venha a ter uma bolha fina, bem como uma correta
expedição evolução aromática e gustativa.
Este facto, aliado às condições inerentes ao vinho se en-
contrar em garrafa (menor disponibilidade de oxigénio,
menor capacidade das leveduras contactarem com o vi-
nho, etc.), conduz a que esta fermentação seja bastante
mais lenta do que a que se dá na cuba do vinho base,
para que se possa obter um espumante de qualidade.
O fenómeno da segunda fermentação alcoólica dá ori-
gem ao aparecimento de algum sedimento, o qual per-
manece no vinho durante o seu estágio. O estágio míni-
mo para que um vinho seja considerado de qualidade é,
normalmente, de nove meses. Contudo, existem designa-
88
ções de qualidade próprias, de acordo com a duração do alizado colocando as garrafas com o gargalo dentro de
estágio, nomeadamente: um banho de salmoura. Atualmente, existem sistemas de
refrigeração próprios, que permitem uma maior rapidez.
Qual. Tipo Tempo de estágio
Após a imobilização das borras, a garrafa é aberta, as-
entre sistindo-se à saída imediata do cilindro de gelo, forçado
I Reserva
12 e 24 meses pelo gás do vinho.
Super-reserva entre
II
ou Extra-reserva 24 e 36 meses Licor de Expedição
Velha-reserva superior Com o retirar da rolha provisória e a eliminação dos sedi-
III
ou Grande-reserva a 36 meses mentos ocorre também a perda de uma pequena quan-
Nota: Todas estas designações apenas podem ser utilizadas em vinhos tidade de vinho. Esse espaço vazio que fica na garrafa é
espumantes com indicação geográfica e VEQPRD. compensado com a adição do licor de expedição (vinho e
açúcar). Da concentração de açúcar existente neste licor
os vinhos espumantes classificam-se em:
REMuage
No decorrer da segunda fermentação e do estágio com Concentração
Qual. Tipo de espumante
de açúcares
as borras, as garrafas são colocadas em cavaletes próprios
(pupitres). Como referido anteriormente, inicialmente na I Bruto Natural* inferior a 3 g/litro
posição horizontal, sendo com o decorrer do tempo incli-
II Extra-Bruto entre 0 e 6 g/litro
nadas, para que as borras se depositem junto do gargalo.
Aqui permanecem dois meses, onde são sucessivamente III Bruto inferior a 12 g/litro
rodadas cerca de um quarto de volta e gradualmente pas-
IV Extra-Seco entre 12 e 17 g/litro
sam à posição vertical. Este trabalho manual diário tem
como objetivo fazer com que os sedimentos se despren-
V Seco entre 17 e 32 g/litro
dam das paredes da garrafa e se precipitem para a rolha.
Do sucesso deste trabalho depende a limpidez do espu- VI Meio-Seco entre 32 e 50 g/litro
mante. No final deste período as garrafas estarão numa
posição praticamente vertical, ou seja, "em pontas", e os VII Doce superior a 50 g/litro
sedimentos estarão depositados sobre a rolha. * Esta designação apenas pode ser utilizada quando não se procedeu à
Caso as garrafas se encontrem em "giropaletes", a remu- adição de açúcar após a segunda fermentação.
89
vinhos DE COLHEITA
TARDIA
90
vinificação de vinhos de colheita tardia
sobrematuração Fermentação
A sobrematuração é o estado de amadurecimento das A fermentação dos vinhos de colheita tardia é realizada
uvas em que a maturação foi ultrapassada e que caracte- em cuba ou em barrica, de acordo com o estilo de vinho
riza-se por um elevado grau de desidratação das uvas, de- que se pretende. Todavia, é sempre importante que se dis-
vido à cessação das trocas entre os bagos e a videira. Este ponha de um sistema de controlo de temperaturas eficaz,
facto, conduz ao aumento dos teores de açúcares e áci- pois estes vinhos têm de ser fermentados a temperaturas
dos presentes na polpa, o que se traduz na obtenção de relativamente baixas (entre os 12 e 16 ºC), de modo a sal-
mostos muito concentrados. Constata-se, também, um vaguardar a preservação da sua riqueza aromática.
aumento da relação película/polpa e consequentemente Trata-se de uma fermentação parcial, uma vez que se pre-
uma maior concentração de aromas e taninos. No entan- tende que estes vinhos apresentem no final uma concen-
to, dado o avançado estado de maturação das uvas, os tração de açúcares residuais ainda elevada. Impõe-se, tam-
taninos apresentam uma adstringência muito suave, dan- bém, a utilização de leveduras selecionadas, que não só
do origem a vinhos mais untuosos do que adstringentes. consigam ser eficazes a baixas temperaturas, como, acima
No que respeita à forma de condução, a sobrematura- de tudo, sejam resistentes a elevadas concentrações de ál-
ção pode ser realizada por sobrematuração simples das cool, dado que é frequente estes vinhos possuírem teores
uvas ou por auxílio do fungo Botrytis cinerea ("podridão alcoólicos bastante elevados (10 a 16% em volume), alcan-
nobre"). O modo como é efetuada a sobrematuração in- çados por fermentação natural.
fluencia bastante o perfil organolético dos vinhos. Nos vinhos fermentados em barricas, é também frequente
o recurso a bâtonnage – "agitação" do vinho através de
Receção e desengace
uma vara, para trazer à superfície as borras que se de-
Antes de se iniciar a vinificação propriamente dita, é mui- positam no fundo das barricas – de forma não apenas a
tas vezes necessário, quer nos vinhos cuja sobrematura- enriquecer a sua complexidade aromática e a sua untuosi-
ção ocorreu na vinha, quer naqueles em que a sobrema- dade, como também a facilitar a colonização do mosto pe-
turação se processou na adega, efetuar uma escolha para las leveduras. As baixas temperaturas e os elevados teores
eliminar folhas, gavinhas e bagos podres. de álcool dificultam a atividade das leveduras, conduzindo
Na vinificação dos vinhos de colheita tardia, é frequente o a que a fermentação demore muitas vezes mais de um
recurso ao desengaçador/esmagador, uma vez que não só mês. A cessação da atividade das leveduras (fermentação)
é comum a realização de macerações pré-fermentativas, é normalmente realizada por diminuição da temperatura e
em que a presença do engaço poderia conduzir ao apa- adição de anidrido sulfuroso.
recimento de aromas indesejados (herbáceos), como tam- Nos vinhos de colheita tardia, é frequente o recurso a está-
bém o esmagamento dos bagos facilita a sua prensagem. gios em barrica (geralmente de carvalho com tostas ligei-
ras), de modo a enriquecê-los em aromas e taninos, impri-
Prensagem mindo aromas suaves, como baunilha e notas balsâmicas.
A prensagem é realizada de forma suave para que se evite
a extração de aromas desagradáveis das grainhas, uma Trasfega
vez que o bouquet destes vinhos é composto especial- Após a fermentação ou o estágio, é importante deixar que
mente por aromas primários, o que o torna particular- as borras sedimentem, procedendo de seguida à trasfega
mente sensível a estes aromas, dado que facilmente se do vinho. Esta operação é especialmente importante nos vi-
tornam evidentes. nhos de colheita tardia em que se opta por não filtrar, para
que sejam eliminadas as leveduras, evitando assim que a fer-
Decantação
mentação recomece indesejavelmente, uma vez que o vi-
A sobrematuração conduz a que as películas das uvas se nho ainda possui uma elevada concentração de açúcares.
apresentem muito frágeis, pelo que, após a prensagem, é
Os processos de estabilização dos vinhos de colheita tar-
vulgar a presença de uma grande quantidade de suspen-
dia têm por principal objetivo a sua estabilização bioló-
sões (borras), tornando-se necessária a realização de uma
gica. Deste modo, procede-se geralmente à filtração dos
decantação. Desta forma, o mosto é deixado em repouso
vinhos, de forma a garantir a eliminação de leveduras.
durante 24 a 48 horas para que as suspensões sedimen-
tem, efetuando-se de seguida a sua trasfega.
91
92
06
Maturação,
envelhecimento e
acondicionamento
do vinho
Pode dizer-se que a elaboração do vinho é um processo que nunca acaba. Que, por se
tratar de um produto vivo, continua a evoluir até ser consumido. Por isso, a forma como
é acondicionado é de extrema importância.
Efetivamente, o recipiente escolhido deve permitir que o vinho envelheça de forma ade-
quada e se conserve até ser consumido. Para tal, é preciso que esse recipiente apresente
determinadas características.
93
o estágio
94
Também o tempo de estágio é aqui um fator importante. Em estágios curtos a extração
de taninos (antioxiantes) é maior no início do estágio e em barris de menor dimensão.
Clarificação espontânea – As partículas que se encontram em suspensão no vinho
aglutinam-se e acabam por se depositar no fundo do barril. O gás carbónico (pequenas
bolhas) desaparece e verifica-se a precipitação do ácido tartárico (um dos ácidos
orgânicos presentes nas uvas). Desta forma, o vinho adquire Iimpidez e estabilidade.
Proteção – Ao passarem para o vinho, os taninos da madeira conferem-lhe estrutura
e protegem-no, neutralizando o excesso de oxigénio. As quantidades de taninos dis-
solvidas durante a maturação não são desprezáveis. Estima-se que, quando a madeira
é nova, sejam cedidos ao vinho, durante o primeiro ano de estágio, cerca de 200 mi-
ligramas de taninos por litro.
Vinho mais macio – Durante o estágio em madeira, o bouquet e o sabor do vinho
sofrem variações significativas. O aroma a vinho novo vai desaparecendo, o bouquet
torna-se mais intenso, mais fino e agradável. Ao fim de dois ou três anos em casco,
o vinho que se obtém pouco tem a ver com o inicial, por vezes tosco e adstringente.
Alguns açúcares da madeira dissolvem-se lentamente no vinho, tornando-o mais ma-
cio, gordo e adocicado.
Aumento da complexidade aromática – O vinho extrai aromas da madeira ao lon-
go do estágio. Formam-se também aromas novos, potenciados por substâncias dadas
pelas madeira.
| e na garrafa?
O envelhecimento em garrafa só faz sentido se o vinho tiver suficiente estrutura – que
lhe é conferida essencialmente pelos taninos das uvas ou do estágio em madeira. A
este respeito, existem ainda algumas ideias feitas que nem sempre são corretas. Por
vezes, atribui-se o envelhecimento em garrafa ao oxigénio que passaria para o vinho
através da rolha – a cortiça deixaria o vinho respirar. Ora, a quantidade de oxigénio que
penetra nas garrafas deitadas é mínima. Na verdade, contrariamente ao que acontece
na maturação em cascos, o envelhecimento em garrafa não se faz por oxidação lenta,
mas sem oxigénio, um processo a que os químicos chamam redução. Assim, os vinhos
não envelhecem nas garrafas graças ao oxigénio, mas devido à sua ausência. A prová-
-lo estão factos como o de os vinhos se estragarem quando as rolhas não estão em
boas condições e deixam passar o ar. Ou, o de os vinhos velhos perderem qualidades
quando deixados numa garrafa aberta durante algumas horas.
95
QUE MADEIRA?
A estrutura celular do carvalho é ideal para o fabrico de barris e o seu contributo
aromático é dos que melhor se harmoniza com os vinhos de qualidade. Mas
nem todo o carvalho serve para o fabrico de barricas. Existem mais de 250
tipos de carvalho, mas poucos são escolhidos para fabricar estes recipientes. Na
maturação dos vinhos, utiliza-se, geralmente, carvalho francês ou americano.
Idealmente, devem ser utilizadas árvores com cerca de 30 metros de altura e
com 180 a 230 anos de idade (o carvalho pode viver mais de 1000 anos!).
A par com a espécie botânica e a origem geográfica, a obtenção de madeira de
qualidade para tanoaria tem de ter em consideração a escolha de:
Árvores bem criadas – Para que a sua madeira se apresente bem lenhificada
e, por isso, rica em aromas.
Madeira elástica, de cor e fibras uniformes e sem veios ou nós – Para
resistir ao processo de fabrico (vergadura e queima).
Bom estado sanitário – Para que resista ao processo de fabrico e para que não
contribua com aromas negativos.
Após o corte, a madeira chega à tanoaria em toros, procedendo-se em seguida
ao seu fendimento. A preferência pelo fendimento em detrimento da serragem
deve-se ao facto de este processo respeitar fielmente o veio da madeira, garan-
tindo-se assim a estanquicidade das aduelas, o que, no caso da serragem,
embora realizada longitudinalmente ao veio, é impossível garantir na íntegra,
especialmente em madeira de grão fino.
Após o fendimento, as aduelas são postas a secar naturalmente, durante dois a
cinco anos, consoante as madeiras.
Este período permite não só a secagem, como também a maturação da
madeira, essencial à melhoria das suas propriedades organoléticas. A maturação
é responsável pela eliminação de grande parte dos taninos de adstringência de-
sagradável. Também durante este processo, a água e os ácidos orgânicos dis-
solvidos tornam disponíveis aldeídos fenólicos e fenóis voláteis, entre os quais
os aromas de eugénia e de baunilha, contribuindo assim para o aumento da
complexidade aromática da madeira.
Processo
Processo de fendimento de serragem
96
o fabrico da barrica
Pelo processo de vergadura as aduelas são vergadas recorrendo a uma fo-
gueira de lenha de carvalho no seu interior, para não serem contaminadas
por outros aromas, e humedecimentos superficiais no interior e no exterior. A
sua forma é imposta e mantida por aros metálicos, que dão, desta maneira, o
formato curvo típico das barricas.
A queima é efetuada tradicionalmente também com o auxílio de uma foguei-
ra de lenha de carvalho no interior da barrica e tem por objetivo o melhora-
mento sensorial da madeira, nomeadamente, anulando os restantes taninos
de adstringência desagradável e originando compostos aromaticamente in-
teressantes, assim como tornando-os disponíveis para serem extraíveis pelo
vinho durante o estágio. Para que se obtenham estes efeitos, a queima deve
ser lenta, profunda, regular e sem fissuras. O tempo e a temperatura variam
consoante os compostos da madeira que se procuram expressar.
Marca
Tipo de Madeira
Origem da Madeira
Tosta
Capacidade
97
A garrafa
98
A cor do vidro também não obedece apenas a questões estéticas, pois é fundamental
para proteger o vinho da ação da luz. Assim, é habitual que se utilizem tons mais escuros
para vinhos destinados a envelhecerem em garrafa, enquanto os claros ou mesmo
incolores, se destinam aos vinhos brancos jovens. Quanto às cores propriamente ditas,
embora predomine o verde, também há garrafas de cor âmbar, azul e até negras.
Capacidades das garrafas e suas designações (de 0,25 litros a15 litros)
anel ou merisa
fundo corpo ou bojo ombros
gargalo boca
99
A ROLHA
100
rotulagem
O rótulo dos vinhos deve fornecer ao consumidor e ao profissional elementos que lhes
permitam conhecer as características do que está a comprar, a servir ou a recomendar,
bem como outras informações úteis (de onde vem, como conservar, qual a melhor
temperatura de serviço, etc.).
Em conjunto com a cápsula, cobertura que costuma envolver a rolha e parte do gargalo
da garrafa, o rótulo forma o que se designa por “toilette da garrafa”. No entanto, ao
contrário do que por vezes se pensa, a cápsula não tem qualquer efeito, positivo ou
negativo, sobre a qualidade do vinho, tendo uma função meramente estética.
| indicações obrigatórias
Como se pode verificar na imagem da página 104, existem uma série de indicações
obrigatórias que um rótulo de vinho deve conter:
• Denominação de venda
• Marca
• Volume nominal
• Título alcoométrico volúmico adquirido (teor alcoólico)
• Sulfitos
• Indicação de alergénicos
• Número de lote
• Nome do produtor, engarrafador ou vendedor, bem como o município (ou parte
deste) e o país onde se encontra a sua sede.
Mas, relativamente a estas indicações, há aIguns aspetos a ter em conta:
• No caso dos vinhos de mesa, a denominação de venda deve incluir a própria ex-
pressão Vinho de Mesa e a indicação Portugal (se as uvas forem aqui produzidas e
vinificadas). Os vinhos regionais devem ter a menção Vinho Regional (ou Vinho de
Mesa), Indicação Geográfica ou, simplesmente, IG, e indicar a zona de onde provêm
(Minho, por exemplo).
101
Vinho Regional (ou IG ou IGP) – Portugal é dividido em 14 zonas de Vinho Re-
gional. Os vinhos provenientes dessas zonas têm sido rotulados no nosso país como
Vinho Regional (VR). Atualmente, a União Europeia introduziu novos títulos para
esta categoria de vinho: IG, que significa “Indicação Geográfica” ou IGP – “Indica-
ção Geográfica Protegida”. As regras para fazer Vinho Regional são muito menos
restritas do que as que regem os vinhos DOC. No entanto, muitos vinhos portugue-
ses de prestígio são classificados como Vinho Regional. Isto é frequente porque o
produtor tem optado por utilizar variedades de uvas que não são permitidas para a
DOC local ou, pelo menos, não nessas combinações ou proporções particulares ou
por uma questão territorial. Os regulamentos são mais flexíveis para Vinho Regional
permitindo aos produtores uma maior margem para a individualidade, embora estes
vinhos tenham que cumprir certos requisitos, tais como: a variedade de uvas, o teor
mínimo de álcool, etc.
Vinho (antiga designação do Vinho de Mesa) – É a designação para os vinhos
mais simples de Portugal, sujeitos a quase nenhuma das regras estabelecidas para a
DOC ou IGP. No entanto, é de notar que alguns vinhos realmente impressionantes
são etiquetados simplesmente como Vinho. Estes, refletem apenas uma estratégia
de alguns produtores que escolheram trabalhar fora das regras oficiais e que deli-
beradamente classificam o seu vinho como Vinho. Atualmente, já é possível nesta
categoria ver referência no rótulo da indicação do ano ou da casta.
CVR (Comissão Vitivinícola Regional) – Cada região é supervisionada por uma
Comissão certificadora das uvas e do vinho de carácter regional (CVR). Por um lado,
estas organizações existem para representar os interesses do comércio vinícola, por
outro lidam com a supervisão diária dos seus associados no que respeita ao cumpri-
mento das regras de produção e certificação da qualidade dos vinhos dessa região.
Uma CVR assegura e mantem o carácter individual, cultura e tradição da região e
dos seus vinhos. Dentro de cada região, esta é uma autoridade que decide quais as
castas típicas regionais e a classificação a dar aos vinhos, bem como a responsável
pela concessão de licenças, como é exemplo a regulamentação da utilização de
rega.
• A indicação da marca é obrigatória e pode ser nominativa ou figurativa.
Os chamados designativos de qualidade podem incluir expressões como Colheita
Selecionada, Reserva ou Garrafeira, entre outras. No entanto, ao contrário do que o
consumidor é levado a pensar, estas expressões nem sempre são uma real garantia
de qualidade.
Devem constar para os vinhos regionais e para os vinhos DOC/DOP:
• ano de colheita
• nome de uma ou mais castas
• distinção, medalha ou concurso
• modo de obtenção ou método de elaboração do vinho
• designativo de qualidade
• nome da empresa
• indicação de que o engarrafamento foi efetuado numa determinada exploração
vitícola, num agrupamento de explorações vitícolas ou numa empresa da região
de produção (ou, se se tratar de um VQPRD, na sua proximidade).
102
Só para os vinhos DOC/DOP:
• indicação de uma unidade geográfica menor do que a região determinada (por
exemplo, uma sub-região)
• indicação de engarrafamento numa região determinada.
Para todos os vinhos:
Informações relativas à forma de guardar e servir o vinho, que embora não sejam
obrigatórias, são bastante úteis para o consumidor. Alguns rótulos incluem informa-
ções como a temperatura ideal de serviço (infelizmente nem sempre a correta!), os
pratos mais adequados para acompanhar o vinho em causa ou a necessidade de se
proceder à decantação.
• O volume nominal é a quantidade líquida que é suposto a embalagem conter, ex-
presso em litros, centilitros ou mililitros. As garrafas standard têm um volume nominal
de 75 cI (ou 750 ml).
Nota: algumas garrafas podem conter, na mesma zona onde aparece a indicação
e
do volume, um pequeno , cujas medidas obedecem a normas precisas. Trata-se
de uma marcação de conformidade obrigatória para diversos produtos comercializa-
dos nos países da Comunidade Europeia, que é de carácter facultativo. Este símbolo
garante ao consumidor que a embalagem onde o vinho vem acondicionado está de
acordo com algumas disposições comunitárias, ou seja, foi submetida ao controlo
metrológico da quantidade ou capacidade nominal.
• O título alcoométrico volúmico adquirido significa o mesmo que teor alcoólico e re-
fere-se à quantidade de álcool etílico contido no vinho em causa. A indicação deste
valor na garrafa deve ser feita por unidade ou meia unidade de percentagem de
volume (por exemplo, 11,5% voI., e não 11,6% vol.). Além disso, o teor alcoólico in-
dicado não deve ser inferior ou superior, em mais de 0,5% vol., ao valor que venha
a ser determinado por eventuais análises. No caso dos VQPRD guardados em garrafa
durante mais de 3 anos, essa tolerância é de 0,8% voI. O número correspondente ao
teor alcoólico deve ser sempre seguido da expressão % vol.
• O número de lote, que deve ser precedido da letra maiúscula “L”, permite identi-
ficar o vinho e a sua origem (importante para garantir a rastreabilidade do produto).
Atenção: Todas as menções obrigatórias, com exceção do número de lote e da pre-
sença de dióxido de enxofre ou sulfitos, devem aparecer no mesmo campo visual e
em língua portuguesa.
• A lei geral da rotulagem (com exceção dos vinhos Iicorosos, espumantes e frisantes)
refere ainda que todos os géneros alimentícios embalados devem conter a lista de
ingredientes utilizados, incluindo os aditivos. No caso dos vinhos, o consumidor não
tem, em muitos casos, acesso a essa informação, já que apenas é obrigatória a indi-
cação da presença do dióxido de enxofre e dos sulfitos, quando presentes em con-
centrações superiores a 10 miligramas por litro, expressos em SO2. Esta indicação
deve ser feita através da expressão Contém..., seguida dos termos sulfitos, anidrido
sulfuroso ou dióxido de enxofre. No entanto, é de salientar que esta obrigatoriedade
só teve efeito a partir de 25 de Novembro de 2005, pelo que poderá encontrar ainda
vinhos que tenham sido rotulados antes dessa data e não ostentem essa menção ou
outras até, como por exemplo, viticultor, colhido por, negociante, distribuído por...),
tipo de vinho (seco, meio-seco, meio-doce ou doce) ou cor (branco, tinto ou rosado).
103
Indicações obrigatórias:
Denominação de venda
É uma menção obrigatória. No caso dos VQPRD
MONTE
DOS
(Vinho de Qualidade Produzido em Região De-
terminada), é constituída pela região de onde
provém o vinho e pelas siglas DO, DOC ou IPR ou
BAGOS
pelas expressões equivalentes, por extenso (De-
nominação de Origem, Denominação de Origem
Controlada ou Indicação de Proveniência Regula-
mentada, respetivamente).
Marca
Também deve constar obrigatoriamente do rótu-
lo. Pode assumir uma forma simplesmente figu-
rativa (um brasão, por exemplo).
Cor
Facultativa, mas importante. Se a iluminação for
fraca, a cor de algumas garrafas pode impedir
que o comprador perceba se o vinho é tinto ou
branco.
Ano de colheita
Não é obrigatório. Quando consta, significa que
pelo menos 85% do vinho provém de uvas colhi-
PRODUCT OF PORTUGAL
das no ano indicado.
VINHO
REGIONAL superior a 10 mg/l, expresso em SO2.
ALENTEJANO
Número de lote
Dec. Lei n.º 119/97 DE 0,5 A 1L
Indicação obrigatória, importante para a rastrea-
bilidade do vinho.
WWW.UVASEVINHOS.PT
104
a garrafeira
Outras partes deste livro tratam os inúmeros parâmetros que condicionam o perfil or-
ganolético dos vários estilos de vinhos. Nas próximas páginas deste capítulo procurar-
-se-á analisar as principais regras necessárias a uma inteligente gestão da garrafeira.
Os vinhos sofrem várias alterações à medida que envelhecem e a forma como são guar-
dados influencia, o seu desenvolvimento de forma determinante, tanto pela positiva,
como pela negativa. Após um envelhecimento mais ou menos prolongado, a cor, o
aroma e o sabor modificam-se em consequência de várias alterações que ocorrem nos
componentes do vinho, como os ácidos e os taninos.
Nem todos os vinhos são bons para guardar. Mas, seja qual for o caso, convém não
esquecer que o local e a forma como as garrafas são armazenadas são fatores deter-
minantes para assegurar uma conservação adequada e evitar surpresas na altura de
consumir o vinho.
De uma forma geral, uma garrafeira deve possuir um leque de vinhos que proporcione
permanentemente uma boa oferta de soluções para diferentes ocasiões ou iguarias,
pelo que a sua gestão passa por:
• Criar as condições necessárias para que se proporcione uma correta evolução dos
vinhos.
• Monitorizar o tempo de guarda dos vinhos para que se assegure que são tomados
no seu tempo ótimo de consumo.
• Garantir uma organização que permita facilmente atualizar o inventário da garra-
feira, bem como localizar rapidamente um vinho.
| condições de guarda
Em termos gerais, com o envelhecimento em garrafa, procura-se que o vinho aumente
a sua complexidade aromática, pela criação de novos compostos aromáticos, e/ou
avelude a sua estrutura, por suavização da adstringência dos seus taninos. Para que tal
aconteça, é essencial garantir um envelhecimento lento, por forma a que os aromas
evoluam mas não se degradem, e os taninos suavizem, mas não se anulem.
105
A forma de atingir estes objetivos passa por proporcionar que as inúmeras reações
químicas inerentes à evolução do vinho se conduzam num sentido benéfico, o que
apenas é possível através do controlo das seguintes condicionantes: temperatura, luz,
propriedades da rolha e movimentos, e vibrações.
É ainda de realçar, que tais condições, ao proporcionarem uma evolução relativamente
lenta do vinho, permitem assistir à sua mudança de forma gradual e possibilitam tam-
bém, mais facilmente, a deteção do ponto ótimo para consumo, bem como que este
se mantenha durante algum tempo.
| temperatura
A temperatura interfere com a velocidade a que se dão as reações químicas intrínsecas
à evolução do vinho na garrafa, pelo que, ao sujeitar-se um vinho a uma maturação
a temperaturas demasiado altas se promove uma aceleração do seu desenvolvimen-
to químico, traduzida numa degradação dos compostos aromáticos, ácidos, taninos e
substâncias corantes, obtendo-se vinhos apagados e/ou organoleticamente desequili-
brados.
Não obstante, a guarda de vinhos a temperaturas demasiado baixas leva à estagnação
da sua evolução, resultando num fraco desenvolvimento sensorial. Em casos extremos,
pode mesmo provocar a precipitação do ácido tartárico, alterando consequentemente
a frescura e a concordância gustativa do vinho, situação identificável pelo aparecimen-
to de cristais.
Assim, é recomendável para a guarda de vinhos brancos, em que se procura uma evo-
lução relativamente menor, uma temperatura de 10º C e, para vinhos tintos e licorosos,
de 15º C. Caso não seja possível, por motivos logísticos, ter a garrafeira com compartimen-
tos a diferentes temperaturas deve optar-se por uma temperatura intermédia de 13º C.
| luz
A luz atua quimicamente, devido à energia nela contida, como agente degradante das
qualidades do vinho. Os vinhos sujeitos a uma maturação na presença de luz revelam
normalmente uma cor demasiado evoluída em relação à que seria de esperar para a
sua idade. Nos vinhos tintos verifica-se o aparecimento precoce de notas cor de tijolo
e nos brancos, de reflexos dourados.
Embora muitas vezes as garrafas de vinho, especialmente aquelas que são destinadas
a envelhecimentos prolongados, tenham cor escura e, consequentemente, filtrem al-
guma luz, é igualmente essencial que a maturação do vinho seja efetuada num local
ao abrigo da luz.
Também ao adquirir vinhos, deve haver especial cuidado em não comprar garrafas ex-
postas em montras ou prateleiras muito iluminadas, mesmo que a loja as mantenha a
uma temperatura adequada. Um bom indicador do cuidado que se utilizou em relação
à luz na guarda de um vinho é o rótulo. Deve desconfiar-se quando as garrafas apre-
sentam rótulos com cores de impressão já desmaiadas e “comidas” pela luz.
106
| Propriedades da Rolha
O envelhecimento em garrafa é caracterizado por uma oxidação relativamente baixa
dos compostos, promovida pela pequena difusão de oxigénio realizada através da
rolha. Embora na maioria dos vinhos esta difusão não seja marcante na evolução da
sua qualidade, nos vinhos de longo envelhecimento em garrafa, como os Vinhos do
Porto Vintage, esta difusão de oxigénio apresenta-se bastante importante na sua cor-
reta maturação. No entanto, é preciso ter em atenção que os valores de difusão são
mesmo muito baixos e que, embora necessários nestes vinhos, mais são as vezes que
os vinhos são degradados por excesso de oxigénio do que por falta deste.
O excesso de oxigénio na maturação dos vinhos em garrafa encontra-se normalmente
ligado à pouca atenção prestada na conservação das rolhas. A deterioração das pro-
priedades físicas da rolha, nomeadamente o aumento da porosidade e a diminuição
da elasticidade e do volume, provoca uma diminuição da estanquicidade da garrafa,
apenas visível em casos extremos, como quando há derrame de vinho. No entanto,
antes de esta situação se verificar com tamanha extensão, o vinho encontra-se já a
sofrer profundas deteriorações na sua qualidade pela excessiva exposição ao oxigénio.
A manutenção das propriedades físicas das rolhas está dependente do seu teor de hu-
midade e da humidade relativa a que se encontra a garrafeira, pelo que são aconselha-
dos valores de humidade relativa superiores a 70%. Uma humidade relativa alta é útil
à manutenção de valores de temperatura constantes, dada a elevada inércia térmica
da água.
Para elevar os níveis de humidade relativa há várias opções, como a instalação de um
humidificador, caso se trate de uma garrafeira de grandes dimensões, a aquisição de
um frigorífico para vinhos, que colmata também o problema do controlo da tempera-
tura, ou, de forma mais simples, a colocação de uma tigela com areia molhada, menos
eficaz mas muitas vezes suficiente.
No entanto, o aumento da humidade relativa do ar nas garrafeiras tem sido alvo de
críticas por parte de alguns agentes comerciais, por potenciar a degradação dos rótu-
los devido ao bolor que se forma nos mesmos. Uma forma de evitar este inconvenien-
te é a sua pulverização com laca para cabelo ou fixador de desenhos.
Na preservação da qualidade das rolhas, é também importante guardar as garrafas
sempre deitadas, assegurando-se que ao fazê-lo, a secção da rolha que se encontra no
interior da garrafa fica completamente submersa pelo vinho. Para tal, deve inclinar-se
o gargalo ligeiramente para baixo antes de colocar a garrafa no suporte.
19
1982
82
1982
107
No entanto, tais cuidados não invalidam a deterioração de algumas rolhas com o
tempo, pelo que se torna essencial uma verificação periódica do estado das mes-
mas. A substituição de rolhas exige alguns cuidados, nomeadamente na sua escolha.
É importante garantir que apresentam boas propriedades físicas (elasticidade, ho-
mogeneidade e baixa porosidade) e certificar-se que não possuem maus aromas, como
TCA (2,4,6-Tricloroanisole, conhecido por “cheiro a rolha”).
| Movimentos e vibrações
Os vinhos, quando sujeitos a movimentos e vibrações contínuos durante o envelheci-
mento em garrafa, podem apresentar turvação e desequilíbrios organoléticos origina-
dos por extração excessiva de compostos das borras. Também durante um transporte,
um vinho que possua borra fina, pode precisar de semanas para que estas assentem e
assim recuperar as suas qualidades sensoriais.
tempo de guarda
É recorrente perguntar: "Será que este vinho se encontra apto a ser dignamente bebi-
do?". A resposta a esta questão centra-se sobretudo na dissecação das características
intrínsecas do vinho, e é a chave, não só para saber quando se torna mais proveitoso
abrir uma garrafa, como também para organizar uma garrafeira de forma inteligente,
evitando os dissabores originados por abrir uma garrafa “já passada”, em dadas altu-
ras não ter na garrafeira nenhuma garrafa apta a ser respeitosamente bebida, ou pelo
contrário, ter demasiadas garrafas prontas a serem bebidas na mesma altura.
Desta forma, o primeiro passo é necessariamente a compreensão das características do
vinho a avaliar e, através das mesmas, estimar o seu tempo total de vida e em que fase
da sua vida o vinho se encontra.
Qualidade
T3 = T2 - T1
T1 T2 Tempo
108
O tempo total de vida de um vinho depende da sua concentração em aromas, álco-
ol, ácidos e taninos. O ponto da vida em que se encontra traduz-se essencialmente
pelo grau de maturação dos seus aromas e taninos. Da correlação destes dois fatores
extrapola-se o tempo que falta para o seu ponto ótimo de consumo.
O caminho mais fiável para avaliação destas premissas é de forma irrefutável o exame
organolético e o respetivo registo, no qual deve figurar a data, a descrição sensorial
e a previsão de quando o vinho poderá estar apto para ser bebido. No entanto, este
método não só exige ter mais do que uma garrafa de cada referência, como apresenta
um custo muitas vezes elevado, pelo que se torna interessante, como alternativa, o
recurso a referências como a informação do produtor, notas de prova de revistas da
especialidade e/ou um registo próprio, em que se procura prever o momento ótimo de
consumo do vinho tendo por base os seguintes fatores:
• Ano do vinho – Um bom ano vitícola origina vinhos equilibrados e concentrados,
logo, com maior capacidade de envelhecimento.
• Idade do vinho – O número de anos após a colheita ou do fim do seu estágio em
madeira são essenciais à previsão da sua evolução.
• Castas – Castas brancas ricas em álcool e ácidos, e castas tintas ricas em álcool, áci-
dos e/ou taninos, originam vinhos com maior longevidade.
• Métodos de vinificação – Uma vinificação que premeie elevadas extrações pelicu-
lares origina vinhos ricos em aromas e taninos e, consequentemente, com uma vida
mais longa. Também o facto de ser ou não filtrado interfere com a concentração de
taninos do vinho, logo com a duração da sua vida.
• Estágio – Os estágios em madeira facultam o enriquecimento dos vinhos em aro-
mas e taninos, pelo que aumentam o seu tempo de vida. O tempo e tipo de madeira
determinam a extensão deste enriquecimento. No entanto, há que ter em conta que
em vinhos com longos estágios em madeira, como os Vinhos do Porto Colheita e
Tawny, todo o processo necessário à sua maturação se encontra completo aquando
do engarrafamento.
• Terroir – O conhecimento do potencial de enriquecimento das uvas por parte de de-
terminado terroir é um bom referencial da concentração do vinho a partir delas
realizado e, consequentemente, da sua capacidade de envelhecimento.
• Condições de envelhecimento – As condições em que foi conduzido o estágio em
garrafa de um vinho, nomeadamente no que respeita ao controlo de temperaturas
e humidade relativa da garrafeira e à forma como estava acondicionada (em pé ou
deitada), determinam a velocidade a que ocorreu o seu envelhecimento, pelo que
afere o ponto da vida em que se encontra.
Alguns autores apresentam a evolução da cor do vinho como um fator fiável do seu
grau de maturação. Esta interpretação, com origem no Norte da Europa, não pode ser
generalizada, apresentando-se pouco aplicável ao contexto português, dado que nos
países dessa zona europeia, devido às características edafoclimáticas que definem os
seus terroirs, o grau de maturação das uvas é menor, pelo que daí resultam vinhos mais
adstringentes. Também o frequente enriquecimento do vinho com estágios em madeira
relativamente extensos, reforça a sua riqueza em taninos, culminando em vinhos cujo
ponto ótimo de maturação apenas é atingido ao fim de alguns anos, quando a sua cor
já sofreu profundas alterações.
109
Contrariamente, em Portugal, onde as maturações se apresentam mais completas e
se procura obter vinhos mais ricos em aromas primários, a cor do vinho no seu ponto
ótimo de maturação pouco difere da sua cor inicial, relatando-se, no máximo, alguns
reflexos cor de palha nos vinhos brancos e uma cor granada nos tintos, impercetíveis
dentro da garrafa. A única exceção em Portugal, embora necessite de uma observação
atenta, são os Vinhos do Porto Vintage muito velhos, cuja cor vai diminuindo de
intensidade e ganhando tons dourados.
organização da garrafeira
Após a inventariação dos vinhos com base no seu tempo total de vida, estado de
evolução, previsão do tempo que ainda falta para o seu ponto ótimo de maturação e
duração deste, definem-se as seguintes classes:
• Vinhos em idade de consumo e com uma duração da altura ótima de consu-
mo curta – Por exemplo, os Vinhos Verdes e a maioria dos vinhos tranquilos não li-
corosos brancos e rosés.
• Vinhos em idade de consumo mas esta ainda dura algum tempo – Englobam-
-se nesta categoria, a maioria dos vinhos tintos com longa maturação em madeira,
dos espumantes e dos vinhos licorosos.
• Vinhos de ascensão de qualidade rápida – Encontram-se nesta gama os vinhos de
mesa tintos (novos) sem madeira.
• Vinhos de ascensão de qualidade lenta – Inclui vinhos como os Vinhos do Porto
Late Bottled Vintage não filtrados, Crusted e Vintage.
Esta classificação é evidentemente mutável, pelo que é necessária a revisão e reclas-
sificação periódica das garrafas. Contudo, de forma a não mexer constantemente nas
garrafas e a maximizar o aproveitamento do espaço da garrafeira, é aconselhável que
as alterações sejam efetuadas a nível do inventário e não por redistribuição das garrafas
por classes (físicas) na garrafeira (Figura 1).
No entanto, esta situação aliada ao facto de hoje em dia se ter muitas vezes apenas uma
garrafa de cada referência, leva a que seja difícil a identificação espacial das garrafas.
Uma forma de resolver este problema é guardar as garrafas em alvéolos individuais, re-
ferenciando-as através da criação de um sistema de identificação de posição, por exem-
plo, como o que é utilizado no jogo Batalha Naval, onde se atribui a cada coluna uma
letra e a cada linha um número, definindo-se a posição da garrafa através da letra e do
número a que corresponde a sua coluna e a sua linha, respetivamente (Figura 2).
Caso os suportes possuam lugar para duas garrafas, devem ser encostadas fundo com
fundo, de forma a saber a que ala pertencem.
110
Figura 1 – Arrumação de uma garrafeira por Figura 2 – Arrumação de uma garrafeira
compartimentação das diferentes classes de através da referenciação da linha e coluna
vinhos. em que se encontra.
A B C D E F G H I J
1
2
10
Classe 1
Classe 2
1982
Classe 3
Classe 4 B2 D3 C5
Nota: É importante ter a atenção de deixar o rótulo da garrafa virado sempre para cima, de forma a ser possível confirmar a
sua identificação sem que tenha de se interferir no repouso do vinho. Deste modo, evita-se também a deterioração do rótulo.
111
112
07
Venda e serviço
do vinho
ao cliente
A forma como se serve um vinho deve proporcionar a melhor expressão das suas caracte-
rísticas, bem como adequá-lo à ocasião ou iguaria. No entanto, infelizmente, o descuido na
sua realização é ainda frequente. E, não há coisa mais triste, que ver perder toda a riqueza
que um vinho detém, por negligência, por falta de sensibilidade para com a delicadeza da
sua natureza, a qual é proporcional ao potencial prazer que este pode oferecer.
Longe do carácter teatral muitas vezes adjacente à abertura de uma garrafa em certos
meios presumidamente conhecedores, a correta expressão das qualidades de um vinho
encontra-se verdadeiramente dependente da tomada de escolhas acertadas, nomeada-
mente em relação à temperatura, abertura da garrafa, saber se e como decantar um vinho
e selecionar um copo adequado.
113
A CARTA DE VINHOS
Não havendo uma verdade universal, considera-se como relevante uma carta de vinhos
conter as seguintes indicações:
Alguns restaurantes já possuem cartas de vinhos digitais em lugar das tradicionais im-
pressas, o que não impede que existam características básicas para cada um dos tipos.
Nas cartas tradicionais, as folhas devem estar sempre protegidas por uma capa trans-
parente ou ser utilizado um papel resistente e plastificado. Caso exista uma capa, deve
ser plastificada para permitir a sua limpeza. Este tipo de carta pode ser produzido no
estabelecimento ou num fornecedor de trabalhos gráficos.
✓ Vantagens ✗ Desvantagens
114
As cartas digitais recriam a carta de vinhos mas apresentam os conteúdos num
suporte eletrónico (tablet) e têm etapas de implementação completamente diferentes
das cartas tradicionais. Após adquirir os suportes eletrónicos é necessária a instalação
de uma aplicação própria. A partir deste momento e depois de serem introduzidos os
vinhos a comercializar e determinadas as margens de lucro, pode utilizar-se o aparelho.
✓ Vantagens ✗ Desvantagens
Vinhos nacionais
1. Bebidas aperitivas
Brancos
2. Vinhos gaseificados
Rosés
3. Vinhos comuns
Tintos
4. Vinhos licorosos (doces)
5. Bebidas digestivas
6. Sumos, refrigerantes, cervejas e águas
✓ Vantagens ✗ Desvantagens
Dificuldade em garantir a qualidade
Aumento da percentagem de lucro
do vinho depois de aberto
Melhor harmonização com os pratos Necessidade de investir
(degustação) num “vac au vin”
Maior predisposição Necessidade de extrair o oxigénio
para o consumo de vinho com uma “bomba”
115
Apresentação da CARTA DE VINHOS
A carta de vinhos deve ser apresentada fechada com a mão direita, segurando-a pelo
ângulo superior direito e entregue pelo lado direito da pessoa que vai proceder à
escolha do vinho. Nesta altura, o profissional já deve conhecer a escolha do menu feita
pelos clientes para assim poder sugerir os vinhos mais adequados para acompanhar
este ou aquele prato, caso seja solicitado.
Após a entrega da carta, o profissional deve retirar-se enquanto o cliente a consulta,
apenas permanecendo junto à mesa se tal for desejo do cliente. Em qualquer caso, a
atenção do profissional deverá ser permanente, de modo a aperceber-se com facilidade
do momento mais propício à sua intervenção, quer seja para auxiliar o cliente na sua
escolha, quer seja para aceitar o seu pedido.
116
a nota de encomenda
N.º
3
MESA N.º ______
3
Número
de série
Número
MESA N.º ______
de mesa
1 - 52 ✓
7 6 14
Data ____ /____ /____ Assinatura _____________________
N.º de 1021
_________ Data
Nos vales de bebidas e sempre que se utilize uma numeração de código, ou seja, sempre
que a cada bebida seja atribuído um número que também consta na carta de vinhos e
para o qual existirá na cave um espaço adequado ao mesmo para a sua arrumação, os
pedidos devem ser feitos pelos respetivos números, ao invés de se escrever a marca do
vinho. Este processo facilita bastante o serviço no restaurante e na cave do dia, pois o
facto de cada vinho se encontrar no cacifo respetivo e devidamente numerado, permite
que o cavista, no momento de fornecer as requisições, se diriga aos compartimentos
respetivos sem desperdício de tempo à procura nos locais errados.
Este tipo de orientação ajuda a manter os stocks de produtos em dia com mais facilida-
de, pois desta forma as faltas são detetadas atempadamente e quase que involutaria-
mente enquanto decorre o serviço.
117
temperatura
A temperatura interfere de forma decisiva nas características que o vinho revela du-
rante o exame organolético, pelo que, é essencial a sua correta adequação ao vinho
– chavões como “servir à temperatura ambiente” ou “bem fresco” são pouco objetivos,
conduzindo infelizmente a erros frequentes.
Desta forma, dependendo das características do vinho, da adequação que dele se pre-
tende e do ambiente em que é servido, é necessário definir a sua temperatura de
serviço e a sua temperatura de consumo.
| temperatura de serviço
Diminuição da temperatura
Todos os vinhos devem, preferencialmente, ser arrefecidos de forma lenta, para que se
evite um abaixamento excessivo da temperatura do vidro da garrafa e, consequente-
118
mente, a precipitação do ácido tartárico e o desequilíbrio organolético do vinho. Este
cuidado é especialmente importante nos vinhos tintos e licorosos, facilmente sujeitos
a este fenómeno. Os vinhos brancos e os espumantes, dado que são estabilizados
com recurso a baixas temperaturas, são mais resistentes a arrefecimentos rápidos.
Desta forma, aconselha-se sempre o arrefecimento num frigorífico, uma vez que o ar
não é grande condutor térmico, pelo que se proporcionará um arrefecimento lento.
Quanto mais próxima a temperatura do frigorífico se encontrar da temperatura de ser-
viço, melhor, pois o gradiente térmico é menor, logo não só o arrefecimento será mais
lento, como mais controlado.
No entanto, a utilização de um frigorífico é morosa, especialmente para vinhos brancos
e espumantes, cuja temperatura de serviço é relativamente baixa. Nestes casos, e dado
que o risco de desequilíbrios sensoriais devido a baixas temperaturas é menor, opta-se
muitas vezes pela utilização de um balde com gelo (frappé).
Contudo, na escolha de um balde com gelo para vinho, é necessário ter em atenção
dois atributos. Em primeiro lugar, o balde deve permitir que a garrafa se encontre sub-
mersa pelo menos até ao nível do vinho, de forma a proporcionar um arrefecimento
homogéneo. É por este motivo que a utilização de mangas de arrefecimento não é de
todo aconselhável, dado que não cobrem totalmente a garrafa. Em segundo, o balde
deve comportar um volume de gelo suficiente que permita o arrefecimento pretendido
do vinho.
No caso dos vinhos espumantes, quando se pretende um arrefecimento mais rápido,
é frequente a adição de sal ao gelo, uma vez que permite obter temperaturas mais
baixas. Esta técnica consiste em:
• Colocar uma camada de gelo até perfazer um terço do volume do balde de gelo.
• Colocar a garrafa de espumante.
• Distribuir um punhado de sal de forma a cobrir toda a superfície do gelo.
• Colocar mais uma camada de gelo e outra de sal.
• Perfazer com gelo até acima.
Nota: O gelo deve preferencialmente ser moído.
Temperatura
(ºC)
4 6 8 10 13 Temperatu
14 16 18 20 ra (ºC)
4 6 8 10
13 14 16
18 20
119
Aumento da temperatura
A elevação da temperatura de um vinho é normalmente chamada de “chambrear”.
Este termo deriva da palavra francesa chambre (sala), existindo duas interpretações
para a sua tradução. Por um lado, há quem defenda que o termo significa elevar a
temperatura do vinho à temperatura de ir para a sala (chambre), ou seja à tempera-
tura de serviço. Por outro lado, há também quem sustente a interpretação de que
se tratava de colocar o vinho à temperatura da sala. De uma forma ou de outra, do
ponto de vista técnico, o termo chambrear consiste em elevar a temperatura do vinho
à temperatura de serviço.
No entanto, raras são as ocasiões em que de facto é necessária a elevação da tempera-
tura do vinho, realizando-se na maioria das vezes este procedimento sem qualquer fun-
damento. Por um lado, porque, exceto os vinhos tintos e alguns licorosos, todos os res-
tantes géneros de vinhos se servem abaixo da temperatura de guarda. E, mesmo para
os vinhos que se servem acima desta temperatura, ao se guardarem a uma temperatura
adequada (entre 10 a 15º C), apenas se tem de esperar um pouco até que se atinja a
temperatura de serviço correta. Por outro lado, na maioria das vezes, e infelizmente,
os vinhos nem sequer são guardados com controlo de temperaturas, encontrando-se
nessas condições normalmente bastante acima da temperatura de serviço.
Assim, a elevação da temperatura de um vinho apenas se justifica em casos em que a
garrafeira se encontra a temperaturas demasiado baixas, como acontece, por exemplo,
nas garrafeiras de cave no inverno. Nestes casos, recomenda-se preferencialmente que
se mude, antecipadamente ao seu consumo, a garrafa para uma sala com um ambien-
te próximo da temperatura de serviço. De forma alguma se deve colocar a garrafa perto
de lareiras ou outras fontes de calor forte, como tantas vezes tristemente ainda acon-
tece, dado que provocam uma subida rápida e heterogénea da temperatura do vinho.
Quando não for possível, por escassez de tempo, promover um aquecimento tão len-
to, pode optar-se por colocar a garrafa dentro de um recipiente com água, salvaguar-
dando que esta não se encontra muito acima da temperatura de serviço recomendada.
leves 6 a 8º C
encorpados 12 a 14º C
leves 12 a 14º C
jovens 6 a 8º C
Espumantes
complexos e com idade 10 a 14º C
secos 5 a 8º C
Vinhos licorosos
doces 14 a 18º C
120
Aromas
Os aromas são substâncias voláteis, com temperaturas de libertação muito específicas.
Uma temperatura de consumo adequada deve permitir percecionar a totalidade do
bouquet de um vinho. Para tal, deve ser próxima da temperatura de libertação dos
aromas mais voláteis. Desta forma, com o aquecimento que normalmente o vinho sofre
no copo, os aromas vão-se revelando gradualmente, permitindo ao aparelho olfativo a
sua identificação na totalidade e de forma clara.
A desadequação da temperatura de consumo ao vinho tem um efeito desastroso na
expressão da sua riqueza aromática, dado que, ao servir-se um vinho abaixo da tempe-
ratura recomendável, os aromas não se libertam, ficando o seu acesso vedado ao apa-
relho olfativo. Por outro lado, ao servir-se um vinho acima da temperatura aconselhável,
os aromas são forçados a libertarem-se de forma repentina, o que, não só resulta no
seu rápido desaparecimento, como na impossibilidade de os percecionar de forma de-
finida. Nos casos em que a temperatura do vinho atinge valores demasiadamente altos,
assiste-se também à volatilização de álcool, somando a este dano o efeito cáustico no
aparelho olfativo.
Exame gustativo
No exame gustativo, o efeito da temperatura de consumo faz-se sentir ao nível de:
Aromas de boca – Tal como no exame olfativo, uma temperatura de consumo ade-
quada deve permitir uma perceção plena e gradual dos aromas do vinho. Ao ser consu-
mido excessivamente frio, o vinho revela-se insípido, de aromas ténues. Pelo contrário,
quando a temperatura de consumo é demasiado alta, apenas os aromas menos voláteis
permanecem, amputando-se grande parte da riqueza aromática do vinho, especial-
mente os aromas florais e frutados, responsáveis pela elegância do vinho.
Concordância gustativa – Quando consumido a uma temperatura adequada, o vinho
deve revelar harmonia entre os sabores. O aumento da temperatura de consumo refor-
ça o sabor doce (açúcar e álcool) relativamente aos sabores ácido e amargo (taninos).
ácido
doce amargo
121
Por outro lado, a sua diminuição confere um efeito inverso. Desta forma, a temperatura
de consumo é uma magnífica ferramenta para a adequação de vinho a iguarias, equili-
brando a concordância gustativa na relação vinho/iguaria. Por exemplo, para acompa-
nhar iguarias doces, pode baixar-se a temperatura do vinho, levando a que os sabores
ácidos e amargos deste confiram equilíbrio e elegância ao conjunto. Pelo mesmo prin-
cípio, pode servir-se um vinho doce a uma temperatura de consumo mais baixa, como
aperitivo ou com uma entrada, sem quebrar a harmonia na condução da refeição. Tam-
bém o conjunto vinho/iguaria se tornará mais harmonioso na presença de uma iguaria
acídula ou amarga, se a temperatura do vinho permitir uma maior expressão do seu
sabor doce. No entanto, neste caso, a elevação da temperatura de consumo deve ser
sempre muito ténue (1 a 2º C), de forma a não se perder a elegância do conjunto.
Sensibilidade química – Do ponto de vista da sensibilidade química, a temperatu-
ra de consumo deve permitir que o vinho revele presença, elegância e, simultanea-
mente, suavidade. Uma temperatura de consumo demasiado baixa evidenciará um
vinho apagado. E, ao mostrar-se demasiado elevada, conduz a que o álcool do vinho
induza a sensação de causticidade (a razão pela qual muitas pessoas negam gostar de
vinho).
Sensibilidade térmica – É importante ter sempre presente que o vinho desempenha o
papel de agente refrescante, pelo que deve, sempre, apresentar uma sensação de fres-
cura. Ao ser consumido a uma temperatura relativamente alta, esta ação perde-se,
tornando-se assim “pesado” o seu consumo.
copos
122
permita uma clara observação da evolução da bolha. É ainda imperativo que o copo
tenha pé para que:
• Seja possível segurá-lo sem interferir no exame visual do vinho.
• Evite que o calor das mãos aqueça o vinho.
• O cheiro das mãos não perturbe o exame olfativo.
| Adequada Oxigenação
A velocidade a que um vinho evolui no copo é diretamente proporcional à oxigenação
que este lhe faculta. Assim, a escolha de um copo com uma capacidade de oxigenação
demasiado baixa, conduzirá a um fraco aproveitamento da riqueza sensorial do vinho.
Pelo contrário, ao escolher-se um copo com uma capacidade de oxigenação excessiva, a
sua riqueza perder-se-á rapidamente.
A forma e o tamanho do copo interferem na superfície de contacto com o ar e no grau
de mobilidade (para poder ser agitado) que o vinho possui, logo na oxigenação por este
sofrida. Por exemplo, copos largos e/ou de grande volume permitem oxigenações mais
intensas, e, consequentemente, uma evolução mais rápida do vinho. De uma forma ge-
ral, um copo de vinho nunca deve ter um tamanho inferior a um copo de prova ISO 3591.
46 mm +_ 2
0,8 mm +_ 0,1
100 mm +_ 2
65 mm +_ 2
155 mm +_ 5
Volume:
215 ml (+_ 10)
55 mm +_ 3
9 mm +_ 1
65 mm +_ 5
Se é importante facultar uma correta evolução do vinho no copo, para que, entre
outros fatores, os aromas se libertem, não menos é importante conseguir captá-los. O
aperfeiçoamento dos copos de prova de vinho conduziu a que se elegessem as formas
de balão e tulipa, como as mais eficazes na conciliação destes dois fatores.
123
Copo em formato de balão Copo em formato de tulipa
No entanto, apenas a forma não garante a correta libertação e perceção dos aromas,
dado que são variáveis muito específicas, dependentes das características de cada vi-
nho, pelo que se torna importante conhecer como a arquitetura do copo de prova as
influencia, nomeadamente no que respeita à forma e altura da sua chaminé.
• Forma da chaminé – Quanto menor a relação entre a área do aro do copo (X2
e X4) e a área da superfície de vinho exposta ao ar (X1 e X3) maior é a concentra-
ção dos aromas facultada ao aparelho olfativo. No entanto, se o aro do copo se
apresentar muito estreito, a oxigenação do vinho fica comprometida, diminuindo a
libertação de aromas.
R1 = X2 / X1 R2 = X4 / X3
X1
X3
X2
X4
R1 > R2
Relação entre a área do aro do copo e a área da superfície de vinho exposta ao ar.
124
de salientar que uma proximidade maior entre o aparelho olfativo e a superfície do
vinho aumentará o risco de o álcool se fazer sentir de forma excessiva, gerando a
sensação de causticidade – ardor que retrai a ação do aparelho olfativo, dificultando
a perceção dos aromas.
Como se poderá verificar mais à frente neste capítulo, na análise do exame gustativo, a
mensagem sensorial percecionada ao provar um vinho é revestida de um carácter mul-
tifacetado. A arquitetura do copo desempenha um papel decisivo nesta mensagem,
influindo nomeadamente em:
• Características do fluxo – Ao provar-se um vinho, a arquitetura do copo molda
a forma e a velocidade com que o fluxo de vinho entra na boca, configurando a
primeira impressão recebida. Por exemplo, um copo de aro estreito, obriga a que
o provador, para poder beber o vinho, curve a cabeça para trás e incline bastante
o copo. Assim, o fluxo de vinho, ao entrar na boca, é estreito e direcionado para a
zona anterior da língua, o que promove, entre outras coisas, uma rápida perceção
dos seus aromas por via retronasal, conferindo maior revelo ao carácter aromático
do vinho. Por outro lado, num copo de aro largo, o provador necessita de baixar a
cabeça para poder controlar o volume de vinho bebido, promovendo um fluxo largo
e com pouca profundidade, que realça, por exemplo, o corpo do vinho.
125
Tipos de copos
Copo para Copo para Copo para Copo para Copos para vinho
vinho tinto vinho branco vinho vinho de colheita tardia
licoroso gaseificado
Os copos para vinho tinto possuem determinadas características que devem ser mais
acentuadas quanto mais velho for o vinho. Essas características são:
• Tamanho grande – Facultando uma boa capacidade de oxigenação.
• Base do globo larga – De forma a maximizar a volatilização dos aromas.
• Boca estreita – Permitindo uma maior captação dos aromas.
Quanto aos copos de vinho branco apresentam-se, de uma forma geral, com:
• Menor tamanho – Estes vinhos não precisam de grande evolução no copo, dado
que os seus aromas são relativamente voláteis, pelo que é melhor guardá-los na
garrafa, preservando a sua exuberância.
• Globo mais estreito – Para que se diminua a velocidade da sua evolução, preser-
vando a sua riqueza aromática.
• Aro relativamente mais aberto – Os vinhos brancos são normalmente mais exu-
berantes que os vinhos tintos, pelo que os seus aromas não necessitam de ser alvo
de tanta concentração para serem perfeitamente captados pelo aparelho olfativo.
Os vinhos licorosos, concentrados em aromas e de elevada força alcoólica, são nor-
malmente beneficiados quando servidos em copos com tamanho menor, dado serem
vinhos consumidos em quantidades mais moderadas.
Os vinhos gaseificados são servidos em flutes (nome que deriva do termo francês
flûte – flauta), caracterizados por apresentarem um globo alto e estreito que lembra
a forma de uma flauta. Estes copos permitem não só a correta observação da bolha,
como a sua libertação de forma gradual, evitando que se perca rapidamente. O peque-
126
no diâmetro do seu aro permite que o vinho crie, ao entrar na boca, um fluxo estreito
e longo, realçando os seus aromas.
Nos vinhos de colheita tardia, é necessário ter em conta o seu teor alcoólico. Caso
tenham baixo teor alcoólico deve optar-se por copos de características semelhantes aos
copos de vinho branco. No entanto, se o seu teor alcoólico for elevado, deve assegurar-
-se que este não interfere na perceção dos seus aromas, pelo que copos semelhantes
aos utilizados para vinhos licorosos poderão ser uma opção mais correta.
É usual em alguns países servir os vinhos em copos adotados pela região produtora.
Vejamos alguns dos exemplos mais característicos:
Alsácia
Copo de globo largo
e pouco alto com
Bordéus
pé alto normalmente
de cor verde. Copo tipo balão com
pé alto. Para o vinho
branco usa-se um copo
idêntico mas mais esguio.
127
Porto
Borgonha Copo arredondado
Copo idêntico de pé não muito alto.
ao "Bordéus", Na imagem, o modelo
mas um pouco desenhado pelo
mais arredondado. arquiteto português
Siza Vieira.
Roemer
Copo em forma de balão,
normalmente em cor verde
ou castanha, com pé muito
forte e trabalhado.
serviço de VINHOS
128
| brancos, rosés e verdes tintos
[ peanha ]
1 2 3
1. Retirar a garrafa do frappé com a mão esquerda e enxugá-la com o pano de serviço.
2. Colocar o pano de serviço dobrado, sobre a palma da mão esquerda e sobre este a
garrafa, com o rótulo voltado para o cliente, pelo seu lado esquerdo, fazendo breve
descrição do vinho (tipo, região produtora, ano de colheita, castas e características).
3. Após apresentação da garrafa ao cliente, colocá-la de novo no frappé, onde irá ser
aberta. Cortar o invólucro do gargalo, acima ou abaixo do anel (merisa). Limpar a parte
agora descoberta da boca da garrafa com um pano.
4 5 6
7 8 9
129
| BRANCO GARRAFEIRA / RESERVA / ESTAGIADOS
A garrafa deve ser transportada da cave do dia para o restaurante, em balde próprio
com gelo e água (frappé), e um pano de serviço a cobri-lo, que deve ser colocado
sobre a banqueta de vinhos, sobre prato, junto à mesa do cliente ou, em alternativa,
numa peanha, procedendo-se em seguida à execução do serviço segundo os proce-
dimentos do serviço de vinhos brancos anteriormente descrito.
Deve retirar a garrafa do frappé com a mão esquerda e enxugá-la com o pano
[ banqueta ] de serviço. Opcionalmente, pode colocar o pano de serviço dobrado na base da
garrafa, apresentá-la com o rótulo voltado para o cliente pelo seu lado esquerdo,
fazendo uma breve descrição do vinho apresentado (marca, região produtora, ano
de colheita, castas e características).
Após a apresentação da garrafa, colocá-la de novo no frappé onde poderá ser feita
a sua abertura. Caso o vinho se apresente fechado de aromas pode-se recorrer a de-
cantação.
1 2 3
4 5 6
130
| vinhos gaseificados
[ peanha ]
1 2 3
4 5 6
131
| tintos
[ banqueta ]
1 2 3
1. Colocar a garrafa sobre a palma da mão esquerda e apresentá-la com o rótulo voltado
para o cliente, pelo seu lado esquerdo, fazendo breve descrição do vinho apresenta-
do (tipo de vinho, região produtora, ano de colheita, castas e características).
2. Cortar o invólucro que envolve o gargalo acima ou abaixo do anel (merisa).
Limpar a parte agora descoberta da boca da garrafa com um pano.
3. Segurar a garrafa com a mão esquerda e introduzir as espirais da rosca do saca-
-rolhas com a mão direita, sem rodar a garrafa e até atingir quase o comprimento
total da rolha, tendo o cuidado de não a perfurar de um lado ao outro.
4 5 6
7 8
7. Dar a provar ao cliente que pediu o vinho (2 cl, quantidade suficiente para dois goles).
8. Após a aprovação do cliente, servir por ordem de protocolo (12 a 14 cl por copo).
Deixar a garrafa na banqueta de vinhos.
Nota: Opcionalmente, a garrafa pode ser apresentada ao cliente sobre pano de serviço.
132
| tintos velhOS
[ banqueta ]
1 2 3
1. Colocar o cesto sobre a palma da mão esquerda, amparando-o com a mão direita.
Apresentar a garrafa com o rótulo voltado para o cliente, pelo seu lado esquerdo,
fazendo uma breve descrição do vinho apresentado (tipo de vinho, região produtora,
ano de colheita, castas e características).
2. Seguindo os procedimentos para abertura de vinhos, com a garrafa no cesto, cortar,
o invólucro, mantendo-a sempre nessa posição.
3. Introduzir o saca-rolhas mantendo a garrafa no cesto e extrair a rolha, conforme o
procedimento do serviço de vinhos tintos anteriormente descrito.
4 5 6
133
| tintos velhos [abertura com tenaz e decantação]
1. Mise-en-place:
• Banqueta de vinhos ou guéridon • Castiçal e vela (sem cheiro)
• Tenaz e fogareiro • Decantador
• 2 cariocas (água fria e água tépida) • Prato para colocar a rolha
• 2 pratos a pão • Vinho tinto velho
• 2 panos de serviço • Cesto forrado
2 3 4
Execução:
2. Apresentar a garrafa, conforme descrito no procedimento de serviço para os vinhos
tintos velhos.
3. Retirar o invólucro que envolve o gargalo da garrafa ligeiramente abaixo da merisa.
4. Colocar a tenaz a aquecer num fogareiro ou outra fonte de calor, levando-a quase ao
rubro.
134
5 6 7
5. Rodear o gargalo da garrafa com a tenaz, de forma a que esta fique a meio da rolha e
manter a tenaz nesta posição durante cerca de 25 segundos para o aquecer.
6. Retirar a tenaz e rapidamente verter um pouco de água fria sobre a zona aquecida do
gargalo. Imediatamente o vidro estala e o gargalo fica cortado.
Segurando com o pano de serviço, puxar lentamente a parte do gargalo que ficou
separada da garrafa sem, contudo, a retirar na totalidade.
Mantendo a garrafa nesta posição, verter um pouco de água sobre o corte, por
forma a remover eventuais resíduos de vidro.
7. Cheirar e tatear a rolha. Analisar o vinho na sua cor de impurezas e provar de se-
guida (utilizar a tamboladeira se a houver).
8 9 10
11 12 13
*Nota: O decantador pode eventualmente ser colocado à temperatura ideal com água tépida.
135
decantar (ou não)
Superfície
de contacto
com o ar
Atualmente, dado que a maioria dos vinhos não apresenta depósito, a oxigenação é a
principal razão por que são decantados. Contudo, a realização desta prática tornou-
-se quase ritual obrigatório quando se serve um vinho com alguma idade ou num
ambiente mais pretensioso, sem que, na maior parte das vezes, haja necessidade de
a efetuar e conduzindo até, frequentemente, à depreciação das qualidades do vinho.
Na verdade, a decantação é uma operação de recurso, que apenas deve ser utilizada
136
em última instância, dada a violência que representa para o vinho. A sua prática deve
ser reservada somente para ocasiões em que o vinho apresente depósitos ou grande
falta de oxigenação.
| imobilização de depósitos
No caso de o vinho apresentar depósitos, aconselha-se tentar primeiro a colocação
da garrafa de pé com uma antecedência de 24 a 48 horas, para promover a sedi-
mentação dos depósitos, e procurar servi-la com cuidado. Apenas se a quantidade de
depósitos for muito elevada se deve optar pela decantação.
Na realização de uma decantação para eliminação de depósitos, é conveniente verter
o vinho até ao fim de forma continuada, para que se mantenha o máximo de sedi-
mentos no fundo da garrafa e se evite que o vinho turve devido à agitação provocada
pelo retorno deste.
| oxigenação
Para que o vinho expresse toda a riqueza do seu bouquet, é frequente necessitar de um
pouco de oxigenação, quer por ser novo e se encontrar retraído devido, por exemplo,
a estar a atravessar o período de cansaço de garrafa, quer por ter já alguma idade e
se encontrar “fechado” em consequência de uma longa permanência na garrafa (am-
biente sem oxigénio).
No entanto, a decisão de oxigenar um vinho através de decantação apenas deve ser
tomada após se constatar (pela prova) que é absolutamente conveniente e necessária.
E, quando esgotados todos os recursos de que se dispõe.
Verificando-se que um vinho necessita de oxigenação, deve optar-se primeiro por recorrer
a um copo de maior dimensão, que permita uma oxigenação maior (mas mais controlada
do que a da decantação). Apenas se esta operação não resultar e o tempo não permi-
ta aguardar, se deve proceder à decantação. Este cuidado é especialmente importante
quando se trata de vinhos com uma certa idade, onde a complexidade prima sobre a
exuberância e a fragilidade se faz, consequentemente, sentir em maior extensão.
| como decantar?
Se é importante decidir quando decantar, não menos essencial é saber como o fazer
corretamente. Independentemente da razão da decantação ser a presença de depósi-
tos ou proporcionar ao vinho alguma oxigenação, é importante que esta operação se
faça com o mínimo de impacto sobre o vinho, pelo que se deve sempre verter o vinho
pela parede do decantador para que não sofra grande agitação. É ainda aconselhável
verificar, previamente, se o decantador se encontra à temperatura ideal para que o
vinho não seja sujeito a alterações de temperatura prejudiciais.
É de salientar que, após a decantação, o vinho sofrerá uma evolução relativamente
rápida, pelo que esta operação apenas se deve realizar alguns minutos antes do con-
sumo do vinho.
137
serviço de vinho a copo
Para um serviço de vinho a copo ser bem sucedido terão que ser respeitados alguns
pressupostos que se iniciam com a necessidade de servir vinhos de qualidade, em
qualquer faixa de preço, e que estes possuam versatilidade nas suas características,
por forma a satisfazer os mais variados gostos e situações.
As vantagens para o estabelecimento são claras e objetivas:
• Aumento das vendas e dinamização do negócio.
• Aumento do consumo de vinho e promoção na saída de vinhos de menor rotação.
• Espaço à criatividade, possibilitando a escolha do vinho que melhor se adequa a
cada iguaria.
Mas, para assegurar um bom serviço de vinho a copo, é fundamental, tal como no
serviço de vinho a garrafa, tratar bem o vinho e servi-lo de maneira adequada para
que o consumidor possa obter o máximo prazer na sua degustação. Como tal, exis-
tem pontos importantes a reter:
• Ter as garrafas à vista do cliente.
• Assegurar que o vinho está em boas condições.
• Dar a provar ao cliente.
• Servir em copos adequados.
• Servir à temperatura correta.
• Assegurar a correta conservação da garrafa depois de aberta.
138
pormenores úteis
| extração da rolha
A extração da rolha efetua-se normalmente recorrendo a um saca-rolhas e na es-
colha deste acessório é fundamental ter em consideração algumas características:
• A espiral ser larga de forma a fixar-se na rolha sem a moer.
• A espiral ser revestida para que crie um elevado atrito com a rolha.
• Possuir alavancas de modo a evitar agitar a garrafa. Em vinhos com depósito,
são mesmo recomendáveis saca-rolhas com fixador de gargalo.
| saca-rolhas de ar comprimido
Este saca-rolhas é composto por
um êmbolo, que permite gerar ar
comprimido, e uma agulha, que perfura
a rolha e transporta o ar para o interior
da garrafa. A pressão assim criada
dentro da garrafa obriga a rolha a sair,
conseguindo-se a sua extração sem
risco de que se danifique.
139
| saca-rolhas de Lâminas
O saca-rolhas de lâminas é um dispositivo simples, composto por dois finos
prolongamentos metálicos paralelos de diferentes comprimentos. Utiliza-se,
inserindo primeiro a lâmina mais longa e no seu seguimento a outra lâmina,
com um movimento de vaivém, até que as lâminas não se vejam. Em seguida,
gira-se a rolha, enquanto se puxa lentamente para cima, retirando-a intacta.
Embora seja mais difícil de operar do que outros
saca-rolhas mais convencionais, este acessório
funciona perfeitamente quando as rolhas não
dão muita confiança de resistir aos saca-rolhas
tradicionais. Tem, como única objeção, provocar
alguma agitação no vinho, fator particularmente
importante nos vinhos com depósito.
| outros
O manuseamento de vinhos pode ser auxiliado por alguns acessórios, ainda não
referidos, que revelam bastante utilidade. No serviço de vinhos, os anéis e os dis-
cos anti-gotas ou os bicos (funis) para servir, que evitam o derrame de vinho ao
ser servido, facultam rapidez e eficácia nesta operação, preservando a estética
da mesa, ao evitar que a toalha termine transformada numa pintura abstrata.
140
| mudança de copos
Quando, por exemplo, um cliente está a beber vinho branco e seguidamente,
para acompanhar outra iguaria, vai ser servido de vinho tinto, o copo do pri-
meiro vinho (branco) só deve ser levantado depois de servido o segundo vinho.
Quando uma garrafa termina e se abre outra para servir, mesmo que da mesma
marca, os copos devem ser sempre substituídos.
| guarda de sobras
Em especial nos estabelecimentos hote-
leiros, é usual os hóspedes deixarem o vi-
nho que não consomem numa refeição
para a seguinte. Esta gargantilha permi-
te a identificação do nome do hóspede
na garrafa sem escrever diretamente no
rótulo qualquer informação.
N.º de _________
7
Mesa N.º __________
12 9 14
Data ____ /____ /____
Assinatura _____________________
141
142
08
Princípios
de degustação
A degustação de vinhos é muitas vezes apresentada como uma arte ou ciência apenas ao
alcance de alguns iluminados, possuidores de dons de natureza rara pouco definida. Tal,
não pode estar mais longe da verdade. Na realidade, a única ferramenta necessária à prova
de vinhos é o nosso aparelho sensorial, pelo que, do ponto de vista biológico, é uma arte
acessível à grande maioria das pessoas.
Não obstante, está longe de ser algo apreensível através de ténue aprofundamento. Não
adequado a certas correntes modernas, guiadas pelo facilitismo e pelo imediato, o vinho
apresenta-se complexo e exigente, reivindicando empenho e dedicação para que nos revele
todo o seu imenso prazer.
Desta forma, não são dons sobrenaturais, mas a sofisticação de espírito, que definem um
bom provador de vinhos que, por definição, se pode descrever como "pessoa capaz de
tornar uma necessidade biológica como a alimentação num momento de prazer, através
do culto da sensibilidade, da paixão de descrever fielmente cada sensação percecionada, de
forma a poder inferir sobre a excelência de um vinho, ou a sua pertinência para determinado
momento ou iguaria".
Esta definição completa-se pela definição de "degustação", que consiste na "apreciação, pelos
sentidos da visão, do olfato e do paladar, de um vinho, de forma a poder descrevê-lo, avaliá-
-lo e por fim, inferir sobre as suas características intrínsecas e o seu potencial gastronómico".
143
O treino de um provador implica, assim, também a aprendizagem dos conceitos e
das metodologias necessárias a uma linguagem sistemática e universal, para poder
descrever de forma metódica as sensações, tornando possível confrontá-las com as já
adquiridas, bem como discuti-las, para chegar a conclusões concretas. Deste modo, o
ato degustativo divide-se em quatro fases: A Perceção Sensorial, B Definição das
Perceções, C Enquadramento das Perceções e D Apreciação Final.
A perceção sensorial
Sentidos Características
Orgão Terminologia
e sensações encontradas
cor
Visão limpidez
Olhos Aspeto
Sensações visuais viscosidade
efervescência
Olfação aroma
Nariz (via nasal direta) Olfato (bouquet)
Sensações olfativas
Olfação
(via retronasal) Gosto
aroma de boca
complexo
Sensações olfativas Flaveur
Boca adstringência
Sensibilidade
causticidade
química
efervescência
Sensibilidade
consistência
tátil
Toque
Sensibilidade
temperatura
térmica
Relação entre os órgãos, as sensações e as características presentes no vinho (adaptado de O Gosto do Vinho,
de Émile Peynaud e Jacques Blouin).
144
B definição das perceções
| visão
A análise de um vinho começa pela sua observação visual, através da qual se carac-
teriza a sua cor, limpidez, viscosidade e efervescência. Estes parâmetros definem o
aspeto de um vinho.
Como proceder:
1. Encher o copo com cerca de 4 cl de vinho. Esta quantidade é suficiente para que se-
jam percetíveis os aromas e se manuseie comodamente o copo sem risco
de verter o vinho. Segurar o copo pela base ou pelo pé, para que seja
possível observar o vinho corretamente.
2. Incliná-lo sobre um fundo branco e fazer incidir um feixe de luz.
Observar a cor, a intensidade e a limpidez.
3. Endireitando de novo o copo, observar a viscosidade ("lágrima")
e a efervescência.
145
COR
A avaliação da cor de um vinho tem de ter em conta o padrão de cor esperado deste e
é consequência essencialmente de três fatores: a matéria-prima (as castas), os proces-
sos de vinificação e o tempo e tipo de maturação. Nas figuras seguintes, evidencia-se
a cor característica de alguns géneros de vinho.
146
Matéria-prima – As uvas são a fonte primária da matéria corante. A divisão mais
evidente é entre castas tintas e brancas. No entanto, cada casta é caracterizada por
uma coloração particular em função do tipo e da quantidade de pigmentos que lhe
são característicos.
Evolução da cor
em vinhos licorosos
tintos estagiados
em madeira
147
Intensidade da cor – Independentemente da cor que apresentem, os vinhos revelam
diferentes intensidades de cor em consequência da concentração de substâncias co-
rantes que contêm. Este parâmetro pode ser medido pela largura do anel em relação
ao olho, classificando-se um vinho como aberto, quando apresenta um anel amplo, ou
intenso, quando este é quase inexistente.
Anel
Olho
Alterações de cor – Há várias situações que conduzem a que os vinhos revelem al-
terações de cor, ou seja, que a cor apresentada por estes seja diferente da esperada.
Nesta avaliação, é essencial ter em conta o padrão de cores característico do vinho que
se está a avaliar.
A observação das alterações de cor é especialmente importante na avaliação da qua-
lidade da vinificação, bem como na determinação do estádio de evolução do vinho.
Os exemplos mais frequentes de alterações de cor ocorrem nos vinhos de mesa, em que
se assiste nos vinhos brancos à sua passagem para uma cor dourada e nos vinhos tintos
ao aparecimento de tons cor de tijolo, indiciando normalmente que sofreram oxidações
ou que apresentam alguma evolução.
Alteração da cor
em vinhos brancos
Alteração da cor
em vinhos tintos
148
Limpidez
De uma forma geral, um vinho deve apresentar-se livre de partículas em suspensão, ge-
ralmente indicadoras da sua degradação. Exceção, no entanto, para os vinhos não fil-
trados, normalmente destinados a um envelhecimento em garrafa, nos quais se admite
a sua existência. Quanto ao seu grau de limpidez, um vinho pode classificar-se de:
• Cristalino – Se apresenta uma ausência total de partículas e ao observar-se, reflete a
luz de forma cristalina. Devem apresentar-se cristalinos os vinhos filtrados e os espu-
mantes. Esta característica é especialmente importante nos vinhos brancos e nos rosés.
• Límpido – Se um vinho, embora se verifique uma ausência de partículas em suspen-
são visíveis, possui pequenas partículas que impedem a observação de reflexos quando
exposto a um feixe de luz, revelando-se translúcido, mas fosco. É comum apresenta-
rem-se límpidos os vinhos tintos maturados em madeira e/ou não filtrados.
• Turvo – Se, ao observar-se o vinho, claramente existirem partículas em suspensão ou
depósito. É aceitável a sua presença em vinhos não filtrados. A sua presença noutro
tipo de vinhos pode ser indício de degradação por incorreta estabilização. Deve pro-
curar servir-se estes vinhos de uma forma que imobilize os depósitos.
Viscosidade – "Lágrima"
É muitas vezes afirmado que a "lágrima" do vinho é consequência do seu teor em glice-
rol. No entanto, este álcool representa, mesmo nos vinhos "botrytizados", onde o seu
teor é maior, aproximadamente 2% do volume do vinho, não estando, desta forma, em
concentração suficiente para imprimir viscosidade significativa ao vinho.
Na verdade, a viscosidade de um vinho encontra-se correlacionada não só com o seu
teor em álcool, mas também com a sua concentração de açúcares e proteínas. Uma
elevada soma destes componentes dará ao vinho uma viscosidade maior e, por isso,
"lágrimas" mais espessas e que escorrem de forma mais lenta. Os vinhos com estas
características são classificados de untuosos ou gordos. Pelo contrário, quando possui-
dores de uma fraca viscosidade, são nomeados de delgados. O seu teor de viscosidade,
aliado à concentração de taninos, define o corpo do vinho. Um vinho é tanto mais
encorpado quanto maior for a sua untuosidade e a sua riqueza em taninos (estrutura).
Efervescência
No que respeita à efervescência, os vinhos podem classificar-se de gaseificados, quando
possuem bolha (ou agulha), ou tranquilos, quando não apresentam gás.
De uma forma geral, os vinhos devem mostrar-se tranquilos, exceção para os espuman-
tes, espumosos e Vinhos Verdes. A presença de gás num vinho, que se supõe tranquilo,
é geralmente indício de fraca estabilidade biológica, estando-lhe normalmente associa-
dos maus aromas e/ou desequilíbrio gustativo.
No que respeita aos vinhos gaseificados, a bolha pode ser classificada quanto ao:
• Tamanho – Procurando-se que o vinho tenha uma bolha fina.
• Quantidade – O vinho gaseificado de qualidade deve ter bolha abundante.
• Persistência – A efervescência deve ser contínua e lenta. Facto constatado quando
se observa, como na imagem à direita, a libertação da bolha em cordão.
149
| olfação
O exame olfativo inicia-se pela avaliação aromática do vinho por via nasal direta. Os
aromas englobam todas as substâncias presentes no vinho com propriedades odorífe-
ras e voláteis.
Como proceder:
Com o nariz dentro do copo, inspirar de forma firme e curta,
"como se tivesse um pingo no nariz e não tivesse lenço!":
1.º Sem agitar o copo, para que se percecionem os
aromas mais voláteis, sem que estes se percam.
2.º Agitando ligeiramente o copo, aumentando
a superfície de contato do vinho com o ar e
facilitando a libertação de mais alguns aromas.
3.º Agitar vivamente o copo, promovendo desta forma
a libertação dos aromas menos voláteis.
aroma
Os aromas de um vinho podem classificar-se quanto à sua origem, ao seu grau de
volatilidade e ao seu grupo organolético.
Origem dos Aromas – Quanto à origem, os aromas do vinho classificam-se em três
categorias e o seu conjunto define o bouquet de um vinho:
1. Aromas primários ou varietais – São formados por todas as substâncias odorífe-
ras e voláteis presentes na uva (aromas varietais livres) e pelas substâncias que
após o esmagamento da uva adquirem estas propriedades (precursores de aroma).
A composição desta família de aromas no vinho é essencialmente dependente da
casta, do terroir, do grau de maturação e da sanidade das uvas, e da tecnologia eno-
lógica associada à sua extração.
2. Aromas secundários ou de fermentação – Representam o conjunto de aromas
produzidos durante a fermentação alcoólica, onde se formam quantitativamente a
maioria dos aromas do vinho, e, durante a reação (fermentação) malolática, quando
ocorre, embora esta influencie de forma mais ténue a composição aromática do
vinho. O composto mais significativo deste grupo de aromas é o álcool, formado
durante a primeira fermentação e responsável pelo aroma vinoso do vinho. O álco-
ol influencia também na perceção de outros aromas, uma vez que favorece a sua
150
libertação do vinho, tornando-os mais percecionáveis. Durante estas fases também
pode ocorrer a formação de aromas desagradáveis por redução dos compostos com
enxofre (aromas de ovos e couves podres).
3. Aromas terciários ou de evolução – Definem os aromas formados durante a ma-
turação dos vinhos em madeira ou durante o seu envelhecimento em cuba ou gar-
rafa. Este grupo de aromas tem origem na interação das substâncias existente no
vinho ou destas com as extraídas da madeira, pelo que, dependem da tecnologia
usada, nomeadamente das condições e do tempo de maturação e, quando utiliza-
da, do tipo de madeira. Estes aromas apenas se encontram em vinhos de grande
qualidade, contribuindo em grande medida para a sua complexidade.
Aromas Exemplos
Empireumáticos (fogo) Caramelo, chocolate, pão torrado, amêndoas tostadas, café e fumo.
151
| gustação
A descrição sensorial de um vinho termina com a realização do seu exame gustativo,
através do qual se classificam as inúmeras sensações percecionadas a partir da entrada
do vinho na boca. Esta informação organolética é composta pelo gosto complexo e
pelo toque do vinho.
Como proceder:
1.º Colocar na boca uma pequena porção de vinho,
bochechando de modo a que o vinho contacte
com toda a língua.
2.º Com o vinho sobre a língua, entreabrem-se os
lábios e sorve-se um pouco de ar, para oxigenar
o vinho e ajudar à libertação dos aromas,
expirando de seguida pelo nariz, para que
se arrastem os aromas para o bolbo olfativo,
maximizando assim a perceção dos aromas por
via retronasal.
3.º Cuspir ou engolir o vinho. Na avaliação de mais do que
um vinho é aconselhável cuspir, para que o gosto do vinho não
diminua a nitidez das sensações percecionadas na prova seguinte.
Gosto Complexo
O gosto complexo é formado pelo paladar, sabor ou gosto propriamente dito,
pelos aromas de boca e pelas sensações químicas (adstringência, causticidade e
efervescência).
Identificação espacial das várias sensações gustativas. No entanto, apenas 40% das pessoas têm espacial-
mente distintas as sensações de gosto.
• Doce – A sensação doce é a única tida como agradável por si só ao sistema sen-
sorial. O vinho revela esta sensação, devido não só ao açúcar residual que nele se
encontra, mas também ao seu álcool, que estimula as nossas papilas de forma
152
semelhante aos açúcares. É interessante observar a intensificação que o álcool pro-
voca na sensação doce, por exemplo, quando adicionado a uma bebida açucarada,
como se constata, na realização de um cocktail, ao acrescentar uma bebida espiri-
tuosa, fortemente alcoólica, a um sumo.
• Salgado – O vinho apresenta na sua composição dois a quatro gramas de iões
originados pela dissolução dos sais minerais e orgânicos, os quais contribuem para
o seu sabor salgado. Estas substâncias desempenham dois papéis importantes no
vinho. Por um lado, imprimem-lhe "frescura", contribuindo em conjunto com as
substâncias de sabor ácido para a sua elegância. Por outro, são responsáveis pela
sensação de "continuidade do sabor". A ausência de substâncias de sabor salgado
cria um efeito de descontinuidade, como acontece, por exemplo, numa sopa de
batata e espinafres sem sal, onde o sabor doce da batata aparece desligado do
sabor amargo dos espinafres. Também um excesso de iões, muitas vezes devido
a uma desacidificação fraudulenta por adição de sais alcalinos, se traduz numa
discordância de sabores.
• Ácido – Com um pH que oscila aproximadamente entre 2.8 e 4.0, o vinho apre-
senta-se sempre como uma bebida muito rica em ácidos. Além do seu papel na
estabilidade química do vinho, os ácidos são bastante importantes do ponto de
vista organolético pela elegância e frescura que lhe conferem. Contudo, o vinho
deve possuir uma boa riqueza em ácidos organoleticamente agradáveis, como os
ácidos cítrico, tartárico, málico, lático e succínico, mas uma baixa acidez volátil em
ácido acético, propiónico e butírico, sensorialmente desagradáveis. Aos vinhos ricos
em ácidos, dá-se o nome de acídulos, dado que "ácido" é o nome de um grupo de
elementos químicos.
• Amargo – Os taninos são a principal família de substâncias responsáveis pelo sa-
bor amargo do vinho. Embora não provoquem uma sensação aprazível ao sistema
sensorial, contribuem para o equilíbrio organolético do vinho.
• Umami – O umami, tal como já foi referido, complementa os outros quatro gostos
básicos do paladar humano, e é descrito como um gosto denso, profundo e dura-
douro que produz na língua uma sensação aveludada. O sabor umami é composto
por três principais substâncias presentes em diversos alimentos: glutamato, inosina-
to e guanilato.
153
• Doce /ácido – Os sabores doce e ácido atenuam-se. Este facto pode ser verificado
pela adição crescente de quantidades de açúcar a sumo de limão (rico em ácido
cítrico). Desta forma, observa-se uma diminuição da presença das sensações ácidas,
embora a quantidade absoluta de ácidos permaneça igual. Tal situação deve-se a
um aumento do estímulo das sensações doces e, consequentemente, a uma camu-
flagem das sensações ácidas.
• Doce /amargo – Os sabores doce e amargo também se atenuam. Esta interação
pode ser facilmente testada adicionando crescentes quantidades de açúcar a café,
rico em taninos e por isso de sabor amargo. Ao adicionarmos mais açúcar, verifi-
camos que o sabor amargo do café tende a tornar-se menos percetível. Este facto
deve-se a intensificarmos o estímulo das sensações doces, que assim encobrem as
sensações amargas, de intensidade constante.
• Ácido /amargo – Os sabores ácido e amargo intensificam-se. Esta situação pode
ser facilmente percetível pela adição crescente de sumo de limão ao café, verifican-
do-se o aumento da perceção do sabor amargo dos taninos presentes no café e dos
ácidos do sumo de limão.
O equilíbrio das sensações gustativas e a relação entre as substâncias responsáveis por
esse equilíbrio estabelece-se, no caso particular do vinho, através do equilíbrio perfeito
entre o doce e o ácido/amargo.
| olfação
aroma de boca
As sensações olfativas por via retronasal, também conhecidas por aroma de boca, de-
finem o conjunto de aromas percecionados durante a avaliação gustativa. No que res-
peita à sua descrição, não só se classificam quanto à sua concentração e complexidade,
como no exame olfativo, mas também quanto à sua persistência, através da definição
do Potencial de Intensidade Aromática (PIA) ou Potencial of Aromas Intensity (PAI).
• Concentração – Na definição da intensidade dos aromas sentidos durante o exame
gustativo, introduz-se o conceito de "volume de boca", classificando-se um vinho
com pequeno ou grande "volume de boca" consoante este apresente, respetiva-
mente, uma reduzida ou elevada concentração de aromas (exuberância).
• Complexidade – A avaliação da riqueza aromática de um vinho no exame gustativo
realiza-se com a mesma cadência utilizada no exame olfativo, analisando primeiro os
aromas de ataque, seguidos dos aromas de fundo e por fim as notas ou nuances.
• Potencial de Intensidade Aromática (PIA) – Define o tempo, medido em segun-
dos, que os aromas persistem a partir do momento em que se cospe ou engole o
vinho. É um conceito importante na adequação de vinhos a iguarias.
| sensibilidade química
A definição do gosto complexo termina com a caracterização da sensibilidade química,
que avalia as sensações de adstringência, causticidade e efervescência.
154
adstringência
A adstringência consiste na sensação de secura provocada pelos taninos existentes no
vinho, que é consequência do efeito de crispação que estes compostos provocam nas
mucosas da boca. Ao procurar distendê-las, o provador tem vontade de simular que
mastiga o vinho. A adstringência de um vinho pode avaliar-se quanto a:
• Grau de suavidade – Que define o tipo de "rugosidade" provocada pelo vinho,
classificando-se a adstringência de suave, se o vinho apresenta taninos de rugosida-
de fina, normalmente de origem pelicular, ou de firme ou grossa, se o vinho revela
taninos de grande rugosidade, com origem geralmente em estágios com madeira
ou em grainhas. O envelhecimento do vinho conduz a uma suavização da sua ads-
tringência.
• Persistência – Define o tempo que perdura a sensação de adstringência. Depende
essencialmente da quantidade de taninos presentes no vinho e não do seu grau de
suavidade.
causticidade
A causticidade define a sensação de ardor provocada por um teor relativamente alto de
álcool. Isto é, não depende diretamente do teor alcoólico do vinho, mas da proporção
deste em relação aos restantes elementos, nomeadamente proteínas, ácidos e taninos.
Outro fator importante na causticidade do vinho é a temperatura a que é servido, dado
que temperaturas mais altas do que as recomendadas para o seu consumo induzem a
uma maior perceção do álcool e consequentemente a uma maior causticidade.
efervescência (Bolha)
A classificação da efervescência de um vinho, iniciada na realização do seu exame visu-
al, termina com a sua apreciação na boca, na qual se avalia também quanto à quanti-
dade, tamanho (fina ou grossa) e persistência da bolha.
Quando uma bolha se revela abundante, fina e persistente, diz-se que tem o efeito de
mousse (espuma), dado o vinho deixar de transmitir na boca uma sensação líquida,
adquirindo uma textura idêntica à da espuma.
toque
O exame gustativo finaliza-se com a avaliação do toque do vinho. Esta variável é ex-
tremamente importante, porque é através dela que o cérebro localiza espacialmente as
sensações, focando a sua atenção nas mesmas e correlacionado a sua informação. Por
exemplo, o toque é a razão pela qual o aroma retronasal é muitas vezes associado às
sensações gustativas, pois este é percecionado temporalmente a par das sensações de
toque sentidas na boca. A memória das sensações do toque é também um importante
instrumento utilizado pelo cérebro na identificação, constituindo uma referência muitas
vezes utilizada por este para enquadrar a restante informação sensorial.
O toque é definido pelas sensibilidades táteis e térmicas presentes no vinho.
155
| sensibilidade tátil
consistência
A consistência de um vinho, também conhecida por "corpo", é resultado da concen-
tração de vários componentes, nomeadamente o álcool, as proteínas (untuosidade) e
os taninos (estrutura).
Quando a sua concentração é baixa, o vinho apresenta uma consistência fraca, clas-
sificando-se de delgado ou magro. Por oposição, uma concentração elevada destas
substâncias imprime no vinho uma elevada consistência, denominando-se por isso de
gordo, pastoso, untuoso (quando o corpo se deve essencialmente à untuosidade) ou
encorpado (quando se deve tanto à untuosidade como à estrutura).
A presença de uma maior concentração destas substâncias no vinho traduz-se também
numa maior extensão das sensações gustativas ao longo da língua, definidas pelo con-
ceito de "comprimento de língua", isto é, pela superfície da língua preenchida pelo
vinho, delimitada entre a ponta da língua e a fronteira gerada pela saliva. Um vinho
classifica-se com um comprimento de língua curto se esta fronteira se estabelecer perto
da ponta da língua, ou longo se a fronteira estiver no final da língua, forçando, neste
último caso, muitas vezes o provador a engolir a saliva. Este conceito é importante na
adequação de vinhos a iguarias.
| sensibilidade térmica
Comprimento Comprimento
de língua curto de língua longo
156
C enquadramento das perceções
Para uma correta avaliação de um vinho, é imprescindível que o provador tenha in-
teriorizado as características organoléticas que definem a tipicidade desse vinho. Por
exemplo, seria descabido avaliar um espumante pelos mesmos parâmetros utilizados
na apreciação de um vinho licoroso.
No entanto, seria talvez legítimo perguntar se a tipicidade de um vinho não poderia
ser enquadrada com base na extensa quantidade de parâmetros que, hoje em dia, é
possível obter por análises laboratoriais. Na verdade, para inferir sobre as características
organoléticas de um vinho, o provador tem como único caminho a prova. Embora
a ciência ofereça diversas ferramentas que auxiliam na avaliação sensorial, como as
análises de pH, do teor de ácidos totais, álcool e antocianas (cor), os parâmetros que
influenciam as características sensoriais de um vinho são inúmeros, aliados ao facto de
a sua manifestação organolética ser resultado da sua interação. Isto leva a que a única
solução para o provador seja o aumento da sua educação sensorial através da prova,
aprofundando assim a sua base de conhecimentos e, consequentemente, os seus re-
ferenciais de avaliação.
D apreciação final
157
adequação de vinhos a iguarias
Ao contrário do que é defendido muitas vezes, a prova não se deve reduzir à avaliação
do vinho de forma isolada, sem referência à sua maior ou menor aptidão gastronómi-
ca. Na verdade, foi o facto de o vinho ser, devido à sua incomparável complexidade e
amplitude de sensações, a bebida de eleição para "quase" todas as iguarias, que lhe
facultou o estatuto que atualmente detém.
E devemos dizer "quase", dado o facto de iguarias com vinagre ou vinagretes, escabe-
ches, alimados ou afins distorcerem o sabor do vinho, pelo que é preferível serem acom-
panhadas por outro tipo de bebidas, guardando-se o vinho para melhor companhia.
Desta forma, a degustação de um vinho tem de ir para além da sua simples descrição
organolética – é necessário que se analise também o seu potencial como elemento
sensorialmente enriquecedor de uma iguaria. Deste modo, torna-se importante interio-
rizar os princípios que regem o equilíbrio, a harmonia e a criatividade da adequação de
vinhos a iguarias, assim como algumas regras que guiam a condução de uma refeição.
| equilíbrio
acidez
adstringência
efervescência untuosidade
| harmonia
158
Harmonia entre os comprimentos de língua do vinho e da iguaria
✗ ✗ ✓
Os comprimentos de língua revelados pelo vinho e pela iguaria têm de ser coincidentes.
Se tal situação não se verificar, assistir-se-á a uma sobreposição do mais longo sobre o
mais curto e, devido a isso, a uma ofuscação das sensações apresentadas pelo segundo.
A persistência (PIA) revelada pelo vinho e pela iguaria tem também de ser igual, pois a
perpetuação de qualquer um destes intervenientes em relação ao outro originará um
registo sensorial mais prolongado, levando à distorção e camuflagem da informação
sensorial do menos persistente.
Harmonia entre a persistência (PIA) do vinho e da iguaria
vinho
caso
1 iguaria ✗
vinho
✗
caso
2 iguaria
vinho
caso
3 iguaria ✓
persistência (segundos)
| criatividade
Embora havendo algumas regras na escolha de um vinho para determinada iguaria, não
deixa de sobrar um amplo espaço para a criatividade. Na verdade, "casar" vinhos e
iguarias é, acima de tudo, um exercício de sensibilidade e bom senso.
Não existem regras definidas no que respeita à harmonia entre o vinho e a comida.
Na maior parte dos casos, seguir uma regra resulta num desastre maior que infringi-la.
A indicação de um vinho branco para acompanhar pratos de peixe e de vinho tinto
para os de carne é a mais conhecida das generalizações, mas a sua veracidade é muito
discutível. Um vinho tinto jovem é demasiado forte para um lombo de vaca grelhado,
mas vai bem com sardinha assada ou um prato de bacalhau à lagareiro. E, um vinho
branco seco e encorpado, não liga com peixes cozidos mas harmoniza na perfeição
com uma galinha assada.
159
Como tal, não se pode simplificar quando se fala de pratos de peixe ou pratos de carne.
No caso do peixe, por exemplo, existem diversos tipos: gordos, magros, de sabor forte
(como são os casos do atum, salmão ou bacalhau) ou de gosto delicado (como o robalo
ou o linguado). E, se pensarmos nas diversas formas de os cozinhar (grelhados, assados,
fritos ou cozidos) e de os condimentar, deparamos com uma enorme multiplicidade de
combinações que influenciam decisivamente a escolha do vinho mais adequado.
Mas, no que toca aos vinhos, também é bom não generalizar em demasia. Numa
mesma região existem vinhos tintos novos para beber cedo (macios e frutados), vinhos
novos feitos para envelhecer (potentes e adstringentes), vinhos velhos ainda cheios de
juventude e vinhos velhos já muito suavizados e ligeiros. Todos eles têm "amigos" e
"inimigos" nas diversas especialidades gastronómicas.
Existem, ainda, alguns tipos de comida que não se dão bem com a maioria dos vinhos.
Neste caso estão os pratos que contenham ingredientes muito ácidos (limão, laranja ou
vinagre), muito aromáticos (estragão, cominhos ou cravinho) ou muito doces.
Embora a escolha de um vinho esteja muito dependente do gosto pessoal, existem no
entanto alguns conselhos elementares que são úteis de modo que possa ser estabeleci-
da uma melhor conjugação entre a escolha do vinho e o tipo de alimento.
| condução da refeição
Evolução das sensações gustativas que se devem evidenciar ao longo de uma refeição
– doce +
• A nível aromático, dos mais simples para os mais complexos – Embora haja
quem defenda que prefere tirar mais partido de um vinho ou de uma iguaria de
maior complexidade no início de uma prova ou refeição, enquanto o aparelho sen-
sorial se encontra mais "descansado", a verdade é que o conjunto de vinhos e
iguarias provado durante uma refeição dará muito maior prazer se provado do mais
simples para o mais complexo, dado que se evita a "desilusão", e consequente "de-
sinteresse", do nosso sistema olfativo.
• Dos de menos persistência para os de mais persistência – Após a prova de
qualquer vinho ou iguaria, o sistema sensorial não regressa ao estado inicial, em
resultado da marca imprimida pelo registo organolético experienciado. Essa marca
160
será tanto mais forte quanto maior for a persistência do vinho ou da iguaria, pelo
que ao conduzir uma refeição é imperativo que se comece pelos vinhos e iguarias
menos "marcantes".
• Dos de menor para os de maior comprimento de língua – Tal como a persistên-
cia, o comprimento de língua é também diretamente proporcional à "marca" deixada
pelo vinho ou pela iguaria. Por isso, é conveniente servir os vinhos e as iguarias por
ordem crescente deste parâmetro.
Apesar, de como vimos, não existirem regras definidas, no quadro que se segue resu-
me-se essa conjugação no sentido de permitir aos bons apreciadores de vinho tirarem
dela o melhor partido e pretende ser o mais consensual possível.
Sobremesas
✓ ✓ ✓
Queijos fortes
✓ ✓
Queijos suaves
✓ ✓ ✓
Caça de pelo
✓ ✓ ✓
Caça de penas
✓ ✓
Carnes vermelhas
com molho ✓ ✓
Carnes vermelhas
assadas / grelhadas ✓ ✓ ✓
Carnes brancas
✓ ✓ ✓ ✓
Bacalhau
✓ ✓ ✓
Peixe frito
✓ ✓
Peixe assado
ou marisco ✓ ✓ ✓
Peixe grelhado
ou ovos ✓ ✓
Massas
✓ ✓ ✓
Sopas
✓ ✓ ✓
Cremes
✓ ✓ ✓
Consommés
✓
Foie-gras
✓ ✓ ✓
Charcutaria, pâtés
e terrinas ✓ ✓
161
162
Glossário
A escolha dos termos que se seguem, longe de ser exaustiva, pretende ser uma pequena
coletânea da imensidão de termos técnicos assimilados e utilizados na comunicação com os
pares ou demais elementos do serviço.
163
A
Aberto – Vinho de tonalidade clara; vinho com pouca cor.
Adamado – Vinho de mesa branco ou rosé, suave, ligeiramente doce.
Adstringente – Com tanino que causa secura na boca.
Agressivo – Diz-se do vinho novo ou do vinho velho que não amadureceu como devia.
Apetitoso – Fresco, viçoso, alegre (normalmente vinhos brancos jovens).
Aromático – Grande número de aromas e sabores; frequentemente as variedades de castas
de aromas exuberantes de flores e/ou de frutos.
Áspero – Grosseiro e inacabado.
Avançado – Mais maduro do que se esperava.
Aveludado – Semelhante a sedoso, mas mais cheio e rico.
Azedo – Vinho irremediavelmente acidificado ou avinagrado.
B
Boca-cheia – Vinho com satisfatória riqueza de textura e com sabores que enchem a boca.
Bouquet – Conjunto de aromas que os vinhos possuem graças às suas castas (aromas pri-
mários), processo de vinificação (aromas secundários) e envelhecimento (aromas terciários).
Bruto – Categoria de vinhos espumantes; utiliza-se igualmente para designar vinhos gros-
seiros, básicos.
c
Chato – Vinho sem acidez; vinho mole, sem vida, sem vinosidade e pobre em ácidos fixos,
taninos e aromas.
Carnudo – Vinho rico de sabores, encorpado.
Carregado – Vinho com excesso de cor.
Carrascão – Vinho com muita cor, muito corpo e aroma vinoso.
Cortante – Sabor ácido cortante, que pode necessitar apenas de tempo para amaciar, prin-
cipalmente vinhos brancos.
Cozido – Como se o vinho ou as uvas tivessem sido queimados ao sol e portanto, com falta
de frescura.
Cremoso – Vinho de qualidade, especialmente o champanhe, que pode adquirir uma rique-
za cremosa, constituída metade por sabor e metade por textura.
Crespo – Fresco e decididamente refrescante, especialmente os brancos.
Curto – Vinho normalmente sem qualidade; vinho com uma persistência e/ou comprimento
de língua aquém do esperado.
d
Depósito – Pé; borra; sedimentos depositados no fundo da garrafa ou noutro recipiente,
resultantes do processo de envelhecimento.
Delgado – Sem sabor nem corpo.
Denso – De cor intensa e/ou com sabor densamente contido, geralmente positivo.
Duro – Demasiado tanino ou ácido (mas que pode ser uma questão de juventude e de
tempo).
Doce – Vinho com açúcar por desdobrar; vinho com sensação de mais ou menos doçura.
E
Elegante – Termo muito usado que se explica por si próprio.
Encorpado – Com muito corpo, de sabor generoso, redondo, consistente.
Envelhecido – Diz-se de um vinho com aromas de evolução e estágio.
164
Escanção – Profissional que sugere e serve vinhos (e outras bebidas) nos restaurantes.
Esmagado – Diz-se de vinhos com sabor a fruta, mas mais de conserva do que fresca, nor-
malmente de climas quentes.
Estrutura – Usado em estrutura firme, boa ou pobre; o equilíbrio e a força dos componen-
tes básicos, por exemplo, ácidos, taninos, álcool, açúcar e proteínas.
F
Fibroso – Vinho médio, fraco.
Finura – De alta qualidade (sentido direto).
Firme – Bom tanino e/ou ácido.
Flexível – Redondo e suave.
Fragante – Atraente, geralmente frutado.
Final longo – Persistência do vinho e aromas na boca, depois da prova.
Fechado – Vinho que ainda não desenvolveu todas as suas características.
g
Garra – Um vinho novo, com garra, tem o potencial de tanino e/ou de ácido em evolução.
Gordo – De corpo cheio, com elevada concentração de álcool e/ou proteínas.
Graduação alcoólica – Teor alcoólico ou força alcoólica do vinho, geralmente apresentada
em percentagem de volume de álcool por volume de vinho.
Guisado – Sabores rudes, cozinhados, provenientes de uvas demasiado maduras e/ou de
fermentação demasiado quente.
h
Herbáceo – Com aromas reminiscentes de ervas, relva ou folhas.
Harmonioso – Vinho pleno de equilíbrio, agradável ao paladar e bonito à vista.
L
Lenhoso – Cheiro a cascos velhos e sujos, em vez de novos e limpos; também utilizado em
vinhos onde os aromas de madeira se sobrepõem aos dos vinhos.
Leve – Vinho pouco alcoólico, pouco encorpado, com pouca cor e seco.
Liso – Sem frescura nem ácido.
Longo – Vinho cujo sabor perdura (uma característica muito positiva).
Lote – Vinho obtido por mistura de dois ou mais vinhos.
M
Macio – Termo por vezes usado em alternativa a suave, frequentemente refere-se a sabores
suaves e adocicados.
Magro – Vinho pobre, com falta de conjunto de sabores.
Mole – Sem acidez.
N
Neutro – Pobre em aroma e sabor (muito corrente em vinhos brancos de gama baixa).
Nervoso – Vinho que tem forte vinosidade, adstringência, acidez e álcool.
o
Oco – Vinho que possui um gosto inicial e um travo final, mas com falta de sabores inter-
médios.
165
Oleosos – Algumas castas deixam um sabor oleoso na boca como o Gewürztraminer,
o Viognier ou o Sauternes, que também pode ter uma textura rica ligeiramente oleosa.
Oxidado – Vinho que se deteriorou na presença do ar, perdendo os aromas primários
e a frescura.
P
Passado – Vinho que ultrapassou o tempo ótimo de consumo.
Pé – Depósito do vinho; borra; sedimento.
Penetrante – Aromas e sabores intensos.
Perfumado – Vinho pleno de aromas, fragante, frequentemente de flores e fruta.
Pesado – Encorpado e alcoólico, com muita cor e muita estrutura.
Pico – Vinho com princípio de acetificação; princípio de avinagramento.
Q
Quente – Álcool alto e desequilibrado (habitualmente vinhos de climas temperados).
Quebrado – Vinho que ultrapassou o tempo ótimo de consumo.
R
Rama – Vinho com muita espuma e agulha.
Ramoso – Aroma amargo e sabor a caules e estames.
Redondo – Com estrutura equilibrada; sem taninos agressivos, pronto a beber.
Rico – Com profundidade e densidade de sabores.
Rijo – Vinho com demasiados taninos.
Robusto – Vinho encorpado, enérgico, equilibrado (normalmente diz-se dos tintos).
Rude – Vinho adstringente.
s
Seco – Vinho sem qualquer vestígio de açúcar.
Sedoso – Textura suave (alta qualidade).
Simples – Vinho seguro, bebível, sem grande distinção.
Sólido – Cheio de substância, usualmente encorpado.
Suave – Aplica-se à textura, equilibrado, sem excesso de taninos e/ou ácidos.
Sui generis – Termo muito utilizado para significar que o paladar ou aroma é absolutamen-
te normal e característico.
T
Teor alcoólico – Força alcoólica ou graduação alcoólica.
Terreno – Aroma terroso, empedrado, mineral, que parece vir diretamente do solo, como
por exemplo nos "graves", assim como em outros vinhos mais rústicos.
Tonalidade – Diz-se da cor; tom do vinho.
Tranquilo – Vinho sem a presença de gás carbónico.
Travo – Um vivo sabor latente, nos vinhos brancos, no Xerez e no Vinho da Madeira.
Trepador – Vinho que sobe com facilidade à cabeça; alcoólico.
V
Vegetal – Mais sabor a planta ou madeira do que folhoso ou herbáceo, por exemplo, aro-
mas a feno ou folhas de tabaco.
Verde – Jovem e não curado, pode evoluir, ou simplesmente as uvas não estavam maduras.
Vigoroso – De corpo cheio, forte, saboroso, normalmente aplica-se aos vinhos tintos.
166
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167
Título: Manual Técnico de Vinhos
Autores: Carlos Freire Correia, João Covêlo, Luís Lima, Paulo Pechorro e Luciano Rosa
Coordenação editorial: Paulo Revés
Revisão técnica: António Araújo e Marta Galamba
Secretariado: Helena Barreto
Revisão de textos: Luís Patrício
Fotografia*: Vini Portugal e João Côvelo
Design e execução gráfica: Nastintas | Design e comunicação
Depósito legal: 385207/14
ISBN: 978-989-96301-7-8
Editor: Turismo de Portugal, I.P. – Rua Ivone Silva, Lote 6 – 1050-124 Lisboa
Edição: Dezembro 2014
Tiragem: 2.500 exemplares
* Exceto imagens da capa, contracapa e das páginas: 3, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 28 (cacho tema), 38
(cacho tema título), 39 (casta Bastardo), 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56 (exceto imagem da vinha em planície), 58, 64,
70, 72, 74, 75, 76, 78, 80, 82, 84, 86, 88, 90, 92, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 102, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 111, 112,
114, 115, 116 (carta de vinhos), 118, 119, 120, 121, 122, 124, 126, 127, 128, 136, 138, 139, 140, 141, 142, 144, 145, 146,
147, 148, 149, 150, 152, 154, 156, 158, 159, 160, 161, 162 e 164.
MANUAL TÉCNICO DE viNhos
de viNhos
MANUAL TÉCNICO
Vinho